in ,

Esquadrão Imortal – Shakhtar Donetsk 2008-2010

Shakhtar Donetsk 2008-2010
Em pé: Lewandowski, Luiz Adriano, Kucher, Fernandinho, Pyatov e Chyhrynskyi. Agachados: Ilsinho, Willian, Srna, Jádson e Rat.

 

 

Grandes feitos: Campeão da Copa da UEFA (2008-2009), Campeão do Campeonato Ucraniano (2009-2010) e Campeão da Copa da Ucrânia (2007-2008). Conquistou o primeiro (e até hoje único) título continental da história do clube.

Time-base: Pyatov; Srna, Kucher (Ishchenko), Chyhrynskyi e Razvan Rat; Mariusz Lewandowski (Hübschman), Fernandinho, Ilsinho (Kravchenko) e Willian (Hai / Duljaj); Jádson (Douglas Costa); Luiz Adriano (Seleznyov / Brandão / Hladkyi). Técnico: Mircea Lucescu.

 

“A dominação dos Mineiros”

Por Guilherme Diniz

 

Durante décadas, o Shakhtar Donetsk viveu às sombras dos grandes clubes da URSS, principalmente do Dynamo de Kiev. Com apenas quatro Copas Soviéticas e um Campeonato Soviético em 1954, o clube não conseguia figurar entre os principais do bloco até a dissolução da União Soviética. Com a independência da Ucrânia e mais injeção de capital, porém, tudo mudou a partir dos anos 1990, mais precisamente em 1994-1995, ano do primeiro título da Copa da Ucrânia do clube laranja e preto. No começo dos anos 2000, os mineiros (o apelido é por causa da região de Donbass, conhecida pelas minas de carvão, onde está a cidade de Donetsk) passaram a construir uma hegemonia marcante no país e, com títulos em profusão nos campeonatos locais, viraram os soberanos da Ucrânia. 

O apogeu se deu no final da primeira década do novo milênio, quando um time extremamente competitivo comandado pelo romeno Mircea Lucescu, com passagens vitoriosas por clubes do leste europeu e pelo Galatasaray, alcançou uma glória inesquecível para os torcedores: a Copa da UEFA, primeiro título continental de um clube ucraniano após a independência do país. Com uma mescla de talentosos jogadores do país e uma “colônia” brasileira, o Shakhtar alcançou um status pouco provável na época e que encheu de orgulho sua torcida, que teve ainda o delírio em ver seu time eliminar o rival Dynamo nas semifinais da competição europeia. É hora de relembrar.

 

Expandindo as fronteiras

Mircea Lucescu, técnico mais importante da história do Shakhtar.

 

 

A mudança de patamar do Shakhtar começou a partir do momento em que o bilionário ucraniano Rinat Akhmetov assumiu a presidência do clube, e, com muitos investimentos, começou a transformar a equipe em uma potência dentro da Ucrânia. Investindo nas categorias de base e em um centro de treinamento capaz de abrigar milhares de jogadores,  o Shakhtar passou a levantar títulos e a figurar no primeiro escalão do futebol do país. Em 2000-2001, o clube disputou sua primeira Liga dos Campeões da UEFA, mas acabou eliminado na fase de grupos. Após vencer seu primeiro campeonato nacional em 2001-2002, com destaque para o meia Tymoshchuk e o técnico Nevio Scala, multicampeão pelo Parma do começo dos anos 1990 e campeão do mundo pelo Borussia Dortmund em 1997, o Shakhtar mudou de comando em 2004 ao contratar o técnico romeno Mircea Lucescu, experiente e com grandes passagens por clubes de seu país e pelo Galatasaray-TUR, onde venceu a Supercopa da UEFA de 2000 em cima do Real Madrid e a Campeonato Turco de 2001-2002. 

Lucescu era adepto de um futebol mais ofensivo e de toque de bola e olhava com atenção os atletas brasileiros. A ideia do romeno era formar um time com jogadores rápidos e habilidosos no setor ofensivo vindos do Brasil ou, se possível, de outros países, e o meio de campo e defesa com atletas das categorias de base do Shakhtar e da Ucrânia, para manter o clube dentro dos números permitidos de estrangeiros impostos pela UEFA na época. Entre 2004 e 2006, a diretoria já tinha planos para construir um novo estádio, cujas obras teriam início em 2006. E, com essas ambições, o técnico Lucescu salientou que o clube precisava de algo mais atrativo. “Para esse estádio atrair pessoas, nós precisamos criar espetáculo”, disse o romeno na época.

O brasileiro Brandão foi um dos primeiros a se destacar no Shakhtar.

