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Seleções Imortais – Argentina 2021-2022

 

Em pé: Romero, Emiliano Martínez, Otamendi, Mac Allister e Molina. Agachados: Messi, Di María, De Paul, Julián Álvarez, Tagliafico e Enzo Fernández.

 

Grandes feitos: Campeã da Copa do Mundo da FIFA (2022), Campeã Invicta da Copa América (2021) e Campeã da Copa dos Campeões Conmebol-UEFA (2022). Encerrou um jejum de 28 anos sem grandes títulos da seleção albiceleste e fez da Argentina tricampeã mundial de futebol.

Time-base: Emiliano Martínez; Molina (Montiel), Romero (Pezzella), Otamendi e Tagliafico (Acuña / Lisandro Martínez); Enzo Fernández (Paredes / Guido Rodríguez), De Paul e Mac Allister (Lo Celso); Messi, Julián Álvarez e Di María (Lautaro Martínez / Papu Gómez). Técnico: Lionel Scaloni.

 

“O Maior Tango de Messi e La Scaloneta”

 

Por Guilherme Diniz

 

As memórias do Azteca ficavam cada vez mais velhas. As imagens, em tempos de alta resolução, 4K, Ultra K e qualquer outro K, menos nítidas. A última grande glória continental, idem. Muitos foram os craques que tentaram acabar com aquele drama sem fim. Dezenas, aliás. Alguns, gênios. Mas nenhum conseguiu fazer a tão aclamada e vencedora Argentina novamente campeã. Nesse período, os rivais cresceram ainda mais. Até mesmo o Uruguai, em sono profundo, voltou a fazer bonito em uma Copa, em 2010, e levantou uma Copa América em 2011. O Brasil faturou duas Copas e outras glórias. A Alemanha e a Itália bordaram mais estrelinhas em seus escudos. E a França, antes sem nada, botou duas no peito. Mesmo número da Argentina… Era um terror. Será que nunca mais a albiceleste iria vencer um título? Sempre iria viver das lembranças de Kempes e companhia, em 1978, e de Maradona, em 1986? 

Bem, tudo isso começou a mudar a partir de 2021, no Maracanã, mesmo lugar onde a Argentina havia perdido a chance do tricampeonato mundial em 2014. No templo do futebol, a albiceleste derrotou o Brasil por 1 a 0 e levantou a Copa América depois de 28 anos de jejum. A sonhada primeira glória de Lionel Messi como capitão. E, com ele e jovens que quando crianças torciam pelo craque no Barcelona, a Argentina mudou sua mentalidade. Forjou-se em busca do sonho da Copa do Mundo. Ainda mais depois da partida de Diego Maradona, em 2020, que foi bater bola no céu aos 60 anos. Dios, lá de cima, concedeu boas vibrações ao novo Dios aqui na Terra. Mas, como num tango, foi dramático.

Logo na estreia, derrota para a Arábia Saudita, de virada, por 2 a 1. A volta por cima começou no jogo seguinte, pelos pés de Lionel Messi, em chute de fora da área. Depois da classificação, ele voltou a brilhar nas oitavas. E nas quartas. E nas semis. E na final. Jogo a jogo, foi crescendo, se agigantando. No desafio final, contra um timaço e uma estrela disposta a assumir o protagonismo do futebol nos próximos anos – Mbappé -, Messi liderou a Argentina em um épico. Na maior final da história das Copas. No maior jogo do século XXI. E tinha que ser assim o capítulo final do maior craque deste século no maior torneio do futebol. Messi foi campeão do mundo. A Argentina foi campeã do mundo. E La Scaloneta, como ficou conhecida a seleção do treinador Lionel Scaloni, entrou para a história com uma campanha de leyenda, com todos os enredos e contornos presentes nas conquistas da Argentina. Nunca foi fácil. Nunca faltou drama. E, em 2022, não foi diferente. Na verdade, foi o ápice da tensão, o maior dos tangos. E foi o maior tango de Messi Maradoniano. É hora de relembrar.

 

Alguém, por favor, dê um jeito nisso aqui!

Messi e sua desolação após mais uma Copa América perdida para o Chile: retrato de tempos sombrios da seleção.

 

Depois do vice-campeonato mundial de 2014, a Argentina entrou em um turbilhão de decepções. Em 2015, a albiceleste perdeu a Copa América nos pênaltis para o Chile, e, no ano seguinte, repetiu a dose com o vice na Copa América Centenário, de novo para o Chile. Gerardo Martino foi demitido e Edgardo Bauza assumiu a seleção, mas ficou por pouco tempo e deu lugar a Jorge Sampaoli. Porém, o excêntrico técnico decepcionou, e, na Copa do Mundo de 2018, a Argentina fez uma campanha pífia até ser eliminada para a França, nas oitavas de final, por 4 a 3. 

Mesmo com alguns nomes de peso, era impressionante como a Argentina não jogava bem, não tinha confiança e como Messi, a grande estrela do país, não desempenhava o brilho que se esperava dele nos grandes torneios, em especial a Copa do Mundo. Em 2014, por exemplo, o craque fez uma primeira fase maravilhosa, marcando gols em todos os três jogos, mas simplesmente sumiu na reta final e não jogou bem. E, em 2018, outra vez se escondeu, não chamou para si a responsabilidade e fracassou. Em 2016, inclusive, ele até tinha anunciado que não jogaria mais pela seleção, tamanha sua frustração em não corresponder com a camisa albiceleste, dizendo na época: 

 

“É difícil fazer uma análise agora. É incrível, mas não há meio. Hoje aconteceu outra vez, e outra vez nos pênaltis. São quatro finais que eu já perdi, três seguidas. A verdade é que é uma pena, mas tem que ser assim: não acontece, tentamos e fomos atrás”

 

Sem qualquer perspectiva, a AFA pensou em algum nome de peso no cenário futebolístico para assumir a seleção, entre eles Diego Simeone, Mauricio Pochettino e Marcelo Gallardo, mas o escolhido foi o ex-auxiliar de Sampaoli, Lionel Scaloni, sem experiência como técnico e muito jovem. A ideia era mantê-lo interinamente, mas o início do trabalho do ex-lateral-direito (que jogou inclusive com Messi na Copa de 2006) foi muito positivo, com uma relação próxima aos atletas e trazendo de volta a confiança do torcedor para com a seleção.

Scaloni (à esq.) foi auxiliar de Sampaoli na Copa de 2018. Foto: GABRIEL BOUYS / AFP via Getty Images / One Football.

 

Com os também ex-jogadores Pablo Aimar, Walter Samuel e Roberto Ayala na comissão técnica, Scaloni começou a moldar seu time e fazer o que não foi feito em 2018, na bagunça que foi o time na Copa da Rússia, quando não havia sintonia entre técnico e elenco, bagunças táticas e nenhuma perspectiva. Quando fez a convocação para a Copa América de 2019, Scaloni deixou de fora nomes históricos como Higuaín e Icardi, e abriu espaço para De Paul, Paredes e Lautaro Martínez, por exemplo. Humilde, deixou bem claro que naquele momento a Argentina estava longe das potências mundiais e que o torneio continental seria um teste para corrigir erros e amadurecer. De fato, foi.

Na fase de grupos, a equipe perdeu da Colômbia (2 a 0), empatou com o Paraguai (1 a 1) e venceu o convidado Catar por 2 a 0 na última rodada, conseguindo a vaga nas quartas de final com apenas 4 pontos. Na etapa seguinte, venceu a Venezuela por 2 a 0, e, na semifinal, fez um jogo disputado contra o anfitrião Brasil, mas acabou perdendo por 2 a 0 e foi eliminada. Na disputa pelo terceiro lugar, vitória por 2 a 1 contra o Chile, o carrasco de 2015 e 2016, em jogo tenso e com expulsão de Messi. O bronze valeu a experiência. E seria um marco. A partir daquela vitória em Itaquera, a Argentina não perderia mais por um bom tempo…

 

Tomando forma

Nos meses seguintes, Scaloni foi reunindo as peças para iniciar o ciclo da Copa do Mundo, e, também, da Copa América de 2021. Passou a observar mais os jovens e a criar um elenco estruturado e baseado em nomes fixos, para que eles tivessem entrosamento em campo. Emiliano Martínez, Lo Celso, De Paul, Paredes, Di María, Messi e Lautaro Martínez formavam essa estrutura que ajudou a Argentina a vencer três e empatar três dos seis amistosos disputados antes do início das Eliminatórias para a Copa, incluindo um 6 a 1 sobre o Equador e uma vitória por 1 a 0 sobre o Brasil no Superclássico das Américas de 2019 (gol de Messi).

