in ,

Esquadrão Imortal – Palmeiras 2020-2023

Em pé: Danilo, Piquerez, Luan, Gustavo Gómez e Weverton. Agachados: Gustavo Scarpa, Rony, Dudu, Zé Rafael, Marcos Rocha e Raphael Veiga.
Em pé: Danilo, Piquerez, Luan, Gustavo Gómez e Weverton. Agachados: Gustavo Scarpa, Rony, Dudu, Zé Rafael, Marcos Rocha e Raphael Veiga.

 

Grandes feitos: Bicampeão da Copa Libertadores da América (2020 e 2021), Bicampeão do Campeonato Brasileiro (2022 e 2023), Campeão da Recopa Sul-Americana (2022), Campeão Invicto da Copa do Brasil (2020), Campeão da Supercopa do Brasil (2023), Tricampeão Paulista (2020, 2022 e 2023), Campeão da Supercopa do Brasil (2023) e Vice-campeão do Mundial de Clubes da FIFA (2021). Foi o primeiro clube após 20 anos a conquistar a Libertadores por duas vezes seguidas.

Time-base: Weverton (Jailson / Marcelo Lomba); Marcos Rocha (Mayke), Gustavo Gómez, Luan (Murilo / Kuscevic) e Piquerez (Viña / Jorge); Danilo (Patrick de Paula / Bruno Henrique / Jailson) e Zé Rafael (Felipe Melo); Dudu (Luiz Adriano / Richard Ríos), Raphael Veiga (Willian) e Gustavo Scarpa (Gabriel Menino / Atuesta / Wesley / Artur); Rony (Gabriel Veron / Breno Lopes / Deyverson / Rafael Navarro / Endrick). Técnicos: Vanderlei Luxemburgo (janeiro até outubro de 2020) e Abel Ferreira (outubro de 2020 – atual).

 

“A Terceira Academia”

 

Por Guilherme Diniz

Atualizado 2023

Junho de 2000. Após dois empates, Palmeiras e Boca Juniors decidem nos pênaltis a Copa Libertadores. Foi de tal maneira que o Verdão havia vencido seu primeiro título no ano anterior. E foi assim que o bicampeonato escapou. A glória dos argentinos iniciou uma dinastia, com mais um título em 2001, outro em 2003 e outro em 2007. Anos e anos se passaram e nenhum outro clube conseguiu levantar a Libertadores por duas vezes seguidas. E nem o Palmeiras conseguiu alcançar outra final. Durante esse tempo – duas décadas – o alviverde passou pelos momentos mais difíceis de sua história. Dois rebaixamentos. Crises financeiras. Fim da longa parceria com a Parmalat. Muitos começaram a duvidar se o alviverde iria algum dia retornar ao caminho das glórias. Depois dos títulos do Brasileirão em 2016 e 2018, o caminho das glórias parecia mais pavimentado. Só que a bendita Libertadores ainda ousava escapar. 

Foi então que em 2020 o Palmeiras trilhou sua volta a uma final. O adversário foi um gigante que ele tanto enfrentou nos dourados anos 1950 e 1960: o Santos. Um “Clássico da Saudade” único, no Maracanã. Sem o público ideal por conta da pandemia da COVID-19, o estádio não estava bonito como esperado naquele mês de janeiro de 2021. E, em campo, os times não saíram do zero até o minuto 99, quando Breno Lopes testou para fazer 1 a 0 e acabar com o jejum de duas décadas do Verdão. Justo no minuto 99, simbolismo puro ao título de 1999. Um mês depois, veio o caneco da Copa do Brasil, outra sobre um adversário de longa data – o Grêmio. Tudo aquilo trouxe de volta o gosto pelas copas. E, sedento, o Verdão fez mais uma grande campanha na Libertadores até alcançar a final contra o Flamengo, favorito, em jogo único no Uruguai e com a esperada volta da torcida (que falta que ela fez!).

Mesmo em menor número, os aficionados do Palmeiras fizeram muito mais barulho. Emudeceram os rubro-negros. E vibraram com o gol de Raphael Veiga logo aos 5’. O jogo pegou fogo, mas a defesa que ninguém passa estava plena. Na segunda etapa, Gabriel Barbosa conseguiu empatar e o jogo foi para a prorrogação. O tempo passava e nada de gol. Até que o rubro-negro Andreas Pereira perdeu a bola para outro herói improvável do Verdão: Deyverson, que aproveitou a bobeada e estufou as redes: 2 a 1. 

A América via outro bicampeão depois de 20 anos. E o Palmeiras levantava sua segunda Libertadores no mesmo ano! Peraí, como assim? É que a decisão de 2020 foi em janeiro de 2021 e a de 2021 em novembro. Nunca o continente viu um campeão “duplo” na mesma temporada. Meses depois, veio o inédito título da Recopa Sul-Americana, o Campeonato Paulista com uma goleada histórica e inapelável pra cima do rival São Paulo e um título brasileiro. E, em 2023, mais três troféus. No embalo de um novo ídolo no banco de reservas – Abel Ferreira -, um goleiro que faz jus à tradição do clube – Weverton – um xerife na zaga – Gustavo Gómez – um meio de campo com vários predicados e um ataque por vezes econômico, porém decisivo, o Palmeiras se transformou no Porcopeiro. E na Terceira Academia, repetindo o sucesso e dinastia dos esquadrões dos anos 1960 e anos 1970. É hora de relembrar a volta do Alviverde Imponente.

 

Do “esquenta” no Derby…

 

Após os títulos da Copa do Brasil de 2015 e dos Brasileiros de 2016 e 2018, o Palmeiras retomou de vez o lugar entre os principais candidatos a títulos no futebol nacional após anos de decepções. O ponto de virada foi, sem dúvida, a inauguração de seu novo e moderno estádio, o Allianz Parque, além da vertiginosa parceria com a Crefisa, que deu uma sobrevida financeira ao clube e possibilitou ir ao mercado de compras com mais poder de negociação e em busca de nomes de peso. Além disso, a diretoria passou a investir mais nas categorias de base, algo que ficou esquecido nas gestões anteriores. Só que, em 2019, o Verdão acabou decepcionando e passou em branco a temporada que ficou marcada pela ascensão meteórica do Flamengo de Jorge Jesus, campeão de quase tudo e que encantou com um futebol envolvente e ofensivo.

Ainda comandado por Felipão, o Palmeiras apresentava antigos vícios do treinador, não empolgava e foi presa fácil para o rubro-negro, além de cair nas quartas de final da Libertadores diante do Grêmio. Em setembro, Felipão deixou o alviverde, Mano Menezes foi contratado, mas não durou muito e caiu em dezembro. Para o seu lugar, a diretoria trouxe Vanderlei Luxemburgo, velho conhecido do torcedor e em sua 5ª passagem pelo clube. Luxa usou a base de 2019 e decidiu aproveitar alguns garotos formados no Verdão como Gabriel Menino, Gabriel Veron e Patrick de Paula para a disputa do Campeonato Paulista, torneio que não era conquistado pelo Palmeiras há 12 anos. 

Derrota para o Grêmio eliminou o Palmeiras da Libertadores de 2019.

 

Depois de passar sem grandes sustos pela fase de grupos, o time se classificou em primeiro lugar para a etapa final do torneio, que só começou a ser disputada em julho de 2020 por causa da pandemia da COVID-19, que paralisou o futebol em todo o mundo entre março e metade de julho. Jogando sem torcida por conta dos novos protocolos sanitários, o Palmeiras encarou o Santo André nas quartas de final e venceu por 2 a 0. 

Na semifinal, triunfo sobre a Ponte Preta por 1 a 0 e vaga na decisão. Nela, a equipe encarou o rival Corinthians, que tinha a chance de conquistar o tetracampeonato consecutivo do Paulistão – algo inédito no estado após o profissionalismo. No primeiro jogo, em Itaquera, empate sem gols. Na volta, no Allianz, empate em 1 a 1 e decisão nos pênaltis, assim como em 2018. O Palmeiras tinha a decisão daquele ano engasgada pelo fato de ter perdido para o Corinthians em casa e também nos pênaltis. Mas, em 2020, quem sorriu foi o Verdão, que venceu por 4 a 3 e celebrou o título estadual após 12 anos de jejum. O troféu foi o 5º de Luxemburgo na competição dirigindo o Palmeiras.

Em 16 jogos, o Palmeiras venceu oito, empatou seis, perdeu dois, marcou 21 gols e sofreu apenas sete. Willian, com seis gols, foi o artilheiro da equipe. O título deixou a torcida esperançosa por uma temporada melhor. Mas, com o novo cenário da pandemia, saídas de jogadores como Dudu, Fernando Prass, Antônio Carlos, Matheus Fernandes e Bruno Henrique, além de muitos atletas ficarem em quarentena por conta do vírus, não havia como cravar um bom desempenho do time nas competições seguintes.

 

… À queda de produção

Após o retorno do futebol no segundo semestre (sem público nos estádios), o Palmeiras se desdobrou para disputar o Campeonato Brasileiro, a Copa Libertadores e a Copa do Brasil. E, com tantas competições em um curto espaço de tempo, além das adversidades da pandemia, o elenco sentiu o ritmo no Brasileirão. A equipe ficou 13 rodadas invicta, mas com excesso de empates – foram oito – e um futebol muito abaixo do esperado. A gota d ‘água foi no mês de outubro, quando o alviverde perdeu quatro jogos seguidos no torneio – incluindo um clássico para o São Paulo dentro do Allianz Parque por 2 a 0 -, série que causou a demissão de Luxemburgo no dia 14 de outubro, após a derrota para o Coritiba, em casa. 

Luxa não resistiu aos resultados ruins no Brasileirão e foi demitido. Foto: Marcos Ribolli.

 

Em 36 jogos, foram 17 vitórias, 14 empates e cinco derrotas. O ponto positivo do técnico foi ter dado espaço aos jovens das bases e livrado o time da necessidade de “medalhões”. Mas o excesso de empates e o praticamente adeus à disputa pelo Brasileirão não ajudaram na manutenção do profexô. Por outro lado, ele deixou uma boa herança na Libertadores, com a vaga para as oitavas de final garantida sem sustos em um grupo fraquíssimo – Tigre-ARG, Bolívar-BOL e Guaraní-PAR não serviram nem para sparring: o Verdão venceu cinco jogos, empatou um, marcou 17 gols e levou apenas dois.

Precisando de um novo técnico o mais rápido possível, o Palmeiras foi atrás de algum treinador estrangeiro, indo na nova moda do futebol brasileiro na época após o sucesso de Jorge Jesus. O principal nome da diretoria era o espanhol Miguel Ángel Ramírez, que vinha realizando um trabalho notável no Independiente Del Valle, campeão da Copa Sul-Americana de 2019. No entanto, o técnico não quis sair do time equatoriano antes do fim da Libertadores e foi descartado. Na sequência, foram sondados os argentinos Ariel Holan, treinador da Universidad Católica-CHI, Sebastián Beccacece, técnico do Racing-ARG e Gabriel Heinze, ex-treinador do Vélez Sarsfield-ARG, mas nenhuma conversa foi além. Até mesmo o espanhol Quique Setién, ex-treinador do Barcelona, entrou na lista de possíveis nomes, mas também não se concretizou. Será que o Verdão ficaria sem técnico até o fim da temporada?

 

A chegada de Abel

Quem é esse cara? Foto: Getty Images.

 

Foi então que, em 30 de outubro de 2020, o clube anunciou, enfim, seu novo treinador: o desconhecido português Abel Ferreira, que comandava o PAOK-GRE. Com 41 anos, o técnico vinha se destacando há alguns anos por bons trabalhos pelo Braga-POR e também no PAOK, pelo qual foi vice-campeão grego. Claro que o currículo do técnico não inspirava confiança e o Palmeiras seria o maior desafio da vida do treinador, mas ele mostrou desde o início que não iria para o Brasil “tirar férias”.

