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Esquadrão Imortal – Santo André 2004

Em pé: Júlio César, Dirceu, Ronaldo, Romerito, Alex, Ramalho, Gabriel e Júnior Costa. Agachados: Dedimar, Osmar, Dodô, Careca, Da Guia, Makanaki, Tássio, Sandro Gaúcho, Nelsinho e Élvis.

 

Grandes feitos: Campeão da Copa do Brasil de 2004. Conquistou o maior título da história do futebol do Grande ABC.

Time-base: Júlio César (Júnior Costa); Dedimar, Alex e Gabriel; Nelsinho (Da Guia), Dirceu (Cléber Gaúcho / Marquinhos), Ramalho (Vander), Élvis (Tássio / Dodô / Barbieri) e Romerito (Alexandre); Sandro Gaúcho (Fumagalli / Edmílson) e Osmar (Makanaki / Jean Carlos). Técnicos: Luiz Carlos Ferreira e Péricles Chamusca.

 

“A Saga do Ramalhão: valente, forasteiro e campeão do Brasil”

Por Guilherme Diniz

ABC Paulista, 1984. Comandado por Jair Picerni, o Santo André disputa o Campeonato Brasileiro da Série A pela primeira vez em sua história, e, com uma campanha surpreendente, termina na 10ª posição entre os 41 participantes. Dos grandes jogos do time, destaque para a vitória por 1 a 0 sobre o Grêmio, então campeão da Libertadores e Mundial (leia mais clicando aqui) jogando em casa, e o alucinante empate em 4 a 4 com o mesmo Grêmio, no Sul. A equipe ainda jogou contra o time olímpico do Brasil em um amistoso no Morumbi, em junho daquele ano, e empatou em 3 a 3. Foi um ano inesquecível, o melhor da história de um clube novato, fundado em 1967 como Santo André FC, e, em 1975, consolidado como EC Santo André. Porém, o breve lampejo nunca mais se repetiu. No ano seguinte, por conta do bagunçado regulamento, o clube do ABC não participou da edição de 1985 do torneio nacional e seguiu longe dos holofotes. No novo milênio, eis que prósperos ventos começaram a soprar pelas bandas do Parque Jaçatuba e do Estádio Bruno José Daniel. Em 2003, o clube venceu a Copa São Paulo de Futebol Júnior de maneira invicta, subiu para a Série B do Brasileiro e venceu a Copa Estado de São Paulo, esta que lhe deu o direito de disputar a Copa do Brasil pela primeira vez, em 2004.

E, no ano em que comemorava 20 anos do dourado 1984, o Santo André fez história. E que história. Ninguém notou quando ele passou pelo Novo Horizonte na primeira fase da competição nacional. Alguns ficaram abismados quando ele eliminou o Atlético-MG na segunda fase. Os olhares se atentaram quando os azuis e brancos passaram pelo Guarani. E a ficha caiu de vez quando entupiram o Palmeiras e o 15 de Novembro de gols e alcançaram a final. Nela, todos imaginaram “pronto, mais uma zebra que já deu o que tinha que dar” quando eles empataram em 2 a 2 com o Flamengo, em casa, e viajaram até o Rio para decidir a taça no Maracanã. Nunca que eles iriam vencer o rubro-negro e sua massa no Templo do Futebol com mais de 70 mil pessoas.

Jamais, todos pensaram. Até as reportagens em jornais e revistas davam como certa a vitória carioca. Seria a primeira vez na história do próprio Santo André que ele iria jogar num estádio tão cheio. E, contra todos os prognósticos e expectativas, os 11 jogadores que vestiam o azul e branco do Ramalhão fizeram história. Não empataram. Não levaram gols. Marcaram dois, ambos no segundo tempo. Um placar maiúsculo. Um jogo de autoridade. Ao apito do árbitro, se tornou o primeiro clube do ABC a conquistar um torneio da elite do futebol brasileiro. Algo que nem o badalado São Caetano da época conseguiu. E logo em sua primeira final. Assim como o fundador de sua cidade, João Ramalho – português que vivia entre os índios na vila de Santo André da Borda do Campo, criada em 08 de abril de 1553 após o pedido de Ramalho ao governador-geral Tomé de Souza, que se chamaria, tempo depois, apenas Santo André -, o Santo André de 2004 era valente.

Não se importava com os inimigos cheios de histórias e títulos e se impunha com um futebol ofensivo e jogadores entrosados. Foi um forasteiro, conseguindo seus melhores resultados fora de seus domínios contra Novo Horizonte, Guarani, Palmeiras, 15 de Novembro e Flamengo. Foi campeão, com uma incrível autoridade que levou para o ABC Paulista uma taça inédita. Assim como em 1984, a grandeza do time durou apenas uma temporada. Mas quem ligou? Foi o suficiente para colocar o clube na história. E na lista de carrascos dos grandes clubes do futebol brasileiro. É hora de relembrar.

 

Nos embalos de um ano vertiginoso

Em 2003, o Santo André venceu a Copinha de maneira invicta. Foto: EC Santo André.

 

Após um hiato que já perdurava quase vinte anos, o Santo André começou a mudar sua história em janeiro de 2003. Naquele mês, o clube venceu de maneira invicta a Copa São Paulo de Futebol Júnior, com triunfo nos pênaltis sobre o Palmeiras. Daquele time, foram direto para o time principal o goleiro Júnior Costa, os zagueiros Gabriel e Alex, o volante Dodô, o meia Tássio e o atacante Nunes. Richarlyson, lateral-esquerdo, foi para o Fortaleza e acabaria voltando ao Santo André em 2005, até se transferir para o São Paulo. Foi o fruto de um trabalho que começou lá em 1999 pela diretoria do clube intitulado “Jovem Santo André”, que tinha como objetivo formar jogadores de talento. A equipe iria revelar, além deles, outros nomes conhecidos nos anos posteriores como Rodrigo Tabata (este teve uma breve passagem pela base do Paulista de Jundiaí antes de ir para os juniores do Ramalhão), Willians, Junior Dutra, Maikon Leite e Ricardo Goulart. O volante Ramalho também era cria das bases, mas de uma geração anterior à do título de 2003.

