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Torneios históricos: Supercopa da UEFA

Por Guilherme Diniz

 

No começo da década de 1970, a Europa já tinha em seu calendário duas competições tradicionais e amplamente conhecidas: a Copa dos Campeões (atual Liga dos Campeões), disputada pelos campeões das ligas nacionais, e a Recopa da UEFA, disputada pelos campeões das copas nacionais. Porém, com dois campeões continentais, nunca havia um “tira-teima” para saber quem era o melhor do continente. E foi partindo desse pretexto que, em 1973, foi criada a Supercopa Europeia, que começou ainda sem o aval da UEFA para só a partir de janeiro de 1974 receber a chancela da entidade máxima do futebol europeu. Mesmo com o favoritismo dos vencedores da Copa dos Campeões, a Supercopa já teve surpresas e é uma disputa onde tudo pode acontecer. Conheça agora a história desse torneio.

 

Em busca do “melhor”

 

A Supercopa Europeia partiu de uma ideia do jornal esportivo holandês De Telegraaf, que aproveitou a hegemonia dos clubes de seu país – vitoriosos nas últimas três edições da Liga dos Campeões da UEFA, com o Feyenoord, em 1970, e o Ajax, em 1971 e 1972 – e propôs à UEFA um jogo entre o campeão da Liga contra o campeão da Recopa para saber qual era o melhor clube do continente. A primeira edição, válida pela temporada de 1972, foi realizada em janeiro de 1973 entre o Ajax, campeão da Copa dos Campeões, e Rangers, campeão da Recopa. Acontece que o clube escocês estava sob punição da UEFA por causa da invasão de sua torcida ao gramado na decisão continental e não poderia disputar nenhuma competição da entidade nos próximos dois anos. Porém, o De Telegraaf foi insistente e quis realizar o torneio naquele mês, algo que tirou o aval da UEFA, mas seguiu como sendo parte das “comemorações do Centenário do Rangers”.

Greig e Cruyff na final da Supercopa. Foto: Bert Verhoeff / Anefo.

 

Mesmo com a base campeã, o Rangers não foi páreo para o super time holandês, que tinha Johan Cruyff, Neeskens e companhia nada limitada. No primeiro jogo, em Glasgow, vitória do Ajax por 3 a 1. Na volta, em Amsterdã, novo triunfo do time alvirrubro – 3 a 2 – e título assegurado – embora tal conquista até hoje não tenha o reconhecimento da UEFA. O troféu, enorme (!), tinha que ser erguido por mais de uma pessoa e seria o mesmo até o ano de 1977. Depois, seria substituído por uma placa com o logo da UEFA até 1987, quando uma versão menor do atual troféu foi criada. A partir de 2006, tal troféu foi remodelado, ficou maior (12,2 kg e 58 cm de altura, ante os 5 kg e 42,5 cm de altura da versão anterior) e permanece até hoje.

Jogadores do Ajax carregam o enorme troféu em 1973.

 

Jogadores do Dynamo com a “monstruosa” taça da Supercopa da UEFA na época.

 

Em 1973, a UEFA assumiu a organização do torneio e o Ajax foi mais uma vez campeão, após derrotar o Milan – campeão da Recopa – com um 6 a 1 no agregado. Na época, a disputa era em jogos de ida e volta. Em 1974, por falta de datas, a competição não foi realizada. Em 1975, o torneio voltou e teve pela primeira vez um campeão da Recopa: o Dynamo de Kiev-URSS, que derrotou o poderoso Bayern München-ALE após vencer na Alemanha por 1 a 0 e também em Kiev (2 a 0). O campeão da Recopa também venceria os torneios de 1976 e 1978, ambas as vezes com o Anderlecht-BEL, um dos maiores esquadrões belgas da história. Em 1977, o Liverpool, campeão da Copa dos Campeões, levantou o troféu após superar o Hamburgo-ALE de maneira categórica: goleada de 6 a 0 em Anfield Road, com três gols de Terry McDermott, após 1 a 1 na partida de ida. Em 1979, o surpreendente Nottingham Forest-ING venceu o Barcelona-ESP e ficou com a taça. Os ingleses tentaram o bi no ano seguinte, mas perderam para o campeão da Recopa, o Valencia-ESP da dupla Fernando Morena e Mario Kempes.

 

Anos 1980 e 1990 – algumas surpresas e mudanças

Campeão em 1983, o Aberdeen recebeu uma placa da UEFA (não havia troféu na época).

 

Em 1981, a Supercopa não foi realizada por causa de falta de datas para o jogo entre Liverpool e Dinamo Tbilisi. Em 1985, a competição também passou em branco por causa da punição sofrida pelos clubes ingleses – banidos por seis anos de competições da UEFA – após a Tragédia de Heysel, fato que impediu o Everton de enfrentar a Juventus. Em 1982, o Aston Villa recuperou o troféu para os campeões da Copa dos Campeões, mas Aberdeen e Juventus voltaram a dar aos campeões da Recopa o supertítulo. Em 1986 e 1987, Steaua Bucareste e Porto foram os supercampeões após as glórias na Copa, enquanto o Mechelen-BEL ficou com a taça de 1988 como campeão da Recopa. Em 1989 e 1990, o super Milan de Sacchi não deu brechas para os rivais e se tornou o primeiro bicampeão consecutivo. Só o Real Madrid de CR7 conseguiu repetir os rossoneros com o bicampeonato de 2016/2017.