Em outubro de 2020, ainda sob os tempos difíceis da pandemia, a Argentina iniciou sua trajetória das Eliminatórias com vitória por 1 a 0 sobre o Equador, em La Bombonera, gol de Messi. A albiceleste emendou mais cinco jogos sem perder, e, já em 2021, se preparava para a disputa da Copa América, que vivia uma polêmica por conta de sua realização devido a escolha do país-sede ser o Brasil, que na época era o epicentro da pandemia da COVID-19, o que revoltou muitos jogadores, afastou patrocinadores e gerou desconfiança. 

 

“Há pouco tempo vinham falando dos problemas e dos esforços que estavam fazendo como país para que se pudesse jogar (a Copa América) na Argentina. Decidiu-se não fazer a competição por uma questão sanitária, mas agora iremos ao Brasil… Que seguramente está igual ou pior do que a Argentina”, comentou o técnico Lionel Scaloni. Porém, ele disse que a decisão era “muito difícil de assimilar, mas, se tivermos que ir, vamos viajar e vamos jogar”. 

 

O fim do jejum

Passada a turbulência da realização ou não da Copa América, o torneio, enfim, começou em junho e a Argentina não teve dificuldades para superar a fase de grupos, ficando na primeira colocação após empate em 1 a 1 com o Chile e vitórias sobre Uruguai (1 a 0), Paraguai (1 a 0) e Bolívia (4 a 1). Nas quartas de final, a equipe de Scaloni bateu o Equador por 3 a 0 (gols de De Paul, Lautaro Martínez e Messi) e superou a Colômbia nos pênaltis por 3 a 2, após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar. 

A vaga na final colocou a Argentina diante do anfitrião Brasil, em um clássico que valia muito para a albiceleste. Era a terceira final e a terceira chance de vencer o torneio continental nas últimas quatro edições. Mais do que isso, levantar o primeiro título desde a Copa América de 1993 e Messi erguer a primeira taça de sua carreira pela seleção. O jogo foi disputado no Maracanã, diante de pouco mais de 7 mil pessoas por causa das restrições de público devido à pandemia.

Com muito mais gana para vencer do que o time brasileiro, a Argentina demonstrou força defensiva desde o início e soube neutralizar as principais jogadas da equipe da casa. E o técnico Scaloni fez cinco mudanças no time que havia eliminado a Colômbia ao escalar Cristian Romero, Montiel, Tagliafico, Paredes e Di María, já dando mostras de que iria sempre aproveitar o momento, adaptar sua seleção ao adversário e nunca se acomodar em uma mesma escalação ou plano tático.

Aos 21’ do primeiro tempo, De Paul lançou para Di María, que superou Renan Lodi na corrida, viu o goleiro Ederson deixar o gol e chutou por cobertura para marcar um golaço e fazer 1 a 0. Era o suficiente. Invicta, a Argentina era campeã da Copa América e celebrava um grande título depois de 28 anos de jejum. De quebra, impôs pela primeira vez ao Brasil uma derrota em sua própria casa em uma final de Copa América, pois nas outras cinco edições em que sediou a competição, o Brasil havia sido campeão.

Em 2021, Messi, enfim, conquistou seu primeiro título pela Argentina – a Copa América. E foi em grande estilo: no Maracanã, contra o Brasil. Foto: AP.

 

Justamente no Maracanã, onde Messi tinha vivido a maior decepção de sua carreira com a perda da Copa, ele podia erguer o primeiro troféu por sua albiceleste. Um título que significou a mudança no foco da seleção e que enterrou momentaneamente as contestações sobre a importância de Messi na equipe – houve uma época que diziam que ele não era argentino, por viver na Espanha! A emoção do camisa 10 e suas lágrimas no pós-jogo só comprovaram que ele era, sim, muito argentino. E vivia uma nova fase na carreira, como demonstrado na preleção antes da final, na qual ele inflou seus companheiros como o verdadeiro capitão que era.

 

“45 dias sem ver a nossa família. Tínhamos um objetivo e estamos a um passo de conseguirmos. Não existe a casualidade. Sabem o quê? Essa Copa [América] deveria ter sido jogada na Argentina. Deus a trouxe para cá. Ele trouxe ela para cá para levantarmos no Maracanã. Para que seja mais lindo para todos. Que saiamos confiantes e tranquilos que esta nós levaremos para casa”.

Messi aos céus: era o fim do jejum! Foto: André Coelho / EFE.

 

Após o jogo, o craque não escondeu a satisfação por ter tirado aquele fardo de suas costas. “É uma loucura! A felicidade que sinto é inexplicável! Muitas vezes saí triste [do campo], sabia que uma vez isso ia acontecer, não havia momento melhor. Esta equipe merecia de verdade, é algo impressionante”. 

 

La Scaloneta e a racha de 36 jogos

Depois do Maracanazo, como a imprensa argentina apelidou a conquista continental, a Argentina ganhou confiança extra para sonhar com a conquista da Copa do Mundo. E não era apenas pela boa e leve fase de Messi, mas também pela união dos jogadores e os talentos que Scaloni tinha à sua disposição em todos os setores. No gol, Martínez era absoluto, mas o experiente e ótimo Armani também poderia jogar quando necessário. Nas laterais, Montiel, Molina, Acuña e Tagliafico eram constantes e davam diferentes estilos de jogo a Scaloni. 

Na zaga, Romero e Otamendi formavam a dupla titular e preferida do treinador, enquanto Lisandro Martínez e Pezzella também contribuíam quando era preciso jogar com três zagueiros ou quando alguém estava lesionado. Mas era do meio para frente que transbordavam talentos: De Paul, Lo Celso, Paredes, Mac Allister, Nicolás González, Papu Gómez, Dybala, Lautaro Martínez, Julián Álvarez e Di María eram alguns dos jogadores que frequentavam as convocações e davam à Argentina muito poder de decisão e controle do jogo.

Argentina fez 3 a 0 no Uruguai pelas Eliminatórias. Foto: REUTERS/Agustin Marcarian.

 

Sem qualquer problema, a Argentina encaminhou sua vaga à Copa do Mundo de maneira invicta com 11 vitórias, seis empates, 27 gols marcados e 8 gols sofridos em 17 jogos. Lautaro Martínez e Messi, cada um com 7 gols, foram os artilheiros argentinos das Eliminatórias. Em junho de 2022, a albiceleste aumentou sua condição de favorita na Copa ao derrotar de maneira categórica a Itália, campeã da Eurocopa, na Finalíssima, como ficou conhecida a Copa dos Campeões CONMEBOL-UEFA, que reunia os vencedores dos torneios continentais das respectivas entidades.

Com 17 chutes a gol contra apenas 7 da Itália, mais posse de bola e controle absoluto da partida, a Argentina venceu por 3 a 0 – gols de Lautaro, Di María e Dybala – e faturou o título no estádio de Wembley, em Londres, outro palco clássico a abrigar um título albiceleste. Mesmo sem marcar, Messi participou de dois gols, dando o passe para o primeiro e também do terceiro, foi o maestro da equipe e eleito o melhor do jogo. Em ótima forma, o craque jogava feliz, ávido, como nos tempos áureos do Barcelona. A imprensa argentina era só elogios aos jogadores e ao técnico Scaloni, que emendou mais quatro vitórias nos quatro jogos posteriores à conquista da Finalíssima e alcançou a marca de 36 jogos seguidos sem perder, a apenas um do recorde da Itália, de 37. Eis a sequência:

 

