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Técnico Imortal – Muricy Ramalho

Nascimento: 30 de novembro de 1955, em São Paulo (SP), Brasil.

Times que treinou: Puebla-MEX (1993), São Paulo-BRA (1994-1996, 1997, 2006-2009 e 2013-2015), Guarani-BRA (1997), Shanghai Shenhua-CHN (1998), Ituano-BRA (1998), Botafogo de Ribeirão Preto-BRA (1999), Portuguesa Santista-BRA (2000), Náutico-BRA (2001 e 2002), Santa Cruz-BRA (2001), Figueirense-BRA (2002), Internacional-BRA (2003 e 2004-2005), São Caetano-BRA (2004), Palmeiras-BRA (2009-2010), Fluminense-BRA (2010-2011), Santos-BRA (2011-2013) e Flamengo-BRA (2016).

Principais títulos por clubes: 3 Campeonatos Brasileiros (2006, 2007 e 2008), 1 Copa Conmebol (1994) e 1 Copa Master da Conmebol (1996) pelo São Paulo.

1 Copa Libertadores da América (2011), 1 Recopa Sul-Americana (2012) e 2 Campeonatos Paulistas (2011 e 2012) pelo Santos.

1 Campeonato Brasileiro (2010) pelo Fluminense.

1 Copa da China (1998) pelo Shanghai Shenhua.

2 Campeonatos Pernambucanos (2001 e 2002) pelo Náutico.

2 Campeonatos Gaúchos (2003 e 2005) pelo Internacional.

1 Campeonato Paulista (2004) pelo São Caetano.

Principais títulos individuais: 

Melhor técnico do Campeonato Brasileiro: 2005, 2006, 2007, 2008 e 2010

 

“Aqui é trabalho, meu filho!”

Por Guilherme Diniz

Foram quase dez anos seguidos vencendo pelo menos um título por temporada. E uma evolução constante e notável. A cada novo clube, uma nova melhora. Um troféu diferente. O peso também ia mudando. A importância. Mas nada vinha fácil. Ele abdicou da família. Dos amigos. Foram mais de dez anos vivendo para o futebol e do futebol. Muito, mas muito trabalho. E todo esforço foi recompensado. Cada noite mal dormida. Cada pernoite em hotel. Cada viagem. Ele construiu esquadrões que entraram para a história do futebol brasileiro. E também da América do Sul. Quebrou recordes. Atingiu o que muitos diziam ser inatingível: vencer três Campeonatos Brasileiros consecutivos. Se levantou após cada tropeço. E calou inúmeros críticos. Vencê-lo era para poucos. Superá-lo, bem difícil, principalmente o feito “inatingível” mencionado. Muricy Ramalho foi um dos mais notáveis técnicos que o futebol brasileiro já viu.

Com inspiração em vencedores e vivendo de perto ao lado do Mestre Telê, Muricy lapidou sua carreira na dedicação, no estudo dos adversários, no entendimento de seus jogadores e em como fazer um render mais para ajudar o outro e vice-versa. Foi mestre no entusiasmo, em enaltecer a importância de nunca baixar a guarda. Prova disso foi seu impressionante tricampeonato brasileiro consecutivo pelo São Paulo, o feito “impossível” para os “experts” de plantão. Leal, sempre foi olho no olho e não hesitou em dizer ‘não’ à Seleção Brasileira quando percebeu a falta de profissionalismo nem reciprocidade do outro lado. Fez bem. Aquela seleção não merecia Muricy. E ele merecia muito mais. No mesmo ano da recusa à amarelinha, conquistou mais um Brasileiro (pelo Fluminense) para sua coleção. A cereja do bolo veio em 2011, pelo Santos, com a conquista da Libertadores, um troféu que tanto escapou em seus tempos de São Paulo. É hora de relembrar a carreira desse ícone do esporte.

México, Expressinho e China

Muricy nos tempos de jogador, em 1976.
 

Meia habilidoso com passagem de destaque pelo São Paulo, nos anos 1970, Muricy teve já naquela época os primeiros ensinamentos para se tornar um técnico de sucesso. Em 1977, o então jogador aprendeu muito com Rubens Minelli, treinador do tricolor na época e fundamental para a conquista do título do Brasileirão daquele ano pela equipe paulista. Foi o terceiro título nacional seguido de Minelli, que já havia levantado dois com o Internacional. Notabilizado pelo trabalho tático, físico e de posicionamento em suas equipes, Minelli transmitiu isso para Muricy e este sempre disse que Minelli foi um dos melhores técnicos que ele conheceu no quesito tático no futebol. Esse período ao lado do treinador inspirou Muricy em seu início como técnico, profissão que decidiu seguir após a aposentadoria precoce dos gramados, aos 30 anos, por causa de seguidas lesões no joelho.

Por ter ficado muitos anos no Puebla, do México, ainda como jogador, Muricy começou exatamente no clube mexicano sua trajetória como treinador. Por lá, permaneceu apenas uma temporada, em 1993, até voltar ao Brasil para trabalhar no São Paulo, com foco nas categorias de base. Ele teve como primeira missão observar os atletas que poderiam desempenhar um bom papel na Copa SP de Futebol Júnior. E, após entregar um completíssimo relatório a Márcio Araújo, então técnico dos juniores do clube, Muricy foi imediatamente convocado para assumir o time do São Paulo que iria disputar um torneio de juniores no exterior. Muricy deu conta do recado e voltou campeão, feito que ajudou o técnico a assumir já em 1994 a equipe de base do tricolor.

Telê Santana e Muricy, nos tempos áureos dos anos 1990. Foto: Arquivo / Agência Estado.
 

Naquela época, o São Paulo era um dos clubes mais badalados do mundo, vinha de dois títulos mundiais, duas Libertadores entre vários outros canecos e excursionava pelo planeta desfilando suas virtudes. Comandado por Telê Santana, o esquadrão paulista tinha tantos compromissos que às vezes tinha que levar times alternativos para dar conta da agenda lotada. E, em 1994, a solução foi escalar um time de garotos para a disputa da Copa Conmebol – espécie de Copa Sul-Americana da época. Muricy foi o técnico dessa equipe que não só fez bonito como conquistou o título com uma goleada de 6 a 1 sobre o Peñarol em um dos jogos da final, além de eliminar pelo caminho o Grêmio e o rival Corinthians, ambos jogando com seus times titulares!

Aquele São Paulo tinha no elenco jogadores como Rogério Ceni, Juninho Paulista, Denílson, Catê, Jamelli e Caio Ribeiro. Foi o primeiro título de Muricy como treinador e a consagração de um time que ficou conhecido como “Expressinho Tricolor”, em alusão ao lendário “Expresso da Vitória” do Vasco da Gama dos anos 1940, que viveu situação parecida na época por excursionar por outros países e também escalar um time alternativo em jogos locais. E, como tal time também era bom, ganhou o apelido de Expressinho. Com isso, o do São Paulo virou “Expressinho Tricolor”.

“O Telê me pediu que eu arrumasse um time de meninos que ele não fosse utilizar no Brasileiro. Por isso, como tínhamos cruzamentos difíceis pela frente, as pessoas achavam que não íamos durar muito. Nosso time tinha pouca experiência, ainda mais para uma competição internacional. Estreamos contra o Grêmio titular, que só tinha feras. […] Não tínhamos nenhuma chance. Ninguém acreditava que a gente passaria da primeira fase. Aí foi dando liga, foi se encorpando. Em mata-mata, é assim. Deu no que deu. A gente foi campeão, uma surpresa muito boa. Era um título que o clube não tinha e não era esperado”. – Muricy Ramalho, em entrevista à ESPN Brasil, 26 de setembro de 2013.

O Expressinho de 1994. Em pé: Mona, Rogério Ceni, Nelson, Bordon, Ronaldo Luís e Vitor. Agachados: Catê, Pereira, Denílson, Juninho Paulista e Caio Ribeiro. Foto: Arquivo histórico – São Paulo FC.
 

Em 1996, Muricy assumiu o time principal do São Paulo em virtude dos problemas de saúde pelos quais Telê Santana passava. Sem resultados e sofrendo com a entressafra do clube, o treinador foi substituído por Carlos Alberto Parreira seis meses depois, passou a ser seu auxiliar e voltou à função de técnico em 1997, até deixar de vez o comando da equipe pelo mau início no Campeonato Paulista daquele ano. Seria um “até breve”, pois Muricy sabia que um dia iria ter sucesso em seu clube de coração. E uma curiosidade: antes de partir, o técnico encorajou um novato Rogério Ceni a começar a bater faltas durante as partidas, e não apenas nos treinamentos. Isso aconteceu em 1997, em um jogo contra o União São João, pelo Campeonato Paulista. O próprio Muricy revelou que a atitude não foi aceita logo de cara: “Na preleção, no momento que eu falei ‘quem bate falta é o Rogério’, um conselheiro que estava junto quase caiu da cadeira. Falou: ‘esse treinador é louco’. E eu estava começando também, só podia ser coisa de maluco mesmo”. E, na primeira oportunidade que teve – uma falta na meia-lua – Ceni colocou a bola no canto esquerdo do goleiro Adinam, abrindo o caminho para a vitória de 2 a 0 do tricolor paulista…

Muricy e Carlos Alberto Parreira, em 1996.
 

