Por Guilherme Diniz
Neste texto, integrante de nossa série especial 10 Mais das Copas, elencamos os maiores zagueiros da história dos Mundiais. Lembrando que o foco nessas listas são os jogadores que brilharam exclusivamente em Copas, por isso, muitas lendas não irão aparecer por aqui ou não estarão em uma posição tão relevante quanto outros que brilharam mais na competição, ok? Boa leitura!
Sumário
10º Carles Puyol (Espanha)
Copas disputadas: 3 (2002, 2006 e 2010)
Jogos: 14 (4 jogos em 2002; 3 jogos em 2006; 7 jogos em 2010)
Gols: 1 (em 2010)
Títulos: 1 (2010)
Premiações:
- Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo de 2010
Bravura, determinação, perseverança, raça, lealdade e espírito esportivo. Em campo, nunca foi um jogador qualquer. Ele sempre foi um algo a mais. Sempre se entregou mais. Seu time podia estar vencendo por 3 a 0 ou goleando o maior rival que sua atenção continuava a mil e sua braveza no ápice. Era difícil vencê-lo em força. Quase impossível em raça. E, com ele em campo, a Espanha acabou com traumas, estigmas e zicas ao vencer a Copa do Mundo de 2010 com ele no coração defensivo da Fúria. Carles Puyol foi um dos mais emblemáticos defensores da história do futebol espanhol e mundial. Símbolo de uma geração, Puyol estendeu seu trabalho de vida do Barcelona até a Seleção Espanhola, pela qual venceu uma medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de 2000, uma Eurocopa, em 2008, e a Copa do Mundo de 2010 sempre jogando tudo o que sabia e até marcando gols – incluindo o da vitória por 1 a 0 sobre a Alemanha na semifinal do Mundial de 2010.
Mesmo longe de ser um zagueiro técnico, Puyol compensava isso com vigor, visão de jogo, disciplina e paixão pela vitória como poucos. Basta ver sua coleção de títulos para entender que ele realmente não foi um jogador qualquer. Puyol disputou as Copas de 2002, 2006 e 2010 pela Espanha e podia atuar, além de zagueiro, como lateral-direito (posição do defensor no Mundial em 2002). Leia mais sobre ele clicando aqui!
9º Aldair (Brasil)
Copas disputadas: 3 (1990, 1994 e 1998)
Jogos: 13 (7 jogos em 1994; 6 jogos em 1998)
Títulos: 1 (1994) / Vice-campeão em 1998
O time podia estar tenso, os atacantes com dores abdominais e o técnico perto de um ataque de nervos, mas aquele zagueiro imponente parecia ser feito de pedra. Ele não se abalava. Não temia o inimigo. Muito menos o peso de uma partida decisiva. Podia ser final de campeonato ou até de Copa do Mundo. Para ele, era apenas mais uma partida, na qual os adversários perderiam bolas e mais bolas e os tradicionais chutões jamais partiriam dos pés daquele baiano de Ilhéus. Com classe e o futebol cravado na alma, Aldair era um conjunto de qualidades raras de se ver em zagueiros brasileiros. Ele tinha calma, técnica e velocidade nas medidas exatas e aptas para trazer a segurança máxima ao goleiro. Com carrinhos, tirava bolas impressionantes e era exemplo de lealdade. Quando tinha a bola nos pés, passava para os companheiros ou fazia lançamentos com precisão exemplar, sem grosseria ou chutes tortos. E, no ataque, marcava gols de cabeça, em petardos de fora da área ou como elemento surpresa em um contra-ataque.
Ídolo do Flamengo, Aldair superou a injustiça de não ter sido titular na Copa de 1990 para ter um dos desempenhos mais marcantes de um defensor na história da Seleção Brasileira em um Mundial, em 1994, nos EUA, quando jogou muito e foi peça fundamental na conquista do tetra. Uma de suas partidas mais marcantes foi contra a Holanda, nas quartas de final, quando o zagueiro se arriscou no ataque, desarmou, interceptou bolas rivais e mostrou toda a cartilha que os flamenguistas e romanistas já conheciam há tempos. Depois de um primeiro tempo morno, o segundo foi de matar. Aldair, logo aos 8´, quebrou um passe de Rijkaard com sua notável antecipação e fez um de seus lançamentos de longa distância para Bebeto, na esquerda, que deu para Romário fazer 1 a 0. O Brasil venceu por 3 a 2 e seguiu rumo ao título. Na final, contra a Itália, Aldair ajudou a defesa brasileira a permanecer sem sofrer gols mais uma vez – em cinco dos sete jogos o Brasil não levou gols!