Ferreira, técnico que começou a montar o Ramalhão em 2003. Foto: BD DGABC.

 

Com os campeões da Copinha em campo, a base já comandada pelo técnico Luiz Carlos Ferreira e reforços pontuais (entre eles o meia Élvis), o time fez uma boa campanha no Campeonato Brasileiro da Série C e subiu após terminar na segunda colocação a fase final, atrás apenas do campeão, o Ituano. Dias depois, o Ramalhão reencontrou o mesmo Ituano na decisão da Copa Estado de São Paulo, segunda principal competição organizada pela Federação Paulista de Futebol e que dava ao campeão uma vaga na Copa do Brasil do ano seguinte. No primeiro jogo, em Itu, vitória dos donos da casa por 1 a 0. Na volta, porém, o Ramalhão tratou de acabar com a chance de ser vice pela segunda vez diante do rival e goleou por 4 a 1 jogando em casa e faturou mais um título inédito. Foram três grandes conquistas na temporada: os troféus da Copa SP de Juniores e da Copa Estado de SP mais o acesso à segunda divisão.

O goleiro Júnior Costa, vibrando após a decisão da Copa SP de Juniores, subiu para os profissionais em 2003.

 

Ciente do bom trabalho realizado, a diretoria manteve boa parte dos jogadores e o técnico Ferreira para a temporada de 2004. A meta era continuar a ascensão, garantir uma vaga para a segunda fase do Campeonato Paulista, tentar o acesso à primeira divisão no Brasileiro e ir o mais longe possível na Copa do Brasil. O problema era a falta de estrutura do time, e, claro, de reforços à altura para brigar com os titãs do futebol de SP e do Brasil na época. Com modesto aporte financeiro de parceiros e da prefeitura da cidade, era difícil, quase uma arte, manter as contas saudáveis. Por isso, o clube vivia negociando seus atletas para conseguir fazer dinheiro. A qualquer momento, alguém poderia sair, mesmo que o trabalho do técnico fosse bom ou que o time estivesse em um bom momento em determinado campeonato.

Em termos de estrutura, o grande problema era o estádio Bruno José Daniel. Nos dias chuvosos, os jogadores tinham que treinar debaixo das arquibancadas do estádio ou mesmo em ginásios, pois a drenagem do gramado era péssima. Sobretudo, o elenco tinha jogadores que haviam sido preteridos em seus antigos clubes, como Dedimar (ex-Vitória, Palmeiras e Atlético-MG), Élvis (ex-Vitória) e Romerito (ex-Corinthians e São Caetano). No Ramalhão, eles viam a oportunidade de provar seus valores e eficiência em campo. Com a integração ao elenco profissional de Makanaki, outro da base que podia atuar como atacante ou meia, o time tinha mais da metade dos atletas formada em casa. Era hora de ver até onde aquela equipe poderia chegar.

 

Como sobreviver às mudanças?

A temporada do Ramalhão começou no Campeonato Paulista, em janeiro, com vitória em casa sobre o Oeste por 3 a 1. Em seguida, no clássico regional contra o São Caetano, o time empatou sem gols (fora) e venceu o União São João por 4 a 3, em casa. Naqueles três jogos, dava para ter uma noção do que seria a máxima daquele time: ataque prolífico e perigoso, defesa inconstante. Nas partidas seguintes, o time acabou tropeçando diante dos adversários mais fortes (derrota por 3 a 1 para o Santos e 4 a 2 para o Palmeiras), perdeu para o Paulista por 2 a 0, venceu Marília (4 a 2) e Mogi Mirim (1 a 0) fora de casa, e bateu o Guarani por 4 a 3, em casa. No entanto, o empate em 1 a 1 com o Ituano, em casa, acabou custando uma vaga na segunda fase. O Ramalhão ficou na quinta posição do grupo, dois pontos atrás do Azulão, com cinco vitórias, dois empates e três derrotas em 10 jogos. Fumagalli, com cinco gols, foi o artilheiro do time na competição.

Durante sua participação no Paulista, o time do ABC começou sua caminhada inédita na Copa do Brasil. A competição havia sido vencida pelo Cruzeiro, em 2003 (leia mais clicando aqui), e era o caminho mais rápido à época para a Copa Libertadores. Desde sua criação, em 1989, poucos clubes conseguiram interromper a hegemonia dos chamados grandes até aquele ano. As exceções eram o Criciúma de Felipão, em 1991 (leia mais clicando aqui), e o Juventude de 1999 (que você vai conhecer em breve aqui no Imortais). Brasiliense (em 2002), Ceará (em 1994) e Goiás (em 1990) bem que tentaram aumentar a lista das chamadas zebras, mas ficaram com o vice nos respectivos anos citados.

Ou seja, era um torneio seletíssimo e muito complicado de se vencer. Por mais que fosse de tiro curto, as partidas de ida e volta e o critério de gols marcados acabavam dificultando bastante a vida dos clubes pequenos. Sabendo disso, o Santo André começou sua caminhada disposto a marcar o máximo de gols possíveis em casa ou fora dela a fim de ter alguma chance contra os rivais. Vale lembrar que nas duas primeiras fases, se o visitante vencesse por dois gols ou mais, eliminava a partida de volta e se classificava automaticamente.

Ramalho, volante do Santo André em 2004. Foto: Fabrício Cortinove.

 

A estreia foi a melhor possível: goleada de 5 a 0 sobre o Novo Horizonte, fora de casa, resultado que classificou o time para a segunda fase. No duelo seguinte, o primeiro grande desafio: o Atlético-MG, que, embora não estivesse em sua melhor fase, tinha o peso de sua camisa e a força do Mineirão. Mas, no primeiro duelo, no ABC, o Ramalhão não tomou conhecimento do tradicional adversário e venceu por 3 a 0, gols de Edmílson, Dedimar (cobrando falta) e Jean Carlos. O time poderia perder por até dois gols a partida de volta que ainda sim estaria classificado. Mas o temor de uma eliminação começou a rondar o clube. Motivo? A debandada de jogadores iniciada entre março e abril. Cléber Gaúcho e Fumagalli foram para o Criciúma e Marília, respectivamente, Vander foi para a Ponte Preta e Alexandre e Cláudio também saíram. Edmílson, autor de um dos gols na vitória sobre o Galo, idem. Para piorar, o técnico Luiz Carlos Ferreira era sondado pelo Sport.