Após o período no São Paulo, Muricy comandou brevemente o Guarani e foi treinar o Shanghai Shenhua, da China, uma aventura que resultou em título da Copa da China em 1998, após duas vitórias por 2 a 1 sobre o Liaoning FC na final. Mas Muricy não se deteve apenas ao trabalho em campo. Ele mudou os conceitos de treinamento do time (que usava métodos bem arcaicos, como subir e descer lances de arquibancadas), introduziu mais carboidratos na alimentação dos jogadores e opinou até mesmo na rouparia do clube. Tudo com base no que ele havia aprendido com Minelli e Telê Santana, dupla que sempre enxergou muito além das quatro linhas.

A passagem de Muricy pela China terminou rápido por causa da ausência da família, e, ainda em 1998, ele voltou ao Brasil. Após breves passagens por Ituano, Botafogo de Ribeirão Preto e Portuguesa Santista, Muricy foi para o futebol pernambucano. E na ensolarada Recife ele começaria a mudar sua carreira para sempre.

Ano sim, ano sim, o Muricy é campeão!

Em 2001, Muricy assumiu o Náutico e foi campeão pernambucano em pleno ano do centenário do clube alvirrubro, que encerrou uma sequência de cinco títulos seguidos do rival Sport e um jejum de 11 anos sem títulos estaduais do Timbu. Muricy conseguiu amenizar o clima de desconfiança e pressão que pairava no clube, encheu os jogadores de confiança, transformou o atacante Kuki em goleador e rumou ao título com duas vitórias sobre o Santa Cruz (2 a 1 e 2 a 0) na decisão. A glória de 2001 foi algo único para o Náutico pelo fato de nenhum de seus rivais ter conseguido um título estadual em seus centenários – o Santa nem chegou à final do Pernambucano de 2014, e o Sport também tropeçou em 2005.

Após a conquista, Muricy deixou o Náutico por desavenças com a diretoria. Muito emocionado, se despediu dos jogadores dizendo que a “minoria venceu”, pois ele era muito querido pelos atletas e torcida. Foram 15 vitórias, seis empates e apenas cinco derrotas durante aquela passagem. No restante da temporada, ele assumiu brevemente o Santa Cruz com a missão de evitar o rebaixamento do clube. Mas nada deu certo. Logo na estreia, derrota por 5 a 1 para o futuro campeão Athletico-PR, revés que se somou a outros seis até o fim do turno. O Santa ainda venceu cinco jogos e empatou um, mas terminou na 25ª colocação e foi rebaixado.

Muricy é querido no Náutico até hoje.
 

No ano seguinte, Muricy voltou ao Náutico e faturou novamente o Campeonato Pernambucano, com mais um triunfo sobre o Santa Cruz na decisão. O bicampeonato fez do treinador um ídolo instantâneo para a torcida e criou uma identificação muito forte entre ele e o clube. O técnico viraria, inclusive, sócio e conselheiro do Timbu! Ainda em 2002, Muricy recebeu uma proposta do Figueirense e livrou o time catarinense do rebaixamento no Brasileirão. O desempenho despertou o interesse do Internacional, que contratou Muricy para a temporada de 2003. Quando chegou, o técnico encontrou um Inter em situação calamitosa, sem dinheiro, vindo de um quase rebaixamento na temporada anterior e sem perspectivas. Mas ele conseguiu levantar o moral do grupo, construiu uma sólida relação com Fernando Carvalho e Vitório Píffero, dirigentes colorados, e levou o Inter ao título Gaúcho de 2003 e à 6ª colocação no Brasileirão.

Muricy faturou o título do Campeonato Paulista de 2004 pelo São Caetano!
 

Ao fim da temporada e de seu contrato, o técnico deixou brevemente o comando do Inter e assumiu em fevereiro de 2004 o São Caetano, que disputava o Campeonato Paulista e tinha bons jogadores no elenco como Mineiro, Gilberto, Euller, Fabrício Carvalho, Ânderson Lima, Marcinho entre outros. Muricy pegou o time montado por Tite – demitido após derrota para o Marília, na primeira fase do torneio estadual – e conduziu o Azulão ao título do Paulistão daquele ano, o quarto estadual seguido do treinador e o primeiro do time do ABC, que, enfim, conquistava uma taça após três vices em sequência nos Brasileiros de 2000 e 2001 e na Libertadores de 2002. Na comemoração, Muricy salientou a importância do técnico Tite na montagem daquele time e disse que o troféu tinha participação direta do treinador. Muricy ficou no São Caetano até a penúltima rodada do primeiro turno do Brasileirão, mas acabou dispensado pela diretoria em julho por causa da queda de rendimento no torneio nacional e da eliminação nas quartas de final da Libertadores.

“Apito” tira a chance do primeiro Brasileiro

Em setembro de 2004, o técnico voltou ao Internacional, conduziu o Inter ao 8º lugar no Brasileiro e faturou já em 2005 o título do Campeonato Gaúcho pela segunda vez, o quinto troféu seguido do treinador, que montou um time forte na defesa, perigoso nos contra-ataques e extremamente competitivo com Clemer, Índio, Jorge Wagner, Tinga, Rafael Sóbis, Fernandão e Alex, a espinha dorsal do Inter que conquistaria a América e o mundo em 2006. Mas o Colorado poderia ter faturado o Campeonato Brasileiro daquele ano se um escândalo de manipulação de resultados deflagrado bem quando o Inter assumiu a liderança do torneio não tivesse atrapalhado.

A polêmica obrigou a remarcação de 11 jogos, incluindo um que o Inter tinha vencido e dois que o Corinthians, mais próximo rival dos gaúchos, havia perdido. Esse remanejamento prejudicou bastante os colorados, que perderam a ponta, mas venceram novamente o Coritiba no jogo remarcado. Por outro lado, o Corinthians empatou um e venceu o outro jogo que havia perdido, recuperando quatro pontos. E, na reta final, o Inter empatou em 1 a 1 com o Corinthians, no Pacaembu, mas poderia ter vencido se não fosse um erro grotesco do árbitro Márcio Rezende de Freitas, que não deu pênalti em Tinga no lance abaixo:

E pior: ele ainda expulsou o volante! Acredite, isso aconteceu! Se existisse VAR… Revoltado, Muricy esbravejou: “Dá logo a taça para eles, então, caramba! O que mais revolta é que o Márcio não teve coragem de apitar. Ele viu o pênalti e levou o apito até a boca, mas, quando ia apitar, faltou coragem”. Ironicamente, o árbitro se aposentou exatamente ao término daquela temporada. Apesar disso, ele admitiu o erro. “Vou assumir meu erro e pedir desculpas. Eu vim preparado para apitar um jogo de alto nível e era uma boa forma de encerrar a carreira”, disse Rezende.

No fim, o Corinthians foi campeão com três pontos de vantagem sobre o Inter. Em compensação, Muricy foi eleito o melhor técnico do Brasileirão daquele ano e entrou de vez no rol de melhores treinadores do país na época. Ao final do ano, ele não renovou seu contrato e deixou o Colorado. “Foi uma coisa normal. Foram três anos de trabalho lá (houve apenas a curta interrupção em 2004). Eu precisava fazer isso”, disse o técnico. Parecia que em nenhum clube conseguia manter Muricy por muito tempo. Por que será que ele vivia tão inquieto? Oras, ele esperava o convite de quem ele tanto queria há quase dez anos: o São Paulo…

O retorno e a primeira taça nacional

Muricy de volta ao tricolor: hora de escrever a história. Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/PERSPECTIVA/AE
 

Em 2006, Muricy Ramalho chegou ao Tricolor para o lugar do técnico Paulo Autuori com uma boa, porém árdua missão: manter um time praticamente campeão de tudo na temporada anterior com apetite por mais títulos. Mas não havia técnico melhor para aquilo do que Muricy. Com mais experiência e vigor, ele era bem diferente do técnico lá de 1997. Vencedor, sabia de seu potencial e do elenco que tinha em mãos. E deu ainda mais pegada ao time a ser batido na temporada. Com praticamente a mesma base de antes e ainda alguns reforços, o Tricolor priorizou a Libertadores, e, mesmo com derrotas para o Chivas Guadalajara-MEX na fase de grupos, cresceu na fase eliminatória e eliminou os próprios mexicanos, na semifinal, com um inesquecível vareio de 3 a 0 no Morumbi, com golaços, defesa de pênalti de Rogério Ceni e jogadas fantásticas de um legítimo campeão continental e mundial.

Thiago Ribeiro, Muricy Ramalho e Ricardo Oliveira, em 2006. Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press
 

Paralelo a tudo isso, a equipe disputava o Campeonato Brasileiro e mostrava um apetite pouco comum para a competição. É que o torneio nacional não era vencido pelo Tricolor há exatos 15 anos, um dos maiores jejuns entre os grandes clubes brasileiros já campeões na época. Nas primeiras quatro rodadas, o time venceu três jogos (1 a 0 no Flamengo, em casa, 4 a 0 no Santa Cruz, em casa, e 3 a 1 no Corinthians, fora) e só caiu diante do Fortaleza, fora, por 1 a 0. Na 5ª rodada, revés para o Internacional, por 3 a 1, mas a volta por cima veio nas rodadas seguintes: foram oito jogos, seis vitórias (com direito a um 4 a 1 sobre o Palmeiras, em casa) e dois empates, com a liderança alcançada na 12ª rodada. Flutuando, o Tricolor vivia uma fase perfeita e prestes a celebrar o tetracampeonato da Libertadores, como previam seus torcedores, em mais uma final brasileira do torneio, dessa vez contra o Internacional de Abel Braga.

