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As 10 Maiores Finais da História da Libertadores

 

Por Guilherme Diniz

 

Disputar uma final de Copa Libertadores é algo único. Vencê-la já é outra história. É preciso garra. Nervos sob controle. Talento. Sorte. Paixão. E muito mais que futebol. Não é como outros torneios. É diferente. Tem uma mística sem igual. Ao longo de sua história, a Liberta teve finais simplesmente inesquecíveis, recheadas de gols, grandes atuações e a consagração de esquadrões memoráveis. Muitos venceram jogando futebol arte, com goleadas. Outros, na base da raça e até do sangue. E muitos na angústia dos pênaltis. Mas, nesses 60 anos de história, quais foram as 10 melhores finais da Libertadores? As mais eletrizantes? Bem, 10 é um número pequeno para um torneio tão gigante, mas, como adoramos listas e já fizemos uma com as 10 Maiores Finais da História da Liga dos Campeões da UEFA, a Liberta não poderia ficar de fora. Confira a seguir as mais lendárias finais do mais importante torneio de clubes das Américas.

Critérios: para selecionar o “top 10”, analisamos o peso histórico, a partida em si, a quantidade de craques, o ineditismo, o legado do jogo e a importância do duelo não só para a competição, mas também para o futebol e carreiras dos envolvidos, o mesmo critério utilizado no texto das maiores finais da UCL. E, assim como no texto das decisões europeias, listamos outras finais ao final do top 10 que também poderiam estar na lista. E um adendo: a lista na verdade é um top 11, pois tivemos um empate técnico na 4ª posição que não conseguimos deixar de fora! 

 

Índice

 

11º Palmeiras-BRA x Deportivo Cali-COL – 1999

Por que está aqui: ambos buscavam um título inédito. Os colombianos vinham com um de seus mais fortes times desde os anos 1970. Já o Palmeiras era um esquadrão vencedor, campeão de tudo nos últimos anos. Só faltava a América. O primeiro jogo terminou com vitória colombiana por 1 a 0. Já o segundo… Foi simplesmente impróprio para cardíacos. O Palestra Itália viu o Palmeiras vencer por 2 a 1, ter seu talismã expulso e decidir a sorte nos pênaltis. As arquibancadas “sopraram” para longe duas bolas dos colombianos. E deu Palmeiras.

Resultado do primeiro jogo: Deportivo Cali-COL 1×0 Palmeiras-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

Palmeiras-BRA 2×1 Deportivo Cali-COL (Palmeiras 4×3 Deportivo Cali nos pênaltis).

Data: 16 de junho de 1999

Local: Estádio Palestra Itália, em São Paulo, Brasil.

Juiz: Ubaldo Aquino (PAR)

Público: 32.000 pessoas

Palmeiras-BRA: Marcos; Arce (Evair), Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; César Sampaio, Rogério, Zinho e Alex (Euller); Paulo Nunes e Oséas. Técnico: Luiz Felipe Scolari.

Deportivo Cali-COL: Dudamel; Pérez (Gavíria), Mosquera, Yepes e Bedoya; Zapata, Viveros, Betancourt e Candelo (Hurtado); Córdoba (Valencia) e Bonilla. Técnico: José Hernández. 

Gols: Evair-PAL, aos 20’, Zapata-DCA, aos 25’, e Oséas-PAL, aos 31’ do 2º T.

Nos pênaltis, Palmeiras 4×3 Deportivo Cali. Júnior Baiano, Roque Júnior, Rogério e Euller fizeram para o Palmeiras. Zinho perdeu.

Dudamel, Gavíria e Yepes fizeram para o Deportivo Cali. Bedoya e Zapata perderam.

Cartões vermelhos: Mosquera-DCA e Evair-PAL

 

Os 32 mil ingressos colocados à venda para a decisão da 40ª Copa Libertadores da América foram vendidos em apenas oito horas, com filas que deram voltas no quarteirão do saudoso Palestra Itália. Era um mar de gente que queria ver seu time campeão da competição que ousava escapar de um clube tão acostumado a levantar títulos. Foi assim em 1961, quando Ademir da Guia e companhia nada limitada não foram capazes de derrotar o Peñarol-URU de Spencer e Joya. Foi assim em 1968, quando o alviverde não conseguiu superar as artimanhas do Estudiantes-ARG de Bilardo e Verón. Porém, naquele ano de 1999, todos acreditavam que a história seria diferente. Nunca o Palmeiras tivera um elenco tão “libertador”. Tão malandro. Tão técnico. Tão aguerrido. Letal nas jogadas aéreas e também nas tabelinhas por baixo. Forte na defesa, protegido pela revelação de um goleiro santo. Imparável pelas laterais. Criativo ao extremo no meio de campo. E cheio de possibilidades no ataque. Sim, aquele Palmeiras estava pronto e em prosa para ser campeão da América. Mas, seguindo a cartilha da primeira vez, aquela taça seria levantada com muita angústia. 

Oséas (centro), autor do segundo gol alviverde.

 

No primeiro tempo, nada de gols. E eles precisavam de dois. Na segunda etapa, um talismã do fim do jejum lá de 1993 saiu do banco para abrir o placar. Só que um pênalti desnecessário colocou quase tudo a perder. São Marcos não defendeu. Ficou tudo igual. Mas o alviverde foi atrás de mais um gol poucos minutos depois. Só faltava um! Mas a bola não entrou mais. Como não tinha prorrogação, vieram os temidos pênaltis. Logo no primeiro chute, o experiente Zinho carimbou o travessão. Mau agouro? Nada, era tempero para mais emoção. O rival também mandou uma bola na trave. E os jogadores foram convertendo seus chutes até a derradeira cobrança do capitão colombiano. O estádio inteiro gritava “Fora! Fora!”. E a bola, como um ser inanimado e com vida, fez exatamente o que lhe pediram para não ser castigada ou até furada no pós-jogo: foi correndo para longe do gol. Ufa! Enfim, o Palmeiras era campeão da América em uma das mais emocionantes finais da história da competição, daquelas inesquecíveis, que todo torcedor guarda com carinho. Anos depois, Felipão, o comandante daquele time, levou o Brasil ao seu último título da Copa do Mundo, em 2002. Leia mais sobre essa decisão clicando aqui.

 

10º Grêmio-BRA x Peñarol-URU – 1983

Por que está aqui: campeão brasileiro em 1981 e vice-campeão brasileiro em 1982, o Grêmio era um dos times mais fortes do Brasil naquele começo de década e um dos poucos que conseguia rivalizar contra o Flamengo de Zico e companhia. Após uma grande campanha, a equipe chegou à final para enfrentar o então campeão da América e do mundo Peñarol, de Morena, Olivera, Ramos e Saralegui. Como não poderia deixar de ser, os dois jogos foram eletrizantes. No primeiro, o tricolor segurou bravamente um empate em 1 a 1 no Centenário. Na volta, em um Olímpico transbordando gente, Caio e César fizeram os gols da vitória dramática por 2 a 1 sobre os aurinegros, dando o título aos gaúchos e coroando um time com Mazarópi, Renato, Tarciso, Tita e Paulo Roberto, além do capitão Hugo De León, cuja imagem levantando a taça com sangue na cabeça foi a síntese do que era preciso para vencer o torneio naquela época: futebol e muita, mas muita garra.

 

Resultado do primeiro jogo: Peñarol-URU 1×1 Grêmio-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

Grêmio-BRA 2×1 Peñarol-URU

Data: 28 de julho de 1983

Local: Estádio Olímpico Monumental, em Porto Alegre, RS, Brasil

Juiz: Edison Pérez (PER)

Público: 80.000 pessoas

Grêmio-BRA: Mazarópi; Paulo Roberto, Baidek, De León e Casemiro; China, Osvaldo e Tita; Renato, Tarciso e Caio (César). Técnico: Valdir Espinosa.

Peñarol-URU: Gustavo Fernández; Montelongo, Olivera, Gutiérrez e Carlos Diogo; Bossio, Salazar e Saralegui; Silva (Peirano), Fernando Morena e Venancio Ramos. Técnico: Hugo Bagnulo.

Gols: Caio-GRE, aos 10′ do 1º T; Morena-PEN, aos 25′ e César-GRE, aos 32′ do 2º T.

Cartões Vermelhos: Renato-GRE e Ramos-PEN

 

Vencer a primeira Libertadores é sempre mais difícil. A falta de experiência, o nervosismo, tudo conspira contra. Mas o teste pelo qual passou o Grêmio em sua primeira decisão foi mesmo para os fortes. Após superar vários desafios ao longo de sua campanha – incluindo um jogo maluco contra o Estudiantes-ARG em La Plata, quando o tricolor vencia por 3 a 1 e permitiu o empate mesmo com o adversário jogando com sete jogadores – os gaúchos chegaram à final para enfrentar o Peñarol, campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes em 1982. Os uruguaios eram favoritos disparados, mas o Grêmio sabia da sua força. Renato aprontava das suas pela ponta-direita. Tarciso e Caio davam combate no ataque. Tita comandava as ações no meio de campo juntamente com Osvaldo. E, na defesa, De León mandava soltar e prender como um verdadeiro xerife.

Os capitães De León e Olivera.

 

Na ida, em Montevidéu, empate em 1 a 1 que manteve o Grêmio a apenas uma simples vitória da taça. Mas, em casa, o time brasileiro teve que suar muito. Caio abriu o placar logo aos 10’, mas o Peñarol pressionou bastante o time tricolor e chegou com perigo diversas vezes e ainda não deixava barato nas divididas – em uma delas, Olivera deixou o cotovelo em Renato e só recebeu cartão amarelo. Os uruguaios dominaram praticamente o primeiro tempo e continuaram assim na segunda etapa, com técnica, passes precisos e lances de perigo com Ramos e o sempre artilheiro Morena. Até que, aos 25’, Ramos sofreu falta que ele mesmo cobrou na cabeça de Morena, que empatou: 1 a 1. 

De León, o sangue e a Liberta: imagem clássica.