 

“Acima de tudo, estou com muita motivação de fazer história aqui. É um grande clube, com um grande elenco, uma grande academia, oferece todas as condições para um profissional ter sucesso. Isso me seduziu. […] Tinha mais dois anos de contrato, todas as partes tiveram de abdicar. Sabemos que a exigência e cobrança aqui é muita, mas é assim que gosto de ver o futebol, com exigência máxima, porque só assim conseguimos estar no topo”. – Abel Ferreira, em sua chegada ao Brasil, 02 de novembro de 2020.

 

O português desembarcou no país acompanhado de seus auxiliares Carlos Martinho e Vitor Castanheira, do analista de desempenho Tiago Costa e do preparador físico João Martins. A diretoria do Palmeiras apostava que o novo técnico iria trazer de volta o DNA alviverde, a competitividade e a busca intensa por títulos. Segundo os jogadores brasileiros treinados por Abel na época do PAOK, o português tinha virtudes que seriam muito úteis ao Verdão e aos jogadores. 

 

“O Abel Ferreira é um excelente treinador, novo, com ótimas ideias de jogo. Ele sabe trabalhar muito bem a equipe taticamente e procura sempre formar um time equilibrado. Ao meu ver, ele tem tudo para fazer um bom trabalho no Palmeiras e ganhar reconhecimento no futebol brasileiro. Temos uma ótima relação e desejo sorte para ele nesse novo desafio”, comentou o volante Douglas, do PAOK, ao globoesporte.com, em 1º de novembro de 2020. 

 

O lateral Rodrigo, brasileiro que também jogava no PAOK na época, disse que Abel “sempre busca intensidade na ida para o ataque, sempre buscando o gol. Ele vai passar as ideias dele, tentar implementar toda a filosofia que implementou aqui, mas é sempre uma equipe equilibrada e em busca do ataque… O torcedor pode esperar um treinador ambicioso, ganancioso, que vem crescendo no cenário. Ele é novo, faz de tudo para ganhar, tenta sempre passar essa filosofia para os atletas”.  

 

O português tinha o estilo de unir o grupo, ser duro quando necessário e divertido quando podia. Valorizava os jogadores, exigia demais nos treinamentos e salientou que o Palmeiras poderia brigar por todos os títulos em disputa até o fim da temporada. Após o técnico interino Andrey Lopes comandar o Verdão na vitória sobre o Atlético-MG por 3 a 0, na última rodada do primeiro turno do Brasileirão, Abel Ferreira dirigiu o Palmeiras na vitória por 1 a 0 sobre o RB Bragantino, partida válida pela volta das oitavas de final da Copa do Brasil – o alviverde venceu o primeiro jogo por 3 a 1. 

Os vices-presidentes Alexandre Zanotta e Paulo Buosi, o diretor de futebol Anderson Barros e o assessor técnico Edu Dracena (E/D), apresentam o novo técnico do clube, Abel Ferreira (centro), na Academia de Futebol. (Foto: Cesar Greco)

 

Naquele jogo de estreia, Ferreira já mostrou algumas de suas características como as conversas particulares com os jogadores, o jeito energético à beira do gramado, a inquietação e traços típicos de grandes técnicos da história do Palmeiras. A sintonia foi quase instantânea. E, jogo após jogo, o técnico iria levar aquele time bem longe…

 

Alviverde copeiro!

Willian, Luiz Adriano, Raphael Veiga e Gabriel Menino: quarteto fez grandes jogos sob o comando de Abel Ferreira.

 

Os meses de novembro e dezembro foram cruciais para o futuro do Palmeiras na temporada – que iria se prolongar até meados de 2021 por conta da pandemia. Com jogos decisivos na Copa do Brasil e na Libertadores, o Verdão conseguiu resultados expressivos mesmo com desfalques de atletas com COVID-19 – na metade de novembro, por exemplo, o clube teve apenas 13 jogadores à disposição de Abel Ferreira para a partida contra o Goiás, pelo Brasileirão, e o time paulista acabou derrotado por 1 a 0. Na Copa do Brasil, o Verdão superou o Ceará por 3 a 0 na partida de ida, em casa, empatou em 2 a 2, fora, e se garantiu na semifinal. Nela, empatou em 1 a 1 com o América Mineiro, em casa, mas venceu fora por 2 a 0 e carimbou a vaga na final.

Na Copa Libertadores, o Verdão superou o fraco Delfín-EQU nas oitavas de final por 3 a 1, fora de casa, e goleou por 5 a 0 em SP, com show da garotada – foram dois gols de Patrick de Paula, dois de Gabriel Veron e um de Danilo. Nas quartas, empatou em 1 a 1 com o Libertad-PAR, fora, e venceu em casa por 3 a 0, gols de Scarpa, Gabriel Menino e Rony, carimbando a vaga na semifinal. De fato, o Palmeiras era outro naquele final de ano. A equipe ostentava 100% de aproveitamento jogando em casa sob o comando de Abel Ferreira, mostrava muita intensidade na marcação, com linhas altas e pressionando o adversário em busca da bola, e tinha uma defesa muito segura, que dificilmente levava gols. Aliás, os rivais raramente saíam na frente do placar. 

Quando atacava, o time explorava a velocidade e os toques rápidos para chegar o quanto antes ao gol adversário. Embora não fosse um time encantador, era muito organizado taticamente e dava mostras que poderia, sim, brigar pelos títulos da Liberta e da Copa do Brasil. No Brasileirão, mesmo na 6ª posição, o Palmeiras já não tinha mais chances de brigar pelo título. Por outro lado, não iria mais perder em casa até o final da competição.

 

A partida perfeita e a (suada) vaga na final

Luiz Adriano passa pela marcação argentina: Palmeiras deu show! Foto: Marcos Ribolli.

 

Já garantido na decisão da Copa do Brasil, o Palmeiras começou o mês de janeiro de 2021 com foco total na semifinal da Libertadores. E o alviverde teve pela frente seu primeiro grande desafio na competição: o River Plate de Gallardo, vice-campeão em 2019, com praticamente a mesma base e remanescentes do título histórico de 2018 sobre o rival Boca. O River, pelo futebol que apresentava, era o favorito. E, no primeiro jogo, na Argentina, o time millonario tinha certeza da vitória. Só que os anfitriões se esqueceram que do outro lado estava o Palmeiras. O mesmo clube que em 1999 deu uma sapecada de 3 a 0 no River na segunda semifinal da Libertadores daquele ano que embalou o alviverde rumo ao primeiro título.

E, como em uma volta ao passado, o Palmeiras foi simplesmente cirúrgico. Com seus garotos – Danilo, Patrick de Paula e Gabriel Menino – jogando como se fossem César Sampaio, Zinho e Alex (pausa para a licença poética), e aproveitando as chances de maneira precisa, o Verdão impôs velocidade na transição entre defesa e ataque e saiu na frente aos 26’, em gol de Rony após saída desastrosa de Armani. O River tentou empatar, mas o mais perto que chegou foi em uma cobrança de falta de Nacho que raspou a trave. Logo aos 2’ do segundo tempo, Danilo tocou, Luiz Adriano saiu em disparada em direção ao ataque e chutou para marcar um belo gol e abrir 2 a 0. O tento desmontou o River, que se enervou e viu Carrascal ser expulso após falta em Gabriel Menino. Aos 16’, o lateral Viña fez o terceiro, de cabeça, e o jogo tido como mais difícil da trajetória alviverde se tornou fácil: 3 a 0. 

Foto: Staff / Conmebol.

 

A enorme vantagem deixou o Palmeiras com quase os dois pés na final. “Quase” porque o River simplesmente amassou o time brasileiro no segundo jogo, no Allianz Parque, e não deixou a equipe de Abel Ferreira criar absolutamente nada. O time argentino abriu 2 a 0 no primeiro tempo e chegou ao terceiro gol logo no início da segunda etapa, porém, o VAR entrou em ação e anulou o gol por impedimento de Borré. Tempo depois, o time argentino teve um jogador expulso, mas em nada aliviou a pressão sobre o alviverde, que viu outra vez o árbitro de vídeo intervir em um lance ao cancelar um pênalti. A derrota por 2 a 0 foi a primeira do Palmeiras na Libertadores, mas o placar agregado de 3 a 2 colocou o Verdão na final após duas décadas. Tempo depois, Abel Ferreira ressaltou que aquele foi o jogo mais difícil no comando do clube e que leu o livro do técnico Gallardo para se preparar antes do duelo.

 

“Quando fomos jogar contra o River Plate, nós compramos (o livro), eu e a equipe técnica, para ler do início ao fim, para não faltar nada. E eu aprendia enquanto estudava. Posso dizer que no jogo contra o Corinthians, em casa (pelo Brasileiro), utilizei um movimento, não vou dizer em que setor foi, que vi no livro do Gallardo. Falei: ‘nossa, isso faz sentido na minha cabeça, grande ideia’. […] Eu só fiz isso porque essas equipes fazem muita marcação individual e, para libertar da marcação individual, esses movimentos abrem espaço por dentro.

Não tem problema nenhum, gostei, vi e logo encaixei na nossa equipe. Os jogadores fizeram sem saber, ou melhor, sem saber de onde vinha a ideia. Eram movimentos muito simples que abriram espaço, e foi o que eles (River Plate) fizeram com a gente em casa (no Allianz Parque)”. Abel Ferreira, em entrevista ao SporTV, 16 de março de 2021.

 

Dias depois da classificação, o Palmeiras encarou o rival Corinthians pelo Brasileirão – jogo citado acima – e aplicou uma sonora goleada de 4 a 0, com dois gols de Raphael Veiga e dois de Luiz Adriano, em uma clara resposta a quem criticava o estilo conservador de Abel em algumas partidas. Foi a maior goleada no Derby desde os 4 a 0 do Palmeiras sobre o Corinthians em 02 de maio de 2004. Depois do clássico, o Palmeiras voltou todas as suas atenções à final da Libertadores e acabou perdendo para Flamengo e Ceará nas rodadas 31 e 32, respectivamente. Com o elenco preparado e sem baixas, Abel Ferreira tinha todas as suas principais peças para lutar pelo título continental contra um velho conhecido: o Santos, mesmo rival do título da Copa do Brasil lá no renascimento de 2015.

 

A glória aos 99’

Foto: Divulgação / Conmebol.

 

O Maracanã, tão acostumado aos espetáculos do Santos de Pelé e da Academia do Palmeiras nos anos 1950 e 1960, recebeu a maior final entre a dupla paulista na história naquele dia 30 de janeiro de 2021. A confirmação dos paulistas em um jogo tão grande marcou a consolidação do “Clássico da Saudade” como um dos mais importantes do futebol paulista e brasileiro neste século, com times que superaram crises, problemas internos e falta de reforços para se reinventarem e levantarem títulos marcantes, além de vencerem gigantes do futebol nacional e também da América do Sul. A expectativa foi enorme, ainda mais depois de Palmeiras e Santos eliminarem na semifinal os rivais argentinos River Plate e Boca Juniors, respectivamente.

O Palmeiras campeão da América de 2020: defesa segura e meio de campo marcador foram as tonas do time sob o comando de Abel Ferreira.

 

Breno Lopes corre para o abraço: Palmeiras campeão! Foto: Getty Images.

 

Mas, quando a bola rolou, o jogo em si foi decepcionante – modorrento, para dizer o mínimo. Quando tudo levava a crer que a partida iria para a prorrogação, aos 53’ do segundo tempo (!), Rony cruzou da direita e o atacante reserva Breno Lopes cabeceou para dar a vitória por 1 a 0 e o título continental ao Palmeiras. A conclusão do gol foi, por incrível que pareça, no minuto 99’, mais clara alusão ao primeiro título do Verdão na competição. A emoção tomou conta de todos os atletas ao apito final e, mesmo sem torcida nas arquibancadas (o público foi praticamente restrito a convidados, em torno de 2 mil pessoas), a festa alviverde ecoou no Templo do Futebol. Muito emocionado, Abel Ferreira elogiou o trabalho anterior de Luxemburgo e lembrou até de Gallardo na comemoração.

