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Esquadrão Imortal – Fluminense 2023

Em pé: Nino, Fábio, Ganso, Keno e Felipe Melo. Agachados: Alexsander, Germán Cano, Jhon Arias, Marcelo, André e Samuel Xavier. Foto: Mailson Santana / FFC.

 

Grandes feitos: Campeão da Copa Libertadores da América (2023), Campeão do Campeonato Carioca (2023) e Vice-campeão do Mundial de Clubes da FIFA (2023). Conquistou a primeira Libertadores da história do clube.

Time-base: Fábio; Samuel Xavier (Guga), Nino (Marlon), Felipe Melo (David Braz) e Marcelo (Diogo Barbosa); Martinelli (Lima / Alexsander) e André; Jhon Arias (Yony González), Ganso (John Kennedy) e Keno (Lelê); Germán Cano. Técnico: Fernando Diniz.

 

“A Máquina dos Guerreiros”

 

Por Guilherme Diniz

 

Vez ou outra, o pesadelo surgia. No meio da noite, o suor frio, o susto. Isso acontecia sempre em torcedores do Fluminense em dias de jogos pela Libertadores. Voltavam as memórias de 02 de julho de 2008. Da noite em que o Maracanã viu pela primeira vez um homem marcar três gols em uma final de Liberta. E assim, mesmo assim, seu time não levar a glória. Um jogo eterno com um enredo dramático e triste na pior noite da história do Fluminense Football Club. Sim, foi a pior. Não tem jeito. A que mais doeu. A noite que nunca acabou. Bem, muito tempo se passou. E, em 2023, um clube que aprendeu a ser guerreiro aprendeu também a voltar a ser máquina. Como nos anos 1970. Jogo a jogo, foi liquidando seus adversários. Enfiou cinco gols em um dos mais temidos clubes do continente – o River Plate. Nas oitavas, despachou o campeão continental de 1985, Argentinos Juniors. Nas quartas, eliminou um tricampeão, o gigante Olimpia, com duas vitórias categóricas. E, nas semis, após empatar em 2 a 2 em casa um jogaço contra o Internacional, estava praticamente morto na volta, no Beira-Rio, mas a alma guerreira fez aquele time virar o jogo e carimbar sua vaga na final.

Percebeu a semelhança com 2008? Três ex-campeões eliminados, empate em 2 a 2 no primeiro jogo da semi, virada agônica na volta… E Maracanã de novo na final. O passado repetido no presente. Mas diferente. Em 2023, era apenas um jogo. E contra o Boca Juniors, sedento pela sétima taça de sua história e mesmo rival eliminado nas semis lá de 2008. Os anos ensinaram o Fluminense a não repetir os erros. Ensinaram que é preciso decidir no jogo jogado. Nada de pênaltis. Ainda mais contra o Boca. E, como máquina e como guerreiro, o tricolor venceu por 2 a 1 e ficou com sua primeira Copa Libertadores. A noite que nunca havia acabado, enfim, acabou. Uma nova começou.

O 04 de novembro de 2023 virou uma nova data cabalística ao tricolor. Gerações que tanto esperaram pela glória, enfim, tiveram seu momento de redenção. E um time inteiro teve sua consagração. Fábio, Samuel Xavier, Nino, Felipe Melo, Marcelo, André, Martinelli, Ganso, Arias, Keno, Cano e o talismã John Kennedy. Todos eles e, claro, outros nomes, entraram para o rol de imortais tricolores que serão relembrados por gerações. E, no comando de todos eles, Fernando Diniz, tão criticado, tão renegado, que conseguiu sua redenção em um trabalho autoral ao vencer a maior competição do continente com seu estilo ousado que só víamos em grandes esquadrões do passado do futebol brasileiro. É hora de relembrar.

 

Assunção: ponto da virada

Foto: EFE/Nathalia Aguilar POOL

 

Podemos dizer que a história do Flu campeão da América começou a mudar na noite do dia 16 de março de 2022. Jogando no Defensores del Chaco, em Assunção, no Paraguai, o tricolor podia até perder por 1 a 0 que mesmo assim iria se classificar para a fase de grupos da Libertadores, afinal, o time havia vencido o Olimpia por 3 a 1, em casa. Só que o que se viu foi uma equipe medrosa, se abstendo de jogar futebol e esperando o time paraguaio em seu campo. Com um caricato Abel Braga no comando, o Flu foi uma presa fácil para o decano, que fez 2 a 0 e só não fez mais por falta de pontaria e pelas defesas de Fábio, contratado naquele ano após ser dispensado pelo Cruzeiro. A partida foi para os pênaltis e o Olimpia venceu por 4 a 1, resultado que colocou o alvinegro na fase de grupos e eliminou o Flu precocemente. Foi uma decepção enorme. Aquele time podia, sim, ir mais longe. Mas faltou ousadia e coragem de seu técnico.

Ainda com Fred, Flu foi campeão carioca de 2022. Foto: Mailson Santana / FFC.

 

No mês seguinte, o tricolor voltou a sorrir com a conquista do Campeonato Carioca, levantado em cima do rival Flamengo após uma vitória por 2 a 0 (dois gols de Cano) e empate em 1 a 1 (outro gol de Cano), título que impediu o Flamengo de levantar um inédito tetracampeonato para sua galeria. Porém, mesmo com o troféu, o Fluminense não estava bem sob o comando de Abel e o treinador deixou o clube no final de abril, dando lugar momentâneo a Marcão. Em maio, o clube das Laranjeiras anunciou o retorno de Fernando Diniz, sem clube desde o final de 2021, quando havia deixado o Vasco da Gama. O curioso é que Diniz pediu para voltar ao tricolor, como o próprio treinador revelou tempo depois, em entrevista ao ge.com. “Mandei uma mensagem para ele (Mário Bittencourt, presidente do Flu), nunca tinha feito isso. Sou muito discreto em relação a isso. Mas sempre tive uma relação muito boa com o Mário Bittencourt e o Paulo Angioni (diretor de futebol). E senti no meu coração que era hora de voltar ao Fluminense”.

Foto: Mailson Santana / FFC.

 

Sempre convicto de suas ideias, da posse de bola, do início da construção de jogadas partindo do campo de defesa, dos toques rápidos e da criatividade, Diniz encontrou no Fluminense um elenco bom e que podia melhorar. Além disso, fez o clube ampliar ainda mais as apostas na sempre forte categoria de base das Laranjeiras, fundamental para revelar nomes daquele próprio elenco como André, Martinelli, Alexsander e John Kennedy e que gerava lucros indiretos, como as vendas de Gérson, quando retornou ao Flamengo após sair do Olympique de Marselha, e João Pedro, quando deixou o Watford para o Brighton. 

Sem o poder financeiro de outros clubes brasileiros, o Fluminense precisava da sua base e da manutenção de atletas experientes. Por isso, a diretoria não fez loucuras e Fernando Diniz trabalhou com o que tinha em mãos. Dia após dia, o treinador foi apresentando ao elenco suas ideias e fez questão de extrair ao máximo o bom futebol de todos os jogadores, em especial Paulo Henrique Ganso, um virtuose em seus tempos de Santos, mas que sempre jogava menos do que se esperava dele desde 2012. Psicólogo de formação, Fernando Diniz sempre conversou muito com seus comandados e nunca fez o estilo carrasco, muito pelo contrário. Com conversa e perseverança, ele conseguia unir o time e trabalhar a mentalidade dos atletas em busca dos objetivos. 