 

 

As primeiras contratações foram dos brasileiros Brandão, Matuzalém e João Batista. Depois deles, chegaram os meio-campistas Jádson e Elano (ele deixou o Shakhtar em 2007), seguidos de Fernandinho, Leonardo e Ilsinho. Tempo depois, chegaram também Luiz Adriano e Willian. Para ajudar na ambientação dos sul-americanos em um país tão diferente e frio, o Shakhtar tinha em Lucescu o pilar para ajudar no dia a dia, afinal, o romeno era poliglota, falava português e era excelente nas conversas e em bate-papos. Além dos brasileiros, o elenco tinha também atletas da Croácia (Dario Srna), da República Tcheca (Hübschman), Sérvia (Duljaj), Polônia (Mariusz Lewandowski) e Romênia (Razvan Rat), e, claro, os ucranianos. Com muita união, o Shakhtar podia sonhar alto para a segunda metade dos anos 2000. E, com muito trabalho e treinamento, as glórias não demoraram para chegar.

 

Os primeiros desafios

Antes de iniciar o período de ouro no clube, Lucescu venceu os campeonatos nacionais de 2004-2005, 2005-2006 e 2007-2008, a Copa da Ucrânia de 2003-2004 e 2007-2008 e a Supercopa da Ucrânia de 2005. Era claro que o time era o mais forte do país, sólido, competitivo e com boa qualidade técnica, mas faltava um algo a mais. E esse extra era ir bem em uma competição europeia. Ver o rival Dynamo ser o único a ter em sua galeria títulos continentais mexia com orgulho do clube e dos torcedores. Competitiva, a equipe podia brigar por títulos e começou a temporada 2008-2009 levantando a Supercopa da Ucrânia após empatar em 1 a 1 com o Dynamo e vencer nos pênaltis por 5 a 3, com aproveitamento total dos batedores Fernandinho, Rat, Chyhrynskyi, Srna e Brandão (o brasileiro deixaria o clube na janela de transferências de inverno, em janeiro de 2009, para jogar no Olympique de Marselha). 

Fernandinho foi o grande nome do meio de campo do time ucraniano na época. Foto: AFP

 

 

Na sequência, os ucranianos despacharam o Dinamo Zagreb-CRO na fase qualificatória da Liga dos Campeões da UEFA com duas vitórias: 2 a 0, em casa, e 3 a 1, fora, em jogo que teve todos os gols anotados por brasileiros: Luiz Adriano, Brandão e Willian – o Shakhtar já era conhecido como a maior legião brasileira na Europa. Os triunfos garantiram os ucranianos na fase de grupos da competição europeia, na qual teriam pela frente adversários complicados: Barcelona-ESP (comandado por Guardiola e que venceria tudo naquela temporada), Sporting-POR de Rui Patrício, Ânderson Polga, Miguel Veloso, João Moutinho, Romagnoli, Liedson e Derlei, e Basel-SUI, o mais frágil da chave. 

O Shakhtar teria que brigar pela segunda colocação da chave, pois a primeira posição era do Barça. Só que a trajetória da equipe de Lucescu foi inconstante. Na estreia, vitória sobre o Basel, na Suíça, por 2 a 1 (gols de Fernandinho e Jádson). Nos dois jogos seguintes, em casa, duas derrotas: 2 a 1 para o Barcelona, de virada, após Ilsinho abrir o placar no primeiro tempo e Messi virar na segunda etapa, e 1 a 0 para o Sporting, em gol de Liedson. Os ucranianos precisavam vencer pelo menos os três jogos se quisessem avançar para as oitavas de final, ainda mais pela grande campanha dos portugueses do Sporting, que estavam na cola do Barça. No duelo contra o time de Lisboa, no José Alvalade, o Shakhtar perdeu por 1 a 0 e praticamente deu adeus à classificação.

Luiz Adriano e Sylvinho no duelo disputado no Camp Nou. Foto: Jasper Juinen/Getty Images

 

 

Restava à equipe terminar na terceira colocação e se garantir pelo menos na fase de 16-avos de final da Copa da UEFA. Na penúltima rodada, contra o Basel, os ucranianos golearam por 5 a 0, com três gols de Jádson, um de Willian e outro de Seleznyov. E, na última rodada, aproveitando o time reserva do Barcelona, o Shakhtar não se intimidou com o Camp Nou e venceu por 3 a 2, com dois gols de Hladkyi e um de Fernandinho. A vitória em pleno estádio catalão manteve o Shakhtar na 3ª colocação do grupo com 9 pontos, sendo três vitórias, três derrotas, 11 gols marcados e 7 sofridos em seis jogos. O Barcelona avançou em primeiro lugar, com 13 pontos, e o Sporting passou em segundo, com 12 pontos. O Basel foi eliminado ao somar apenas um ponto.