 

“Foi o Vanderlei [Luxemburgo] quem começou esse trabalho. Não escondo, a verdade é essa. Depois de fazer um trabalho, tivemos que resgatar alguns jogadores, mas quem começou o trabalho foi ele e nós todos que fechamos. Muita gente perguntou o que tinha dito ao Gallardo. Eu disse que ia ganhar essa competição e dedicar uma porcentagem a ele, porque seria melhor treinador graças a ele. E ele disse para eu ganhar. Se sou melhor treinador, devo também ao Gallardo”.

Tanto no gramado quanto na coletiva de imprensa, Abel Ferreira chorou bastante e não escondeu a saudade da família, afinal, ela ficou em Portugal quando ele veio ao Brasil. Luiz Adriano e Rony, com cinco gols cada, foram os artilheiros do Palmeiras na competição. Rony se destacou também como um dos líderes em assistências – oito passes, mesmo número do argentino Matías Suárez, do River Plate. Em 13 jogos, o Palmeiras venceu 10, empatou dois, perdeu apenas um, marcou 33 gols (melhor ataque, ao lado do River Plate) e sofreu apenas seis (melhor defesa, ao lado do Boca Juniors). Mas o torcedor alviverde já teve que mudar o foco dias depois. Era hora de tentar o título do Mundial de Clubes da FIFA.

 

Melancolia no Catar

Andre-Pierre Gignac corre para cobrar o pênalti e dar a vitória ao Tigres na semifinal (Photo by Karim JAAFAR / AFP).

 

Com pouquíssimo tempo de preparação, o Palmeiras embarcou para o Catar no começo de fevereiro para a disputa do Mundial de Clubes. O antigo sonho alviverde de conquistar o mundo teria um adversário de peso: o Bayern München, campeão com 100% de aproveitamento da Liga dos Campeões da UEFA e em busca do Sextuple, algo só conquistado pelo Barcelona de Guardiola na história. Mas, antes de ter a chance de encarar o clube alemão, seria preciso enfrentar o perigoso Tigres-MEX, do artilheiro francês Gignac. O favoritismo, como sempre, estava com os sul-americanos. Mas, em campo, o time mexicano foi melhor e venceu por 1 a 0 (gol de Gignac), sepultando mais uma vez a esperança do título inédito.

Na disputa pelo terceiro lugar, o Palmeiras encarou os egípcios do Al Ahly e, de novo, não conseguiu marcar gols. O empate em 0 a 0 levou a disputa para os pênaltis e o Verdão perdeu por 3 a 2, tendo o desgosto de ostentar a pior campanha de um campeão da Libertadores na história do torneio. Foi extremamente melancólico. E desapontador para um time campeão da América. A falta de criatividade no ataque e de um centroavante pesaram no desempenho alviverde, além, claro, do cansaço de fim de temporada. Mas não havia muito tempo para lamentar. O Palmeiras tinha uma final no radar: a Copa do Brasil. 

 

Rei do Brasil!

Não havia ocasião melhor para apagar o vexame no Mundial do que a final da Copa do Brasil. O primeiro jogo aconteceu em 28 de fevereiro de 2021, já após o término do Brasileirão – competição na qual o Palmeiras terminou na 7ª colocação. O Verdão encarou o Grêmio e foi com tudo em busca do 15º título nacional para sua interminável coleção. Mesmo jogando fora de casa, o alviverde se impôs e venceu por 1 a 0, gol de cabeça do xerife Gustavo Gómez. Nem a expulsão do zagueiro Luan, no começo do segundo tempo, prejudicou o Palmeiras, que se segurou e conseguiu levar a vantagem para SP. 

Na volta, no Allianz Parque (vale lembrar que os dois jogos foram sem público), o Palmeiras venceu por 2 a 0 (gols de Wesley e Gabriel Menino) e conquistou sua 4ª Copa do Brasil na história! Foram seis vitórias e dois empates em oito jogos, além de Raphael Veiga ser o vice-artilheiro da competição com quatro gols. O Verdão encerrou a temporada 2020 com três títulos, fim de um histórico jejum na Libertadores e com o moral elevado após uma temporada anterior de muitos revezes. Luiz Adriano, com 20 gols, foi o artilheiro do time, seguido de Raphael Veiga e Willian, ambos com 18 tentos.

 

Manutenção do elenco e transformações

Dudu e Patrick de Paula: dupla afinada em alguns jogos da Libertadores de 2021.

 

Para a temporada de 2021, a diretoria alviverde conseguiu manter os principais nomes e ainda se desfazer de atletas que já não eram úteis, como Lucas Lima, que foi jogar no Fortaleza, e Miguel Borja, que ainda tinha vínculo com o Palmeiras, mas foi cedido ao Grêmio, e, depois, vendido em definitivo para o Junior Barranquilla. Entre as baixas, Abel Ferreira perderia em agosto o lateral-esquerdo Matías Viña, comprado pela Roma por cerca de 80 milhões de reais. Mas a diretoria agiu um pouco antes e contratou o também uruguaio Joaquín Piquerez, que vinha se destacando na lateral-esquerda do Peñarol. Também para a lateral-esquerda, o Verdão trouxe Jorge (ex-Monaco), e contou com o retorno do ídolo Dudu, de volta após uma temporada emprestado ao Al Duhail, do Catar.

Com muitos compromissos no calendário, Abel Ferreira sabia que uma boa rodagem do elenco seria fundamental para evitar riscos de lesões e problemas na reta final das grandes competições. Mas ele teria alguns nomes imprescindíveis para o sucesso do time no ano. No gol, Weverton era inquestionável, ainda mais após os impressionantes 70 jogos disputados em 2020. Na zaga, Gustavo Gómez sempre seria a primeira opção, enquanto Luan e Kuscevic poderiam fazer dupla com o paraguaio. Na lateral-direita, o destaque era Marcos Rocha, que voltaria a apresentar o bom futebol que o consagrou no Atlético-MG, e, na esquerda, após a venda de Viña, Piquerez ganharia a vaga de titular com autoridade. 

 

No meio, Zé Rafael iria acabar com a desconfiança de alguns torcedores para se transformar no maior marcador do time, aquele carrapato que não deixa o adversário jogar e que ainda ajuda no ataque. Ao lado dele, a cria Danilo iria crescer demais de produção com passes precisos, visão de jogo, desarmes plenos e presença na frente. E, no ataque, Abel Ferreira teria em Raphael Veiga, Rony, Gustavo Scarpa e, a partir do segundo semestre, Dudu, os grandes artífices ofensivos, com destaque para Veiga, que iria se transformar em uma arma mortal nas bolas paradas e nos chutes de longa distância.

Raphael Veiga: principal nome ofensivo do Palmeiras na temporada 2021.

 

Mesmo sem um camisa 9 nato, o Palmeiras podia ser ofensivo com a velocidade de sua transição entre o meio e o ataque. E, embora o time pecasse um pouco nas finalizações em alguns momentos, o volume de jogo e a pressão sem a bola sobre o adversário geraria alternativas de reconstrução. O Palmeiras era, sem dúvida, um dos principais times do continente. Mas os primeiros meses de 2021 despertaram algumas dúvidas nessa alcunha…

 

Chega de vice!

Foto: Lucas Figueiredo.

 

No começo de abril, o Palmeiras disputou dois títulos. O primeiro começou no dia 07, contra o Defensa y Justicia-ARG, pela Recopa Sul-Americana. Jogando fora de casa, o alviverde venceu por 2 a 1 (gols de Rony e Gustavo Scarpa) e parecia destinado ao caneco inédito. Mas, na volta, a equipe foi derrotada por 2 a 1, e, nos pênaltis, perdeu por 4 a 3 e viu a festa argentina. Nesse meio tempo, a equipe foi até Brasília decidir o título da Supercopa do Brasil contra o Flamengo. Ainda sem torcida, o estádio Mané Garrincha foi palco de um jogaço, com muita ofensividade e que calou aqueles que diziam que o time de Abel Ferreira era só retranca.

Raphael Veiga marcou duas vezes contra o Flamengo, mas o Verdão perdeu nos pênaltis. Foto: Lucas Figueiredo / CBF.

 

Raphael Veiga abriu o placar logo no primeiro minuto, mas Gabriel Barbosa empatou aos 22’. Aos 38’, o técnico Abel Ferreira foi expulso por reclamação e, nos acréscimos, De Arrascaeta virou. Na metade do segundo tempo, Raphael Veiga, de pênalti, empatou e manteve o Palmeiras vivo no jogo. A virada só não aconteceu aos 28’ porque Diego Ribas salvou quase em cima da linha um chute de Breno Lopes. A igualdade no placar seguiu e a decisão foi para os pênaltis. Em uma disputa quase interminável de 18 cobranças, o Flamengo venceu por 6 a 5 e celebrou o bicampeonato da competição. Foi mais um revés em cobranças de pênaltis para o Verdão, que tinha dois vices bem indigestos para tentar esquecer. 

Acontece que esses dois viraram três em maio… Após superar RB Bragantino, nas quartas de final, e o rival Corinthians na semifinal (com triunfo por 2 a 0 em plena Neo Química Arena), o Palmeiras chegou a mais uma final de Campeonato Paulista. O adversário foi o São Paulo, que segurou um empate sem gols no Allianz Parque e venceu por 2 a 0 no Morumbi, resultado que deu o título ao tricolor após 16 anos de jejum na competição. O terceiro vice na temporada foi minimizado por Abel Ferreira após o duelo. 

 

“Prefiro chegar às finais. Para isso é preciso trabalhar, ter competência, ter uma equipe focada. Nós temos estado em todas as finais das competições, e quem quiser criticar, pode criticar. Temos que olhar o copo meio cheio”. 

 

Luciano faz a festa: São Paulo campeão pra cima do Palmeiras em 2021.

 

Muito desorganizado, o Palmeiras nem parecia o time campeão da América e da Copa do Brasil naqueles primeiros meses da temporada. O lado bom era o início sem sustos na Libertadores, quando a equipe venceu os quatro primeiros jogos de seu grupo – 3 a 2 no Universitario-PER (fora), 5 a 0 no Independiente Del Valle-EQU (em casa), 2 a 1 no Defensa y Justicia-ARG (fora) e 1 a 0 no Independiente Del Valle (fora), gol de pênalti de Raphael Veiga, que na ocasião converteu sua 11ª cobrança em 11 pênaltis batidos pelo Verdão desde 2019. 

Em junho, o Palmeiras estreou na Copa do Brasil e foi eliminado pelo CRB, adivinhe, nos pênaltis, após uma vitória para cada equipe por 1 a 0 e triunfo dos alagoanos na marca da cal por 4 a 3. De fato, era preciso mais concentração, melhorar as finalizações e – por que não? – treinar pênaltis…

 

“É um fato. São muitas decisões de pênaltis que nós perdemos. Na minha opinião, tem muito a ver com a capacidade mental de estar calmo e fresco nesses momentos, porque a pressão para quem bate é muito grande. Hoje, de uma equipe que não tinha nada a perder, e outra, o Palmeiras, que tinha tudo a perder. Porque, se ganhássemos, era normal, e, se perdêssemos para uma equipe como o CRB, logicamente que sentiríamos muita frustração”. – Abel Ferreira, em entrevista publicada na Gazeta Esportiva, 09 de junho de 2021.

 

Ponto de virada

Na segunda quinzena de maio, o Palmeiras sacramentou sua classificação à fase final da Libertadores após somar 15 pontos em seis jogos, com cinco vitórias e uma derrota (para o Defensa, em casa, por 4 a 3). Entre junho e julho, a equipe teve uma boa sequência no Campeonato Brasileiro e venceu 10 jogos, empatou dois e perdeu apenas um dos 13 que disputou. Foi uma grande série para elevar mais uma vez o moral do elenco e manter a briga pela liderança com o Atlético-MG, que despontava como principal concorrente ao título na época. O Palmeiras ainda somou sete vitórias seguidas no torneio, com destaque para os 3 a 2 sobre o Santos, em casa, os 2 a 1 sobre o Inter, fora, e os 2 a 0 sobre o Grêmio, em casa. 