Claro que seu estilo de jogo precisava ser aplicado com precisão cirúrgica, por isso, tal estilo ainda não tinha resultado em títulos na carreira do treinador – ele chegou perto no Brasileirão de 2020 com o São Paulo, mas uma sequência de derrotas e instabilidade acabou custando a taça. Diniz não via problemas, também, em apostar nos veteranos. Por isso, deu espaço para Fábio – titularíssimo, aperfeiçoou o jogo com os pés para poder se adequar ao jogo de Diniz -, Felipe Melo – mais zagueiro, deixou de atuar no meio de campo -,  Germán Cano – artilheiro voraz, se encaixou perfeitamente nas táticas propostas por Diniz -, e do ídolo Fred, que fez da temporada 2022 a última de sua carreira. Muitos ainda não viam com esperança o “Dinizismo” no Flu. Mas, aos poucos, ele iria virar um mantra nas Laranjeiras.

 

Grande Brasileirão e a vaga na Liberta

Tricolor aprendeu a “fazer o L” com os gols de Cano em 2022. Comemoração do argentino é em homenagem ao filho, Lorenzo. Depois, o L virou “duplo L” com o nascimento da filha Leonella a partir de agosto de 2023. Foto: Marcelo Gonçalves.

 

Com a confiança do elenco e sem pressão para exercer seu trabalho, Diniz conduziu o Fluminense a uma campanha de destaque no Campeonato Brasileiro de 2022. O clube teve seu melhor desempenho desde o título de 2012 e ficou na 3ª colocação, com 70 pontos, 21 vitórias, sete empates, 10 derrotas, 63 gols marcados (2º melhor ataque) e 41 gols sofridos. Ao longo da trajetória no torneio nacional, o tricolor fez grandes jogos, como os 5 a 3 no Atlético-MG, os 4 a 0 no Corinthians, os 5 a 2 no Coritiba, os 3 a 1 no São Paulo, os 2 a 0 no Corinthians em plena Neo Química Arena e os 2 a 1 no Flamengo. Germán Cano, com 26 gols, foi o artilheiro da competição e também o artilheiro do Brasil com 44 gols no total. Arias, com 16 passes para gols, foi o maior garçom do time e um dos principais nomes do setor ofensivo. André, no meio de campo, se consagrou como principal volante do país por sua capacidade de marcação e criação, além de dar mais liberdade para Ganso na frente, que voltou a jogar bem e ser muito importante para o time.

O Fluminense ainda alcançou as semifinais da Copa do Brasil – foi eliminado pelo Corinthians – e terminou em segundo lugar no Grupo H da Copa Sul-Americana (o time aplicou 10 a 1 no Oriente Petrolero-BOL, na maior goleada da história da competição). O desempenho tricolor no Brasileirão deu ao Fluminense uma vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores. Com isso, a competição se tornou o principal objetivo do clube na temporada. E foi ela que condicionou a permanência de André e de todos os principais jogadores que, mesmo com algumas sondagens, permaneceram para ajudar o time a buscar o título inédito.

Foto: Divulgação / Sul-Americana.

 

Quem também iria permanecer era o jovem John Kennedy. Talentosíssimo, o garoto viveu problemas extra-campo ao longo de 2022 e quase foi dispensado. Porém, Diniz afirmou na época que ele seria o jogador com o qual ele iria concentrar seus maiores esforços.

 

“Da minha parte vou fazer o máximo que puder por ele. É um grande talento e mais um daqueles jogadores, que, por trás, tem uma história de vida que, no futebol, ao invés da gente acolher a pessoa como um todo, a gente acolhe só o jogador. Essa é uma falha gigantesca que tem no futebol brasileiro. Já perdemos muitos John Kennedys por aí e continuamos perdendo. Eu vou fazer de tudo para ajudá-lo para ele poder ter uma vida digna no futebol. Principalmente quando parar, para que ele viva daquilo que construiu no futebol. Essa é a minha intenção com ele”, disse Diniz.

 

Kennedy iniciaria a temporada de 2023 emprestado à Ferroviária. Em seguida, voltaria ao Flu para uma reunião particular com a diretoria e Diniz. Todos disseram que não iriam desistir dele, mas ele teria que demonstrar força de vontade. E, mais forte e com outra mentalidade, o jovem não iria mais sair do tricolor e ganharia o apoio dos atletas mais experientes, como Germán Cano, especialista em finalizações, que ajudou Kennedy a melhor tal fundamento nos treinos. O atacante comentou sobre a mudança à FluTV. “A maior mudança foi de cabeça. Muita gente conversava comigo para ter constância. Hoje consigo entender que tenho que ter constância, que a minha vida é o futebol. A cabeça vai mudando aos poucos, as prioridades mudam”. Em paz, o tricolor tinha grandes expectativas para 2023. Algo grande poderia acontecer…

 

Aquecimento, reforço estrelado e show

Marcelo, principal reforço do Flu em 2023. Foto: Mailson Santana/Fluminense FC

 

A temporada de 2023 seria a grande mostra do trabalho de Fernando Diniz não só no futebol brasileiro, mas em todo mundo. Aos poucos, seus métodos de treinamento e a maneira de jogar do Fluminense seriam notícia até mesmo no exterior. Além de apostar na bola no chão, trabalhada de pé em pé, ele iria utilizar elementos que iriam pegar os adversários desprevenidos. Em determinados momentos, o Flu atacava com quatro, cinco homens em um só espaço do campo contra dois, três adversários. Além disso, os laterais mudavam de posição e os meio campistas se alternavam. Para se ter uma ideia, em março de 2023, o jornalista Rory Smith, do jornal The New York Times, citou Diniz em um artigo no qual comentava sobre a ruptura dos esquemas táticos no futebol. Ele disse:

 

“Diniz, como Luciano Spalletti (do campeão italiano Napoli), não acredita em atribuir posições ou papéis específicos aos seus jogadores, mas em permitir que eles se troquem à vontade, para responder às exigências do jogo. Ele não se preocupa com o controle de áreas específicas do campo. A única zona que interessa a ele, e ao seu time, é aquela perto da bola. Na sua visão, o futebol não é um jogo definido pela ocupação do espaço. Em vez disso, é centrado na bola: desde que seus jogadores estejam próximos a ela, a posição teórica em que jogam não importa nem um pouco. Eles não precisam se apegar a uma formação específica, a uma série de números codificados em suas cabeças”. Leia mais aqui.

 

E essa ideia de jogo ganhou mais amplitude quando o Fluminense anunciou no começo de 2023 o retorno de Marcelo, lateral-esquerdo revelado pelo clube e que fez carreira no Real Madrid multicampeão europeu. Com 35 anos, o craque chegou para atuar não só em sua posição de origem, mas também “flutuando” pelo campo como Diniz gostava. Com ele pela esquerda e Samuel Xavier na direita, o Fluminense tinha àquela altura dois dos melhores laterais em suas respectivas posições do futebol brasileiro. No gol, Fábio era impecável, vivia grande fase e jogava demais. Na zaga, Marlon, Nino e Felipe Melo se alternavam na dupla titular. No meio, Diniz tinha várias alternativas, com André sendo o único titular absoluto, enquanto Martinelli e Alexsander revezavam ao lado do camisa 7. Na frente, Keno e Arias eram os favoritos pelas pontas, com Ganso no meio como o camisa 10 clássico e Germán Cano o matador.

O “esquenta” do Flu para a temporada foi o Campeonato Carioca. Na Taça Guanabara, o tricolor foi líder, com 25 pontos, e se garantiu na semifinal do Estadual. Na fase final, o time de Diniz perdeu para o Volta Redonda o duelo de ida das semis por 2 a 1, mas deu o troco na volta com um inapelável 7 a 0 – sendo 5 a 0 no primeiro tempo e com quatro gols de Germán Cano. Na final, o rival foi o Flamengo, que venceu o duelo de ida por 2 a 0 e foi com uma grande vantagem para a volta. No Maracanã tomado por mais de 61 mil pessoas, o Fluminense começou com tudo e abriu o placar com Marcelo, em belo chute de fora da área. Quatro minutos depois, Cano, o carrasco, o “Assis do século XXI”, ampliou para 2 a 0. Na etapa complementar, Cano, de pênalti, fez o terceiro, e Alexsander, aos 64’, marcou o 4 a 0. A torcida gritava olé e “é campeão” quando Ayrton Lucas, já nos acréscimos, descontou, mas tarde demais.