 

Foco na Europa custa domínio nacional

Foto: JOSEP LAGO/AFP via Getty Images

 

 

A desclassificação da UCL acabou sendo benéfica aos ucranianos, pois garantiram uma vaga na fase de 16-avos de final da Copa da UEFA, competição relativamente mais fácil e possível de ser vencida pelos comandados de Lucescu. Os jogos diante do Barça e do Sporting ajudaram a forjar o estilo competitivo da equipe e mostraram algumas virtudes que seriam fundamentais para o desempenho nessa nova etapa. A equipe tinha muita força pelas laterais graças ao romeno Razvan Rat, pela esquerda, que marcava mais, e ao capitão croata Dario Srna, pela direita, que avançava bastante ao ataque. A zaga aliava entrosamento e combate com os ucranianos Kucher e Chyhrynskyi, este vivendo grande fase na época e excelente no mano a mano graças à força física e estatura – tinha quase 1,90m.

No meio de campo, a marcação e criatividade eram virtudes do setor expostas ao máximo pelo brasileiro Fernandinho, que ditava o ritmo da equipe com passes precisos e lançamentos, além de viver uma notável fase artilheira. À frente dele, Ilsinho, ex-lateral-direito do São Paulo campeão brasileiro de 2006, foi transformado em meia pelo técnico Lucescu e virou uma importante arma ofensiva pela direita. Na outra ponta, Willian esbanjava categoria e dribles e abria espaços para municiar o atacante Luiz Adriano, vivendo grande fase desde seu debute no Internacional campeão do mundo em 2006, e o meia Jádson, que armava e atacava com maestria pelo miolo do ataque. Outros jogadores muito importantes ao longo da época foram O atacante Hladkyi, os meio-campistas Marius Lewandowski e Oleksiy Hai, além do polivalente Hübschman, capaz de jogar no miolo de zaga e como primeiro volante.

Foto: AFP

 

 

Embora tivesse uma equipe muito superior a vários clubes da Ucrânia, o Shakhtar fez uma péssima temporada em solo nacional naquela época 2008-2009. O foco em sua trajetória europeia custou campanhas melhores tanto no Campeonato Ucraniano quanto na Copa da Ucrânia. No campeonato, o time só venceu um dos primeiros nove jogos e ficou em uma modorrenta 11ª posição. Só a partir de outubro que os mineiros conseguiram se recuperar na tabela e emendaram nove vitórias seguidas – além de 12 jogos sem perder – que conduziram os laranjas e negros à vice-liderança da tabela. 

O problema era que o rival Dynamo estava muito à frente e terminou com o título após somar 79 pontos em 30 jogos contra 64 pontos do Shakhtar. Na Copa da Ucrânia, os comandados de Lucescu trilharam o caminho até a final e eliminaram o rival Dynamo nas semis com uma vitória por 1 a 0 (gol de Mariusz Lewandowski), mas perderam a final para o Vorskla Poltava por 1 a 0, em jogo que teve Fernandinho expulso. O revés, no entanto, não teve nenhum dissabor aos torcedores. Àquela altura eles já tinham uma outra alegria para comemorar…

 

A trilha continental

Foto: Reuters

 

 

O primeiro rival do Shakhtar na Copa da UEFA foi o Tottenham Hotspur-ING e a equipe ucraniana dominou as ações ofensivas em praticamente toda a partida de ida, em casa, mas pecava demais na hora de finalizar. Só no segundo tempo, aos 79’, que o gol saiu, quando Seleznyov deixou o banco e abriu o placar para o time de Donetsk em seu primeiro toque na bola! Nove minutos depois, o brasileiro Jádson ampliou e fechou a justa vitória por 2 a 0 que deu a vantagem à equipe de Lucescu para a volta, no antigo White Hart Lane, em Londres. Na capital inglesa, após um primeiro tempo sem gols, Giovani dos Santos abriu o placar para os Spurs, aos 55’, e reacendeu as esperanças dos ingleses em busca da igualdade no placar agregado. O Shakhtar, no entanto, não se abateu e foi para o ataque até Fernandinho igualar em 1 a 1 e classificar o time para as oitavas de final!

Na sequência, os ucranianos tiveram pela frente o antigo rival dos tempos soviéticos, o CSKA-RUS, do artilheiro Vágner Love, autor do gol da vitória russa por 1 a 0 no duelo de ida, em Moscou. Na volta, o Shakhtar provou sua força e reverteu a vantagem russa com uma vitória por 2 a 0 e a classificação às quartas de final, com gols de Fernandinho, cobrando pênalti, e Luiz Adriano. Era a primeira vez na história que o clube ucraniano chegava tão longe na competição.