  1. Argentina 2 – 1 Chile (Copa América 2019)
  2. Chile 0 – 0 Argentina (amistoso)
  3. Argentina 4 – 0 México (amistoso)
  4. Alemanha 2 – 2 Argentina (amistoso)
  5. Equador 1 – 6 Argentina (amistoso)
  6. Brasil 0 – 1 Argentina (amistoso)
  7. Argentina 2 – 2 Uruguai (amistoso)
  8. Argentina 1 – 0 Equador (Eliminatórias Catar 2022)
  9. Bolívia 1 – 2 Argentina (Eliminatórias Catar 2022)
  10. Argentina 1 – 1 Paraguai (Eliminatórias Catar 2022)
  11. Peru 0 – 2 Argentina (Eliminatórias Catar 2022)
  12. Argentina 1 – 1 Chile (Eliminatórias Catar 2022)
  13. Colômbia 2 – 2 Argentina (Eliminatórias Catar 2022)
  14. Argentina 1 – 1 Chile (Copa América 2021, fase de grupos)
  15. Argentina 1 – 0 Uruguai (Copa América 2021, fase de grupos)
  16. Argentina 1 – 0 Paraguai (Copa América 2021, fase de grupos)
  17. Argentina 4 – 1 Bolívia (Copa América 2021, fase de grupos)
  18. Argentina 3 – 0 Equador (Copa América 2021, quartas de final)
  19. Argentina 1(3) – 1(2) Colômbia (Copa América 2021, semifinal)
  20. Brasil 0 – 1 Argentina (Copa América 2021, final)
  21. Venezuela 1 – 3 Argentina (Eliminatórias Catar 2022)
  22. Argentina 3 – 0 Bolívia (Eliminatórias Catar 2022)
  23. Paraguai 0 – 0 Argentina (Eliminatórias Catar 2022)
  24. Argentina 3 – 0 Uruguai (Eliminatórias Catar 2022)
  25. Argentina 1 – 0 Peru (Eliminatórias Catar 2022)
  26. Uruguai 0 – 1 Argentina (Eliminatórias Catar 2022)
  27. Argentina 0 – 0 Brasil (Eliminatórias Catar 2022)
  28. Chile 1 – 2 Argentina (Eliminatórias Catar 2022)
  29. Argentina 1 – 0 Colômbia (Eliminatórias Catar 2022)
  30. Argentina 3 – 0 Venezuela (Eliminatórias Catar 2022)
  31. Ecuador 1 – 1 Argentina (Eliminatorias Catar 2022)
  32. Argentina 3 – 0 Itália (Finalíssima 2022)
  33. Argentina 5 – 0 Estônia (amistoso)
  34. Argentina 3 – 0 Honduras (amistoso)
  35. Argentina 3 – 0 Jamaica (amistoso)
  36. Argentina 5 – 0 Emiratos Árabes Unidos (amistoso)

Desde o início da era Scaloni, foram 50 jogos, com 33 vitórias, 13 empates e apenas quatro derrotas, 98 gols a favor e 27 contra. Messi, com 26 gols, foi o artilheiro pré-Copa, seguido por Lautaro Martínez, com 21. O craque também liderou a tabela de assistências, com 10, à frente de Lo Celso, com nove, e De Paul, com sete. Com o grupo definido, Scaloni teve apenas que fazer três mudanças nos planos iniciais por conta das lesões de Lo Celso, Joaquín Correa e Nico González. A expectativa era de o time ser o mesmo da Copa América, mas as boas fases de Enzo Fernández, Alexis Mac Allister e Julián Álvarez davam sinais de que Scaloni poderia mexer.

Lo Celso foi uma baixa muito sentida para o time argentino.

 

A Argentina chegou ao Catar pronta para ser campeã. Junto com ela, milhares de argentinos tomaram o país árabe para apoiar a seleção na “última dança” de Messi, assumindo dívidas absurdas devido à crise financeira do país, mas em prol da paixão, do sonho, de ver a seleção campeã do mundo depois de 36 anos. A devoção falava mais alto que o dinheiro. A seleção precisava deles. E eles viviam para ela. Mas, logo na estreia, antigos pesadelos voltariam…

 

A zebra

Festa saudita no Catar! Foto: Getty Images.

 

A Argentina começou sua caminhada no Catar no estádio Lusail, exatamente o palco da final. Mais de 88 mil pessoas estavam presentes para uma esperada goleada argentina diante da Arábia Saudita, eterno saco de pancadas em Mundiais. E tudo realmente parecia levar a esse roteiro quando Messi, logo aos 10’, marcou o primeiro gol argentino na Copa, de pênalti, e fez 1 a 0. Que maneira de começar o Mundial! Dali em diante, a Argentina foi toda ataque, mas três gols impedidos frearam uma vitória mais elástica. Porém, no segundo tempo, a Arábia adiantou suas linhas de marcação, os jogadores entraram mais pilhados e logo aos 3’, o time alviverde empatou. Cinco minutos depois, veio a virada, em golaço de Al-Dawsari. Virou drama. A Argentina não conseguiu reverter aquela situação e o placar terminou de maneira inacreditável: Arábia Saudita 2×1 Argentina.

Uma zebra histórica, daquelas para estupefar qualquer um. Antes favorita, a Argentina ia direto para o fundo do poço nas crenças da mídia. Para piorar, a série de 36 jogos sem perder ia para o ralo justamente na estreia da Copa. Nada deu certo naquele dia. A escolha de Scaloni por uma linha de quatro com Di María, De Paul, Paredes e Papu Gómez não deu certo, Lautaro e Messi não se entenderam na frente e o resultado foi catastrófico. “Não nos resta outra coisa a não ser levantar e seguir em frente. Não temos que analisar mais do que isso. É um dia triste, mas temos que levantar a cabeça e continuar. Acredito que o primeiro tempo foi todo nosso, mas um gol pode mudar tudo. Analisaremos as jogadas dos gols deles com mais calma”, comentou Scaloni na coletiva após o jogo.

Scaloni mudou totalmente o time para o jogo contra o México.

 

A derrota logo de cara obrigava a Argentina a vencer o México de qualquer maneira e quisesse seguir com chances de classificação. Para isso, Scaloni mexeu no time e decidiu promover quatro mudanças na equipe: saíram Romero, Molina, Paredes e Papu Gómez e entraram Lisandro Martínez, Gonzalo Montiel, Guido Rodríguez e Alexis Mac Allister, respectivamente. O esquema tático seria o mesmo, 4-4-2. Era a cartada decisiva em busca da manutenção da esperança.

 

A reviravolta

Messi, de novo, abriu o placar para a Argentina. Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP via Getty Images.

 

O primeiro tempo contra o México foi tenso, sem gols. O marasmo em campo, porém, não se refletiu nas arquibancadas, com as torcidas de México e Argentina cantando sem parar e colorindo o Lusail. Na etapa complementar, Scaloni colocou Julián Álvarez, Enzo Fernández e Molina nos lugares de Lautaro, Guido e Montiel, respectivamente, e a equipe melhorou consideravelmente. Mais leve e rápida, passou a agredir mais o México. Mas quem tirou o coelho da cartola foi “Pai Messi que estás com a 10”. Aos 19’, o craque recebeu de Di María na entrada da área, ajeitou para a perna esquerda e chutou no canto do goleiro Ochoa para fazer 1 a 0. O capitão saiu gritando, como um torcedor ensandecido, e foi com a galera celebrar o gol do livramento, do “sai, zica!”.

Torcida argentina em profunda loucura na vitória sobre o México! Foto: EFE/EPA/Rungroj Yongrit.

 

Tempo depois, Enzo Fernández recebeu dentro da área, driblou e chutou colocado para marcar um lindo gol e decretar os 2 a 0 da albiceleste. A vaga ainda era possível, principalmente depois da vitória da Polônia por 2 a 0 sobre a Arábia, que deixou o grupo embolado. O time sul-americano só dependia dele e uma vitória diante dos poloneses daria o provável primeiro lugar no grupo. No Catar, a comemoração foi enorme, bem como na Argentina e em países com muitos simpatizantes da seleção, como Bangladesh, onde um grupo de torcedores vibrou de maneira absurda em um vídeo que correu o mundo. Veja abaixo:

Enzo Fernández celebra o gol da vitória sobre o México. Foto: JUAN MABROMATA / AFP.

 

Contra a Polônia, Scaloni voltou a mexer no time e colocou o jovem Enzo Fernández no miolo central, deixou Mac Allister e De Paul ao lado dele e, no ataque, foi com Di María, Messi e Julián Álvarez. A equipe jogou bem e venceu por 2 a 0, gols de Mac Allister e Álvarez, no jogo mais tranquilo da fase de grupos – justamente contra o adversário mais difícil na teoria. O placar poderia ter sido maior, mas Messi perdeu um pênalti. Líder do grupo, a Argentina foi para as oitavas com o ânimo renovado e no embalo de sua torcida, que cantava a música Muchachos como hino da equipe em busca da terceira estrela:

En Argentina nací / Na Argentina eu nasci

Tierra de Diego y Lionel / Terra de Diego e Lionel

De los pibes de Malvinas / Dos rapazes das Malvinas

Que jamás olvidaré / que eu jamais esquecerei

Porque no vas a entender / Porque você não vai entender

Las finales que perdimos / As finais que perdemos

Cuantos años la lloré / Quantos anos chorei

Pero eso se terminó / Mas isso terminou

Porque en el Maracaná / Porque no Maracanã

La final con los Brazucas la volvió a ganar papá / Na final com os Brazucas, o papai voltou a ganhar

Muchachos / Garotos

Ahora nos volvimos a ilusionar / Agora voltamos a sonhar

Quiero ganar la tercera / Quero ganhar a terceira

Quiero ser campeón mundial / Quero ser campeão mundial

Y al Diego en cielo lo podemos ver / E podemos ver Diego no céu

Con don Diego y con la Tota / Com Don Diego e con la Tota (pais de Maradona)

Alentandolo a Lionel / Torcendo pelo Lionel

 

Calmaria e drama – parte 1

Messi vibra com Julián Álvarez um dos gols no duelo contra a Austrália.