Ken McNaught exibe o troféu da Supercopa da UEFA época. Foto: Colorsport/Rex/Shutterstock.

 

Milan de Sacchi foi o primeiro bicampeão consecutivo.

 

Campeã em 1996, a Juve massacrou o PSG na final com um 9 a 2 no agregado!

 

Na década de 1990, o equilíbrio continuou nas finais e não vimos a hegemonia esperada dos campeões da UCL. Em 1992 (Barcelona), 1994 (Milan), 1995 (Ajax) e 1996 (Juventus), os campeões foram os vencedores da Velhinha Orelhuda. Já em 1991 (Manchester United), 1993 (Parma), 1998 (Chelsea) e 1999 (Lazio), os campeões da Recopa levantaram os troféus diante dos campeões da UCL. Foi a partir de 1998 que a Supercopa da UEFA passou a ser realizada em jogos únicos. Naquele ano, o palco escolhido foi o Stade Louis II, em Monaco, e o estádio seria a casa oficial da Supercopa até 2012, quando o torneio passou a ser realizado em diferentes sedes a partir de 2013. Uma curiosidade é que na época dos jogos de ida e volta, os maiores placares agregados foram:

 

  • Juventus 9×2 PSG – Final de 1996;
  • Ajax 6×1 Milan – Final de 1973;
  • Liverpool 7×1 Hamburgo – Final de 1977.

 

Na era dos jogos únicos, os maiores placares foram:

  • Sevilla 3×0 Barcelona – Final de 2006;
  • Atlético de Madrid 4×1 Chelsea – Final de 2012;
  • Barcelona 5×4 Sevilla – Final de 2015;
  • Atlético de Madrid 4×2 Real Madrid – Final de 2018.

 

Em 2000, a Supercopa começou a ser disputada pelo campeão da UCL e da Copa da UEFA (atual Liga Europa), já que a Recopa da UEFA foi descontinuada na temporada 1998-1999. E o Galatasaray, campeão da Copa da UEFA de 1999-2000, teve a honra de ser o campeão da Supercopa de 2000 logo no primeiro ano da “promoção” do torneio. 

 

Novo milênio – consolidação

Liverpool faturou a Supercopa de 2005.

 

Em 2001, o Liverpool ficou com a taça diante do Bayern e, em 2002, o Real Madrid recuperou o troféu para os campeões da UCL após quatro anos de jejum. Em 2003, o Milan venceu seu 4º troféu da Supercopa e repetiria a dose em 2007, alcançando o posto de maior campeão. Em 2004, o Valencia ficou com o bicampeonato e, em 2005, o Liverpool venceu pela terceira vez a Supercopa logo após seu Milagre de Istambul. Em 2006, o Sevilla surpreendeu ao levantar o torneio vencendo o Barcelona de Ronaldinho por 3 a 0, confirmando uma das melhores fases de sua história. Em 2008, outra surpresa: o Zenit-RUS derrotou o Manchester United-ING de Sir Alex Ferguson e levou o troféu pela primeira vez. 

Sevilla, supercampeão de 2006. Foto: UEFA

 

Após um período de alternância entre campeões de 2009 até 2012, a Supercopa viu uma hegemonia de cinco títulos seguidos dos campeões da UCL, que ficaram com os troféus de 2013 (Bayern), 2014 (Real Madrid), 2015 (Barcelona), 2016 (Real Madrid) e 2017 (Real Madrid). Só em 2018 que o Atlético de Madrid quebrou a banca e derrotou o rival Real Madrid na final daquele ano por 4 a 2, ficando com sua terceira taça – nas três, o clube colchonero entrou como campeão da Liga Europa. Mas, de 2019 até 2023, os campeões da UCL voltaram a reinar e não perderam o trono desde então.

 

Com mais de 50 anos de histórias, a Supercopa da UEFA é um torneio já consolidado no calendário do futebol mundial e serve como uma espécie de abertura oficial da temporada no Velho Continente. É uma ótima maneira para os envolvidos começarem bem ou ligarem o alerta em caso de revés. Afinal, sempre é bom ser supercampeão.

 

Todos os campeões

Recordes:

 

  • O placar geral até hoje da Supercopa é: 28 títulos para os campeões da Liga dos Campeões da UEFA e 20 títulos para os campeões da Liga Europa / Recopa. Se contarmos o título não-oficial do Ajax em 1972, o placar aumenta para 29 a 20;
  • Milan, Barcelona e Real Madrid são os maiores campeões da Supercopa com 5 troféus cada um;
  • Na sequência, vêm Liverpool (4 troféus) e Atlético de Madrid (3 troféus);
  • Milan 1989/1990 e Real Madrid 2016/2017 são os únicos bicampeões consecutivos da história da Supercopa;
  • O Barcelona é o recordista em finais: 9 disputas, sendo 5 títulos e 4 vices;
  • O Sevilla é o clube com mais vices: foram 6 derrotas em finais;
  • A Espanha é o país com mais troféus: 16 conquistas, seguida da Inglaterra, com 10 taças;
  • Os jogadores com mais títulos são: Paolo Maldini, Dani Alves, Dani Carvajal, Karim Benzema, Toni Kroos e Luka Modrić. Cada um venceu 4 troféus;
  • Pep Guardiola e Carlo Ancelotti são os técnicos com mais títulos: 4 troféus cada;
  • Terry McDermott (Liverpool, 1977) e Radamel Falcao (Atlético de Madrid, 2012) são os únicos jogadores que marcaram três gols em uma final.

 

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