Mesmo com a chance de disputar as oitavas de final, o time sofria perdas consideráveis em todos os setores. No entanto, a diretoria tentou amenizar o problema. Para o ataque, trouxe Barbieri, 24 anos, e Sandro Gaúcho, experiente atacante de 36 anos na época e com uma passagem pelo próprio Santo André, no começo dos anos 2000. Além deles, renovou os contratos de Dedimar, Da Guia e Élvis. No entanto, ficava a pergunta: mesmo já sem o Campeonato Paulista na agenda, será que a equipe iria conseguir sobreviver ao Galo no Mineirão, aos desfalques e seguir viva na Copa?

 

Vivos! E mudança no comando

Chamusca assumiu o Santo André em um momento difícil na temporada. Foto: Fernando Santos / Folha Imagem.

 

No duelo contra o Atlético-MG, no Mineirão, o Santo André sofreu, mas conseguiu se segurar após levar dois gols, e, mesmo com a derrota por 2 a 0, se garantiu nas oitavas de final da competição. O time conseguiu ter a posse de bola quando necessário e soube se fechar para evitar mais gols do adversário. Era o primeiro titã derrotado pelo Ramalhão. O rival seguinte foi o Guarani, outro campeão brasileiro (leia mais clicando aqui). No duelo de ida, em Campinas, Dedimar abriu o placar para a equipe do ABC, mas o veterano Viola empatou. O placar seguiu assim e o Santo André foi para a partida de volta com a vantagem de jogar por um empate sem gols. Dito e feito, o jogo terminou 0 a 0 e garantiu o Ramalhão nas quartas de final. O adversário seguinte seria o Palmeiras, embalado após voltar à primeira divisão e com Vágner Love em grande fase.

Porém, justo no momento mais complicado para a sequência do time na competição, duas “bombas” caíram no Parque Jaçatuba: a primeira foi quando Luiz Carlos Ferreira aceitou uma proposta do Sport e deixou o comando da equipe. A segunda, ainda em maio, quando o clube foi punido pela escalação irregular de Osmar e Valdir nos dois primeiros jogos da Série B do Campeonato Brasileiro e perdeu 12 pontos na classificação. Parecia que tudo conspirava contra o Ramalhão! Mas todos trataram de manter a calma. Para o lugar de Ferreira, a diretoria trouxe Péricles Chamusca, treinador com experiência na Copa do Brasil após ter comandado o surpreendente Brasiliense vice-campeão da competição em 2002. A chegada do treinador não atrapalhou em nada o andamento do time andreense. Ele manteve a base titular de seu antecessor e uniu o grupo em busca de novas façanhas. Sandro Gaúcho falou sobre aquele momento da equipe em entrevista exclusiva para o Imortais:

 

“Houve a reformulação e eu fui um dos atletas que chegaram. Meu primeiro jogo foi contra o Guarani, em casa. Depois, com a saída do Ferreira, que eu conhecia de outros anos, veio o Chamusca, uma pessoa inteligente, tranquila e que conquistou o grupo. A liderança dele foi muito importante”.Sandro Gaúcho, em entrevista ao Imortais, 04 de abril de 2018.

Sandro Gaúcho, segundo maior artilheiro da história do Ramalhão com 58 gols e entrevistado do Imortais neste texto! Foto: EC Santo André.

 

Era hora de um novo ressurgimento do Ramalhão. E de muito empenho para encarar seu maior desafio àquela altura: o Palmeiras, que vinha de quatro jogos sem derrota e duas goleadas, uma de 4 a 0 sobre o rival Corinthians e outra de 3 a 0 sobre a Ponte Preta.

 

Máquina de gols…

No primeiro duelo, no ABC, o gramado esburacado do Bruno Daniel prejudicaria demais a partida entre Santo André e Palmeiras. Mas, se não dava para construir grandes jogadas tocando a bola, seria pelo alto que o jogo iria acontecer. O Verdão abriu o placar com Diego Souza, aos 14’, após escorar uma bola de cabeça em cobrança de escanteio. Mas o Ramalhão era o dono da casa, sabia de onde chutar e quais eram os melhores trechos do gramado. Foi assim que Osmar, num chutaço de fora da área, venceu o goleirão Marcos e empatou o jogo: 1 a 1. A equipe da casa se empolgou e partiu pra cima, mas deixou muito espaço para o rival. Com isso, Da Guia cometeu pênalti em Vágner Love e o colombiano Muñoz bateu para fazer 2 a 1. Aos 43’, o Santo André teve uma falta a seu favor. Na cobrança, Barbieri chutou com efeito, a bola desviou em Diego Souza e matou o goleiro Marcos: 2 a 2.

Na segunda etapa, o Palmeiras voltou nervoso e levou três cartões amarelos em apenas quatro minutos. O gigante sentia a pressão do Ramalhão! Aos 14’, Osmar cruzou na área e o matador Sandro Gaúcho, de cabeça, virou para o time da casa: 3 a 2. O técnico do Palmeiras, Jair Picerni, já temia pelo pior e resolveu mexer no time. Com mais marcação no meio de campo, o alviverde conseguiu conter o ímpeto do Santo André e chegou ao gol de empate em uma bola parada, quando Leonardo escorou de cabeça um chute de Claudecir. Ao final do jogo, o 3 a 3 ficou de bom tamanho para ambas as equipes, mas, claro, todos davam como certa a classificação do Palmeiras, que precisava de uma vitória simples em sua casa lotada ou empates em 0 a 0, 1 a 1 ou 2 a 2 para avançar às semifinais.

