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Craque Imortal – Higuita

Nascimento: 27 de agosto de 1966, em Medellín, Colômbia.

Posições: Goleiro e Líbero

Clubes: Millonarios-COL (1985), Atlético Nacional-COL (1986-1991 e 1993-1997), Real Valladolid-ESP (1991-1992), Veracruz-MEX (1997-1998), Independiente Medellín-COL (1999-2000), Real Cartagena-COL (2000-2001), Atlético Júnior-COL (2001-2002), Deportivo Pereira-COL (2002-2003 e 2008-2009), Aucas-EQU (2004), Guaros-VEN (2007) e Deportivo Rionegro-COL (2008).

Principais títulos por clubes: 1 Copa Libertadores (1989), 2 Copas Interamericanas (1989 e 1995) e 2 Campeonatos Colombianos (1991 e 1994) pelo Atlético Nacional.

Principais títulos individuais: 

Eleito para o Time do Ano da América do Sul pelo jornal El País: 1989 e 1990

Golden Foot Legends Award: 2009

5º Maior Goleiro-Artilheiro de todos os tempos: 43 gols

8º Maior Goleiro da América do Sul no século XX pela IFFHS

 

“El Loco”

Por Guilherme Diniz

 

Ele não era alto e nem parecia goleiro. Mas, quando ficava embaixo do travessão, demonstrava uma agilidade fora do comum e muita, muita impulsão. Mas era com a bola nos pés que ele se destacava. Inquieto, não aguentava ficar lá, parado, vendo o jogo seguir e esperando o adversário. Ele queria estar mais à frente, participando das jogadas como um verdadeiro líbero. Às vezes, a inquietude era tão grande que ele saía em disparada ao ataque parecendo um personagem de video-game. O gol ficava lá, vazio, mas os adversários eram tomados por uma magia que a atenção era só naquele goleiro louco e não na busca pela bola. Ele era uma atração. Dava ao seu time a possibilidade de ter 11 jogadores de linha. Era um acontecimento, capaz de realizar uma das defesas mais espantosas da história, a “defesa do escorpião”, em Wembley. Folclórico, único, incomparável. Quem viu, se divertiu. Quem não viu, perdeu. José René Higuita Zapata, ou simplesmente René Higuita, foi um dos mais divertidos e marcantes goleiros de todos os tempos e um símbolo de uma geração de futebolistas colombianos que deu ao país sua primeira Copa Libertadores, em 1989, e recolocou a Colômbia em uma Copa do Mundo após décadas de jejum. Com 43 gols na carreira e defesas marcantes, Higuita se transformou ainda em um dos maiores goleiros-artilheiros do futebol. É hora de relembrar a carreira de El Loco.

 

Driblador no gol

Higuita nasceu em Medellín, capital de Antioquia, no bairro de Castilla, onde “muitos nasciam, mas poucos cresciam”, segundo o próprio. Seu pai abandonou a família cedo e sua mãe, María Dioselina Higuita, faleceu quando Higuita ainda era criança. Órfão, o garoto foi criado pela avó, Ana Felisa, e desde cedo teve que ajudar no sustento da casa vendendo jornais e realizando pequenos serviços no comércio ou na vizinhança. Na escola, Higuita começou a jogar futebol e se destacava como um habilidoso atacante, capaz de driblar seus rivais e marcar muitos gols. Ele jogava pela seleção estadual da Antioquia e, como não tinha dinheiro para comprar o passe do ônibus, entrava escondido, até ser reconhecido pelos motoristas, que passaram a permitir a artimanha do garoto.

Certo dia, um goleiro da equipe da Antioquia se lesionou e Higuita acabou indo para o gol. Ele jogou muito bem e decidiu continuar a jogar naquela posição, mas com o advento de sair da grande área e ajudar na troca de passes, lançamentos longos e até dribles em atacantes. Após vários jogos pelo selecionado de Antioquia, Higuita conseguiu firmar um contrato com o Millonarios, de Bogotá, graças ao seu desempenho no torneio de juvenis pela seleção colombiana em janeiro de 1985. 