 

O Grêmio não se abateu e, aos 32’, Renato apareceu. O ponta-direita fez uma jogadaça e cruzou espetacularmente para César fazer 2 a 1. Era o suficiente. O time gaúcho se segurou como pôde, manteve a bola nos pés do endiabrado Renato o maior tempo possível e fez a festa. Na hora da entrega da taça, ao apoiá-la em sua cabeça, o capitão De León não percebeu um prego exposto na base do troféu. Resultado? Perfuração no couro cabeludo e sangue escorrendo por seu rosto. Mas a cena já estava na história e épicos sendo construídos pelos mais fanáticos torcedores. Era a taça da raça, do “sangue derramado”. E a imagem se tornou instantaneamente a tradução máxima do que era o torneio naquela época. Meses depois, o Grêmio viajou ao Japão e levantou o título mundial. Leia mais clicando aqui.

 

9º Internacional-BRA x São Paulo-BRA – 2006

Por que está aqui: era a segunda final seguida com clubes do mesmo país na Libertadores. De novo, clubes brasileiros. De novo, o São Paulo, campeão da América e do mundo em 2005, com o maior goleiro-artilheiro de todos os tempos e jogando muita bola. Do outro, o Internacional, que buscava a taça que havia escapado lá em 1980, com um time fortíssimo, grandes nomes em todos os setores do campo e um líder nato com a braçadeira de capitão. No primeiro jogo, em um Morumbi com quase 75 mil pessoas, brilhou quem ninguém esperava: Rafael Sóbis. Com dois gols, ele deu uma incrível vitória ao colorado por 2 a 1. Na volta, o Beira-Rio viu um épico com bolas na trave, futebol bem jogado e muita, muita emoção. Tanto equilíbrio só poderia dar empate: 2 a 2. Melhor para o Inter, campeão da América pela primeira vez.

 

Resultado do primeiro jogo: São Paulo-BRA 1×2 Internacional-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

Internacional-BRA 2×2 São Paulo-BRA

Data: 16 de agosto de 2006

Local: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, RS, Brasil

Juiz: Horacio Elizondo (ARG)

Público: 55.000 pessoas

Internacional-BRA: Clemer; Índio, Bolívar e Fabiano Eller; Ceará, Edinho, Tinga, Alex (Michel) e Jorge Wágner; Fernandão e Rafael Sóbis (Ediglê). Técnico: Abel Braga.

São Paulo-BRA: Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos (Alex Dias); Souza, Mineiro, Richarlyson (Thiago Ribeiro), Danilo (Lenílson) e Júnior; Leandro e Aloísio. Técnico: Muricy Ramalho.

Gols: Fernandão-INT, aos 29′ do 1º T; Fabão-SAO, aos 5’, Tinga-INT, aos 11’, e Lenílson-SAO, aos 40’ do 2º T.

Cartão Vermelho: Tinga-INT

 

Há algum tempo que uma final de Libertadores não tinha dois times tão fortes frente a frente. A última naquele nível havia sido em 2000, quando o super Boca de Bianchi enfrentou o Palmeiras de Felipão. No entanto, o São Paulo, por ser o campeão, levava um ligeiro favoritismo. A equipe havia despachado rivais de peso pelo caminho, entre eles o Chivas Guadalajara-MEX, base da seleção mexicana na época e até um dos favoritos ao título naquela temporada. Só que os mexicanos não viram a cor da bola nas semifinais e perderam tanto no México (1 a 0) quanto no Morumbi (3 a 0). Muricy Ramalho era o treinador do tricolor e conseguia manter a competitividade do time mesmo após as saídas de Luizão, Cicinho e Amoroso graças à espinha dorsal do time campeão de quase tudo em 2005: Lugano, Fabão, Mineiro, Josué, Danilo e, claro, o goleiro Rogério Ceni, vivendo fase magnífica. Além deles, havia Ricardo Oliveira, que acabou de fora do segundo jogo da final pelo fato de o seu contrato de empréstimo ter se encerrado no dia 10 de agosto, uma semana antes da decisão.

Já o Inter tinha apenas uma derrota naquela Libertadores e jogava um futebol parecido com o do rival, com três zagueiros, laterais ofensivos, meio de campo combativo e um ataque perigoso com Fernandão e Rafael Sóbis. Abel Braga sabia da importância do primeiro jogo, no Morumbi, e que um resultado satisfatório facilitaria muito as coisas para a volta, no caldeirão do Beira-Rio. E, com uma atuação inesquecível de Sóbis, o Inter venceu por 2 a 1, viu Josué – uma das “engrenagens” principais do São Paulo – ser expulso e saiu não só com a vitória, mas com uma vantagem tática imensa.

Fernandão faz a festa: imortal do Inter.

 

Para a volta, Muricy não tinha Ricardo Oliveira nem Josué. Com isso, teve que reorganizar o time e partir pra cima dos colorados. Logo no início do jogo, Lugano mandou uma bola na trave e por muito pouco não abriu o placar. Como quem não faz leva, o Inter abriu o placar após uma bola ser alçada na área, Rogério Ceni falhar e Fernandão mandar pra dentro: 1 a 0. O jogo seguiu tenso, e, no segundo tempo, Fabão empatou. Só que o Inter voltou a ficar na frente após gol de Tinga, que acabou expulso logo na sequência. Com um a menos, o colorado cedeu espaços e o São Paulo empatou. Faltava apenas um gol para levar o jogo para a prorrogação. No entanto, a equipe da casa se segurou e conseguiu um título inédito e histórico, que mudou para sempre a própria história do Inter. Dali em diante, o clube colecionou taças internacionais, foi campeão do mundo em 2006, viu seu quadro associativo aumentar exponencialmente, acabou com o abismo em relação ao rival Grêmio em número de títulos e virou um dos grandes clubes do continente. Leia mais clicando aqui.

 

8º São Paulo-BRA x Newell’s Old Boys-ARG – 1992

Por que está aqui: dois dos maiores clubes da América naquela época frente a frente. Dois técnicos lendários – Telê Santana e Marcelo Bielsa. Um estádio com o maior público da história em uma final de Libertadores. Craques do mais alto calibre. E todos os ingredientes possíveis para uma explosão de emoção. No tempo normal, 1 a 0 para o São Paulo, resultado que forçou a decisão por pênaltis. Nela, brilhou a estrela de Zetti. Tricolor campeão, o primeiro clube do Brasil desde 1983 a vencer o torneio. E início de um verdadeiro pandemônio no Morumbi. Nunca se viu uma festa como aquela após o apito final. Milhares de pessoas invadiram o gramado, que ficou ocultado pelo mar de gente ensandecida vibrando pela primeira conquista da América do clube. Cenas marcantes. E só o início da consagração de um dos maiores esquadrões da história não só do futebol brasileiro, mas também do futebol mundial no século XX. E mais: fez da Libertadores a competição mais almejada de todos os clubes brasileiros.

 

Resultado do primeiro jogo: Newell’s Old Boys-ARG 1×0 São Paulo-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

São Paulo-BRA 1×0 Newell’s Old Boys-ARG (São Paulo 3×2 Newell’s Old Boys nos pênaltis)

Data: 17 de junho de 1992

Local: Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi), em São Paulo, SP, Brasil

Juiz: José Torres Cadena (COL)

Público: 105.185 pessoas

São Paulo-BRA: Zetti; Cafu, Antônio Carlos, Ronaldão e Ivan; Adílson, Pintado e Raí; Palhinha, Müller (Macedo) e Elivélton. Técnico: Telê Santana.

Newell’s Old Boys-ARG: Scoponi; Llop, Gamboa e Pochettino; Berti, Berizzo, Martino (Domizzi) e Saldaña; Zamora, Lunari e Mendoza. Técnico: Marcelo Bielsa.

Gol: Raí-SAO, pênalti, aos 20’ do 2º T.

Nos pênaltis, São Paulo 3×2 Newell’s Old Boys. Raí, Ivan e Cafu fizeram para o São Paulo. Ronaldão perdeu.

Zamora e Llop fizeram para o Newell’s. Berizzo, Mendoza e Gamboa perderam.

 

Se os clubes brasileiros almejam a Libertadores mais do que qualquer coisa há mais de duas décadas, isso se deve ao que aconteceu no dia 17 de junho de 1992. Antes daquela data, a competição era menosprezada pelas equipes nacionais. Apenas Santos, Cruzeiro, Flamengo e Grêmio tinham em suas galerias o cobiçado troféu – e apenas o Peixe tinha mais que uma taça. Muitos acreditavam que a Liberta era coisa de argentino e uruguaio, que só eles sabiam disputar e vencer a competição. Pois aquela ladainha começou a cair por terra quando o São Paulo de Telê provou que era possível vencer o maior torneio das Américas. E que era possível vencer com garra e técnica combinados.

Após se classificar para a final levando públicos bem modestos ao Morumbi – nenhum jogo passou de 25 mil torcedores, nem mesmo na semifinal -, o torcedor tricolor percebeu que a história estava próxima de ser escrita quando viu que apenas dois jogos separavam o seu time do título continental. Mas, para vencê-lo, era preciso derrotar o Newell’s Old Boys, o mais forte clube argentino da época, vice-campeão da América em 1988 e comandado com maestria por Marcelo Bielsa, que tinha à sua disposição jogadores como Scoponi, Berti, Martino, Pochettino e companhia. Um timaço, dificílimo de ser batido. E foi mesmo.

Os capitães Martino e Raí.

 

Na ida, vitória dos leprosos por 1 a 0. Na volta, o São Paulo jogou empurrado pelo maior público pagante da história do torneio: 105.185 pessoas. Extraoficialmente, cerca de 120 mil pessoas estavam naquelas arquibancadas que tremeram tanto, mas tanto, que o São Paulo teve que reforçar as estruturas tempo depois (!). Em campo, o tricolor terminou o primeiro tempo sem conseguir balançar as redes dos argentinos. Mas, na segunda etapa, Telê mexeu no time, colocou Macedo e foi o atacante quem sofreu o pênalti convertido por Raí. O placar seguiu assim e a decisão foi para os pênaltis. Nela, Zetti recebeu do preparador de goleiros Valdir de Moraes a lista com o estilo de chutes dos jogadores do Newell’s. O goleiro foi preparado e seguiu à risca as recomendações, embora alguns jogadores não estivessem em campo e outros tenham mudado seus chutes, além de Berizzo chutar na trave e Mendoza mandar pra fora. Mas, com 3 a 2 no placar para o São Paulo, um dos presentes na lista foi para a bola: Gamboa. Ele bateu com o pé direito, no canto esquerdo, exatamente como escrito no papel de Moraes. Zetti voou ali mesmo e defendeu.