 

… E de emoções aéreas!

No dia 20 de maio de 2004, o antigo e nostálgico Palestra Itália estava lotado. Iluminado. A fanática torcida do Palmeiras via uma chance enorme de seu time avançar às semifinais da Copa do Brasil e confirmar a ascensão que vinha desde o acesso de 2003. Mas, do outro lado, estava o Santo André, que sabia exatamente como sair do estádio palestrino com a classificação: explorando as bolas aéreas. Era mais do que fato – e até a própria torcida palmeirense sabia – que o alviverde sofria sérios problemas nas bolas alçadas em sua área. E, logo aos 12’, após cobrança de escanteio, Sandro Gaúcho subiu mais do que todo mundo, testou firme para baixo e fez 1 a 0 Ramalhão. Seis minutos depois, Marcinho chutou, Vágner Love desviou, e a bola entrou: 1 a 1. Minutos depois, Lúcio cruzou e Correa, com a mão, virou, para ira dos jogadores do Santo André. Mas, aos 20’, Osmar subiu após cobrança de falta e, de cabeça, fez 2 a 2. Pronto. Era o limite do conforto para o Palmeiras. Qualquer gol a partir dali poderia mudar completamente o panorama do jogo, tanto para um time como para o outro.

Sandro Gaúcho manda pro gol: os quatro gols do Ramalhão foram de bola parada! Foto: GP.

 

Aos 39’, Baiano cobrou uma falta com categoria e fez 3 a 2 Palmeiras. Que jogaço! Quanta energia! No segundo tempo, o ritmo diminuiu, com as equipes preocupadas após a exposição excessiva no ataque. Aos 24’, Vágner Love fez mais um e ampliou para 4 a 2. A torcida fez a festa. A classificação estava mais do que assegurada, pensavam os alviverdes. O Santo André tinha cerca de 20 minutos para fazer pelo menos dois gols. Do lado de fora, Péricles Chamusca foi expulso por reclamação pelo árbitro. O Ramalhão ficava sem seu comandante. Mas o Palmeiras também viu Jair Picerni ser expulso por atrasar uma reposição de bola. Tinha de tudo naquele jogo!

O tempo foi passando e nada de gol. Até que, aos 34’, adivinhe, mais uma bola parada para o Ramalhão e Sandro Gaúcho, de novo testando para baixo, mandou uma bola indefensável para Marcos: 4 a 3. Drama no Palestra! O jogo já se encaminhava para os acréscimos quando o Santo André ganhou mais uma bola parada a seu favor. O torcedor do Palmeiras parecia não acreditar. Outra!? Quase todo mundo estava na área do goleiro Marcos. Entre eles, o reserva Tássio, cria das bases do Ramalhão e que havia entrado no decorrer do jogo. Quando a bola foi alçada, o garoto subiu e mandou mais uma bola para o gol rival: 4 a 4. Era exatamente o empate que classificava o Santo André. E que eliminava o Palmeiras. Foi surreal. Inacreditável. O Santo André estava na semifinal. Quatro gols pelo alto. Quatro gols de cabeça. Foi uma aula de bola aérea. Um pesadelo que jamais os torcedores do Verdão vão se esquecer. E um jogo histórico para o Ramalhão, que tinha certeza de uma coisa: o título não era mais um sonho distante. Era possível.

 

Fibra pura

Na semifinal, o Santo André teve pela frente o 15 de Novembro (RS), comandado por um ainda desconhecido técnico Mano Menezes. No primeiro jogo, disputado no Pacaembu em uma noite fria de outono, o Santo André acabou vítima do próprio veneno: a bola aérea. Os gaúchos sobraram e marcaram três gols de cabeça dos quatro que anotaram naquela noite. No segundo tempo, quando perdia por sonoros 4 a 1, o Santo André conseguiu encontrar seu espírito guerreiro e goleador e fez dois gols, com Tássio, num lindo chute de fora da área, e Osmar. O placar de 4 a 3 manteve o Ramalhão ainda vivo para a volta. Seria preciso pelo menos dois gols para a classificação. Uma “moleza” se considerarmos o histórico de gols marcados pela equipe. Mas a caminhada andreense ganhou mais um drama devido à ausência confirmada de seu técnico, Péricles Chamusca, suspenso por 60 dias após a expulsão no duelo contra o Palmeiras. Com isso, Sérgio Soares, que havia pendurado as chuteiras naquela temporada e era auxiliar técnico, comandaria o time em campo nos jogos seguintes.

Mano Menezes era o técnico do 15 de Novembro na época.

 

Na partida de volta, no estádio Olímpico, em Porto Alegre, o Santo André viu a vaga na final ficar mais distante quando o time da casa abriu o placar logo aos 10’, com Belmonte. Precisando de três gols, o time do ABC foi para cima e encontrou o empate no finalzinho da primeira etapa, após bela jogada individual de Sandro Gaúcho, que matou no peito, driblou dois zagueiros e estufou as redes do goleiro Marcelo: 1 a 1. No segundo tempo, o Ramalhão seguiu ofensivo e virou o jogo logo aos 6’, com Sandro Gaúcho, adivinhe, de cabeça, na arma mais letal daquele esquadrão: 2 a 1. Aos 18’, o prata da casa Makanaki acertou um belo chute de primeira após cobrança de escanteio e fez 3 a 1. O 15 de Novembro ainda tentou fazer um gol salvador, mas pecou na falta de pontaria e na bravura do forasteiro Santo André, que se segurou e saiu da gélida Porto Alegre com a classificação para a final e mais um resultado positivo longe de seus domínios. Contra todos os prognósticos, o Ramalhão estava na decisão da Copa do Brasil em sua primeira participação na história da competição. Era algo simplesmente incrível e histórico! E uma abrupta mudança de patamar que o clube teria que se adequar nas semanas seguintes.

 

Quem é o Santo André?

Sandro Gaúcho e Romerito, estrelas do Ramalhão.