Porém, o São Paulo perdeu o duelo de ida em pleno Morumbi por 2 a 1, só empatou em 2 a 2 na volta e ficou com o vice. Não era o início de trabalho que Muricy esperava. Para piorar, o time perdeu a final da Recopa Sul-Americana para o Boca Juniors-ARG e diretoria e torcida começaram a pegar no pé do treinador. Mas o São Paulo cresceu no returno, demonstrou enorme solidez defensiva e eficiência no ataque e faturou o título nacional com duas rodadas de antecedência. Foram 38 jogos, 22 vitórias, 12 empates, 4 derrotas, 66 gols marcados (melhor ataque) e 32 gols sofridos (melhor defesa), aproveitamento de 68%. Outro fator de destaque foi a seleção do campeonato feita pela revista Placar, que colocou cinco jogadores (Rogério Ceni, Ilsinho, Fabão, Mineiro e Aloísio) tricolores entre os 11 melhores da Bola de Prata. Muricy, claro, foi eleito o melhor técnico do torneio.

O tricolor de 2006: Muricy mudou o esquema para o 4-4-2 e o time conseguiu manter a mesma pegada competitiva.
 

O troféu elevou ainda mais o patamar do treinador, que consolidou de vez seu estilo perfeccionista, “zangado” e competitivo. Mais do que isso, ele se mostrou um estrategista de mão cheia ao conseguir mudar o consagrado esquema com três zagueiros do São Paulo na época para jogar num clássico 4-4-2, algo que nenhum dos treinadores anteriores – Cuca, Leão e Paulo Autuori – conseguiu. Autêntico, intenso e por jogar junto com os atletas, o técnico caiu nas graças da torcida naquele fim de 2006 e manteve-se sem hesitar no cargo. Certeza que vinha mais coisa boa por ali…

A zaga intransponível e o bi

Muricy recebe de Rogério Ceni camisa comemorativa quando completou 200 jogos à frente do tricolor.
 

Em 2007, o São Paulo era, naturalmente, favorito em qualquer competição que disputasse, mas as previsões não eram lá muito animadoras. Mineiro e Josué (este último deixou o clube perto do meio do ano), os expoentes do melhor meio de campo do clube em décadas, deixaram o Morumbi. Na zaga, o xodó Fabão também foi embora. Danilo, meia fundamental para os títulos de 2005 e 2006, saiu. Ilsinho, grande revelação da lateral-direita na conquista do tetra, também deixaria o time no decorrer da temporada para jogar na Ucrânia. Como o São Paulo iria manter o embalo sem tantos jogadores importantes? Oras, contratando! Para o meio de campo, o clube trouxe de volta Hernanes, que havia sido emprestado ao Santo André, Jorge Wagner, que também podia atuar na lateral, e Zé Luís, que havia brilhado no São Caetano. Para a meia, o time trouxe Hugo, que havia se destacado no Grêmio. Para o ataque, os nomes da vez foram Borges e Dagoberto. Para a zaga, Miranda, André Dias e Alex Silva ganhariam a companhia (e a concorrência) de um promissor zagueiro revelado nas categorias de base: Breno, de apenas 17 anos, mas com um futebol de zagueiro veterano.

Breno vibra: golaço contra o Santos.
 

Antes da disputa do Brasileiro, o São Paulo perdeu apenas um dos 19 jogos que fez na primeira fase do campeonato estadual e foi para o mata-mata como um dos favoritos para chegar à final. No entanto, a equipe levou 4 a 1 do São Caetano e teve que se concentrar na Libertadores, na qual passou pela primeira fase sem grandes problemas, mas, nas oitavas, o time caiu diante do Grêmio após não conseguir segurar a vantagem do 1 a 0 da partida de ida e perder por 2 a 0 na volta, no Olímpico, dando adeus à competição no dia 9 de maio.

Três dias depois, começou o Campeonato Brasileiro e Muricy teve que mudar completamente a maneira de jogar do time e em várias peças dentro de campo. Jorge Wagner, André Dias, Hernanes, Dagoberto e Borges entraram nas vagas de Jadílson, Richarlyson, Souza, Leandro e Aloísio e o time estreou com vitória por 2 a 0 sobre o Goiás, em casa. Assim como em 2006, a caminhada nacional começava com o pé direito. Mas, após derrota para o Atlético-MG no Morumbi por 1 a 0, na 5ª rodada, Muricy ouviu um dirigente tricolor pedindo o telefone de Abel Braga, então técnico do Inter. Revoltado, Muricy pensou em telefonar para Juvenal Juvêncio (presidente do São Paulo na época) para entregar o cargo. Mas Juvenal conseguiu convencer o técnico a permanecer e o bancou até o fim da temporada. Deu certo.

No dia 22 de julho, o São Paulo iniciou contra o mesmo Cruzeiro uma reviravolta semelhante à da campanha de 2006 no Campeonato Brasileiro. A equipe paulista começou perdendo, mas, no segundo tempo, Breno, de cabeça, empatou o jogo logo aos cinco minutos. Aos 25’, Hernanes marcou um golaço e garantiu a vitória por 2 a 1 e a subida do time até a vice-liderança da competição, a apenas dois pontos do Botafogo. A partir dali, o time iniciou uma sequência simplesmente impressionante. Foram 16 jogos sem perder, com direito a sete vitórias seguidas. Nesse período, o time despachou, além do Cruzeiro, Sport (3 a 1, em casa), América-RN (1 a 0, fora), Juventude (3 a 1, em casa) e Grêmio (2 a 0, fora). Na 18ª rodada, o time viajou até o Rio de Janeiro e fez um duelo decisivo contra o Botafogo pelo título simbólico do primeiro turno. Mesmo fora de seus domínios, o São Paulo mostrou muita força nos contra-ataques e venceu por 2 a 0. Na última rodada do turno, novo triunfo (2 a 0, no Athletico-PR, em casa) e tranquilidade para a reta final mesmo com as saídas de Josué e Ilsinho.

O esquadrão de 2007: meio de campo e ataque eram letais em contra-ataques, mas a menina dos olhos era mesmo a defesa. Levar 19 gols em 38 jogos foi uma enormidade.
 

Líderes isolados, os jogadores do São Paulo mantinham a concentração em si mesmos e não se importavam com os rivais, como disse Dagoberto à época: “mantemos a seriedade. Temos que nos preocupar só com a gente”. A sequência de sete vitórias seguidas foi quebrada na 20ª rodada, com o empate sem gols contra o Goiás, fora. Mas, nos três jogos seguintes, o time venceu o Náutico (5 a 0, em casa), o Palmeiras (1 a 0, fora) e o Paraná (6 a 0, em casa). Nas 24ª e 25ª rodadas, mais quatro pontos após empate sem gols contra Atlético-MG, fora, e vitória por 2 a 0 contra o Vasco, fora, resultados que deram ainda mais moral ao líder para o clássico contra o Santos, no dia 15 de setembro. Enquanto você lia essa trajetória entre a 17ª e a 25ª rodadas, percebeu que o São Paulo não levou um gol sequer dos adversários? Isso mesmo! A equipe conseguiu a proeza de ficar inteiros NOVE jogos sem ver os rivais vazarem Rogério Ceni uma única vez. Foi uma marca histórica que chegou aos 987 minutos no clássico contra o Santos, que terminou 2 a 1 para o São Paulo.

Dagoberto foi um dos principais atacantes de Muricy no time de 2007.
 

Absolutos na defesa e letais nos contra-ataques, os tricolores sobravam e acumulavam “gordura” para os duelos seguintes. Após vencer o Figueirense, por 2 a 0, em casa, o time viajou até o Sul e bateu o Internacional em pleno Beira-Rio por 2 a 1, tornando-se o primeiro time paulista a vencer tanto Grêmio quanto o Inter em suas próprias casas em um mesmo Campeonato Brasileiro. Nas três rodadas seguintes, o São Paulo se deu ao luxo de perder dois jogos (ambos por 1 a 0, para Flamengo e Corinthians), e empatou em 1 a 1 com o Fluminense. Na rodada de número 32, o time teve pela frente o Cruzeiro, em mais um jogo com ares de decisão. Com mais de 60 mil pessoas, o São Paulo venceu por 1 a 0 e aumentou a diferença em relação ao novo vice-líder (Palmeiras) para incríveis 13 pontos. O título estava praticamente garantido.

Foto: Getty Images.
 

Na rodada seguinte, o tricolor foi até o Recife e venceu o Sport por 2 a 1. No compromisso seguinte, um mero empate contra o América-RN, em casa, daria o título brasileiro ao tricolor. E, com quase 70 mil pessoas no Morumbi, o São Paulo não decepcionou: Hernanes, Miranda e Dagoberto fizeram os gols da fácil vitória por 3 a 0 que sacramentou com quatro rodadas de antecipação o pentacampeonato brasileiro do tricolor. Era a glória tão esperada dias após a eliminação nas quartas de final da Copa Sul-Americana, diante do Millonarios-COL, embora o torneio continental já tivesse dado um gostinho especial para os paulistas pelo fato de eles terem eliminado o Boca Juniors-ARG nas oitavas de final.

Os campeões de 2007 – Em pé: Danilo Silva, Rogério Ceni, Breno, André Dias, Bosco, Jorge Wagner e Miranda. Agachados: Hernanes, Júnior, Richarlyson, Diego Tardelli, Borges, Jadílson, Souza, Leandro, Fernando, Dagoberto e Aloísio.
 