 

Nas oitavas de final, a Argentina encarou a Austrália como favorita à classificação. O jogo era especial para Messi, que completava naquele dia 03 de dezembro seu jogo de número 1000 na carreira. Sem poder contar com Di María, machucado, Scaloni colocou Papu Gómez mais uma vez no ataque e repetiu a escalação no meio de campo e na defesa. A Argentina teve controle do jogo desde o início, mas não conseguiu furar a retranca australiana. Já na marca dos 30’, Behich se desentendeu com Messi na lateral do campo e provocou o argentino. Bem, ele cometeu um erro crasso… Messi não revida de sopetão. Ele revida na bola. Na sequência do lance, Messi, mesmo sob a marcação de dois adversários, chutou rasteiro, sem chance alguma para o goleiro, e abriu o placar: 1 a 0. 

O placar permaneceu assim até o fim da primeira etapa e, no segundo tempo, aos 12’, o goleiro australiano saiu jogando errado, De Paul e Julián Álvarez pressionaram, tomaram a bola do arqueiro e Álvarez tocou para o gol: 2 a 0. A Argentina estava com a vaga na mão, seguiu no ataque, mas pecava nas finalizações. E, como quem não faz, leva, Goodwin chutou de fora da área, a bola desviou em Enzo Fernández e entrou: 2 a 1. Mais drama para a saga argentina. A Austrália foi pra cima em busca do empate, criou chances, mas a Argentina se salvou. Aos 43’, a albiceleste quase fez o terceiro após jogadaça de Messi, que deixou para Lautaro, mas o atacante isolou. Messi deu outra bola perfeita para o atacante nos acréscimos, mas de novo Lautaro perdeu. Ficava claro porque ele era reserva àquela altura…

A Austrália respondeu com Kuol, que recebeu livre dentro da área e chutou, mas Emiliano Martínez fez uma defesa espetacular que evitou o empate. Na hora, os jogadores argentinos próximos ao goleirão abraçaram o arqueiro em agradecimento e alívio. Ao apito do árbitro, a Argentina estava nas quartas de final. E o adversário seguinte seria um velho conhecido: a Holanda.

 

Calmaria e drama – parte 2: surge o Messi Maradoniano

Um dos jogos mais tradicionais na história das Copas, Holanda e Argentina se encontraram pela 6ª vez em um Mundial naquela etapa de quartas de final de 2022. O primeiro jogo entre a dupla foi em 1974, quando a lendária Holanda de Cruyff goleou os argentinos por 4 a 0 na segunda fase final. Quatro anos depois, a Argentina conseguiu se vingar ao derrotar os laranjas por 3 a 1 na grande final de 1978, após empate em 1 a 1 no tempo regulamentar e vitória albiceleste por 2 a 0 no tempo extra. O terceiro encontro foi em 1998, nas quartas de final do Mundial da França, e a Holanda venceu por 2 a 1 um confronto histórico, com golaço de Bergkamp no finalzinho. Em 2006, o jogo foi logo na fase de grupos e deu empate sem gols. E, em 2014, o duelo foi na semifinal e a Argentina venceu nos pênaltis após empate sem gols no tempo regulamentar e na prorrogação.

Com todo esse passado e as memórias da eliminação de 2014 vivas, a Holanda queria uma nova vingança, ainda mais o técnico Louis van Gaal, treinador da laranja no torneio do Brasil naquela oportunidade. Ele defendia também sua invencibilidade em Copas, pois não perdeu nenhum jogo em 2014, e, em 2022, vinha de três vitórias e um empate. Outro ponto que dava ainda mais combustível para o duelo era a rixa que Van Gaal sempre teve com jogadores sul-americanos em seus clubes, alimentada por Di María, que disse antes do jogo que o holandês foi o “pior técnico que teve na carreira” (quando jogou no Manchester United).

Os times em campo: com três zagueiros, Argentina dificultou as ações ofensivas da Holanda e foi melhor durante boa parte do jogo. Exceto nos minutos finais do segundo tempo…

 

No dia do jogo, Scaloni colocou três zagueiros à frente do goleiro Emiliano Martínez, mas tinha como ponto chave os laterais Molina e Acuña, que podiam defender e subir ao ataque, enquanto três homens faziam o meio de campo e Messi e Álvarez ficavam na frente. Os sul-americanos começaram melhor e foram mais incisivos no ataque do que a Holanda, que bloqueava os espaços e mais se defendia do que atacava. 

Aos 21’, Messi passou pela marcação de Marten de Roon e chutou colocado, para fora. Três minutos depois, a resposta holandesa veio com Bergwijn, em tabela com Memphis, mas o chute foi ruim. A Argentina seguia em busca do gol e mais no ataque, porém, sem encontrar o espaço que queria. Aos 34’, o craque do jogo apareceu. Messi conduziu a bola com rara liberdade na intermediária, foi se aproximando da área e esperou o momento certo para dar o passe na medida diante de três adversários até a bola chegar ao lateral Molina, que invadiu a grande área e chutou na saída do goleiro: 1 a 0. 

Molina celebra o primeiro gol argentino.

 

Que jogada de Messi, que nem precisou olhar para o companheiro para saber que ele estava se aproximando. Lindo gol! Era a justiça pelo que a Argentina fazia no jogo e pelo que a Holanda deixava de fazer. A torcida sul-americana enlouqueceu no estádio Lusail, e, em grande número, ecoou seus cânticos que entusiasmaram ainda mais os jogadores.

No segundo tempo, a Holanda foi mais agressiva na frente, mas a Argentina criava mais. Até que, aos 25’, Acuña avançou pela esquerda, deu um corte em Dumfries e o ala holandês, em péssimo dia, derrubou o argentino na linha da grande área. Sem pestanejar, o árbitro marcou pênalti. Na cobrança, Messi. O argentino mirou o gigante goleiro holandês – jogador mais alto daquele Mundial, com 2,03m de altura – e pensou em uma maneira de vencê-lo. O camisa 10 bateu cruzado, no canto, e não deu chance alguma: 2 a 0.

Messi provoca Van Gaal.

 

Gol histórico de Messi, que se igualou a Gabriel Batistuta como argentino com maior número de gols em Copas: 10 tentos. Na comemoração, Messi provocou Van Gaal com as mãos nas orelhas estilo Topo Gigio, como quem diz “o que você dizia sobre mim mesmo?”. Foi uma alusão, também, a uma comemoração de Riquelme em seus tempos de Barcelona quando o clube era comandado por Van Gaal, que também não gostava de Riquelme.

Parecia que a vaga era argentina. Mas, de novo, teve drama. O grandalhão Weghorst recebeu na grande área e cabeceou certeiro, sem chance para o goleiro argentino, aos 37’, para diminuir e colocar (ainda) mais fogo no jogo: 2 a 1. A Holanda se mandou totalmente ao ataque, usou e abusou dos chuveirinhos e até o zagueiro Van Dijk virou centroavante para tentar cabeçadas na área. Com tantas faltas e cartões, o jogo teve 10 minutos de acréscimos. E, no último lance, a Holanda teve uma falta a seu favor. 

Gol holandês foi espetacular!

 

Na cobrança, quando todos pensaram que a bola iria pelo alto, Koopmeiners tocou ao lado da barreira, Luuk de Jong se afastou e Weghorst apareceu como um fantasma para girar, usar o corpo para afastar o marcador e chutar, estupefando toda a zaga a argentina, todo o estádio, todo o mundo: 2 a 2. Um lance histórico! E o jogo foi para a prorrogação. Precavidos, os times não se arriscaram no primeiro tempo por causa do cansaço e de levar um gol, afinal, buscar um empate àquela altura seria dificílimo. Sem gols, a decisão foi para os pênaltis. 

Emiliano Martínez, herói da disputa por pênaltis. Foto: IMAGO/Bildbyran/Joel Marklund.