Nas oitavas de final da Libertadores, a equipe encarou a Universidad Católica-CHI e venceu no Chile por 1 a 0 (gol de Raphael Veiga, de pênalti) e repetiu o placar em casa (gol de Marcos Rocha), resultados que colocaram o Verdão nas quartas de final. O adversário seguinte foi o São Paulo, oponente bastante indigesto ao Palmeiras quando o assunto era Libertadores. Nunca a equipe alviverde havia vencido o tricolor pela competição. Em oito jogos, eram seis derrotas e dois empates, com três triunfos em fases de oitavas de final a favor do São Paulo (1994, 2005 e 2006). O retrospecto e a vitória lá na final do Paulistão encheram o torcedor são-paulino de esperança. Mas o Palmeiras estava focado em “acertar determinadas contas” naquele restante de temporada… 

Patrick de Paula comemora seu gol no primeiro jogo contra o São Paulo, pela Libertadores. Foto: Conmebol.

 

No primeiro jogo, no Morumbi, o time da casa abriu o placar com Luan, no começo do segundo tempo, mas Patrick de Paula empatou e deixou tudo aberto para a volta, no Allianz Parque. E o Palmeiras simplesmente demoliu o tabu de jamais ter vencido o rival na competição continental com uma vitória aplastante: 3 a 0, fora o baile. Raphael Veiga abriu o placar aos 10’, após Zé Rafael desarmar Arboleda e iniciar um contra-ataque mortal; Dudu fez um golaço aos 22’ do segundo tempo (foi o primeiro gol dele em seu retorno ao Verdão) e Patrick de Paula, aos 33’, fez o terceiro.

O fator psicológico pesou bastante naquele jogo e Abel Ferreira fez questão de deixar seus jogadores “na pilha” para romper com a escrita e conseguir a classificação, em um claro ponto de virada para a equipe na temporada.

 

“Quando veio o São Paulo, veio toda a história por trás do São Paulo. Logicamente, tínhamos um desafio muito grande. Tínhamos uma barreira não só de enfrentar a equipe que nos derrotou no Paulista e que não tínhamos ganho comigo, como também jogar contra a história. Então, como vamos compor isso? É usar a história a nosso favor. […] Nós, jogadores e membros da comissão técnica, podemos escrever aqui e agora a nossa história contra esse rival, que nunca tinha sido eliminado pelo Palmeiras na história da Libertadores. Mais uma vez, esses jogadores escreveram suas histórias aqui e agora, vencendo de forma clara e inequívoca”. Abel Ferreira, em entrevista publicada na Gazeta Esportiva, 28 de dezembro de 2021.

 

O Palmeiras havia alcançado uma mentalidade tática impressionante. Enfrentar aquele time completo e focado era tarefa indigesta para qualquer adversário. E a “defesa que ninguém passa” se destacava jogo após jogo com a regularidade impressionante de Weverton e do xerife Gustavo Gómez.

 

Na final!

Dudu celebra o gol de empate. Foto: Washington Alves / AFP / Pool.

 

Se dedicar à Libertadores custou mais uma vez uma boa campanha do Palmeiras no Brasileirão. Em agosto, a equipe perdeu três jogos seguidos – incluindo um para o Atlético-MG – e, nos seis jogos que disputou entre 12 de setembro e 09 de outubro, venceu apenas um e perdeu quatro. De fato, o título ficava distante por conta da grande sequência do Atlético. E foi exatamente o clube mineiro que o Palmeiras enfrentou na semifinal da Libertadores. Diferente do São Paulo, o Galo era vítima comum do Palmeiras em duelos continentais na história. O primeiro encontro foi em 2000, pela semifinal da Copa Mercosul, com duas vitórias do Verdão: 4 a 1 (em casa) e 2 a 0 (fora). Anos depois, em 2010, as equipes duelaram pelas quartas de final da Copa Sul-Americana e novamente o Palmeiras avançou: empate em 1 a 1 em MG e vitória alviverde por 2 a 0 no Pacaembu

No primeiro jogo de 2021, em SP, a tática alviverde foi fechar os espaços e usar a força física para conter o ímpeto dos craques do Galo, Hulk e Diego Costa, além dos perigosos Nacho e Zaracho. Por isso, Felipe Melo entrou como titular e ajudou com seu estilo brigador na marcação. A tática deu certo e o Atlético não conseguiu impor seu ritmo de jogo nem furar o bloqueio palmeirense. Por outro lado, o Verdão também pouco criou e Dudu não conseguiu decidir como no duelo contra o São Paulo. A melhor chance do jogo foi em cobrança de pênalti de Hulk, que acabou explodindo na trave de Weverton. Para ser campeão, tem que ter sorte também! O resultado ficou mesmo 0 a 0 e o Palmeiras foi a Belo Horizonte podendo até empatar com gols que a vaga na final estaria garantida. 

Gabriel Menino disputa a bola com o atleticano Hulk. Foto: Pedro Souza / Agência Galo.

 

Com o retorno parcial do torcedor – pouco mais de 18 mil pessoas -, o Atlético teve um importante reforço com sua fanática torcida, mas outra vez teve dificuldades para criar suas jogadas. Hulk foi bem marcado e o goleiro Weverton fez grandes defesas. Mas, no começo do segundo tempo, Vargas conseguiu abrir o placar em cabeçada certeira. Minutos depois, ele quase ampliou, mas chutou para fora em lance cara a cara com o goleiro alviverde. O revés obrigou o Palmeiras a ir para cima e, após um chutão da defesa, Nathan Silva se atrapalhou, Gabriel Veron, que havia acabado de entrar, ganhou a disputa de bola e cruzou para Dudu aparecer como um foguete e colocar a bola no fundo do gol: 1 a 1. 

A partir dos 28’, a torcida atleticana evocou os gritos de “eu acredito”, tão presentes na era de ouro do time entre 2013 e 2014, mas não deu e o Palmeiras ficou com a vaga pelo critério do gol marcado fora. Pela segunda vez seguida, o Verdão estava na final da Libertadores! Era a chance de levantar o bicampeonato que escapou em 2000. E sacramentar a hegemonia alviverde no continente. Só que o adversário na decisão não seria nada fácil: o Flamengo, que desde 2019 vencia constantemente o Palmeiras, derrotou o Verdão na final da Supercopa do Brasil e era o principal rival interestadual do clube.

 

Para mudar a história

Encarar o Flamengo era um verdadeiro desprazer para o Palmeiras naquele ano de 2021. Afinal, o rubro-negro era o time mais badalado do Brasil após as conquistas de 2019 e foi um rival constante do Verdão naquela caminhada. Com vitórias marcantes tanto no Brasileirão de 2019 quanto em 2020, o time carioca ainda tinha no currículo o triunfo na Supercopa do Brasil. E, pegando as decisões entre ambos na história, o Flamengo ainda contabilizava a conquista da Copa Mercosul de 1999 pra cima do alviverde. Naquele ano de 2021, o Flamengo era comandado por Renato Gaúcho e vinha embalado na fase de mata-mata ao vencer todos os seis jogos disputados, algo inédito na história do torneio. Aliás, o Flamengo estava invicto e poderia ser um dos raros clubes campeões da Libertadores sem derrotas.

Sabendo de tudo isso, o técnico Abel Ferreira armou seu time de maneira inteligente para bloquear as investidas do rival e não deixar espaços para os nomes de peso do ataque carioca – De Arrascaeta, Gabriel Barbosa e Bruno Henrique. Com a equipe mais disciplinada taticamente da América, Abel armou um esquema de marcação-pressão que dificultaria a saída de bola rubro-negra, além de lançamentos rápidos em direção ao gol que pegassem o time de surpresa. O técnico português iria aproveitar a fragilidade defensiva do rival, bem como os espaços deixados pelo lateral Isla.

 

“O professor nos chamou na sala, colocou todos sentados e mostrou o plano, nos disse como queria que a gente jogasse. Ele fez algo que não vinha acontecendo nos jogos [anteriores], o Scarpa pela esquerda, e o Dudu pela direita, e explicou o porquê disso: o Flamengo é um time muito forte pela direita do ataque, e o Scarpa é um jogador de marcação melhor, então se sacrificaria um pouco mais na descida de Isla e Éverton Ribeiro.

O mais legal foi o comprometimento de todos. Na hora o Scarpa falou que sim, que deixaria de jogar um pouco para se sacrificar pela equipe; o Dudu também; e logo no primeiro tempo a gente conseguiu um gol ali pelo lado direito. O mais legal foi que todo mundo comprou a ideia dele: ‘professor, o que o senhor quiser fazer, vamos fazer. Se tiver que correr 45 minutos só para ajudar, vamos fazer, depois entrar outro com gás renovado’. Ele tinha um plano, sentou, passou para gente e deu tudo certo”.Weverton, goleiro do Palmeiras, em entrevista ao canal ESPN e reproduzida no UOL Esporte, 29 de novembro de 2021.

 

Pressionar tiro de meta, saída de bola, enfim, o Palmeiras ia bloquear o jogo do Flamengo, fazer uma partida de sacrifício e aproveitar ao máximo as oportunidades ofensivas e qualquer erro do rival. Seria desgastante, tenso, mas era a maneira que Ferreira encontrou para vencer. E fazer história.

 

Um bicampeão, 20 anos depois

Raphael Veiga comemora o primeiro gol da final. Foto: Cesar Grecco.

 

A decisão de 2021 aconteceu em 27 de novembro, no lendário Estádio Centenário, em Montevidéu (URU). Com a volta permitida do público, cerca de 45 mil pessoas foram à capital uruguaia. Os flamenguistas eram em maior número e tomaram conta de boa parte do estádio, mas, lá dentro, a massa alviverde foi a que mais fez barulho e que tremeu o concreto do histórico palco da primeira final da Copa do Mundo. Era, em sua essência, a torcida que canta e vibra. Que não ia sossegar enquanto seu time não fizesse um gol. E que iria apoiar até o último minuto a luta pelo bicampeonato consecutivo da América. 

A euforia alviverde começou cedo: logo aos 5’, Mayke avançou pela direita com liberdade, cruzou rasteiro para a área e Raphael Veiga, completamente livre, chutou para fazer 1 a 0. Foi o 5º gol do meia naquela Libertadores e o 18º na temporada, artilheiro máximo do time no ano e sem dúvida o grande nome alviverde em 2021. O gol cedo deu ainda mais emoção ao jogo e iria obrigar o Flamengo a ir com tudo para o ataque, deixando obviamente os espaços defensivos tão requisitados pelo Palmeiras. Porém, enquanto o rubro-negro atacava, o time paulista se defendia muito bem e não deixava espaços. Além disso, Bruno Henrique não estava 100% fisicamente e parecia sentir a intensidade da partida.

O Verdão da final: 3-4-3 e marcação alta desmontaram o Flamengo.

 

No segundo tempo, os chutes foram mais escassos, mas com perigo: primeiro, em chance de cabeça de Arão e quase conclusão de Gabriel Barbosa, após cobrança de escanteio, e, depois, em chute de Rony da entrada da área que obrigou Diego Alves a realizar bela defesa. Os times começaram a mudar alguns jogadores, e, a partir das mudanças, o Flamengo conseguiu o empate. Aos 27’, De Arrascaeta tocou para Gabriel Barbosa, que invadiu a área palmeirense e chutou cruzado, rasteiro, sem chances para o goleiro Weverton: 1 a 1. 