 

A partir do momento em que garantiu uma vaga na decisão, o Santo André passou a conviver com o desconhecimento do público. A diretoria teve que contratar uma assessoria de imprensa para fazer um elo melhor entre atletas e jornalistas, que muitas vezes se confundiam e chamavam o time de “São Caetano”, por causa do vizinho que fazia sucesso na época e tinha características semelhantes ao próprio Ramalhão – azul e branco como cores predominantes, cidades próximas, ambas no ABC, amparados pelas prefeituras locais, santos no nome, torcida acanhada, troca frequente de atletas… Enfim, eram itens em comum que o presidente Jairo Livolis queria separar, como ele bem disse em reportagem da Folha de S. Paulo em 23 de junho de 2004.

“Tenho consciência de que é fácil confundir os dois. Como é fácil confundir o meu nome com o do presidente do São Caetano. O meu é Jairo, o dele é Nairo [Ferreira]. É um troca-troca danado”.

Fora de campo, a disparidade maior entre Santo André e São Caetano era, sem dúvida, na parte financeira. Enquanto o Ramalhão tinha uma folha salarial em torno de R$ 250 mil, a do vizinho superava R$ 1 milhão. E, dentro de campo, o Azulão já havia disputado duas finais de Brasileiro e uma de Libertadores, mas sem levantar o caneco em ambas. A sonhada taça “de elite” só veio naquele mesmo ano de 2004, com o título do Campeonato Paulista. Por tudo isso, o Santo André queria provar seu valor, bem como seus jogadores. Dedimar, capitão e líder do time, falou a respeito daquele momento:

 

“Comentamos muito entre nós que somos um time formado basicamente por jogadores desacreditados, que estiveram em grandes clubes, mas nunca foram valorizados. Encontramos no Santo André a oportunidade de direito de resposta.” – Dedimar, em reportagem da Folha de S. Paulo, 23 de junho de 2004.

 

Além de tudo isso, a mídia tratou de entender um pouco mais sobre o clube e diversas reportagens foram publicadas contanto a trajetória do time, o destaque para a maioria de jogadores formados nas bases do clube, a mescla com veteranos, a história do motivo de o clube ser conhecido como Ramalhão (!) e as técnicas motivacionais de Chamusca com o elenco, que incluía vídeos sobre Ayrton Senna, atletas paraolímpicos e psicologia, que ajudaram a reverter o cenário que ele encontrou lá em maio, quando o time não vencia há cinco jogos, perdera sete jogadores e ainda 12 pontos na Série B. Uma reviravolta completa que culminou com a chegada da equipe do ABC em uma surpreendente decisão de Copa do Brasil.

 

O empate dos detalhes

Negreiros (esq.), do Flamengo, durante a primeira partida contra o Santo André. Foto: GP.

 

Na grande final, o Santo André teve pela frente mais um titã: o Flamengo, treinado por Abel Braga e que havia despachado pelo caminho rivais como Santa Cruz, Grêmio e Vitória. O rubro-negro iria decidir em casa, no Maracanã, e apoiava suas ações em nomes como o goleiro Júlio César, o zagueiro Fabiano Eller, o lateral Athirson, os meias Ibson e Felipe e o atacante Jean. Por não possuir um estádio com capacidade adequada para a final, o Santo André mandou o primeiro jogo no estádio do Palmeiras, o Palestra Itália, que trazia boas recordações lá das quartas de final.

No entanto, mesmo com a torcida de outros clubes da capital e a disponibilização de 100 ônibus para os torcedores irem de Santo André até a São Paulo, o Ramalhão se viu em um território hostil. A imensa maioria da torcida era do Flamengo! Parecia que o time da casa jogava… Fora de casa! Oras, mas aquilo não seria problema para os comandados de Chamusca, afinal, eles eram os maiores forasteiros daquela Copa do Brasil. E, desde o início, o time provou muita maturidade com a bola nos pés e não sentiu a pressão de uma final nacional.

Osmar comemora: Santo André vivo na final! Foto: GP.

 

Embora tenha levado o primeiro gol, aos 26’ do primeiro tempo, o Ramalhão conseguiu manter a calma e pressionar o rival. Ainda na primeira etapa, Ramalho e Osmar, duas vezes, quase marcaram. No começo do segundo tempo, Romerito cruzou e Osmar, de cabeça, empatou: 1 a 1. O Ramalhão seguiu no ataque, sem medo, valente. Aos 15’, após uma sobra na área, a bola caiu nos pés de Romerito, que emendou um lindo chute e marcou um golaço: 2 a 1. Como marcava gols aquele esquadrão! Mas como levava também… Aos 39’, Athirson cobrou falta e empatou o jogo, erguendo a torcida rubro-negra, que saiu do Palestra Itália com a certeza de que seria campeã jogando em casa e levantaria “poeira”, como dizia o refrão de “Sorte Grande”, uma famosa música da época (da cantora Ivete Sangalo) adotada pela torcida flamenguista.

No dia seguinte, a imprensa tratou o empate carioca como crucial para o título. Ninguém mais apostava no Santo André, mesmo ele sendo forasteiro. Todos acreditavam que aquela zebra iria morrer no Maracanã lotado com mais de 70 mil pessoas. Eles não iriam aguentar. Porém, o empate deixou detalhes importantes para serem refletidos pelo Ramalhão, como bem disse Sandro Gaúcho.

 

“Dava para ter vencido aquele jogo, a característica da nossa equipe era guerreira, ir pra cima, que não desistia jamais. Sempre foi a cara do Santo André essa pegada. O time do Flamengo tinha jogadores experientes e percebemos que eles cansaram no segundo tempo. Nós tínhamos mais físico do que eles. Buscamos (o resultado) contra o 15 e contra o Palmeiras sempre nos minutos finais, então tínhamos a certeza de que poderíamos reverter aquele placar.”Sandro Gaúcho, em entrevista ao Imortais, 04 de abril de 2018.

 

O Santo André campeão do Brasil: mesmo com três zagueiros, o time era muito forte no ataque.

