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Palmeiras x Santos – Clássico da Saudade

 

Por Guilherme Diniz

 

A rixa: em 1915, com apenas um ano de fundação, o Palestra Itália queria disputar o Campeonato Paulista de 1916, mas só poderia com uma condição: vencer uma equipe de ponta do futebol do estado. Os dirigentes palestrinos escolheram o Santos, que, mesmo sem disputar o torneio estadual na época, já tinha uma certa fama. Mas o duelo foi um pesadelo: derrota por 7 a 0 e fim do sonho alviverde de disputar o Paulistão… A partir dali, começaria uma história centenária, com destaque para o período de ouro nos anos 1950 e 1960, quando a dupla possuía os melhores esquadrões do futebol paulista e também do Brasil. Lembrar daquele tempo dá saudade até hoje. E o clássico ganhou o nome de “Clássico da Saudade”, mas que segue firme no presente principalmente com decisões e jogaços nos anos 1990, 2000 e (principalmente) 2010.

Quando começou: no dia 03 de outubro de 1915, na vitória do Santos sobre o então Palestra Itália por 7 a 0.

Maior artilheiro: Pelé (Santos) – 32 gols

Quem mais venceu: Palmeiras – 148 vitórias (até abril / 2024). O Santos venceu 107. Foram 88 empates.

Maiores goleadas: Palmeiras 8×0 Santos, 11 de dezembro de 1932

Palmeiras 0x7 Santos, 03 de outubro de 1915

Palmeiras 7×1 Santos, 31 de março de 1965

Santos 0x6 Palmeiras, 24 de março de 1996

Palmeiras 1×6 Santos, 12 de abril de 1939

Santos 6×1 Palmeiras, 23 de novembro de 1982

Santos 7×3 Palmeiras, 03 de outubro de 1959

 

No final da década de 1950 e em toda a década de 1960, apenas um esquadrão de SP conseguia bater de frente contra o Santos de Pelé, Coutinho, Pepe, Gylmar e companhia: a Academia do Palmeiras de Ademir da Guia, Djalma Santos, Julinho Botelho e companhia. Eram os esquadrões mais fantásticos do futebol paulista e também do Brasil (ao lado do Botafogo de Garrincha, Nilton Santos, Zagallo, e, depois, do Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes). Palmeiras e Santos contribuíram bastante para a chamada Era de Ouro do futebol brasileiro. E, com tantos títulos, tantos craques e tantos jogos sensacionais repletos de gols, as lembranças jamais foram esquecidas. Por isso, a dupla gerou um bordão para o encontro entre ambos: Clássico da Saudade, um duelo que não tem a “fúria” de outros clássicos do futebol, mas possui histórias saborosas, jogos pirotécnicos (um placar de 7 a 6 está bom para você?) e viradas de cinema. E, com clubes tão vencedores que se reinventaram na virada do milênio, o clássico mudou sua identidade e segue mais presente do que nunca, com capítulos antes raros entre eles: decisões de campeonatos.

 

Do “desastre” à dianteira

Fundado em 1912, o Santos já havia recebido o convite da liga paulista de futebol para disputar o Campeonato Estadual de 1913, mas não chegou a completá-lo por conta do alto custo das viagens na época. Em compensação, o clube alvinegro venceu de maneira invicta o Campeonato Santista daquele ano e chegou até a derrotar o Corinthians por 6 a 3 no Estadual. Um ano depois, o Palestra Itália foi fundado e, já no ano seguinte, entrou com o pedido para disputar o Campeonato Paulista de 1916. A condição imposta pela APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos) foi de enfrentar e vencer algum clube de ponta do estado e os palestrinos escolheram o Santos, que derrotou o alviverde em jogo disputado no Velódromo de São Paulo por 7 a 0, adiando momentaneamente a participação do Verdão no torneio.