O tempo foi passando e a experiência de jogar contra os maiores atacantes do planeta deu a Aldair o conhecimento para enxergar os atalhos do campo e suprir a falta de velocidade que a idade avançada causava. Aos 32 anos, o zagueiro esteve no time titular do Brasil que alcançou a final de 1998, mas o craque sofreu com a falta de um companheiro em melhor fase e o Brasil ficou com o vice. Leia mais sobre Aldair clicando aqui!
8º José Nasazzi (Uruguai)
Copas disputadas: 1 (1930)
Jogos: 4 (4 jogos em 1930)
Títulos: 1 (1930)
Premiações:
- Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA de 1930
Centenas de capitães já escreveram suas façanhas no futebol mundial, ergueram taças imponentes e tiveram enorme influência perante seus companheiros de time. No entanto, jamais existiu um capitão igual ou mais ascendente do que um uruguaio forte como aço, bravo como um touro e valente como um gladiador. Com ele em campo, a Seleção Uruguaia de futebol se tornou a mais vencedora do planeta na década de 1920 e início da de 1930, com direito a dois títulos olímpicos e uma Copa do Mundo. Apelidado de El Mariscal (O Marechal), aquele zagueiro viril e imponente fazia da área seu território e impunha medo em qualquer atacante. Altas doses de companheirismo, simplicidade e humildade também eram vistas em um homem que nasceu para liderar. José Nasazzi Yarza, mais conhecido como José Nasazzi, marcou época num curto espaço de tempo e se eternizou como o primeiro caudilho do futebol sul-americano.
Por onde passou, Nasazzi liderou seus companheiros e não deixou de maneira alguma que o baixo astral ou o medo pudessem atrapalhar seus colegas de time. Com broncas, alertas e estímulos, o uruguaio virou lenda e levantou títulos que o transformaram no mais laureado jogador da história da seleção celeste. Além de tudo isso, foi impecável como defensor, desarmava rivais com extrema precisão, ganhava quase todas por cima e por baixo, tinha velocidade, explosão e ajudava muito bem o meio de campo com toques rápidos e sem firulas. Considerado o melhor zagueiro da história uruguaia, Nasazzi teve a honra de ser o primeiro capitão campeão mundial, em 1930, com seu semblante sereno, ávido e glorioso que serviram como bases para os outros que também conquistaram o planeta. Leia mais sobre ele clicando aqui!
7º Gamarra (Paraguai)
Copas disputadas: 3 (1998, 2002 e 2006)
Jogos: 11 (4 jogos em 1998; 4 jogos em 2002; 3 jogos em 2006)
Premiações:
- Eleito para o All-Star Team da Copa de 1998
A palavra “falta” não existia no livro de afazeres daquele zagueiro. Em seu manual, era possível encontrar frases como “desarmarás sempre com precisão”, “terás um senso de colocação impecável”, “se anteciparás como ninguém”. Não é preciso dizer que Gamarra cumpriu à risca essas e muitas outras recomendações da cartilha de um zagueiro imortal. Pois foi isso que ele foi. Gamarra encantou a todos com um futebol diferente, único e clássico. Ele não dava pontapés, não cravava suas chuteiras nas canelas dos atacantes e muito menos deixava suas equipes na mão com cartões bobos ou suspensões automáticas.
Gamarra era leal, seguro, sublime. Desarmava como poucos e como muitos jamais conseguiram. Se antecipava nas jogadas e conseguia compensar a falta de estatura por conta disso. E, claro, marcava seus gols de vez em quando. Seu auge foi em 1998, quando arrebatou a todos no mundo ao disputar todas as quatro partidas da seleção paraguaia na Copa do Mundo sem cometer uma falta sequer. Gamarra jogou contra as seleções da Nigéria, Espanha, Bulgária e França, enfrentou craques letais como Raúl González, Hristo Stoichkov, Jay-Jay Okocha, David Trezeguet e Thierry Henry e não foi advertido nenhuma vez pelos árbitros. Uma monstruosidade que lhe rendeu o prêmio de melhor defensor daquele mundial e uma vaga no All-Star Team da Copa.