 

O capitão holandês Van Dijk iniciou a disputa e Emiliano Martínez defendeu o primeiro chute. Messi foi para a bola pela Argentina e, de novo, venceu o goleiro Noppert. Berghuis, que fez bom jogo, foi para a segunda cobrança pela Holanda e Martínez defendeu de novo! Paredes fez o seu e Koopmeiners abriu o placar para a Holanda. Montiel deixou a Argentina em vantagem e Weghorst também converteu o seu. Enzo Fernández chutou para fora a quarta cobrança argentina e deu um pouco de esperança para a Holanda, que marcou o terceiro gol com Luuk de Jong. Na última cobrança, Lautaro Martínez, em branco naquela Copa, foi para a bola, enfim desencantou, e selou a vitória por 4 a 3 e a classificação argentina para a semifinal.

Capa do jornal argentino “Olé” no dia seguinte.

 

Na celebração dos sul-americanos, mais provocação, mais confusão, mais cartões. É que, durante as cobranças, os holandeses provocaram os batedores argentinos, em especial Lautaro Martínez, como bem disse Otamendi após o duelo: “Tinha um jogador deles (Dumfries) que, em cada pênalti que tínhamos, vinha e dizia coisas para um dos nossos jogadores. A foto foi tirada fora do contexto e nós fizemos em resposta a isso”, comentou o zagueiro em entrevista à ESPN. Por isso, quando Martínez fez o gol, praticamente todos direcionaram as comemorações aos holandeses. Foi um jogo histórico, que você pode ler mais clicando aqui.

Messi e o “que mirá, bobo?”

 

Após o jogo, Messi demonstrou um lado maradoniano ao ficar irado com os holandeses e encarnar o argentino em fúria profunda. Além de não dar a camisa a Weghorst, o capitão criticou duramente o técnico Van Gaal: “Ele (Van Gaal) vende a ideia que joga bom futebol, mas dá chutões. […] Não gosto que falem antes das partidas. Isso não é parte do futebol. Eu sempre respeito todo mundo, mas gosto que me respeitem também. Van Gaal não foi respeitoso conosco”, disse o argentino no pós-jogo.

 

O recital

Messi e Julián Álvarez vibram: dupla destruiu a Croácia. Foto: JACK GUEZ/AFP via Getty Images.

 

Na semifinal, a Argentina encarou a Croácia, que havia eliminado o Brasil na fase anterior e evitou, infelizmente, um superclássico nas semis. Scaloni novamente mexeu no time e colocou Paredes no meio, formando duas linhas de quatro a fim de dar um combate maior ao temido meio de campo croata, que tinha Brozovic, Modric e Kovacic como expoentes no setor. Depois de algum equilíbrio nos primeiros minutos, a Argentina abriu o placar aos 34’, com Messi batendo pênalti. Cinco minutos depois, a equipe sul-americana engatilhou um contra-ataque mortal que resultou no segundo gol. Messi recebeu, tocou para Julián Álvarez, que dominou e conduziu a bola do meio de campo até a área croata. Entre bates e rebates, o atacante chutou na saída do goleiro já dentro da área e marcou um belo gol: 2 a 0.

Minutos depois, Mac Allister quase fez o terceiro, de cabeça, mas o goleiro Livakovic defendeu. Messi era o dono do jogo, recebendo a bola a todo instante, conduzindo, tocando, driblando. Era o gênio que todos conheciam e que todos algum dia queriam ver assim em uma Copa.

Messi e o tango pra cima de Gvardiol.

 

Mas foi no segundo tempo que o craque fez sua mágica. Perto dos 30’, o camisa 10 recebeu na lateral e foi bailando pra cima do zagueiro Gvardiol, um dos melhores defensores da Copa. Messi foi levando a bola até perto da área pelo lado direito e bailando com o croata. Parecia um tango, vai pra lá, vai pra cá, até que o craque encontrou a brecha para dar o passe no meio da área e Julián Álvarez completar: 3 a 0. 

O gol foi de Álvarez, mas bem que poderia ter um “/Messi” tamanha jogada do argentino, uma das mais bonitas de todo o Mundial. Dali em diante, não teve drama nem emoção. A Argentina administrou o jogo, Messi ouviu as reverências clássicas das arquibancadas “Meeeeeessiiii, Meeeeessiiiiiii”, e a Argentina se classificou para a final pela sexta vez em sua história. Foi uma partida histórica e marcante pela atuação de Messi. Um recital tão impecável quanto o de Zidane nas quartas de 2006, contra o Brasil; de Maradona nos 2 a 1 sobre a Inglaterra, em 1986; de Garrincha na semifinal de 1962; de Pelé na semifinal de 1958, na semifinal de 1970 e na final de 1970, entre outros. 

O craque não escondeu a alegria após o jogo. “Muita felicidade poder conseguir isso. Terminar meu caminho nas Copas jogando minha última partida em uma final. É algo muito emocionante tudo que vivi nesta Copa, o que as pessoas viveram, como as pessoas estão desfrutando na Argentina”. Como bem exemplificou Leandro Stein, da Trivela, naquele dia 13 de dezembro, o Argentina 3×0 Croácia teve 21 jogadores em campo e um Messi em outra dimensão.

 

 

A glória na maior final de todos os tempos

Com o término das semifinais, a Copa do Mundo do Catar teria uma final enorme: Argentina x França, no aguardado duelo entre Messi x Mbappé. O jogo estava cercado de expectativas e fatos históricos. Quem vencesse seria tricampeão mundial. A França poderia ser a primeira seleção desde o Brasil de 1958-1962 a vencer duas Copas seguidas. Deschamps, o primeiro técnico desde Vittorio Pozzo a levantar duas Copas. E, com o título, poderia coroar de vez sua hegemonia no futebol, afinal, era a quarta final nas últimas sete Copas da equipe europeia. Do lado argentino, além do tri, a equipe poderia levantar um troféu que não vinha desde 1986, ano da Copa de Maradona, ídolo que partiu em 2020 e que deixou uma nação inteira em luto profundo e carente de um herói que pudesse fazer o país voltar a sorrir diante de tantas adversidades no cotidiano. E Messi era a pessoa responsável por fazer o argentino acreditar, sabia que Dios estava lá em cima vendo tudo e guiando o caminho albiceleste. 

A Argentina começou o jogo com uma surpresa em sua linha ofensiva: Di María, ausente em boa parte da reta final por causa de lesão, mas de volta para aquele jogo tão importante. E o craque provou que tinha energia acumulada para gastar. Mas não era só ele. O time inteiro argentino entrou ávido, sedento pela Copa e por fazer história. E o que se viu foi uma Argentina aplastante, demolidora, que não deixou a França jogar e anulou simplesmente os principais jogadores dos europeus, em especial Griezmann e Mbappé. 

Aos 21’, Di María fintou Dembélé após receber de Messi e foi derrubado. O árbitro marcou pênalti. Na cobrança, Messi. O camisa 10 bateu bem e fez 1 a 0. Argentina na frente! Messi na frente! E artilharia com o craque, agora com 6 gols. A demolição sul-americana continuou, com toques precisos, marcação, roubadas de bola, compactação do meio de campo. A França simplesmente não existia. E, aos 35’, o goleiro Martínez saiu jogando com chutão, a zaga francesa rebateu e Molina tocou de primeira para Mac Allister, que deixou de primeira para Messi, que tocou belíssimamente para Julián Álvarez. O camisa 9 devolveu para Mac Allister que conduziu a bola até os marcadores franceses ficarem mais próximos a ele. No momento certo, ele tocou na esquerda para Di María, que chutou na saída de Lloris para fazer 2 a 0. 

Messi celebra o primeiro gol do jogo. Foto: Dan Mullan / Getty Images.

 

Di María faz 2 a 0. Foto: FRANCK FIFE/AFP via Getty Images/One Football.

 

Que jogada! Que gol! E bem ele para marcar, Di María, autor de um gol naquele fatídico 4 a 3 de 2018 e do gol do título da Copa América de 2021. Emocionado, o craque chorou, como um torcedor em campo, um símbolo. A Argentina sobrava. A Copa parecia ter dono. Ao apito do árbitro, a França foi para o intervalo tonta. A Argentina, cantante, em um Lusail de Núñez, uma Lusailbonera e seus mais de 40 mil torcedores pulando à espera da glória. O tricampeão mundial vestia azul e branco.

Os times em campo: com Di María, Argentina surpreendeu a França e dominou boa parte do jogo. Mas, após a saída do craque e as mudanças de Deschamps, o jogo pegou fogo.