O mar de gente no Morumbi.

 

A euforia levou os tricolores ao gramado, que se transformou em um mar de gente. Foi uma das celebrações mais épicas da história da competição e os torcedores levaram pedaços das redes, bandeirinhas de escanteio, tufos de grama e até um dos bancos de reservas (!). A entrega da primeira taça continental ao São Paulo atrasou, Raí teve que esperar quase uma hora para erguer a taça num pequeno palco improvisado e nem volta olímpica foi possível. Meses depois, o tricolor faturou o título mundial e, em 1993, foi bicampeão da América e bicampeão mundial. O tri só não veio por causa do Vélez Sarsfield de Bianchi e Chilavert. Leia mais clicando aqui.

 

7º Fluminense-BRA x LDU-EQU – 2008

Por que está aqui: nunca o Maracanã havia abrigado uma finalíssima de Libertadores. Nunca um jogador havia marcado três gols em uma final de Libertadores. Nunca uma virada quase impossível ficou tão perto de acontecer. E nunca um time com campanha digna de cinema merecia tanto um título como aquele Fluminense. Até quem não era tricolor se comoveu. Mas o Maracanã nunca foi piedoso. Nem a LDU. Num dos jogos mais elétricos e emocionantes de sua história, a Liberta viu um campeão fazer a festa com as cores do rival derrotado. Um placar agregado de 5 a 5, um dos maiores do torneio em todos os tempos, foi a síntese daquela final, em uma noite de faces e diferentes roteiros no Rio de Janeiro.

 

Resultado do primeiro jogo: LDU-EQU 4×2 Fluminense-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

Fluminense-BRA 3×1 LDU-EQU (Fluminense-BRA 1×3 LDU-EQU nos pênaltis)

Data: 02 de julho de 2008

Local: Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Juiz: Héctor Baldassi (ARG)

Público: 78.918 pessoas (público pagante). Estimado: 86 mil pessoas

Fluminense-BRA: Fernando Henrique; Gabriel (Maurício), Thiago Silva, Luiz Alberto e Júnior César; Ygor (Dodô), Arouca (Roger), Conca e Thiago Neves; Cícero e Washington. Técnico: Renato Gaúcho.

LDU-EQU: Cevallos; Campos, Norberto Araujo e Calle; Vera e Urrutia; Guerrón, Manso (Willian Araujo), Bolaños (Salas) e Ambrosí; Bieler. Técnico: Edgardo Bauza.

Gols: Bolaños-LDU, aos 5´, e Thiago Neves-FLU, aos 12´e aos 27´do 1º T; Thiago Neves-FLU, aos 11´ do 2º T.

Cartão Vermelho: Luiz Alberto-FLU

Nos pênaltis, Fluminense 1×3 LDU: Cícero fez para o Fluminense. Conca, Thiago Neves e Washington perderam. Urrutia, Salas e Guerrón fizeram para a LDU. Campos perdeu.

 

Certos estádios possuem alma, inspiram acontecimentos fascinantes e são palco de partidas que dormem para sempre na memória de quem as viu. O estádio Jornalista Mário Filho, mais conhecido como Maracanã, é um deles. Praticamente tudo já aconteceu nele. De jogos eternos a shows épicos. E na noite do dia 02 de julho de 2008 não foi diferente. Mais de 78 mil pessoas protagonizaram naquela ocasião a maior e mais bela festa em verde, branco e grená que o Brasil já viu. Luzes, fumaças, camisas. Tudo era tricolor. O céu negro e cinza ficou temperado e diferente. Em campo, onze jogadores tinham a tarefa de reverter um placar em 2 a 4 para dar ao Fluminense Football Club a primeira Copa Libertadores de sua história. Porém, do outro lado, estavam onze jogadores que compunham o melhor e maior time de toda a história do Equador: a LDU. Nem a festa homérica do pré-jogo conseguiu esfriar ou apavorar os ânimos dos rivais de Quito, que abriram o placar da decisão continental com menos de 10 minutos de jogo. Era o fim? Não. Vestindo uma folclórica camisa 10, Thiago Neves fez o que nenhum outro jogador jamais fizera na principal competição das Américas. Nem Spencer. Nem Pelé. Nem Jairzinho. Nem Morena. Nem Zico. Nem Raí. Thiago Neves marcou três gols. Jamais um jogador havia feito três gols em uma decisão de Libertadores. Pois Thiago fez.

Thiago Neves celebra: jogador marcou três gols na decisão.

 

O improvável deixaria de ser inalcançável, pensavam os torcedores tricolores. Mas havia a tal alma do Maracanã. Assim como em 1976, quando a Máquina Tricolor sucumbiu diante do Corinthians e seus 70 mil “invasores”, o mais emblemático estádio brasileiro voltou a aprontar com o Fluminense. O gol não saía. E não saiu. Veio a prorrogação. E nada. Nos pênaltis, o drama, a consagração de Cevallos e o fim. A América era da LDU. E toda uma campanha sensacional feita pelo Flu, com vitórias homéricas contra São Paulo e Boca Juniors, ia por água abaixo. Morria nos salgados e tristes poços de lágrimas que caíram por entre as bordas do gramado do Maracanã. Leia mais sobre esse jogo clicando aqui.

 

6º Boca Juniors-ARG x Grêmio-BRA – 2007

Por que está aqui: pode um só jogador decidir praticamente sozinho uma final de Libertadores? Pode esse mesmo jogador ter um dos maiores desempenhos individuais da história da competição? Pode um clube ser totalmente absoluto nos dois jogos da final e não dar a mínima chance ao rival? Se esse jogador for Juan Román Riquelme, sim. E se esse clube for o Club Atlético Boca Juniors, também. Tudo isso aconteceu em 2007. Nunca a Liberta viu um jogador jogar tanta bola e ser tão magnífico como Riquelme foi naquele ano. E nunca a disparidade técnica de uma equipe foi tão visível quanto a do Boca diante do Grêmio. Em Buenos Aires, 3 a 0 (um de Riquelme), fora o baile. Em Porto Alegre, 2 a 0 (dois de Riquelme), com pênalti perdido que poderia alargar ainda mais o placar. Total agregado? 5 a 0. E hexacampeonato para o Boca, o maior campeão da década de 2000 do torneio.

 

Resultado do primeiro jogo: Boca Juniors-ARG 3×0 Grêmio-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

Grêmio-BRA 0x2 Boca Juniors-ARG

Data: 20 de junho de 2007

Local: Estádio Olímpico Monumental, Porto Alegre, RS, Brasil

Juiz: Oscar Ruiz (COL)

Público: 43.952 pessoas

Grêmio-BRA: Saja; Patrício, William, Teco (Schiavi) e Lúcio; Gavilán, Lucas Leiva, Tcheco (Amoroso) e Diego Souza; Carlos Eduardo e Tuta (Everton Costa). Técnico: Mano Menezes.

Boca Juniors-ARG: Caranta; Ibarra, Díaz, Morel Rodríguez e Clemente Rodríguez; Ledesma, Banega (Órteman), Cardozo (Battaglia) e Riquelme; Palacio (Boselli) e Palermo. Técnico: Miguel Ángel Russo.

Gols: Riquelme-BOC, aos 23’ e aos 35’ do 2º T.

 

Quando a decisão da Libertadores ficou definida entre Boca e Grêmio, a expectativa era de um duelo equilibrado, com times de camisas pesadíssimas no continente e com chances iguais de título. Do lado do Boca, o time copeiro visto desde 2000 era mais uma vez consolidado e o time chegava após suar bastante na fase de grupos e sempre fazer o resultado que precisava em sua temida La Bombonera. Já o Grêmio queria coroar uma ascensão incrível que começou na lendária Batalha dos Aflitos e que poderia ter um desfecho impressionante em caso de título. Só que tudo começou a mudar de figura já no duelo de ida, em Buenos Aires. E muito por causa de Riquelme. 

O craque fez dos dois jogos finais os palcos para esbanjar toda sua qualidade e genialidade. Em La Bombonera, no dia 13 de junho, as mais de 50 mil pessoas que encheram o gramado de papéis picados viram lances exuberantes do camisa 10, que orquestrou todo e decisivo lance de seu time. Aos 18´do primeiro tempo, Riquelme cobrou falta na área gremista e Palacio completou para o gol de Saja: 1 a 0. No começo do segundo tempo, falta para o Boca. Riquelme cobrou forte, no canto, e marcou mais um golaço para sua coleção: 2 a 0. A explosão foi nítida e o barulho ensurdecedor em La Bombonera. Na comemoração, o camisa 10 deixou aflorar sua alegria e energia pelo gol e a ânsia de ser campeão da América. Como retribuição, a torcida gritou seu nome sem parar, o que esfriou qualquer reação do Grêmio e inspirou o terceiro gol do Boca, aos 44´, quando Riquelme (pra variar…) entortou dois defensores e chutou forte, exigindo a defesa de Saja. No rebote, Palermo cruzou, a zaga gremista se atrapalhou e Ledesma fechou a conta com grata participação de Patrício: 3 a 0. O título estava praticamente ganho.

Riquelme nos céus: o Boca era campeão da América pela sexta vez.

 

No dia 20 de junho, a torcida gremista fez uma bonita festa, clamou pela imortalidade de seu clube, mas quem se tornou imortal, mesmo, foi o Boca e seu maestro. Frios como gelo e surdos para as vaias dos gremistas, os argentinos deram aula de competitividade e de como vencer uma Libertadores. Depois de segurar o 0 a 0 na primeira etapa, aos 23´ do segundo tempo, Riquelme recebeu de Ibarra na direita e emendou um chute ao seu estilo, alto, sem chances para Saja: 1 a 0. Aos 35´, contra-ataque letal dos argentinos: bola com Riquelme, que passou para Palacio. Este chutou para a defesa de Saja, mas, no rebote, Riquelme completou para o gol: 2 a 0. E 5 a 0 no placar agregado. O Boca era hexacampeão da América. Foi a consagração de Riquelme, artilheiro do time com 8 gols marcados (a mesma quantidade que Palacio e Palermo juntos!), escolhido o melhor jogador do torneio e para sempre no rol de maiores atletas da história da Libertadores. Leia mais clicando aqui.