O defensor ainda disputou a Copa de 2002, como capitão e foi outra vez preciso e impecável, mas cometeu suas primeiras faltas em um Mundial – uma contra a África do Sul e quatro contra a Alemanha (segundo dados estatísticos da própria FIFA), seleção esta que eliminou o Paraguai nas oitavas de final. A última Copa do craque foi em 2006, mas a seleção do Paraguai acabou eliminada já na fase de grupos. No entanto, o nome de Gamarra já estava para sempre na história dos Mundiais. Leia mais sobre ele clicando aqui!
6º Gaetano Scirea (Itália)
Copas disputadas: 3 (1978, 1982 e 1986)
Jogos: 18 (7 jogos em 1978; 7 jogos em 1982; 4 jogos em 1986)
Títulos: 1 (1982)
Premiações:
- Eleito para os All-Star Teams das Copas de 1978 e 1982
Existe uma trindade no futebol mundial quando o assunto é líbero. Entre os anos 1960 e 1990, três jogadores ensinaram a uma imensa leva de “alunos” como tomar conta da zaga, desarmar qualquer que fosse o atacante e sair jogando de cabeça erguida, nem que fosse para driblar possíveis adversários no meio do caminho. Essa tal trindade é composta por Beckenbauer, Baresi e Scirea, este o grande nome do sistema defensivo da Itália em três Copas do Mundo e que superou seus colegas de profissão em um quesito: títulos. Gaetano Scirea conquistou simplesmente TODOS os principais títulos que um futebolista nascido na Europa já sonhou em ter: Campeonato nacional, copa nacional, Liga dos Campeões, Recopa Europeia, Copa da UEFA (atual Liga Europa), Mundial Interclubes e o maior de todos: a Copa do Mundo, em 1982.
Todas essas taças foram levantadas pelo menos uma vez por Scirea, um jogador que marcou época não só pela enxurrada de canecos, mas também pelo futebol voluptuoso que praticava. Scirea jogava com classe, elegância e uma categoria encontrada em pouquíssimos (pouquíssimos mesmo!) defensores. Com ele na zaga, a Juventus e a Seleção Italiana tiveram tempos de tranquilidade e vitórias, pois sabiam que os gols sofridos seriam escassos e que a bola chegaria ao meio de campo e ao ataque com qualidade e precisão únicas. Perito em antecipações e ousado nas subidas ao ataque, Scirea virou sinônimo de líbero não só na Itália, mas também em todo mundo. Leia mais sobre ele clicando aqui!
5º Franco Baresi (Itália)
Copas disputadas: 3 (1982, 1990 e 1994)
Jogos: 10 (7 jogos em 1990; 3 jogos em 1994)
Títulos: 1 (1982) / Vice-campeão em 1994
Premiações:
- Eleito para o All-Star Team da Copa de 1990
O futebol italiano é conhecido no mundo inteiro pela fantástica capacidade de revelar zagueiros impecáveis e seguros como nenhum outro país é capaz de fazer. E, entre os grandes zagueiros já criados na Itália, nenhum outro é tão lembrado pela qualidade, liderança, perfeição e técnica quanto Franco Baresi, simplesmente o melhor líbero da história do futebol italiano (e um dos melhores do mundo) e um dos melhores defensores do planeta nas décadas de 1980 e 1990. Baresi reinventou o papel do líbero no futebol com atuações magistrais, velocidade, desarmes, posicionamento perfeito e raça.
Mito do Milan, seu único clube na carreira e que aposentou o número 6 (a camisa de Baresi) pela primeira vez em sua história, o craque disputou sua primeira Copa do Mundo em 1982, mas teve que se contentar com a reserva da Itália, afinal, o esquadrão da Azzurra tinha o já consagrado Scirea no time titular. Em 1986, o defensor foi preterido pelo técnico Enzo Bearzot, que via mais características de meio campista do que de zagueiro em Baresi… Já em 1990, o craque foi titular absoluto na super zaga italiana que levou apenas dois gols em sete jogos, desempenho que colocou Baresi no All-Star Team do Mundial.
Baresi sabia que a Copa do Mundo de 1994, nos EUA, seria sua última. Aos 34 anos, o craque dificilmente teria condições de disputar um novo Mundial em 1998. Por isso, o capitão da Azzurra foi com tudo em busca do tetra. Porém, ainda na fase de grupos, o zagueiro sofreu uma séria lesão no joelho, no dia 23 de junho. O zagueiro, porém, não se abateu, operou, se esforçou e prometeu estar em campo no dia 17 de julho, data da grande final da Copa. A Itália fez sua parte e chegou à decisão. Baresi, longe de estar 100%, conseguiu jogar, num claro e épico exemplo de superação e amor à pátria. Na final contra o Brasil, o líbero teve uma atuação heroica e simplesmente anulou o maior craque brasileiro: Romário, que destacou a atuação do craque italiano após o jogo: “Foi a marcação mais implacável que recebi em toda a minha carreira.”