No clube azul, Higuita começou a jogar ocasionalmente após lesão do goleiro titular. Foi no Millonarios que o jovem aprendeu alguns macetes e colheu dicas para atuar mais avançado com o goleiro argentino Alberto Vivalda, apelidado de Loco na época e cujo apelido seria “incorporado” por Higuita. Em 1986, Higuita acabou se transferindo para o Atlético Nacional, que começaria um trabalho marcante sob as mãos do técnico Francisco Maturana. E foi ele quem percebeu que Higuita seria a pedra fundamental de uma verdadeira revolução que o técnico iria fazer no futebol colombiano.

 

Um jogador a mais

Com um camisa 1 como Higuita ao seu dispor, Maturana percebeu que o Atlético Nacional poderia jogar em um esquema tático diferente, com quatro jogadores no setor defensivo e um líbero extra. Esse tal líbero seria Higuita, que jogaria mais avançado e até fora da área, uma característica que iria enlouquecer os rivais e também a torcida, que teria um misto de diversão com tensão a cada jogada com participação de El Loco. Além dele, o Atlético tinha um plantel com craques fantásticos. Leonel Álvarez, Luis Carlos Perea e Gildardo Gómez se juntaram ao atacante Tréllez, ao ótimo zagueiro Andrés Escobar e ao vigoroso meio-campista Alexis García para formar a espinha dorsal de um esquadrão que brigou pelos títulos nacionais de 1987 e 1988, mas ambos escaparam. O consolo foi a vaga na Copa Libertadores de 1989, que virou o principal objetivo verdolaga da temporada. Nesse meio tempo, Higuita já havia deixado sua marca artilheira em gols de pênaltis – o primeiro foi em 1987, nos 6 a 1 sobre o Independiente Medellín, e vieram mais 15 gols só em 1988, todos de pênalti.

Após superarem a fase de grupos, os colombianos despacharam o Racing-ARG, nas oitavas, o rival Millonarios-COL, nas quartas, e o Danubio-URU, nas semifinais, até chegar à sonhada final. O rival era o poderoso Olimpia-PAR de Almeida, Sanabria, Amarilla e o técnico Luís Cubilla. No primeiro jogo, em Assunção, o Olimpia venceu por 2 a 0 e dificultou bastante a vida dos verdolagas para a volta, que seria disputada em Bogotá por causa de uma imposição da Conmebol, que exigia na época estádios com capacidade para mais de 50 mil pessoas em partidas finais.

 

Herói na glória eterna

Num claro exemplo de amor incondicional ao seu clube, a torcida do Atlético Nacional viajou em peso até a cidade de Bogotá para apoiar seu time rumo ao título da Libertadores. Mais de 30 mil torcedores percorreram quilômetros e mais quilômetros para lotar o estádio Nemesio Camacho, que havia se transformado num verdadeiro caldeirão. O Atlético jogou com sua força máxima e baseou suas ações na técnica, raça e muita vontade. O Olimpia, mesmo jogando fora de casa e com a vantagem do empate, assustou bastante o goleiro Higuita, principalmente com as chegadas de Amarilla. Depois de um primeiro tempo tenso, os colombianos abriram o placar com um gol contra de Miño e ampliaram com Usuriaga.

O gol inflamou ainda mais os colombianos, que partiram com tudo em busca do terceiro gol. Em um lance perto do final do jogo, o goleiro Higuita até arriscou sair de sua área para ajudar o ataque e deixou a torcida maluca quando driblou dois adversários, foi avançando até depois do meio de campo e só foi parado com falta pelo terceiro paraguaio à sua frente! A equipe alviverde merecia a vitória, mas o jogo terminou mesmo em 2 a 0, resultado que levou a decisão para os pênaltis.