 

Com sua força demonstrada nas etapas finais dos jogos anteriores, o Santo André tinha em mente que poderia, sim, conquistar o título. A equipe iria tocar bem a bola no primeiro tempo, cansar o adversário e liquidá-lo nos 45 minutos finais. Um dia antes do jogo, a equipe treinou no campo do Fluminense, nas Laranjeiras, e recebeu o apoio da torcida tricolor, algo que ajudou muito na preparação da equipe.

 

Quando fomos um dia antes para o Rio, todos falavam que o Flamengo ia vencer. Treinamos nas Laranjeiras, a torcida do Flu foi lá dar uma força. Tínhamos o sentimento que dava para sair com a vitória. Absorvermos tudo aquilo. O Chamusca trabalhou muito a nossa equipe lá. Sabíamos que era difícil, mas não impossível.” Sandro Gaúcho, em entrevista ao Imortais, 04 de abril de 2018.

 

Concentrado, o Santo André treinou e se preparou. Faltava pouco para o jogo mais importante de sua história.

 

A epopeia “ramalheônica”

“Pela janela, passamos pela torcida do Flamengo e era uma multidão impressionante. Rua tomada. Deu frio na barriga. No início, não deixaram a gente entrar no campo para aquecer, só depois que conseguimos. Falaram que a festa estava preparada. E tudo foi juntando. Quando entrei e vi aquela multidão, foi um sonho. Só víamos aquilo na TV. Quando o juiz apitou, o frio na barriga passou e nos concentramos…”. A fala de Sandro Gaúcho resume bem o que era aquela decisão para o Santo André. O Maracanã era um mar de torcedores rubro-negros. Mais de 71 mil pessoas lotavam o gigante de concreto. Até o gramado estava diferente, com anéis olímpicos e bandeira do Brasil numa contagem regressiva para as Olimpíadas de Atenas daquele ano. Era dia de festa, acreditavam todos. Festa do Flamengo. Da maior torcida do Brasil. Mas, do outro lado, havia uma equipe que ouviu sem contestar tudo o que falaram sobre ela por uma semana. Um time que despachou rivais favoritos com altas doses de drama. Com viradas. Com gols nos últimos minutos. Encarando torcidas contra, frio, pressão, mudanças de elenco, de técnico, perda de pontos, técnico expulso. Olha quanta coisa! Mas eles estavam ali. E os “especialistas” ainda tinham coragem de dizer que eles não tinham chance? Ah, eles tinham. MUITA.

No primeiro tempo, o Ramalhão fez uma partida de estudo. De paciência. Tocou a bola. Marcou. Viu como o Flamengo iria jogar. Os goleiros não tiveram trabalho. Felipe, tão badalado, driblou, driblou, mas não construiu nada de proveitoso. Ao apito do árbitro, o 0 a 0 não saiu do placar. Naqueles 45 minutos, o Flamengo era campeão.

Aí veio a segunda etapa. O Santo André começou o seu jogo. De ataque puro. De pressão. Aos sete minutos, escanteio para o time do ABC. O primeiro do jogo para o esquadrão azul e branco. Justamente seu momento preferido. Bola aérea. Mesma que matou o Palmeiras. A redonda voou até a área e Sandro Gaúcho, livre, nem precisou pular muito para cabecear ao seu estilo, indefensável para Júlio César: 1 a 0. Erro crasso do time da casa. Nunca, em uma final, se deixa um artilheiro perito em gols de cabeça como Sandro Gaúcho sozinho na pequena área! Festa dos pouco mais de 300 torcedores do Ramalhão. A torcida do Flamengo não deixou eles fazerem barulho e começaram a gritar “Mengo”. Mas de nada adiantou. O Santo André não deixava o Flamengo jogar. Marcava muito. Tinha controle. Não sentia o misticismo do Maracanã.

Ele, o valente e forasteiro Ramalhão, que criava sua própria mística, sua própria história. Aos 22’, Osmar avançou pela esquerda, cruzou e Élvis apareceu para fazer 2 a 0. O Maracanã emudeceu. Os 300 torcedores do Santo André se fizeram ouvir. Os minutos se passaram e não se ouvia mais nada. O clima era fúnebre do lado rubro-negro. E de euforia do lado azul e branco. Em campo, o Santo André tocava a bola de maneira consciente, segura. Como legítimo campeão que estava se tornando. Sandro Gaúcho comentou sobre aqueles minutos mágicos do Ramalhão:

 

“Nós administramos o placar após meu gol, fizemos o segundo e sobramos fisicamente. O cansaço deles era visível. Os zagueiros deles falavam entre si que não acreditavam e eu falava ‘esse título é nosso, vocês vão lá e não conseguem (marcar), é nosso!’. E eles diziam ‘é, tá difícil…’.

Élvis vibra com o segundo gol: mão na taça! Foto: Arquivo / AE.

 

Aos 30’, a torcida do Flamengo já deixava o Maracanã. O Ramalhão era absoluto. Quando o árbitro apitou o fim do jogo, estava sacramentada a epopeia do Santo André, campeão da Copa do Brasil de 2004. No Maracanã. Contra o Flamengo. Em sua primeira participação na competição na história e em sua primeira grande final nacional da história. Era o primeiro clube do ABC a vencer um torneio daquele porte. Era a coroação do time que mais marcou gols, que mais aprontou sobre os rivais. Vitória de um esquadrão organizado e bem treinado. Obstinado. Predestinado. Em 11 jogos, foram quatro vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas, com 26 gols marcados (melhor ataque) e 17 sofridos.

O placar não estava errado: era vitória do Santo André mesmo!

 

A torcida do Flamengo, mesmo triste e irada com seu time, aplaudiu o Santo André. Como todo Brasil aplaudiu aquele modesto clube que, naquela noite, foi enorme. Na comemoração, os jogadores cantaram o refrão da música Sorte Grande e “levantaram poeira”. E a taça, claro.

 

“Foi um prêmio pela determinação, pela união, pela campanha dentro da competição, de luta. Revertemos um resultado quase impossível lá no Sul. Cada jogo teve uma história diferente, um histórico de muitos gols. Foi uma oportunidade única que aproveitamos. Pode ser que o clube consiga de novo, mas é difícil.” Sandro Gaúcho, em entrevista ao Imortais, 04 de abril de 2004.