Depois de um longo 0 a 0, tanto no tempo normal quanto na prorrogação, os países decidiram nos pênaltis quem seria o primeiro tetracampeão do futebol mundial. Logo na primeira cobrança, Baresi partiu e chutou longe do gol de Taffarel. Baggio perdeu o seu tempo depois, e o Brasil venceu, depois de 24 anos, uma Copa do Mundo. Foi o drama de Baresi, que fez o mundo ver pela primeira vez lágrimas em propulsão em seu rosto. O craque não acreditava que mais uma vez a Copa havia escorregado de suas mãos. A geração dele, de Costacurta e de Maldini parecia, mesmo, que não tinha nascido para ser campeã do mundo, assim como a geração de 1982 do Brasil. Coisas do futebol… Leia mais sobre Baresi clicando aqui!
4º Fabio Cannavaro (Itália)
Copas disputadas: 4 (1998, 2002, 2006 e 2010)
Jogos: 18 (5 jogos em 1998; 3 jogos em 2002; 7 jogos em 2006; 3 jogos em 2010)
Títulos: 1 (2006)
Premiações:
- Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo de 2006
- Bola de Prata da Copa do Mundo de 2006
Antes de tudo, vamos deixar uma coisa bem clara: Baresi e Scirea jogaram mais do que Cannavaro. Mas, como aqui estamos falando exclusivamente de Copa do Mundo, o defensor ganhou essa posição simplesmente porque teve, em 2006, uma das maiores atuações de um zagueiro em toda a história das Copas – talvez a maior. Pegue toda a campanha da Itália no Mundial. Sete jogos. Apenas dois gols sofridos. Veja as investidas dos adversários. E veja onde estava Cannavaro. Em todo lugar. Em todos os cantos. Um leão da grande área e fora dela. Ele tirou bola até de bicicleta naquela Copa! E iniciou o maior contra-ataque da história da Itália na épica semifinal contra a Alemanha, quando tomou a bola para si e deixou com Totti, que tocou para Gilardino e este para Del Piero fechar os 2 a 0 que colocou a Azzurra na final. Nela, o capitão se transformou no “Muro di Berlino” e ajudou a Itália a levantar o tetracampeonato. Ele jogou tanto, mas tanto, que naquele ano se transformou no primeiro – e até hoje único! – zagueiro a ser eleito o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA. “Só” isso…
Antes de se imortalizar, Cannavaro disputou sua primeira Copa em 1998, compondo a zaga titular ao lado de Costacurta, Bergomi e Maldini. A Azzurra alcançou as quartas de final e Cannavaro foi um dos mais regulares atletas do time italiano. No entanto, a seleção foi eliminada nos pênaltis para a anfitriã França. Em 2002, fez dupla com Alessandro Nesta e ajudou a Itália a se classificar para as oitavas de final. Só que os cartões amarelos sofridos na fase de grupos deixaram o defensor de fora da etapa final. Sem ele nem Nesta (machucado), a Itália foi eliminada pela Coreia do Sul. Após a glória de 2006, Cannavaro capitaneou a Itália no Mundial de 2010, só que uma Itália envelhecida e sem grandes nomes sucumbiu já na fase de grupos. Cannavaro deixou a seleção após aquela Copa, mas seu nome ficou para sempre na história dos Mundiais. Leia mais sobre ele clicando aqui!
3º Daniel Passarella (Argentina)
Copas disputadas: 3 (1978, 1982 e 1986)
Jogos: 12 (7 jogos em 1978; 5 jogos em 1982)
Gols: 3 (1 gol em 1978; 2 gols em 1982)
Títulos: 2 (1978 e 1986)
Premiações:
- Eleito para os All-Star Teams das Copas de 1978 e 1982
O jogo está terminando e o time adversário cruza uma bola na área. Nela, um atacante com mais de 1,90m divide espaço com um zagueiro “tampinha” de 1,74m. Você torce para o time desse zagueiro. Tudo está perdido, certo? Errado. Esse zagueiro sobe mais alto que o atacante grandalhão, corta a bola para fora da área e garante a vitória e a tranquilidade para você e toda uma torcida. Proeza? Com certeza. Digna de craque. E de um campeão do mundo. Esse tal zagueiro ganhou fama com um talento estrondoso dentro e fora da área, impulsão de jogador de basquete, categoria imensa para sair jogando como um legítimo camisa 10, personalidade forte que repelia os fracotes e um faro para gols maior do que o de muito atacante por aí. Daniel Passarella teve essas e muitas outras qualidades que o tornaram um dos maiores zagueiros de todos os tempos, além de lhe render a honra de ser o maior de toda a história do futebol argentino.