Nas rodadas seguintes do Brasileiro, o São Paulo perdeu para Juventude (2 a 0, fora) e Athletico-PR (2 a 1, fora), venceu o Grêmio (1 a 0, em casa), e empatou com o Botafogo (2 a 2, em casa), resultados que não diminuíram em nada a campanha incontestável do time: 38 jogos, 23 vitórias, oito empates, sete derrotas, 55 gols marcados e apenas 19 gols sofridos (a melhor defesa em toda a história do Brasileiro por pontos corridos), totalizando um aproveitamento de 67%. E uma curiosidade: para Muricy, dos três times do São Paulo que ele comandou entre 2006 e 2008, o de 2007 foi o melhor e mais sólido de todos, algo que ele sempre lembra em suas participações no programa “Bem, Amigos!”, do canal SporTV.

Tricampeão!

Para a temporada de 2008, Muricy teve que reinventar mais uma vez o São Paulo para a disputa da Libertadores, do Paulista e do Brasileiro. O Tricolor trouxe novos nomes, mas viu vários jogadores deixarem as bandas do Morumbi. Entre os contratados, destaque para o lateral Joílson, o atacante Éder Luís e o zagueiro Rodrigo. Outro que também chegou foi o atacante Adriano, por empréstimo, para tentar recuperar a forma e provar ao seu clube, a Internazionale-ITA, que ainda poderia ser útil. Do lado das baixas, o time perdeu quatro jogadores fundamentais para os títulos dos anos anteriores: Leandro, Souza, Aloísio e Breno.

No Campeonato Paulista, o São Paulo fez bons jogos, se classificou para a semifinal, mas acabou eliminado pelo futuro campeão, o Palmeiras, após derrota por 2 a 0 no Palestra Itália. Na Libertadores, a equipe passou pela fase de grupos e eliminou o tradicional Nacional-URU, nas oitavas, após empate sem gols no Uruguai e vitória por 2 a 0 em casa, com gols de Adriano e Dagoberto. Nas quartas de final, encarou um rival doméstico: o Fluminense. Na partida de ida, no Morumbi, Adriano marcou o gol da vitória por 1 a 0 que deu ao São Paulo a vantagem do empate para o duelo da volta, no Maracanã. Na casa do tricolor carioca (tomada por mais de 68 mil pessoas), Washington abriu o placar para o Flu, mas Adriano, no segundo tempo, deixou o São Paulo muito perto da semifinal. No entanto, Dodô, um minuto depois, fez 2 a 1. Nos acréscimos, Washington aproveitou um escanteio cobrado por Thiago Neves e fez o gol salvador e heroico da classificação do Flu, que venceu por 3 a 1 e fez o São Paulo acumular mais um tropeço diante de um clube brasileiro na Libertadores.

Queda para o Fluminense de Washington na Libertadores de 2008 foi traumática.
 

Assim como em 2007, as críticas choveram na cabeça de Muricy, que não conseguia brilhar em competições de mata-mata pelo clube paulista. Para piorar, Adriano, artilheiro do time na temporada com 17 gols, voltou à Internazionale e a equipe não tinha vencido nenhum dos três jogos já disputados no Campeonato Brasileiro (derrota para o Grêmio, em casa, por 1 a 0, e empates em 1 a 1 contra Athletico-PR e Coritiba). Ao contrário dos dois anos anteriores, o São Paulo de 2008 demorou para engrenar e não flertou nenhuma vez com a liderança no primeiro turno. Após quatro rodadas sem vitórias, o time só venceu a primeira no dia 07 de junho, com um 5 a 1 pra cima do Atlético-MG, no Morumbi.

Na rodada seguinte, a equipe calou os mais de 50 mil torcedores do Flamengo, no Maracanã, e venceu por 4 a 2, esboçando uma reação principalmente após a vitória por 1 a 0 sobre o Sport, no Morumbi. Mas, nas três rodadas seguintes, apenas dois pontos conquistados e derrota por 2 a 1 para o Náutico, fora de casa. Entre as rodadas 11ª e 13ª, três vitórias: 2 a 1 no Palmeiras, em casa, 3 a 1 no Vitória, fora, e 2 a 1 no Botafogo, em casa. Na 15ª rodada, derrota para o Inter, no Sul, por 2 a 0, e volta por cima na vitória por 3 a 1 sobre a Portuguesa, em casa.

Nas quatro últimas rodadas, duas vitórias, um empate e uma derrota, resultados que mantiveram o São Paulo na 4ª colocação, atrás do líder (Grêmio), do vice (Cruzeiro), e do terceiro (Palmeiras). Logo na primeira rodada do returno, o time paulista perdeu mais um duelo para o Grêmio, dessa vez fora de casa, por 1 a 0, e viu os gaúchos dispararem 11 pontos na liderança. Muitos já davam o São Paulo como fora da disputa pelo título e uma volta por cima era quase impossível. Mas nada era impossível para Muricy. Muito menos para um time tão acostumado com as adversidades e perito em pontos corridos.

Zé Luís, o guardião do meio de campo tricolor em boa parte do Brasileiro de 2008.
 

A partir da 21ª rodada, o São Paulo tinha plena consciência de que não poderia perder mais pontos de maneira nenhuma. Derrotas eram inadmissíveis. Empates, só se fossem alguns, ou fora de casa ou, no máximo, em clássicos. Nas quatro rodadas após o revés para o Grêmio, o time venceu o Athletico-PR, em casa, e empatou três jogos seguidos. Na 25ª rodada, vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo, em casa, e empate em 0 a 0 com o Sport, fora, na 26ª rodada. Só nas três rodadas seguintes que a equipe engatou três vitórias consecutivas e alcançou novamente o G4, após derrotar Cruzeiro (2 a 0, em casa), Ipatinga (3 a 1, fora) e Náutico (1 a 0, em casa).

Em mais um duelo contra um rival direto na luta pelo título, o tricolor abriu 2 a 0 diante do Palmeiras, no Palestra Itália, e tinha mais três preciosos pontos em suas mãos até os 33 minutos do segundo tempo, quando permitiu a reação do time da casa, que chegou ao empate e frustrou os planos dos tricolores.

Mas, no duelo seguinte, contra o Vitória, em casa, o São Paulo venceu por 2 a 1 e engatou uma sequência de seis vitórias seguidas. Graças àquela arrancada e aos tropeços dos líderes, o São Paulo saiu da quarta posição e chegou ao topo da tabela pela primeira vez na 33ª rodada, após um 3 a 0 sobre o Inter. Quietinho e sem alardes, o time já estava com novas chances de título e se apoiava nas atuações decisivas de Hugo e Borges, os artilheiros do time no torneio (eles terminaram a competição com 14 e 16 gols marcados, respectivamente) e fundamentais para a arrancada do segundo turno. Faltavam apenas duas rodadas para o fim. E o caneco poderia vir em casa, no dia 30 de novembro, contra o Fluminense.

Mesmo diante de 66.888 pagantes no Morumbi, o São Paulo não conseguiu o que precisava (uma vitória simples) e apenas empatou com o Fluminense em 1 a 1, resultado que adiou a decisão do torneio para a última rodada. A parada seria complicada, afinal, o time iria enfrentar o Goiás, fora de casa, um adversário que sempre trouxe problemas para o clube do Morumbi. Para piorar, vários rumores de arbitragem suspeita e suborno agitaram o ambiente do clube e acirraram o nervosismo já elevado para a “decisão”. No dia do jogo, a equipe entrou em campo com a determinação e concentração características dos anos anteriores e não permitiu grandes chances ao Goiás. Aos 22´do primeiro tempo, Borges fez o gol solitário e necessário para dar o tricampeonato consecutivo ao São Paulo, que se tornava naquele dia o primeiro a levantar o Campeonato Brasileiro por três vezes seguidas e, de quebra, o primeiro clube hexacampeão do torneio. O triunfo sobre o Goiás teve total participação de Muricy, que escalou Richarlyson apenas com a missão de conter as investidas de Paulo Baier e neutralizar as jogadas de criação do principal nome do alviverde na época. E o “coringa” do treinador fez exatamente isso. Muricy matou completamente a parte tática do rival, garantiu os três pontos e o caneco.

Em 2008, o time manteve a forte marcação no meio de campo, a sobriedade da defesa e a letalidade nos contra-ataques.
 

Na comemoração, as imagens de Muricy Ramalho batendo no braço com raiva, calando os críticos, ficaram marcadas para sempre. Aquele foi o mais sofrido título nacional do treinador, que teve que superar eliminações e contestações para levar o tricolor mais uma vez ao topo. Após o título, o técnico foi categórico:

“Faz 18 jogos que a gente não perde. Tem sempre que repetir a mesma porcaria? Perguntinha chata, porradinha. Se tem pergunta boa, (a resposta) é boa. No ano que vem, vai ser só uma (entrevista coletiva) por semana, hein?”Muricy Ramalho, em trecho extraído da revista Placar, dezembro de 2008.

É tri!
 
Título de 2008 foi o mais emocionante da carreira de Muricy.
 

O treinador agradeceu ainda ao presidente Juvenal Juvêncio pelo apoio, à sua família e à torcida, sempre ao seu lado. E disse ainda: “estou cansado, mas fui macho pra caramba e aí está. O São Paulo é hexacampeão e eu sou tri. Dificilmente isso acontecerá de novo.” Em 19 jogos do returno, o São Paulo perdeu apenas um, venceu 12 e empatou seis, desempenho fundamental para a conquista de um título tido como improvável. A campanha foi semelhante a de 2006: 38 jogos, 21 vitórias, 12 empates, cinco derrotas, 66 gols marcados e 36 gols sofridos, aproveitamento de 65%.