Mas, em 1916, com a expulsão do Scottish Wanderers da APEA por conta de um escândalo envolvendo pagamento de atletas (algo não permitido na época), o Palestra herdou a vaga do clube e jogou o Campeonato, juntamente com o Santos. E, enfim, o Palestra venceu o Santos pela primeira vez: 4 a 2, com dois gols de Severino. O Santos venceria o duelo seguinte por 1 a 0, mas o Palestra permaneceria impressionantes 15 jogos sem perder para os alvinegros, a maior série da história do clássico: de julho de 1917 até junho de 1926 – quase 10 anos! Foram 14 vitórias e um empate, sendo nove vitórias seguidas. Nesse período, destaque para duas goleadas de 6 a 1 do Palestra, uma em novembro de 1921, no Parque Antártica, e outra em março de 1924, em plena Vila Belmiro. O Verdão venceu seus primeiros títulos estaduais durante essa hegemonia: o primeiro em 1920 e o segundo em 1926.

 

Em 1927, Araken, Feitiço e Camarão acabaram com a série invicta do rival com uma vitória por 3 a 2 em amistoso disputado no Parque Antártica. Naquele ano, o Peixe parecia candidato único ao seu primeiro título paulista. Com uma lendária linha ofensiva formada por Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista – além de Siri e Hugo -, aquele Santos provou de vez que o DNA alvinegro era ofensivo ao extremo. Esses atletas compuseram o “ataque dos 100 gols” que fez exatos 100 tentos em 16 jogos no Campeonato Paulista daquele ano, uma média absurda de 6,25 gols por jogo! É até hoje a maior média de gols de uma equipe em uma competição oficial na história do futebol. O título escapou por um ponto, pois o Santos perdeu um jogo. E adivinhe para quem? Para o Palestra Itália, por 3 a 2, em plena Vila Belmiro, e a taça ficou com o alviverde, que somou um ponto a mais do que os alvinegros. Foi a primeira mostra de que o time do Parque Antártica iria ser a grande “pedra na chuteira” de grandes esquadrões santistas. Cinco anos depois, em 1932, o Palestra aplicou a maior goleada da história do clássico: 8 a 0, vingando a derrota de 7 a 0 lá de 1915.

 

Academia x Era Pelé

Laércio, goleiro do Santos, olha a bola no fundo do gol do Pacaembu: o Palmeiras era campeão paulista de 1959.

 

Nas décadas de 1930 e 1940, o Palestra seguiu dominante em duelos contra o Santos e perdeu apenas seis dos 26 jogos disputados nos anos 1930 e cinco dos 24 jogos disputados nos anos 1940. Foram tempos de glórias e grandes atuações de craques como Romeu Pellicciari, Heitor, Imparato III, Oswaldinho, Echevarrieta e Lima, carrascos do Santos, em especial Heitor e Lima, autores de 13 e 11 gols, respectivamente, e maiores artilheiros alviverdes do clássico. Na época, o time alviverde já tinha o Corinthians como maior rival, mas tudo começaria a mudar na segunda metade dos anos 1950, quando o Santos venceu seu segundo Paulista em 1955 e começou em pouco tempo a dominar o estado com uma sequência de títulos impressionante, principalmente após o surgimento de um garotinho chamado Pelé, muito bem acompanhado de nomes como Pepe, Pagão, Zito e Del Vecchio.

Entre abril de 1955 e março de 1959, o Santos obteve uma inédita dominância no clássico com 10 vitórias, três empates e apenas duas derrotas em 15 jogos, sendo cinco vitórias seguidas, entre elas um 4 a 3 no Pacaembu, um 4 a 1 na Vila Belmiro e o mais eletrizante e inesquecível de todos: o 7 a 6 no Pacaembu, um jogo épico não só pelo placar, mas pelas lendas que o cercam. 

Para começar, dizem que cerca de cinco pessoas morreram ou no estádio ou ouvindo a partida de tanta emoção. As tais mortes nunca foram comprovadas, mas fazem parte do folclore do esporte nacional. O jogo valia pelo Torneio Rio-SP e o primeiro tempo terminou com goleada santista por 5 a 2. Nos vestiários, o tesoureiro santista já separava o dinheiro do “bicho” aos jogadores, tamanha convicção da vitória. Mas o já chamado Palmeiras não se deu por vencido – ainda mais um time com Altafini (o Mazzola), Urias, Valdemar Carabina, Waldemar Fiume e o célebre técnico Oswaldo Brandão no banco. Com uma imponência devastadora, o Verdão foi pra cima e virou o jogo para 6 a 5. Mas, nos últimos minutos, Pepe marcou duas vezes e o Santos venceu por 7 a 6 um dos mais pirotécnicos jogos da história.