Líder nato, capitão da Argentina campeã do mundo em 1978 e um símbolo do River Plate, o craque esbanjou talento, força e determinação por quase duas décadas inteiras, além de se tornar o único jogador de seu país a ostentar em sua galeria de prêmios duas medalhas de campeão do mundo (contando a de 1986, quando ele foi campeão sem jogar). Quando foi campeão, em 1978, Passarella viveu o momento mais mágico e impagável de sua carreira. A ostentação foi tão grande que pouquíssimos jogadores conseguiram tocar a taça no gramado, como bem lembrou o artilheiro Mario Kempes:
“Daniel não queria dar a taça a ninguém, nem mesmo consegui tocá-la. Fiel ao seu estilo, com os cotovelos para cima, ele a mantinha longe de todos. Não queria nem mesmo entregá-la ao responsável da segurança que veio buscá-la no vestiário!”.
Em 1982, o bi não veio, mas Passarella foi um dos poucos a se salvar do fracasso argentino por ter tido grandes atuações e encantar a todos com seus desarmes precisos (e também ríspidos, quando necessário), seus incríveis cortes de cabeça após tiros de meta dos adversários e um lindo gol de falta na partida contra a Itália. Após a Copa, o craque começou a entrar em desavença com Maradona pelo fato de o novo técnico da seleção, Carlos Bilardo, afirmar que apenas Dieguito tinha lugar cativo na equipe, o que desagradou profundamente o capitão, que teria sua braçadeira perdida para o baixinho da camisa 10. Mesmo assim, Passarella seguiria nas convocações e foi um dos destaques nas Eliminatórias para a Copa de 1986. No entanto, o craque não teve sorte nem clima para ser titular na Copa de 1986.
Em razão de sua briga com Maradona, o técnico Carlos Bilardo não escalaria o defensor como titular no México. Para piorar, Passarella sofreu uma grave infecção intestinal que o tirou de combate nos primeiros jogos da equipe e, consequentemente, da competição. A ausência de Passarella não foi sentida pela Argentina, que caminhou rumo à final graças, sobretudo, a Maradona, que vivia uma fase esplendorosa e impressionante na época. Passarella se tornou o primeiro e único argentino bicampeão do mundo, embora ele preferisse ter conquistado a medalha no campo, jogando com seus companheiros. Leia mais sobre ele clicando aqui!
2º Bobby Moore (Inglaterra)
Copas disputadas: 3 (1962, 1966 e 1970)
Jogos: 14 (4 jogos em 1962; 6 jogos em 1966; 4 jogos em 1970)
Títulos: 1 (1966)
Premiações:
- Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo de 1966
- Eleito para o All-Star Team do Século XX da Copa do Mundo da FIFA
Clássico, impecável, sublime e eterno. O único homem a levantar uma Copa do Mundo pela seleção de futebol da Inglaterra foi, acima de tudo, um mito do esporte. E um cavalheiro. Robert Frederick Chelsea Moore, mais conhecido como Bobby Moore, foi um dos maiores zagueiros da história do futebol mundial e o maior nome do futebol inglês em todos os tempos. Simplesmente perfeito nos desarmes (Jairzinho que o diga…), na antecipação e em saber o que um habilidoso atacante ou meia ia fazer, Bobby Moore era o maior dos dramas para qualquer adversário, e a certeza de eficiência e nobreza na grande área para a torcida a favor.
Foi capitão do English Team nas Copas de 1966 e 1970 e entrou para a história por suas atuações em ambos os Mundiais, ainda mais depois da partida contra a histórica seleção brasileira em 1970, quando Pelé disse que Moore era o “maior defensor que ele já havia enfrentado”. E com certeza foi. É impossível não se lembrar da atuação de gala do capitão naquele jogo, principalmente no emblemático lance em que desarmou com uma precisão impressionante o craque brasileiro Jairzinho. Certa vez, o técnico do Celtic, Jock Stein, disse que “deveria haver uma lei contra Bobby Moore, pois ele sabe o que vai acontecer 20 minutos antes de todo mundo”.