Foto: EFE

 

 

O desafio seguinte foi o Olympique de Marselha-FRA, que apostava na força de seu caldeirão para garantir a vaga. Só que os franceses se esqueceram que tinha a ida, em Donetsk. Com mais de 60% de posse de bola e incisivo, o Shakhtar tratou de construir o placar que lhe era benéfico e fez 1 a 0 com o volante Hübschman, aos 39’ do primeiro tempo, respondendo às duas boas chegadas do Olympique, uma delas na trave. Na segunda etapa, o talento brasileiro resolveu a partida. Aos 19’, Willian tabelou com Luiz Adriano, que tocou para Jádson. Sem marcação, o meia tocou para o fundo das redes e selou a vitória dos ucranianos: 2 a 0.

Fernandinho foi outra vez decisivo! Foto: EFE

 

 

Na volta, o belíssimo estádio Vélodrome recebeu quase 50 mil pessoas, mas a pressão da fanática torcida do OM não surtiu nenhum efeito no Shakhtar. Logo aos 30’, Ilsinho lançou para Fernandinho no lado esquerdo da área, foi ao fundo e, sem ângulo, bateu para o gol. A bola entrou entre a trave e o goleiro Mandanda. Golaço! No final do primeiro tempo, Ben Arfa empatou e colocou fogo no jogo, mas o técnico Lucescu armou bem seu time para não deixar os franceses criarem opções de gol. O tempo foi passando e com o relógio nos acréscimos, Luiz Adriano anotou o gol da vitória por 2 a 1 e colocou os ucranianos na semifinal. Faltava muito pouco para a sonhada e inédita final! Só que eles teriam um adversário hostil pela frente: o rival Dynamo de Kiev.

 

Inesquecível!

Ver os grandes rivais da Ucrânia pela primeira vez em uma fase semifinal de uma competição europeia mobilizou a imprensa ucraniana e, claro, as torcidas, que esgotaram em horas os ingressos para os dois jogos. O primeiro jogo foi na casa do Dynamo, o Valeriy Lobanovskyi Dynamo Stadium, batizado com esse nome em homenagem ao lendário treinador da equipe nos anos 1970, 1980 e 1990 e responsável pelos títulos continentais do clube. O Shakhtar sabia que não perder aquele jogo era fundamental para garantir a vaga em casa, onde a equipe era fortíssima. Mas, logo aos 22’, o zagueiro Chyhrynskyi fez gol contra e abriu o placar para o Dynamo. A torcida da casa incendiou o jogo, a tensão aumentou e ambas as equipes tiveram dificuldades para criar oportunidades de gol. O Shakhtar não jogava bem e os brasileiros passavam em branco, principalmente Luiz Adriano, muito apagado no setor ofensivo. 

No segundo tempo, o técnico Lucescu mexeu na parte tática avançando a marcação e pressionando o Dynamo em seu campo. Com isso, os laranjas e negros tiveram mais posse de bola e, aos 23’, Willian avançou pela ponta e cruzou rasteiro para Fernandinho, mais artilheiro do que nunca, fazer o gol de empate: 1 a 1. Aos 34’, o Dynamo tentou o segundo gol com Aliyev, mas Pyatov fez uma grande defesa. O empate persistiu e o Shakhtar foi para o duelo de volta com muita confiança. Bastava uma vitória simples para a sonhada final chegar. Com Ilsinho e Jádson pelas pontas, Hübschman e Hai recuados no meio, Fernandinho centralizado como articulador e Luiz Adriano na função de centroavante, o Shakhtar encurralou o Dynamo desde o início do jogo e foi premiado com um gol aos 17’. Após cruzamento da direita, o zagueiro brasileiro Betão afastou mal e Jádson abriu o placar, em um chute da entrada da área.

Ilsinho marcou o gol da classificação! Foto: Reuters

 

 

O Dynamo foi pra cima e equilibrou a partida até o começo do segundo tempo, quando empatou logo aos 2’, com Bangoura. A torcida temeu pelo pior e não poderia tolerar outra final continental dos alviazuis, que tinham em sua galeria dois títulos da Recopa da UEFA e de uma Supercopa da UEFA. Mas o time da casa queria escrever sua história. A classificação quase veio aos 40 minutos, quando Hladkyi recebeu passe de Ilsinho, mas mandou longe do gol. Porém, o ex-são-paulino voltou a aparecer aos 44 minutos e, em bela jogada individual, fez o gol da classificação: 2 a 1. O Shakhtar Donetsk estava na final da Copa da UEFA! Muito orgulhoso, o técnico Mircea Lucescu comentou sobre a classificação. 

 

“Nós conseguimos algo fantástico. Nós somos agora parte da história do futebol europeu. O resultado foi justo e merecido, o nível de futebol correspondeu a um jogo de semifinal de Copa da UEFA e os fãs ganharam um merecido show”, disse o técnico romeno.

 

Na decisão, outro desafio gigante vinha pela frente: o Werder Bremen-ALE, também dono de uma taça da UEFA no currículo no começo dos anos 1990, com um elenco altamente competitivo com nomes como Fritz, Naldo, Frings, Özil e Pizarro, campeão da Copa da Alemanha de 2008-2009 e vice-campeão da Bundesliga em 2007-2008.

