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Palmeiras x Boca Juniors – Jogos históricos na Copa Libertadores

 

Por Guilherme Diniz

 

Um dos maiores clássicos do futebol sul-americano, Palmeiras e Boca Juniors se enfrentaram nas semifinais da Copa Libertadores de 2023. Brasileiros e argentinos possuem uma rivalidade jovem, moldada principalmente no começo desde século XXI e que foi ganhando força a cada novo confronto. E, quando falamos em Copa Libertadores, a dupla já possui 12 jogos realizados, com decisão de título em 2000, três semifinais e grandes históricas. Confira a seguir os duelos entre alviverdes e xeneizes na principal competição da América do Sul.

 

Palmeiras 6×1 Boca Juniors – Fase de grupos da Libertadores de 1994, Palestra Itália

Foto: Acervo / Gazeta Press.

 

Após 12 jogos disputados entre amistosos e torneios de pouca expressão, enfim Palmeiras e Boca se encontraram em uma Libertadores naquele ano de 1994. E foi simplesmente um vareio do super Verdão, na época vivendo grande fase graças à parceria com a Parmalat que enchia os cofres do clube e possibilitava contratações de peso. A equipe pegou um Boca comandado por César Menotti, técnico da Argentina campeã do mundo em 1978, mas que tinha problemas defensivos principalmente pelo lado direito, justamente onde Roberto Carlos, lendário lateral-esquerdo alviverde, atuava. Cléber fez o primeiro gol aos 21’ e os times foram para o intervalo com um magro 1 a 0. Na etapa complementar, começou o show. Roberto Carlos fez 2 a 0, aos 7’. Edílson, aos 9’, e Evair, aos 18’, aumentaram para 4 a 0. Evair fez mais um, aos 26’, e Jean Carlo marcou o impressionante sexto gol. Manteca Martínez, de pênalti, fez o gol de honra (que honra?) dos argentinos.

Foi a maior goleada sofrida pelo Boca na história da Libertadores e que fez com que Menotti fosse cumprimentar Luxemburgo, técnico alviverde, após o duelo. O jogo garantiu também o polivalente Mazinho na convocação da seleção brasileira para a Copa de 1994, afinal, o jogador, que vivia grande fase, jogou muito naquele dia. Ele virou titular da seleção ao longo do torneio e ajudou o Brasil na conquista do tetra. Na Libertadores, porém, o Verdão acabou eliminado nas oitavas de final para o São Paulo de Telê. Já o Boca nem sequer passou da fase de grupos. Eis os times daquele jogo:

 

Palmeiras: Sérgio, Claudio, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio (Tonhão), Amaral, Mazinho (Jean Carlo) e Zinho; Edílson e Evair. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Boca Juniors: Navarro Montoya, Soñora, Noriega, Giuntini e McAllister; Peralta, Mancuso, Márcico e Carranza, Sérgio Martinez e Rubén da Silva (Acosta). Técnico: César Luis Menotti.

 

Boca Juniors 2×1 Palmeiras – Fase de grupos da Libertadores de 1994, La Bombonera

O segundo jogo entre a dupla foi no returno do grupo, no final do mês de março de 1994. Jogando em casa, o Boca foi mais incisivo e venceu por 2 a 1 um jogo bem nervoso, com três jogadores expulsos do lado alviverde no segundo tempo – Sérgio, Cléber e Roberto Carlos.

 

Boca Juniors 2×2 Palmeiras / Palmeiras 0x0 Boca Juniors / Boca 4×2 Palmeiras nos pênaltis – Final da Libertadores de 2000, La Bombonera e Morumbi

Os maiores jogos da história do duelo foram, claro, as finais de 2000. Campeão em 1999, o Palmeiras queria o bicampeonato e vinha embalado após eliminar o maior rival, o Corinthians, na semifinal, em jogos espetaculares e com o brilho do goleiro Marcos. Já o Boca vinha em ascenção desde 1998 e, sob o comando de Carlos Bianchi, demonstrava competitividade e talento graças a nomes como Córdoba, Ibarra, Walter Samuel, Battaglia, Riquelme, Schelotto, Palermo, Burdisso e Gimenez. Era um timaço que estava determinado a acabar com o jejum de 22 anos sem uma conquista de Libertadores. Como não poderia deixar de ser, o duelo entre brasileiros e argentinos foi cheio de emoção. 