O gol inflou o Flamengo, que foi com tudo em busca da virada, mas pecou na hora de concluir a gol e não conseguiu levar perigo ao goleiro alviverde. A igualdade persistiu e a partida foi para a prorrogação. Nela, Deyverson entrou no lugar de Raphael Veiga para tentar desconcentrar a zaga flamenguista. Abdicar do melhor batedor de pênalti levava a crer que Abel Ferreira acreditava na vitória ainda no tempo extra. E, logo aos 5’, Deyverson aproveitou uma bobeada bizarra de Andreas Pereira, roubou a bola, avançou sozinho e chutou para fazer 2 a 1. A América estava a um passo de continuar verde! Na comemoração, o atacante palmeirense chorou muito e não escondeu a emoção de ser o talismã naquele jogo histórico. Era outro herói improvável, assim como em 2020.

Deyverson chuta e decreta o tri alviverde. Foto: REUTERS/Andres Cuenca Olaondo

 

Na sequência, o Flamengo foi para o tudo ou nada de maneira desorganizada e abusou das bolas aéreas. E, nesse quesito, era quase impossível fazer gol no Verdão. Após o segundo tempo da prorrogação e nada de gols, o apito do árbitro sacramentou o bicampeonato continental do Palmeiras e o primeiro bicampeão da América desde 2001. Pela primeira vez, a Libertadores tinha um campeão “duplo” no mesmo ano, já que o título de 2020 foi levantado pelo Verdão lá em janeiro. Em 13 jogos, o Palmeiras venceu nove, empatou três, perdeu um, marcou 29 gols e sofreu 10. Rony, com 6 gols, foi o artilheiro do time, seguido de Raphael Veiga, com 5 tentos. Na seleção da temporada, o Verdão ainda emplacou cinco nomes entre os 11 eleitos: Weverton, Gustavo Gómez, Dudu, Raphael Veiga e Rony. 

Mais uma pra coleção! Foto: Juan Mabromata / AFP.

 

Foi o título para consagrar de vez nomes já históricos no clube e no coração do torcedor. O título que escapou pelos dedos lá em 2000, com o esquadrão comandado por Felipão. E o título que provou que aplicação tática e grupo unido podem se sobressair sobre talentos individuais. Aquele Palmeiras podia jogar contra qualquer equipe. Se iria vencer, talvez. Mas que iria dar trabalho, isso ia. Demais.

 

Sonho frustrado

Havertz comemora o gol da vitória do Chelsea sobre o Palmeiras. Foto: GIUSEPPE CACACE / AFP via Getty Images.

 

Por conta do calendário modificado devido à pandemia, o Palmeiras só iria disputar o Mundial de Clubes da FIFA em fevereiro de 2022. Com isso, o elenco conseguiu descansar mais graças ao fim do Brasileirão em dezembro de 2021 (o Verdão terminou na 3ª colocação) e teve o mês de janeiro para se preparar e organizar o elenco, que teve como principais baixas o volante Felipe Melo, o goleiro Jailson e os atacantes Willian e Luiz Adriano. Os reforços de destaque foram o goleiro Marcelo Lomba, o zagueiro Murilo, o volante Jailson, o meia Atuesta e o atacante Rafael Navarro.

A principal missão, antes de tudo, era passar da semifinal e apagar o vexame da edição anterior, quando o time sequer conseguiu disputar a decisão e ainda perdeu a disputa pelo terceiro lugar. Com o elenco mais inteiro e experiente, o técnico Abel Ferreira escalou seu melhor 11 e venceu tranquilamente o Al Ahly-EGI por 2 a 0 na semifinal, gols de Raphael Veiga e Dudu, passando sem sustos pelos egípcios. Na final, o esperado adversário foi o campeão europeu, o Chelsea-ING. O temor dos brasileiros era o atacante Lukaku, que vivia grande fase e poderia complicar as coisas no setor defensivo do Verdão. E foi ele mesmo quem abriu o placar no começo do segundo tempo, em cabeçada fatal.

Veiga deixou sua marca em mais uma final do Palmeiras. Foto: GIUSEPPE CACACE / AFP

 

O Palmeiras tentou a resposta rápida e conseguiu. Dez minutos depois, Thiago Silva colocou a mão na bola em lance dentro da área, e, após checagem do VAR, o pênalti foi marcado. Na cobrança, o especialista Raphael Veiga marcou e empatou: 1 a 1. O jogo pegou fogo, mas o Palmeiras não conseguiu a virada, embora sua torcida apoiasse a todo instante. A igualdade persistiu e o duelo foi para a prorrogação. Com algumas mudanças, o Chelsea perdeu um pouco o poder ofensivo, mas ainda sim levava perigo ao Palmeiras, que errava a transição entre defesa e ataque. Porém, a zaga seguia absoluta com uma grande marcação.

Já nos minutos finais, o VAR entrou em ação de novo e apontou pênalti em um lance em que a bola tocou no braço do zagueiro Luan. Na cobrança, Havertz deslocou Weverton e fez 2 a 1. Na sequência, Luan ainda foi expulso e o Palmeiras não teve forças para buscar o empate. De novo, um clube inglês tirava do Verdão o sonho do Mundial. Assim como em 1999, quando o Manchester United venceu o time de Felipão por 1 a 0. Na coletiva de imprensa, Abel Ferreira exaltou o trabalho de seus atletas e também do rival.

 

“As primeiras palavras eu gostaria de dar aos meus jogadores. Tenho um orgulho muito grande dos nossos jogadores. Fizemos um trabalho tremendo, uma preparação fantástica. A minha segunda palavra que fosse ao nosso adversário, uma equipe muito bem orientada, com um grande treinador, com grandes jogadores, foram justos vencedores, embora o jogo tenha sido definido em detalhes, mas isso é futebol, é aceitar a decisão. Mais uma vez dar os parabéns ao adversário”.

 

O fato é que o Palmeiras tentou mais uma vez um jogo tático e com foco na marcação diante dos ingleses, o que minou a quantidade de chances ofensivas do time – as melhores foram com Dudu, na segunda metade do primeiro tempo do tempo regulamentar, em chutes que foram para fora, além do pênalti convertido por Veiga. A ausência de um centroavante mais matador e deixar com Rony e Raphael Veiga funções de marcação também sobrecarregaram a criatividade do time na frente. Mas era preciso seguir em frente. E lutar pelos títulos que vinham pelo caminho.

 

A inédita Recopa

Danilo deixou o seu contra o Athletico. Foto: Marcos Ribolli

 

No final de fevereiro, o Palmeiras encarou o Athletico Paranaense (campeão da Copa Sul-Americana de 2021) na final da Recopa Sul-Americana. No primeiro jogo, em Curitiba, o Furacão abriu o placar com Terans, o Palmeiras empatou com Jailson, e Marlos, na segunda etapa, deixou o time da casa em vantagem. Quando o jogo estava prestes a acabar, o Verdão conseguiu um pênalti e Raphael Veiga converteu mais uma cobrança para sua coleção, selou o empate em 2 a 2 e manteve a disputa totalmente aberta para a volta, no Allianz Parque.

Em pé: Weverton, Marcelo Lomba, Piquerez, Gustavo Gómez, Murilo, Atuesta, Jailson, Kuscevic e Deyverson. Agachados: Danilo, Rony, Dudu, Gabriel Veron, Marcos Rocha, Zé Rafael, Mayke, Gustavo Scarpa, Breno Lopes, Rafael Navarro, Wesley, Raphael Veiga, Patrick de Paula e Jorge.

 

 

Foto: Marcos Ribolli.

 

Diante de mais de 30 mil torcedores, o Palmeiras se impôs, e, depois de passar em branco nos primeiros 45 minutos, abriu o placar logo no começo do segundo tempo em cobrança de falta perfeita de Zé Rafael. Acuado, o Athletico pouco agrediu o Palmeiras, que seguiu em busca de mais um gol. O tento da vitória surgiu aos 43’, quando Danilo – em grande fase – fechou a conta: 2 a 0. Enfim, o Palmeiras conquistava sua primeira Recopa e o 4º título da Era Abel Ferreira. Mas o Verdão estava com fome de mais…

 

Quem joga na retranca mesmo?

Veiga manteve a boa fase em 2022 com mais gols decisivos. Foto: Ettore Chiereguini / AGIF.

 

A conquista da Recopa embalou o Palmeiras na disputa do Campeonato Paulista e também na fase de grupos da Libertadores. No torneio estadual, o Verdão passou sem derrotas nos 12 jogos da etapa inicial, com nove vitórias e três empates, com destaque para os míseros três gols sofridos. Nas quartas de final, o time venceu o Ituano por 2 a 0, passou pelo RB Bragantino na semifinal com triunfo por 2 a 1 e avançou a mais uma decisão – a terceira seguida na competição. O rival foi novamente o São Paulo, algoz de 2021. E parecia que o tricolor iria vencer o bi após a primeira partida, no Morumbi com mais de 60 mil pessoas. 

Em uma atuação impressionante, o São Paulo abriu 3 a 0 em 81 minutos e simplesmente dominou o Palmeiras. Mas, perto do final do jogo, Raphael Veiga marcou um gol e os 3 a 1 deram um pouco de esperança para a partida de volta, na qual o time precisaria de pelo menos 2 a 0 para igualar o agregado. Durante a semana, os jogadores focaram na virada e Abel Ferreira fez um intenso trabalho para que seus atletas mentalizassem a virada.

 

“Depois que a gente foi para o vestiário no Morumbi, o que o Abel falou, passou muita segurança. Ele é assim: passa muita segurança nas palavras, atitudes, até nos gestos corporais. Ele chegou no vestiário e disse: ‘A gente sabe que não fez um bom jogo. Mas passou, vamos concentrar no que a gente controla. Vocês têm que mentalizar de agora até domingo, um gol no primeiro tempo, um no segundo e a gente marca no final o terceiro’”, comentou Raphael Veiga em entrevista ao Jogo Aberto, da TV Band.

 

Abel citou ainda que o time deveria ser “igual a um martelo: tentar, tentar e tentar até o jogo acabar”. E, no domingo, dia 03 de abril, as mais de 31 mil pessoas no Allianz Parque viram talvez um dos maiores jogos daquele esquadrão. Com uma intensidade absurda e muita velocidade, o Palmeiras simplesmente não deixou o São Paulo jogar. Aos 22’, Danilo abriu o placar. Oito minutos depois, Zé Rafael fez o segundo. Com apenas dois minutos do segundo tempo, Raphael Veiga fez 3 a 0 e já deixou o placar a favor do Verdão. E, aos 36’, o mesmo Veiga fez mais um em bobeada da zaga tricolor para selar a goleada de 4 a 0.

Dizem que de tanto levantar taças, Gustavo Gómez começou a sentir dores no braço e teve que pedir ajuda para a presidente Leila! rsrsrs Foto: Ettore Chiereguini / AGIF.

 

Abel Ferreira com mais uma taça para sua coleção. Foto: Eduardo Knapp.

 

Foi simplesmente uma apoteose do Verdão. Um jogo para a memória do torcedor com desfiles de Dudu, Danilo, Veiga e companhia. Um baile que entrou direto para a história do Choque-Rei e colocou por terra as ainda persistentes contestações ao trabalho de Abel Ferreira e ao seu time. Nas semanas seguintes, pela Libertadores, o Palmeiras tratou de seguir no modo “gols em profusão” e quebrou o recorde de gols em uma fase de grupos ao anotar 25 gols em seis jogos e levar apenas três. Sim, o nível dos adversários foi pífio, mas aposto que poucos clubes no Brasil fariam tantos gols como o Palmeiras fez. Veja a campanha:

 

Deportivo Táchira-VEN 0x4 Palmeiras

Palmeiras 8×1 Independiente Petrolero-BOL

Emelec-EQU 1×3 Palmeiras

Independiente Petrolero-BOL 0x5 Palmeiras

Palmeiras 1×0 Emelec-EQU

Palmeiras 4×1 Deportivo Táchira-VEN

Navarro marcou quatro gols no duelo contra o Petrolero. Foto: NELSON ALMEIDA / AFP.

