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Palmeiras x São Paulo – Choque-Rei

 

Por Guilherme Diniz

Atualizado 2024

A rixa: naqueles anos 1940, não tinha para ninguém. Se você pensasse em Campeonato Paulista, o título ficava ou com o Palmeiras ou com o São Paulo. Foi assim durante nove anos seguidos, entre 1942 e 1950. O predomínio absoluto da dupla perante os rivais fez com que todo jogo entre alviverdes e tricolores se transformasse em um verdadeiro choque de reis. E foi essa alcunha que inspirou o célebre jornalista Tomaz Mazzoni a apelidar o duelo entre os titãs paulistas: Choque-Rei. O nome pegou, os rivais seguiram conquistando títulos e mais títulos ao longo das décadas e levaram o confronto para os mais diversos torneios, seja no Brasil, seja na Libertadores. Com muito equilíbrio e fanatismo, o clássico virou um dos mais tradicionais do país e mobiliza milhões de torcedores em cada duelo.

Quando começou: no dia 30 de março de 1930, no empate em 2 a 2, em jogo válido pelo Campeonato Paulista daquele ano.

Maior artilheiro: Müller (São Paulo) – 12 gols

Gino Orlando (São Paulo) – 11 gols

Müller marcou, também, três gols pelo Palmeiras. OBS.: algumas fontes creditam 12 gols a Gino Orlando, e não 11.

Quem mais venceu: Ambos venceram 116 vezes (até março / 2024). Foram 114 empates.

Maiores goleadas: São Paulo 6×0 Palmeiras, 26 de março de 1939

São Paulo 5×0 Palmeiras, 10 de novembro de 1956

Palmeiras 5×0 São Paulo, 19 de maio de 1965

Palmeiras 5×0 São Paulo, 25 de outubro de 2023

São Paulo 6×2 Palmeiras, 04 de outubro de 1981

Palmeiras 4×0 São Paulo, 15 de março de 1953

São Paulo 0x4 Palmeiras, 08 de março de 1992

 

Fundado em 1914, o Palmeiras já nutria uma rivalidade contra o Corinthians naqueles anos 1930 quando começou a enfrentar um novo clube fundado na capital: o São Paulo. Já em 1931, apenas um ano depois da fundação do tricolor, o Verdão foi vice-campeão paulista e viu o São Paulo ser campeão, com direito a uma goleada de 4 a 0 do tricolor sobre os palestrinos durante a campanha. Foi a partir daquele ano que começou a nascer a rivalidade entre dois clubes gigantescos, multicampeões e que sempre forneceram os mais diversos craques para as seleções brasileiras campeãs mundiais. Donos de duas das maiores torcidas do Brasil (a 3ª maior é do tricolor e a 4ª maior é do Palmeiras), o Choque-Rei sempre inspirou grandes jogos e já decidiu finais lendárias e vagas nos mais diversos torneios, em especial a Copa Libertadores. É hora de conferir a história desse clássico quase centenário.

 

Novato atrevido

Os primeiros encontros entre Palmeiras e São Paulo aconteceram em 1930, quando o alviverde ainda se chamava Palestra Itália e o tricolor havia acabado de nascer, após as fusões do Paulistano e da AA das Palmeiras. Os primeiros três jogos terminaram empatados em 2 a 2 e só no mês de maio de 1931 que veio a primeira vitória: foi do Palestra, por 3 a 2, pelo Campeonato Paulista. Só que naquele mesmo ano o São Paulo venceu seu primeiro jogo contra o rival com uma sonora goleada de 4 a 0 e seguiu firme rumo ao título estadual, com destaque para a dupla Friedenreich e Araken Patusca, principais nomes ofensivos do clube tricolor. Com o orgulho ferido, o Palestra permaneceu cinco jogos sem perder para o tricolor e venceu três duelos seguidos, além de ficar com os Campeonatos Paulistas de 1932, 1933 e 1934 – em todos o São Paulo foi vice! 