No ano seguinte, o Santos ainda aplicou 7 a 3 no Palmeiras (com três gols de Pelé) na Vila Belmiro, mas o Verdão deu o troco com juros. Primeiro, venceu por 5 a 1 com dois gols de Julinho Botelho e dois de Américo. Depois, veio a “decisão” do Campeonato Paulista de 1959, quando os times tiveram que fazer três jogos extras para decidir o campeão após empate na soma de pontos. Foram dois empates (1 a 1 e 2 a 2) até o Palmeiras vencer a terceira partida no Pacaembu por 2 a 1, de virada (gols de Julinho e Romeiro), faturando o “supercampeonato” após nove anos de jejum na competição.

Festa alviverde no título de 1959. Foto: Folhapress.

 

Entre os anos 1960 e 1965, o Santos foi absoluto não só em São Paulo, mas no Brasil e no mundo com as conquistas dos Estaduais de 1960, 1961, 1962 (este com duas vitórias por 3 a 0 sobre o Palmeiras, no turno e no returno), 1964 e 1965; das Taças Brasil de 1961, 1962, 1963, 1964 (com vitórias do Santos por 3 a 2 e 4 a 0 sobre o Palmeiras nas semifinais) e 1965 (com outro triunfo do Peixe sobre o Palmeiras nas semifinais: 4 a 2 e 1 a 1); das Libertadores de 1962 e 1963 e do Mundial Interclubes de 1962 e 1963.

O time do Santos campeão da Libertadores de 1962. Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar e Mauro Ramos. Agachados: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

 

Mas, a partir de 1963, o Palmeiras reforçaria ainda mais o status de Academia com a titularidade de um jovem e talentoso meio-campista: Ademir da Guia. Depois de esquentar o banco diversas vezes, Ademir conseguiu se firmar em 1963, ano em que o Palmeiras impediu o tetracampeonato paulista do Santos de Pelé e faturou o torneio estadual com uma certa folga no segundo turno da competição. O caneco veio após uma vitória de 3 a 0 sobre o Noroeste – e com uma vitória por 1 a 0 sobre o Peixe, gol de Ademir.

Ademir da Guia aplica uma caneta em Pelé. Coisa de gênio…

 

Pelé e Julinho, ícones do futebol brasileiro nos anos 1950 e 1960.

 

Nos anos seguintes, o Verdão venceu também títulos no âmbito nacional – Taça Brasil de 1967, Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967 e 1969 e Torneio Rio-SP de 1965. Em 1966, outra vez o Palmeiras impediu um tricampeonato paulista do Santos e foi campeão, consolidando de vez o status de grande adversário do Peixe na época. Entre 1959 e 1969, apenas o Palmeiras conseguiu ter alguma sorte nos jogos contra o Santos de Pelé. Em 44 jogos no período, o alviverde venceu 13, empatou 11 e perdeu 20. Já Corinthians e São Paulo não guardam boas lembranças: ambos disputaram exatos 35 jogos contra o time da Vila e venceram míseras seis partidas cada um (!). E, entre 1959 e 1969, o Santos só não foi decacampeão paulista por causa do Palmeiras, “intruso” em 1959, 1963 e 1966.

 

Ficou a saudade

No começo dos anos 1970, o Palmeiras montou sua “Segunda Academia” com Leão, Luís Pereira, Dudu, Ademir da Guia, César Maluco, Leivinha, Edu Bala e companhia para faturar dois Campeonatos Brasileiros (1972 e 1973) e os Paulistas de 1972 e 1974. Enquanto isso, o Santos viu a aposentadoria de Pelé e o início de tempos complicados. O clássico virou de vez “da Saudade”, com jogos bem mais mornos e placares magros. Goleadas foram escassas na década – foram apenas quatro, três do Palmeiras (4 a 0, em 1972; 5 a 0, em 1976; 5 a 1, em 1979, no grande ano do Palmeiras de Telê Santana) e uma do Santos (4 a 0, em 1974, no último gol de Pelé, maior artilheiro da história do clássico com 32 gols). A desforra santista aconteceu apenas em 1982, quando Serginho Chulapa (2), João Paulo (2), Roberto César e Paulinho fizeram os gols da sapecada de 6 a 1 do Santos sobre os alviverdes no Pacaembu. Aliás, o Santos só perderia para o rival dois anos depois, em 1984.

