Nascimento: 10 de Maio de 1969, em Amsterdã, Holanda.
Posição: Atacante
Clubes: Ajax-HOL (1986-1993), Internazionale-ITA (1993-1995) e Arsenal-ING (1995-2006).
Principais títulos por clubes: 1 Recopa da UEFA (1986-1987), 1 Copa da UEFA (1991-1992), 1 Campeonato Holandês (1989-1990), 2 Copas da Holanda (1986-1987 e 1992-1993) e 1 Supercopa da Holanda (1993) pelo Ajax.
1 Copa da UEFA (1993-1994) pela Internazionale.
3 Campeonatos Ingleses (1997-1998, 2001-2002 e 2003-2004 – invicto), 4 Copas da Inglaterra (1997-1998, 2001-2002, 2002-2003 e 2004-2005) e 4 Supercopas da Inglaterra (1998, 1999, 2002 e 2004) pelo Arsenal.
Principais Títulos Individuais e Artilharias:
Talento Holandês do Ano: 1990
Artilheiro do Campeonato Holandês: 1990-1991 (25 gols), 1991-1992 (24 gols) e 1992-1993 (26 gols)
Jogador Holandês do Ano: 1991 e 1992
Artilheiro da Eurocopa: 1992 (3 gols)
Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 1992
3º Melhor Jogador da Europa (Ballon d´Or): 1992
3º Melhor Jogador do Mundo pela FIFA: 1993 e 1997
2º Melhor Jogador da Europa (Ballon d´Or): 1993
Artilheiro da Copa da UEFA: 1994 (8 gols)
Eleito para o Time do Ano da PFA: 1997-1998
Eleito o Jogador do Ano pela FWA: 1997-1998
Autor do “Gol da Temporada” da Premier League: 1997-1998 e 2001-2002
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1998
Eleito para o Hall da Fama do Futebol Inglês
Eleito o 2º Maior Jogador da História do Arsenal
FIFA 100: 2004
Eleito para a Seleção dos Sonhos da Holanda do Imortais: 2020
“O Homem de Gelo”
Por Guilherme Diniz
Ele tinha habilidade e controle de bola fantásticos. Dentro ou fora da área, conseguia enxergar o jogo como poucos e despistar qualquer zagueiro ou goleiro com apenas um corte, um drible artístico ou um toque por cobertura. Se o jogo estava feio, sem graça, bastava passar-lhe a bola e o feio se tornava bonito. Os toques rudes ganhavam leveza. O futebol parecia bem mais fácil. Só não valia mencionar a palavra “avião”… Dennis Nicolaas Bergkamp, mais conhecido como Bergkamp, foi um dos maiores e mais talentosos atacantes dos anos 90 e também uma das maiores joias que o futebol holandês (pra variar) já produziu. Letal com a bola nos pés, extremamente frio na hora de concluir a gol e também nas comemorações (quando elas aconteciam), o atacante ganhou o apelido de “Homem de Gelo” por causa dessas suas particularidades. Referência no ataque do renascido Ajax do começo da década de 90 e uma verdadeira lenda no Arsenal que conquistou taças históricas na virada do século XX, Bergkamp colecionou não só títulos ao longo da carreira, mas também fãs de todos os cantos do mundo que tiveram o privilégio de ver aquele grandalhão que tinha uma enorme e famosíssima fobia de voar mostrar com gols, passes e jogadas de gênio que seu lugar era mesmo na terra. É hora de relembrar a carreira desse craque do futebol.
Sumário
Inspiração goleadora
Último dos quatro filhos do casal Wim e Tonnie Bergkamp, Dennis nasceu em uma família simples do subúrbio de Amsterdã. O nome do garoto foi uma homenagem do pai ao brilhante atacante escocês Denis Law e, para adequar o nome do filho ao padrão holandês, Wim Bergkamp só teve que acrescentar um “n” para que o nome não soasse como “Denise” nos padrões do país. Como não poderia deixar de ser, o jovem começou a tomar gosto pelo futebol desde pequeno e adorava passar horas e horas brincando com uma bola no muro de sua casa e driblando sem dó os irmãos mais velhos. Mesmo em uma casa repleta de fãs do Manchester United-ING, Bergkamp tinha simpatia pelo Tottenham Hotspur-ING de Glenn Hoddle, exímio meia-atacante que brilhou com a camisa dos Spurs entre 1975 e 1987.