Mas, em 1934, a invencibilidade alviverde foi quebrada justamente na última rodada do Paulistão, quando o Palestra, já campeão, poderia ser campeão invicto, mas foi derrotado pelo São Paulo por 1 a 0 e viu a “campanha perfeita” ruir. Entre 1935 e 1938, o Palestra aproveitou o período turbulento pelo qual passou o rival e ficou nove jogos sem perder, além de emendar seis vitórias seguidas, todas no Parque Antarctica. Em 1939, o São Paulo conseguiu a desforra com a maior goleada da história do clássico: 6 a 0, na Rua da Mooca, com três gols de Armandinho, um de Elyseo, um de Paulo e outro de Araken Patusca. Na época, o tricolor era comandado por Vicente Feola, que seria o técnico da seleção brasileira campeã da Copa do Mundo de 1958

Em 1939, São Paulo aplicou a maior goleada do clássico: 6 a 0.

 

Com a chegada dos anos 1940 e o estopim da Segunda Guerra Mundial, o duelo, ainda dominado pelo Palestra, ganharia mais tempero e equilíbrio. Por ser de origem italiana, o Palestra se viu obrigado a mudar de nome e cores a fim de acabar com a perseguição e polêmicas que o clube e seus atletas viviam pelo fato de o Brasil ter declarado guerra contra os países do Eixo, do qual a Itália fazia parte. E o jogo que marcou a reviravolta na identidade do clube foi exatamente contra o São Paulo, em 20 de setembro de 1942. O Palestra virou Palmeiras, as cores adotadas foram o verde e branco e o time entrou no gramado do Pacaembu com a bandeira do Brasil. E o time “nasceu” campeão paulista ao vencer o São Paulo por 3 a 1 no primeiro jogo após sua mudança de nome. Após o jogo, a frase do técnico alviverde Armando Del Debbio ganhou os livros: “O Palestra morre líder, e o Palmeiras nasce campeão”.

Os palmeirenses no grande dia da “transformação alviverde” e do título estadual.

 

Só que a década de 1940 marcaria a ascensão definitiva do São Paulo no cenário paulista e também no Brasil. Com a contratação do lendário Leônidas da Silva e craques como Ruy, Bauer, Noronha, Sastre, Mauro Ramos e companhia, o São Paulo venceu cinco campeonatos paulistas e só não teve uma hegemonia maior por culpa, claro, do Palmeiras, único que, com exceção do título do Corinthians em 1941, impediu o São Paulo de conquistar todos os títulos daquela década.

O São Paulo de 1949. Em pé: Ruy, Savério, Mauro Ramos, Mário, Bauer e Noronha. Agachados: Friaça, Ponce de León, Leônidas, Remo e Teixeirinha.

 

Foram jogos espetaculares entre os rivais e grandes momentos no Pacaembu, inaugurado em 1940 e que virou o principal palco dos confrontos entre a dupla. Entre os destaques, um 4 a 3 do Palmeiras no Paulista de 1947 e três vitórias seguidas do São Paulo em 1949, com destaque para os dois jogos pelo Campeonato Paulista. No primeiro encontro, dia 24 de julho de 1949, o tricolor aplicou 5 a 1 no Verdão, com dois gols de Ponce de León, dois de Teixeirinha e um de Leônidas. No returno, Remo (duas vezes), Ponce de León e Friaça fizeram os tentos da goleada de 4 a 2 do São Paulo sobre o rival. Além de massacrar o alviverde, o tricolor ainda goleou adversários como Juventus (8 a 2), Nacional (5 a 0) e Ypiranga (5 a 1), além de aumentar para sete jogos a invencibilidade para o rival Corinthians na época com uma vitória (3 a 2) e um empate (3 a 3).

 

O Choque-Rei ganha o Brasil (e a América!)

Jair Rosa Pinto, enfurecido, no “jogo da lama”.