 

Quando a bola rolou para a etapa final, a Argentina seguiu no ataque, enquanto a França não demonstrava tanta força ofensiva. Por outro lado, o time europeu tinha mais vigor físico, ainda mais pelas boas entradas de Thuram e Muani. Sem grandes chances nos primeiros 18 minutos, o técnico Scaloni tirou Di María, cansado, e colocou Acuña, titular em outros jogos, para reforçar mais o lado esquerdo do meio de campo. Mas foi a partir dali, da saída de um dos principais nomes argentinos na partida, que a França ganhou sobrevida. E, após mais duas mudanças e mais gás, o time bleu frequentou a área argentina. Não tanto, mas o suficiente para, aos 33’, Otamendi derrubar Muani dentro da área, impedindo o jogador de ficar no mano a mano com o goleiro. Pênalti.

Na cobrança, o sumido Mbappé. O craque sabia que era a chance de reverter o cenário. De ele entrar para a história como quinto homem a marcar gols em duas finais de Copas, assim como Pelé, Vavá, Breitner e Zidane. Mbappé bateu forte e fez 1 a 2. O camisa 10 francês pegou a bola, levantou os braços e pediu energia. Seu time tinha. E ele, também. 

Roi Mbappé. Foto: ADRIAN DENNIS / AFP via Getty Images.

 

Um minuto depois, Messi perdeu a bola no meio, Coman recuperou, tocou para Rabiot, que deixou com Marcus Thuram e este tabelou com Mbappé. Na devolução, Mbappé pegou de primeira e marcou um golaço, no canto, aos 36’: 2 a 2. Era um novo jogo! Depois de um absolutismo tremendo da Argentina, a França estava viva em apenas dois minutos! E Mbappé na frente de Messi na artilharia da Copa com 7 gols! O time argentino parecia destroçado emocionalmente. A França, revigorada, viva, com a clareza das situações que o rival teve no primeiro tempo. A situação sul-americana era angustiante. 

A França martelou pela virada épica, mas sabe-se lá como a Argentina conseguiu se safar, seja com bolas rifadas, seja com saídas do goleiro Martínez. Parecia ainda o filme do duelo contra a Holanda, nas quartas, quando o 2 a 0 virou 2 a 2 e o jogo foi para a prorrogação. Os acréscimos já corriam e o público esperava o tempo extra. Até que, aos 50’, Messi pegou a bola, ajeitou e chutou de perna esquerda. Ela tinha endereço, mas o goleiro Lloris mandou para escanteio. Foi um chute para acender de novo a massa albiceleste. Um sopro de esperança para o tempo extra.

Os campeões do mundo: time forte no meio de campo e com um ataque que marcou em todos os jogos da Copa.

 

Scaloni trocou um lateral pelo outro no primeiro tempo extra – Molina saiu e entrou Montiel – e esperou dar mais gás ao setor direito de seu time, que estava mais frágil fisicamente e mentalmente do que a França. Porém, nenhuma chance surgiu até depois dos 104’, quando Lautaro Martínez, que havia acabado de entrar, recebeu dentro da área, dominou e chutou, mas Varane travou. No rebote, Montiel chutou, a bola bateu na zaga e saiu. Tempo depois, Acuña cruzou, Lautaro outra vez tentou, mas Upamecano afastou o perigo. Ao apito do árbitro logo depois, a Argentina foi para a etapa final mais animada, assim como sua torcida, que voltou a cantar e acreditar.

Foto: Julian Finney / Getty Images / One Football.

 

Aos 3’, eis que o Lusail presenciou um lance digno de final de Copa. Montiel mandou para frente, Lautaro ajeitou de primeira para Messi, que tocou para Enzo Fernández e este deixou com Lautaro. O atacante chutou forte, mas Lloris defendeu. De fato, aquela não era a Copa do argentino… Mas teve rebote. E quem o pegou foi Messi, de perna direita, a ruim, aquela que não é mágica, mas que tanto apoiou a irmã esquerda. A bola foi para o gol, Koundé ainda tentou tirar, mas a redonda já havia cruzado a linha: 3 a 2.

Loucura no Lusail, que vibrou meio que ressabiado por causa da momentânea indecisão da arbitragem até a confirmação do gol. Faltavam pouco mais de 10 minutos. A glória estava perto. Muito perto. Os argentinos começaram a segurar a bola, aumentaram a marcação, tentaram deixar a França em seu campo de defesa. Os bleus tinham pouco tempo. Até que Mbappé chutou, Montiel se jogou para afastar a bola, mas foi com o braço aberto dentro da área… Pênalti. Mais drama. Mais tensão. A confiança argentina era em Emiliano Martínez. Só que Mbappé estava on fire. E mandou outro chutaço para empatar o jogo e fazer o inimaginável: 3 a 3. Três gols em uma final de Copa do Mundo. Só dele, Kylian Mbappé. Desde 1966 que uma decisão não tinha um artilheiro com tantos gols. E desde 2002 que um jogador não chegava aos 8 gols em um Mundial.

A França não se entregava. Queria a terceira estrela. No minuto final, Mbappé desceu mais uma vez pela esquerda, tocou para Muani, mas o atacante não alcançou a bola. Já nos acréscimos, o mesmo Muani recebeu nas costas da zaga e ficou no mano a mano com o goleiro Martínez. O francês teve a chance da virada, ali, em seus pés. Ele chutou. Os argentinos fecharam os olhos. Certamente alguns desmaiaram, tiveram piripaques, etc. Mas Dibu Martínez abriu os braços, se agigantou como no jogo contra a Austrália, e defendeu. Impressionante. Uma defesa que vale por mil anos. Que vale uma estátua.

Diz se não vale uma estátua? Foto: Buda Mendes/Getty Images/One Football.

 

Tempo depois, a Argentina teve um contra-ataque a seu favor, Messi recebeu, esperou, tocou para Montiel, que cruzou. A bola foi para a cabeça de Lautaro, mas o atacante, em profundo inferno astral, mandou para fora. Mbappé ainda tentou um último lance, mas foi desarmado no minuto final. O árbitro encerrou a partida. E a decisão teria mesmo que ficar para os pênaltis, a terceira decisão desse tipo na história das Copas e a segunda envolvendo a França. Ali, com bola rolando, não dava mais. Era muita emoção, muita tensão para um só jogo de futebol.

Quando o árbitro sorteou o lado do campo, a torcida no Lusail vibrou. Os chutes seriam disparados do lado onde estava a hinchada argentina. O mesmo lado onde a equipe albiceleste venceu a Holanda, nas quartas. O mesmo lado onde saiu o terceiro gol da vitória sobre a Croácia, nas semis. Parecia profético. A França, porém, iria começar chutando. No primeiro deles, Mbappé. O camisa 10 chutou forte, no canto, e fez mais um gol na final. O próximo foi Messi. Ele bateu rasteiro, com personalidade e frieza, e empatou. O chute seguinte foi de Coman. Ele bateu cruzado, mas Dibu Martínez defendeu. Outro ato heróico do goleirão argentino, monstruoso naquela Copa.

Emiliano Martínez defende o pênalti de Coman. Foto: ODD ANDERSEN/AFP via Getty Images/One Football.

 

O segundo chute argentino foi de Dybala, que entrou na prorrogação. Vixe, jogador frio normalmente erra… Mas ele bateu no meio do gol, Lloris saltou, e a bola entrou: 2 a 1. Tchouaméni chutou o terceiro da França e mandou para fora. A vantagem aumentava para a Argentina! No terceiro pênalti, Paredes converteu e fez 3 a 1. Na quarta cobrança francesa, Muani, que jogou muito bem e teve a chance da virada no final da prorrogação, fez o gol que manteve um pouco de esperança aos bleus. Montiel foi o próximo da Argentina. Se ele causou o pênalti do empate francês na prorrogação, poderia se redimir com o gol da vitória. E ele fez: 4 a 2.

A festa! Foto: Catherine Ivill / Getty Images.

 

Se dizem que o futebol não obedece lógica nem faz justiça, naquele instante, ele pagou uma dívida. Se tinha uma seleção que merecia aquela Copa do Mundo de 2022, era a Argentina. E se tinha um craque que merecia aquele troféu, era Lionel Messi. O garoto de Rosário que virou ídolo de milhões, quiçá bilhões, ao longo de anos e anos conquistando títulos e jogando um futebol espetacular. O craque que aprendeu o que era vestir a camisa da Argentina e encarnou uma nova faceta naquele Mundial. Saiu o lacônico de outrora, entrou o bravo, inspirador, capitão, líder. A versão mais maradoniana de Messi. Foi o desfecho final do maior craque do século XXI, talvez o maior que vimos na Terra desde Pelé. O encerramento de uma Copa inesquecível e a final do século, a melhor final da história que tem um capítulo à parte aqui no Imortais. 