 

4º Cruzeiro-BRA x River Plate-ARG – 1976

Por que está aqui: foi a final com maior placar agregado da história da Libertadores sem tempo extra: 8 a 5. Além disso, reuniu times extremamente ofensivos e que iam na contramão das equipes que apelavam para a violência naquela época. No primeiro jogo, o Cruzeiro goleou por 4 a 1 no Mineirão, mas na época o que contava eram os pontos e não os gols. Por isso, a vitória do River por 2 a 1 na Argentina forçou o terceiro jogo em campo neutro mesmo com o placar geral em 5 a 3 para os brasileiros. Em Santiago, ambos tiveram vários desfalques, mas ainda sim protagonizaram um jogaço que terminou 3 a 2 para o Cruzeiro, resultado que deu a primeira Libertadores ao clube mineiro e encerrou um jejum de 13 anos sem conquistas brasileiras no torneio – só o Santos de Pelé tinha Libertadores em sua galeria na época. Além disso, coroou um esquadrão devastador que marcou 46 gols em apenas 13 jogos, com 13 gols de Palhinha, 11 de Jairzinho, oito de Joãozinho e seis de Nelinho, os artilheiros máximos do time. A taça ainda foi uma homenagem ao jogador Roberto Batata, jogador do Cruzeiro que faleceu em um acidente de carro durante a competição.

 

Resultado do primeiro jogo: Cruzeiro-BRA 4×1 River Plate-ARG

Resultado do segundo jogo: River Plate-ARG 2×1 Cruzeiro-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

Cruzeiro-BRA 3×2 River Plate-ARG

Data: 30 de julho de 1976

Local: Estádio Nacional, Santiago, Chile

Juiz: Alberto Martínez (CHI)

Público: 35.182 pessoas

Cruzeiro-BRA: Raul; Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Piazza (Valdo), Zé Carlos e Ronaldo; Eduardo, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira.

River Plate-ARG: Landaburu; Comelles, Lonardi, Artico e Urquiza; Alonso, Merlo e Sabella; González, Luque e Oscar Más (Crespo). Técnico: Ángel Labruna.

Gols: Nelinho-CRU, aos 24’ do 1º T; Eduardo-CRU, aos 10’, Más-RIV, aos 13’, Urquiza-RIV, aos 17’, e Joãozinho-CRU, aos 42’ do 2º T.

Cartões Vermelhos: Ronaldo-CRU e Alonso-RIV.

 

O Cruzeiro chegou à decisão da Libertadores pela primeira vez após uma campanha que começou em um jogo épico: os 5 a 4 pra cima do Internacional no Mineirão. Depois disso, a equipe mineira seguiu com um ataque devastador e aplicou goleadas no Luqueño (4 a 1), Olimpia (4 a 1), Alianza Lima (4 a 0 e 7 a 1) e LDU (4 a 1). Com Jairzinho, Joãozinho e Palhinha no ataque, não havia uma partida em que o time celeste não marcava gols. O adversário dos brasileiros era o River Plate, um esquadrão de respeito com o ótimo goleiro Fillol (que seria campeão do mundo pela Argentina em 1978), o zagueiro Perfumo, o meia Sabella e os atacantes González, Luque e Más. Porém, o time mineiro não ligou para a banca dos argentinos e deu show no primeiro jogo da final: 4 a 1, com três gols apenas no primeiro tempo. Palhinha, Eduardo e Jairzinho mostraram toda a habilidade brasileira e garantiram a vantagem do empate para a partida de volta (na época não existia o critério de gols marcados). 

Em Buenos Aires, o River fez valer o mando de campo (e a sempre “muy amiga” arbitragem latina) e venceu por 2 a 1, forçando um terceiro jogo. O jogo decisivo foi em campo neutro, no estádio Nacional. Ambas as equipes estavam desfalcadas de algumas estrelas (Jairzinho, Perfumo e Fillol não jogaram) e precisavam vencer para ficar com o título. O Cruzeiro começou melhor, dominou o primeiro tempo e abriu 2 a 0, com gols de Nelinho e Eduardo. Mas do outro lado estava o River Plate, que arrancou o empate com gols de Más e Urquiza. 

Joãozinho foi decisivo na final de 1976.

 

Faltando menos de cinco minutos para o fim do jogo, falta para o Cruzeiro. Os argentinos esperavam uma bomba de Nelinho, mas foi aí que o elemento surpresa acabou com a partida: Joãozinho bateu e fez o gol do título: 3 a 2. O Cruzeiro conquistava a sua primeira Libertadores de maneira histórica, e era, ainda, o primeiro time mineiro a levar a competição. Acabava ali a hegemonia do Santos em ser o único brasileiro a ter a cobiçada taça em sua galeria de troféus. Era a consagração e a justiça feita para um time montado para marcar gols, dar show e cansar o adversário com uma velocidade incrível. E uma homenagem perfeita a Roberto Batata, que faleceu após um trágico acidente de carro no dia 13 de maio, durante a campanha do Cruzeiro naquela Libertadores. Leia mais sobre esse timaço clicando aqui.

 

4º Flamengo-BRA x Cobreloa-CHI – 1981

Por que está aqui: catimba, talento, nervos à flor da pele. O embate entre brasileiros e chilenos foi um dos mais tensos da história da Libertadores, talvez a mais violenta de todas as finais. Não bastava ao Flamengo vencer na bola. Ele tinha que vencer também o desleixo das arbitragens, a selvageria dos rivais – que pareciam levar a campo toda a carnificina da ditadura de Pinochet – e longos 270 minutos após três jogos para poder ficar com a taça inédita. No segundo jogo, o chileno Soto bateu sem dó nos jogadores rubro-negros, abrindo o supercílio de Adílio, cortando a orelha de Lico e acertando o olho de Tita com uma suposta pedra que carregava nas mãos (!). Na partida desempate, mais pancadaria, só que o Mengo conseguiu colocar a bola no chão e Zico marcou os dois gols que definiram o placar de 2 a 0. Quando a vitória já estava garantida, o técnico Carpegiani colocou Anselmo em campo com apenas uma missão: dar um soco em Soto. Missão cumprida, rival nocauteado e vingança assegurada. A América era rubro-negra.

 

Resultado do primeiro jogo: Flamengo-BRA 2×1 Cobreloa-CHI

Resultado do segundo jogo: Cobreloa-CHI 1×0 Flamengo-BRA

 

Ficha do jogo que decidiu:

Flamengo-BRA 2×0 Cobreloa-CHI

Data: 23 de novembro de 1981

Local: Estádio Centenário, Montevidéu, Uruguai

Juiz: Roque Cerullo (URU)

Público: 30.200 pessoas

Flamengo-BRA: Raul, Nei Dias, Marinho, Mozer e Júnior; Leandro, Andrade e Zico; Tita, Nunes (Anselmo) e Adílio. Técnico: Paulo César Carpegiani.

Cobreloa-CHI: Wirth, Tabilo, Páez (Múñoz), Soto e Escobar; Jiménez, Merello e Alarcón; Puebla, Siviero e W. Olivera. Técnico: Vicente Cantatore.

Gols: Zico-FLA, aos 18’ do 1º T e aos 34’ do 2º T.

Cartões Vermelhos: Anselmo-FLA, Andrade-FLA, Soto-COB, Jiménez-COB e Alarcón-COB. 

 

Lembra que no começo deste texto dissemos que é preciso muito mais que futebol para se vencer uma Libertadores? Pois o Flamengo teve que levar à risca esse lema na final de 1981. Após superar adversários hostis e altitudes, a equipe rubro-negra teve pela frente o Cobreloa, que apostava mais na garra e na pancadaria para conquistar o inédito título. No duelo de ida, o Flamengo venceu por 2 a 1 (dois gols de Zico) e foi até Santiago enfrentar os mais de 60 mil torcedores no Estádio Nacional – que ainda carregava o peso de seus tempos de campo de concentração e a pressão do governo ditatorial de Pinochet, que dizia que o Cobreloa era a “pátria chilena de chuteiras”.

Os donos da casa venceram por 1 a 0 e bateram sem dó nos brasileiros graças à arbitragem conivente, que nada fez para coibir as agressões desferidas por Mario Soto, capitão do Cobreloa, que entrou munido de uma pedra e deixou marcas em Adílio (teve um corte no supercílio), Lico (teve a orelha cortada) e Tita (foi atingido no olho). “A gente não sabe até hoje se foi uma pedra ou um anel, mas era com certeza um objeto cortante. Talvez uma lâmina de barbear. […] Quando o juiz chegou perto, ele já não tinha mais nada na mão. E o árbitro mandava o lance seguir”, comentou o lateral-esquerdo Júnior, um dos craques daquela equipe, ao portal Terra em fevereiro de 2009.

Para a partida desempate, em Montevidéu, que aconteceu apenas três dias depois, o Flamengo estava irado. Os rubro-negros queriam a revanche na bola e na raça. Com isso, Carpegiani armou seu time pra frente, deslocou Leandro para o meio e fez um acordo com os jogadores. Quando a partida estivesse garantida – eles sabiam que eram muito melhores que o Cobreloa – haveria a desforra para revidar a selvageria dos chilenos. Quando a bola rolou, o Flamengo se impôs, controlou as ações e abriu o placar com Zico, no primeiro tempo, aproveitando uma bola recebida dentro da área chilena. Os chilenos continuaram batendo nos brasileiros, mas se deram mal: Jiménez e Alarcón foram expulsos ainda no primeiro tempo, destroçando completamente o meio de campo chileno. Andrade também acabou expulso mesmo sem ter cartão amarelo numa forma de o árbitro “equilibrar as coisas”, segundo o próprio Andrade comentou anos depois. Mais tranquilo e com um jogador a mais, o Flamengo não deixou o Cobreloa ver a bola, e, aos 34’, Zico cobrou falta da entrada da área do jeito que ele mais gostava e fez um golaço: 2 a 0. O título já estava garantido.