Festa tricolor com o título carioca de 2023. Foto: Marcelo Gonçalves.

 

O 4 a 1 deu o bicampeonato estadual ao Flu – algo que não acontecia desde os tempos do Casal 20 na década de 1980 – e o primeiro título de expressão do técnico Fernando Diniz. Com 16 gols, Cano foi o artilheiro da competição e só confirmou a boa fase que vivia desde 2022. O troféu embalou o Fluminense para o restante da temporada e para o início da Copa Libertadores, que iria exigir demais do time carioca pelo fato de seu grupo ter adversários bem indigestos: The Strongest-BOL, Sporting Cristal-PER e o temido River Plate-ARG.

 

Quem é o River mesmo?

A saga tricolor na Libertadores começou em abril, diante do Sporting Cristal, no Peru. A equipe da casa saiu na frente no primeiro tempo, mas Cano empatou. No segundo tempo, Cano fez o gol da virada após passe de Arias e Vitor Mendes, após completar outro passe de Arias, fechou a grande vitória por 3 a 1. Naquele jogo, o Flu atuou com sua formação considerada ideal, no 4-2-3-1, com Fábio; Samuel Xavier, Nino, Felipe Melo e Marcelo; Alexsander e André; Arias, Ganso e Keno; Cano. No jogo seguinte, em casa, o tricolor venceu no sufoco o The Strongest-BOL por 1 a 0, gol do capitão Nino, e permaneceu no topo do grupo. O rival seguinte era o River Plate, principal adversário do tricolor naquela chave. 

Todos esperavam um duelo equilibrado naquela noite do dia 02 de maio. Só que o jogo foi da Máquina Tricolor. Com voracidade, toques rápidos e golaços, o Fluminense apresentou ao seu torcedor a versão moderna da Máquina que encantou nos anos 1970. A equipe comandada por Fernando Diniz trouxe os elementos de décadas passadas, acrescentou alguns ingredientes e impôs ao River sua maior derrota na história da Libertadores. Mais do que isso, o clube argentino levou pela primeira vez cinco gols em um só jogo de um torneio da Conmebol: Fluminense 5×1 River Plate.

Cano: 3 gols e uma atuação de gala. Foto: Mauro Pimentel / AFP via Getty Images.

 

Uma noite de gala de Cano, autor de três gols. De Arias, com dois. De Ganso, o maestro que não se cansa de dar passes perfeitos. De André, o que solta e prende no meio de campo. De Fábio, absoluto e que se tornou o brasileiro com mais jogos em Libertadores – 90 partidas – na carreira exatamente naquela noite. E de Fernando Diniz, mentor de um time que arrancou aplausos no Maracanã, em Buenos Aires e de todos os amantes do futebol bem jogado. Leia mais sobre esse jogo eterno clicando aqui!

 

Sinal de alerta

Foto: Iconsport

 

Vencer daquela maneira o River colocou o Fluminense de vez entre os favoritos para levar a Libertadores. Virtualmente classificado, o tricolor só dependia de si para avançar. Só que, nos jogos seguintes, a torcida ficou ressabiada. No primeiro jogo do returno, o tricolor perdeu por 1 a 0 para o The Strongest. Depois, visitou o River no Monumental e perdeu por 2 a 0. A vaga em primeiro lugar acabou garantida com um empate em 1 a 1 diante do Sporting Cristal, no Maracanã, resultado bem abaixo das expectativas que o começo de sonhos do time causou. 

Essa classificação de certo modo contestada veio justamente em um período de turbulência do time na temporada. No começo de junho, o tricolor foi eliminado da Copa do Brasil pelo rival Flamengo, que venceu o Flu por 2 a 0 após empate sem gols no primeiro jogo. E havia ainda boatos de que o ambiente não estava bom por causa do lateral-esquerdo Marcelo, que “não se relacionava com os atletas, agia como um popstar” e tinha fisioterapeuta próprio ao invés de utilizar do clube. Tudo foi negado por todos e os principais nomes do elenco saíram em defesa do lateral, inclusive o técnico Fernando Diniz. 

 

“Vou continuar lutando por respeito e coerência no futebol. Tem muita coisa que é mentira. Jornalista tem fonte, mas tem que investigar a verdade. Pegamos os momentos que o resultado não está vindo e tratamos a informação como verdade. Cada um fala o que quer. O nosso maior patrimônio é o torcedor. Achei desinformação naquilo que saiu”, comentou o treinador em entrevista ao jornal O Globo, em 27 de junho de 2023.

 

O lateral preferiu não polemizar e se mostrou focado na Libertadores, dizendo que “se sentia um jovem de 18 anos na competição, mas que na verdade tinha 35”. Frequentando o top 8 do Brasileirão, o Flu entraria em uma etapa decisiva da temporada a partir de agosto. Mas, antes, Fernando Diniz foi anunciado pela CBF como técnico interino da seleção brasileira com a condição de que não iria sair do comando do Fluminense. A notícia pegou todos de surpresa, mas logo em seguida veio o alívio de o técnico poder continuar seu trabalho nas Laranjeiras sem interferências. O “plano de Diniz” podia continuar. Era tudo ou nada pela América.

 

As batalhas

Foto: Daniel Jayo / Getty Images.

 

O primeiro compromisso do Flu nas oitavas de final foi contra o Argentinos Juniors-ARG, rival do tricolor em sua primeira participação em uma Libertadores lá em 1985, ano do título do Bicho na competição continental. Jogando no Estádio Diego Armando Maradona, o tricolor começou perdendo por 1 a 0 e, no segundo tempo, viu sua situação piorar quando Marcelo, em um lance acidental, causou uma lesão terrível em Luciano Sánchez. O brasileiro foi expulso e, diante da gravidade da lesão, saiu chorando copiosamente. Ele acabou suspenso por três jogos e só voltaria ao tricolor em uma possível semifinal. Mesmo com um a menos, o Fluminense foi valente e, perto do final do jogo, Samuel Xavier fez o gol do empate que manteve a chance de classificação viva. 

Kennedy e Samuel Xavier. Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

 

Na volta, diante de 61.396 pessoas no Maracanã, o Flu ficou angustiado sem marcar no primeiro tempo, mas abriu o placar aos 86’, com Samuel Xavier outra vez talismã. Quatro minutos depois, John Kennedy fez o seu e o 2 a 0 colocou o tricolor nas quartas de final. A expectativa segundo o chaveamento era de um eletrizante Fla-Flu nessa etapa. Porém, o Flamengo foi eliminado pelo Olimpia-PAR, que virou o adversário do tricolor. Seria uma espécie de revanche para o Flu, que teve pela frente seu algoz de 2022. No duelo de ida, o tricolor abriu o placar após Keno avançar pela esquerda, tocar para Cano, este dar de primeira para André, que ajeitou e chutou de fora da área para fazer 1 a 0.

O time que venceu o Olimpia no Paraguai. Em pé: André, Nino, Fábio, Keno, Ganso e Felipe Melo. Agachados: Germán Cano, Samuel Xavier, Jhon Arias, Diogo Barbosa e John Kennedy.

