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Técnico Imortal – César Menotti

Menotti e o inseparável cigarro: três maços por dia! Foto: Bob Thomas / Getty Images.

 

Nascimento: 22 de outubro de 1938, em Rosario, Argentina (ele nasceu no dia 22 de outubro, mas foi registrado em 05 de novembro de 1938). Faleceu em 05 de maio de 2024, em Buenos Aires, Argentina.

Clubes que treinou: Newell’s Old Boys-ARG (1970), Huracán-ARG (1971-1974), Seleção da Argentina (1974-1983), Seleção da Argentina Sub-20 (1978-1979), Barcelona-ESP (1983-1984), Boca Juniors-ARG (1986-1987 e 1993-1994), Atlético de Madrid-ESP (1987-1988), River Plate-ARG (1989), Peñarol-URU (1990-1991), Seleção do México (1991-1992), Independiente-ARG (1996-1997, 1997-1999 e 2005), Sampdoria-ITA (1997), Rosario Central-ARG (2002), Puebla-MEX (2006) e Tecos-MEX (2007).

Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Argentino (1973-Metropolitano) pelo Huracán.

1 Copa do Rei (1982-1983), 1 Copa da Liga (1983) e 1 Supercopa da Espanha (1983) pelo Barcelona.

Principais títulos por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (1978) e 1 Copa do Mundo da FIFA Sub-20 (1979) pela Argentina.

Principais títulos individuais:

22º Maior Técnico de todos os tempos pela World Soccer: 2013

 

“El Flaco”

 

Por Guilherme Diniz

 

Por anos, ele foi um verdadeiro romântico do futebol. Para ele, o esporte deveria ser jogado com esmero, classe, inteligência. Você podia parar de correr, parar de jogar por longos minutos. A única coisa que você não podia fazer era parar de pensar, costumava dizer o treinador, quase como um mantra. Jogar futebol de determinada maneira era um estilo inegociável. E foi assim que ele se tornou um dos mais respeitados técnicos do mundo, cultuado por gênios e seguido por dezenas. César Luis Menotti, mais conhecido como El Flaco, foi o responsável pela primeira estrela na camisa da Argentina e por valorizar as táticas, o estudo do adversário, a circulação da bola e sua posse. Tido como mais importante técnico da seleção albiceleste, Menotti teve um impacto enorme na formação de talentos e na organização da equipe ao longo dos anos, “refundando” a equipe para que ela se tornasse uma das mais temidas e vencedoras do futebol mundial. Ele influenciou, também, o time que venceu o tricampeonato mundial em 2022. É hora de relembrar.

Amante da bola

Menotti e o amigo Juárez, nos tempos de Rosario Central.

 

Menotti nasceu em Rosário no dia 22 de outubro de 1938, mas acabou sendo registrado apenas no dia 05 de novembro, por conta de uma viagem a trabalho de seu pai a Tucumán, que impossibilitou o registro de César Menotti no dia exato de seu nascimento. Filho único, Menotti sempre teve muito carinho e disciplina de seu pai, Antonio, boxeador e bailarino, e de sua mãe, a dona de casa Olga Fasola. Muito magro (daí o apelido El Flaco), com 1,90m de altura e paixão pelo esporte, Menotti começou a praticar futebol e basquete no clube Unión América de Fisherton, em Rosário, e fez testes em clubes como Vélez e Huracán. De personalidade forte, Menotti sempre se envolveu em confusões na adolescência e teve inclusive a casa vandalizada duas vezes por expor aos conhecidos sua relação com o peronismo.

Foi no Rosario Central que Menotti conseguiu, enfim, iniciar sua carreira de futebolista, atuando no ataque e por vezes como meia da equipe canalla. Foi no time amarelo e azul que Menotti conheceu Miguel Juárez, seu amigo que iria acompanhá-lo anos depois na carreira de treinador. Como jogador, Menotti nunca foi um grande craque, mas marcou gols importantes pelo Rosario e foi campeão argentino em 1965 vestindo a camisa do Boca Juniors. Convocado para a seleção em 11 oportunidades, não chegou a ir para uma Copa do Mundo e encerrou sua carreira brevemente, no final dos anos 1960, com passagens inclusive pelo Santos, em 1968, onde conheceu Pelé e passou a admirar o brasileiro, e pelo Juventus-SP, em 1970.