Com 12 anos, o jovem foi levado até as categorias de base do Ajax e começou a demonstrar uma técnica fascinante com o passar dos anos e um enorme domínio de bola, além de passar por cada posição do campo e se familiarizar com o “Futebol Total” até encontrar seu lugar ideal dentro das quatro linhas. Alto, Bergkamp começou a jogar mais recuado, mas suas qualidades o levaram ao ataque do time alvirrubro em dezembro de 1986, data de sua estreia contra o Roda pelo Campeonato Holandês. Treinado pela lenda Johan Cruyff, Bergkamp mostrou ao treinador toda sua dedicação e profissionalismo ao não cair nas farras da capital holandesa e treinando regularmente. Era questão de tempo para o jovem começar a ser escalado com mais frequência no time titular.
Talento para vencer
Jogando ao lado de feras como Frank Rijkaard, Aron Winter, Jan Wouters e Marco van Basten, Bergkamp conquistou logo em sua primeira temporada como profissional o título da Recopa da UEFA de 1986-1987 e a Copa da Holanda (jogando algumas partidas da campanha, incluindo a final, vencida por 1 a 0 sobre o Lokomotive Leipzig). Com muita técnica, calma e faro de gol, o atacante virou titular absoluto do Ajax principalmente após as saídas de Van Basten (para o Milan) e do técnico Johan Cruyff (para o Barcelona), fazendo com que o comando do time ficasse nos pés do craque e dos companheiros Ronald e Frank de Boer, outros vindos da mesma safra de talentos que Bergkamp. O trio ajudou o Ajax a conquistar o Campeonato Holandês de 1989-1990, troféu que pôs fim a sequência de quatro títulos consecutivos do rival PSV.
Na virada da década de 80, Bergkamp se tornou o grande atacante do futebol holandês ao se tornar o artilheiro da Eredivisie por três temporadas seguidas – 1990-1991 (25 gols), 1991-1992 (22 gols) e 1992-1993 (26 gols), rivalizando gol a gol com o brasileiro Romário, do PSV. Naqueles anos, o atacante ganhou ainda mais fama ao marcar gols em dez jogos consecutivos no Campeonato Holandês de 1993 (recorde no país) e conquistar os títulos da Copa da UEFA de 1991-1992 e da Copa da Holanda de 1992-1993 (com um gol de Bergkamp na goleada por 6 a 2 na final contra o Heerenveen), além das premiações individuais de melhor jogador do país em 1992 e 1993.
Com muita versatilidade, gols maravilhosos e muitas assistências, não demorou muito para que o jogador fosse convocado para a seleção holandesa, mais precisamente em 1990. No mesmo ano, o craque anotou seu primeiro gol com a camisa laranja na vitória por 2 a 0 sobre a Grécia pelas eliminatórias da Eurocopa de 1992, competição que Bergkamp disputou e marcou três gols (um contra a Escócia, um contra a Alemanha e outro contra a Dinamarca, que acabaria ficando com o título), se tornando um dos artilheiros do torneio ao lado do dinamarquês Henrik Larsen, do alemão Karl-Heinz Riedle e do sueco Tomas Brolin.
Frustração e título solitário em Milão
Com tantos gols e sucesso na Holanda, Bergkamp começou a atrair a atenção de diversos clubes da Europa. Na época, o jogador deixava claro que queria muito jogar na Itália pelo fato de a liga do país ser “a maior” da época (o que, de fato, era mesmo). Após várias propostas, o craque se mudou para a Internazionale cheio de expectativa, mas a passagem do holandês seria muito frustrante. Desacostumado a jogar contra retrancas quase intransponíveis e que eram vala comum no Calcio, Bergkamp anotou pouquíssimos gols e ainda viu seu futebol ser prejudicado pelo esquema tático do técnico Osvaldo Bagnoli, que deixava o atacante ora isolado, ora quase no meio de campo, impossibilitando uma boa sincronia entre ele, o uruguaio Ruben Sosa e o italiano Salvatore Schillachi.
Embora não tenha tido brilho dentro da Itália, Bergkamp encontrou uma chance fora dela para pelo menos ganhar uma taça com a camisa nerazurri já na temporada 1993-1994, quando foi o artilheiro da Copa da UEFA com oito gols e ajudou sua equipe a conquistar o título após eliminar Rapid Bucareste-ROM, Apollon Limassol-CPR, Norwich City-ING, Borussia Dortmund-ALE e Cagliari-ITA. Na final, Bergkamp não marcou, mas viu sua Inter derrotar o Austria Salzburg-AUT nos dois jogos por 1 a 0 e levantar a taça continental. Após o título, o holandês teria uma missão bem mais prazerosa e desafiadora: disputar a Copa do Mundo de 1994, nos EUA.
