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As finais da Inter de Milão na UEFA Champions League

 

Por Guilherme Diniz

Atualizado 2023

Depois de eliminar o arquirrival Milan nas semifinais, a Inter de Milão garantiu sua vaga na decisão da Liga dos Campeões da UEFA de 2022-2023, a 6ª decisão em sua história. Confira a seguir como foram as seis finais disputadas pela Inter na principal competição de clubes da Europa.

 

1963-1964 – Inter de Milão 3×1 Real Madrid-ESP – Praterstadion, Viena, Áustria

Gento e Picchi, capitães de Real e Inter, na final de 1964.

 

A lenda da Grande Inter começou a ganhar o mundo nesta decisão. Comandada pelo técnico Helenio Herrera e com craques como Burgnich, Facchetti, Picchi, Jair da Costa, Sandro Mazzola e Luis Suárez Miramontes, a equipe nerazzurri chegou à decisão continental após eliminar pelo caminho Everton-ING, Monaco-MO, Partizan-IUG e Borussia Dortmund-ALE. Na final, a Inter teve pela frente o temido Real Madrid-ESP de Pachín, Santamaría, Amancio, Di Stéfano, Puskás e Gento, pentacampeão nos anos 1950 e querendo retomar a coroa perdida naquele começo de anos 1960, pois os espanhóis queriam apagar a decepção de 1962, quando foram derrotados na final pelo Benfica de Eusébio por 5 a 3. Já a Inter buscava igualar o feito do rival Milan no ano anterior e vencer sua primeira Liga dos Campeões. 

Mario Corso, Armando Picchi, Aristide Guarneri, Giacinto Facchetti (com a taça), Aurelio Milani e Carlo Tagnin Foto: FARABOLAFOTO ( 561606 )

 

Em pé: Sarti, Guarneri, Facchetti, Milani, Burgnich e Picchi. Agachados: Jair da Costa, Luis Suárez Miramontes, Sandro Mazzola, Tagnin e Corso.

 

Os favoritos merengues não conseguiram impor seu jogo e viram a Inter dominar a partida com a maestria já demonstrada durante a competição. No final do primeiro tempo, o artilheiro da competição com 7 gols, Mazzola, abriu o placar para os italianos. No segundo tempo, Milani ampliou para a Inter, aos 61´. Nove minutos depois, Felo diminuiu, mas Mazzola fez outro e decretou o placar de 3 a 1. A Inter conquistou pela primeira vez a Liga dos Campeões da UEFA de maneira impecável e invicta. Foi o título para consagrar de vez o esquema tático de Herrera e a técnica dos talentosos jogadores do esquadrão de Milão. De quebra, encerrou de maneira precoce a gozação do Milan, que se gabava por ser o único campeão europeu da Itália. A desforra estava feita!

 

1964-1965 – Inter de Milão 1×0 Benfica-POR – Giuseppe Meazza, Milão, Itália

 

Campeã europeia e do mundo, a Inter manteve o curso rumo à final da temporada seguinte. Depois de eliminar Dinamo Bucareste-ROM, Rangers-ESC e Liverpool-ING, os italianos tiveram pela frente o Benfica-POR, um dos maiores esquadrões do planeta na época e que lutava pelo tricampeonato. Porém, a Internazionale teve o privilégio de decidir em casa, no lotado Giuseppe Meazza, aquela Liga dos Campeões da UEFA de 1965. Com a mesma base e cheia de craques dos anos anteriores, o time de Milão levava certo favoritismo na final contra o time encarnado, que, mesmo sem alguns nomes do elenco bicampeão em 1961 e 1962, ainda contava com estrelas das conquistas europeias do começo da década como Domiciano Cavém, José Augusto, Costa Pereira, Mário Coluna e o mito Eusébio. A Inter teria um duro teste para o seu catenaccio em tentar neutralizar as investidas do rápido time português, principalmente de Eusébio. 

Facchetti ergue a Liga dos Campeões da UEFA de 1965 em pleno San Siro.

 

O time de Helenio Herrera mostrou muita organização, resistência física e psicológica para neutralizar os adversários e fazer valer o bom momento e o fator casa. O brasileiro Jair da Costa foi o herói do título ao marcar o único gol do jogo, aos 42´do primeiro tempo. Com isso, a Inter, em casa, se tornou bicampeã europeia. O título significava a hegemonia italiana, ou melhor, milanista no continente (era o terceiro caneco seguido, contando o do Milan, em 1963), e o auge do timaço de Mazzola, Picchi, Jair, Peiró, Suárez e Facchetti.