O tetra que escapou

Em 2009, o time competitivo sofreu desgastes e Muricy Ramalho não suportou a pressão de mais uma eliminação em uma Libertadores para um rival doméstico (dessa vez para o Cruzeiro) e deixou o comando do tricolor em junho. Um mês depois, o técnico assumiu o comando do Palmeiras para a sequência do Brasileirão. Por um breve momento, acreditou-se que ele poderia ser tetracampeão consecutivo. Mas o elenco alviverde era fraco e provou isso exatamente na reta final da competição. Dos últimos 11 jogos no Brasileiro, o time venceu apenas dois, empatou três e perdeu seis, desempenho pífio e que não condizia com o retrospecto de Muricy nos anos anteriores.

E o pior é que o time foi líder até a rodada 33 e perdeu a liderança a partir dali. No fim, o Verdão nem sequer ficou com uma vaga na Libertadores – terminou na 5ª colocação. De fato, como diria Muricy, “nem com muito trabalho dava jeito, meu filho!”. O treinador comentou que o título foi perdido pelo fato de o Palmeiras da época “ter um time, e não um elenco”, o que dificulta muito as coisas em um campeonato com 38 rodadas. Por ter perdido jogadores por lesão na reta final – Maurício, Pierre e Cleiton Xavier -, ele não teve peças à altura para escalar entre os titulares. Aí, não teve jeito e a taça escapou.

Enfim, tetra! E o ‘não’ à seleção

Chegada de Muricy Ramalho seria determinante para a reviravolta do Flu em 2010.
 

No começo de 2010, o início ruim no Campeonato Paulista e uma goleada sofrida em casa para o São Caetano por 4 a 1 causou a demissão de Muricy do Palmeiras. Mas o técnico não ficou por muito tempo parado. O Fluminense, após encerrar o vínculo com o técnico Cuca, decidiu contratar Muricy em abril, já com foco no Campeonato Brasileiro, que ainda não havia começado. Com o tricampeonato da competição pelo São Paulo, o técnico era visto com bons olhos pela diretoria por poder acabar de vez com um jejum de mais de duas décadas sem títulos no principal torneio nacional. Porém, pouca gente apostava num time que passou quase toda a temporada anterior na zona de rebaixamento. Antes de iniciar os trabalhos, o treinador pegou a equipe no meio da Copa do Brasil, mais precisamente nas quartas de final, contra o Grêmio. E, ainda longe de saber os pontos fracos e fortes do time, acabou eliminado da competição com duas derrotas (3 a 2, em casa, e 2 a 0, fora). Em parte, a eliminação foi boa, afinal, o clube não teria mais nenhuma competição para “atrapalhar” e o foco seria total no Brasileiro.

Depois da derrota na estreia para o Ceará, fora de casa, por 1 a 0, o Fluminense emendou uma série que afastava de vez rumores de um novo flerte com o rebaixamento, provando que os tempos eram outros. A equipe venceu o Atlético-GO, em casa, por 1 a 0, perdeu para o Corinthians, fora, pelo mesmo placar e venceu quatro jogos seguidos: 2 a 1 no Flamengo, 3 a 1 no Atlético-MG, no Mineirão, 2 a 1 no Vitória, em casa, e 3 a 0 no Avaí, fora. Após a Copa do Mundo, já em julho, o time empatou com o Grêmio Prudente em 1 a 1, venceu o Santos de Neymar, Robinho e André em plena Vila Belmiro por 1 a 0 e o Cruzeiro, em casa, também por 1 a 0, resultado que colocou o time na liderança pela primeira vez.

Antes da 11ª rodada, Muricy teve um compromisso que poderia mudar sua carreira. Ele recebeu um convite do presidente da CBF na época, Ricardo Teixeira, para uma reunião no Itanhangá Golfe Clube, zona oeste do Rio. Muricy era um dos favoritos para assumir a seleção brasileira e atendeu prontamente o convite. Ele levantou cedo e foi ao encontro. Lá, conversou com Teixeira e deixou o Clube dizendo que queria, sim, comandar a seleção. Mas havia uma ressalva: ele só seria o técnico do Brasil se o Fluminense o liberasse, pois ele tinha um contrato a cumprir. “Se o Flu não me liberar, o papo será encerrado. Eu tenho que dar exemplo aos meus filhos. O Fluminense me buscou em São Paulo e eu não posso deixá-lo na mão. Se o Flu não liberar, eu não vou”, disse Muricy ao site Terra na época.

Muricy foi direto conversar com Roberto Horcades, presidente do Flu e que havia rompido relações com Teixeira recentemente. O mandatário tricolor não liberou, e Muricy também não demonstrou confiança na CBF, além de ressaltar a falta de profissionalismo de Teixeira (novidade…) na reunião.

“Estávamos em segundo no Brasileirão, vínhamos muito bem, ganhamos do Cruzeiro em casa e assumimos a liderança. Quando fui para o estacionamento chegou um rapaz e disse: “Sou da CBF e o presidente (Ricardo Teixeira) gostaria de falar com você amanhã”. Eu concordei. No meu pensamento, durante a noite toda, é que vou para uma reunião séria, fechada na CBF, em uma sala, com apresentação do projeto da Copa do Mundo de 2014. Era o mínimo. Mas fomos para um clube de golfe, com um monte de gente. Aí o cara vem, me atende de bermuda e estava uma baita loucura. Ia começar a Copa assim? Ele me chamou para tomar um café e discutir Copa, com garçom vindo toda hora, torcedor com a filha dele. Como se pode ter convicção de que você será o técnico de 2014 e não será atropelado no meio do caminho? Não falamos de salário, comissão técnica nem nada. Foi uma conversa de três horas e meia para nada”.Muricy Ramalho, em entrevista à Agência Estado, Julho de 2015. Leia mais aqui.

A recusa à “zona” da CBF fez muito bem ao técnico e, claro, ao Fluminense. Na 11ª rodada, o tricolor empatou em 1 a 1 com o Botafogo e perdeu o topo para o Corinthians, mas retomou a ponta com a vitória por 3 a 1 sobre o Athletico-PR, em casa, diante de 40 mil pessoas no Maracanã, com show da dupla de ataque Washington e Emerson. Com um miolo de zaga muito eficiente, que se alternava entre dois e três zagueiros, a ótima fase do lateral-direito Mariano e o sempre presente meia Conca, aquele Flu enchia os olhos do torcedor com partidas seguras e convincentes, tanto em casa quanto fora dela.

No dia 08 de agosto, a equipe foi até Porto Alegre e bateu o Grêmio em pleno Olímpico por 2 a 1, gols de Mariano e Emerson. Com boas peças de reposição, Muricy conseguia manter o foco em um torneio longo e a qualidade no ataque mesmo sem Fred, que sofria com contusões e não engatilhava uma boa sequência de jogos. No dia 15 de agosto, mais de 59 mil pessoas fizeram a festa no Maracanã não só com a vitória de 3 a 0 sobre o Internacional, mas também com a contratação do badalado meia Deco, outra boa opção de meio de campo para o técnico Muricy.

Mariano, à direita, foi um dos principais nomes do Flu na campanha de 2010.
 

Depois de empatar em 2 a 2 com o Vasco diante de 80 mil pessoas – foi o último jogo com lotação máxima do velho Maracanã antes da reforma para a Copa do Mundo -, o Flu foi até Goiás e venceu o time da casa por 3 a 0. Líder incontestável, a equipe acabou relaxando e perdeu pontos em casa nos dois jogos seguintes ao empatar com São Paulo (2 a 2) e Palmeiras (1 a 1), este o último do time no Maracanã, que fechou as portas para a reforma e obrigou o Flu a mudar sua casa para o Engenhão. No último jogo do turno, o time perdeu uma invencibilidade de 15 partidas com a derrota de 2 a 1 para o Guarani. Mesmo assim, o time encerrou a primeira etapa do campeonato na liderança.

O começo do returno não foi nada bom e acendeu o alerta em todos nas Laranjeiras. A equipe venceu o Ceará, mas perdeu dois jogos na sequência: 2 a 1 para o Atlético-GO, fora, e 2 a 1 para o Corinthians, em pleno Engenhão, considerada uma “final antecipada” pela imprensa. Quatro dias depois, num clássico eletrizante, o Flu empatou em 3 a 3 com o Flamengo e perdeu a liderança para o Corinthians depois de dez rodadas no topo.

O Flu de Muricy: quando jogava com três zagueiros, equipe dificultava muito as ações dos rivais e não dava espaços. Na frente, ataque resolvia com o talento de Conca.
 

Muricy tratou de chacoalhar o elenco para uma reação rápida a fim de não perder o foco no título, afinal, um tropeço àquela altura poderia ser fatal. E, em casa, o time goleou o Atlético-MG por 5 a 1 e emendou mais duas vitórias. No entanto, a equipe campengou nos cinco jogos seguintes e só voltou à liderança graças a uma derrota do Cruzeiro.

A recuperação veio no dia 28 de outubro, com a vitória por 2 a 0 sobre o Grêmio e show de Conca, que marcou os dois gols. Após o empate sem gols contra o Inter, fora, o time venceu o clássico contra o Vasco por 1 a 0 e manteve um ponto à frente do Corinthians na liderança. Na 35ª rodada, o time empatou em casa com o Goiás em 1 a 1 e perdeu a liderança para o Timão. Era apenas um ponto de diferença para o alvinegro e dois à frente do terceiro colocado, Cruzeiro. O campeonato era muito equilibrado e considerado à época um dos mais disputados da era dos pontos corridos.