 

No segundo tempo, aos 14’, John Kennedy tentou a bicicleta, a zaga tirou, mas a bola voltou para dentro da área. A redonda procurou Cano, que chutou de primeira, claro, sem deixar a bola cair, para fazer 2 a 0. O resultado foi enorme e deu ao tricolor a vantagem do empate ou até mesmo a derrota por um gol em Assunção. Só que praticamente todos aqueles atletas do Flu sabiam que seria preciso entrar com a mentalidade de que o duelo estava 0 a 0. Jamais entrar em campo achando que está tudo certo, tudo resolvido. O Olimpia era um clube gigante, tricampeão da América, com uma torcida enlouquecida e um estádio caldeirão. E, por isso, o tricolor foi enorme como pediu a ocasião. 

Fábio mais uma vez foi o goleiraço que sempre foi, o time inteiro esteve concentrado e, jogando mais ofensivo, com John Kennedy ao lado de Cano como no duelo de ida, o tricolor segurou a pressão dos 10 minutos iniciais para se impor. O primeiro gol foi com a assinatura da Máquina, em jogada que começou no canto direito, lá atrás, em toques bonitos, até Keno dar um passe excepcional para John Kennedy, que saiu em velocidade e mandou um petardo indefensável: 1 a 0. Aos 43’, Zabala invadiu a área, chutou, a bola desviou e empatou.

John Kennedy marcou outro gol decisivo nas quartas de final. Ele ia anotar também na semi e na final… Foto: DANIEL DUARTE / AFP

 

No segundo tempo, o Olimpia teve um jogador expulso e, aos 34’, John Kennedy recebeu de Cano, driblou o marcador e chutou. A bola carimbou a trave, mas no rebote voltou pra ele, Cano, que mandou pro fundo das redes: 2 a 1. Quatro minutos depois, John Kennedy, irresistível, acertou mais uma vez a trave do decano. Até que, nos acréscimos, em contra-ataque letal, Cano recebeu, foi conduzindo e esperou a saída do goleiro para disparar o chute certeiro que selou a vitória por 3 a 1, sob os gritos de “olé”, e a classificação à semifinal depois de 15 anos. Faltavam dois jogos para a grande final. E o rival seguinte era outro peso-pesado do continente: o bicampeão Internacional. 

 

É a máquina dos guerreiros!

Canooooo! Foto: Mailson Santana / FFC

 

No dia 28 de setembro, quase 68 mil pessoas encheram o Maracanã para o duelo de ida das semifinais. O Flu tinha pela frente o Internacional, rival que não trazia boas recordações aos tricolores: foi o colorado, lá em 1992, que derrotou o Flu na final da Copa do Brasil e privou o time das Laranjeiras de um grande título nacional na época. Seria um duelo de treinadores excêntricos, imprevisíveis. De um lado, Diniz. Do outro, Coudet. E, quando a bola rolou, foi realmente um jogaço. O Flu abriu o placar aos 9’, quando Arias roubou a bola no canto direito, engatilhou o contra-ataque mortal, tocou para Kennedy e este deixou com o artilheiro Cano, que fez 1 a 0. A partida seguiu frenética até Samuel Xavier ser expulso ainda no primeiro tempo.

Com a vantagem numérica, o Inter foi pra cima e Mallo empatou nos acréscimos. Na etapa final, aos 19’, Alan Patrick virou para o colorado e emudeceu o Maracanã. O Inter ficou mais fechado e chamou o Fluminense. E o tricolor foi pra cima. Em cobrança de escanteio aos 32’, Arias mandou para a área, Nino cabeceou para frente e Cano apareceu para dar um difícil voleio e mandar a redonda pro gol. Que pintura do argentino! E 2 a 2 no placar. A torcida ficou louca, mas o Flu não foi louco de se mandar pra frente com um homem a menos. O empate, diante das circunstâncias, não era de todo ruim. E, após o apito final, os torcedores aplaudiram o time pela garra e por buscar o ponto precioso que manteve a decisão da vaga em aberto.

No Beira-Rio, 50 mil pessoas criaram o caldeirão colorado. O “inferno”, como os torcedores do Inter gostam de chamar. O clima era eletrizante e o jogo foi do mesmo nível que no Maracanã. Sem Samuel Xavier, Diniz colocou Alexsander no meio, ao lado de André, e Guga assumiu a lateral-direita. Era preciso mais presença no meio de campo para segurar as investidas do Inter e também Alan Patrick, principal articulador do time gaúcho. Além dele, Enner Valencia podia levar perigo em suas arrancadas. Mas, logo aos 9’, em erro de saída de bola do goleiro Fábio, o Inter abriu o placar com o zagueiro Mercado. O gol cedo abalou o tricolor, que perdeu o meio de campo e viu Alan Patrick e Johnny dominarem as ações por ali. 

Foto: Ricardo Duarte / SCI.

 

Na volta do intervalo, Diniz sacou Alexsander e Felipe Melo para as entradas de Martinelli e John Kennedy, voltando ao 4-2-4 mais ofensivo. Era preciso ir pra cima, com Marcelo mais solto. Porém, as melhores chances foram do Inter, que viu Valencia perder dois gols feitos: um, em cabeçada na pequena área. Outro, em chute torto sozinho e sem ninguém para lhe atrapalhar. O Inter podia estar vencendo por 3 a 0. Mas estava só 1 a 0. E isso foi o estopim para o Fluminense buscar a virada. Aos 35’, Marcelo deu um corta-luz e a bola ficou com Cano. O argentino avançou, acompanhado de John Kennedy. Cano esperou o momento certo para tocar para o camisa 9, este esperou o momento certo para não ficar em posição de impedimento, e a bola foi perfeita. Kennedy deu um toque na saída de Rochet e a redonda foi parar no fundo do gol: 1 a 1.

John Kennedy comemora: Flu vivo! Foto: Marcelo Gonçalves.

 

Flu vivo! Era a máxima do quem não faz, leva. Cinco minutos depois, Cano recebeu no meio, tocou de primeira para Yoni González, na direita, que avançou pela direita, cruzou, John Kennedy raspou na bola e Cano tocou de primeira, claro, para mandar para o gol e fazer 2 a 1. O Fluminense estava na final da Libertadores pela segunda vez. A festa tricolor no Beira-Rio foi enorme. Era mais uma vitória gigantesca do tricolor naquela Liberta e em um novo enredo que aliou gols plásticos com raça pura. Marcelo comentou sobre a vitória:

 

“Nosso objetivo era chegar na final. É um dia muito importante, não só para mim, mas para minha família e os torcedores. Chegamos desacreditados pelas pessoas de fora, mas os tricolores de verdade estavam com a gente, e sentimos essa energia. Em nenhum momento foi fácil. A gente, mais uma vez, provou que o Fluminense é time de guerreiros. A gente sai perdendo, demos a volta por cima e conseguiu ganhar. Com um jogo tão difícil, num campo difícil, com a qualidade que o Inter tem, com a história que tem, mas o Fluminense também merecia estar na final”.

 

Beira-Rio ficou tricolor! Foto: Gustavo Garcia.

 

O lateral ainda “culpou” o técnico Diniz pela vitória: “Tudo é culpa do Diniz. A culpa toda é dele”. Cano e Kennedy, àquela altura, eram responsáveis por 15 gols do Flu naquela Libertadores (12 de Cano, três de Kennedy), além de ambos terem dado cinco assistências. “Muito lindo. A gente deixou tudo dentro do campo. Brigamos com um rival muito bom. A gente não deixou de acreditar. Somos um time de guerreiros. Graças a Deus conseguimos fazer os gols e chegarmos à final”, disse Cano no pós-jogo. Daquela noite em diante, o Flu e seus milhões de torcedores só iriam pensar em uma coisa: na final da Libertadores. E em exorcizar os fantasmas de 2008.

 

A mentalidade campeã

Divulgação / Conmebol.