 

A goleada de 8 a 1 imposta pelo Verdão sobre o Independiente Petrolero foi ainda uma volta ao passado para o torcedor alviverde. É que desde 1996 que o Palmeiras não marcava oito gols em uma partida oficial. A última vez havia sido no Campeonato Paulista daquele ano, quando o lendário esquadrão dos 100 gols fez 8 a 0 no Botafogo de Ribeirão Preto. Com 7 gols (quatro só nos 8 a 1), Rafael Navarro virou o artilheiro do time na fase de grupos e também da Libertadores. Raphael Veiga, com seis, também se destacou no rol de artilheiros. Até o dia 31 de maio de 2022, o Palmeiras registrava 36 jogos, 26 vitórias, sete empates, três derrotas, 78,7% de aproveitamento, 75 gols marcados e 21 gols sofridos. Estava classificado para as oitavas da Libertadores, para as oitavas da Copa do Brasil e era líder do Brasileirão. 

 

Dolorosas quedas

Em junho, o Verdão iniciou sua trajetória nos mata-matas da Copa do Brasil e da Libertadores. Na competição nacional, derrota por 1 a 0 para o rival São Paulo, no Morumbi, e fim da invencibilidade de 19 jogos na temporada. O alento veio na Liberta, com triunfo por 3 a 0 sobre o Cerro Porteño-PAR em Assunção. Em julho, a equipe voltou a vencer o Cerro – 5 a 0, com direito a gol de bicicleta de Rony – mas foi eliminada pelo São Paulo na Copa do Brasil após vitória por 2 a 1 e derrota nos famigerados pênaltis, definitivamente a pedra na chuteira do time na Era Abel Ferreira. E tal pedra parecia que iria aparecer de novo nas quartas de final da Libertadores, quando a equipe reencontrou o Atlético-MG e, após empate em 2 a 2 em BH e empate sem gols no Allianz – com dois jogadores a menos (!) -, o Verdão teve 100% de aproveitamento nas penalidades e, enfim, venceu um rival (6 a 5), resultado que colocou o alviverde em mais uma semifinal de Libertadores. 

Rony, enfim, conseguiu fazer seu gol de bicicleta!

 

O adversário seguinte foi o Athletico Paranaense, comandado por Felipão, inspiração do técnico Abel Ferreira. E, no duelo “criador versus criatura”, deu Felipão: no primeiro jogo, em Curitiba, vitória rubro-negra por 1 a 0. Na volta, em SP, o Palmeiras chegou a abrir 2 a 0, mas o Furacão foi pra cima e empatou em 2 a 2, resultado que colocou o time na final pela segunda vez e impediu o sonho do tricampeonato consecutivo do Verdão. Será que aquele revés iria arruinar o futuro da temporada? 

 

Automático: mode On

Foi lá em junho, na goleada de 4 a 0 sobre o Botafogo, que o Palmeiras assumiu em definitivo a liderança do Campeonato Brasileiro. E, com as eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores, o time alviverde pôde se concentrar totalmente no torneio nacional sem desgaste de atletas nem jogos insanos todas as semanas. Aproveitando ao máximo a boa fase de Gustavo Scarpa, da zaga e do sempre coeso meio de campo, a equipe engatou quatro vitórias seguidas, em especial a virada por 2 a 1 sobre o São Paulo, no Morumbi, com dois gols nos cinco minutos finais. Após três jogos sem vencer nas rodadas 14, 15 e 16, o Palmeiras emendou mais seis vitórias seguidas: 1 a 0 no Cuiabá (casa), 1 a 0 no América-MG (fora), 2 a 1 no Internacional (casa), 2 a 1 no Ceará (fora), 3 a 0 no Goiás (casa) e 1 a 0 no Corinthians em plena Neo Química Arena. 

Estava bem claro que o time era o favorito pleno ao título. Ainda mais com a vantagem sobre os rivais. O que pesava bastante era o desempenho em casa, entendido como principal fator de sucesso em um torneio longo como o Brasileirão, como sintetizou o auxiliar João Martins, em entrevista ao globoesporte.com:

 

“Tivemos uma reunião com os jogadores antes de começar o Brasileirão. Perguntamos, porque nunca vivenciamos isso e temos alguns campeões no elenco, o que era preciso para ganhar o Brasileirão. Eles responderam que tínhamos de ser a melhor equipe em casa. Em casa temos que ser implacáveis”.

 

Após a vitória sobre o rival Corinthians, o Palmeiras empatou três seguidas – 1 a 1 com o Flamengo (casa), 1 a 1 com o Fluminense (fora) e 2 a 2 com o RB Bragantino (fora), resultados que em nada atrapalharam a liderança alviverde, afinal, o time de Abel Ferreira venceu mais cinco jogos seguidos e terminou a 30ª rodada na liderança com 12 pontos a mais do que o Internacional, segundo colocado. A dominância do time paulista era gritante e parecia que todos jogavam no automático, vencendo sem sustos, protocolarmente. A dúvida era de quanto o Palmeiras iria ganhar, não se iria ganhar. E isso faltando oito rodadas para o fim!

 

O maior campeão do Brasil!

Gustavo Scarpa vibra: meia foi, sem dúvida, o principal nome no título brasileiro. Foto: Pedro Vilela / Getty Images / One Football.

 

Depois de vencer o Coritiba por 4 a 0, o Palmeiras empatou dois jogos seguidos (1 a 1 com o Atlético-GO e 0 a 0 com o São Paulo), mas voltou a vencer nas rodadas seguintes com um 3 a 0 sobre o Avaí e um 3 a 1 sobre o Athletico-PR em plena Arena da Baixada, em jogo que ficou marcado pelos primeiros gols da promessa Endrick, de apenas 16 anos e que passou a ser escalado pelo técnico Abel Ferreira. Faltava muito pouco para o título e, na rodada 34, antes mesmo de entrar em campo para o duelo contra o Fortaleza, o Verdão foi campeão graças a derrota do vice-líder Internacional diante do América-MG. Com isso, o jogo no Allianz do dia 02 de novembro foi pura festa: Palmeiras campeão brasileiro! Foi a sétima conquista do Brasileirão da equipe alviverde e o 11º título nacional na contagem unificada, deixando o clube ainda mais isolado como maior campeão de torneios nacionais com 16 títulos.

Foto: Marcos Ribolli / GE.

 

O troféu deixou ainda mais gorda a galeria de grandes taças do técnico Abel Ferreira, que consagrou de vez o time já chamado pela torcida de “A Quarta Academia”. Para aumentar a festa, o Palmeiras goleou o Fortaleza por 4 a 0 e coroou um trabalho impecável e as diversas facetas de um time que soube se defender e atacar quando preciso ao longo do torneio e provou que podia, sim, ser ofensivo e aumentar suas médias de gols com o entrosamento dos atletas e a boa fase de Gustavo Scarpa, sem dúvida o grande nome do time na conquista nacional e maior garçom do time no ano com 18 assistências.

O Palmeiras terminou o Brasileirão com 81 pontos, 23 vitórias, 12 empates, três derrotas, 66 gols marcados e 27 gols sofridos em 38 jogos, um aproveitamento de 71%, um dos cinco melhores da história da competição desde que ela passou a ser disputada por pontos corridos. O Palmeiras foi, também, a equipe que menos perdeu na era dos pontos corridos. No começo de 2023, a equipe ainda vencer a Supercopa do Brasil em cima do “freguês” Flamengo por 4 a 3, fechando mais um período de glórias e aumentando ainda mais sua hegemonia como clube com mais títulos nacionais do país.

 

Novas taças e alerta

Veiga celebra na final da Supercopa: decisão é com ele! Foto: Getty Images.

 

Mais uma vez, o Palmeiras entrou em uma nova temporada apostando na manutenção da base e em poucos reforços. E tal estratégia fez com que o time tivesse o elenco mais enfraquecido desde o início da Era Abel Ferreira. As principais contratações foram Richard Ríos, ex-Guarani, e Artur, ex-RB Bragantino. A torcida ficou ressabiada pelo fato de a diretoria não trazer nenhum atacante matador – ponto fraco do time desde 2020 – e temeu pela competitividade do Verdão. Mas, pelo menos nos primeiros meses do ano, o alviverde demonstrou que ainda era o mesmo. Em janeiro, a equipe conquistou o título inédito da Supercopa do Brasil diante do rival Flamengo em um jogaço realizado em Brasília e diante de mais de 67 mil pessoas. Gabigol abriu o placar para o rubro-negro, mas Veiga empatou. Gabriel Menino virou ainda no primeiro tempo, e Gabigol empatou no começo da segunda etapa. Veiga deixou o Palmeiras na frente e Pedro empatou de novo. Só aos 73’ que Gabriel Menino fechou a conta e sacramentou a conquista: 4 a 3. E outro troféu em cima do grande rival alviverde nos últimos anos!

 

Na sequência, o Palmeiras caminhou sem grandes sustos pelo Campeonato Paulista e chegou invicto até a decisão contra o surpreendente Água Santa. E, de maneira mais surpreendente ainda, o time de Diadema venceu o Palmeiras por 2 a 1, em Barueri, resultado que fez a torcida lembrar de fantasmas do passado e tropeços do Verdão diante de adversários considerados zebras – como em 1986, quando o time perdeu o Paulistão para a Inter de Limeira. Jogando em casa, o Palmeiras não deixou a zebra aprontar e goleou: 4 a 0, com três gols em apenas 34 minutos, um deles do garoto Endrick, que já havia deixado o seu na ida. 

Após o bicampeonato, a temporada, enfim, “começou” com as obrigações pela Copa Libertadores, Copa do Brasil e Brasileirão. E, jogo a jogo, ficou claro que não ter investido como deveria em reforços teria um preço. Na Liberta, o time perdeu a estreia para o Bolívar por 3 a 1 e não conseguiu assumir a ponta do Brasileirão, dominado pelo Botafogo naquele primeiro turno. Na Copa do Brasil, a equipe alcançou as quartas de final, mas de novo foi eliminada pelo rival São Paulo, que venceu tanto no Morumbi (1 a 0) quanto no Allianz Parque (2 a 1). Em agosto, para piorar, Dudu sofreu uma grave lesão no joelho que tirou o jogador do restante da temporada. Abel teve que fazer mudanças táticas, passou a dar mais obrigações a Raphael Veiga e escalou regularmente o jovem Endrick, que ganhou confiança para demonstrar suas qualidades. Mas, àquela altura, o time ainda não engrenava. Era tudo ou nada na Libertadores. E, se não desse, tentar correr atrás do Brasileiro – cada vez mais difícil pela distância de 14 pontos que os alvinegros do Rio chegariam a abrir.

 

Hora da virada

Foto: Staff Images/Conmebol.

 

Entre agosto e outubro, o Palmeiras viveu momentos de turbulência. Além da lesão de Dudu, o time perdeu 4 jogos seguidos no Brasileirão e caiu para a 5ª colocação. Na Libertadores, o Verdão despachou o freguês Atlético-MG nas oitavas de final (1 a 0 em Minas, 0 a 0 em SP), passou pelo Deportivo Pereira-COL com um 4 a 0 na ida, na Colômbia, e 0 a 0 na volta, em casa, e encontrou o Boca Juniors-ARG na semifinal. Enfrentar os argentinos sempre foi um drama para o Palmeiras, pois os xeneizes já haviam derrotado os brasileiros em várias oportunidades, incluindo na final de 2000. E, de novo, o Verdão sucumbiu. Na ida, em La Bombonera, o 0 a 0 deixou a torcida esperançosa para a volta. Só que Cavani abriu o placar para o Boca no Allianz. O Verdão empatou e tentou a virada, mas não conseguiu furar a retranca xeneize. Nos pênaltis, brilhou a estrela do goleiro Romero e o Boca venceu por 4 a 2, garantindo sua vaga na final. Os argentinos, porém, iriam perder para o Fluminense de Diniz. A eliminação na Liberta obrigou Abel a mexer com seus jogadores. 