No duelo seguinte, o Flu encarou o São Paulo fora de casa em um jogo curioso. A torcida são-paulina pedia desde o início para seu time “entregar”, afinal, ela não queria que o rival Corinthians fosse campeão. E, quando Gum fez 1 a 0 para o Flu, parecia que o Tricolor carioca jogava em casa tamanha vibração da torcida da casa! O São Paulo empatou, mas o Flu mostrou autoridade, e, embalado pelos torcedores extras, goleou por 4 a 1. A vitória devolveu a liderança ao Flu graças ao empate do Corinthians contra o Vitória. Na sequência, também fora de casa, o time de Muricy Ramalho venceu o Palmeiras por 2 a 1 e só precisava de mais uma vitória para ser campeão brasileiro depois de 26 anos.

Muricy Ramalho mostrou sua experiência em pontos corridos e tirou o Flu da fila.
 

No dia 05 de dezembro, mais de 40 mil pessoas coloriram o Engenhão para mais uma partida histórica daquele esquadrão. Era dia de acabar de vez com um incômodo jejum, calar os rivais que viviam zombando do time por causa dos vices nas temporadas anteriores e sacramentar a verdadeira odisseia dos ‘Guerreiros’ iniciada lá em 2009. Muricy mandou a campo o que tinha de melhor: Ricardo Berna; Mariano, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Valencia, Diguinho, Júlio César e Conca; Emerson e Fred. Já rebaixado, o Guarani não almejava nada na competição, mas quis complicar a vida carioca durante o jogo. Nervoso, o Flu demorava para engrenar e não conseguia furar a meta do goleiro Emerson. O gramado ruim e a retranca do Guarani dificultavam ainda mais as ações do time de Muricy.

Aos 12’, Washington entrou no lugar de Júlio César e fez a torcida vibrar. Embora estivesse há 14 jogos sem marcar gols, ele era muito importante como pivô e também como garçom para os gols tricolores. E, aos 17’, o “Coração Valente” deu a assistência para Emerson, no meio da área, chutar e fazer o primeiro e único gol do jogo: 1 a 0 Flu. O Engenhão tremeu. Com a vitória, a equipe nem precisava se importar com os rivais Cruzeiro e Corinthians. E, depois de contar cada segundo do relógio, a torcida pôde, enfim, comemorar: o Fluminense era campeão brasileiro depois de 26 anos, seis meses e oito dias!

O maestro Conca nas alturas.
 

Foi o título do time que mais permaneceu na liderança – 23 rodadas – que teve a melhor defesa – 36 gols sofridos – e o melhor aproveitamento – 62%. A campanha do Flu foi mesmo digna de campeão: 71 pontos, 38 jogos, 20 vitórias – foi o time que mais venceu, ao lado do Cruzeiro -, 11 empates, sete derrotas (time que menos perdeu), 62 gols marcados, 36 sofridos e saldo positivo de 26 gols. Foi o quarto Brasileirão de Muricy, que se transformava no maior especialista em pontos corridos de toda a história do futebol brasileiro.

A saída do Flu e um novo desafio

Com a manutenção do elenco para a temporada de 2011, Muricy Ramalho tinha a expectativa de fazer uma boa campanha com o Fluminense na Libertadores, competição que era o verdadeiro sonho do treinador. No entanto, ele rescindiu o contrato com o tricolor ainda durante a competição. Muricy ficou chateado pela falta de investimento em infraestrutura prometido quando chegou, em 2010:

“Quando cheguei ao clube, foram prometidas duas condições: uma equipe para ser campeã e a melhoria na estrutura física do clube. A primeira foi conquistada com o título do Campeonato Brasileiro de 2010, e a segunda, a melhoria na estrutura, não foi realizada. Quero muito agradecer a todos que trabalharam comigo durante esse período e dizer que meu ciclo foi encerrado no clube”.Muricy Ramalho, em entrevista ao Globoesporte.com, março de 2011.

O ciclo do treinador teve 28 vitórias, 15 empates e 11 derrotas em 54 partidas. Após a saída,  Muricy voltou a ficar com sua família, sempre um porto seguro do treinador e motivo para hesitar badalações e muitos compromissos. Muricy pensava em dar uma descansada e diminuir o ritmo intenso que vivia desde 2004, quando engatilhou a sequência de trabalhos no São Caetano, Internacional, São Paulo, Palmeiras e Fluminense. Mas as “férias” não duraram nem um mês, como ele mesmo disse em entrevista ao Baú do Esporte, do canal SporTV. “Eu queria dar uma pausa, mas aí veio o convite do Santos. Aí você começa a pensar em Pelé, na camisa, naquela história toda… Aí não tem como recusar, né?”. E não dava mesmo!

Neymar saúda a nação santista.
 

O Peixe tinha um grande elenco e dois jogadores que jogavam simplesmente muito na época: Ganso e Neymar, sem dúvida os mais badalados do futebol brasileiro naquele ano. Muricy deixou bem claro em sua apresentação que chegava para vencer títulos. E o principal deles era a Libertadores, com o Santos ainda na briga por uma vaga nas oitavas de final, mas com um desafio imenso pela frente: enfrentar o Cerro Porteño-PAR fora de casa e com três desfalques: Neymar, Elano e Zé Eduardo. Mas Muricy tinha Ganso, e o meia foi o principal responsável pela vitória por 2 a 1 que manteve o alvinegro na briga pela vaga na fase eliminatória, que acabou vindo sem grandes preocupações. Com Muricy, o Santos passou a ter mais segurança na defesa, sofrendo poucos gols e mantendo mais a posse de bola. Antes do mata-mata da Libertadores, Muricy conduziu o Santos no Campeonato Paulista e chegou à final para enfrentar o Corinthians. No primeiro jogo, empate sem gols. No segundo, Arouca e Neymar fizeram os gols da vitória por 2 a 1 que deu ao Peixe o bicampeonato paulista. Com mais uma taça no currículo, Muricy mudou a chave para a Libertadores e depositou todas as fichas na competição.

O apogeu 

A partir da fase de mata-mata, a equipe praiana passou a ser bem econômica nos gols e usar e abusar da força defensiva proposta por Muricy Ramalho. Nas oitavas, contra o América-MEX, Ganso marcou o gol da vitória por 1 a 0 na partida de ida, na Vila. Na volta, no estádio Azteca, o Peixe segurou o empate sem gols e garantiu vaga nas quartas de final. Um fato em destaque é que o alvinegro foi o único clube brasileiro a se garantir entre os oito melhores da América naquele mês de maio. Motivo? Todos os outros quatro brasileiros no torneio (Cruzeiro, Internacional, Fluminense e Grêmio) foram eliminados no mesmo dia na chamada “quarta-feira do terror”.

Para mostrar que queria voltar a ser campeão sul-americano depois de quatro décadas, o Santos não temeu a altitude de Manizales, na Colômbia, e venceu o Once Caldas (algoz do time nas quartas de final de 2004) por 1 a 0, gol de Alan Patrick. Na volta, no Pacaembu, o empate em 1 a 1 pôs o Peixe na semifinal. Nela, o reencontro com o Cerro Porteño-PAR. Na ida, em São Paulo, o capitão Edu Dracena fez o gol de mais uma vitória mínima do alvinegro. Na volta, em Assunção, um jogo repleto de gols terminou empatado em 3 a 3, com os gols do Santos anotados por Neymar, Zé Eduardo e Jonathan. Depois de oito anos, o Peixe estava de volta a uma final de Libertadores. E viveria um momento de pura nostalgia ao ficar sabendo qual seria seu adversário: o Peñarol-URU, o mesmo que enfrentou o time da Vila na decisão de 1962, ano do primeiro título continental do time alvinegro.

O time da Libertadores não foi tão brilhante quanto o esquadrão de 2010, mas teve mais equilíbrio e força defensiva.
 

A primeira partida da final foi disputada no lotado estádio Centenário, em Montevidéu. O Peñarol apostava na força de sua torcida e na garra de seus jogadores para conseguir pelo menos uma vitória mínima e jogar pelo empate na volta, em São Paulo. Mas a zaga alvinegra voltou a jogar muito, Rafael pegou tudo e o placar não saiu do zero. Vale destacar o trabalho psicológico feito por Muricy, que não deixou seus jogadores caírem na catimba dos uruguaios e evitar as provocações e revides.

Na volta, Muricy foi fundamental para a diretoria escolher o Pacaembu como palco da final, pelo fato de o estádio se parecer com o estilo caldeirão da Vila Belmiro, diferente do Morumbi, preferido dos mandatários do Peixe. Muricy salientou que valia a pena deixar de ganhar dinheiro ali para lucrar depois, com o título, premiações e a disputa do Mundial de Clubes. E foi uma sábia escolha. Quase 40 mil torcedores lotaram o Pacaembu na esperança de um título que não vinha há 48 anos.

Depois de um primeiro tempo tenso, sem gols e com perigosas investidas dos uruguaios, o Santos abriu o placar logo no primeiro minuto de jogo após Ganso deixar com Arouca, este passar por vários marcadores e deixar para Neymar bater de bate-pronto: 1 a 0. Se alguém ainda duvidava do poder de decisão do camisa 11, ali estava a resposta. Aos 23´, Danilo recebeu na direita e chutou da entrada da área para marcar o segundo: 2 a 0. O Peñarol ainda tentou assustar quando Durval, contra, fez o primeiro da equipe aurinegra, aos 34´, mas o Santos se segurou, quase fez o terceiro, e conquistou o tricampeonato continental.

Neymar explode após abrir o placar na decisão da Libertadores: o tri estava perto.
 