 

Essa hegemonia e reinado de tricolores e alviverdes no estado foi a inspiração para o célebre cronista do jornal A Gazeta Esportiva, Tomaz Mazzoni, apelidar o clássico como Choque-Rei, que teve na primeira metade dos anos 1950 um novo predomínio do Palmeiras, com destaque para o lendário “Jogo da Lama”, em janeiro de 1951, que decidia o título do ano anterior. Diante de uma forte chuva que castigou o gramado do Pacaembu e o transformou em um lamaçal, o jogo foi tenso e muito pegado. Precisando de um empate, o Palmeiras foi para os vestiários perdendo por 1 a 0 para o São Paulo, que queria o sonhado tricampeonato consecutivo e tão evitado pelo Verdão. Enfurecido, Jair Rosa Pinto, um dos maiores craques do futebol brasileiro e ídolo alviverde, pediu raça e entrega aos jogadores – como você pode ver na foto acima – e sua vontade inspirou os palestrinos. No segundo tempo, Aquiles empatou após receber passe de Jair e deu o título ao Palmeiras, que conseguiu a classificação para a famosa Copa Rio e faturou o título naquele ano de 1951.

 

Naquele começo de década, o Palmeiras ficou sete jogos sem perder para o rival – quatro vitórias e três empates – e seguiu com boas vantagens até o São Paulo dar o troco a partir de 1956, com 11 jogos sem perder, cinco vitórias seguidas e quatro goleadas: 5 a 0 e 5 a 3, pelo Paulista de 1956; 4 a 2, pelo Paulista de 1957, na estreia de Zizinho pelo tricolor; e 5 a 2, pelo Torneio Rio-SP de 1958. Aliás, aqueles anos 1950 foram cheios de gols no clássico, que teve ainda um 4 a 3 do Palmeiras em junho de 1958 e um 4 a 3 do São Paulo em abril de 1959. Foi nesse período que o artilheiro Gino Orlando se consolidou como maior goleador da história do clássico na época ao anotar 11 gols. 

Na década de 1960, o São Paulo entrou em um profundo jejum de títulos em prol da construção do Morumbi – que sugava os recursos do clube e minava as grandes contratações de jogadores – e o Palmeiras acabou colecionando mais conquistas, além de o Santos também sair do ostracismo com Pelé e companhia. Mesmo com sua Academia e craques como Djalma Santos e Julinho Botelho, o Verdão não teve vida fácil e ficou 11 jogos sem vencer o São Paulo, entre março de 1961 e setembro de 1963. Nesse intervalo, o tricolor ainda venceu seis jogos seguidos, recorde compartilhado pela dupla e que nunca foi superado. Mas, em 1965, a desforra alviverde veio com a goleada de 5 a 0 no Pacaembu, pelo Torneio Rio-SP, a maior já aplicada pelo Verdão no clássico – com dois gols de Servílio, dois de Dario e um de Rinaldo. Essa vitória embalou de vez o Palmeiras na conquista do título – que também era disputado ponto a ponto pelo São Paulo.

A Academia do Palmeiras dos anos 1960 é um dos maiores esquadrões da história do futebol brasileiro.

 

Depois de 1969, o clássico passou por momentos de poucos gols e muitos empates. Só em 1972, por exemplo, foram quatro jogos e todos empatados em 0 a 0. E, entre abril de 1970 e julho de 1973, dos 16 jogos disputados entre a dupla, 10 terminaram empatados – curiosamente, foi no começo da década de 1970 que o São Paulo ostentou a mais longa invencibilidade diante do Palmeiras na história do clássico: 15 jogos, com seis vitórias e nove empates, série que começou em março de 1971 e foi até abril de 1974. Mas dois empates foram saborosos para o Palmeiras. 

Em pé: Eurico, Leão, Luís Pereira, Alfredo, Dudu e Zeca. Agachados: Edu, Leivinha, César Maluco, Ademir da Guia e Nei. Os bicampeões do Brasil em 1973.

 

Em 1972, a equipe empatou em 0 a 0 com o São Paulo e foi campeã invicta do Paulistão, assim como o tricolor também terminou a competição invicto, mas vice. E, em 1973, o Verdão empatou em 0 a 0 com o rival na última rodada do quadrangular final do Campeonato Brasileiro e faturou o bicampeonato da competição com a lendária Segunda Academia. Os títulos serviram para amenizar a ira causada na final estadual de 1971, quando os rivais decidiram o Paulistão em um jogo cheio de polêmicas. Toninho Guerreiro fez 1 a 0 para o tricolor e o Palmeiras empatou com Leivinha, mas o juiz Armando Marques invalidou o gol por entender que o palmeirense usou a mão (na verdade, foi de cabeça). Para piorar, o palmeirense sofreu um pênalti claro no lance!