O flagra de Anselmo acertando o chileno Soto.

 

Faltando poucos minutos para o fim, Carpegiani chamou Anselmo para o lugar do atacante Nunes e disse: “Entra lá e dá uma porrada no cara!”. Dito e feito. O reserva entrou, desferiu um soco no capitão chileno e saiu correndo. O árbitro não viu, mas o bandeirinha sim. O jogo ficou paralisado, houve confusão e um dirigente do Flamengo apanhou de policiais – ele acabou sendo salvo por um jornalista uruguaio. Soto e Anselmo foram expulsos, o jogo teve mais alguns minutos e o árbitro encerrou o duelo, que acabou mais calmo e sem problemas. Para o bem do futebol, o Flamengo era campeão da América de 1981. 

Na volta para casa, a torcida fez uma festa impressionante pelas ruas do Rio e Anselmo foi recebido como um herói pela vingança e pelo golpe que todo flamenguista queria ter dado no caudilho Soto. “Anselmo deu o soco que todos queríamos ter dado. Já estava tudo armado desde a véspera, e ele cumpriu sua parte com perfeição. Primeiro decidimos a parada na bola e depois, nos últimos minutos, iríamos à forra também na briga”, disse Júnior ao jornal O Globo de 24 de novembro de 1981. Anselmo também comentou à reportagem sobre aquele episódio. “Entrei e cumpri o que me fora determinado. Pensando, assim, de cabeça fria, não faria de novo. Mas, conhecendo-me bem quando eu estou nervoso, acho que daria um soco, sim. Infelizmente, a Libertadores não é só futebol”. Em dezembro, o Flamengo viajou até Tóquio para enfrentar o Liverpool, venceu por 3 a 0 na bola (sem violência alguma) e faturou o título mundial. Leia mais clicando aqui.

 

3º Atlético Nacional-COL x Olimpia-PAR – 1989

Por que está aqui: o maior esquadrão da história do futebol colombiano desde o Millonarios de Pedernera, Di Stéfano e companhia contra um dos mais competitivos times que o Olimpia já formou. Futebol bem jogado. Muita técnica. Nada de pancadaria ou lances sujos. Paixão de torcidas tanto na ida quanto na volta, e principalmente na Colômbia, quando milhares de torcedores do Atlético Nacional viajaram até Bogotá para apoiar seu time. No tempo normal, vitória verdolaga por 2 a 0, com shows individuais e loucuras de Higuita. E, na decisão por pênaltis, uma angústia imensurável, daquelas para lotar os setores de cardiologia dos hospitais. Os jogadores foram chutando e a definição ficava cada vez mais longe. Culpa da má pontaria. E de Higuita, um gigante que defendeu quatro cobranças. Foram 17 chutes até que Leonel Álvarez anotou o gol da explosão e do título do Atlético Nacional da Libertadores de 1989, o primeiro da história do futebol colombiano. E aquele mesmo time inspirou uma lendária seleção colombiana anos depois.

 

Resultado do primeiro jogo: Olimpia-PAR 2×0 Atlético Nacional-COL

 

Ficha do jogo que decidiu:

Atlético Nacional-COL 2×0 Olimpia-PAR (Atlético Nacional 5×4 Olimpia nos pênaltis)

Data: 31 de maio de 1989

Local: Estádio Nemesio Camacho (El Campín), Bogotá, Colômbia

Juiz: Juan Carlos Loustau (ARG)

Público: 50.000 pessoas

Atlético Nacional-COL: Higuita; Carmona, Perea, Escobar e Gómez; Álvarez, Fajardo (Arboleda), Alexis García e Arango (Pérez); Usuriaga e Tréllez. Técnico: Francisco Maturana.

Olimpia-PAR: Almeida; Miño, Benítez, Chamas e Krausemann; Sanabria, Guasch, Bobadilla (Balbuena) e Neffa (González); Amarilla e Mendoza. Técnico: Luis Cubilla.

Gols: Miño-OLI, contra, aos 1’, e Usuriaga-ATN, aos 20’ do 2º T.

Nos pênaltis, Atlético Nacional 5×4 Olimpia. Escobar, Usuriaga, Tréllez, Higuita e Álvarez fizeram para o Atlético. Alexis García, Pérez, Gómez e Perea perderam. Benítez, Chamas, Mendoza e Amarilla fizeram para o Olimpia. Almeida, González, Guasch, Balbuena e Sanabria perderam.

 

Desde 1978, quando um clube colombiano chegou pela primeira vez a uma final de Libertadores, que a história se repetia: a decisão era disputada… E perdida. Foi assim com o Deportivo Cali, naquela derrota para o Boca Juniors. E foi assim por três anos seguidos com o América de Cali, derrotado pelo Argentinos Juniors, em 1985, pelo River Plate, em 1986, e pelo Peñarol, em 1987. Naquele ano de 1989, lá estava outro clube colombiano. O Atlético Nacional. Era um timaço. Só que eles tinham pela frente o tradicional Olimpia, campeão continental em 1979, vice em 1960 e com um time forte e competitivo. A sina parecia difícil de ser quebrada após a sequência de eventos ruins para os colombianos. Primeiro, a impossibilidade de jogar em casa pelo fato de o estádio verdolaga ser pequeno. Segundo, pela derrota por 2 a 0 na partida de ida, no Paraguai. Só que a torcida alviverde queria reverter aquela história. Foi em peso até Bogotá. Milhares e milhares de torcedores encheram o El Campín.

Usuriaga corre para comemorar: Nacional vivo!

 

E o Atlético retribuiu sua hinchada jogando com fibra uma final angustiante, de nervos à flor da pele. Eles precisavam de dois gols. Fizeram. Mas precisavam de mais um. Não saiu. O jogo acabou indo para os pênaltis. E longas 17 cobranças certamente originaram problemas cardíacos em muita gente na Colômbia. Na marca da cal, um herói “loco” ajudou a transformar Medellín na capital sul-americana do futebol: Higuita. Ele fez o seu gol. E defendeu quatro chutes dos rivais. Quando Álvarez converteu o seu, o 9º do Atlético, enfim a Colômbia tinha um campeão da América. Um título em uma final de “tortura”, como tanto os colombianos gostam de lembrar. E cravada como uma das mais emocionantes da história do torneio. Na volta para casa, o trajeto dos jogadores e comissão técnica do aeroporto até o estádio levou seis horas em meio às ruas cheias de torcedores em Medellín. Uma festa que durou dias, semanas e que foi possível graças a Higuita, Usuriaga, Escobar e todas as estrelas de um Nacional que encheu de orgulho um país inteiro. Leia mais sobre esse jogo clicando aqui.

 

2º Peñarol-URU x River Plate-ARG – 1966

Gonçalves, capitão do Peñarol, e Sarnari, do River. Foto: PasionFutbol.

 

Por que está aqui: faltavam poucos minutos para o fim do jogo em Santiago, no Chile. As arquibancadas viam em campo o exemplo claro da palavra contraste. De um lado, um time em frangalhos, dilacerado. Alguns mostravam já um semblante de quase-choro. Do outro, jogadores em êxtase profundo, contando os segundos para o fim do jogo. Havia choro, também. Mas era choro de alegria. De raiva. De volta por cima. Ao apito do árbitro, a Copa Libertadores da América de 1966 tinha um dono. Um velho dono. Mas um improvável dono: o Peñarol. Em uma das reviravoltas mais surpreendentes e dramáticas de toda a história do torneio, o clube uruguaio foi macho. Raçudo. Teve garra. Perdendo por 2 a 0 no primeiro tempo e sem expectativa alguma de uma virada, viu em um gesto supostamente de deboche do rival a faísca para explodir a famosa garra aurinegra. Foi quando o goleiro Carrizo, ao invés de defender uma bola como qualquer goleiro, resolveu matá-la no peito. Ahh…

Se o estádio Nacional não achou aquilo digno, que diriam os jogadores do Peñarol? Será que os do River Plate não sabiam com quem eles estavam lidando? Mazurkiewicz. Pablo Forlán. Lezcano. Gonçalves. Cortés. Joya. Abbadie. Pedro Rocha. Alberto Spencer. Era um misto de jovens e veteranos que compunham um dos maiores esquadrões do planeta naqueles anos 1960. Que trataram de mostrar a força carbonera. Eles diminuíram. Minutos depois, empataram. Na prorrogação, fizeram um. E mais outro. Virou goleada. Categórica. Única. Histórica. Uma remontada para os livros, filmes e contos. Em campo, como bem disse o capitão Gonçalves, eles deixaram cair as lágrimas da alegria e da euforia. Imagine no Uruguai? Os velhinhos que acompanhavam com os ouvidos grudados em seus radinhos? Os garotos pulando nas ruas? As famílias vibrando e fazendo ecoar o grito de “campeón” pelos bairros de Montevidéu? O Peñarol era o primeiro tricampeão da América. Foi talvez a maior história dos mais de 120 anos do clube. Uma das mais lendárias de toda essa mística e sexagenária Copa Libertadores. E uma das maiores “tragédias” do River Plate, com drásticas consequências para sua torcida.

 

Resultado do primeiro jogo: Peñarol-URU 2×0 River Plate-ARG

Resultado do segundo jogo: River Plate-ARG 3×2 Peñarol-URU

 

Ficha do jogo que decidiu:

Peñarol-URU 4×2 River Plate-ARG

Data: 20 de maio de 1966

Local: Estádio Nacional, Santiago, Chile

Juiz: Claudio Vicuña (CHI)

Público: 39.000 pessoas

Peñarol-URU: Mazurkiewicz; Lezcano; Pablo Forlán e Omar Caetano; Nelson Díaz (T. González, aos 44’ do 1º T) e Néstor Gonçalves; Abbadie, Pedro Rocha, Alberto Spencer, Cortés e Joya. Técnico: Roque Máspoli.

River Plate-ARG: Carrizo; Sainz (Lallana, aos 44’ do 1º T), Matosas, Vieytes e Grispo; Solari, Sarnari e Ermindo Onega; Luis Cubilla, Daniel Onega e Más. Técnico: Renato Cesarini.