Alex, do Palmeiras, contra o Boca Juniors, primeiro jogo da final da Taça Libertadores, no Estádio La Bombonera. Foto: Ricardo Correa / Placar.

 

O primeiro jogo da grande final da Libertadores de 2000 foi na Bombonera. O Boca sabia que um resultado positivo em casa deixaria as coisas muito mais fáceis para a volta, no Brasil. Em um duelo muito pegado, com as equipes apostando na velocidade, o Boca abriu o placar com o lateral Arruabarrena, aos 22´. Pouco tempo depois, Pena empatou para o Palmeiras. Na segunda etapa, novamente Arruabarrena deixou o Boca na frente, mas Euller, dois minutos depois, deu números finais ao jogo: 2 a 2. O empate era o mar de rosas para o Palmeiras. Para o Boca, um pesadelo, afinal, o time teria que vencer de qualquer maneira no Brasil.

O Palmeiras escolheu o Morumbi como palco da grande final da Libertadores de 2000. E escolheu muito mal. Longe de sua torcida, que no Parque Antártica ficava mais próxima e aquecia o time, como no caneco de 1999, o Palmeiras não conseguiu agredir o Boca, que teve tranquilidade para estudar o time brasileiro e não se intimidar com o fato de jogar longe de Buenos Aires. A equipe se apoiou em uma forte marcação no craque do Palmeiras, Alex, e da segurança do goleiro Córdoba, que pegou tudo naquele jogo. Depois de um empate sem gols, a partida foi para os pênaltis. 

Nas cobranças, o Boca deu show de eficiência, não deixou o goleirão Marcos aprontar de novo como havia feito contra o Corinthians e converteu todas as suas cobranças. Já o Palmeiras marcou duas vezes e perdeu outras duas, que ficaram nas mãos do goleiro Córdoba. O colombiano garantiu, depois de 22 anos, o título da Copa Libertadores para o Boca Juniors. Enfim, o Boca voltava ao cenário futebolístico internacional com um título de gala. Leia mais clicando aqui!

 

Boca Juniors 2×2 Palmeiras / Palmeiras 2×2 Boca Juniors / Boca 3×2 Palmeiras nos pênaltis – Semifinais da Libertadores de 2001, La Bombonera e Palestra Itália

Román tenta passar por Galeano…

 

Foram os jogos que ajudaram a aumentar ainda mais a mitologia de Riquelme, que fez o que quis contra o Palmeiras naquela semifinal. Assim como na final de 2000, o primeiro jogo foi disputado em La Bombonera e, de novo, houve empate em 2 a 2, em jogo tenso que teve até a expulsão de Bianchi, que teria que comandar o time da arquibancada na volta, no Parque Antártica. Para piorar, os jogadores do Boca ameaçavam não jogar por causa do atraso nos pagamentos das premiações dos títulos da temporada anterior. Mesmo sob um clima terrível, com catimba e a ira de revanche dos alviverdes que pairava no ar, o Boca foi pra cima do Palmeiras e protagonizou mais um jogo para a história. Quer dizer, Riquelme protagonizou. 

O que o argentino jogou naquele dia foi algo impressionante. Ele controlava a bola de um jeito que nenhum palmeirense conseguia pegar. A ira era tanta que em determinados momentos os alviverdes tinham vontade de bater no camisa 10. Riquelme chamou os brasileiros para bailar. “Bailar em sua própria terra”, como cantaram os argentinos depois. Argel, Galeano, Alexandre e Magrão caçaram Román em todo momento, em todo canto, mas o que viam era a bola colada em seus pés. Principalmente depois que o Boca abriu 2 a 0, primeiro com Gaitán, depois, claro, com Riquelme, que conduziu a bola até a entrada da área, passou pelos marcadores como se fossem robôs e chutou rasteiro, sem chance para o goleiro Marcos. 

Caçado, Riquelme escapou de todos e deu um baile no Palestra.

 

Dali em diante, Riquelme fez o que sabia: segurou, prendeu, infernizou. Tempo depois, o argentino revelou que foi agredido por Galeano com um soco na boca. Avesso às provocações e sempre frio, cumprimentou o rival. Ele só queria jogar bola. Em entrevista ao programa Animales Sueltos, da TV América, mais de uma década depois, Riquelme disse que não temeu nem um pouco o Palmeiras naquele dia.

 

“Com 14 anos, eu jogava nos torneios relâmpagos dos bairros e em favelas contra adultos, valendo dinheiro. A briga acabava com os jogos. Não tinha ninguém para me defender. Por isso, por que eu iria tremer contra o Palmeiras?”.