 

A tensão tomou conta do estádio, mas a torcida colombiana explodiu em festa logo no começo das cobranças quando René Higuita voou para agarrar a primeira cobrança do Olimpia, desperdiçada pelo goleiro Ever Almeida. Os jogadores foram acertando os chutes seguintes até o colombiano Alexis García errar. Depois de 4 a 4, começaram as cobranças alternadas e todos os batedores falharam! González, Guash e Balbuena pelo Olimpia, Pérez, Gómez e Perea pelo Atlético, todos desperdiçaram seus chutes, com destaque para os goleiros, principalmente Higuita, que já acumulava quatro defesas sensacionais. No quarto chute alternado do Olimpia, Sanabria chutou para fora e outra vez o Atlético Nacional teve a chance de ser campeão. Leonel Álvarez partiu, bateu e, enfim, marcou! Explosão de alegria na capital Bogotá e festa total nas ruas de Medellín! Graças ao herói Higuita, os alviverdes se consagravam reis do continente. O orgulho tomou conta do país muito pelo fato de todo aquele elenco ser formado por jogadores colombianos. E Higuita ganhava seu lugar na história. Leia mais sobre essa final clicando aqui!

 

Parando (por algum tempo) o Milan de Sacchi

Ainda em 1989, Higuita teve um desempenho marcante na final do Mundial Interclubes, quando o Atlético Nacional enfrentou o poderoso Milan de Sacchi, um dos maiores esquadrões de todos os tempos. Ao contrário do que muitos esperavam (uma goleada do Milan), o Nacional jogou bem e conseguiu praticar seu futebol de toque de bola tão notabilizado na conquista da Libertadores, mas os italianos deram trabalho por causa de sua famosa marcação adiantada e a diminuição do campo em três quartos, que dificultava as ações alviverdes e deixava os atacantes Arboleda e Tréllez em constantes impedimentos. 

Higuita, em sua melhor fase na carreira, ganhava todas as disputas homem a homem e garantia a meta colombiana intacta. Depois de 0 a 0 nos 90 minutos, o jogo foi para a prorrogação. Quando todos achavam que a decisão iria para os pênaltis, uma cobrança de falta ensaiada confundiu os colombianos, que viram Evani marcar o gol que deu o título mundial ao Milan faltando um minuto para o fim do jogo. Era o fim do sonho para os alviverdes e da chance de encerrar com chave de ouro um ano inesquecível.

A Copa do Mundo e a loucura

O ano de 1989 foi marcante para Higuita e seus companheiros também pelo fato de a Colômbia conseguir a vaga em uma Copa do Mundo após 28 anos de ausência. A equipe cafetera garantiu presença ao vencer Israel na repescagem por 1 a 0, em casa, e empatar sem gols em Tel Aviv. Com a base do Atlético Nacional, o técnico Maturana e nomes como Rincón e Valderrama, a Colômbia foi para o Mundial da Itália com muita esperança. O grupo colombiano era complicado, pois eles teriam que enfrentar a Alemanha e a Iugoslávia, além dos Emirados Árabes Unidos. Na estreia, o time sulamericano venceu os EAU por 2 a 0 e, na partida seguinte, acabou perdendo para a Iugoslávia por 1 a 0. O placar poderia ser maior, mas Higuita defendeu um pênalti.

No último jogo do grupo, a Colômbia precisava pelo menos de um empate para se garantir nas oitavas de final. Só que o rival era a Alemanha, que seria a campeã daquela Copa. O jogo, ao contrário do que muitos pensaram, foi parelho e a Colômbia teve muitas chances de marcar, mas pecou demais nas finalizações. Lá atrás, Higuita garantia a meta intacta com suas saídas arrojadas e um estilo de jogo que já contagiava o público italiano. 

Quando já comemorava a classificação, a Colômbia sofreu um duro golpe no gol de Littbarski, aos 43’ do segundo tempo. Só que a Colômbia não se entregou e, em um contra-ataque fantástico orquestrado por Álvarez, Fajardo e Valderrama, El Pibe encontrou espaço pela direita do campo e tocou para Rincón avançar livre e tocar por baixo da saída do goleiro Illgner e fazer um golaço, o do empate, aos 48’ do segundo tempo, que classificou a Colômbia pela primeira vez na história a uma fase final de Copa. 