 

Era inegável que o Fluminense teria que conviver com as comparações daquele time com o de 2008 antes da decisão. Superar três ex-campeões continentais como em 2008 e decidir no Maracanã como em 2008 eram coincidências impressionantes. Mas o Flu de 2023 era diferente. Tinha sua identidade própria, sangue frio, técnica e experiência. Tinha atletas vencedores e acostumados com decisões como Fábio, Felipe Melo e Marcelo, um trio que certamente iria contribuir muito em 2008, por exemplo. E, no papel, o Flu de 2023 era muito mais time do que o de 2008. Por tudo isso, vencer era mais do que possível e todos sabiam que aquela era a chance derradeira para o título inédito. Mas, é claro que não seria fácil.

Do outro lado, o Flu teria pela frente o Boca Juniors, que eliminou o Palmeiras nos pênaltis e vinha sem vencer nenhuma partida naquela fase de mata-mata. Por ser um jogo único, talvez fosse uma estratégia dos xeneizes conduzir a partida “a la Boca” e tentar a sorte na marca da cal. O histórico de vitórias sobre brasileiros ainda pesava a favor dos argentinos, que tiveram ainda uma imensa presença de sua torcida na cidade do Rio de Janeiro – segundo alguns jornais, cerca de 100 mil pessoas viajaram até o Rio para acompanhar o Boca. Porém, o Flu era um dos poucos brasileiros que já havia eliminado os xeneizes de uma Libertadores: nas semis de 2008.

Com tantos ingredientes para trabalhar com seus jogadores, Fernando Diniz fez com que todos os treinamentos fossem 04 de novembro. Todo treino era 04 de novembro. Era a final. Na preleção antes da partida, no hotel onde os jogadores ficaram concentrados, o treinador emocionou a todos ao usar imagens da derrota de 2008 e lances do time de 2023 para traçar o paralelo de que uma coisa ligava com a outra. Focou na coragem, na superação e no tanto que aquele grupo batalhou para estar em uma final. Não era um trabalho de um ano. Era algo que começou lá atrás, na eliminação na pré-Libertadores de 2022 até o terceiro lugar no Brasileiro de 2022 que garantiu a vaga na fase de grupos de 2023. Aquele Fluminense estava pronto para fazer história. E ser a história.

 

A glória eterna tricolor

No dia 04 de novembro de 2023, o Maracanã – com 69.232 pessoas, maior público do ano no Brasil – estava simplesmente efervescente. Lindo. Estupendo. Com cores tão distintas e bonitas, as torcidas de Boca Juniors e Fluminense proporcionaram talvez o mais belo espetáculo cênico em uma decisão de Libertadores. De um lado, o azul e amarelo (ou ouro, como os xeneizes gostam de enfatizar) do Boca, as cantorias eufóricas, a crença por “la séptima” e posto de rei do continente. Do outro, as milhares de bandeiras em verde, branco e grená, as luzes, uma torcida que queria fazer aa festa no mesmíssimo estádio onde, 15 anos atrás, ela foi proibida por “três letrinhas” e uma série de fatores que nem Sobrenatural de Almeida poderia explicar.

A torcida tricolor no Maracanã no dia da final. Foto: Guito Moreto / Agência O Globo.

 

Fred (à esq.) tocou na taça primeiro do que Bermúdez: bom sinal!

 

Em campo, os times iam com o que tinham de melhor, exceto o Boca, que não tinha o capitão Rojo, expulso na semifinal. Quando chegou ao gramado, a imponente taça foi recebida por Fred, ídolo tricolor, e Bermúdez, zagueiro do bicampeonato do Boca em 2000/2001. Um detalhe: Fred foi quem tocou no troféu primeiro. Isso já era um bom sinal! Na execução dos hinos, muita emoção, inclusive dos jogadores do Flu, em especial Felipe Melo. Era um momento especial, maravilhoso, único. Era, desde 2008, o jogo mais importante da história tricolor. E uma chance que não poderia ser desperdiçada. Quando eles teriam a chance de decidir uma Libertadores no Maracanã? Contra o Boca? Era muito emblemático, muito simbólico. E, quando a bola rolou, foi mesmo.

Passados os minutos da tensão natural de uma final, o Fluminense se soltou mais e mostrou ao Boca que tinha muito mais bola do que ele. Os argentinos se apoiavam na marcação, na atenção às peças principais do tricolor, mas Fernando Diniz rodava seus atletas e confundia a marcação. Marcelo, na esquerda, ia para a direita, para o meio. André, um meio-campista fora de série, fazia de tudo em seu setor e ajudava a soltar e prender. Keno, na velocidade, era o mais perigoso no setor ofensivo com suas investidas pela direita. Com quase 70% de posse de bola, o Flu dominava, mas não encontrava espaço para o gol. O Boca, vez ou outra aparecia, mas sem levar perigo algum. Cavani, tão temido, era apenas uma caricatura do jogador que fora um dia. Em determinado lance, com clara chance para finalizar, preferiu tocar atrás e deu de presente para a zaga tricolor.

O time da final: formação preferida de Diniz fez um grande primeiro tempo. No segundo, teve sufoco, mas o time se reorganizou para levar o troféu na prorrogação.

 

Um toque na bola… Adivinhe… Gol! Foto: Lucas Figueiredo/Getty Images.

 

O Flu precisava de um lance digno de sua qualidade para destravar aquela final. E, no transcorrer do minuto 35, ele apareceu. Arias, um “demônio” ela direita, avançou em velocidade e tabelou com Keno. Este tocou na medida para o meio da área e adivinhe quem estava lá? Germán Cano, o homem que só precisa de um toque para marcar um gol. Ele pegou de primeira e mandou a bola no canto do goleiro Romero: 1 a 0. Explosão no Maracanã. E 13º gol do argentino na Libertadores em 12 jogos disputados. Além de ser o gol de número 60 com apenas um toque dos 81 que o atacante já havia marcado com a camisa tricolor na época. Simplesmente irresistível! 

Foto: Alexandre Cassiano / FFC

 

Foto: SILVIO AVILA/AFP via Getty Images

 

O Boca teve que sair de sua passividade e o Flu tentou aproveitar para avançar. Na segunda etapa, o time de Diniz ficou mais comedido, enquanto a terrível arbitragem de Wilmar Roldán deixava o jogo mais tenso, com a não marcação de faltas claras e poucos cartões. O Flu passou a ficar mais em seu campo e o Boca, mesmo sem ter técnica, via espaços para possíveis chutes. E, aos 27’, Advíncula encontrou a brecha para encher o pé de fora da área e marcar um belo gol: 1 a 1. Foi a vez da massa argentina no Maracanã gritar o “Guuuuoooooolllllll” característico e cantar. Contra o Boca, não se pode relaxar. Jamais. É um time que, se não tem talento nem ninguém, tem camisa. E essa danada joga demais. 

Advíncula celebra o gol de empate. Foto: Carl de Souza / AFP

 

O empate deixou o Flu assustado. Sem Felipe Melo, que saiu por lesão, e posteriormente sem outros nomes como Marcelo e Ganso, substituídos, a configuração do controle de bola do início do jogo estava desfeita. Era preciso apostar na velocidade e no talento. E Diniz confiou em uma pessoa: John Kennedy, o talismã autor de gols decisivos nas oitavas, nas quartas e nas semis. O atacante entrou no lugar de Ganso e Diniz falou que “ele ia fazer o gol do título”. Mesmo após a entrada do camisa 9, o jogo seguiu tenso e o Boca flertou com a virada em chutes de longe. Nos acréscimos, Diogo Barbosa teve grande chance pela esquerda, mas seu chute passou longe do gol. Ao apito do árbitro, a final teria prorrogação.

“Você vai fazer o gol do título!”