Menotti nutria enorme admiração por Pelé, a quem considerava um “extraterrestre”. Foto: Acervo / El Gráfico

 

Um dos motivos que fizeram Menotti se retirar cedo dos gramados foi a brutalidade do futebol argentino naqueles anos 1960, algo que ele repugnava, afinal, era um jogador habilidoso, que jogava de cabeça erguida e disparava chutes de muita potência de fora da área. “Eu peguei a pior época da história do futebol argentino, quando era moda as equipes que lutavam. Um futebol de merda”, comentou Menotti certa vez ao Infobae (ARG). Com pouco mais de 30 anos, Menotti abandonou o futebol profissional, teve seu passe retido no Juventus, mas não quis largar o esporte. Ele percebeu que poderia continuar contribuindo de outra maneira: como técnico. E seria em tal função que El Flaco iniciou uma nova era em sua vida a partir 1970.

 

De “vira casaca” ao grande título com o Huracán

Nascido em uma família fanática pelo Rosario Central, Menotti teve como primeiro trabalho o Newell’s Old Boys, principal rival dos canallas. Quem o levou para o lado rubro-negro da cidade foi seu velho amigo Miguel Juárez, que quis Menotti como seu auxiliar. Antes de iniciar os trabalhos, ele viajou com Juárez ao México para acompanhar a Copa do Mundo da FIFA de 1970, onde ficou fascinado pela seleção brasileira campeã daquele ano. Ver o jeito moderno e artístico do futebol praticado pela canarinha cativou Menotti, que não teve dúvidas sobre seu futuro como treinador. Em entrevista à revista El Gráfico (ARG), em outubro de 2022, Menotti comentou sobre aquele início. 

 

“Eu tinha um amigo arquiteto, Valenti, que havia vencido as eleições no Newell’s e falou comigo para que eu fosse técnico do clube. Nessa época, eu tinha uma agência de carros em Rosário, onde vários jogadores do Central e do Newell’s iam lá tomar café e conversar. Eu era muito conhecido. Não queria ser treinador, mas Valenti insistiu. “Por que, então, não me ajuda a armar a equipe?”. Isso me interessou. Eu perguntei quem era o treinador e ele disse que era o Gitano (Juárez). Eu salientei que no Newell’s iam nos matar, por causa do nosso passado no Central, mas ele rechaçou que teríamos uma equipe ‘de la puta madre!’, e realmente formamos um time muito competitivo, com Mono Obberti, Chazarreta, Marito Zanabria, Ramón Cabrero… Foi a base da equipe que anos depois seria campeã argentina (em 1974-Metropolitano)”.

 

Após um breve período no Newell’s como auxiliar e técnico interino, Menotti acabou indo para o Huracán, onde viveria momentos de glórias e teria o espaço que queria para pôr em prática suas ideias de jogo. Comandando uma equipe que tinha Avallay, Basile, Houseman, Carrascosa, Larrosa, Brindisi e Babington, Menotti fez do Huracán campeão argentino na temporada 1973 praticando um futebol lindo de se ver, com toque envolventes, gols belíssimos e jogadas envolventes. O Globo foi campeão com 46 pontos, quatro a mais do que o vice, Boca Juniors, com 19 vitórias e apenas cinco derrotas em 32 jogos – aproveitamento superior a 71% -, além de 62 gols marcados e 30 sofridos. Um dos destaques da campanha foi o 5 a 0 aplicado no Racing e o pasillo feito pelo Boca no jogo posterior à conquista do Huracán, algo raro e que mostrou o respeito que aquele time teve dos rivais.

Em pé: Buglione, Chabay, Russo, Basile, Roganti e Carrascosa; Agachados: Houseman, Brindisi, Avallay, Babington e Larrosa.

 

Menotti deixou bem claro para seus jogadores que eles tinham liberdade para jogar futebol. E foi assim, de maneira simples, que o time do Huracán fez história e levantou o troféu. Roganti era o goleiro, a linha de quatro defensores tinha a experiencia de Coco Basile (campeão do mundo com o Racing) e a segurança de Carrascosa, Russo ficava na contenção e o meio de campo e ataque tinham as missões de criar jogadas, atacar e chegar ao gol. “Esse título foi um sonho. Como se formou a equipe, como ela jogava, por tudo o que gerou e porque se fez em um clube de bairro. O Huracán de 1973 foi um pedaço da história do futebol argentino, uma bandeira ideológica para muitos”, comentou Menotti tempos depois sobre o troféu, o primeiro da era profissional do Globo.