Sua importância para a Inglaterra é tão grande que existe uma estátua do capitão em frente ao estádio de Wembley com os seguintes dizeres escritos pelo célebre colunista do Daily Mail Jeff Powell: “Jogador impecável. Defensor majestoso. Herói imortal de 1966. Primeiro inglês a levantar o troféu da Copa do Mundo. Filho favorito da Zona Leste de Londres. O maior ídolo do West Ham United. Patrimônio nacional. Mestre de Wembley. Dono do jogo. Extraordinário capitão. O maior cavalheiro de todos os tempos.” Leia mais sobre Moore clicando aqui!
1º Franz Beckenbauer (Alemanha)
Copas disputadas: 3 (1966, 1970 e 1974)
Jogos: 18 (6 jogos em 1966; 5 jogos em 1970; 7 jogos em 1974)
Gols: 5 (4 gols em 1966; 1 gol em 1970)
Títulos: 1 (1974) / Vice-campeão em 1966
Premiações:
- Eleito para os All-Star Teams das Copas do Mundo de 1966, 1970 e 1974
- Melhor Jogador da Copa do Mundo de 1966 pelo Clarín
- Bola de Prata da Copa do Mundo de 1966
- Eleito para o All-Star Team do Século XX da Copa do Mundo da FIFA
O futebol alemão já era campeão mundial quando, em 1964, exatamente 10 anos depois do primeiro título, conheceu um jogador que seria o maior símbolo do esporte na Alemanha por duas décadas. Esse craque mudaria para sempre o futebol no país com uma elegância e eficiência nunca antes vista na história, além da extrema liderança em campo. Suas atuações brilhantes, fabulosas e seguras deram a ele o título de “Der Kaiser” (O Imperador, em alemão). Franz Beckenbauer foi, sem dúvida, o maior jogador alemão da história do futebol, e também um dos cinco ou seis maiores de todos os tempos. O craque podia jogar plenamente na zaga, formidavelmente no meio de campo e até como lateral. Para melhorar, ainda marcava gols.
Foi um dos grandes líderes do super Bayern München da década de 1970 e capitão da Alemanha nos títulos da Eurocopa, em 1972, e da Copa do Mundo, em 1974. Depois de pendurar as chuteiras, conseguiu se igualar ao brasileiro Zagallo e ser o segundo homem a vencer uma Copa do Mundo tanto como jogador quanto como técnico. Além disso, Beckenbauer é um dos três jogadores eleitos para três All-Star Teams diferentes de Copas (os outros são Philipp Lahm e Djalma Santos).
Beckenbauer já mostrou muita liderança e competência como titular da Alemanha na Copa de 1966. Atuando mais à frente da zaga, o craque marcou dois gols na goleada de 5 a 0 sobre a Suíça, logo na estreia. Após empate sem gols contra a Argentina no segundo jogo, a Alemanha venceu a Espanha por 2 a 1 e garantiu vaga nas quartas de final. Beckenbauer novamente deu show e foi essencial na goleada de 4 a 0 sobre o Uruguai, quando marcou um dos gols. Na semifinal, páreo duro contra a URSS e vitória por 2 a 1 com mais um gol do Kaiser. Na final, a Alemanha não resistiu à Inglaterra, mas Beckenbauer se consagrou como um dos melhores daquele Mundial – e ainda o 3º maior artilheiro com 4 gols.
Em 1970, o craque foi titular mais uma vez e marcou um gol na vitória por 3 a 2 sobre a Inglaterra, nas quartas de final. Mas foi na semifinal contra a Itália que Beckenbauer fez história. Na reta final do jogo, o craque teve uma fratura na clavícula justo quando a Alemanha já havia feito todas as suas substituições. Com isso, num gesto de superação, o jogador seguiu em campo com uma bandagem apoiando o braço e jogou toda a prorrogação desse jeito, num dos acontecimentos mais marcantes da Copa. A dolorosa derrota por 4 a 3 não abalou a Alemanha, que correu atrás do terceiro lugar na Copa ao vencer o Uruguai por 1 a 0.