 

Mais 30 minutos eram um suplício para o torcedor tricolor. Os fantasmas de 2008 vinham à cabeça. E, mais do que eles, a possibilidade de pênaltis era algo assustador. Primeiro, porque o Boca sempre se deu bem nesse quesito. Segundo, porque o goleiro Romero era especialista. Quando a bola rolou, o Flu foi pra cima. Queria um gol. Queria o título. Chega de sofrer, de pensar no passado. A história precisava ser escrita. Aos 8’, Diogo Barbosa apareceu na frente e tocou para John Kennedy. O atacante devolveu, Diogo tocou mais à frente para Keno, que só amorteceu de cabeça para John Kennedy como quem diz, “vai, faz!”. Kennedy pegou de primeira. E fez. Golaço! Fluminense 2×1 Boca Juniors.

O gol do título. Foto: CARL DE SOUZA/AFP

 

E a comemoração de John Kennedy. Foto: Sergio Moraes / Reuters.

 

Kennedy foi para a galera, mas também foi expulso. Foto: Silvio Ávila / AFP

 

Tinha que ser dele. Tinha que ser do jovem que quase deixou o clube, mas retornou, foi recuperado por Diniz e se transformou em um dos principais nomes daquela campanha mágica. Kennedy comemorou como um torcedor comemoraria. Foi correndo para a arquibancada abraçar sua gente. Ficou nos braços do povo. Só que tanta comemoração acabou gerando cartão amarelo para o atacante. E, como ele já tinha um, foi expulso. Já era o personagem do jogo. Entrou aos 80’, jogou 18’, fez um gol e foi expulso. O Flu teria que jogar com 10. Faltando ainda alguns minutos do primeiro tempo e mais o segundo inteiro. Era hora de mudar a chave. Saía o time da arte, a versão moderna da Máquina. Entrava o Time de Guerreiros. E esse time enervou o Boca. No final da primeira etapa da prorrogação, uma confusão na área acabou gerando uma agressão de Fabra no capitão Nino. O péssimo árbitro não viu e precisou do VAR para expulsar o colombiano. 

A igualdade numérica foi um alívio. Mas, na segunda etapa, foi preciso sangue frio. Cano virou zagueiro. Tricolores impediam de todos os jeitos o Boca de chutar ao gol de Fábio. A outra sorte era que aquele Boca não tinha qualidade para decidir. A camisa tentou, tentou, mas não conseguiu. Naquele dia, já noite no Maracanã, a camisa mais pesada era uma armadura. A tricolor. Pronta, tarimbada, predestinada a entrar para a história. Depois dos acréscimos, enfim, o apito final ecoou pelo Maraca e consumou a imortalidade definitiva daquele esquadrão. Depois de anos de drama, angústias e decepções, o Fluminense era campeão da Copa Libertadores da América. Em 2008, aquela torcida chorou no Maracanã. Em 2023, a mesma torcida chorou no Maracanã. Mas de alegria. De alívio. Como torcida campeã da América. Exaltado, Diniz comentou sobre a conquista no pós-jogo.

 

“Em relação ao que chamam de Dinizismo, não sei se veio para ficar. Enquanto eu tiver que trabalhar, vou seguir minhas convicções. E minha maior convicção é ajudar os jogadores. O que fica é o que acredito. Não acho que a pessoa é campeã só porque ganhou o título. Vi campeões que não ganharam, e outros que não mereciam. Se não tivesse vencido hoje, poderiam usar esses clichês de nunca ganhar, que nunca vão pegar em mim. Os campeonatos acabam e a vida continua. O conceito que eu falo (de campeão) é de quem não desiste, continua sempre a melhorar. E consegue suplantar as críticas fáceis”, disse o técnico, que lembrou de John Kennedy.

 

“O John Kennedy tem o poder de decisão grande, um menino que a gente acreditou muito. Ele é uma daquelas pessoas que o futebol perde aos montes, desses que precisam de muito afeto e carinho”. […] “Muitas pessoas usam os jogadores como objeto desde a base, ninguém olha suas carências afetivas. E eu tenho como pilar central do meu trabalho olhar para os jogadores de uma maneira diferente. O John Kennedy, acho que se fosse em outro lugar ele não tinha conseguido ficar e fazer o gol do título. É um trabalho não só meu, mas de muita gente que soube acolhê-lo e proporcionar esse momento”.

Foto: Sergio Moraes / Reuters.

 

Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP

 

 

Na comemoração, todos os atletas do Flu não esconderam a emoção. Felipe Melo desabou em lágrimas. Marcelo, idem, isso mesmo com suas dezenas de taças pelo Real Madrid. O lateral ainda rechaçou que aquele troféu era especial demais para ele, afinal, ele cresceu no Flu e nem as 5 UCLs que venceu pelo Real eram capazes de se equiparar a uma Libertadores pelo tricolor. Fábio, o goleiro que chegou aos 100 jogos em Libertadores naquele dia, também foi outro que provou seu valor após ser desprezado pelo Cruzeiro. Era um título marcante para todos, que jamais ia sair da memória. Quando recebiam suas medalhas, os jogadores a olhavam com orgulho, faziam questão de deixar o lado da taça virado para frente, para que todos pudessem ver. Orgulho pleno. 

Cano ergue a taça. Foto: Carl de Souza/AFP.

 

Coloca a placa, Conmebol!

 

O Fluminense acumulou 13 jogos, com 8 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. O tricolor marcou 24 gols (melhor ataque) e sofreu 12. Germán Cano, com 13 gols, foi o artilheiro da competição e maior artilheiro em uma só edição neste século XXI, enquanto que o atacante Keno, com 5 assistências, foi o campeão no quesito passes para gols. O time faturou R$ 133 milhões com o título, um aporte financeiro que ajudará bastante para a manutenção e reforço do elenco para 2024. Além disso, o Flu conseguiu ser:

  • O primeiro clube campeão a derrotar River Plate e Boca Juniors em uma mesma edição de Libertadores;
  • Primeiro clube campeão a derrotar 5 clubes campeões pelo caminho – River Plate, Argentinos Juniors, Olimpia, Internacional e Boca Juniors;
  • Passou invicto pela fase de mata-mata com 5 vitórias e 2 empates em 7 jogos.

O Flu garantiu também uma vaga no Mundial de Clubes da FIFA de 2023 e também na Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2025, além de poder disputar a Recopa Sul-Americana de 2024 contra um velho conhecido: a LDU, campeã da Copa Sul-Americana de 2023.

 

Mundial – Do sonho ao pesadelo

Foto: Lapresse

 

Obviamente que o foco do Flu após a conquista da Libertadores foi a preparação para o Mundial de Clubes da FIFA. Fernando Diniz escolheu a dedo os jogos nos quais os titulares iriam jogar na reta final do Brasileirão e escalou mais reservas na trajetória tricolor. O time terminou a competição na 7ª colocação, com 16 vitórias, 8 empates, 14 derrotas, 51 gols marcados e 47 gols sofridos. A delegação viajou para a Arábia Saudita no começo de dezembro e chegou no dia 13, em Jeddah. Após se adaptar ao país, o time iniciou os treinamentos com força máxima e viu o Al Ahly-EGI eliminar o badalado Al-Ittihad-ARS, de Benzema, Kanté, Fabinho e companhia com uma vitória por 3 a 1, sendo 3 a 0 só no primeiro tempo. Com isso, os egípcios foram os adversários do Flu na sempre perigosa semifinal, etapa na qual os sul-americanos começaram a tropeçar a partir de 2010 e possibilitaram equipes de outras confederações a disputarem a decisão, como nas edições de 2013, 2016, 2018, 2020 e 2022. 