Gols: Daniel Onega-RIV, aos 28’, e Solari-RIV, aos 42’ do 1º T; Spencer-PEN, aos 23’, e Matosas (RIV, contra), aos 28’ do 2º T. Spencer, aos 13’ do 1º T da prorrogação; Pedro Rocha-PEN, aos 4’ do 2º T da prorrogação.

 

A Libertadores de 1966 foi a primeira desde sua edição inaugural a contar, também, com clubes vice-campeões nacionais de seus países, mudança que gerou descontentamento das confederações do Brasil e da Colômbia, que protestaram com a Conmebol e não participaram do torneio. Mesmo assim, a competição era fortíssima e contava com o Independiente, bicampeão em 1964 e 1965 (leia mais clicando aqui!), Boca Juniors, Universidad de Chile, Olimpia, Alianza Lima, Nacional e, claro, River Plate e Peñarol. O time argentino mostrava enorme poder de fogo com o atacante Daniel Onega, que viria a ser o maior artilheiro de uma só Libertadores na história com incríveis 17 gols. Além disso, o River tinha um elenco muito equilibrado e a força de sua torcida no Monumental. Do lado uruguaio, o Peñarol queria voltar a uma final e tentar o tricampeonato após a derrota para o Independiente na decisão de 1965. Naquele ano, a equipe aurinegra chegou embalada após eliminar o Santos de Pelé em três duelos eletrizantes, mas sucumbiu diante dos rojos.

Pedro Rocha, ao centro, no primeiro duelo.

 

Tudo levava a crer que seria uma final muito disputada e equilibrada. E realmente foi. No primeiro jogo, em Montevidéu, o Peñarol venceu por 2 a 0 e foi com a vantagem do empate para a partida de volta, em Buenos Aires. No dia do duelo no Monumental, o Peñarol sofreu com o clima criado pelos argentinos. Antes do jogo, o ônibus que iria levar jogadores e comissão técnica até o estádio não apareceu. Com isso, os uruguaios tiveram que se dividir em táxis e carros particulares para ir até o Monumental. Porém, o trânsito estava caótico e as intervenções fecharam cerca de oito quadras antes do estádio. Adivinhe? Sim, eles tiveram que ir a pé até lá, em meio aos torcedores do River. Milagrosamente, eles conseguiram chegar “inteiros”. 

Pedro Rocha marca um dos quatro gols da final.

 

Em campo, a diretoria colocou cadeiras improvisadas em volta do gramado para acomodar tanta gente que havia no Monumental naquele dia. Isso sem qualquer divisão entre os atletas – vale lembrar que o estádio ainda não tinha a estrutura de hoje nem passado pela reforma pré-Copa de 1978. Ou seja, o Peñarol teve que jogar com o inimigo literalmente “no seu pescoço” durante os 90 minutos. Sem contar os policiais que torciam para o River e acertaram Mazurkiewicz e Lezcano com cassetetes. Mesmo em um ambiente tão hostil, o time aurinegro ficou na frente do placar por duas vezes, mas permitiu a virada por 3 a 2 e a realização de um terceiro duelo.

Com sangue nos olhos, os aurinegros queriam a revanche o mais rápido possível. A princípio, o jogo seria realizado 72 horas após o duelo de Buenos Aires, mas, na reunião da Conmebol entre os dirigentes, os argentinos propuseram jogar apenas 48 horas depois, em Santiago, no Chile. A ideia era impossibilitar o descanso dos “viejos” do Peñarol. Mas os uruguaios foram diretos: “juguemos ya”. Esse curto espaço de tempo fez muita gente acreditar que o River iria levar vantagem. Mas quem tinha vantagem, na prática, era o Peñarol. Primeiro: ele estava irado, queria a desforra. Segundo: o clube estava com melhor média de gols na soma dos dois jogos e poderia empatar no tempo normal e na prorrogação que ficaria com o título.

Quando a bola rolou, o River abriu 2 a 0 ainda no primeiro tempo e foi para o intervalo certo de que seria campeão. O Peñarol trabalhou o lado psicológico de seus atletas e focou em tudo o que eles haviam passado na Argentina para reverter aquele placar. Foi então que o experiente goleiro do River, Amadeo Carrizo, acordou o Peñarol. Aos 15’, um levantamento para Spencer resultou em uma cabeçada do equatoriano sem grandes pretensões. A bola foi em direção ao camisa 1 do River, que matou no peito e depois a segurou. O estádio ficou boquiaberto. Rumores foram ouvidos, inclusive na gravação da partida. Como um goleiro, em plena final de campeonato, tinha coragem e audácia de fazer aquilo? Quem mais se enervou foi Spencer, ainda mais após Gonçalves e companhia dizerem a ele que aquilo era uma afronta, uma zombaria, para despertar o equatoriano. E deu certo. Ele diminuiu, aos 23’. Cinco minutos depois, Abbadie surgiu na entrada da área, chutou forte, a bola bateu em Matosas e enganou Carrizo: 2 a 2. O jogo foi para a prorrogação.

E, aos 13’, uma cobrança de falta ensaiada foi ao encontro do lateral Pablo Forlán. O jovem correu, olhou para a área e cruzou para Spencer testar no canto oposto de Carrizo: 3 a 2. Frenesi uruguaia, com invasões de campo, corrida de alegria de Forlán na pista lateral, gritos e mais gritos nas arquibancadas. Os chilenos estavam contagiados pela garra e técnica daquele Peñarol. Na segunda etapa, os avanços aurinegros continuaram diante da incredulidade argentina. Logo aos 4’, Cortés viu Rocha avançar pelo meio da área millonaria. Ele levantou e o Verdugo cabeceou, a bola foi no cantinho e Carrizo aceitou um gol de maneira constrangedora, sem nem pular: 4 a 2. O Peñarol era campeão. Nos minutos que ainda corriam, o esquadrão uruguaio manteve a bola no ataque e, claro, ganhou tempo, agora seu aliado. Era hora de jogar na experiência. Apenas esperar o tricampeonato. O capitão Gonçalves, o eterno capitán, não conseguia segurar as lágrimas. Nem ele nem centenas de milhares de torcedores em todo Uruguai. 

“Joguei os últimos minutos da final de Santiago chorando, pensando naquele velhinho escutando o jogo na rádio e na alegria das crianças. Naquele momento, vinha todo o Uruguai na cabeça.” Néstor “Tito” Gonçalves, capitão do Peñarol em 1966, no livro “Peñarol Campeón del Mundo”, de Silvia Pérez e Luis Prats, Editora Banda Oriental, 2016.

 

Os chamados “viejos” do Peñarol eram tricampeões da América. Já o River, além de perder a final, o título e a chance de acabar com a seca de conquistas, teve que conviver com o surgimento do apelido de “gallinas”, uma alcunha lembrada até hoje pelos rivais. A brincadeira começou em uma partida contra o Banfield, nove dias depois da decisão continental. Os torcedores mandaram a campo uma galinha branca com uma tarja vermelha simbolizando o River. Tiraram uma foto, ela ganhou as manchetes do país e a mania pegou. Leia muito mais sobre essa final clicando aqui. 

 

1º Santos-BRA x Peñarol-URU – 1962

Por que está aqui: dois dos maiores times do século XX frente a frente. Um deles talvez o maior que já existiu: o Santos de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia. O outro, o bicampeão continental e campeão mundial de 1961, o Peñarol de Sasía, Joya, Spencer e Pedro Rocha. Tanto talento em campo rendeu três jogos lendários. O primeiro, em Montevidéu, terminou com vitória santista por 2 a 1 (mesmo sem Pelé, contundido). O segundo, na Vila Belmiro, teve vitória uruguaia por 3 a 2, em duelo conturbado que ficou conhecido como “Noite das Garrafadas”, com briga entre jogadores, trapaças dos uruguaios, polêmicas, torcidas agitadas e todos os ingredientes característicos da Libertadores na época – isso porque ela estava apenas começando!

No terceiro encontro, em Buenos Aires e com direito até a juiz holandês (Leo Horn, um dos mais famosos árbitros dos anos 1950 e 1960), o Santos deu aula com a sua formação mais clássica, mais famosa, aquela que emoldura paredes dos amantes do futebol há mais de meio século e que reside na ponta da língua de qualquer um que ama o futebol arte: Gylmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Dorval; Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Esse foi o time que entrou no Monumental de Núñez, aplicou 3 a 0 no Peñarol – com dois gols de Sua Majestade Pelé – e conquistou a América. Foi o primeiro título de um clube brasileiro. E o início de uma história impressionante de um esquadrão que encantou o mundo por uma década inteira. E que só não emendou mais títulos continentais porque eles precisavam excursionar pelo planeta. A América era pequena demais para eles…

 

Resultado do primeiro jogo: Peñarol-URU 1×2 Santos-BRA

Resultado do segundo jogo: Santos-BRA 2×3 Peñarol-URU

 

Ficha do jogo que decidiu:

Santos-BRA 3×0 Peñarol-URU

Data: 30 de agosto de 1962

Local: Estádio Monumental, Buenos Aires, Argentina

Juiz: Leo Horn (HOL)

Público: 60.000 pessoas

Santos-BRA: Gylmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Dorval; Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Técnico: Lula.

Peñarol-URU: Maidana; Lezcano, Cano, E.González e Matosas; Gonçalves e Caetano; Pedro Rocha, Spencer, Sasía e Joya. Técnico: Béla Guttmann.

Gols: Caetano-PEN, contra, aos 9’ do 1º T; Pelé-SAN, aos 3’ e aos 44’ do 2º T.

 

Campeão nacional e estadual em 1961, o Santos conseguiu a classificação para a Libertadores de 1962 e não teve dificuldades para alcançar a final. Com um time formidável, que tinha nada mais nada menos que sete campeões do mundo pelo Brasil em 1962, o alvinegro tinha talento suficiente para vencer o torneio pela primeira vez. No entanto, seria necessário derrotar o Peñarol, então bicampeão e com Pedro Rocha, Spencer, Caetano, Joya, Gonçalves e Maidana, além do célebre treinador Béla Guttmann. Para piorar, o Santos não tinha Pelé, que tratava de uma contusão desde a Copa do Mundo daquele ano. Mesmo assim, a equipe mostrou força no primeiro jogo, em Montevidéu, e venceu por 2 a 1, com dois gols de Coutinho. Na volta, a Vila Belmiro viu uma partida frenética e maluca. O Peixe precisava apenas do empate, mas Spencer abriu o placar aos 15’, após driblar dois santistas. Dorval empatou pouco tempo depois, em lance individual. Aos 35’, Mengálvio virou para o Santos num petardo de fora da área.