 

A transformação da Albiceleste

Em 1974, após a Copa do Mundo da Alemanha, César Menotti estava com o prestígio nas alturas pelo título conquistado no Huracán. E, por isso, foi convidado pela AFA para assumir o cargo de técnico da seleção argentina, o que ele aceitou prontamente. A equipe vivia tempos difíceis e muito instáveis e tinha a chance de organizar um Mundial em 1978, o que exigia um planejamento sério a fim de o time desempenhar um bom papel e apagar os recentes vexames em Copas passadas, em especial a não classificação para o torneio de 1970 e a eliminação em 1966. Menotti começou a observar os jogadores não só dos grandes clubes, mas de todo país e rechaçou a importância de se valorizar os jovens das categorias de base e formar seleções fortes desde o sub-15, pois eles seriam o futuro da albiceleste.

Menotti ajudou a criar, inclusive, o Estatuto de Seleções Nacionais, que sobrepunha a albiceleste aos clubes. Ele queria ainda comprometimento total dos atletas para com a Argentina, o que criou rusgas com os clubes no início do trabalho e fez ele não convocar atletas de equipes que dificultassem a convocação de seus jogadores, como aconteceu em 1976, quando Menotti não chamou nenhum atleta do River Plate para algumas partidas na temporada.

Mas nem tudo foi tranquilo. O treinador quase largou a seleção após a morte de Perón e o golpe de estado que afundou a Argentina em uma profunda crise política, econômica e social, mas continuou no cargo por acreditar que era possível vencer uma Copa do Mundo em 1978. O técnico teve quatro anos para formar com calma e estudo o time principal e começou naquela época a dar chances para um jovem chamado Diego Maradona, de apenas 17 anos, mas que acabaria de fora da lista final de convocados por “precisar de um tempo” para amadurecer, segundo Menotti. Deixar Maradona ausente da Copa gerou críticas, claro, mas Menotti formou uma seleção muito forte, com jogadores comandados por ele no Huracán lá em 1973 e outras estrelas do país como Fillol, Passarella, Tarantini, Ardiles, Bertoni e Kempes – único atleta jogando no estrangeiro convocado por Menotti.

 

Mestre da primeira Copa

Na primeira fase da Copa de 1978, a Argentina jogou todos os três jogos no estádio Monumental e, embora tivesse todo o apoio da torcida, encarou um grupo complicado com Hungria, França e Itália. Na estreia, contra os húngaros, vitória por 2 a 1, gols de Luque e Bertoni. No duelo seguinte, vitória por 2 a 1 sobre a França (gols de Passarella e Luque). Mas, na terceira partida, a equipe da casa perdeu para a Itália por 1 a 0 e também o privilégio de continuar jogando em Buenos Aires na fase final, também de grupos. Com isso, o time sul-americano teve que se deslocar até a cidade de Rosário. Problema? Não para uma seleção que tinha Mario Kempes, que conhecia cada canto do estádio Gigante de Arroyo, casa de seu ex-clube, e César Menotti, outro amante do clube canalla

No primeiro duelo da segunda fase, contra a Polônia, a Argentina venceu por 2 a 0 com dois gols do camisa 10. No jogo seguinte, a Argentina empatou sem gols com o Brasil em um clássico cheio de faltas ríspidas e muita violência – foram 51 faltas! -, resultado que exigiu um milagre da seleção da casa na última rodada. Após a vitória do Brasil sobre a Polônia por 3 a 1, a Argentina tinha que realizar uma missão quase impossível: tirar uma vantagem de quatro gols de saldo do Brasil e golear o Peru por 4 a 0, pelo menos. 

Ninguém apostava que o Peru, time muito bem organizado naquela Copa e que havia feito uma ótima campanha na primeira fase (quando foi o primeiro do grupo, à frente da Holanda), pudesse permitir aos donos da casa uma proeza como aquela. Mas, contra todos os prognósticos, a Argentina não só conseguiu tirar os quatro gols de saldo como aumentar a diferença ao golear o time branco e vermelho por 6 a 0, gols de Kempes (2), Tarantini, Luque (2) e Houseman.

Kempes celebra um de seus dois gols na decisão contra a Holanda. Foto: Getty Images.