 

1966-1967 – Celtic-ESC 2×1 Inter de Milão – Estádio Nacional do Jamor, Oeiras, Portugal

Celtic e Internazionale fariam um duelo de opostos na final da Liga dos Campeões da UEFA de 1966-1967. O futebol ofensivo e talentoso do Celtic contra a retranca da Internazionale, que havia “fechado” ainda mais seu catenaccio. Mas aquele “anti-futebol” praticado pelos italianos estava com os dias contados. O jogo começou truncado, com a Inter já querendo abrir o placar e fechar totalmente sua defesa. E foi o que os italianos conseguiram. Logo aos sete minutos, Sandro Mazzola, de pênalti, abriu o placar para a Inter. Se a tarefa do Celtic já era difícil, de virada seria quase impossível. Mas os indomáveis jogadores escoceses, que ganharam o apelido de “Leões de Lisboa”, provaram com muito futebol e ofensividade que defender demais é chato.

No segundo tempo, Gemmell empatou. E, faltando seis minutos para o fim do jogo, Murdoch chutou, Chalmers resvalou a bola e virou para o Celtic, levando ao delírio a torcida escocesa: 2 a 1. Pela primeira vez na história da UCL, um time do Reino Unido conquistava a Europa. E de maneira mais do que justa, afinal, o Celtic sufocou a Inter durante todo o jogo após o gol inaugural dos italianos, dando dois chutes na trave e 39 (isso mesmo, TRINTA E NOVE CHUTES!!) ao gol, com 13 defendidos pelo goleiro, sete afastados pela zaga e 19 para fora. 

Foi um bombardeio, que resultou nos dois gols da virada escocesa. O continente celebrou como nunca a “vitória do futebol” e o triunfo de um time todo formado nas bases do Celtic, no mais claro e explícito exemplo de sucesso de pratas da casa. Após a taça, Jock Stein, técnico do Celtic, foi direto quando mencionou o feito de seu time: “Nós fizemos isto jogando futebol. Um futebol puro, bonito, criativo”. Leia mais clicando aqui.

 

1971-1972 – Ajax-HOL 2×0 Inter de Milão – De Kuip, Roterdã, Holanda

No começo dos anos 1970, quem mandava na Europa era a Holanda. E quem queria assumir de vez a condição de rei era o Ajax. E que Ajax… Atletas disciplinados e entrosados quase que por telepatia. Futebol ofensivo sempre. Jogadores capazes de decidir partidas em questão de segundos. E uma ideologia composta na totalidade das funções e nos ensinamentos de um mestre: Rinus Michels. Pobre Inter, pois no dia 31 de maio de 1972, o AFC Ajax realizou uma de suas mais brilhantes e emblemáticas partidas. Não teve goleada nem gols plásticos. Mas teve dominância e um absolutismo poucas vezes visto em uma decisão continental. 

Cruyff em ação: craque vivia auge da carreira com a camisa do Ajax.

 

Durante 90 minutos, os holandeses atacaram sem parar os italianos e deram um show que não foi refletido no magro placar de 2 a 0. Poderia ter sido 5, 6, 7 a 0. A Inter foi simplesmente nula no ataque. Chutou apenas uma vez ao gol no primeiro tempo. E apareceu umas três ou quatro vezes na segunda etapa. O Ajax foi todo ofensivo, mandou bolas na trave, construiu belas jogadas e deu aulas de controle de bola, desarmes precisos e perseverança. O gol ia sair. E saiu. 

Com Johan Cruyff mordido, o time holandês abriu o placar com menos de três minutos na segunda etapa e ficou tranquilo para o decorrer da partida. A Inter foi obrigada a sair mais e levou mais um gol tempo depois com o mesmo Cruyff, que fez explodir um estádio praticamente todo alvirrubro mesmo se tratando da casa do rival Feyenoord. Era bonito de se ver aquele Ajax, que não só conquistou seu bicampeonato continental como deu ao Futebol Total uma condecorada e inesquecível vitória. 

O triunfo holandês foi celebrado por sua torcida e pela imprensa esportiva da época, que dedicou páginas e páginas de seus jornais ao clube alvirrubro. No The Times (ING), o time de Amsterdã “provou que o ataque e a criatividade são a alma do esporte, dando à noite um contorno mais nítido e às sombras mais brilho”. No De Telegraaf (HOL), nove páginas destacaram o triunfo dos comandados de Kovács, com destaque para a manchete: “Sistema da Inter minado. O futebol defensivo está destruído”. Pelo menos naquela época, a retranca foi abolida graças à totalidade do melhor Ajax de todos os tempos. Leia mais sobre esse jogo clicando aqui.

 

2009-2010 – Inter de Milão 2×0 Bayern München-ALE – Santiago Bernabéu, Madri, Espanha

Milito comemora: glória nerazzurri depois de 45 anos.

 

No dia 22 de maio de 2010, o Santiago Bernabéu, em Madri, recebeu duas escolas clássicas do futebol mundial na decisão da Liga dos Campeões da UEFA. De um lado, a Internazionale de Mourinho, que havia superado potências como Chelsea e Barcelona no mata-mata e buscava seu terceiro título na história, o primeiro desde a Grande Inter de Helenio Herrera da década de 60. Do outro, o Bayern München-ALE, que desbancou outras grandes forças como Lyon e Manchester United para brigar pela sua quinta taça. Ambas as equipes lutavam para coroar a temporada com o treble, façanha tão almejada pelos times do velho continente. Italianos e alemães já haviam faturado suas taças nacionais e buscavam naquela tarde o caneco que faltava. 