Na segunda etapa, o Peñarol começou com tudo e empatou o jogo com Spencer, aos 3’, após aproveitar cruzamento de Joya. Mas foi aí que começaram as confusões. O goleiro Gylmar foi correndo reclamar com o juiz que Sasía havia lhe atirado terra nos olhos para prejudicar sua visão no lance do gol. O árbitro não marcou nada, e, entre os protestos da torcida, uma garrafa atingiu o bandeirinha Domingo Massaro. Após receber atendimento médico, ele voltou a campo e o jogo recomeçou. Embalado pelo empate, o Peñarol foi pra cima e Sasía virou o jogo, aos 6’, com novo protesto do Santos, que reclamou de falta em Calvet. O jogo ficou paralisado mais algum tempo, houve invasão de campo, e, quando a partida recomeçou, Pagão empatou aos 22’, resultado que dava o título ao Peixe. Antes dos 45 minutos, o árbitro apitou o final do jogo e a festa tomou conta da Vila Belmiro. 

 

A bagunça na Vila.

 

Só que aí tudo mudou. Ao entregar a súmula do jogo à Conmebol, o árbitro Carlos Robles registrou a garrafada no auxiliar, as brigas, as paralisações e que havia terminado o duelo logo após o terceiro gol do Peñarol. Ele informou que o jogo só durou 51 minutos e manteve o cronômetro rodando apenas por temer uma manifestação mais enervada da torcida local. Com isso, o gol de Pagão não valeu e o jogo terminou com vitória dos uruguaios. A igualdade de pontos forçou um terceiro duelo em campo neutro, no estádio Monumental, em Buenos Aires e com arbitragem europeia de Leo Horn. A princípio, o Santos não queria jogar, mas teve que aceitar após o adiamento da partida para 30 de agosto, 28 dias depois do segundo duelo. 

Coutinho e Pelé: dupla decidiu e Santos faturou sua primeira Libertadores.

 

O tempo entre um jogo e outro foi benéfico ao clube brasileiro, que pôde contar com a volta de Pelé e escalar seu time completo. E o que se viu na Argentina foi um passeio alvinegro. O primeiro gol saiu aos 9’, quando Coutinho fez o que quis com os zagueiros uruguaios e chutou forte, cruzado. Caetano tentou tirar, mas acabou empurrando a bola pro gol: 1 a 0. Após um ligeiro equilíbrio no primeiro tempo, o Santos sobrou na segunda etapa. Com as tabelinhas lendárias de Pelé e Coutinho, a zaga do Peñarol se perdeu e não conseguiu frear o ímpeto dos craques brasileiros. Além deles, o time inteiro do Santos controlava as ações pelas pontas, dava combate no meio de campo e não permitia qualquer ofensiva mais clara dos uruguaios. Aos 3’, Pelé fez 2 a 0. O Santos seguiu pressionando, mas o Peñarol se fechou para não levar uma goleada. Só aos 44’ que Pelé encontrou uma brecha no muro aurinegro ao receber de Coutinho na linha de fundo e chutar pro gol: 3 a 0.

 

O time campeão. Em pé: Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar e Mauro Ramos. Agachados: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.

 

Ao apito do árbitro, o Santos era campeão da Libertadores de 1962. Um título mais que justo a um esquadrão mais que imortal, que ainda venceria o Mundial de Clubes em cima do Benfica de Eusébio, conquistaria o bi da América em 1963 e o bicampeonato mundial em cima do Milan de Nereo Rocco. Leia mais clicando aqui.

 

Hors Concours – River Plate-ARG x Boca Juniors-ARG – 2018

Foto: Montagem IF com imagens da Conmebol (arte principal) e Getty Images.

 

Por que está aqui: Foi simplesmente a síntese de toda a história da Copa Libertadores. A final que poderia exemplificar de maneira plena o que é a competição para alguém que não a conhece. Times com torcidas apaixonadas, ensandecidas. Camisas pesadíssimas, lendárias. Estádios icônicos. Catimba. Pressão psicológica. Desorganização. Balbúrdia. Cenas lamentáveis. Dirigentes destrambelhados. Enfim, teve de tudo. Ah: foi o Superclásico a final. O maior dos clássicos nas Américas e um dos maiores do mundo. Isso já diz tudo.

 

Resultado do primeiro jogo: Boca Juniors-ARG 2×2 River Plate-ARG

 

Ficha do jogo que decidiu:

River Plate-ARG 3×1 Boca Juniors-ARG

Data: 09 de dezembro de 2018

Local: Estádio Santiago Bernabéu, Madri, Espanha

Juiz: Andrés Cunha (URU)

Público: 62.282 pessoas

River Plate-ARG: Armani; Montiel (Mayada), Maidana, Pinola e Casco; Enzo Pérez e Ponzio (Quintero); Ignacio Fernández (Zuculini), Exequiel Palacios (Álvarez) e Gonzalo Martínez; Lucas Pratto. Técnico: Matías Biscay (substituto de Marcelo Gallardo, suspenso).

Boca Juniors-ARG: Andrada; Buffarini (Carlos Tevez), Izquierdoz, Magallán e Olaza; Nández, Barrios e Pablo Pérez (Gago); Villa (Jara), Benedetto (Ábila) e Pavón. Técnico: Guillermo Barros Schelotto.

Gols: Benedetto-BOC, aos 43’ do 1º T; Pratto-RIV, aos 22’ do 2º T; Quintero-RIV, aos 3’, e Gonzalo Martínez-RIV, aos 16’ do 2º T da prorrogação.

 

Após a definição das semifinais da Libertadores de 2018, brasileiros e argentinos iriam duelar por um lugar na última final decidida em dois jogos da história da competição. Culpa da Conmebol, que traçou a decisão em jogo único a partir de 2019 e assassinou toda a catarse e festa que só as torcidas sul-americanas conseguem fazer. Por isso, a final de 2018 ganhou uma importância histórica ainda maior. Seria a última da maneira como a conhecemos tão bem por tanto tempo. Do lado brasileiro, Palmeiras e Grêmio queriam ser os protagonistas, expor ao continente uma rivalidade moldada lá nos anos 90 justamente na Libertadores. Mas eles teriam que superar a concorrência dos titãs da Argentina: Boca Juniors e River Plate. Sim, com um de cada lado, havia a chance de uma final portenha.

O presidente argentino Mauricio Macri dizia que uma decisão entre ambos seria “uma loucura, com semanas sem dormir e o risco de o perdedor demorar 20 anos para se recuperar”. Mas, para a felicidade dele e de várias autoridades, a Superfinal parecia mesmo utópica após o Grêmio vencer o invicto River Plate em pleno Monumental no primeiro jogo por 1 a 0. Atual campeão, o tricolor dificilmente perderia a volta em sua arena. Do outro lado, o Palmeiras já não teve tanta sorte: perdeu a ida por 2 a 0 em La Bombonera. 

Porto Alegre, 30 de outubro. Jogo da volta. O Grêmio sai na frente. Confortável, vê a final nítida. Mas Éverton embaça a vista quando perde uma chance clara de fazer 2 a 0. O River aproveita a bobeada e empata. Das tribunas proibidas, o técnico Gallardo (suspenso) vibra. Mais um gol e o River conseguiria a classificação improvável. Faltando pouco para o fim, um pilhado defensor tricolor comete pênalti marcado pelo VAR. Pity Martínez marca. E classifica o River para a final. No dia seguinte, o Palmeiras tentou reverter a vantagem xeneize, mas outra vez sucumbiu e só empatou. Pronto. Estava consolidada a final inédita, antes possível apenas no video game. A maior rivalidade das Américas explícita na decisão da maior competição do continente. Era o Superclásico.

O ápice de uma história centenária, que começou em La Boca, com embates entre vizinhos de bairro, e ganhou o mundo mesmo com a mudança do time Millonario à área nobre de Buenos Aires. A Argentina parou. A imprensa se mobilizou como nunca antes. Mais de 70% dos torcedores do país vestiam as cores daqueles times. Era a final perfeita para encerrar com chave de ouro uma era na Libertadores. Um jogo em La Bombonera. Outro no Monumental. Dois templos do futebol para dois momentos únicos no esporte. Dois eventos de dimensões imensuráveis. E assim seriam até suas consumações. Privilegiados eram as testemunhas oculares e presenciais daquelas finais, aptas a dizer num futuro longínquo “eu vi uma final de Libertadores entre Boca e River”. Bem, parte dela. 

Quintero marca o segundo gol do River: virada millonaria no Bernabéu!

 

Apenas La Bombonera teve o privilégio de ver a decisão dos sonhos em solo argentino. Os nervos estavam tão aflorados, o evento era tão grande, que entorpeceu a cabeça de todos, de torcedores a policiais, passando por dirigentes e presidente da nação. A violência, a negligência, a incompetência e a ignorância destruíram a maior final que a Libertadores poderia ter e o torcedor sonhar. Mais de 60 mil pessoas no Monumental tiveram que voltar para casa no dia do segundo jogo. Um ataque bárbaro ao ônibus do Boca feriu os jogadores xeneizes. E a final virou caso de polícia e vergonha. A Conmebol decidiu mandar a decisão para outro continente: Madri, Espanha, no Santiago Bernabéu. A Copa Libertadores da América virou “Copa Colonizadores da América”. Que piada! Pelo menos tivemos futebol por lá. O River virou pra cima do maior rival e celebrou a Libertadores com mais cara de filme de Hollywood da história. Mesmo com tudo o que aconteceu, ela acabou sendo a maior final de todas, em todos os sentidos. Leia mais sobre ela em um texto super especial feito pelo Imortais clicando aqui.