 

A Argentina disputou a final da Copa no Monumental contra a Holanda, comandada por Ernst Happel e com a base que encantou o mundo quatro anos antes, entre eles Ruud Krol, Rob Rensenbrink, Johan Neeskens, Arie Haan, Johnny Rep e Wim Jansen. Uma curiosidade é que a FIFA teve que colocar cinzeiros à beira do gramado para dar conta de tantos cigarros ao longo do jogo que Happel e Menotti fumavam – o argentino chegava a fumar três maços por dia! No primeiro tempo, a Argentina ficou mais acuada do que no ataque, com medo de a Holanda pôr em prática suas letais armas ofensivas, sempre com Neeskens e Rensenbrink como pivôs nos lances perigosos. Lá atrás, Fillol garantia a igualdade no placar e evitava que a Holanda abrisse o marcador. Foi então que o atacante Kempes, aos 38´, recebeu na entrada da área de Luque e abriu o placar para a Argentina ao seu estilo, com uma arrancada rápida e chute rasteiro.

Menotti e o inseparável cigarro: três maços por dia! Foto: Bob Thomas / Getty Images.

 

Na segunda etapa, a Argentina parecia acomodada com o 1 a 0 e se segurou. A Holanda, valente, foi em busca do empate e conseguiu com Nanninga, de cabeça, aos 37 minutos. Os nervos dos argentinos ficaram à flor da pele e a Holanda quis porque quis virar o placar. Foi então que, no último minuto de jogo, Rensenbrink teve a chance de dar o título mundial para a Holanda, mas seu chute bateu na trave, para alívio dos argentinos e desespero dos holandeses. A final, empatada em 1 a 1, foi para a prorrogação. Nela, a Argentina se lançou toda ao ataque e mostrou mais futebol que a azarada seleção laranja. No final do primeiro tempo, Kempes conduziu a bola no meio da zaga rival, deixou dois no chão e chutou na saída do goleiro Jongbloed. A bola bateu no arqueiro e ia sair quando o mesmo Kempes chutou de novo e marcou o gol argentino: 2 a 1. 

Perto do final da partida, Kempes foi novamente mágico ao conduzir a bola na entrada da área e deixar para Bertoni marcar o gol do título: 3 a 1. Pronto. A Argentina era pela primeira vez campeã mundial de futebol. E Menotti entrava definitivamente para a história como primeiro técnico campeão de uma Copa pela seleção. Ali, começava uma nova era no futebol argentino. Se antes vestir a camisa da albiceleste era sinônimo de problemas e desprestígio, a partir dali todos os futebolistas do país iriam batalhar para conseguir uma convocação que fosse para a seleção. Na celebração do título, Menotti confessou que comemorou junto dos torcedores na Avenida 9 de Julio, a principal da capital. 

 

“Poucas pessoas sabem, mas depois do jogo eu fui para o Obelisco comemorar com o resto dos torcedores. Eu coloquei um disfarce para que ninguém me reconhecesse, e fui incógnito na parte de trás de uma caminhonete. Eu estava cumprindo uma promessa que havia feito antes. Embora não houvesse muitas pessoas quando cheguei, ainda assim desfrutei da minha própria celebração.” – César Menotti, ao site da FIFA, novembro de 2013.

 

Novo título e tempos na Espanha

Menotti com o troféu do Mundial sub-20 de 1979.

 

Já no ano seguinte, Menotti confirmou que seu trabalho de base era muito bem feito e foi campeão do mundial sub-20 da FIFA com a seleção, título este que teve como destaque o brilho de Maradona. Na primeira fase, a Argentina venceu os três jogos, marcou 10 gols e sofreu apenas um. Em seguida, eliminou a Argélia com um 5 a 0, despachou o vizinho Uruguai por 2 a 0 e derrotou a URSS na final por 3 a 1, com gols de Alves, Ramón Díaz e Maradona. Díaz, aliás, foi o artilheiro da competição com 8 gols, enquanto Maradona levou o prêmio de melhor jogador do torneio e foi o vice-artilheiro com 6 gols. O estilo de jogo da Argentina já era outro naquela época. Saiam as jogadas ríspidas e a força, entrava o toque de bola, o ataque insinuante, a rotação. “A eficácia de nossas táticas dependia muito de quão claros os jogadores estavam sobre o que lhes era pedido”, observou Menotti certa vez. 