 

A festa andreense: histórico!

 

O diário Lance! do dia seguinte foi genial no trocadilho em sua manchete, no topo, sobre o título do Santo André: o Maracanã virou Maracalhão!

 

 

Um feito para a eternidade

Na volta para casa, o Santo André desfilou em um caminhão do Corpo de Bombeiros pela cidade e levou milhares de pessoas às ruas. A comemoração durou dias e a taça foi a vedete na entrada do clube naquela época. No decorrer da temporada, o time perdeu vários jogadores importantes da conquista, mas fez questão de sair da zona de rebaixamento na Série B e terminou a competição em uma honrosa 14ª posição. Se não tivesse perdido 12 pontos, teria terminado na quinta colocação e conseguido uma vaga na segunda fase e, provavelmente, o acesso à Série A. Em 2005, disputou sua primeira Copa Libertadores, em um grupo com Cerro Porteño-PAR, Deportivo Táchira-VEN e Palmeiras.

Em casa, empatou em 2 a 2 com os paraguaios, venceu o “freguês” Palmeiras por 2 a 1 e goleou os venezuelanos por 6 a 0, uma das maiores goleadas de um clube brasileiro na história da competição! Mesmo assim, o time ficou um ponto atrás do rival brasileiro e terminou na terceira posição, fora da fase de mata-mata. Nos anos seguintes, o clube voltou à Série A em 2009, disputou a final do Paulista de 2010 e não venceu o título por detalhes, mas não conseguiu mais brilhar no cenário nacional desde então muito por causa do descaso da diretoria e péssimas administrações.

O torcedor andreense espera por novos tempos de ouro do seu querido Ramalhão. Enquanto eles não vêm, a lembrança de um título histórico permanece viva e intacta. Foi uma façanha impressionante, épica, digna de filme e que colocou o Santo André para sempre no rol dos imortais do futebol brasileiro. E nele o Ramalhão residirá, para o todo e sempre.

 

Os personagens:

Júlio César: era o titular da equipe na maioria dos jogos, mas uma contusão o fez perder vários jogos da Copa do Brasil. Felizmente, voltou a tempo de disputar a decisão e fez dois bons jogos. Era muito seguro e se colocava bem. Teve duas passagens pelo clube, de 2003 até 2006 e de 2009 até 2010.

Júnior Costa: após o título da Copinha de 2003, o jovem goleiro foi para o time titular e, mesmo ainda inexperiente, conseguiu ser titular na campanha de 2004 com a contusão do camisa 1 Júlio César. Pecou apenas nas falhas que cometeu na semifinal contra o 15 de Campo Bom. Acabou voltando para a reserva na decisão. Ficou quase nove anos no Ramalhão e deixou o clube em 2008.

Dedimar: capitão do Ramalhão imortal, Dedimar era o grande líder daquele time. Com muita raça e força de vontade, ajudava os companheiros em campo e fora dele. Atuava como lateral direito e também como zagueiro. Tinha como ponto forte a marcação. Para ele, não havia desafio que o Santo André não pudesse superar, tanto é que, após o título, disse que em nenhum momento o Santo André sentiu a pressão da torcida no jogo e que “o Maracanã é um mito criado pela imprensa carioca, um estádio normal”. Não é preciso dizer que virou um dos maiores ídolos do clube em todos os tempos. Foi o único que jogou as 11 partidas da campanha do título.

Alex: outra cria das bases, o zagueiro que também era conhecido como Alex Bruno jogou de 2003 até 2004, justamente o período de ouro do Ramalhão. Era muito eficiente no jogo aéreo e tinha bom passe. Após a conquista da Copa do Brasil, foi para o São Paulo e conquistou vários títulos. Uma curiosidade envolve sua ida ao Ramalhão, em 2003. Ele estava nos juniores do Bebedouro quando atendeu o telefone da sede do clube. Era um diretor do Santo André perguntando se o clube tinha algum goleiro negociável. Alex respondeu com a pergunta “vocês não precisam de um zagueiro também?”. O diretor aceitou e o jovem foi para o ABC ser multicampeão em 2003 e da Copa do Brasil em 2004. Santa ligação!  

Gabriel: jogou de 2003 até 2005 no Ramalhão e foi um dos titulares absolutos da zaga. Alto, se destacava no jogo aéreo. Jogou no Fortaleza e também no futebol europeu.

Nelsinho: lateral direito, era reserva de Da Guia, mas entrou em várias partidas ao longo da competição. Com a opção de três zagueiros do técnico Chamusca na finalíssima contra o Flamengo, foi titular. Deixou o Ramalhão já em 2005.

Da Guia: polivalente do setor defensivo do Ramalhão, atuava como lateral-direito, lateral-esquerdo ou zagueiro, sempre com boa colocação, bons passes e força na marcação. Jogou de 2001 até 2006 em sua primeira passagem pelo clube e foi um dos jogadores mais importantes do período.

Barbieri: após a debandada de jogadores nos primeiros meses do ano, o meia-atacante Barbieri chegou para compor o elenco do Ramalhão naquela temporada e cumpriu seu papel. Nas quartas, marcou um belo gol contra o Palmeiras. Deixou o clube no ano seguinte.

Dirceu: volante experiente, vinha de passagens pelo futebol carioca e conhecia muito bem o Maracanã. Prova disso foi a partidaça que fez naquela final histórica. Marcou, desarmou e tomou conta do meio de campo do time. Foi fundamental na conquista do título. Após a taça, foi jogar no futebol israelense.

Cléber Gaúcho: volante com características de marcação e boa visão de jogo, ficou pouco tempo no time em 2004, pois acabou voltando do empréstimo ao Criciúma em abril, durante a Copa do Brasil.

Marquinhos: o meio campista era escalado frequentemente como titular na campanha da Copa do Brasil, mas foi negociado após o duelo contra o Atlético-MG para jogar no Sport. Retornou na temporada seguinte, mas saiu poucos meses depois.