Levando em consideração que tais partidas eram disputadas em lugares inóspitos e até com adultos com armas nos calções segundo relatos (!), tudo o que se passou no Parque Antártica naquela noite foi uma mera formalidade para Riquelme. O time brasileiro ainda empatou, o jogo foi para a disputa de pênaltis, Riquelme fez o dele, o Boca venceu por 3 a 2 e foi para a final. Nela, a equipe derrotou o Cruz Azul e ficou com mais um título.

 

Palmeiras 1×1 Boca Juniors / Boca Juniors 0x2 Palmeiras – Fase de grupos da Libertadores de 2018, Allianz Parque e La Bombonera

Assim como em 1994, os rivais voltaram a se enfrentar em uma fase de grupos da Libertadores. E foram duelos que o palmeirense prefere esquecer por causa das circunstâncias. No primeiro jogo, em casa, a equipe empatou em 1 a 1. No returno do grupo, em La Bombonera, os alviverdes venceram por 2 a 0 – gols de Keno e Lucas Lima – e celebraram a primeira vitória na casa xeneize em toda a história. Até aí, tudo bem. Acontece que na última rodada do grupo, o Palmeiras, já classificado e líder, tinha a chance de eliminar o Boca precocemente, pois bastava perder para o Júnior, em Barranquilla, que nem mesmo uma vitória do time argentino sobre o Alianza Lima adiantaria. O Boca venceu o Alianza Lima e o Palmeiras fez 3 a 0 no Júnior, resultado que “deu” a vaga ao Boca. E, em Libertadores, isso não se faz… Veja a seguir.

 

Boca Juniors 2×0 Palmeiras / Palmeiras 2×2 Boca Juniors – Semifinais da Libertadores de 2018, La Bombonera e Allianz Parque

Lembra que o Boca se classificou em segundo lugar? Graças ao Verdão? Pois é. As duas equipes foram avançando e adivinhe quem o Verdão encarou na semifinal? O Boca… E, no duelo da ida, em La Bombonera, outra vez o time brasileiro não saiu vivo: derrota por 2 a 0, com dois gols de Darío Benedetto. Na volta, o Palmeiras precisava de três gols para garantir a vaga na final. Levou o primeiro de Ábila, aos 18’, e só conseguiu a virada no segundo tempo, com gols de Luan e Gustavo Gómez. Os alviverdes ainda precisavam de dois gols, mas Benedetto voltou a aprontar, empatou, e colocou o Boca na final de todas as finais, contra o rival River Plate. 

 

Boca Juniors 0x0 Palmeiras / Palmeiras 1×1 Boca Juniors – Boca 4×2 Palmeiras nos pênaltis – Semifinais da Libertadores de 2023, La Bombonera e Allianz Parque

Foto: Staff Images/Conmebol.

 

O clássico entre brasileiros e argentinos foi realizado pela terceira vez na história em uma semifinal de Libertadores. Com ligeiro favoritismo, o Palmeiras se segurou no primeiro jogo, em La Bombonera, mas não conseguiu criar grandes chances ofensivas. Na volta, no Allianz, o Boca abriu o placar com Cavani e ficou com um jogador a menos em boa parte do segundo tempo. O Palmeiras pressionou e chegou ao empate com o lateral Piquerez, mas o Boca jogou “a la Boca” e deixou claro que queria decidir aquela peleja nos pênaltis mais uma vez. E, assim como em 2000 e 2001, o Boca venceu. Romero, experiente e exímio pegador de pênaltis, defendeu os chutes de Rafael Veiga e Gustavo Gómez, garantiu a vitória por 4 a 2 e a vaga na decisão.

 

Curiosidades:

 

  • Em 12 jogos pela Libertadores, são duas vitórias para cada lado e oito empates. Porém, o Boca venceu todos os quatro confrontos eliminatórios: final de 2000, semifinal de 2001, semifinal de 2018 e semifinal de 2023;
  • A única vez que o Palmeiras eliminou o Boca em um duelo eliminatório foi nas quartas de final da Copa Mercosul de 1998: vitória por 3 a 1, em casa, e empate em 1 a 1, fora;
  • Na história, os clubes já se enfrentaram 27 vezes, com 8 vitórias do Palmeiras, 4 vitórias do Boca e 15 empates.

 

 

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