Gabriel Calderón, atacante do time campeão sub-20, comentou anos depois que a presença de Menotti naquela seleção foi fundamental para a conquista e também para o futuro da carreira de vários atletas. 

 

“Ele nos disse que estava nos treinando porque acreditava em nosso potencial. O melhor dele era que nunca mentiu. Em vez disso, ele enfatizava especialmente as forças de cada um. Cada jogador entrava em campo com uma clareza absoluta sobre o que precisava fazer e determinado a fazê-lo.”

 

Com suas ideologias, Menotti criou amantes de seu jogo, os Menottistas, e também quem não aprovava seu estilo, como Carlos Bilardo, que seria técnico da seleção anos depois. Em um país onde cada um tem sua opinião sobre futebol, Menotti era uma voz e um símbolo do futebol bem jogado e do toque de bola, enquanto Bilardo era prol do futebol de resultado, do contra-ataque e da força de marcação. Ainda na seleção, Menotti conduziu a Argentina na Copa do Mundo de 1982 com a base de 1978 e alguns novos nomes, entre eles Maradona, agora com 21 anos. Dieguito acabou muito caçado em campo e a Argentina foi eliminada na segunda fase, após derrotas para o Brasil de Telê e a futura campeã Itália. 

Após o Mundial e a visibilidade internacional, o argentino acabou contratado pelo Barcelona em 1983 e reeditou no clube blaugrana a parceria com Maradona. Embora tenha ficado apenas uma temporada na Catalunha, o treinador conduziu o Barça de Migueli, Schuster, Marcos Alonso e Carrasco aos títulos da Copa do Rei (vencida sobre o rival Real Madrid com vitória por 2 a 1), da Copa da Liga e da Supercopa da Espanha. Sua trajetória no Barça acabou já em 1984, principalmente por causa dos resultados ruins, a grave lesão sofrida por Maradona na época e a derrota na fatídica final da Copa do Rei de 1984, diante do temível Athletic Bilbao

 

Várias aventuras e vida de diretor

Menotti permaneceu dois anos sem treinar e aproveitou apra escrever um livro, “Fútbol sin trampa”, juntamente com Ángel Cappa. Em 1986, o técnico voltou às atividades no comando do Boca Juniors, que saía de uma grave crise financeira, e em poucas partidas deu sobrevida aos xeneizes, embora não tenha conquistado troféus. Em 1987, retornou à Espanha para comandar o Atlético de Madrid, pelo qual conseguiu golear o Real Madrid por 4 a 0 em pleno Santiago Bernabéu. Mais uma vez sem títulos, Menotti deixou a capital espanhola e passou por vários clubes, incluindo o futebol mexicano. Na década de 1990, retornou ao Boca e fez uma péssima campanha na Libertadores de 1994, quando foi inclusive goleado pelo Palmeiras por 6 a 1 em SP. Ele ainda disputou a final da Supercopa da Libertadores de 1994, mas perdeu para o Independiente.

No final dos anos 1990, Menotti ainda dirigiu a Sampdoria, o Independiente, o Rosario Central (já nos anos 2000), retornou ao Independiente e encerrou sua carreira com duas passagens por clubes mexicanos. Ele deu azar de dirigir equipes longe de seus melhores tempos e com pouco poder financeiro. Por mais que tivesse inteligência e competitividade, ele sozinho não conseguia fazer os times brigarem por troféus como desejava. 

Com seu afastamento das pranchetas, Menotti passou a ser uma figura constante nos bastidores do esporte, trabalhou como comentarista e virou referência para vários treinadores, entre eles Pep Guardiola, que conversou várias vezes com El Flaco, inclusive antes de virar treinador. “Outro dia estive com Menotti e tenho a impressão de que ele fala de futebol com a mesma paixão e entusiasmo que tinha aos 39 anos, quando foi campeão do mundo. Ele ainda é como um revolucionário do que ama”, comentou Guardiola certa vez. Menotti inclusive virou um fã do espanhol com o passar dos anos.

 

“Guardiola matou os jornalistas bobos, os decapitou, felizmente. Cortou suas cabeças, suas pernas, acabou-se, não se pode mais falar, o que não significa que não se possa ganhar de outra forma, mas o que eles pregavam sobre não poder ganhar jogando bonito, que é preciso ganhar e ponto final, acabou. Ele conseguiu o que nem mesmo o Brasil de 1970 conseguiu”, disse o argentino.