Aerofobia e gols
Antes de desembarcar nos EUA, Bergkamp cumpriu seu papel de atacante e ajudou a Holanda a se classificar para o mundial ao marcar cinco gols nas Eliminatórias e se consolidar no time titular do técnico Dick Advocaat. Porém, seria na terra do Tio Sam que o sempre tranquilo Bergkamp veria nascer em si uma fobia que o acompanharia durante toda carreira: o medo de avião. Tudo começou durante uma viagem da seleção holandesa nos EUA, em 1994, quando um voo da delegação europeia teve que ser cancelado por supostos problemas mecânicos no avião. Aproveitando-se da ocasião, um jornalista holandês brincou ao dizer que em sua mochila havia uma bomba. O “fanfarrão” foi preso e Bergkamp jurou para si que faria de tudo para evitar novas viagens de avião.
O transtorno causado pelo problema no avião e pela péssima brincadeira do jornalista impediria o atacante de disputar dezenas de partidas não só por sua seleção, mas também por seus clubes. Quando tinha que se deslocar, o holandês ia de carro ou trem enquanto seus colegas iam de avião. Quando não havia jeito, Bergkamp não viajava e era desfalque mais do que sentido para sua equipe. O atacante comentou sobre o fato em outubro de 1996, em entrevista ao jornal britânico The Independent:
“Eu tenho esse problema e tenho que conviver com ele. Não posso fazer nada, é algo psicológico que não posso explicar. Eu não posso voar. Eu simplesmente travo. Entro em pânico. Isso começa um dia antes, quando não consigo dormir”. – Dennis Bergkamp, em entrevista ao jornal The Independent, 05 de outubro de 1996.
Passado o problema, Bergkamp fez uma boa Copa do Mundo em 1994 e foi um dos destaques da Holanda na competição. Na primeira fase, o atacante da camisa 10 passou em branco nas partidas contra Arábia Saudita (vitória holandesa por 2 a 1) e Bélgica (derrota por 1 a 0), mas marcou um gol e deu passe para outro na vitória por 2 a 1 sobre Marrocos. Nas oitavas de final, Bergkamp abriu o placar na vitória por 2 a 0 sobre a Irlanda ao emendar um chute de primeira no contragolpe do goleiro Bonner. Nas quartas, ele voltou a balançar as redes, mas a Holanda não conseguiu superar o futuro campeão Brasil e perdeu por 3 a 2. Era hora de voltar para casa. E de aguentar horas torturantes dentro de um avião…
Ares puros ingleses
De volta à Milão, Bergkamp viveu mais momentos ruins na Inter e percebeu que seu lugar não era mais na Itália. Sofrendo com a imprensa que pegava no seu pé pelo fato de ele gostar de ficar em casa (“apatia”, segundo os repórteres) e sem se entrosar com o uruguaio Ruben Sosa, que o tratava mais como um rival do que como companheiro de time, Bergkamp aceitou de bate-pronto uma proposta do Arsenal-ING e se mudou para a Inglaterra em 1995 por 7,5 milhões de libras.
Já com a decisão tomada de não disputar partidas internacionais em países que ele não pudesse chegar de carro, trem ou mesmo navio, o atacante queria encontrar no Arsenal um ambiente para recuperar a felicidade jogando futebol e poder desenvolver seu talento de maneira plena. E ele encontrou. Preciso quando exigido e sempre no momento certo e no lugar certo, o craque aumentou de maneira considerável a qualidade ofensiva dos Gunners logo nos primeiros jogos da temporada 1995-1996 ao se entender muito bem com Ian Wright. O atacante marcou 16 gols e mostrou aos exigentes torcedores que aquilo era só o começo de seu futebol bailarino e cheio de classe. Muita coisa ainda estava por vir…
No topo do mundo
Na temporada 1996-1997, Bergkamp viu seu futebol crescer ainda mais graças à chegada do técnico Arsène Wenger, que mudou completamente o estilo de jogo do clube londrino e passou a focar mais o futebol ofensivo e a tratar o craque holandês como uma referência no setor de ataque. O trabalho do francês deu resultado e Bergkamp foi um dos principais goleadores do Arsenal na Premier League com 12 gols e ajudou seu companheiro, Ian Wright, em muitos dos 23 gols que ele marcou e que o fizeram vice-artilheiro da competição (atrás apenas de Alan Shearer, do Newcastle, com 25). Mas foi na temporada seguinte que o craque mostrou mesmo seu talento.