Para a decisão, Mourinho colocou em campo 11 estrangeiros que compuseram a mais internacional das Internazionales: Júlio César (BRA); Maicon (BRA), Lúcio (BRA), Samuel (ARG) e Chivu (ROM); Zanetti (ARG), Cambiasso (ARG) e Sneijder (HOL); Eto´o (CMR), Milito (ARG) e Pandev (MAC). Do lado do Bayern, Louis van Gaal, o mesmo que foi o professor de Mourinho em seu começo de carreira, mandou a campo uma fortíssima equipe com Lahm, van Buyten, Badstuber, van Bommel, Schweinsteiger, Robben, Altintop, Thomas Müller e Olic. Era uma final histórica. E foi mesmo.

O jogo teve o Bayern como dono da bola na maior parte do tempo, mas a Internazionale não teve sustos graças a sua zaga muito bem postada e armada por Mourinho, com Júlio César mais uma vez operando milagres, e um meio de campo impecável que neutralizava as investidas alemãs, principalmente de Robben, que nada podia fazer com sua perna esquerda. A Inter liquidou o Bayern com a maior e mais letal arma de todos os times e seleções da Itália: o contra-ataque. Milito abriu o placar aos 35´do primeiro tempo. Na segunda etapa, o atacante chamou o zagueiro Van Buyten para dançar com dois cortes secos antes de fuzilar para o gol: 2 a 0. 

Em pé: Pandev, Júlio César, Maicon, Chivu, Lúcio e Samuel. Agachados: Zanetti, Cambiasso, Eto’o, Diego Milito e Sneijder.

 

Festa da Inter com o título europeu de 2010.

 

O Bayern ficou tentando, em vão, chegar ao seu gol de honra pelo menos, mas não conseguiu: Inter campeã da Europa. O estádio madrileno explodiu em alegria pelo lado italiano e a equipe nerazzurri voltava a ser a melhor do continente depois de 45 longos anos. Mourinho, assim como todos, chorou de alegria. O capitão Zanetti, em seu 700º jogo pela equipe, tinha a honra de levantar a maior das taças continentais. Nada podia ser maior. O inédito treble era da Inter. Leia mais clicando aqui!

 

2022-2023 – Manchester City-ING 1×0 Inter de Milão – Estádio Olímpico de Atatürk, Istambul, Turquia

Rodri, carrasco da Inter em 2023. Foto: Paul Terry / Sportimage/Icon Sport

 

Depois de 13 anos, a Inter retornou a uma final de Liga dos Campeões da UEFA em busca do quarto troféu, mas teve pela frente o favorito Manchester City, invicto e que havia aplicado um baile pra cima do Real Madrid na semifinal. Porém, mesmo sabendo que o rival era mais forte, a equipe italiana se apoiava na ótima zaga e no poder de recuperar a bola demonstrado na campanha do mata-mata, quando superou com categoria o Porto, o Benfica e, principalmente, o rival Milan, eliminado nas semifinais após vitórias nerazzurri por 2 a 0 e 1 a 0. O primeiro tempo da final em Istambul foi um choque para quem imaginava o City amplamente superior, pois a Inter pressionou os ingleses com uma marcação muito forte, embora não conseguisse criar chances claras de gol. Bem marcado, Haaland não levou perigo e o meio de campo nerazzurri foi superior. E tudo parecia conspirar para os italianos quando De Bruyne se lesionou e enfraqueceu ainda mais o time inglês. Mas, na segunda etapa, a intensidade da Inter diminuiu e, mesmo com a entrada de Lukaku, o time não conseguiu criar boas chances. Em uma bobeada da zaga inglesa, Lautaro teve uma chance clara na qual poderia tocar para Lukaku ou Brozovic, mas preferiu chutar em cima do goleiro Ederson.

Foi um erro fatal, pois, minutos depois, Akanji tocou para Bernardo Silva, este tocou no meio, a bola desviou em Acerbi e sobrou limpa para Rodri, tão sumido na primeira etapa, chutar no canto e fazer 1 a 0. A Inter foi para o tudo ou nada e quase empatou em cabeçada de Dimarco que bateu no travessão. Lukaku ainda teve uma chance clara, mas perdeu. O City também quase fez outro com Phil Foden, mas o meia chutou fraco, para fácil defesa de Onana. Na reta final, o goleiro Ederson ainda fez grandes defesas e o placar ficou mesmo 1 a 0. City campeão pela primeira vez da Liga dos Campeões da UEFA. Inter, pela terceira vez em seis finais, vice-campeã. Assim como o rival Milan em 2005, a nerazzurri não teve sorte em Istambul. E o título ficou com a Inglaterra outra vez.

 

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