 

Mineiros da Europa!

Luiz Adriano abriu o placar da decisão. Foto: Reuters

 

 

A decisão de 2009 foi emblemática não só para o Shakhtar, mas também por ter sido a última da Copa da UEFA. A partir da temporada 2009-2010, a competição mudaria de nome em definitivo para Liga Europa da UEFA. E o estádio Şükrü Saracoğlu Stadium, casa do Fenerbahçe, em Istambul (TUR), foi palco de um jogo que tinha o Werder Bremen como favorito pelo time e por ter eliminado pelo caminho Milan-ITA, Saint-Étienne-FRA, Udinese-ITA e Hamburgo-ALE, enquanto o Shakhtar era o “azarão” que tentava o primeiro título de um clube ucraniano no torneio. Quando a bola rolou, os laranjas e negros tiveram as primeiras investidas no ataque, sendo a primeira boa chegada aos 6’, quando Jádson tocou para Luiz Adriano e o brasileiro chutou à direita do gol de Wiese.

O time da final: brasileiros foram essenciais para a criação ofensiva.

 

 

O Shakhtar seguiu no ataque e abriu o placar aos 25’, quando Razvan Rat lançou a bola para a frente e, após desvio de Jádson, Luiz Adriano, na meia-lua, se livrou dos dois defensores, entrou pela esquerda e tocou na saída de Wiese, marcando seu terceiro gol no torneio. Dois minutos depois, o mesmo Luiz Adriano quase ampliou, mas errou o alvo. A partida ficou eletrizante e com muitas faltas. Até que, aos 35’, após falta cobrada pelo brasileiro Naldo, o Werder Bremen empatou – com grata colaboração do goleiro Pyatov, que falhou feio ao tentar defender o chute do brasileiro.

Naldo, em cobrança de falta, empatou. Foto: Martin Rose/Bongarts/Getty Images

 

 

Na segunda etapa, o Werder Bremen teve mais chances de gol, mas o Shakhtar conseguiu ter mais a bola consigo. Aos três minutos, Srna cobrou falta e Wiese espalmou. Dois minutos depois, Jádson cobrou falta e o goleiro do Werder Bremen foi no canto para espalmar novamente. O Werder respondeu em lances perigosos na sequência, mas a partida terminou mesmo em 1 a 1 e foi para a prorrogação. E, logo aos seis minutos, o capitão Srna cruzou rasteiro para a grande área. Nela estava Jádson, que, com um toque de chapa do pé direito, escorou. Wiese falhou e não conseguiu segurar a bola: 2 a 1. Outro gol brasileiro!

As equipes fizeram modificações e, após uma tentativa do Shakhtar, a equipe ucraniana se protegeu no segundo tempo esperando o apito final. Sem ser muito efetivo, o Werder Bremen não conseguiu o empate e, após o apito final do árbitro Luis Medina Cantalejo, o Shakhtar Donetsk se tornou o primeiro clube ucraniano a vencer a Copa da UEFA e levantou o primeiro título continental de sua história! Herói da conquista, Jádson falou sobre o título após a partida.

 

“Estou muito emocionado. Comemorar um título de tal importância e, ainda, marcar o gol que decidiu a partida é maravilhoso. Tivemos que lutar até o último minuto para tornar o sonho realidade.[…] Sempre acreditei no potencial de nossa equipe e essa conquista vem coroar o trabalho de vários anos do Shakhtar. Foi nossa primeira conquista europeia de grande importância”.

Foto: EFE

 

 

O título europeu consagrou o imenso trabalho feito pela diretoria desde a metade dos anos 1990 e confirmou a ascensão de um clube dominante em seu país e que conseguiu expandir as fronteiras ao continente. Em 9 jogos na Copa da UEFA, o Shakhtar venceu 6, empatou dois e perdeu apenas um. Foram 14 gols marcados e seis gols sofridos. Fernandinho e Jádson, com 4 gols cada, foram os artilheiros da equipe na competição. Na temporada, a dupla também foi líder em gols pelo clube com 12 tentos cada um. Seleznyov, com 10, e Luiz Adriano, com 9 gols, vieram na sequência.

 

Casa nova inspira título nacional

Os laranjas e negros conseguiram manter boa parte do elenco para a temporada 2009-2010 e ainda contrataram alguns nomes, entre eles o brasileiro (mais um…) Douglas Costa. O primeiro desafio da temporada foi a disputa da Supercopa da UEFA, troféu cobiçado pelos ucranianos para tentar igualar o feito do rival Dynamo, que tinha tal taça em sua galeria. O rival da equipe foi o super Barcelona de Guardiola, que foi com força máxima para aquela decisão e uma linha de frente composta por Messi, Ibrahimovic e Henry. Mesmo diante de um rival fortíssimo, o Shakhtar dificultou as coisas para os catalães e seguraram o 0 a 0 durante os 90 minutos, forçando a prorrogação. Nela, os blaugranas conseguiram o gol da vitória com Pedro, aos 115’, e levantaram o caneco. 