Mais incisivo no ataque e um virtuose com a bola nos pés, Bergkamp conduziu o Arsenal aos títulos do Campeonato Inglês e da Copa da Inglaterra. No primeiro, o time vermelho e branco venceu 23, empatou nove e perdeu apenas seis dos 38 jogos que disputou, marcando 68 gols e sofrendo 33. Bergkamp anotou 16 gols e foi o vice-artilheiro. Na Copa da Inglaterra, o astro fez gols importantes durante a campanha e só não jogou a final (vitória por 2 a 1 sobre o Newcastle) por estar contundido.
As grandes atuações do holandês o colocaram no mais alto patamar do futebol europeu e mundial entre os anos de 1997 e 1998, fato que lhe rendeu mais um terceiro lugar na premiação dos melhores do mundo pela FIFA, em 1997 (algo que já havia acontecido em 1993), e diversos prêmios de entidades esportivas da Inglaterra. O desempenho do atacante naquela temporada foi espetacular e teve um dos momentos mais marcantes no empate em 3 a 3 contra o Leicester pela Premier League. Bergkamp marcou três gols, sendo dois deles verdadeiras obras-primas: um por cobertura e outro com uma petecada em cada perna e uma finalização impecável e cheia de classe nos acréscimos do jogo. Para coroar uma era de ouro, só restava ao atacante brilhar no maior palco de todos: a Copa do Mundo.
Estrela num time dos sonhos
Entre todas as equipes que disputavam o título mundial de 1998, a Holanda era uma das maiores favoritas, igual ou até mais que o Brasil. A equipe laranja tinha um elenco absolutamente fantástico e repleto de craques que brilharam no grande Ajax dos anos 90 tais como van der Sar, Reiziger, Bogarde, Ronald de Boer, Seedorf, Bergkamp, Kluivert, Davids, Overmars e ainda Stam, Jonk, Cocu, Zenden, van Bronckhorst e Jimmy Floyd Hasselbaink. Era uma Seleção com letra maiúscula comandada pelo técnico Guus Hiddink que não lutaria por outra coisa que não fosse o título da Copa. Bergkamp era o grande astro daquela comitiva e fazia com o companheiro Kluivert uma dupla de ataque extremamente afiada. Nas Eliminatórias, o atacante anotou sete gols (incluindo um hat-trick na goleada de 7 a 1 sobre País de Gales) dos 26 que a Holanda marcou nos oito jogos disputados.
Na primeira fase, a equipe estreou com empate sem gols contra a Bélgica, resultado que desapontou muita gente. No entanto, tudo voltou ao normal com uma goleada de 5 a 0 sobre a Coreia do Sul, com um gol de Bergkamp. Na última partida do grupo, empate em 2 a 2 contra o forte México de Campos, Suárez, Ramírez, García Aspe, Blanco e Hernández. Invicta, a Holanda avançou até as oitavas de final e conseguiu uma vitória suada diante da Iugoslávia por 2 a 1, com um gol do atacante após ganhar do zagueiro Mirkovic e chutar por baixo do goleiro Kralj. Era hora das quartas de final. E de encarar a Argentina de Zanetti, Ayala, Sensini, Almeyda, Simeone, Verón, Ortega, Claudio López e Batistuta.
A obra de arte
Com mais de 55 mil pessoas no estádio Vélodrome, em Marselha, Holanda e Argentina fizeram um dos jogos mais esperados daquela Copa. A partida foi intensa e um puro deleite ao público pela quantidade absurda de craques em campo. Bem melhor no começo do jogo com uma marcação adiantada e eficiente, a Holanda abriu o placar com Kluivert, após este tabelar com Bergkamp e estufar as redes do goleiro Roa. Minutos depois, a Argentina empatou com Claudio López e o jogo seguiu equilibrado, com chances de todos os lados. Aos 32´do segundo tempo, Nuzman foi expulso e deixou a Holanda no aperto. No entanto, Ortega também foi expulso, aos 42´, e ambas as equipes ficaram com 10 homens cada. Quando todos pensavam que aquele duelo épico iria para a prorrogação, eis que dois gênios do futebol decidiram a partida.