Messi beija a taça que tanto buscou na carreira.

 

O técnico Scaloni com a taça e uma camisa clássica da Argentina, de 1997, ano em que ele venceu o Mundial Sub-20 pela seleção ao lado de estrelas como Riquelme, Cambiasso, Aimar e Samuel.

 

Na premiação, a Argentina teve o goleiro da Copa – Emiliano Martínez -, a revelação – Enzo Fernández – e o Bola de Ouro – Lionel Messi, que também foi vice-artilheiro com 7 gols e contribuiu com três assistências para gols. Na hora de erguer o troféu, o capitão esfregou as mãos, recebeu uma roupa especial – o bisht, comum na cultura local e usada em ocasiões especiais – e segurou o troféu como uma criança que acabou de ganhar um presente. Ele foi levando a taça até seus companheiros e o ergueu o mais alto que pôde, para que os milhões de argentinos pudessem ver de qualquer parte do mundo, bem como Diego lá de cima: a Argentina era tricampeã mundial de futebol. E lembra da música Muchachos? Bem, ela foi atualizada:

 

“A final com a Alemanha / Por oito anos eu chorei / Mas isso agora acabou / Porque este ano no Catar / na final contra os franceses / O papai voltou a ganhar”.

“Muchachos… Agora só nos resta festejar / Já ganhamos o tri / Já somos Campeões mundiais / E a Diego / dizemos que descanse em paz / com ‘don Diego’ e com Tota / Por toda a eternidade”.

 

A lenda e a Copa. Foto: Anne Christine Poujoulat / AFP

 

 

 

Após o título, Messi fez questão de compartilhar uma carta para expressar aquele sonho realizado.

 

“De Grandoli até a Copa do Mundo do Catar, passaram-se quase 30 anos. Foram cerca de três décadas em que a bola me deu muitas alegrias e também algumas tristezas. Sempre tive o sonho de ser campeão do mundo e não queria deixar de tentar, ainda sabendo que talvez isso nunca se daria.

Essa Copa que conseguimos é também de todos os que não a conquistaram nos Mundiais que jogamos anteriormente, como em 2014 no Brasil, onde mereciam todos pela forma como lutaram até a final, trabalharam duro e desejavam a taça tanto como eu… E a merecíamos inclusive nesta maldita final.

Também é de Diego, que nos alentou desde o céu. E de todos os que bancaram sempre a seleção sem olhar tanto o resultado, mas a vontade que sempre tínhamos, também quando não saíam as coisas como queríamos.

E claro, é de todo esse belo grupo que se formou e do corpo técnico e de toda a gente da seleção que, sendo anônimos, trabalham dia e noite para facilitar a nossa vida.

Muitas vezes o fracasso é parte do caminho e da aprendizagem, e sem a decepção é impossível que cheguem os êxitos.

Muito obrigado de coração! Vamos, Argentina!!!”

 

Llegó Papai Lionel!

A Copa do Mundo antecipou o Natal do povo argentino, que simplesmente tomou as ruas de todas as cidades do país para celebrar a conquista. Os maiores e mais impressionantes registros foram na capital Buenos Aires, que registrou mais de 5 milhões de pessoas que colapsaram a Avenida 9 de Julio, as autopistas Ricchieri e 25 de Mayo, a Avenida General Paz para ver o ônibus com os jogadores, que teve que interromper o trajeto previsto por não conseguir se deslocar tamanha quantidade de gente – os jogadores tiveram que ser retirados de helicóptero! Foi uma das maiores mobilizações populares da história da América do Sul.

A conquista elevou Messi ao mais alto patamar do futebol mundial. Colocou a Argentina de volta ao topo. Fez gerações de torcedores vibrarem como jamais haviam vibrado. Trouxe alegria em um tempo tão difícil para o povo, sofrendo com o caos econômico, social e a ainda recente perda do ídolo Diego Maradona. Foi uma conquista que será relembrada por toda a eternidade. Que moldou e pautou uma era. A Argentina 2021-2022 já é sinônimo de tango. Um dos mais belos tangos de todos os tempos. O maior tango de Messi e sua Argentina imortal. 

 

Os personagens:

 

Emiliano Martínez: a Argentina sempre teve grandes e lendários goleiros. E Emiliano Martínez manteve a dinastia com uma Copa do Mundo irretocável e defesas de antologia, daquelas que vão direto para a história dos Mundiais. Com muita personalidade, arrojo e catimba, ele reuniu todas as particularidades de goleiros de outrora e criou um verdadeiro personagem na seleção. Contra a Austrália, salvou o que seria o gol de empate no último minuto. Contra a Holanda, enervou os cobradores holandeses e defendeu dois pênaltis. Contra a França, fez aquela defesa de película no chute de Muani e agarrou outro pênalti depois. Enfim, foi heroico e um dos emblemas da equipe não só no Mundial, mas também em toda a trajetória pré-Copa e na conquista da Copa América de 2021. Já está no rol de maiores goleiros da história da Argentina, ao lado de Fillol, Pumpido etc.

Molina: ótimo lateral, com eficiência nos passes e no apoio ao ataque, foi titular em praticamente todo Mundial e marcou um gol no eletrizante duelo contra a Holanda, nas quartas de final – curiosamente seu primeiro gol pela seleção. Com apenas 24 anos, demonstrou muita personalidade e conseguiu frear por um tempo os avanços de Mbappé na decisão, principalmente no primeiro tempo.

Montiel: consagrado no grande River Plate de Gallardo, o lateral foi reserva na maior parte do tempo, mas entrou bem quando exigido. Na final, quase colocou tudo a perder no pênalti cometido na prorrogação, mas se redimiu ao anotar o gol que sacramentou a vitória por 4 a 2 nos pênaltis e o título mundial.

Romero: outro grande talento jovem da Argentina, o zagueiro era um dos preferidos de Scaloni no processo pré-Copa e demonstrou sua qualidade na organização do jogo a partir do campo de defesa, a eficiência na marcação e no combate. Embora tenha feito uma partida ruim contra a Arábia, o defensor se recuperou diante da Polônia e não saiu mais do time, mantendo a regularidade até a decisão.

Pezzella: outro defensor eficiente da equipe argentina e convocado desde 2019 à seleção, Pezzella foi uma opção do técnico Scaloni para o decorrer de alguns jogos, quando precisava fechar mais o time e manter o resultado. É destaque desde 2021 no Real Betis, pelo qual conquistou a Copa do Rei de 2022.

Otamendi: um dos mais experientes do time – completou 34 anos em 2022 – e convocado desde 2009, Otamendi coroou sua trajetória na seleção com a Copa do Mundo. Zagueiro que não brinca em serviço e muito sério, foi onipresente na zaga desde o início do ciclo de Scaloni na equipe alviceleste. Marcador implacável, formou uma ótima dupla de zaga com Romero. Possui 100 jogos pela seleção na carreira e brilhou, também, no Manchester City bicampeão inglês de 2018 e 2019.

Tagliafico: presente na seleção desde 2017, o lateral-esquerdo alternou com Acuña no time titular dependendo da circunstância do adversário. Mais técnico do que o companheiro e com melhor passe, dava mais qualidade na saída de bola e também no apoio ao ataque, virtudes que demonstrou no período em que atuou no Ajax.

Acuña: lateral-esquerdo e também capaz de atuar como meio-campista pela esquerda, foi outro que ajudou bastante nas variações táticas da Argentina tanto no período pré-Copa quanto no Mundial. Muito bom na marcação e também nos contra-ataques, ajudava ainda na posse de bola e na pressão aos adversários. Convocado desde 2016, registrou até 2022 49 jogos pela seleção.

Lisandro Martínez: outro reserva que teve papel importante nas variações táticas de Scaloni no período, podendo atuar como terceiro zagueiro e até na lateral. Jovem, com 24 anos, brilhou no Ajax bicampeão holandês de 2021 e 2022 e passou a ser convocado por Scaloni em 2019.