Antes, em 1983, o clássico ganhou outro folclore para sua história. Pelo Campeonato Paulista daquele ano, o Santos vencia por 2 a 1 até os 46’ do segundo tempo quando Jorginho Putinatti (autor de oito gols na história do Clássico) chutou forte, mas longe do gol. Porém, havia um árbitro no meio do caminho… A bola desviou em José de Assis Aragão e acabou entrando. Diante dos protestos dos santistas (em vão), Jorginho marotamente cumprimentou o árbitro pela “assistência”.

O fatídico lance para a eternidade… Foto: Gazeta Press.

 

Veja abaixo:

Até o final da década, a dupla colecionou muitos empates e até pelo menos 1993 os placares foram magros, raramente saindo mais de três gols. Mas os rivais mudariam aquele histórico com novos jogos marcantes.

 

Goleadas e títulos

Zinho, do Palmeiras, protege a bola: grandes jogos marcaram o clássico a partir de 1993. Foto: Gazeta Press.

 

Após passarem anos na sombra de Corinthians e São Paulo, Palmeiras e Santos começaram a ressurgir a partir de 1993. Primeiro foi o Verdão, que conquistou os Paulistas de 1993 e 1994 e os Brasileiros dos mesmos anos. Com um timaço recheado de estrelas como Roberto Carlos, César Sampaio, Zinho, Evair, Edmundo, Edílson e o técnico Vanderlei Luxemburgo, o Palmeiras se transformou em um dos maiores esquadrões do futebol brasileiro não só da época, mas da história. Porém, o Santos ousou em desafiar aquele time mesmo sem estrelas. Em 1993, por exemplo, na campanha do título nacional dos alviverdes, o Santos venceu o rival duas vezes: 3 a 1, na Vila, e 1 a 0, em pleno Palestra Itália. O troco palmeirense veio em 1994, com goleada de 4 a 1 pelo Paulistão.

Guga, à direita, artilheiro do Brasileirão de 1993 e carrasco do Palmeiras na vitória por 1 a 0 em pleno Palestra Itália.

 

Em 1995, ano de seu vice-campeonato brasileiro, o Peixe venceu dois e empatou um dos jogos contra o rival. Mas, em 1996, o Palmeiras realizou uma de suas mais fantásticas partidas da década e da história do clássico. No dia 24 de março de 1996, a Vila Belmiro estava tomada por quase 15 mil pessoas. A grande maioria era palmeirense. O Santos vinha com alguns desfalques, mas tinha as armas do time que havia sido vice-campeão brasileiro no ano anterior como Jamelli, Giovanni, Marcelo Passos, Gallo e companhia.

O Palmeiras foi praticamente completo, com o timaço que tinha naquele ano com Cafu, Júnior, Djalminha, Rivaldo, Luizão e companhia. E, quando a bola rolou, a Vila Belmiro presenciou um show. Com menos de um minuto, Cafu se mandou pela direita, fez fila e quase marcou um golaço. Logo aos 4’, Rivaldo abriu o placar de cabeça. Aos 16’, Cléber, também de cabeça, ampliou. Apenas sete minutos, depois, o mesmo Cléber, de cabeça, fez 3 a 0. Na comemoração, foi ao banco e perguntou para Luxemburgo: “Professor, o que está acontecendo comigo?”. Luxa respondeu: “E eu é que sei?!”

Em pé: Júnior, Cafu, Sandro Blum, Cléber, Galeano e Velloso. Agachados: Flávio Conceição, Rivaldo, Luizão, Djalminha e Müller. Esse foi o time que enfiou 6 a 0 no Santos na Vila Belmiro.