Guardiola e Menotti: haja assunto!

 

Em 2019, César Menotti aceitou o convite da AFA para ser o diretor de seleções da Argentina e foi uma figura muito importante com conselhos para Lionel Scaloni formar o escrete que seria campeão da Copa América em 2021 e, mais do que isso, da Copa do Mundo da FIFA de 2022. Antes de aceitar o convite, Menotti ficou um pouco ressabiado. 

 

“Um dia, (Claudio, presidente da AFA) Tapia me ligou e eu fui vê-lo. Eu não entrava na AFA desde 1982, imagina… E ele me disse que tinha escolhido o (Lionel) Scaloni. Como eu não conhecia o Scaloni, o convidei para ir até minha casa para conversarmos. E nós conversamos bastante. Eu disse a ele que não podia concordar em assinar por dois meses, como a AFA queria. Ele precisava assinar para as Eliminatórias e, se classificasse, estender até a Copa do Mundo. Eu fiquei tranquilo quando ele me disse que Walter Samuel, Ayala e Aimar o acompanhariam. Então eu disse a Tapia: ‘Se Aimar está, está tudo bem’. Você sabe que Aimar se chama Pablo e seu pai o chamou de César em segundo lugar por minha causa? Então imagina… 

 

Eu sei de onde ele vem, qual é o gosto que ele herdou. E também o conheci como jogador e como pessoa. Assim como Ayala e agora Samuel. Veja como é a relação entre eles. Eles falam pouco e não falam besteiras nem vendem fumaça. Tudo é medido e cada um tem seu papel bem definido. O técnico é o técnico e os assistentes, assistentes. Eles vivem como quatro amigos e são boas pessoas. Tudo é medido, não há exageros. E isso é transmitido aos jogadores. E isso tem um valor enorme.”César Menotti, em entrevista reproduzida no Clarín (ARG).

 

Com sua experiência, Menotti foi um porto seguro na caminhada da albiceleste rumo aos títulos históricos de 2021 e 2022 e da volta da equipe ao topo do futebol mundial. E as conquistas foram mais uma prova da importância do mestre ao futebol do país. Em seus últimos anos, reduziu a quantidade de cigarros, companheiro de quase uma vida, mas sofreu vários problemas de saúde por causa do vício, principalmente em 2011, quando teve uma grave complicação pulmonar que o levou ao hospital. 

Menotti e a turma da Copa-2022. Da esquerda para a direita: treinador juvenil Diego Placente, preparador físico Rodrigo Barrios, assistente Walter Samuel, preparador físico Luis Martín, gerente César Menotti, assistente Pablo Aimar e o técnico Lionel Scaloni; Agachados: o assistente Roberto Ayala e o treinador de goleiros Martín Tocalli.

 

Em 2024, Menotti faleceu aos 85 anos, após ser internado devido a um grave caso de anemia diagnosticado em março, mas que voltou à tona no começo de maio. Sua partida comoveu o mundo do futebol e, claro, toda Argentina, que chorou a morte de seu mestre. Menotti costumava dizer que nada poderia pará-lo e que, se fosse morrer, “teria que ser num domingo, em final de campeonato”. Pois ele se foi em um domingo, na final da Copa da Liga Argentina entre Estudiantes e Vélez. De fato, El Flaco sempre soube demais e mais do que os outros. Um técnico imortal.

 

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2 Comentários

  1. Outra curiosidade guilherme repare na foto dele no huracan com 34 anos e aparencia jovial e olhe ele aos 39 com a copa do mundo e veja como o rosto ja havia mudado.culpa dos cigarros que o flaco fumou kkk.

  2. Parabens pela homenagem guilherme.el flaco menotti se foi mas seu legado continua intacto e seguro por outros que antes de gritar na lateral preferem transmitir calma e deixar que joguem tranquilos o jogo bem jogado e que agrade a todos.menotti um romantico que tirou a argentina do escuro primeiro com o huracan e depois com a albiceleste em 78 que era um time bem dosado entre tecnica e fisica nas medidas certas.uma de suas frases historicas dizia assim: jogadores deixem o dinheiro de lado e joguem para o povo que paga para ve-los.(imagina isso hoje).descanse em paz el flaco um dos ultimos roma

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