Frank de Boer, com a bola dominada, avistou Bergkamp na ponta direita em condições de receber e poder marcar o gol da vitória. Mas fazer um lançamento de 40 metros era algo para poucos. Algo para Frank de Boer. O craque olhou e lançou com uma precisão sublime e rápida, fazendo a bola percorrer aqueles 40 metros em pouquíssimos segundos. Bergkamp recebeu a bola na área argentina e dominou a redonda com a mesma classe e beleza do lançamento de seu companheiro. A sequência do lance foi pura arte. Com um só corte por entre as pernas do zagueiro Ayala, Bergkamp tirou o argentino completamente da jogada e teve o gol escancarado à sua frente. O atacante chutou com o canto direito do pé, no alto, e não deu chance alguma para Roa: golaço! Obra-prima em Marselha! Holanda 2×1 Argentina. Aquilo não foi apenas um gol. Foi um dos gols mais belos de toda a história da seleção holandesa, algo confirmado por vários jornalistas e torcedores da Holanda até hoje. Mais do que isso, Bergkamp mostrava para uma plateia ainda maior do que era capaz. Se tinha algum cidadão que ainda não o conhecia, a partir daquele dia, passou a conhecer. E a aplaudir de pé.
Decepção na marca da cal
Depois de eliminar um titã sul-americano, a Holanda teve a ingrata missão de encarar mais um, dessa vez o maior deles. Contra o Brasil, a equipe europeia teria que derrotar uma equipe fortíssima, entrosada e ainda com um craque no auge da forma: Ronaldo, à época ainda conhecido como Ronaldinho. O jogo foi repleto de grandes lances, o Brasil abriu o placar no começo do segundo tempo, mas a Holanda empatou no final e levou a partida para a prorrogação. Bergkamp não conseguia vencer a zaga brasileira e teve que esperar a cobrança de pênaltis para poder marcar seu gol, o segundo da Holanda nos tiros diretos. Depois dele, porém, Cocu e Ronald de Boer sucumbiram diante de Taffarel e a Holanda foi eliminada. Abalada, a equipe laranja mal jogou bola na disputa pelo terceiro lugar e perdeu para a Croácia de Suker por 2 a 1. Mesmo com a eliminação, Bergkamp foi eleito um dos melhores jogadores do mundial e fez parte do All-Star Team da Copa ao lado dos também atacantes Ronaldo, Suker e Brian Laudrup.
Aposentadoria laranja e tempos para esquecer
Em 2000, após a eliminação holandesa para a Itália, nos pênaltis, na Eurocopa, Bergkamp decidiu se aposentar da seleção e se dedicar apenas ao Arsenal, além de se poupar das possíveis viagens com a equipe laranja nos anos seguintes. Naquele ano, o craque se retirou como o maior artilheiro da história da seleção da Holanda com 37 gols em 79 jogos, recorde que só seria superado pelo companheiro Kluivert em 2003 (que alcançou 40 gols em 79 jogos na carreira).
Mesmo com a façanha de se tornar o maior goleador da Holanda, Bergkamp não teve boas recordações da temporada 1999-2000. Pelo Arsenal, o craque viu seu time ser vice-campeão inglês com quase 20 pontos a menos que o campeão (Manchester United), ser eliminado precocemente na Liga dos Campeões da UEFA e perder a final da Copa da UEFA para o Galatasaray-TUR nos pênaltis. Na temporada seguinte, o clube londrino voltou a colecionar decepções e não conseguiu levantar taças, perdendo a final da Copa da Inglaterra para o Liverpool por 2 a 1. Bergkamp teve que conviver com o banco de reservas e a concorrência dos franceses Thierry Henry e Sylvain Wiltord no ataque e gerar uma dúvida: será que o craque estava com os dias contados no futebol?
O timaço e os títulos
Na temporada 2001-2002 o Arsenal tinha um plantel de respeito. A equipe contava com o experiente goleiro Seaman, o ótimo lateral camaronês Lauren Mayer, uma zaga imponente com Keown e Campbell, a joia Ashley Cole e jogadores extremamente criativos e técnicos do meio campo até o ataque: Vieira, Parlour, Gilberto Silva, Ljungberg, Bergkamp e Thierry Henry, além de peças de reposição tão boas quanto como Kolo Toure, Robert Pirès, Edu e Cia.