Ramalho: outro grande símbolo do time, com identificação até no nome. Meio-campista muito bom na marcação, foi um dos titulares absolutos do time naquela época. Disputou oito jogos na campanha do título e jogou de 2000 até 2007 em sua primeira passagem pelo clube. Nesse período, foi emprestado ao Vitória, entre 2002 e 2003, e ao São Paulo, após o título da Copa do Brasil. Jogou no futebol israelense, retornou ao Brasil e voltou ao Santo André em 2013.

Vander: veloz e habilidoso, era um dos bons nomes do setor ofensivo do time naquela temporada, mas deixou o clube para jogar na Ponte Preta após os duelos contra o Atlético-MG. Seria muito útil na caminhada do Ramalhão.

Élvis: meia com bom controle de bola e visão de jogo, foi um dos principais jogadores do Santo André naquela campanha histórica. Seu gol no Maracanã sacramentou o título do Ramalhão e fez dele um ídolo instantâneo. Além disso, fez grandes jogos e mostrou muita regularidade. Foi jogar no Botafogo após a conquista.

Tássio: cria das bases, fez uma ótima Copa SP de Juniores em 2003 e era uma espécie de talismã do clube na época, entrando em momentos decisivos e quase sempre contribuindo com passes e gols. Em 2003, foi dele o gol que classificou o Santo André para a Série B e dele o quarto gol na final da Copa Estado de SP contra o Ituano. Em 2004, fez o gol da classificação sobre o Palmeiras nas quartas da Copa do Brasil. Atuava como atacante ou meia.

Dodô: o volante atuou em cinco jogos na campanha do título. Outro revelado pelo clube e campeão da Copinha de 2003. Ficou até 2005 no clube.

Romerito: após passagens por vários clubes de SP, Romerito encontrou no Santo André, entre 2003 e 2005, a oportunidade para mostrar de fato seu futebol. Capaz de atuar como meia ou mesmo lateral-esquerdo, foi um dos destaques do time na campanha do título com grandes atuações e bom futebol. Marcou um lindo gol no primeiro jogo da final contra o Flamengo. Anos depois, brilhou no Sport que também faturou a Copa do Brasil, em 2008, contra o Corinthians.

Alexandre: é um dos jogadores com mais partidas na história do Ramalhão com mais de 200 jogos disputados em várias passagens pelo clube. Atuava como lateral-direito. Disputou apenas três partidas na campanha do título.

Osmar: chegou em 2004 e fez uma dupla inesquecível com Sandro Gaúcho no ataque do Ramalhão. Marcou gols decisivos e foi uma das grandes armas do time para a conquista do título. Chutava bem, se colocava bem e abria espaços nas zagas adversárias, além de dar assistências. Deixou o clube para jogar no Palmeiras ainda em 2004.

Makanaki: cria das bases, o meia foi escalado em vários jogos do Ramalhão naquela temporada e mostrou seu valor com velocidade, dribles e gols. Ele atuou em dez jogos e marcou dois gols, sendo um outro talismã na conquista do título.

Jean Carlos: o atacante participou de maneira mais frequente dos primeiros jogos do time na temporada, marcou gols importantes, mas acabou sofrendo uma lesão que o tirou de combate. Com a chegada de Sandro Gaúcho, perdeu espaço.

Sandro Gaúcho: segundo maior artilheiro da história do Santo André com 58 gols e artilheiro do time na Copa do Brasil com seis tentos, perigosíssimo dentro da área, letal nas jogadas aéreas e super identificado com a torcida e o clube. Assim foi Sandro Gaúcho naquela temporada pelo Ramalhão. Ele foi um dos maiores símbolos da conquista e ídolo até hoje do torcedor. Marcou gols inesquecíveis e, claro, o primeiro da vitória sobre o Flamengo na decisão. O próprio Sandro comentou, na entrevista ao Imortais, sobre ter participado daquela conquista. “Fico feliz e honrado de ter participado desse título. Passei por várias equipes, mas com o Santo André eu tenho um carinho muito grande, uma afinidade, uma honra. As pessoas me param até hoje, tiram foto, dizem que “esse que calou o Maracanã”, os pais falam para os filhos… Me tornei até um embaixador do Santo André.”. É um verdadeiro patrimônio do clube.

Fumagalli: era um dos principais atacantes do time entre 2003 e 2004 até deixar o clube no começo de 2004. Marcou gols importantes. Ficou identificado na carreira por sua trajetória no Guarani.

Edmílson: era um atacante já rodado quando chegou ao Santo André, em 2003. Ficou pouco tempo, fez um gol na vitória sobre o Galo por 3 a 0 e deixou o clube para jogar na Portuguesa.

Luiz Carlos Ferreira e Péricles Chamusca (Técnicos): Ferreira tem uma longa história com o Santo André, pelo qual passou seis vezes. Entre 2003 e 2004, montou um bom time que conseguiu o acesso à Série B do Brasileiro e o título da Copa Estado de SP. Soube aliar a juventude com os veteranos e construir um time competitivo e forte no setor ofensivo. Quando estava indo bem na Copa do Brasil, aceitou uma proposta do Sport e perdeu a chance de ser campeão. Chamusca deu continuidade ao trabalho de seu antecessor com mais intensidade e fez do Ramalhão uma máquina de fazer gols. Embora seu time fosse displicente na defesa, garantia os resultados com muito ímpeto ofensivo. Das tribunas, comandou o Santo André com maestria, muito bem assessorado por Sérgio Soares, que foi um ótimo auxiliar e, claro, técnico de campo naqueles jogos decisivos contra o 15 de Novembro e o Flamengo. Têm seus nomes para sempre no rol de imortais do clube.

 

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Comentários encerrados

5 Comentários

  1. Me chamou a atenção a entrevista do imortais com o jogador, excelente! Fica como registro uma conquista semelhante: a Copa da Inglaterra 87/88 vencida pelo pequenino Wimbledon e sua “Crazy Gang” em cima do Liverpool.

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