 

“Era preciso uma resposta rápida no Brasileirão, caso contrário a temporada iria acabar antes da hora. Estávamos a 14 pontos. Disse que se eles largassem, eu seria o primeiro a largar. A segunda coisa foi que tínhamos oportunidade de sair daqui eu como melhor treinador e eles como melhores jogadores. Momentos difíceis são para crescer e retornar melhor ainda. Eles entenderam essas palavras. A 13 pontos, a tendência pode ser achar que não há nada a fazer. Mas temos caráter, identidade, história no clube. 

No futebol tudo é possível. Foram duas frases. Eles conseguiram entender como equipe e é o que me dá mais orgulho. Olho para a equipe sem criar rótulos. Não conseguem criar rótulos, que joga só de um jeito, um destaque apenas. Vestimos a camisa com muito orgulho. Se os jogadores do Palmeiras tirarem a camisa, vocês sabem quem está jogando. Sem ver o nome, sabem quem é e como jogam. Se olharem para forma de jogar, verão que é o Palmeiras. Conseguimos identidade”. Abel Ferreira, em entrevista coletiva publicada no UOL Esporte, 03 de dezembro de 2023.

 

E, após a vitória por 2 a 0 sobre o Coritiba, em 21 de outubro, o Verdão engatilhou uma sequência crucial em busca do topo tido como improvável. Na rodada 29, a equipe recebeu o São Paulo no Allianz e aplicou uma sonora goleada de 5 a 0, a maior do Verdão no Choque-Rei desde 1965. Esse placar serviu como combustível para o time derrotar o Bahia por 1 a 0 e chegar ao duelo contra o Botafogo, no dia 1º de novembro, com chance de entrar de vez na briga pelo troféu graças à derrocada dos cariocas, que simplesmente perderam o rumo após a saída do técnico Luis Castro. 

Foto: Wagner Meier / Getty Images.

 

E, em um jogo eterno que ganhou capítulo especial aqui no Imortais, o Palmeiras, depois de perder o primeiro tempo por 3 a 0, virou para 4 a 3 de maneira espetacular e provou a força de seu time, de seu treinador e de sua mentalidade. Nunca a “cabeça fria, coração quente” foi tão decisiva como naquela noite. E nunca Endrick foi tão magistral como naquela noite, provando que deveria ter ganhado mais tempo de jogo desde o início do ano.

 

Bicampeão!

Foto: Cris Mattos / Reuters

 

Após o épico contra o Botafogo, o Palmeiras venceu o Athletico-PR por 1 a 0 e perdeu para o Flamengo por 3 a 0, resultados que bagunçaram de vez a briga pela taça. Porém, o Verdão se concentrou de novo e derrotou o Internacional (3 a 0), empatou com o Fortaleza fora de casa (2 a 2), venceu América-MG (4 a 0), Fluminense (1 a 0) e contou com os tropeços do Fla e do Bota para assumir a liderança isolada faltando duas rodadas para o fim. Com isso, o Verdão foi para a rodada final precisando apenas de um empate contra o Cruzeiro para ficar com o bicampeonato. E foi exatamente isso que fez: Endrick anotou o gol alviverde logo no começo do jogo e o time de Abel cozinhou a partida à sua maneira. No segundo tempo, o Cruzeiro empatou, mas o 1 a 1 selou o que todo mundo sabia antes de a bola rolar: Verdão bicampeão brasileiro! E cada vez mais isolado na ponta como clube com mais títulos nacionais no futebol brasileiro: 18 troféus! Falando em troféus, foi a 9ª taça de Abel Ferreira no comando do Palmeiras.

Abel com mais uma taça. Foto: Marcos Ribolli

 

Um fator crucial para o troféu foi o saldo de gols (+31), maior do campeonato, e a mentalidade vencedora de um time que compete por tudo desde 2020. A defesa também foi um ponto-chave na busca pelo título, pois Weverton não levou gols em 15 jogos ao longo da campanha. O Palmeiras somou 70 pontos em 38 jogos, com 20 vitórias, 10 empates, 8 derrotas, 64 gols marcados (melhor ataque) e 33 gols sofridos.

 

Já no rol dos imortais

 

O Palmeiras 2020-2023 já está marcado como um dos mais vitoriosos e competitivos em toda a história do clube e também do Brasil. Não foi um esquadrão artístico e não revolucionou nada, mas fez do Palmeiras o rei da América por duas vezes seguidas, algo que o continente não viu durante 20 longos anos. Só essa façanha já colocaria o time no rol de grandes esquadrões sul-americanos. Mas as outras conquistas no período e o crescimento técnico e tático ao longo dos jogos só aumentaram o peso desse time no coração do torcedor, que já tem em Abel Ferreira, Weverton, Gustavo Gómez, Danilo, Raphael Veiga e Dudu ídolos tão importantes quanto Felipão, Luxemburgo, Oswaldo Brandão, Oberdan, Leão, Marcos, Djalma Santos, Arce, Luís Pereira, Cléber, Djalma Dias, Roberto Carlos, Júnior, Ademir da Guia, Dudu, César Sampaio, Rivaldo, Djalminha, César Maluco, Leivinha, Alex, Julinho Botelho, Edmundo e Evair. Todos lendários e imortais. Como foi – e está sendo – esse Palmeiras imortal.

 

Os personagens:

 

Weverton: o Palmeiras sempre teve goleiros sensacionais. E, com Weverton, não foi diferente. Após brilhar pelo Athletico-PR, o arqueiro chegou com muita moral ao Verdão em 2018, principalmente após se destacar na conquista do primeiro Ouro Olímpico da seleção brasileira, nos Jogos de 2016. Aos poucos, Weverton foi ganhando espaço, superou a concorrência com Fernando Prass e Jailson e virou titular absoluto do time. Muito seguro, com reflexos apurados e regular, fez jogos espetaculares tanto em 2020 quanto em 2021. É convocado constantemente para a seleção brasileira e já ganhou diversos prêmios individuais na carreira, com destaque para as Bolas de Prata de 2018 e 2020, de Melhor Goleiro da Libertadores em 2020 e 2021, além de ser eleito para as seleções ideais do Brasileirão de 2020 e 2021 e da América do Sul em 2020 e 2021. Já é um dos maiores ídolos da história do Verdão e já superou a marca de 270 jogos com a camisa do clube.

Jailson: o goleirão jogou de 2014 até 2021 no Palmeiras e alternou momentos de grande brilho como titular – em especial em 2016 – e outros na reserva. Mesmo assim, sempre deu conta do recado e foi muito querido pela torcida. Disputou 104 jogos e levantou oito troféus com o Verdão.

Marcelo Lomba: chegou em 2022 para dar um pouco de fôlego ao goleiro Weverton, ainda mais com as convocações do arqueiro titular para a seleção.

Marcos Rocha: o lateral começou a jogar no Palmeiras em 2017, vindo por empréstimo, e foi um dos destaques do time campeão brasileiro em 2018. Com boas assistências, presença no ataque e eficiência nos desarmes, foi titular em boa parte da temporada 2019 e também em 2020. Em 2021, perdeu espaço em alguns jogos por conta da ascensão de Mayke, mas é um dos principais nomes do elenco alviverde. Em 2023, atuou em várias partidas como terceiro zagueiro. Marcos Rocha é um dos 10 laterais com mais jogos na história do Palmeiras com mais de 240 jogos pelo Verdão.

Mayke: depois de brilhar no Cruzeiro bicampeão brasileiro em 2013 e 2014, Mayke chegou ao Palmeiras em 2017 e, ao lado de Marcos Rocha, deixou o clube bem confortável quando o assunto era lateral-direito. Eficiente no apoio ao ataque e na marcação, cresceu bastante sob o comando de Abel Ferreira e viveu grandes momentos entre 2020 e 2021, atuando inclusive na decisão da Libertadores de 2021 contra o Flamengo e dando a assistência para o primeiro gol, de Raphael Veiga.

Gustavo Gómez: após se destacar no Libertad-PAR e no Lanús-ARG, o zagueiro paraguaio foi jogar no Milan-ITA e acabou emprestado ao Palmeiras em 2018. Não demorou muito para ele ganhar espaço no time e virar um dos principais nomes do elenco, principalmente a partir de 2019, quando foi eleito um dos melhores zagueiros do Brasileirão. Em 2020, assumiu a zaga alviverde como verdadeiro xerife e liderou a equipe rumo aos títulos do Paulista, da Libertadores e da Copa do Brasil, se destacando na marcação dos adversários, nas jogadas aéreas e na cobertura. Desde então, o defensor venceu vários prêmios individuais, entre eles o de melhor zagueiro da América do Sul, a Bola de Prata da Placar e foi eleito para a seleção ideal da América do Sul pelo jornal El País em 2020 e 2021. Com 11 títulos pelo Palmeiras, Gómez é o estrangeiro com mais troféus na história do Palmeiras, superando o ídolo Francisco Arce.

Luan: ao lado de Gustavo Gómez, formou uma sólida dupla de zaga no Verdão e fez alguns bons jogos em 2020 e 2021, embora cometesse falhas em algumas partidas – no Mundial de 2021, foi mal contra o Chelsea. A partir de 2022, acabou perdendo espaço no time. 

Murilo: contratado em 2022, entrou muito bem e assumiu a titularidade ao lado de Gustavo Gómez, ganhando a vaga de Luan. Com quase 1,90m de altura, é eficiente no jogo aéreo e no senso de posicionamento e virou titular absoluto ao lado de Gómez e chegou aos 100 jogos com a camisa alviverde em 2023.

Kuscevic: boa opção no banco de reservas, entrou em algumas oportunidades ao longo de 2020 e 2021 e cumpriu bem seu papel com força na marcação e no desarme.

Piquerez: muitos pensaram que a saída de Viña deixaria uma lacuna de difícil preenchimento no setor esquerdo da zaga do Verdão. Mas o uruguaio Piquerez não deixou a torcida com saudade de seu antecessor e virou titular absoluto do time de Abel Ferreira. Muito veloz, com qualidade nos passes e lançamentos, pode jogar também no meio de campo e até como meia.

Viña: em apenas uma temporada, o uruguaio conseguiu marcar seu nome na história do Palmeiras com 70 jogos disputados, muita eficiência pelo setor esquerdo e os títulos da Libertadores, da Copa do Brasil e do Paulista. O atleta foi eleito para a seleção da Libertadores de 2020, para a seleção ideal da América do Sul do jornal El País do mesmo ano e foi o jogador com mais desarmes (13) na edição de 2020 do torneio continental.

Jorge: após um período no futebol europeu, o lateral chegou ao Palmeiras em julho de 2021 e foi mais uma opção para o setor esquerdo da zaga ao técnico Abel Ferreira. Não foi titular absoluto por causa da boa fase de Piquerez, mas, quando entrou, foi bem.

Danilo: o meio-campista é, sem dúvida alguma, uma das grandes revelações do futebol brasileiro neste início de década. Após ser lançado no time principal por Luxemburgo, Danilo demonstrou enorme personalidade e virou uma das maiores estrelas do Palmeiras já sob o comando de Abel Ferreira. Eficiente nos desarmes, na marcação e principalmente na ligação direta entre meio e ataque, se encaixou perfeitamente na proposta de jogo do técnico português e virou xodó da torcida. Em 2022, marcou gol tanto na final da Recopa quanto na decisão do Paulista. Deixou o time após o Paulistão de 2022 para jogar no futebol europeu.

Patrick de Paula: outra cria das bases, viveu sua melhor fase em 2020 e parte de 2021, atuando como titular em diversas oportunidades e marcando inclusive gols decisivos, em especial na trajetória do título do Campeonato Paulista de 2020. Podia ajudar na marcação e também na ligação com o ataque. Porém, caiu de produção e perdeu espaço em 2021. Por isso, acabou negociado junto ao Botafogo em 2022.