Era o fim de uma longa espera e da consagração de um time que tanto brilhava desde 2010. Mais do que isso, era o elixir de Neymar, símbolo maior daquela terceira geração de ouro do time da Vila e disparado o melhor jogador revelado no Brasil em muitos anos. Em 14 jogos, o Santos venceu sete, empatou seis e perdeu apenas um, com 20 gols marcados e 13 sofridos. Neymar foi o artilheiro da equipe com seis gols, um a menos que os artilheiros do torneio, Nanni, do Cerro, e Wallyson, do Cruzeiro, com sete gols cada. Enfim, Muricy conquistava o título que ele tanto sonhou durante muito tempo. E desabafou:

“Olha, posso ser sincero? Eu merecia demais esse título por tudo o que passei. Sempre faço um bom trabalho. Aqui é muito trabalho, não é mais pouco não!”.

O Rei Pelé e Muricy.
 

Durante a comemoração, o treinador ainda recebeu a companhia de ninguém mais ninguém menos que Pelé, que abraçou Muricy e saiu comemorando com o técnico pelo gramado do Pacaembu. “O Pelé veio me abraçar, trotou comigo no gramado! O Pelé, cara, o Rei! Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida!”, disse Muricy em entrevista ao Baú do Esporte, do SporTV. Campeão estadual, nacional e continental, Muricy já tinha quase todos os principais troféus que um treinador poderia sonhar na carreira. Mas ainda havia a chance de uma conquista ainda maior: o Mundial de Clubes.

Vítima de um esquadrão de sonhos

Em dezembro, no Japão, o Santos enfrentou o Barcelona de Guardiola na decisão do Mundial de Clubes da FIFA. Havia a expectativa de que o time de Muricy, com Neymar e Ganso entrosados e toda a base campeã da América, poderia dar algum trabalho ao clube catalão. Mas o que se viu no gramado de Yokohama foi um dos maiores vareios da história, a maior partida daquele Barcelona segundo o próprio Guardiola: 4 a 0, com 3 a 0 só no primeiro tempo e mais de 70% de posse de bola. O volume de jogo, as jogadas e o domínio dos blaugranas foi algo absurdo, único. Muricy disse tempo depois que ele sabia que era muito, mas muito difícil vencer aquele Barcelona e que tentou espelhar o time dele com o do rival, marcando lateral com lateral e tudo mais. Só que o Barça tinha Xavi, Iniesta, Messi, Puyol, Daniel Alves, Fàbregas… Aí não deu!

Nós fomos entrar no jogo, no túnel, lá do Japão, com o time dos caras. Só faltou pedir autógrafo. Se tivesse um telefone celular, nossos jogadores iam tirar foto. Só faltou fazer isso. Eles ficaram babando com os caras porque eles ainda eram muito jovens. Principalmente Neymar e Ganso. Então, era meio que impossível”. – Muricy Ramalho, em entrevista ao UOL Esporte, 17 de maio de 2019.

A derrota serviu como uma lição para Muricy. Ele iria valorizar cada vez mais a posse de bola em seus times dali em diante e tentar cansar os rivais com muito toque de bola, abdicando dos chuveirinhos e jogos truncados.

Mais títulos e a volta ao São Paulo

Depois da ressaca de 2011 e da dor de cabeça causada pela derrota no Japão, o Santos de Muricy iniciou em marcha lenta o Campeonato Paulista de 2012. Com a manutenção do elenco e a permanência de Neymar (que passou a ter cada vez mais o apoio de inúmeros parceiros publicitários), a equipe era a favorita ao título estadual, bem como o Corinthians, campeão brasileiro do ano anterior. No primeiro turno, o Peixe terminou a fase de classificação na terceira posição, com 12 vitórias, três empates e quatro derrotas em 19 jogos, com 46 gols marcados (pra variar, melhor ataque) e 18 sofridos. No mata-mata, vitória por 2 a 0 sobre o Mogi Mirim, nas quartas, triunfo por 3 a 1 sobre o freguês São Paulo, no Morumbi, com atuação de gala de Neymar, que marcou os três gols do jogo, e classificação assegurada para a final, contra o Guarani. Ambas as partidas foram disputadas no Morumbi e o Santos deitou e rolou.

No primeiro duelo, vitória fácil por 3 a 0, com dois gols de Neymar e um de Ganso. Na volta, Neymar marcou mais dois gols, Alan Kardec também fez dois, e o Santos venceu por 4 a 2, garantindo o tricampeonato paulista e a hegemonia total no Estado. Neymar foi o grande artilheiro do torneio com 20 gols. Na primeira fase da Copa Libertadores, o Santos terminou em primeiro lugar da chave, à frente de Internacional-BRA, Juan Aurich-PER e The Strongest-BOL. Nas oitavas de final, o Peixe encarou o Bolívar-BOL e perdeu o primeiro duelo por 2 a 1, em La Paz. Na volta, os alvinegros não tomaram conhecimento do rival e golearam por 8 a 0, uma apoteose de gols anotados por Neymar (2), Elano (2), Ganso (2), Alan Kardec e Borges. Vale lembrar que o primeiro tempo acabou 5 a 0 para o Santos.

Nas quartas de final, a equipe da Vila teve os argentinos do Vélez Sarsfield pela frente. No primeiro confronto, em Buenos Aires, Neymar foi anulado pela marcação rival e o Peixe perdeu por 1 a 0. Na volta, Alan Kardec marcou o gol da vitória do time brasileiro por 1 a 0 que levou a decisão para os pênaltis. Na marca da cal, brilhou a estrela do goleiro Rafael, que defendeu a cobrança de Papa e garantiu a vitória alvinegra por 4 a 2. Na semifinal, o adversário foi o Corinthians-BRA do técnico Tite. O duelo foi cercado de expectativa pelo fato de ser quase uma “final antecipada”. Na Vila Belmiro, palco do primeiro jogo, Emerson fez o gol da vitória do Timão por 1 a 0. Na volta, no Pacaembu, o Santos até abriu o placar com Neymar, no final do primeiro tempo, mas Danilo, no começo da segunda etapa, decretou o empate em 1 a 1 que colocou o Corinthians na final.

No segundo semestre de 2012, o Santos levantou mais uma taça: a Recopa Sul-Americana, vencida após um empate em 0 a 0 e uma vitória por 2 a 0 (gols de Neymar e Bruno Rodrigo) sobre a Universidad de Chile. No Campeonato Brasileiro, a equipe voltou a decepcionar e ficou apenas na oitava posição. No ano seguinte, depois de muita especulação, Neymar foi negociado com o Barcelona-ESP e uma era fantástica na Vila Belmiro chegou ao fim com a derrota para o Corinthians na decisão do Campeonato Paulista, revés que custou o inédito tetracampeonato estadual consecutivo ao Santos. Desgastado, o técnico Muricy Ramalho também deixou o comando da equipe e começou a sofrer com problemas de saúde, enfrentando uma diverticulite no mês de abril de 2013. Naquele momento, ele começou a pensar em encerrar a carreira, mas decidiu prosseguir ao aceitar um convite do São Paulo, em setembro de 2013.

Diferente de sua última passagem, Muricy pegou o tricolor em apuros, flertando com o rebaixamento e em uma crise técnica e institucional bem grave. Ele só aceitou por ser o São Paulo e pela torcida. Mas, em apenas três meses, Muricy conseguiu tirar o tricolor da zona de rebaixamento, conseguiu vencer o campeão Cruzeiro em pleno Mineirão e deixou o time paulista no meio da tabela, extraindo o máximo dos poucos bons jogadores do time na época e reeditando a parceria com Ganso, meia que havia sido comandado por Muricy nos tempos de Santos. O técnico também passou a valorizar mais as categorias de base, evitou os famosos chuveirinhos e variou bastante o esquema tático do time.

Em 2014, o técnico seguiu no tricolor e fez uma boa campanha no Brasileiro, chegando ao vice-campeonato – o título ficou com o Cruzeiro. Mesmo com um elenco reduzido e poucos nomes de destaque, Muricy mostrou seu talento com grandes vitórias ao longo da competição – 2 a 0 no campeão Cruzeiro, 1 a 0 no Grêmio em plena arena gremista, 2 a 0 e 2 a 1 no Palmeiras, 2 a 1 e 1 a 0 no Santos, 2 a 0 no Flamengo, no Rio, e 4 a 2 no Botafogo, também no Rio.

Na temporada seguinte, o São Paulo seguiu com problemas estruturais, não fez boas contratações e o time estagnou. Enfrentando novos problemas de saúde por causa do estresse e com a necessidade de retirar uma pedra na vesícula, Muricy entrou em comum acordo com a diretoria em abril de 2015 e deixou o comando do tricolor. Mesmo sem um título, aquela terceira passagem do técnico aumentou ainda mais sua idolatria perante a torcida do São Paulo, que se mostrou eternamente grata pelo fato de ele livrar o time de um vexatório rebaixamento em 2013 e alcançar um impressionante vice-campeonato brasileiro já no ano seguinte. Em 109 jogos nessa derradeira passagem, Muricy venceu 58, empatou 22 e perdeu 29, aproveitamento de 59%.

“Hora de menos trabalho, meu filho!”

Em 2016, Muricy precisou pensar mais na saúde e tomou uma difícil decisão. Foto: Marcos Ribolli.
 

Após deixar o São Paulo, Muricy aproveitou para conhecer um pouco da estrutura e métodos do Barcelona, onde encontrou seu antigo pupilo, Neymar, que jogava no clube na época. O técnico ficou encantado e passou a dizer cada vez mais que o futebol brasileiro estava parado no tempo. Ele tinha razão, ainda mais em tempos recentes do 7 a 1 e de seleção brasileira fraca e sem alternativas.