O polêmico lance de Leivinha: se isso não é pênalti… Foto: Acervo / Placar.

 

 

O São Paulo de 1974. Em pé: Gilberto, Waldir Peres, Chicão, Paranhos, Arlindo e Pablo Forlán. Agachados: Terto, Zé Carlos, Mirandinha, Pedro Rocha e Piau.

 

Ademir da Guia e Pedro Rocha: lendas do futebol e ídolos presentes no Choque-Rei.

 

Mas o troco do São Paulo pelos vices de 1972 e 1973 veio em grande estilo: em 1974, o Choque-Rei foi disputado pela primeira vez na Copa Libertadores, na fase de grupos, e o tricolor venceu os dois jogos: 2 a 0, no Morumbi, e 2 a 1, no Parque Antarctica, resultados que eliminaram o alviverde e classificaram o São Paulo para a fase seguinte – o tricolor chegaria até a final, mas ficou com o vice diante do Independiente de Bochini.

 

Mário Sérgio deu show na goleada de 6 a 2.

 

Müller se transformou no maior carrasco do Palmeiras naquele final de anos 1980.

 

Já nos anos 1980, o Palmeiras entrou em um angustiante jejum e o São Paulo voltou a levantar troféus e a judiar do rival, como o inesquecível 6 a 2 de outubro de 1981, ano do bicampeonato estadual do tricolor, com dois gols de Mário Sérgio, um deles de calcanhar. Em 1985, início dos Menudos do Morumbi, o Choque-Rei teve um alucinante 4 a 4 pelo Campeonato Brasileiro, um dos maiores da história do confronto, e, em 1986, Careca, Silas (2), Müller e Sidnei fizeram os gols da goleada de 5 a 1 pra cima do Palmeiras no Paulistão. Falando em Müller, o atacante virou um grande carrasco do alviverde e anotou 12 gols vestindo o tricolor, a maioria naquele final de anos 1980.

 

Espetaculares do Brasil e do mundo

Raí deixa Mazinho e César Sampaio para trás: no começo dos anos 1990, só deu São Paulo. Depois, só deu Palmeiras.

 

A era de ouro do Choque-Rei foi, sem dúvida, os anos 1990, com dois períodos de hegemonia distintos. O primeiro foi do São Paulo de Telê Santana, Raí e companhia, que faturou entre 1991 e 1994 um Brasileiro, duas Libertadores, dois Mundiais, dois Paulistas e outros tantos títulos com um dos mais lendários esquadrões do futebol mundial. Em 1992, por exemplo, o título paulista foi celebrado diante do Palmeiras de maneira épica. A final estava marcada para dezembro, mesmo mês em que o tricolor iria disputar o Mundial Interclubes contra o Barcelona-ESP. Com isso, o time do Morumbi enfrentou o Palmeiras no primeiro jogo, venceu por 4 a 2, pegou o avião, deu um pulo até o Japão, venceu o Barça, faturou o Mundial, voltou ao Brasil, venceu de novo o Palmeiras (2 a 1) e levantou o troféu de campeão paulista. Por outro lado, os alviverdes sempre lembram dos 4 a 0 imposto ao time de Telê naquele mesmo ano, em março, em duelo válido pelo Brasileirão.

Zinho e Cerezo. Foto: Gazeta Press.

 

Blitz palmeirense pra cima de Raí. Foto: Sílvio Porto / Placar.