 

O que todos sabiam era que aquele Palmeiras jogava muito. O placar de 3 a 0 era uma afronta à realidade. Deveria estar 8 a 0 tamanha superioridade e com base nas chances criadas até aquele momento – bola no travessão, chutes raspando as traves, voleio defendido pelo goleiro, chutes e mais chutes salvos pelo arqueiro alvinegro. No segundo tempo, Cafu, aos 13’, fez o quarto. Djalminha, de pênalti, aos 36’, fez o quinto. E Rivaldo, aos 41’, fechou a conta: 6 a 0. Virou três. Acabou seis. Foram ao menos 20 chances reais de gol. A máquina mortífera alviverde era campeã invicta do primeiro turno. Um time que ousava jogar como só um time jogou naquela Vila Belmiro, diziam os românticos do futebol. Mas com uma diferença: o Santos de Pelé fazia seis, sete gols, mas deixava o adversário jogar e marcar. O Palmeiras fazia seis, sete, mas não levava gols. Era impressionante.

Rivaldo imita a comemoração clássica de Pelé na Vila: naquela tarde, ele podia! Foto: AE.

 

Veja os gols e melhores momentos:

Curiosamente, foi contra o mesmo Santos, tempo depois, que o Palmeiras selou sua conquista do Paulista de 1996 com vitória por 2 a 0 sobre o Peixe no Parque Antártica.

Em 1997, o troco santista veio na semifinal do Torneio Rio-SP, quando o Peixe venceu os alviverdes no Parque Antártica por 3 a 1 e perdeu por apenas 1 a 0 em Presidente Prudente, garantindo a vaga na final. O Santos foi campeão e celebrou seu primeiro título desde o Paulista de 1984. Meses depois, o Peixe aplicou sonoros 4 a 0 no Palmeiras pelo Paulistão, em duelo realizado na Vila Belmiro. Dois meses depois, porém, o Palmeiras fez 5 a 0 (com dois gols de Oséas, dois de Viola e um de Alex) pelo Brasileirão.

Festa santista no Paulistão de 2000.

 

Em 2000, o Santos voltou a superar o rival em uma fase eliminatória do Paulistão, na semifinal. Disputando a reta final da Libertadores – competição que o time havia vencido em 1999 -, o Palmeiras surpreendeu e escalou sua força máxima em busca da vaga. No primeiro jogo, empate em 0 a 0. No segundo duelo, no Morumbi, o Verdão abriu 2 a 0, e, como jogava pelo empate por ter melhor campanha, parecia com a vaga assegurada. Só parecia… Empurrado pela torcida, o Peixe diminuiu com Eduardo Marques, aos 23’ do segundo tempo, e empatou com Ânderson Luiz, aos 32’. Já nos acréscimos, a zaga alviverde se atrapalhou e Dodô virou o jogo, garantindo uma classificação histórica ao Santos – que acabou sendo derrotado pelo São Paulo na final.

 

Século XXI: chega de saudade!

Vágner Love (centro) celebra nos 4 a 0 sobre o Santos em plena Vila em 2004.

 

Se alguém ainda dizia que o clássico Palmeiras x Santos era o “da Saudade”, essa expressão começou a perder boa parte de seu sentido no século XXI. Em 2004, ano do segundo título do Campeonato Brasileiro do Santos, o Palmeiras estragou a campanha do Peixe ao impor uma goleada de 4 a 0 sobre o alvinegro em plena Vila Belmiro. Em 2005, o Santos iniciou uma sequência de quatro vitórias seguidas: uma pelo Brasileiro de 2005, uma pelo Paulistão de 2006 e duas pelo Brasileiro de 2006, com direito a uma goleada de 5 a 1 no dia 03 de setembro, com dois gols de Luiz Alberto, dois de Wellington Paulista e um de Jonas.

Após essa série, vieram quatro empates, totalizando oito jogos do Santos sem perder para o rival. Até que, em 2008, o Palmeiras venceu por 4 a 2 um clássico pelo Brasileirão daquele ano e encerrou o jejum. Naquele final de década, os jogos entre a dupla começaram a ficar mais tensos, com provocações, brigas e um clima de disputa mais acirrado por conta dos jogos repletos de gols que viraram comuns e a discussão entre Domingos e Diego Souza na semifinal do Paulistão de 2009, vencida pelo Santos após vitórias por 2 a 1 (na Vila) e 2 a 0 (no Palestra Itália).