Com tanto talento, o Arsenal dominou o Campeonato Inglês de 2001-2002 e conquistou o caneco com 7 pontos de vantagem sobre o Liverpool, vice-campeão. O time foi praticamente perfeito tanto em casa quanto fora, ao vencer 26 jogos, empatar 9 e perder apenas 3, marcando 79 gols e sofrendo 36. A equipe emendou 13 vitórias consecutivas justamente na reta final e ganhou a Premier League ao vencer em pleno Old Trafford o Manchester United por 1 a 0. Os destaques da equipe foram o atacante Henry, artilheiro do torneio com 24 gols, Robert Pirés, grande garçom daquele time com 15 assistências no campeonato e, claro, Bergkamp, que deu 11 assistências e mostrou um entrosamento fantástico com Henry e o sueco Ljungberg.
Foi naquela temporada que o holandês marcou outro gol que entraria para a história. Na vitória por 2 a 0 sobre o Newcastle, fora de casa, Bergkamp participou de um contra-ataque iniciado lá atrás por Vieira e foi avançando em direção à área rival. Com a bola dominada na esquerda, Pirès viu Bergkamp na área e tocou rasteiro. Com um tempo de raciocínio impressionante e uma genialidade monstruosa, o atacante levantou a bola à meia altura e virou para o lado oposto. O zagueiro rival ficou atônito no lance e viu a bola passar por ele enquanto Bergkamp a pegava do outro lado e chutava no canto do goleiro. Golaço! O gol foi eleito o mais bonito do ano na Inglaterra e descrito pelo técnico do Arsenal como “inacreditável”. O técnico do Newcastle à época, Bobby Robson, foi ainda mais categórico:
“Você não pode culpar ninguém por aquilo (o gol). você tem apenas que aceitar que Bergkamp fez uma coisa maravilhosa”.
Ainda naquela temporada, o Arsenal faturou a Copa da Inglaterra após eliminar Watford, Liverpool, Gillingham, Newcastle, Middlesbrough e vencer o Chelsea de Petit, Gallas, Desailly, Lampard e Zola na final.
O feito magnífico
Na temporada 2003-2004, Bergkamp viveu momentos maravilhosos pelo Arsenal ao conquistar com seus companheiros um inédito e histórico título do Campeonato Inglês de maneira invicta. Foram 38 jogos, 26 vitórias, 12 empates e 0 derrotas, com 73 gols marcados e 26 sofridos – melhor ataque e melhor defesa da competição. Thierry Henry marcou monstruosos 30 gols e Dennis Bergkamp foi outra vez um exemplar garçom com nove assistências. A façanha do Arsenal foi a primeira do Campeonato Inglês desde 1889, sendo a primeira (e até hoje única) vez na era moderna.
O feito dos Gunners foi ainda mais saboroso pelas vitórias em cima do Chelsea (um duplo 2 a 1, em casa e fora), Liverpool (4 a 2 em casa e 2 a 1 fora), e um 5 a 0 em cima do Leeds United em casa. Era a consagração de um time que encantava com seu jogo bonito e envolvente, que tinha na dupla Bergkamp-Henry os alicerces para a mais pura arte em campo. O próprio Henry não resistiu ao talento do companheiro e afirmou que Bergkamp foi o “melhor parceiro que teve em toda carreira” e que o holandês era “um sonho de atacante”, isso porque Henry teve parceiros de peso na carreira como Zidane, Del Piero, Eto´o e Messi (só para citar alguns).
Vacas magras e aposentadoria
Depois do título de 2004, Bergkamp começou a sentir o peso da idade e a perder espaço no Arsenal para jovens como Fàbregas e Van Persie, viu os títulos minguarem e o sonho de vencer a única taça continental que lhe faltava (a Liga dos Campeões) ser perdida em 2006, na final contra o Barcelona-ESP. Em julho de 2006, aos 37 anos, Bergkamp fez o novíssimo Emirates Stadium receber uma superlotação de quase 60 mil pessoas para sua partida de despedida dos gramados, no jogo entre Arsenal e Ajax no primeiro tempo e Lendas do Arsenal contra Lendas do Ajax no segundo.