Nas oitavas de final, a Colômbia encarou Camarões, da lenda Roger Milla. E foi ele quem eliminou os colombianos – com uma providencial ajuda de Higuita. Nos 90 minutos, os times não conseguiram sair do zero e a Colômbia mostrou muita displicência em definir a partida. Na prorrogação, logo no primeiro minuto da segunda etapa, Milla despachou Perea e Escobar e tocou por cima do goleiro colombiano, marcando um belo gol para os africanos. Aos 4’, Higuita foi tentar driblar o craque camaronês, mas se esqueceu que ele estava diante de um dos maiores jogadores da história de Camarões. Resultado? Higuita perdeu a bola, Milla avançou e marcou o segundo gol. Redín ainda descontou para a Colômbia, aos 10´, mas era tarde. Camarões se classificou e a Colômbia voltou para casa mais cedo.

Higuita tenta, em vão, alcançar Roger Milla.

 

“O Perea não tinha que ter me devolvido a bola como ele fez. Mas o maior erro foi meu, porque você tem que saber com quem está jogando. E eu sabia que o Perea era muito bom na defesa, mas não tinha muita técnica. Se Milla tivesse tentado roubar a bola limpamente, não teria conseguido. Mas ele foi para me fazer falta, foi para acertar meu corpo e conseguiu pegar a bola. Depois daquele lance, pensei: “como é difícil separar o espetáculo do futebol de resultado”, comentou Higuita, em entrevista ao Esporte Espetacular, 18 de setembro de 2011.

Após o jogo, ninguém apontou o dedo contra Higuita. Foi um “erro da estrutura”, como disse o técnico Francisco Maturana tempo depois. Aquela foi uma das grandes loucuras de Higuita em sua carreira, provavelmente a mais famosa em suas saídas do gol. Porém, mesmo com esse revés, o goleiro jamais iria abandonar seu estilo. Tanto é que ele falou com a imprensa depois do jogo admitindo o erro, uma prova clara de sua personalidade: quando ia bem, ficava quieto. Quando falhava, dava a cara a tapa. 

Na volta para casa, a seleção colombiana foi recebida com festa, inclusive Higuita, que obrigou a FIFA e a International Board a mudarem uma regra no futebol: antes, os goleiros podiam pegar a bola com a mão em um recuo feito por um jogador de seu time. Mas, após 1990, os goleiros só poderiam dominar a bola com os pés após um recuo. “Veio um colombiano e disse mais ou menos isso para todos: ‘Esta é a lei de Higuita, é assim que os goleiros têm que jogar’. Tivemos erros, é claro, mas foi o que fizemos. Colocamos o foco na bola e na coragem”, comentou Higuita em entrevista publicada no UOL Esporte, em 24 de abril de 2018. 

 

Estrela mundial, problemas e volta por cima

Após a Copa de 1990 e os títulos pelo Atlético Nacional, Higuita se transformou em uma figura icônica no mundo do esporte. Conhecido em vários países e pauta de várias emissoras de TV, jornais e revistas, o colombiano passou a colecionar fãs e ser mais aclamado até mesmo que Valderrama, outra grande estrela do futebol colombiano na época – ambos eram muito amigos e cultivam a amizade até hoje. Ele virou uma estrela em seu país e apareceu em vários comerciais e campanhas publicitárias. Em campo, continuou com seu estilo único e ainda mais “loco”. Passou a sair mais do gol, ia ao ataque tabelando com os companheiros e algumas vezes flertava com um gol “de linha”. 

Em 1991, Higuita ajudou o Atlético a vencer o Campeonato Colombiano, título que fez com que o Real Valladolid contratasse o craque para a temporada 1991-1992. Na Espanha, Higuita jogou ao lado de Leonel Álvarez e Valderrama, mas nem o trio ajudou o clube espanhol a ir bem, pois na época a equipe vivia graves problemas financeiros e não tinha um elenco que pudesse competir por títulos. 