 

Em 1993, foi o Palmeiras que iniciou uma fase cheia de louros graças à parceria com a Parmalat, que possibilitou a contratação de vários craques. Comandado por Vanderlei Luxemburgo, o Verdão enterrou de vez o jejum de mais de uma década sem títulos e faturou dois Brasileiros, dois Paulistas, um Rio-SP e deu show com um esquadrão histórico. E esse esquadrão foi um dos poucos a conseguir duelar de igual para igual contra o São Paulo naquela época, com jogos muito equilibrados e nenhuma grande sequência de vitórias seguidas – o máximo foram dois triunfos do tricolor, em 1992. Em 1994, os rivais voltaram a se enfrentar em uma Libertadores, nas oitavas de final, e de novo deu São Paulo: empate em 0 a 0 no primeiro jogo e 2 a 1 na volta, no Morumbi. Assim como em 1974, o tricolor foi para a final, só que perdeu a decisão para o Vélez Sarsfield-ARG.

Morumbi lotado: cena típica do clássico naqueles anos 1990.

 

Edílson, Roberto Carlos, Edmundo e Antonio Carlos: estrelas do Verdão eram só risada (e títulos!) naquela época.

 

A primeira série de vitórias seguidas do clássico aconteceu a partir de 1995, quando o São Paulo entrou em um período de entressafra. Foram seis vitórias consecutivas do Palmeiras entre julho de 1995 e março de 1997, período de um novo esquadrão emblemático do Verdão, o campeão paulista de 1996, do ataque dos 100 gols. Só em maio de 1997 que o tricolor voltou a vencer, com um triunfo por 4 a 2, no Pacaembu, pelo Campeonato Paulista. No mesmo mês, nova vitória são-paulina (4 a 1), no Morumbi, também pelo torneio estadual. Em 1998, o São Paulo conseguiu três vitórias seguidas no clássico pela primeira vez na década, com um triunfo no Torneio Rio-SP (1 a 0) e dois na semifinal do Paulistão (2 a 1 e 3 a 1), ano do título estadual tricolor. Para fechar a década, mais dois jogaços: empate em 4 a 4 pelo Paulista de 1999 e goleada de 5 a 1 do São Paulo também pelo torneio estadual.

 

Século XXI: lá e cá

Nos seis jogos disputados pela dupla em 2000, quatro foram vencidos pelo São Paulo, todos de maneira consecutiva, com destaque para as vitórias por 2 a 1 e 3 a 2 que eliminaram o rival nas quartas de final da Copa do Brasil – outra vez o São Paulo chegou a uma final após eliminar o Verdão e outra vez foi vice – perdeu para o Cruzeiro. O troco alviverde veio na Copa João Havelange daquele ano, com classificação do Palmeiras nas oitavas de final após empate em 1 a 1 no duelo de ida e vitória por 2 a 1 em pleno Morumbi. Em 2002, em duelo válido pelo Torneio Rio-SP, Alex foi a estrela da vitória alviverde por 4 a 2 ao anotar um dos gols mais bonitos da história do futebol brasileiro, do Morumbi e de toda sua carreira. O meia recebeu na entrada da área, chapelou o zagueiro Émerson, chapelou o goleiro tricolor Rogério Ceni e mandou a bola pro gol. Foi artístico, empolgante, único. Só vendo para entender:

 

Mas, entre 2005 e 2006, um novo grande esquadrão do São Paulo voltou a aprontar para cima do Verdão. Primeiro, com um 3 a 0 pelo Paulistão de 2005 (que terminou com título tricolor). Depois, nas oitavas de final da Copa Libertadores, com classificação do São Paulo após vitória por 1 a 0 em pleno Parque Antarctica (em golaço de Cicinho) e vitória por 2 a 0 no Morumbi, com gol de Rogério Ceni e outro de Cicinho. Quebrando sinas, o São Paulo foi até a final e, enfim, foi campeão ao derrotar o Athletico-PR por 4 a 0 na decisão. No ano seguinte, o São Paulo voltou a ser o carrasco do Palmeiras na Libertadores ao eliminar o rival de novo nas oitavas de final: empate em 1 a 1 na ida e vitória são-paulina por 2 a 1 na volta. E acredite: pela quarta vez o tricolor foi para a final continental após superar o rival! Mas, assim como em 1974 e 1994, perdeu, dessa vez para o Internacional. Pelo Brasileirão de 2006, o São Paulo ainda venceu o Palmeiras por 4 a 1, no turno, e foi campeão.

Cicinho (à esq.) comemora seu golaço no primeiro jogo da Libertadores de 2005. Ele deixou o seu no segundo duelo também.