A partida foi uma emoção enorme para o craque, que pôde reencontrar vários amigos de outrora como Rijkaard, Wouters, os irmãos De Boer, Davids, Johan Cruyff, David Seaman, Lee Dixon, Ian Wright, Marc Overmars, Marco van basten e muitos outras lendas. Depois de se despedir da torcida e se emocionar, Bergkamp pendurou as chuteiras e pôde, enfim, curtir a tranquilidade de sua família até se aventurar na área técnica do Ajax ao lado do amigo Frank de Boer a partir de 2011.
Ídolo eterno
Mesmo após se retirar dos gramados, as façanhas de Dennis Bergkamp continuaram a ser premiadas e lembradas por todo mundo. Em 2007, o craque foi eleito para o Hall da Fama do Futebol Inglês e, um ano depois, foi eleito o segundo maior jogador da história do Arsenal pelos próprios torcedores do time londrino, ficando atrás apenas do companheiro Thierry Henry, além de o seu fantástico gol contra o Newcastle, em 2002, ser eleito o mais bonito da história do clube. Ídolo de torcidas de mesmas cores (vermelho e branco) na Holanda e na Inglaterra e artilheiro-nato da seleção holandesa, Dennis Bergkamp marcou seu nome no esporte ao praticar um futebol brilhante, artístico e preciso, com doses de plasticidade quando mais se exigia, lapsos de agilidade quando marcadores mais espreitavam e gols com a mais pura beleza do jeito que os amantes do futebol sempre adoraram. Um craque imortal.
Números de destaque:
Marcou 103 gols em 185 partidas pelo Ajax.
Marcou 120 gols em 423 partidas pelo Arsenal.
Marcou 37 gols em 79 partidas pela seleção da Holanda.
Na carreira, marcou 271 gols em 739 partidas.
Extras:
Leia mais sobre o grande Arsenal dos anos 2000 clicando aqui.
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Cara sou um fanzaço do Berckamp.
Otimo jogador
a Holanda sempre teve grandes atacantes . Fato .
Craque, um monstro de terno e gravata. Com suas jogadas de classe e maestria absurdas, fazia o futebol parecer muito simples e fácil. Saudades, mito, eterno Iceman! #Imortal
80 % dos gols que assisti do Bergkamp no Arsenal, foram golaços…Genio… Até penalidades ele cobrava de uma maneira espetacular
Craque Imortal-Edmundo:Bad Boy;Polêmico;Baladeiro; Temperamental e Craque;nunca um jogador caiu nas graças de duas das maiores torcidas do país, Palmeiras e Vasco,como o “Animal” segundo Osmar Santos.Era sinônimo de pura raça,amor,vontade de vencer,quando entrava em campo.Seus dribles,seus gols,suas grandes jogadas,levavam a todos ao delírio,chegando ao ponto que a grande torcida do Vasco da Gama proclamar um cântico,o que o inspirava ainda mais-“Ah,é Edmundo;Ah,é Edmundo;Ah,é Edmundoooooo …
Obs:Estes dois pedidos que lhe fiz,Gulherme (Jogos Imortais e Craque Imortal) aguardo ancioso por resposta.
Obrigado: Walber.
Olá Walber! Obrigado pelos elogios e pela participação! Com certeza suas sugestões estarão por aqui. Fique ligado!
Abs Guilherme
Valeu Guilherme,é muito bom o seu trabalho,você dá ênfase ao assunto com uma visão bastante ampla e complexa.
Dennis Bergkamp assim como a lenda chamada Zidane,era um excelente meia-atacante,que habilidade o “Homem de Gelo” tinha,simplesmente um craque imortal.
Uma dica: Jogos Imortais-Palmeiras x Corinthians-Libertadores 2000-As equipes eram verdadeiras seleções e viviam uma rivalidade a ponto de “estado de guerra”.Pelo 2° ano consecutivo as duas equipes se encontraram na maior competição sul-americana de futebol,desta vez valendo a vaga para a grande final.Então chega o momente de novamente as mesmas se encontrarem na marca da cal e deixando uma questão polêmica 13 anos após esta verdadeira batalha.Marcelinho o maior ídolo da fiel torcida corinthiana estava em verdairo terror psicológico,ao presenciar um Morumbi lotado,lentes focadas sobre si ou foi puro méritos de Marcos, ao pegar a cobrança do pênalti decisivo do mesmo?
Excelente texto sobre um atleta exemplar dentro e fora das quatro linhas. Taí um sujeito raro e que deixa muita saudade em quem o viu jogar.