Domingos e Diego Souza: clima quente!

 

Com Luiz Alberto (à esq.) inspirado, Peixe goleou o Palmeiras por 5 a 1 em 2006.

 

Em 2010, com o Santos já iniciando uma nova era de ouro graças aos jovens Neymar, Ganso, André e companhia, o time encarou o Palmeiras pelo Paulista daquele ano em um jogaço na Vila. O duelo teve dancinhas (do palmeirense Armero e seu “Armeration”), imitação de porco de Madson (do Santos) e placar de 4 a 3 a favor do Palmeiras.

“Armeration” é uma lenda entre os palmeirenses!

 

Foram sete jogos de invencibilidade do Verdão entre junho de 2009 e julho de 2011, justamente época em que o Santos venceu a Copa do Brasil de 2010, o Paulista de 2011 e a Libertadores de 2011, em novo repeteco do passado. Só a partir de agosto de 2012 que o Santos voltou a permanecer invicto (oito partidas), com seis vitórias e dois empates. Em 2015, após muito tempo, a dupla decidiu um título: o Campeonato Paulista. No primeiro jogo, em casa, o Palmeiras venceu por 1 a 0 e levou a vantagem do empate para a Vila. Mas o Santos venceu por 2 a 1 e o jogo foi para os pênaltis. Na marca da cal, vitória santista por 4 a 2 e 21º título para o alvinegro, que encostou de vez no rival (que tinha 22 na época). Mas o troco alviverde não demorou.

Santos foi campeão paulista em cima do Palmeiras em 2015…

 

Meses depois, os rivais se reencontraram em uma decisão. Dessa vez, a maior da história do clássico desde então: na Copa do Brasil. O Santos havia superado Londrina (2 a 0 no agregado), Maringá (3 a 2 no agregado), Sport (4 a 3 no agregado), Corinthians (4 a 1 no agregado), Figueirense (4 a 2 no agregado) e São Paulo (6 a 2 no agregado) no caminho até a final. Já o Palmeiras vinha de classificações sobre Vitória da Conquista (4 a 1, jogo fora de casa, classificação direta), Sampaio Corrêa (6 a 2 no agregado), o fantasma ASA (1 a 0 no agregado), Cruzeiro (5 a 3 no agregado), Internacional (4 a 3 no agregado) e Fluminense (3 a 3 no agregado e vitória nos pênaltis por 4 a 1).

Mas, no mesmo ano, Dudu…

 

… E Fernando Prass garantiram o título da Copa do Brasil ao Verdão.

 

O duelo de ida foi na Vila Belmiro e Gabriel Barbosa fez o gol da vitória por 1 a 0, embora o placar tenha sido ruim para o Peixe, que perdeu um pênalti no primeiro tempo e viu o rival ter um jogador expulso – Lucas Lima. Na volta, na primeira final de campeonato disputada no Allianz Parque, Dudu marcou dois gols, Ricardo Oliveira diminuiu e o jogo terminou 2 a 1 para o dono da casa. Com o 2 a 2 no agregado, a final foi para os pênaltis. E, nela, o goleiro palmeirense Fernando Prass roubou a cena ao defender o pênalti de Gustavo Henrique e converter o chute derradeiro do placar de 4 a 3 que deu ao Palmeiras o título na maior final entre os rivais na história.

Foto: Divulgação / Conmebol.

 

Bem, isso até chegar o dia 30 de janeiro de 2021, no Maracanã, quando o Clássico da Saudade definiu o campeão da Copa Libertadores da América de 2020, esta sim a maior final da história do duelo. A expectativa foi enorme, mas o jogo em si foi decepcionante – modorrento, para dizer o mínimo. O vencedor só saiu aos 53’ do segundo tempo (!), quando Rony cruzou e Breno Lopes cabeceou – em um lance bem parecido com o gol de Messi na final da Liga dos Campeões da UEFA de 2008-2009 – para dar a vitória por 1 a 0 e o segundo título da América ao Palmeiras.