O sonho de ser campeão foi realizado quatro anos depois, em casa, quando a Alemanha derrotou a poderosa Holanda de Cruyff por 2 a 1, de virada, em mais um torneio com o brilho de Beckenbauer, perfeito na zaga ao lado de Schwarzenbeck e líder nato do time. Falar em Beckenbauer é falar em Copa do Mundo. Simbiose completa. Por isso ele é nosso campeão. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Menções Honrosas
Domingos da Guia (Brasil)
Eleito para o All-Star Team da Copa de 1938, Domingos da Guia foi um dos maiores defensores do futebol nos anos 1930, mas sofreu na única Copa que disputou por causa do esquema ofensivo do time brasileiro armado pelo técnico Adhemar Pimenta. O defensor teve que se desdobrar ao lado do companheiro Machado para evitar gols e mais gols dos rivais – ainda sim o Brasil sofreu 11 gols em cinco jogos, 5 só da Polônia no triunfo brasileiro por 6 a 5 nas oitavas de final. Na semifinal, contra a Itália, a equipe brasileira acabou derrotada por 2 a 1 e Domingos foi um dos culpados pela derrota por ter caído na armadilha provocativa de Silvio Piola, que azucrinou o brasileiro durante o jogo e sofreu um pênalti cometido por Domingos – um pontapé dentro da área – em um momento decisivo do jogo. A Itália fez o gol e se garantiu na decisão. Apesar disso, Domingos foi muito elogiado pela imprensa internacional e eleito um dos melhores da Copa. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Figueroa (Chile)
Presente em três Copas do Mundo pelo Chile – 1966, 1974 e 1982, Figueroa foi um dos maiores zagueiros de todos os tempos e marcou seu nome na Copa de 1974 mesmo não podendo ajudar seu Chile a garantir uma vaga na fase seguinte, por ter de encarar simplesmente as donas da casa, as “Alemanhas” Ocidental e Oriental. O Chile perdeu para a Alemanha Ocidental, de Beckenbauer, por 1 a 0, empatou com a Oriental em 1 a 1 e empatou sem gols com a Austrália. Naquele Mundial, Figueroa ganhou um singelo elogio de um dos maiores craques da época, Franz Beckenbauer, que disse ser “o Figueroa da Europa”. Ao final da competição, o chileno entrou para o All-Star Team da Copa. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Trésor (França)
Um “tesouro” na zaga da França nas Copas de 1978 e 1982, literalmente, e fazendo jus ao sobrenome, Marius Trésor era técnico, tinha ótima visão de jogo e muita força. O craque foi uma das estrelas da equipe que brilhou no Mundial de 1982 e que por pouco não alcançou a decisão. Eleito por alguns jornalistas e técnicos um dos melhores defensores dos Mundiais de 1978 e 1982, Trésor é considerado até hoje um dos melhores zagueiros da seleção da França.
Bellini (Brasil)
Fora dos gramados ele se passava por um galã de Hollywood. Mas, dentro de campo, Hideraldo Luiz Bellini, simplesmente Bellini, se transformava em um zagueiro implacável, raçudo, valente e que encarava qualquer rival. Foi um emblema do Vasco nos anos 1950 e símbolo de tempos de grandes glórias do Gigante da Colina. Suas atuações pelo cruzmaltino o levaram à seleção brasileira, pela qual Bellini foi capitão na conquista da Copa de 1958 e eleito para o All-Star Team daquele Mundial graças às suas atuações precisas e muito seguras. Após o baile diante da Suécia na final, Bellini fez escola ao erguer o troféu para cima, algo ainda pouco comum na época. O curioso é que foi um gesto simples e feito a pedido dos fotógrafos, que teriam um ângulo melhor da taça com o capitão. Dali em diante todos os capitães das Copas ergueram aos céus a taça. O craque disputou ainda as Copas de 1962 e 1966, esta também como capitão.
Mauro Ramos (Brasil)
De estilo refinado, passes precisos e senso de colocação pleno, foi um dos maiores zagueiros da história do futebol brasileiro. Sua classe imperava em campo e se tornou um símbolo do futebol bem jogado. Jogou no São Paulo de 1948 até 1959 e participou de quatro conquistas do Campeonato Paulista. Pela seleção, foi capitão do time campeão do mundo em 1962 e fez uma lendária parceria com Zózimo, do Bangu. Mauro Ramos esteve também nos grupos que disputaram os Mundiais de 1954 e 1958. Em sua cidade natal, Poços de Caldas (MG), existe uma estátua em sua homenagem.
Claudio Gentile (Itália)
Polivalente do setor defensivo, Claudio Gentile disputou 12 jogos em Copas do Mundo – seis em 1978 e seis em 1982, e podia atuar como lateral-direito, volante e zagueiro. Foi o “carrapato da Copa de 1982” ao marcar de maneira precisa (e também bem dura) os craques Maradona e Zico, anulando ambos nas partidas vencidas pela Itália na segunda fase. Foi um monstro naquele mundial e peça fundamental na conquista do título da Azzurra.