 

Nos anos seguintes, o duelo voltou a ficar equilibrado e o Palmeiras, enfim, celebrou uma classificação diante do rival na semifinal do Paulista de 2008, com uma vitória por 2 a 0 e muita provocação, em especial do chileno Valdívia. Esse jogo teve ainda a polêmica do gás lançado no vestiário tricolor que impossibilitou o elenco do São Paulo de permanecer no local no intervalo, fato que rendeu até um inquérito policial para averiguar o caso.

Em 2008, Valdívia foi o pesadelo tricolor.

 

Depois de anos difíceis no começo da década de 2010, o Palmeiras ostentou uma notável hegemonia sobre o rival justamente no início de seus festejos do centenário e da inauguração do Allianz Parque. Para se ter uma ideia, entre março de 2015 e outubro de 2019, o Palmeiras venceu 11, empatou quatro e perdeu apenas dois dos 17 jogos disputados contra o rival, com direito a nove jogos seguidos de invencibilidade e cinco vitórias seguidas! Foram anos mágicos para o Verdão, que levantou dois Brasileiros (2016 e 2018) e uma Copa do Brasil (2015) no período. Só em 2020 que o São Paulo conseguiu amenizar os seguidos revezes com uma vitória por 2 a 0 no Allianz (a primeira vitória do time no estádio alviverde) em outubro, pelo Brasileirão. Mas a volta por cima veio em 2021, com o título tricolor do Campeonato Paulista conquistado pra cima do rival (cheio de pompa após ser campeão da Libertadores e da Copa do Brasil em 2020) e que encerrou o jejum são-paulino sem taças que perdurava desde 2012. 

Luciano faz a festa: São Paulo campeão pra cima do Palmeiras em 2021.

 

Tricolor eliminou o rival nas quartas de final da Copa do Brasil de 2023 e aumentou ainda mais o placar em duelos eliminatórios. Foto: Marcos Riboli.

 

Só que o Palmeiras respondeu rápido. O troco veio nas quartas de final da Copa Libertadores de 2021, quando o Verdão quebrou a sina de jamais ter vencido o rival no torneio e se classificou após empatar em 1 a 1 no Morumbi e vencer por 3 a 0 o duelo da volta, em casa. E, em 2022, com uma virada histórica na final do Paulistão ao vencer por 4 a 0 o duelo da volta, em casa, depois de perder a ida por 3 a 1, no Morumbi. Mas, em julho de 2022, o tricolor deu o troco e eliminou o Palmeiras nas oitavas de final da Copa do Brasil após vencer o duelo de ida por 1 a 0, no Morumbi, perder por 2 a 1 no Allianz Parque e derrotar o Verdão nos pênaltis por 4 a 3. Em 2023, o filme se repetiu e o São Paulo eliminou mais uma vez o Palmeiras na Copa do Brasil, dessa vez nas quartas de final, com vitória por 1 a 0 no Morumbi e triunfo por 2 a 1, de virada, no Allianz Parque. Maaaas (é, ele sempre por aqui), o Verdão enfiou 5 a 0 no Sao Paulo pelo returno do Brasileirão, no Allianz, e repetiu sua maior goleada na história do clássico e que não acontecia desde 1965.

Na final da Supercopa Rei de 2024, o São Paulo venceu o Palmeiras nos pênaltis e aumentou a freguesia do rival em eliminatórias: 17 a 5. Foto: Gilson Lobo / Agif

 

Em 2024, os rivais decidiram a Supercopa do Brasil e, após empate sem gols no tempo normal, o São Paulo venceu o Palmeiras por 4 a 2 nos pênaltis e ficou com a taça. O título fez do tricolor o primeiro clube do Brasil a conquistar todos os títulos possíveis no futebol: Mundial de Clubes da FIFA, Copa Libertadores, Recopa Sul-Americana, Copa Sul-Americana, Brasileirão, Copa do Brasil, Supercopa Rei e Paulistão. Com grandes histórias e muita disputa, o Choque-Rei segue como um dos mais equilibrados e frenéticos clássicos do futebol brasileiro. 