Valderrama no Valladoid, ao lado de Higuita (ao centro) e Álvarez.

 

Higuita deixou o Valladolid já no final de 1992 e retornou ao Atlético Nacional em 1993, ano que foi muito complicado para o craque, que foi preso por nove meses por participação em um sequestro. Pode causar espanto tal fato, mas a história foi bem diferente do que pensaram as autoridades da época, tanto é que ele acabou solto depois e ainda recebeu uma indenização. Higuita foi procurado pelo presidente do Atlético Nacional na época para intervir em um sequestro de uma filha de um torcedor ilustre do clube, Luis Carlos Molina Yepes. O goleiro aceitou, pois estava disposto a ajudar. E, tempo depois, os sequestradores libertaram a garota, levada pelo próprio Higuita à casa dos pais dela. 

Mas, dias depois, a polícia acabou pensando que ele sabia do ocorrido e a justiça disse que a intermediação de Higuita no caso era proibida por causa da Lei 40, que dizia que “qualquer pessoa que participasse de um sequestro sem mencioná-lo à polícia deveria ser presa”. Corroborou para a prisão de Higuita o fato de ele conhecer Pablo Escobar, famoso traficante colombiano que aterrorizou o país nos anos 1980 e 1990 e era procurado na época.

“Eles me disseram: você está aqui pela lei 40 (lei antissequestro). Entregue Pablo Escobar e você não será acusado. (…) Quando essa perseguição a Pablo Escobar começa, eles começam a pegar todos os seus amigos. Eles me pressionaram a entregá-lo, mas eu não sabia de nada. Eu não era amigo dele. As autoridades sabiam que eu era inocente. […] Eles me colocaram em um helicóptero e me levaram a Bogotá (algemado) e isso não foi feito nem com o pior traficante de drogas”, comentou Higuita ao programa 90 minutos, da Fox Sports, em 2020.

Durante o período na prisão, Higuita chegou a ser torturado e os jogadores colombianos fizeram várias manifestações em prol de sua liberdade. O tempo no cárcere custou ao goleiro uma vaga na Copa do Mundo de 1994, pois Francisco Maturana não escondia de ninguém que El Loco era seu favorito. Com isso, a Colômbia foi ao Mundial com Óscar Córdoba, goleiraço, mas que não tinha a habilidade com os pés de Higuita. No Mundial, a Colômbia era tida como favorita, mas acabou eliminada na fase de grupos com uma campanha decepcionante e sem demonstrar o futebol vistoso das Eliminatórias, quando chegou a aplicar um 5 a 0 na Argentina em pleno Monumental. 

“Eu fui solto como um homem inocente depois de nove meses, eu processei o estado, ganhei e continuei seguindo com a minha vida. Se eu precisar fazer alguma coisa, agir por um bem maior, eu vou agir e se isso me levar à prisão, vamos ser presos”, disse Higuita ao TyC Sports (ARG), em 2019.

Passado o entrevero de 1993, Higuita voltou a jogar pelo Atlético Nacional e, em 1994, foi mais uma vez campeão colombiano, troféu que serviu como uma redenção para sua carreira, abalada após o caso da prisão. Em 1995, o craque estava em ótima forma e conduziu com maestria o time verdolaga a mais uma final de Copa Libertadores. Durante a caminhada do clube de Medellín, Higuita teve atuações magistrais contra o poderoso River Plate nas semifinais. No primeiro jogo, na Colômbia, o camisa 1 fez um golaço de falta que deu a vitória ao Atlético por 1 a 0, seu segundo gol nesse estilo na carreira. 

Higuita celebra o golaço. Foto: Pedro Ugarte / AFP.