Foto: Iconsport

 

A semifinal, como de praxe, foi muito tensa, com os egípcios assustando bastante no primeiro tempo e nos contra-ataques. O Flu, por sua vez, também tentou o gol, principalmente em chute de Arias que bateu na trave. No segundo tempo, o tricolor voltou melhor, tomou a iniciativa e abriu o placar em cobrança de pênalti convertida por Jhon Arias, após Marcelo dar uma caneta no marcador e ser derrubado dentro da área. A partir dali, o Al Ahly tentou desesperadamente o gol de empate, mas Fábio, impecável, não deixou sua meta ser vazada. O Flu manteve a bola no ataque e, após as mudanças de Diniz, ficou mais rápido e letal quando John Kennedy, o iluminado, entrou. O camisa 9 mais uma vez mostrou seu talento ao marcar um lindo gol após limpar o marcador, ajeitar para a canhota e fuzilar o goleirão: 2 a 0. Flu na final! 

No dia seguinte, o Manchester City confirmou o favoritismo, venceu o Urawa Red Diamonds-JAP por 3 a 0 e garantiu sua vaga na decisão contra o time brasileiro. Era o confronto tão esperado entre Pep Guardiola e Fernando Diniz, técnicos adeptos do futebol ofensivo, da rotação e da posse de bola. Claro que o time do espanhol era super favorito, mesmo com os desfalques de Haaland e De Bruyne, mas o futebol nunca foi lógico e havia, sim, a esperança do lado tricolor. Em entrevista, Diniz comentou sobre o rival. “No futebol nada é impossível. A gente sabe que o City é a melhor equipe do mundo, mas também é fato que se a gente não jogar com muita seriedade tudo pode acontecer”.

Todas as expectativas de alguma equiparidade que o torcedor tricolor tinha ruíram antes do primeiro minuto da final. Em uma saída de bola equivocada, Marcelo acabou chutando para o meio de campo e a bola sobrou nos pés de Aké. O defensor avançou e chutou. A bola bateu na trave e, no rebote, Julian Álvarez marcou de peito o primeiro gol do City, aos 40 segundos: 1 a 0. Foi um baque tremendo para as pretensões do Flu. Nos minutos seguintes, a equipe manteve seu estilo de jogo, foi corajosa, teve 76% de bola em determinado momento, mas não conseguiu marcar – na melhor chance, Cano recebeu livre e foi derrubado pelo goleiro, mas antes da marcação de pênalti, ele estava impedido. Aos 27’, o City fez o segundo, após Rodri dar um excelente passe para Foden, que recebeu na área e cruzou rasteiro. Nino tentou cortar e desviou para o fundo do próprio gol. Ali, a esperança do título histórico acabou de vez. Arias ainda cabeceou bem e exigiu a boa defesa de Ederson, mas marcar um gol naquele esquadrão inglês era difícil.

John Kennedy entrou na segunda etapa, mas nada mudou. O City seguiu dono do jogo e capaz de fazer mais a qualquer momento e quando bem quisesse. E, aos 72’, em novo vacilo da zaga, Álvarez cruzou e Phil Foden só completou dentro da área: 3 a 0. Por mais que o Flu tenha mantido seu estilo de jogo, o City de Guardiola era muito para o tricolor. Nos minutos finais, Álvarez marcou mais um e decretou a goleada: 4 a 0. Naquela decisão, a diferença técnica das duas equipes ficou explícita. E isso que o City não usou De Bruyne e Haaland, ambos lesionados…

Para sempre

Arte: Perfil do Fluminense FC nas redes sociais.

 

Mesmo sem o título Mundial, a façanha do Fluminense em 2023 na Libertadores já merece seu lugar na história por ser o título que o clube tanto quis e tanto sonhou. O vice de 2008 foi traumático demais, quase levou o clube ao fundo do poço já em 2009, mas ali nasceu o time de guerreiros, que deu ao clube dois Brasileiros e moldou uma essência que foi transformada novamente com requintes de arte por Fernando Diniz. E, superando tudo e todos, esse esquadrão alcançou o olimpo do futebol sul-americano. E, vamos combinar que um time que enfia 5 a 1 no River, vence como venceu três campeões no mata-mata e vence o Boca em uma final, não merece outra coisa a não ser a imortalidade. Afinal, como diria Nelson Rodrigues, “o Fluminense nasceu com a vocação da eternidade…Tudo pode passar…Só o tricolor não passará jamais.” Muito menos o esquadrão de 2023. Imortal.

 

Os personagens:

 

Fábio: muitos questionaram a contratação do veteraníssimo goleiro em 2022. Porém, jogo a jogo, ele provou que ainda estava digno de seus melhores momentos e que era, sim, um dos melhores goleiros do país. Sempre bem colocado, com os reflexos impressionantemente apurados para sua idade e experiente, Fábio foi o guardião que o Flu precisava para alcançar a glória eterna. Mesmo com o estilo de jogo ofensivo e ousado de Diniz, o camisa 1 soube se adaptar, melhorou os fundamentos para jogar com os pés e fez jogos espetaculares, além de dezenas de defesas que jamais sairão da memória do torcedor. Ele completou 100 jogos em Libertadores exatamente na final. E, nela, conquistou o título que havia lhe escapado em 2009, quando perdeu a final para o Estudiantes defendendo o Cruzeiro. Fábio já está na galeria de imortais do Flu.

Samuel Xavier: muito técnico, com boa visão de jogo e extremamente regular, o lateral-direito entendeu perfeitamente a visão do técnico Diniz e foi titular absoluto nessa jornada tricolor. Além de contribuir com passes, marcou gols fundamentais, como os dois nas partidas contra o Argentinos Juniors, nas oitavas de final. Samuel Xavier chegou ao Flu em 2021 e já acumulou quase 150 jogos pelo tricolor.

Guga: após conquistar vários títulos pelo Atlético-MG, o lateral foi contratado no final de 2022 para a temporada de 2023 para reforçar o elenco e ser uma peça de reposição caso Samuel Xavier não pudesse jogar. Eficiente, fez bons jogos ao longo da temporada e não comprometeu quando entrou. Quase marcou um gol na decisão, mas a trave impediu seu tento.

Nino: contratado em 2020, o zagueiro assumiu a titularidade graças aos grandes jogos e espírito de liderança. Eficiente no jogo aéreo (1,88m), Nino se destacou também pela marcação e cobertura. Campeão olímpico pela seleção em Tóquio-2020, Nino teve a honra de erguer a taça da Libertadores e já acumulou mais de 220 jogos pelo Flu. Deve deixar o clube em 2024 para jogar no futebol europeu.

Marlon: o zagueiro revelado pelo Flu já havia atuado pelo clube entre 2014 e 2017, foi jogar no futebol europeu e retornou em 2023 por empréstimo. Com a titularidade absoluta da dupla Nino e Felipe Melo, teve poucas chances, mas foi bem quando exigido.

Felipe Melo: bicampeão da Libertadores pelo Palmeiras, Felipe Melo virou tri pelo Flu e foi o xerife da defesa na campanha do título. O defensor deixou para trás as atuações ruins de 2022 para se concentrar e jogar bem em 2023. Levou menos cartões, não teve expulsões que pudessem prejudicar o Flu e conseguiu sua redenção com o título histórico. Desde 2022 no tricolor, Felipe Melo já tem 81 jogos pelo clube das Laranjeiras.

David Braz: outro atleta experiente do elenco, foi contratado em 2021 e atuou mais nos jogos pelo Brasileirão, para dar fôlego aos titulares. 

Marcelo: multicampeão pelo Real Madrid, o consagrado lateral-esquerdo chegou como principal contratação do futebol brasileiro em 2023 e não escondeu de ninguém que queria ser campeão de algo grande pelo Fluminense, clube que o revelou. E, com sua técnica impecável, experiência e visão de jogo, Marcelo foi um dos destaques da campanha do título e também da conquista do Carioca, quando marcou o gol que abriu a goleada de 4 a 1 sobre o Flamengo. Embora tenha vivido um drama no fatídico lance que ocasionou sua expulsão contra o Argentinos Juniors, Marcelo retornou e participou dos jogos decisivos da reta final da campanha. Ele atuou em 8 dos 13 jogos da trajetória continental.