 

Curiosidades:

 

  • A maior série invicta do clássico pertence ao São Paulo: 15 jogos, seis vitórias e nove empates, entre março de 1971 e abril de 1974;
  • Ambas as equipes já conseguiram séries de 6 vitórias seguidas sobre o rival em diferentes épocas, mas nunca sete;
  • Os centros de treinamentos dos clubes ficam na Barra Funda e são divididos por um muro. Nos anos 1990 e 2000, várias foram as histórias de olheiros espreitando os treinos de um e de outro em busca de segredos e táticas do rival. Para evitar espionagem, árvores foram plantadas no entorno do muro para prejudicar a visão, mas elas não eram 100% seguras. Só em 2016 que o Palmeiras concluiu uma obra de ampliação do muro e “se separou” definitivamente do rival;
Os CTs dos clubes divididos por um muro. Foto: Montagem / GE, com Google Maps.

 

Antes da reforma, o muro era palco de espionagem de um lado e de outro, como nesse flagrante do fotógrafo Ricardo Nogueira, da Folhapress, em 2009, com um funcionário do Palmeiras vendo Rogério Ceni cobrando faltas!

 

Até que, em 2016, o Palmeiras ampliou o muro e “se separou” do rival. Foto: José Edgar de Matos / UOL Esporte.

 

  • Considerando finais de campeonatos (seja eliminatória, partida final em torneio de pontos corridos ou quadrangular), os rivais já se enfrentaram oito vezes. Foram quatro títulos do Palmeiras (1950, 1972 e 2022, pelo Paulistão, e 1973, pelo Brasileiro) e quatro títulos do São Paulo (1971, 1992 e 2021, pelo Paulistão, e 2024, pela Supercopa do Brasil;
  • Em duelos eliminatórios, a vantagem é toda do São Paulo: são 17 vitórias contra apenas cinco do Palmeiras;
  • Pela Copa Libertadores, a hegemonia do São Paulo também é marcante: são 10 jogos, seis vitórias, três empates e apenas uma derrota, com três triunfos em fases de oitavas de final (1994, 2005 e 2006) e um triunfo do Palmeiras nas quartas de final de 2021;
  • O maior público da história do Choque-Rei aconteceu em 17 de junho de 1979, no Morumbi: 119.113 pessoas no São Paulo 1×0 Palmeiras, pelo Campeonato Paulista;
  • Das goleadas por quatro ou mais gols, a vantagem é tricolor: 8 foram do São Paulo e 5 do Palmeiras;
  • Palmeiras e São Paulo são verdadeiros talismãs da Seleção Brasileira. Nas cinco campanhas vencedoras em Copas do Mundo, o time canarinho sempre contou com atletas dos dois clubes! Fica a dica: pro hexa vir, é só montar um bom time, claro, e convocar atletas do Verdão e do Tricolor!

 

 

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Comentários encerrados

7 Comentários

  1. Falando em Palmeiras sinto falta do time bicampeão da libertadores entre os esquadrões imortais, ainda que a equipe ainda esteja em alta nas competições

  2. Bela materia, a rivalidade entre São paulo x Palmeiras é um pouco subestimada pela midia que sempre foca muito em Corinthians x Palmeiras, pra mim todos os classicos que envolvem o trio de ferro em si tem mais ou menos o mesmo nivel de rivalidade mas a pergunta que não quer calar, quem é o maior rival do São Paulo o Corinthians ou o Palmeiras?

    • Essa matéria explica com detalhes pq é o Palmeiras o maior rival. Uma rixa que vem desde os anos 40, dentro e fora de campo. Nem importa se o torcedor considere o Corinthians só pela mania de torcer contra o Corinthians. E claro que existe rixa entre os 2 também, principalmente à partir dos anos 80-90. Mas SP vs Palmeiras não é só um clássico de ódio de muito mais tempo, mas também um dos mais bem jogados da história do futebol. Os 2 maiores times a formarem por mais vezes seleções do futebol arte no estado. Rivalidade que já decidiu campeonato brasileiro, paulistas, copa do brasil e Libertadores.

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