 

Na volta, o River venceu por 1 a 0, mas o placar não foi maior por culpa do goleiro, que fez uma partidaça. A igualdade na somatória levou a decisão para os pênaltis e Higuita fez o dele, no primeiro chute, e defendeu o pênalti decisivo de Matías Almeyda, garantindo a vitória colombiana em pleno Monumental. Na final, porém, os colombianos não conseguiram derrotar o copeiro Grêmio, que venceu por 3 a 1 a partida de ida, em Porto Alegre, e segurou o empate na volta, em Medellín. Tempo depois, Higuita disputou mais uma Copa América pela Colômbia, mas a equipe cafetera não conseguiu ir além e acabou eliminada na semifinal, quando perdeu para o anfitrião Uruguai por 2 a 0. Na disputa pelo terceiro lugar, o time cafetero venceu os EUA por 4 a 1, com um dos gols originados após Higuita cobrar uma falta na trave e Asprilla completar para o gol.

O Escorpião

Foto: Ross Kinnaird / Empics.

 

Ainda em 1995, Higuita protagonizou a cena mais icônica de sua carreira: a defesa do escorpião. Em um amistoso contra a Inglaterra em pleno estádio de Wembley (terminou empatado em 0 a 0), o goleiro defendeu um chute por cobertura de Redknapp com os dois pés em um movimento semelhante a um escorpião. Muitos pensaram que aquilo foi mais uma loucura instantânea do camisa 1, mas ele já havia feito o escorpião anos antes. Foi em 1990, durante um comercial de refrescos para a TV colombiana, quando o goleiro jogava bola com alguns garotos e um deles aplicou uma bicicleta para o gol. Como resposta, o craque defendeu a bola com a defesa do escorpião. 

Na época, ele disse que iria tentar a acrobacia em algum jogo, não sabia quanto nem onde. Pois ele escolheu justo Wembley para o feito. O goleiro disse depois que percebeu que o bandeirinha havia marcado impedimento no lance, por isso teve mais tranquilidade para realizar a defesa. 

“Estava só esperando aquela bola. Quando veio, resolvi fazê-la. Saiu perfeita. Sempre digo que as obras de Deus são grandes. E aquela foi uma obra de Deus, não de René Higuita”.

O lance correu o mundo e virou um dos momentos mais icônicos do futebol no século XX, além de aumentar ainda mais a fama do camisa 1. 

 

Várias camisas e aposentadoria

Em 1997, Higuita deixou o Atlético Nacional para jogar no Veracruz, do México. Nesse período, o camisa 1 abdicou da seleção colombiana por não estar em seu melhor nível e acabou de fora da Copa de 1998. Com isso, o único Mundial da carreira do craque foi mesmo o de 1990. Ele jogaria pela equipe cafetera até 1999, quando se aposentou da seleção após 68 jogos e três gols – todos de pênalti. Após 1998, Higuita vestiu a camisa de diversos clubes, mas passou a jogar menos e sem o brilho de antes. 

Nos anos 2000, quando jogava no futebol equatoriano, acabou pego em um exame antidoping e ficou sem jogar por seis meses. Sua despedida do futebol foi em 2010, aos 44 anos, diante da torcida do Atlético Nacional no Atanasio Girardot. Após pendurar as luvas e chuteiras, seguiu no mundo esportivo e integra a comissão técnica do Atlético Nacional até hoje, sendo uma figura única no clube de seu coração e personalidade que desperta admiração por onde passa. Ícone de tempos de ouro do futebol colombiano e com um estilo de jogo único, René Higuita foi uma das maiores figuras do esporte no século XX e é tido até hoje como o mais importante e famoso goleiro da Colômbia. Um craque imortal.

Números de destaque:

Disputou 242 jogos e marcou 30 gols pelo Atlético Nacional.

Disputou 441 jogos por clubes e marcou 40 gols.

Disputou 68 jogos e marcou 3 gols pela seleção da Colômbia.

 

 

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2 Comentários

  1. Divertido, louco, criativo, habilidoso… Higuita virou craque imortal porque tinha um estilo próprio, diferente dos outros goleiros, tanto que não só agarrava como se atrevia a sair jogando e até fazia gols de pênalti e falta. E a defesa do escorpião foi icônica!

    Mandou bem, Imortais! Eu acho que o futebol dos tempos atuais sente falta de boas loucuras como as do René Higuita! Abraço!

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