Bruno Henrique: teve importância na conquista do Brasileiro de 2018 e em alguns jogos do Paulista de 2020, mas acabou negociado em outubro de 2020.

Jailson: com a experiência de grandes jogos vestindo a camisa do Grêmio, o volante chegou em 2022 para reforçar ainda mais o elenco alviverde. Forte na marcação e nos passes, é uma boa alternativa para o técnico Abel Ferreira e já provou seu valor em vários jogos, incluindo na final da Recopa, quando marcou um gol no primeiro jogo da final contra o Athletico.

Zé Rafael: para o “Trem”, não existe bola perdida. Com raça, dedicação e vigor, o meio-campista cresceu bastante de produção sob o comando de Abel Ferreira e virou outro jogador imprescindível ao esquema tático alviverde. Virou um dos atletas de confiança do treinador português, e, com seu desempenho em franco progresso, acabou com as críticas da torcida. Acumulou mais de 220 jogos com a camisa do Verdão entre 2018 e 2023.

Felipe Melo: o polêmico meio-campista deixou de ser titular absoluto e passou a frequentar mais a reserva com a chegada de Abel Ferreira. Com isso, passou a jogar mais em duelos nos quais o Palmeiras precisava de força física no sistema defensivo. No entanto, Felipe Melo continuou com uma das vozes do time fora de campo e um dos capitães. Deixou o clube em 2022 para jogar no Fluminense.

Gustavo Scarpa: depois de um início bastante conturbado lá em 2018 por conta de problemas burocráticos envolvendo seu ex-clube, o Fluminense, Scarpa encontrou a paz no Palmeiras a partir de 2019, quando passou a jogar de maneira mais regular e virou um dos principais nomes do setor ofensivo do time. Em 2020 e principalmente em 2021, o meia ganhou ainda mais espaço atuando não só na construção de jogadas como também ajudando na marcação e no “abafa” característico do time contra os rivais. Mostrou-se muito polivalente, atuando até como lateral-esquerdo em algumas situações. Em 2021, inclusive, Scarpa atuou em 55 jogos, marcou oito gols e deu impressionantes 21 assistências, recordista do time na temporada. Entre 2018 e 2022, o meia disputou 230 jogos, marcou 44 gols e deu 53 assistências. Foi jogar no futebol inglês em 2023. 

Richard Ríos: o meio-campista foi um dos recordistas em jogos pelo Verdão em 2023 com 64 partidas e foi eficiente na troca de passes e na construção de jogadas. Jogou tanto como volante como meia.

Gabriel Menino: cria das bases, foi um dos destaques do Palmeiras na temporada de 2020 com gols, passes e muita polivalência para atuar em várias posições. Foi eleito para a seleção da Libertadores em 2020 e a revelação do Brasileirão daquele ano. Em 2021, porém, caiu de produção e perdeu espaço no time – ele nem sequer foi levado ao Mundial. Em 2022, voltou a ganhar chances e, em 2023, fez bons jogos novamente.

Atuesta: contratação para a temporada de 2022, o colombiano atuou em alguns jogos como opção no meio de campo, para desafogar um pouco as estrelas do time durante o ano.

Wesley: outra cria das bases, pode jogar no ataque e também um pouco mais recuado. Disputou 50 jogos em 2021 e marcou cinco gols, se destacando no Brasileirão e na campanha do Verdão na Libertadores.

Raphael Veiga: ídolo da torcida, autor de golaços, especialista em bola parada e expert em cobranças de pênaltis. Raphael Veiga é tudo isso nesse Palmeiras imortal e um verdadeiro emblema do time desde 2020. O meia já havia provado seu valor na grande campanha do título continental do Athletico Paranaense em 2018, mas foi no Verdão que o camisa 23 se consolidou como um dos melhores jogadores brasileiros da atualidade. Decisivo, Raphael Veiga é o jogador que mais marcou gols em finais na história do Palmeiras: são 11 gols distribuídos nas seguintes decisões:

 

  • dois gols na final da Supercopa do Brasil de 2021; 
  • um gol na final da Recopa Sul-Americana de 2021; 
  • um gol na final da Copa Libertadores de 2021;
  • um gol na final do Mundial de Clubes de 2021;
  • um gol na final da Recopa Sul-Americana de 2022;
  • três gols nas finais do Campeonato Paulista de 2022;
  • dois gols na final da Supercopa do Brasil de 2023.

 

Raphael Veiga ainda converteu 24 pênaltis seguidos sem errar desde que passou a jogar pelo Palmeiras (!). O primeiro erro aconteceu só em maio de 2022, quando acertou a trave em um duelo contra o Santos pelo Brasileirão. Em 2023, comandou praticamente sozinho o setor de criação do ataque e como um “falso 9”, contribuindo com 18 gols e dando 16 assistências em 59 jogos. Já é uma lenda alviverde.

Willian: pé-quente e muito querido pela torcida, o “Bigode” foi uma das estrelas do período 2017-2020 do Palmeiras. Muito rápido, criativo e com notável inteligência tática, marcou vários gols, deu passes e ajudou o Palmeiras a levantar os três canecos históricos de 2020. Naquela temporada, aliás, o atacante disputou 67 jogos e marcou 17 gols, além de ter dado o passe para o gol de Gabriel Menino na decisão da Copa do Brasil contra o Grêmio, no Allianz Parque. Perdeu espaço no time em 2021 e deixou o Verdão em 2022 para jogar no Fluminense.

Dudu: ídolo da torcida, retornou em grande estilo na temporada 2021 para ser um dos destaques ofensivos na conquista da Libertadores. Acabou com o São Paulo tanto naquela Liberta como na final do Paulistão de 2022 com seus dribles, passes e atuações magistrais. Com mais de 400 jogos pelo Verdão, é um dos recordistas em partidas pelo Palmeiras na história.

Luiz Adriano: revelado pelo Internacional em 2006, o atacante rodou o futebol europeu até chegar ao Palmeiras em 2019. Viveu grande fase em 2020, quando se tornou o artilheiro do time com 20 gols em 56 jogos e grandes atuações com suas arrancadas e oportunismo. Na temporada 2021, perdeu espaço por conta da má fase, seca de gols e polêmicas com a torcida. Deixou o clube para atuar no futebol turco.

Rony: outro jogador que veio com grande destaque do Athletico, o atacante brilhou no Furacão como ponta-esquerda, mas acabou atuando em várias posições no Palmeiras de Abel Ferreira – inclusive centralizado no ataque. Com velocidade, passes e chutes perigosos de fora da área, ganhou rapidamente a confiança do treinador e da torcida e brilhou nas conquistas de 2020, principalmente na Libertadores, quando marcou gols e deu o passe para o gol do título na final contra o Santos. Aliás, Rony foi o líder em assistências da LIbertadores de 2020 com oito passes. Seguiu em alto nível em 2021 e se entrosou bastante com Scarpa, Veiga e Dudu. Em 2023, sofreu com as lesões e não rendeu o esperado.

Gabriel Veron: lançado em definitivo na equipe profissional em 2020, o ponta fez grandes jogos naquela temporada e foi um dos destaques do setor ofensivo do time ao lado de Rony e Gabriel Menino. Anotou 9 gols e deu cinco assistências. 

Breno Lopes: ele marcou apenas um gol nos cinco jogos que disputou na Libertadores de 2020. E foi exatamente o gol do título! Mesmo sem ser titular, Breno Lopes encarnou o talismã e fez história naquela temporada marcante para o Verdão. Porém, tal gol não garantiu a titularidade e ele seguiu como alternativa para o ataque nos anos seguintes, participando mais ativamente em 2023.

Artur: veio do RB Bragantino como alternativa para o ataque alviverde. Disputou 58 jogos na temporada, marcou 13 gols (5 deles no Brasileirão) e deu três assistências.

Deyverson: outro que não foi titular e conseguiu ser talismã do Verdão com o gol do título na final continental em 2021. Folclórico, virou xodó da torcida após o gol, mas acabou deixando o clube em 2022.

Rafael Navarro: após uma boa participação na Série B do Brasileiro pelo Botafogo, chegou em 2022 para amenizar a falta de centroavantes, mas não conseguiu ir bem e frequentou mais a reserva do que o time titular. Brilhou apenas na fase de grupos da Libertadores, quando marcou 7 gols em 4 jogos.

Endrick: o garoto de apenas 16 anos jogou pouco em 2022, mas o suficiente para encher a torcida de esperança para os próximos anos. Com muito talento, ganhou mais chances ao longo de 2023 e foi fundamental para a arrancada alviverde no segundo turno do Brasileirão. Marcou 11 gols em 31 jogos na campanha do título nacional e dois gols nos dois jogos das finais do Paulistão. Tem tudo para ser um dos maiores jogadores brasileiros da década.

Vanderlei Luxemburgo e Abel Ferreira (Técnicos): Luxa se destacou com o título do Paulistão de 2020 e por ter dado espaço a alguns garotos da base no time principal, mas não há dúvida que esse Palmeiras 2020-2022 será sempre lembrado pelas façanhas de Abel Ferreira. O português não revolucionou nada, mas armou um dos times mais competitivos da história do Verdão e empilhou taças em um curtíssimo espaço de tempo como nenhum outro treinador do clube conseguiu. Com muita conversa, treinos táticos, diversas mudanças no elenco e o carisma da torcida, Abel conseguiu ter o grupo na mão e fez o Palmeiras jogar à sua maneira. 

Em alguns momentos, poderia ser mais ofensivo, ousar mais, só que mesmo jogando de maneira mais tática e precavida, foi multicampeão. Em 2022, passou a abusar mais da ofensividade sem descuidar da parte defensiva, atitude que rendeu o Brasileirão. Em 2023, conseguiu manter o time competitivo mesmo sem grandes reforços e levantou mais três títulos. Abel já tem um aproveitamento superior a 65% no comando do Verdão. Para muitos, Abel Ferreira já é o maior técnico da história do Palmeiras. Exagero? Bem, pergunte para os palmeirenses que eles têm a resposta…

 

 

Licença Creative Commons
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.

Comentários encerrados

6 Comentários

  1. Pode não ser o mais o que praticou o futebol mais plástico mas a terceira a academia é pra mim o maior time da história do Palmeiras. Vale lembrar que desde 2020 só mais dois times no mundo ganharam tantos títulos quanto o Palmeiras. Inesquecível!

  2. A Sociedade Esportiva Palmeiras tem, nesse início da década de 2020, uma das maiores épocas de sua história, e o torcedor alviverde, sempre muito cauteloso, teme que acabe logo. Para mim, a era Abel irá terminar como a mais vitoriosa do clube, especialmente se vislumbramos o tamanho das conquistas e a longevidade do trabalho, e isso é muito grande.

  3. Que coisa! Vanderlei teve a sua importância por plantar a semente desse time, mas o que o Abel vem fazendo no Palmeiras é impressionante. Virou um Alviverde Imponente, Copeiro e Libertador! Não sei se o gajo já é o mais imortal dos técnicos da história do Palmeiras, mas ele já está na galeria! E acho que essa história imponente do Porcopeiro está longe do fim!

    Abraço, Imortais!
    OBS: Na Recopa de 2021, o Palmeiras não jogou a 2a partida contra o Defensa y Justicia no Allianz Parque, mas no Mané Garrincha, em Brasília, devido a restrições no estado de SP naquele momento, causadas pela COVID.

      • Mandou bem, Imortais, pelo texto e também pelas atualizações! O Palmeiras vem provando nos últimos anos que, de fato, é campeão! Sem dúvida, uma Academia do Século XXI! E cada vez mais imortal!

        Imortais, tenho uma sugestão: por que não atualiza também o texto do Fortaleza?
        Em 2023, o time foi penta do estadual e vice da Sula! Um Abraço!

Tostão: 1xBet relembra o grande atacante que venceu o medo

1xBet reivindica vitória em 13 categorias no International Gaming Awards 2024