 

A equipe não se abateu e tentou pavimentar o caminho na Liga dos Campeões da UEFA, mas acabou eliminada no critério de gol marcado pelo pequenino Poli Timisoara, da Romênia, que empatou em 2 a 2 com os laranjas em Donetsk e sem gols em Timisoara. Com isso, o Shakhtar foi para a fase preliminar da Liga Europa tentar defender seu título na competição. Após superar o Sivasspor-TUR com um 5 a 0 no agregado, os ucranianos terminaram em primeiro lugar no Grupo J, superando Club Brugge-BEL, Toulouse-FRA e Partizan-SER. Na fase de 16-avos de final, porém, a equipe foi derrotada pelo Fulham-ING (3 a 2 no agregado) e deu adeus ao sonho do bicampeonato europeu.

Se a sorte não esteve com os ucranianos na Europa, ela voltou a sorrir em solo nacional. Com uma campanha irrepreensível – 24 vitórias, cinco empates, uma derrota, 62 gols marcados e 18 gols sofridos em 30 jogos -, o Shakhtar foi campeão do Campeonato Ucraniano com seis pontos de vantagem sobre o rival Dynamo – 77 a 71. O troféu foi o primeiro do clube conquistado na Donbass Arena, inaugurada em agosto de 2009 na goleada de 4 a 0 do Shakhtar sobre o Obolon Kiev, em duelo válido pelo Campeonato Ucraniano. O primeiro gol do novo estádio foi do brasileiro Jádson, cobrando pênalti. Ao longo da temporada 2009-2010, o Shakhtar acumulou 47 jogos, venceu 34, empatou nove e perdeu apenas quatro jogos, marcando 88 gols e sofrendo 30, um aproveitamento de 72,3%

 

Para sempre na história

Lucescu e o troféu mais importante da história do Shakhtar.

 

 

O Shakhtar seguiu em alta no futebol ucraniano ao longo dos anos, mas não conseguiu repetir a campanha do título europeu de 2009. A equipe foi tetracampeã seguida do campeonato nacional entre 2011-2014, venceu quatro copas nacionais e estabeleceu uma notável hegemonia no país, acabando de vez com a supremacia do rival Dynamo. Mircea Lucescu treinou o Shakhtar até maio de 2016, quando deixou o clube para comandar o Zenit-RUS. Desde então, o clube perdeu força e a guerra entre Ucrânia e Rússia enterrou de vez qualquer esperança do torcedor, que segue nas lembranças do esquadrão que alcançou a glória continental e escreveu o capítulo mais importante do clube em sua história.

 

Os personagens:

Pyatov: o ucraniano teve uma sólida carreira no Shakhtar entre 2007 e 2023, acumulando mais de 480 jogos pelo clube e mais de 100 partidas pela seleção. Embora cometesse alguns erros de vez em quando, criou uma enorme identificação com o clube e fez grande jogos nas temporadas de títulos da equipe. Na Supercopa da UEFA, fez uma partida brilhante diante do Barcelona, mas o gol no final da prorrogação de Pedro evitou a consagração do goleirão. Em 2010, foi eleito o melhor jogador da Ucrânia na temporada, além de vencer por sete vezes o título de melhor goleiro do campeonato nacional.

Srna: com enorme vocação ofensiva, foi um dos maiores ídolos da história do Shakhtar e atuava praticamente como um ala-direito tamanha sua intensidade no ataque. Chegou ao Shakhtar em 2003 e permaneceu até 2018, acumulando 536 jogos e 49 gols pelos laranjas e negros. Na temporada 2008-2009, o capitão disputou 46 jogos, marcou 5 gols e deu 12 assistências, três delas na Copa da UEFA. Registrou ainda o impressionante número de 129 assistências em sua trajetória pelo Shakhtar.

Kucher: jogou durante 11 anos no Shakhtar e se destacou como um dos mais regulares defensores do time no período, com agilidade, boa cobertura e eficiência no jogo aéreo. Além de jogar no miolo de zaga, Kucher podia atuar também como lateral e volante. Foram 295 jogos e marcou 12 gols.

Ishchenko: o zagueiro ucraniano chegou em 2008 na equipe e disputou 25 jogos em sua temporada de estreia. Não foi titular absoluto, mas entrou bem quando necessário. Ficou no Shakhtar até 2014.

