Por Guilherme Diniz
A Supercopa do Brasil de 2024 promete ser um divisor de águas para o futebol do país. A competição, que tanto fez falta ao longo de quase 30 anos, retornou em 2020 e segue cativa no calendário desde então. E, para que ela nunca mais desapareça, a CBF praticamente assinou um compromisso ao renomear o torneio como Supercopa Rei, em homenagem ao nosso eterno Pelé, falecido em 2022 e que recebeu uma grande homenagem antes da decisão de 2023 – que fez jus à história do camisa 10 no jogaço Palmeiras 4×3 Flamengo daquele ano. Com esse novo nome, a Supercopa deve permanecer como parte integrante do calendário e apagar, aos poucos, o passado obscuro da competição.
A primeira edição, em 1990, foi disputada entre o campeão brasileiro de 1989 – Vasco – e o campeão da Copa do Brasil de 1989 – Grêmio. Mas, ao invés de os clubes se enfrentarem com todos os preparativos que exigiam um torneio nacional, a CBF teve a seguinte ideia: como Vasco e Grêmio tinham dois jogos confirmados pela fase de grupos da Copa Libertadores de 1990, tais jogos serviriam como a final da Supercopa! Pois é, acredite! O primeiro jogo foi em março, no Olímpico, e o tricolor venceu por 2 a 0 – gols de Nilson e Darci, em dia de muita chuva. A volta, mais de um mês depois e também sob chuva em São Januário, terminou empatada em 0 a 0 e o Grêmio foi campeão. Bem, foi na teoria e no papel, porque em campo o time gaúcho não recebeu nem sequer uma taça!
Até hoje os historiadores não têm um consenso do motivo pelo qual a CBF não entregou nem no dia nem depois um troféu ao Grêmio. A explicação mais sensata é que, como o jogo valia pela Copa Libertadores, não fazia sentido uma volta olímpica por outra competição, pois envolveriam problemas de transmissão e direitos. Em 2021, o torcedor gremista Carlos Cristiano fez questão de dar ao clube uma réplica do troféu em disputa desde 2020, mas o clube não pôde aceitar por ser um troféu extraoficial. Com isso, o torcedor entregou a taça ao ex-goleiro Mazarópi, campeão do torneio em 1990 com o tricolor.
Em 1991, a final teve o clássico interestadual Corinthians x Flamengo, campeões do Brasileirão e da Copa do Brasil de 1990, respectivamente. Naquele ano, tudo ocorreu bem: a final foi em jogo único, no Morumbi, e o Timão venceu por 1 a 0, gol do ídolo Neto. O alvinegro recebeu um troféu e pôde comemorar devidamente a conquista. Porém, no ano seguinte, a CBF simplesmente desprezou o torneio e ele sumiu. Anos e anos se passaram e perdemos a chance de ver grandes embates entre os campeões brasileiros e da Copa do Brasil. Deixamos de ver, entre muitos jogos:
Palmeiras x Grêmio, em 1995
Corinthians x Palmeiras, em 1999 (vixe…)
Santos x Corinthians, em 2003
São Paulo x Flamengo, em 2007
São Paulo x Fluminense, em 2008
Flamengo x Corinthians, em 2010
Cruzeiro x Atlético-MG, em 2015
Corinthians x Palmeiras, em 2016
Palmeiras x Grêmio, em 2017
Confira abaixo como seriam as finais se a Supercopa existisse entre 1992 e 2019
ANO | CAMPEÃO BRASILEIRO (ano anterior) | CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL (ano anterior) |
1992 | São Paulo | Criciúma |
1993 | Flamengo | Internacional |
1994 | Palmeiras | Cruzeiro |
1995 | Palmeiras | Grêmio |
1996 | Botafogo | Corinthians |
1997 | Grêmio | Cruzeiro |
1998 | Vasco da Gama | Grêmio |
1999 | Corinthians | Palmeiras |
2000 | Corinthians | Juventude |
2001 | Vasco da Gama | Cruzeiro |
2002 | Athletico Paranaense | Grêmio |
2003 | Santos | Corinthians |
2004 | Cruzeiro* | Cruzeiro |
2005 | Santos | Santo André |
2006 | Corinthians | Paulista |
2007 | São Paulo | Flamengo |
2008 | São Paulo | Fluminense |
2009 | São Paulo | Sport |
2010 | Flamengo | Corinthians |
2011 | Fluminense | Santos |
2012 | Corinthians | Vasco da Gama |
2013 | Fluminense | Palmeiras |
2014 | Cruzeiro | Flamengo |
2015 | Cruzeiro | Atlético Mineiro |
2016 | Corinthians | Palmeiras |
2017 | Palmeiras | Grêmio |
2018 | Corinthians | Cruzeiro |
2019 | Palmeiras | Cruzeiro |
*OBS.: em 2004, a final seria Cruzeiro x Santos, pelo fato de o Santos ter sido vice-campeão brasileiro de 2003, já que o Cruzeiro venceu tanto o Brasileiro quanto a Copa do Brasil. Tal critério foi utilizado pela CBF em 2022, quando o Atlético Mineiro, campeão do Brasileiro e da Copa do Brasil de 2021, enfrentou o Flamengo, vice-campeão brasileiro de 2021.
A partir de 2020, a Supercopa voltou e desde então serve como “abertura” do futebol no país. Com esse “batismo” em 2024, esperamos que o torneio permaneça vivo e, a cada ano, reescreva a história perdida com grandes jogos e duelos memoráveis.
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