Eraldo Monzeglio (Itália)
Um dos mais vitoriosos e talentosos jogadores de seu tempo, Monzeglio jogou por quase uma década no Bologna e esteve no time campeão italiano em 1928-1929 e que venceu as Copas Mitropa de 1932 e 1934. Podia atuar no miolo de zaga e também como lateral. Tinha excelente domínio de bola, era eficiente nos desarmes e compensava a baixa estatura com muita disciplina tática, qualidade que encantou o técnico Vittorio Pozzo, que levou o craque para as campanhas vitoriosas da Itália nas Copas de 1934 e 1938. Monzeglio vestiu a camisa da Azzurra 35 vezes entre 1930 e 1938 e foi eleito para o All-Star Team do Mundial de 1934, quando foi titular absoluto do time campeão.
Frank de Boer (Holanda)
Pode um jogador tão habilidoso, que ficaria bem vestindo a camisa 10, jogar na defesa? Bem, se ele for Frank de Boer, sem dúvida! Presente em duas Copas (1994 e 1998), o zagueiro foi um dos maiores na posição na história e símbolo de uma era de ouro do futebol holandês. Cria do Ajax, estava no time campeão europeu de 1995 e brilhou no futebol mundial graças a sua técnica para sair jogando, seus desarmes de precisão absurda e ainda por iniciar jogadas de ataque com passes impecáveis e lançamentos de longa distância perfeitos, como na Copa do Mundo de 1998, quando fez um de mais de 40 metros para Dennis Bergkamp anotar um gol espetacular contra a Argentina, nas quartas de final. Aliás, naquela Copa, De Boer jogou muito, foi capitão do time, conseguiu neutralizar várias jogadas de Ronaldo na épica semifinal contra o Brasil e foi eleito para o All-Star Team do torneio. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Ruud Krol (Holanda)
O “defensor total” ficou marcado pela Copa impecável que fez em 1974 demonstrando técnica absoluta, classe, liderança e habilidade para jogar em qualquer posição do setor defensivo. Naquele Mundial, Krol jogou de lateral-esquerdo e foi eleito para o All-Star Team. E, em 1978, foi o capitão da Holanda na campanha do vice-campeonato atuando como zagueiro, na verdade o líbero do esquema tático do técnico Ernst Happel, protegendo o goleiro Jongbloed e comandando o trio Jansen, Brandts e Poortvliet. Krol foi uma lenda incontestável de seu país, colecionou títulos pelo Ajax de 1968 até 1980 e vestiu a camisa laranja em 83 jogos, marcando quatro gols, um deles na Copa de 1974. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Marcel Desailly (França)
Um dos maiores desejos dos treinadores do futebol atual é contar com zagueiros técnicos, que sejam firmes na marcação, tenham boa saída de jogo e capacidade de organização desde o campo de defesa. Em resumo, o que os treinadores querem é alguém como Marcel Desailly, um dos maiores defensores de sua geração e referência na era mais vitoriosa do futebol francês. Notável por seu vigor físico, Desailly foi conhecido na Europa como “The Rock” (ou “A Rocha”). À primeira vista, pode parecer um apelido daquele típico zagueiro “brucutu”, mas o francês foi muito mais que isso – tanto que marcou gols importantes na carreira, sempre chegando com muita qualidade ao ataque. Polivalente, foi um dos mais notáveis casos de zagueiro que também rendeu – e muito bem – como meio-campista.
Com a França ausente da Copa de 1994, Desailly brilhou no Mundial de 1998 atuando ao lado de Laurent Blanc e compôs uma das mais fortes e entrosadas duplas de zaga da história dos Mundiais. Tanto brilho rendeu ao craque um lugar no All-Star Team da Copa. Em 2002, Desailly voltou a figurar no time principal como capitão dos Bleus após a aposentadoria de Deschamps, mas a França não fez uma boa Copa e acabou eliminada na fase de grupos. Desailly encerrou sua trajetória pela França em 2004 com 116 jogos, recorde superado tempo depois por Lilian Thuram. Leia mais clicando aqui!
Pensou em Copa do Mundo? Pensou em Imortais! Clique aqui e confira nosso acervo com (quase) tudo sobre o maior torneio do futebol mundial! 🙂
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.