Chyhrynskyi: com 1,89m de altura e um ar de desajeitado, o zagueirão se impunha na presença física e foi um dos destaques do time naquela era de ouro. Era quase imbatível no mano a mano e se destacava, também, nas jogadas pelo alto. Acabou deixando o Shakhtar na temporada 2009-2010 ao se transferir para o Barcelona, mas não teve muito espaço no clube catalão e retornou ao Shakhtar já em 2010, jogando até 2015. Ganhou 11 títulos com o clube na carreira.

Razvan Rat: não apoiava tanto o ataque quanto Srna, mas quando ia à frente, demonstrava eficiência nos passes e lançamentos. Sua principal virtude era mesmo o apoio defensivo, ajudando na marcação e nos desarmes. Jogou por 10 anos no Shakhtar, acumulando exatos 300 jogos, 10 gols e 48 assistências. Pela seleção da Romênia, disputou 113 jogos e marcou dois gols.

Mariusz Lewandowski: embora tenha o sobrenome do famoso atacante polonês Robert Lewandowski, Mariusz não tem parentesco algum com o compatriota. Mariusz era um meio-campista muito bom na marcação e no apoio à zaga, além de poder atuar também mais recuado. Não se limitava a ficar apenas na contenção e aparecia bem no ataque, principalmente em jogadas aéreas, quando marcava alguns gols. Jogou de 2001 até 2010 no clube laranja e negro, registrando 275 jogos, 30 gols e 15 assistências.

Hübschman: o tcheco foi um dos principais articuladores do meio de campo do Shakhtar naquela época e cumpria muito bem o papel de dar combate, desarmar e iniciar contra-ataques. Chegou em 2004 ao clube ucraniano e ficou até 2014, vencendo 18 títulos pelo clube. 

Fernandinho: o brasileiro viveu uma das melhores fase da carreira no time ucraniano ao atuar mais solto no meio de campo, ditando o ritmo, distribuindo a bola e aparecendo no ataque constantemente – às vezes, era até o segundo atacante do time. Com enorme visão de jogo, técnica incontestável e muito inteligente, jogou por quase uma década no Shakhtar até se transferir para o Manchester City em 2013, onde também virou um dos grandes nomes do time inglês. No Shakhtar, Fernandinho viveu a fase mais prolífica da carreira, anotando 12 gols em 42 jogos na temporada 2008-2009, quatro deles na caminhada do título europeu. Em 284 jogos, Fernandinho marcou 53 gols e deu 57 assistências, além de ter conquistado 13 títulos. Sem dúvida, o brasileiro foi uma das maiores lendas do Shakhtar em sua história. 

Ilsinho: após um ano de 2006 marcante no São Paulo, Ilsinho foi vendido ao Shakhtar Donetsk já em 2007 e rapidamente ganhou espaço na equipe de Lucescu por sua habilidade e por ser muito forte no apoio ao ataque e nos dribles. Habilidoso, trouxe muita criatividade ao ataque da equipe e virou uma arma essencial na caminhada dos títulos da equipe no período 2007-2010. Disputou 175 jogos pelo Shakhtar, marcou 22 gols e deu 21 assistências.

Kravchenko: meia com bom toque de bola e precisão nos passes e lançamentos, chegou ao Shakhtar em 2008 e, embora tenha sofrido com a concorrência no setor, foi bem nas vezes em que jogou como titular. Disputou 38 jogos, marcou 12 gols e deu 5 assistências entre 2008 e 2010.

Willian: enquanto Ilsinho driblava e entortava os rivais pela direita, Willian fazia o mesmo pelo lado esquerdo do ataque da equipe ucraniana. Com apenas 20 anos na temporada 2008-2009, o brasileiro virou em definitivo um dos mais talentosos pontas da época e disputou 52 jogos naquela temporada, marcando 8 gols e dando 12 assistências. Willian jogou até 2013 na equipe de Donetsk e registrou 221 jogos, 37 gols e 63 assistências. Após seu grande período na Ucrânia, jogou brevemente na Rússia até fazer carreira no Chelsea entre 2013 e 2020.

Hai: foram 13 anos no Shakhtar e bons jogos atuando no meio de campo e também pelos flancos do ataque. Alternava jogos como titular e também como suplente. Foram 212 jogos, 20 gols e 15 assistências entre 2000 e 2013.

Duljaj: meio-campista mais defensivo, o sérvio chegou em 2004 ao Shakhtar e foi um dos jogadores mais utilizados pelo técnico Lucescu em seu início de trabalho como treinador do clube laranja e negro. Com fôlego invejável e grande senso de colocação, Duljaj acabou perdendo espaço ao longo dos anos com a chegada de reforços e dos brasileiros. Mesmo assim, disputou 26 jogos na época 2008-2009. Entre 2004 e 2010, disputou 196 jogos, marcou 6 gols e deu 4 assistências.