 


A confirmação da dupla em um jogo tão grande como esse marca a consolidação do clássico como um dos mais importantes do futebol paulista e brasileiro neste século, times que superaram crises, problemas internos e falta de reforços para se reinventarem e levantarem títulos marcantes, além de vencerem gigantes do futebol nacional e também da América do Sul. Prova disso é o equilíbrio entre eles neste século: são 25 vitórias para o Palmeiras, 24 vitórias para o Santos e 17 empates! Após a final da Libertadores, o clássico vai ter que mudar de nome… Chega de saudade, não quero mais esse negócio…

 

Curiosidades:

 

  • Por muito tempo, o torcedor do Palmeiras era chamado de “porco” pelos adversários de maneira pejorativa. Mas, em 1986, em um clássico contra o Santos, a diretoria lançou uma ação para mudar de vez essa história e instituir o animal como segunda mascote do clube. O Verdão venceu o alvinegro por 1 a 0 e a torcida gritou “e dá-lhe porco, e dá-lhe porco”. Deu tão certo que o palmeirense Jorginho apareceu segurando um porquinho em uma capa da revista Placar duas semanas depois;
  • Pelé é o maior artilheiro do clássico com 32 gols, e Heitor é o maior artilheiro com a camisa do Palmeiras, com 13 tentos;
  • Ary, do Santos, detém um prolífico recorde de incríveis oito gols em apenas três jogos contra o Palmeiras: foram três nos 7 a 0 de 1915, mais três nos 5 a 0 de março de 1916 e dois na derrota por 4 a 2 em setembro de 1916. Pelé também anotou oito gols em sequência contra o Palmeiras (entre 1959 e 1960), mas precisou de cinco jogos para alcançar o feito;
  • Nunca um jogador marcou mais de três gols em um Clássico da Saudade;
  • Em jogos eliminatórios (excluindo finais), Palmeiras e Santos já se enfrentaram 10 vezes. A vantagem é do Peixe: 7 vitórias, contra 3 do Palmeiras;
  • O maior empate da história do clássico é um 4 a 4 em 13 de abril de 1955;
  • O maior público da história de um Clássico da Saudade foi registrado em 15 de outubro de 1979: 127.723 pessoas (sendo 123.318 pagantes) no Palmeiras 2×0 Santos, no Morumbi;
  • A maior série invicta do clássico é do Palmeiras, com 15 jogos entre julho de 1917 e junho de 1926 – quase 10 anos. Foram 14 vitórias e um empate, sendo nove vitórias seguidas. A maior série invicta do Santos é de 10 jogos, entre setembro de 1987 e maio de 1991.

 

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4 Comentários

  1. Clássico de extrema história, atualmente talvez o de maior rivalidade e importância em São Paulo, é impressionante como há muitos jogaços. Nesse século XXI impressiona além do equilíbrio a rotação do domínio, com períodos do Santos bem superior, outros o Palmeiras. Realmente, de saudade ta só no nome.

  2. Verdade! Um bom exemplo é 2015, quando disputaram as finais da Copa do Brasil e do Paulistão.
    Tem gente dizendo que essa final de Libertadores é uma recompensa pelo que fizeram nos anos 60! Mas eu diria que é também pelo que fizeram nos anos 90 e nesse século como você falou, Imortais! Que vença o melhor!

  3. Com a final da Libertadores entre Palmeiras e Santos prestes a acontecer, fazia sentido o Imortais colocar um texto sobre o clássico. Eu já ouvi muita história sobre os confrontos entre eles em vários lugares (inclusive aqui no Imortais, claro!).
    O nome Clássico da Saudade é uma óbvia referência aos times e seus esquadrões icônicos dos anos 60. Se o Santos tinha uma equipe máquina de títulos, o Palmeiras tinha uma academia que mostrava que tinha, sim, como encarar aquele Santos de igual para igual. Acho que não é um clássico que costuma colocar os dois times na temperatura máxima, mas é histórico!

    Show de Bola, Imortais! Abraço! Só não peço para colocar o Santos de Pelé e o Palmeiras de Ademir da Guia nos esquadrões imortais porque sei que eles já estão lá!

Craque Imortal – Higuita

Jogos Eternos – Santos 7×6 Palmeiras 1958