Durante o ano de 2015, Muricy foi sondado por alguns clubes, mas negou os convites para descansar um pouco. No período, disse que estava “se estranhando” por não sentir falta do futebol e de retornar o quanto antes a dirigir um time. A tranquilidade só terminou no final do ano, quando ele aceitou um convite do Flamengo para trabalhar no clube a partir de 2016, com foco em um modelo de gestão unificado, desde as categorias de base até o time profissional. Mas o período no rubro-negro durou pouco. Logo no começo de 2016, em maio, o técnico foi internado com um quadro de arritmia cardíaca e teve que ficar na UTI. Em uma franca entrevista às repórteres Luiza Oliveira e Renata Mendonça, do UOL Esporte, ele falou exatamente sobre esse momento que o fez parar.

“Não sei se você conhece uma UTI. Uma UTI é um quartinho que não tem nem janela. Você está preso num buraquinho assim, cheio de tubo. Você olha só o coraçãozinho atrás fazendo “pi, pi, pi”, batendo irregular. Eu tive uma arritmia muito forte porque abusei. Era minha segunda vez na UTI. Isso é perigosíssimo. Naquele momento, fiquei muito sozinho. E quando você está sozinho, reflete sobre tudo. Repensa a sua vida, ainda mais cheio de tubo: ‘Meu, o que eu estou fazendo aqui? Já trabalhei muito no futebol, ganho um puta dinheiro e não posso desfrutar de nada. Não posso ir pra praia e pro sítio, coisas que eu gosto. Não posso ver minha família, não tenho mais amigos’. 

Era estresse porque eu sou muito pilhado. É a única maneira de o cara chegar num nível alto como o que eu cheguei. O futebol é uma bolha. Quando você entra nessa bolha, não sai. É uma coisa absurda. É 24 horas por dia. Você sai do jogo e já pega o campinho e vai ver o teipe do jogo. Não conversa com a mulher, com os filhos, não quer saber de nada. Você não tem mais vida, não pensa em mais nada. Isso é coisa de maluco, meu. As coisas estavam meio complicadas. A arritmia não estava revertendo. Eu prometi para mim mesmo: ‘Se sair dessa, não trabalho mais como técnico. Se o homem lá em cima me tirar dessa, não quero mais’. E foi o que aconteceu. 

No começo, foi muito duro porque era a coisa que eu mais gostava. Foi muito triste. Cheguei a chorar sozinho porque é a minha vida. Eu sabia que ia sentir falta. Eu estava saindo da bolha: ‘Caramba, o que eu estou fazendo aqui fora?’. Eu ia voltar à vida comum no dia a dia, com a família, com os amigos, com fim de semana. Eu achava estranho isso. Me sentia muito raro. Acordava e falava: ‘O que é isso, meu? O que eu vou fazer?’. Não pensava em nada”. – Leia a imperdível entrevista na íntegra clicando aqui.

Naquele fatídico dia de 2016, Muricy pensou na vida. Refletiu. E não hesitou em deixar o Flamengo e largar a carreira de técnico. Ele precisava cuidar da saúde, cessar de vez o estresse e a correria daquela vida do futebol e repousar, ficar mais com a família, curtir os filhos, enfim, viver. Ele não precisava mais daquela loucura toda, da cobrança por resultados. Ele já era um treinador consagrado e vencedor de alguns dos mais cobiçados títulos do futebol. Era hora de deixar o lema “aqui é trabalho” para trás e curtir o “aqui é descanso, meu filho!”.

Para sempre entre os maiores do Brasil

Dizer que Muricy nunca mais ia viver no meio esportivo seria um exagero, claro. Após se recuperar, o treinador aceitou um convite para ser comentarista do SporTV e participar de diversas atrações do canal, mas com moderação e sem estresse! Desde então, ele participa de transmissões de jogos, coberturas e debates opinando sobre os mais diversos assuntos, além de fazer contrapontos interessantes sobre os times que ele dirigiu com os do futebol atual. Ídolo de diferentes torcidas, Muricy nunca escondeu que seu coração pertence ao São Paulo, e prova disso são as constantes homenagens que ele recebe do clube e da torcida.

A mais recente foi em dezembro de 2019, na primeira edição da Legends Cup, realizada no Morumbi com os times de veteranos de São Paulo, Barcelona-ESP, Borussia Dortmund-ALE e Bayern München-ALE. O tricolor levou a campo vários jogadores treinados por Muricy nos tempos áureos de 2006-2008 como Fabão, Lugano, Mineiro, Josué, Aloísio, Dagoberto, Leandro entre outros. E o treinador foi ovacionado pelos milhares de torcedores que foram ao estádio, que gritaram seu nome e até frases como “Volta Muricy!, Volta Muricy!” e “Não é mole não, coloca esse time para jogar o Paulistão!”.

Carlinhos Neves e Muricy Ramalho, durante o Legends Cup de 2019. Foto: Maycon Soldan / Estadão Conteúdo.
 

A propósito: o São Paulo foi campeão após vencer o Bayern, na semifinal, por 2 a 0, e o Barcelona, na final, por 3 a 0. Durante os jogos, o torcedor sentiu nostalgia pura não só por ver seus ídolos em campo, mas também pelas grandes cenas de Muricy cornetando e gesticulando como de costume à beira do gramado. Embora sinta falta da “sensação da vitória” nessa vida longe do futebol, como ele costuma dizer, Muricy diz que está bem assim, mais “quieto”. O fato é que ele já está na história de grandes clubes do Brasil e da própria história do futebol. Vencedor, competitivo e energético, sabia como poucos a entusiasmar elencos e vencer campeonatos improváveis mesmo quando ninguém acreditava. Pois ele sempre acreditou. Com trabalho, trabalho e trabalho. Um técnico imortal.

Números de destaque:

São Paulo (1994–1997)

108 Jogos / 55 Vitórias / 33 Empates / 20 Derrotas / Aproveitamento: 61,1%;

Internacional (2003 e 2004-2005)

166 Jogos / 88 Vitórias / 35 Empates / 43 Derrotas / Aproveitamento: 60,0%;

São Paulo (2006–2009)

257 Jogos / 140 Vitórias / 70 Empates / 47 Derrotas / Aproveitamento: 63,5%;

Palmeiras (2009–2010)

34 Jogos / 13 Vitórias / 11 Empates / 10 Derrotas / Aproveitamento: 49,1%;

Fluminense (2010–2011)

54 Jogos / 28 Vitórias / 15 Empates / 11 Derrotas / Aproveitamento: 61,1%;

Santos (2011–2013)

150 Jogos / 72 Vitórias / 42 Empates / 36 Derrotas / Aproveitamento: 57,3%;

São Paulo (2013–2015)

109 Jogos / 58 Vitórias / 22 Empates / 29 Derrotas / Aproveitamento: 59,9%;

Flamengo (2016)

26 Jogos / 13 Vitórias / 6 Empates / 7 Derrotas / Aproveitamento: 57,7%.

Total Geral no São Paulo:

Jogos: 474

Vitórias: 253

Empates: 125

Derrotas: 96

Muricy Ramalho sempre foi conhecido pelas entrevistas ásperas e pelo jeito ranzinza. Veja abaixo algumas frases marcantes do treinador:

“O segredo foi entrar em campo e fazer mais gol que o adversário. Num tem essa de segredo meu filho, e se tivesse eu não te contaria.”

“Aqui eu quero todo mundo estressado. Quem disser que está tranquilo mando pra casa dormir. No futebol não tem isso. Quero todo mundo ligado, preocupado e estressado. A minha rotina é essa. Estou nervoso todo dia.”

“Uma vez, eu dei um trabalho tático de 40 minutos. Só coloco o time que vai jogar para treinar tático. Depois, na coletiva, a primeira pergunta que fazem é: Qual o time que você vai colocar em campo?. É demais. Mandei os caras assistirem o treino e pararem de comer bolacha e beber cafezinho.”

“Dois caras bons podem jogar juntos sempre. O que não pode é jogar dois caras ruins.”

“A torcida paga ingresso para ver o time vencer. Quem quiser ver espetáculo que vá ao Teatro Municipal.”

“Se sei como o time jogará? Sim, de meia, calção e chuteira.”

“Futebol é igual basquete, meu.”

“No São Paulo não existe essas de chinelinho, não é praia, pô.”

“Aqui não tem essa de beicinho, ficar com raivinha. Quem estiver melhor joga.”

Leia mais frases do treinador clicando aqui.

Leia mais sobre os esquadrões de Muricy clicando nos links abaixo!

São Paulo 2006-2008

Fluminense 2010

Santos 2011-2012

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Uma pena que justo quando tenha chegado ao Flamengo tenha tido problemas de saúde. Acredito que poderia naquele ano de 2016 ter vencido seu 5º Brasileiro e igualado Luxemburgo como técnico mais vezes campeão. Digo isso, pois deixou uma base do Fla pronta pro brasileiro (Dirigido por Zé Ricardo) e aquele time foi 3º, disputando o título até as últimas rodadas. Nas mãos de um treinador com a experiência de Muricy, acredito que jogos como o empate de 3×3 com o Botafogo e o empate de 2×2 com o Coritiba, cedidos após o time ter uma vantagem confortável ,poderiam ser evitados. Enfim, nunca saberemos! Mas Muricy é um dos maiores treinadores que vi!

Esquadrão Imortal – São Paulo 1985-1987

Jogos Eternos – Palmeiras 2×1 Deportivo Cali 1999