Jádson: o brasileiro foi “o cara” do Shakhtar naquela época e o meia que desequilibrava as partidas. Com visão de jogo apurada, passes precisos, cobranças de falta impecáveis e grande posicionamento, Jádson viveu uma fase esplendorosa no Shakhtar e foi o herói do título continental do clube na final contra o Werder Bremen. Entre 2005 e 2011, Jádson disputou 273 jogos, marcou 64 gols e deu 64 assistências. 

Douglas Costa: o ponta-direita chegou ao Shakhtar em 2010 e fez bons jogos pelo equipe principalmente a partir da temporada 2010-2011, quando assumiu a titularidade e virou um dos melhores atacantes da equipe. Ficou de 2009 até 2015 no Shakhtar, disputou 203 jogos, marcou 38 gols e deu 40 assistências.

Luiz Adriano: rápido, oportunista e eficiente também nas jogadas aéreas, o brasileiro foi a referência no ataque do Shakhtar, embora não tenha sido o artilheiro da equipe na temporada 2008-2009 – ele marcou 9 gols, enquanto Fernandinho e Jádson anotaram 12. Nas épocas seguintes, melhorou a pontaria e se firmou na equipe, sendo o artilheiro do time na época 2009-2010 com 17 gols. Em 266 jogos disputados pelo Shakhtar entre 2006 e 2015, marcou 128 gols e deu 43 assistências.

Seleznyov: o atacante de 1,88m de altura se destacava nas jogadas aéreas e tinha bom oportunismo nas jogadas de área. Cria do Shakhtar, começou no elenco profissional em 2002 e foi se firmando aos poucos na equipe. Na temporada 2008-2009, foi o 3º maior artilheiro do Shakhtar com 10 gols em 35 jogos. Em 2009, se transferiu para o Dnipro Dnipropetrovsk, onde viveu grande fase.

Brandão: o atacante foi um dos primeiros brasileiros a chegar ao Shakhtar, em 2002, e se firmou no time titular com suas boas atuações, gols e boa presença de área. Ele acabou deixando a equipe ao longo da temporada 2008-2009 e não pôde participar da trajetória do título europeu, mas ainda sim deixou seis gols em 21 jogos. Em sua trajetória pelos laranjas e negros, Brandão disputou 220 jogos e marcou 91 gols. 

Hladkyi: o atacante ucraniano figurou em vários jogos do Shakhtar naquela época e foi um dos principais nomes ofensivos do time por sua movimentação, ajudar nos passes e triangulações. Na época 2008-2009, disputou 41 jogos e marcou 8 gols. Ao todo, foram 185 jogos, 63 gols e 32 assistências, números muito satisfatórios. Só não teve mais espaço por causa da preferência de Lucescu pelos brasileiros no setor ofensivo.

Mircea Lucescu (Técnico): comandou o Shakhtar por 12 anos e se transformou no mais importante técnico do clube em toda a história, não só pelos títulos mas por todo o trabalho que realizou na parte tática, na adaptação dos jovens, no olhar às categorias de base e por colocar o Shakhtar no topo do país. Lucescu conquistou 22 títulos com o Shakhtar e dirigiu o clube em 573 jogos, com 395 vitórias, 90 empates, 88 derrotas, 1220 gols marcados e 452 gols sofridos, um aproveitamento de 68,9%. Simplesmente uma lenda.

 

Licença Creative Commons
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.

Comentários encerrados

3 Comentários

  1. Parabens pelo texto guilherme esde time era bom mesmo mas o sarrafo na champions da epoca era muito alto por isso na copa se sairam bem.jadson,o lateral srna e o luiz adriano em numeros viveram o auge no shakhtar.ja o tecnico lucescu apostava em meias e atacantes brasileiros jovens e isso ajuda a explicar o monte de gols desse time e sempre jogando ofensivamente.um detalhe do lucescu queera o capita da romenia na copa de 70 e trocou de camisa com o rei no jogo contra o brasil e sempre disse que o brasil de 70 foi um parametro no trabalho dele dai a preferencia e amizade com os daqui.

  2. Imortais, esse Shakhtar era um time que eu queria ver muito no site. Eu me lembro bem daquele tempo quando o clube era o “mais brasileiro” da Europa, além de ter outros bons jogadores e o Mircea Lucescu mostrando competência de técnico imortal! Isso é receita de campeão!

    Abraço, Imortais! Infelizmente, como já sabe, a parte triste é que a Rússia invadiu a Ucrânia, fato que impede o time mineiro de escrever novas páginas imortais!

    • Obrigado pelo comentário, Miguel! Foi uma grande fase do Shakhtar, sem dúvida uma das mais belas de um clube na Ucrânia. Uma pena que o clube deve ficar um bom tempo longe dos holofotes… Abraço!

Jogos Eternos – Alemanha 3×2 Hungria 1954

Jogos Eternos – Espanha 4×0 Itália 2012