Diogo Barbosa: lateral com passagem por vários clubes, chegou de graça em 2023 e foi outra contratação certeira do Flu. Assumiu a posição em alguns jogos, sendo 12 na Série A e 5 na Libertadores, incluindo a final, quando quase marcou um gol e participou da jogada do gol do título.

Martinelli: meio-campista versátil, capaz de atuar mais recuado e também mais à frente, foi revelado pelo Flu e começou a jogar em 2020. Já tem mais de 160 jogos pela equipe e foi um dos atletas mais utilizados por Diniz na temporada. Atuou em 8 dos 13 jogos do Flu na Libertadores.

Lima: o meio-campista também foi bastante utilizado ao longo da temporada graças à versatilidade e fôlego. Disputou 11 dos 13 jogos da campanha da Libertadores e, no Brasileirão, marcou seis gols em 28 jogos disputados.

Alexsander: cria de Xerém, subiu para o time profissional graças ao técnico Diniz, que apostou no jovem para compor o meio de campo ao lado de André. Deu certo e o meio-campista foi muito bem não só na marcação, mas também no apoio ao ataque. Na Libertadores, disputou 7 jogos e deu uma assistência, além de ter marcado um dos gols na final do Carioca diante do Flamengo. 

André: cobiçadíssimo pelos clubes do exterior, o jovem tricolor permaneceu em 2023 e foi mais uma vez um dos principais atletas do time. Rápido, inteligente, com passes precisos, marcador implacável, especialista em interceptações e onipresente, André é um dos expoentes do estilo de jogo de Diniz e virou ídolo da torcida, além de ser convocado constantemente para a seleção. André disputou todos os jogos da campanha do título continental e marcou um gol. Na Libertadores, o meio-campista foi o jogador que mais acertou passes (93%), que mais efetuou desarmes (36 vezes) e que mais recuperou bolas (107 vezes). Já tem mais de 160 jogos com a camisa tricolor e ganhou a Bola de Prata em 2022. Outro que deve reforçar algum clube da Europa em 2024.

Jhon Arias: um verdadeiro furacão pela ponta-direita, Jhon Arias foi uma das maiores contratações do Flu nos últimos anos. Ele chegou em 2021 e, com Diniz, cresceu ainda mais de produção. Especialista em assistências, deu vários e vários gols para Cano, além de ele também marcar tentos decisivos. Em 2023, já são 13 assistências para gols e 9 gols marcados, sendo dois gols e três passes para gols na Libertadores, competição que ele atuou em todos os 13 jogos. Muito importante na parte tática, Arias já acumulou 136 jogos, 26 gols e 30 assistências pelo Flu desde 2021.

Yony González: o colombiano teve uma boa passagem pelo Flu em 2019 e retornou em 2023 para compor o elenco. Não foi titular, mas entrou em algumas oportunidades. Na Liberta, foram 3 jogos e uma assistência.

Ganso: o maestro redescobriu seu futebol com Fernando Diniz e se transformou no grande articulador de jogadas no meio. Com sua técnica irrepreensível e a qualidade no passe que só ele tem, o meia foi decisivo e lembrou alguns momentos do seu auge lá no Santos. No Flu desde 2019, Ganso brilhou já em 2022, quando marcou cinco gols e deu cinco assistências nos 33 jogos da Série A do Brasileirão. Em 2023, deu uma assistência para gol na final do Carioca e mais 7 no Brasileirão. Na Libertadores, atuou em 12 jogos, deu uma assistência e foi o elo que fez funcionar o tridente Arias, Keno e Cano. Já tem quase 200 jogos pelo Flu na carreira.

John Kennedy: depois de quase ser dispensado pelo tricolor, John Kennedy foi recuperado por Fernando Diniz e provou ser uma das grandes revelações do futebol brasileiro na atualidade. Com o apoio dos atletas mais experientes e as dicas de Cano nos treinamentos de finalização, Kennedy se tornou uma arma poderosa do setor ofensivo com seus dribles, personalidade, velocidade e, claro, gols. Em 10 jogos na Libertadores, o atacante marcou 4 gols, deu 4 assistências e fez gols simplesmente em todas as etapas eliminatórias da competição. O gol do título foi dele, após a profecia de Diniz, e foi o melhor jeito que o camisa 9 encontrou para agradecer a confiança que o treinador, o clube e a torcida deram a ele. Simplesmente decisivo. 

Keno: após brilhar no Galo do Triplete, o atacante voltou a ser decisivo no Fluminense em 2023 por construir jogadas pelos lados esquerdo e direito do ataque e ser o principal garçom do time na campanha do título da Libertadores. Em 10 jogos, Keno deu 5 assistências, duas delas na grande final contra o Boca. Rápido e incansável, Keno foi essencial na trajetória tricolor e no plano tático de Diniz.

Lelê: o atacante chegou após o bom Campeonato Carioca que fez pelo Volta Redonda e ajudou a encorpar mais o elenco tricolor. Disputou 8 jogos na Libertadores, sempre entrando no decorrer dos jogos, além de 24 partidas no Brasileirão.

Germán Cano: o que dizer de Cano? Do artilheiro de um só toque? Do atacante que marcou 60 dos 81 gols que já fez pelo Flu com um toque só na bola? Do maior artilheiro em uma só Libertadores no século XXI? Do artilheiro do Brasileirão de 2022 com 26 gols? Do artilheiro do Brasil em 2022 com 44 gols e 3º maior artilheiro do mundo, atrás “apenas” de Haaland e Mbappé? O que dizer do homem que marcou gols lendários, que destroçou rivais, que se movimenta, que confunde zagueiros, que marca gols com uma precisão absurda? Do atacante que chuta do jeito que dá, que antevê as jogadas, que sabe onde ficar, como ficar. Que abriu o placar na final diante do Boca? Que fez o torcedor ganhar um ídolo quando perdeu outro, Fred, em 2022? Germán Cano já está no mesmo nível que Telê, Waldo, Assis, Ézio, Fred e tantos outros goleadores do Flu. Ele já é o maior artilheiro do tricolor em Libertadores. Em 2023, já tem 37 gols em 55 jogos, além de 3 assistências. Eu pergunto de novo: o que dizer de Germán Cano? Bem, acho que eu já disse!

Fernando Diniz (Técnico): ele sempre expôs suas ideias através de seus times. Criticado e amado nas mesmas proporções, arranca as mais diversas opiniões. Porém, a unanimidade era: “ah, de que adianta jogar bem, fazer isso ou aquilo se ele nunca ganhou nada!?”. Pois a temporada de 2023 ficou marcada pela redenção de Fernando Diniz como técnico e sua imortalidade na história do Fluminense, clube que ele sempre nutriu muito carinho. Em 2022, quando chegou, Diniz começou a moldar sua “máquina” garimpando os jovens das categorias de base, baseando seu jogo em pilares essenciais na defesa, meio de campo e ataque e formou um esquadrão que conquistou a América jogando bonito quando possível, com raça quando necessário. O Flu de 2023 foi o maior trabalho autoral de Diniz. Um time com a cara dele, o pensamento dele. E mereceu demais um troféu para a eternidade. Se ele pode vencer mais? Com certeza. Essa história está apenas começando. 

 

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Muito obrigado por ter feito esse texto maravilhoso sobre o meu Fluzão desse ano, que ficará marcado pra sempre na memória. Eu não vi a final de 2008, tinha apenas 4 anos, mas pude ver essa final e foi incrível, eu costumo dizer que tem dois pontos de vista de quem viu esse jogo, os que viram 2008 e os que não viram, mas esses dois tem algo em comum, ambos viram a glória eterna de 2023!!!!

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