Enzo Fernández: a maior revelação jovem da Copa foi simplesmente assombrosa no Catar. Com apenas 21 anos, parecia jogar como um veterano no meio de campo argentino tamanha sua qualidade com a bola nos pés e sem ela. Ele já havia dado mostras de seu talento no Defensa y Justicia campeão da Copa Sul-Americana de 2020 e da Recopa de 2021, além de brilhar no River campeão argentino de 2021. Scaloni percebeu o talento do jogador e o convocou a partir de 2022. Após a catástrofe da estreia diante da Arábia, apostou na entrada do jovem contra o México e não se decepcionou: Enzo marcou um gol e, jogo a jogo, ditou o ritmo do meio de campo com força na marcação, precisão nos passes, combate, visão de jogo e entrega. Foi enorme no Catar. E tudo com apenas 21 anos!

Paredes: foi titular em boa parte do período de La Scaloneta, mas perdeu a vaga com a ascensão de Enzo Fernández durante a Copa. Entrou em alguns jogos, causou polêmica no duelo contra a Holanda, quando chutou a bola em direção ao banco de reservas laranja, mas foi bem quando exigido, principalmente na marcação e para dar mais fôlego ao setor. 

Guido Rodríguez: foi muito bem na campanha do título da Copa América de 2021, autor inclusive do gol da vitória sobre o Uruguai, na fase de grupos, mas perdeu a vaga no Mundial. Foi titular apenas no duelo contra o México, na fase de grupos.

De Paul: em profunda ascensão desde os tempos do Racing, o meio-campista virou um dos pilares do elogiado setor argentino principalmente após a Copa América, quando foi brilhante, em especial na decisão contra o Brasil. Eficiente na roubada de bola, na marcação e também para tirar os adversários do sério, foi fundamental na campanha argentina e um dos mais regulares do título mundial. Na final contra a França, foi gigantesco, correndo e aparecendo em todo lugar, como um verdadeiro operário.

Mac Allister: quando Lo Celso se lesionou, muitos pensaram que a Argentina teria dificuldades no meio-campo pela falta de técnica e combate que o jogador tinha no setor. Mas o jovem Mac Allister suplantou a ausência do companheiro com um futebol enorme durante a Copa, em especial nos duelos contra a Polônia e também na fase final, quando dava o combate nos adversários, ajudava na pressão no miolo central e iniciava contra-ataques, como o que resultou no gol de Di María no duelo contra a França. 

Lo Celso: um dos mais queridos jogadores do técnico Scaloni, Lo Celso era a engrenagem principal do meio de campo que tanto ajudou a Argentina na conquista da Copa América de 2021, nas vitórias durante as Eliminatórias e na Finalíssima contra a Itália. Mas a lesão do jogador meses antes do Mundial foi um baque enorme na época e privou Lo Celso de ser campeão mundial. Foi uma pena, mas ele ainda tem 26 anos e pode disputar a próxima Copa tranquilamente.

Messi: a Copa de 2022 coroou definitivamente a carreira de Messi como o maior jogador do século XXI e sua condição de ídolo da nação, do amante do futebol e do esporte. A maneira como ele se transformou na seleção a partir do título da Copa América de 2021 foi assombrosa, quase divina, uma intervenção maradoniana. Messi encarnou várias facetas em uma só e, aos 35 anos, foi genial, rápido, raçudo, líder, decisivo e a alma da Argentina campeã mundial. Com 7 gols, foi vice-artilheiro da Copa, além de ser assistente de três gols. Foi o primeiro jogador a marcar em todos os jogos da fase final de uma Copa do Mundo, se tornou o jogador com mais jogos em Mundiais na história – 26 partidas – e ganhou a Bola de Ouro de melhor jogador.

Não há dúvida de que o time se uniu por ele e jogou por ele. Afinal, muitos daqueles jogadores cresceram vibrando por Messi, torcendo por Messi, e estavam ali, jogando com Messi em uma Copa do Mundo. As apresentações do craque no Catar já estão marcadas para sempre no futebol. E serão eternas, contadas por gerações.

Julián Álvarez: outro jovem que ganhou espaço no time só em 2022, Álvarez foi brilhante no River Plate até chamar a atenção de Pep Guardiola, que o levou para o Manchester City. Mesmo sem ser titular no clube inglês, o atacante ganhou a vaga na Copa graças à má fase de Lautaro Martínez e, claro, ao seu talento. Oportunista, rápido, criativo, raçudo e onipresente, o jogador foi uma verdadeira joia no ataque argentino, contribuiu com sua movimentação e por ser o parceiro ideal de Messi na frente. Marcou 4 gols, dois deles na semifinal contra a Croácia.

Di María: outro emblema da Argentina 2021-2022, Di María é um jogador histórico da albiceleste por vários motivos. Convocado desde 2008 à seleção e com 129 jogos pela Argentina, o craque viveu todos os momentos de drama no período anterior ao da Scaloneta e não conseguiu jogar a final de 2014, na qual ele fez muita falta. Em 2018, foi um sopro de brilho no bagunçado time argentino e retornou em alto estilo para cravar seu nome nos principais momentos e jogos da Argentina. Em 2021, fez o gol do título da Copa América. No meio de 2022, fez gol na Finalíssima contra a Itália. E, na final da Copa do Mundo, destruiu enquanto esteve em campo, marcou gol e foi um terror para a zaga francesa. 

Isso explica a queda de rendimento da Argentina quando ele saiu, aos 19’ do segundo tempo, e o sofrimento que ele passou no banco de reservas, não escondendo as lágrimas até o apito final, quando o suplício acabou e ele se tornou, enfim, campeão do mundo. Um prêmio justíssimo a uma lenda.

Lautaro Martínez: antes da Copa, o atacante era uma unanimidade na seleção. Marcava gols, era oportunista, brigador, enfim, “o” cara do ataque. Mas, quando começou o Mundial, o Lautaro demolidor dos anos anteriores simplesmente desapareceu e começou a perder uma enxurrada de gols que fez o torcedor relembrar tempos sombrios de outras Copas. Scaloni teve que mudar, sacou Lautaro, e ele não conseguiu marcar nenhum gol. Só fez o gol de pênalti que selou a vaga na semifinal, no duelo contra a Holanda. Como ainda tem 25 anos, tem chance de recuperar a boa fase e retornar com força em 2026.

Papu Gómez: polivalente do setor ofensivo, capaz de jogar como ponta, atacante e meia, o jogador começou como titular da Argentina na Copa, mas perdeu a vaga no decorrer da campanha e só retornou nas oitavas, contra a Austrália. 

Lionel Scaloni (Técnico): de interino a campeão do mundo. A trajetória de sucesso de Lionel Scaloni parecia improvável pela falta de experiência, mas, aos poucos, ele moldou a seleção, resgatou o bom futebol de vários atletas, trouxe a confiança e a garra perdidas nos anos de decepções e fez a Argentina novamente campeã. Sem se prender a determinados jogadores ou táticas mirabolantes, estudou os adversários, não hesitou em mudar as formações e, se alguém não ia bem, trocava. Ao longo dos anos, teve o grupo na mão, criou uma seleção unida e convocou o que tinha de melhor, sabendo repor as peças perdidas – como Lo Celso. Aos 44 anos, Scaloni foi o mais jovem técnico campeão do mundo desde seu compatriota César Luis Menotti, campeão em 1978 aos 39 anos. Entre 2018 e 2022, Scaloni acumulou 57 jogos, com 37 vitórias, 15 empates, cinco derrotas, 113 gols marcados e 35 sofridos, aproveitamento de 64,9%.

 

Produção das camisas com as 3 estrelas vai dar trabalho para a adidas!

 

 

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3 Comentários

  1. Para mim, o esquadrão argentino atual é tão excelente quanto o dos anos 40 que só não ganhou um mundial porque as duas edições da década foram canceladas pela guerra, ligeiramente superior ao que venceu em 78 e bem melhor do que aquele de 86. De fato, o tricampeonato albiceleste já está nos anais da história como um dos títulos mais impressionantes de todos. E nós precisamos falar de Lionel Andrés Messi Cuccittini, o maior e melhor jogador deste século, que aos 35 anos fez um mundial espetacular, e se igualou a outros 21 ídolos eternos que levantaram a Copa do Mundo.

  2. Trajetória Simplesmente Colossal. De Humilhados a Campeões do Mundo. Como faz é fez bem esse Tri Campeonato Mundial da Argentina. E espero que o Messi dispute a Copa de 2026, pois ele ainda tem chances de ultrapassar o Miroslav Klose e se tornar o Maior Artilheiro da História das Copas Do Mundo. Ele tem 13 gols e Klose 16. 3 gols ele iguala e 4 ele ultrapassa, e isso não é improvável. É bem possível. Vamos ficar angustiantes na Torcida

Jogos Eternos – Holanda 2×2 Argentina 2022

Ao Rei, com carinho