 

Menções honrosas

 

Peñarol-URU x Olimpia-PAR – 1960

Martínez, capitão do Peñarol em 1961, com a taça do Mundial. Note, à direita, a taça da Libertadores, na época ainda sem a base de madeira de cedro característica. Foto: Conmebol.

 

Na primeira final da história da Libertadores, os aurinegros derrotaram o Olimpia por 1 a 0, em Montevidéu, e seguraram o empate em 1 a 1 em Assunção para levantarem o troféu, que ainda não tinha a famosa base de madeira característica. No ano seguinte, os uruguaios levantaram o bi. Leia mais clicando aqui.

 

Santos-BRA x Boca Juniors-ARG – 1963

O bicampeonato santista na Libertadores foi conquistado com estilo e de maneira inapelável sobre o forte Boca de Rattín, Menéndez, Grillo, Sanfilippo e do brasileiro Orlando. Primeiro, vitória por 3 a 2 no Maracanã, palco tão utilizado pelo peixe naquela época, com dois gols de Coutinho e um de Lima. Na volta, na temida La Bombonera, o Boca abriu o placar, mas Coutinho e Pelé viraram para 2 a 1 e o Santos conquistou o título continental na casa dos xeneizes. Coisa de gente grande…

 

Racing-ARG x Nacional-URU – 1967

Após ver o rival de Avellaneda levantar duas Libertadores em 1964 e 1965, o Racing conquistou sua primeira taça continental com um dos mais lendários times do futebol argentino. “El Equipo de José”, como ficou conhecida a Academia do técnico Juan José Pizutti e de jogadores como Basile, Cejas, Perfumo, Cárdenas, Raffo e Maschio, empatou em 0 a 0 com o Nacional-URU os dois primeiros jogos da decisão e levou a taça na terceira partida, no Chile, após vencer por 2 a 1. O Racing foi o campeão com a maior quantidade de jogos disputados na história: 20 partidas, sendo 14 vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas. No mesmo ano, o time derrotou o fortíssimo Celtic-ESC da época e conquistou o Mundial de Clubes. Leia mais clicando aqui.

 

Nacional-URU x Estudiantes-ARG – 1971

Há três anos que a América só tinha as cores do Estudiantes de Juan Ramón Verón, tricampeão consecutivo usando métodos nada convencionais para levantar seus títulos. Foi então que, em 1971, o Nacional, ainda na sombra do rival Peñarol (que já tinha três títulos), encontrou o antídoto para acabar com aquela dinastia: um goleiro formidável – o brasileiro Manga – e grandes jogadores em todas as posições, entre eles Ancheta, Espárrago, Luis Cubilla, Artime, Morales e Castillo. O Estudiantes venceu a ida, na Argentina, por 1 a 0. Mas os tricolores venceram os dois jogos seguintes (1 a 0, em Montevidéu, e 2 a 0, em Lima, no Peru) e levantaram pela primeira vez a Libertadores. Na sequência, venceram o Mundial de Clubes em cima do Panathinaikos-GRE, vice-campeão europeu de 1971. Leia mais clicando aqui.

 

Independiente-ARG x Grêmio-BRA – 1984 

Burruchaga, Trossero e Bochini com a Liberta de 1984.

 

No dia 27 de julho, em Porto Alegre, o Olímpico estava lotado para ver uma vitória do Grêmio. Ninguém esperava outro resultado. Talvez, no mais trágico cenário, um empate. No entanto, o que se viu aquele dia foi uma verdadeira aula de futebol do Independiente. O rojo venceu por apenas 1 a 0, mas a quantidade de chances criadas e o futebol jogado por Bochini e companhia foi algo impressionante. Antes mesmo do fim do jogo, o estádio aplaudiu aquele partidaço dos argentinos. Aos jogadores gremistas, restava a certeza de que eram inferiores. Como bem disse Bochini: “quando começou a partida, nos vaiaram. Ao final, as 80 mil pessoas nos aplaudiram em pé. Tínhamos que ter vencido por 5 a 0. Foi um baile”. Foi mesmo. Um monólogo. Uma aula escrita em vermelho. No segundo jogo, o empate sem gols deu o título ao Independiente, o sétimo em sua história em sete finais disputadas. Leia mais clicando aqui.

 

Peñarol-URU x América de Cali-COL – 1987

Restando cerca de um minuto para o apito final, eis que desfez-se a luz. O breu tomou as ruas de Cali, após um corte de energia elétrica na cidade colombiana. Quem acompanhava pelo rádio a final da Libertadores, que acontecia em Santiago, continuou vacinado. O problema é que a maioria dos fanáticos pelo América de Cali estava mesmo antenada através da TV. E diante dos poucos segundos para a glória negada nos anos anteriores, com os dois vice-campeonatos consecutivos, os alvirrubros ansiosos já saíram às ruas para festejar o fim da maldição. Para celebrar a conquista do continente. Entretanto, a energia não tardou a voltar. E ninguém entendeu a gritaria dos rivais. Ninguém podia conceber aqueles homens de aurinegro dando a volta olímpica no Estádio Nacional. Pois aconteceu. No apagar das luzes, literalmente, o Peñarol se sagrou campeão. Num piscar de olhos, suficiente para o chute de Diego Aguirre romper seu caminho rumo às redes, a dois segundos do fim. Donos de um esquadrão bancado pelo Cartel de Cali, os Diablos Rojos tiveram a taça em suas mãos por 119 minutos e 58 segundos do jogo-desempate em Santiago (que aconteceu após vitória do América por 2 a 0 no primeiro jogo e vitória do Peñarol por 2 a 1 no segundo). Leia mais clicando aqui.

 

Colo-Colo-CHI x Olimpia-PAR – 1991

Nunca o Chile havia conquistado a Libertadores. Depois de várias decepções, coube ao Colo-Colo do técnico Mirko Jozic encerrar de vez aquele estigma. Após empate sem gols na partida de ida contra o então campeão continental Olimpia, os chilenos aplicaram um incontestável 3 a 0 nos paraguaios no duelo de volta, no estádio Monumental David Arellano. A festa tomou conta das ruas de Santiago e contagiou o país inteiro justamente um ano depois do fim da ditadura. Um presente para tempos de luz. Leia mais clicando aqui.

 

Vélez Sarsfield-ARG x São Paulo-BRA – 1994

Os tricolores apostavam no tricampeonato consecutivo, uma dinastia que não era vista no continente desde o Independiente dos anos 1970. Após dois jogos equilibrados, a decisão no Morumbi foi para os pênaltis. Parecia o filme de 1992, pensaram os são-paulinos. Mas o final foi diferente. Deu Vélez. De Chilavert. E de Carlos Bianchi, no primeiro título do “Mago das Américas”. Leia mais clicando aqui.

 

Boca Juniors-ARG x Santos-BRA – 2003

Exatos 40 anos depois, Boca e Santos repetiram a decisão de 1963. Os meninos da Vila eram a sensação do torneio, com jogos marcantes e futebol habilidoso. Só que o Boca era o Boca. De Bianchi, Tevez e Delgado. Na ida, em La Bombonera, vitória xeneize por 2 a 0. Na volta, no Morumbi, outra vitória, dessa vez por 3 a 1. E nova festa argentina em solo brasileiro. Foi a vingança pela derrota lá dos anos 1960. Meses depois, o Boca derrotou o Milan de Kaká, Pirlo e companhia e faturou seu terceiro título mundial. Leia mais clicando aqui.

 

Once Caldas-COL x Boca Juniors-ARG – 2004 

Essa quebrou muita casa de aposta e ruiu os mais diversos bolões. Depois de eliminar Santos e São Paulo jogando na retranca fora de casa e na loucura em Manizales, os colombianos chegaram à final contra o Boca, então campeão e com Bianchi, Tevez e companhia. A sorte daquele time estava com os dias contados, todos pensaram. Nunca que eles iriam superar um time tão tarimbado e experiente. Pois aconteceu de novo. Na ida, em La Bombonera, empate em 0 a 0. Na volta, empate em 1 a 1. Nos pênaltis, cobranças grotescas e vitória colombiana por míseros 2 a 0. Once Caldas campeão. Na comemoração, nem a taça resistiu: ela foi quebrada e teve que ser restaurada depois.

 

São Paulo-BRA x Athletico Paranaense-BRA – 2005

Rogério Ceni com a Libertadores de 2005. Foto: Gazeta Press.

 

Foi a primeira final com clubes do mesmo país na história da Libertadores. No duelo de ida, os paranaenses não puderam jogar em sua casa – a Arena da Baixada – por ela não comportar a quantidade mínima de 40 mil pessoas para uma final exigida pela Conmebol. Com isso, o duelo foi disputado no Beira-Rio, em Porto Alegre (RS) e terminou empatado em 1 a 1. Na volta, em um Morumbi pulsante, só deu São Paulo. Amoroso fez 1 a 0 no primeiro tempo. Antes do apito para o intervalo, o Athletico ainda teve um pênalti a seu favor, mas Fabrício chutou na trave. Na segunda etapa, Fabão ampliou, Luizão fez 3 a 0 e Diego Tardelli fechou a goleada: 4 a 0. São Paulo primeiro brasileiro tricampeão da história da Libertadores. E consagração definitiva de Rogério Ceni, o goleiro-artilheiro que marcou incríveis cinco gols naquela edição. Leia mais clicando aqui.

 

Atlético Mineiro-BRA x Olimpia-PAR – 2013

Depois de perder por 2 a 0 no Paraguai, o Atlético contou com a força de sua torcida no Mineirão para reverter a vantagem dos tricampeões continentais. Com um gol no início do segundo tempo e outro no finalzinho, os mineiros fizeram 2 a 0 e levaram o jogo para a prorrogação. Nela, nada de gols, e a decisão foi para os pênaltis. Era a velha cartilha do drama que é tentar o primeiro título da América. O Galo foi forte, acertou todas as suas cobranças e viu o Olimpia errar duas. Vitória por 4 a 3 e título inédito ao time de Ronaldinho, Victor, Jô e companhia. Leia mais clicando aqui.

 

Flamengo-BRA x River Plate-ARG – 2019

Foto: REUTERS / Pilar Olivares.

 

A primeira final única da história da Libertadores colocou frente a frente, de fato, os melhores times do continente. De um lado, o ofensivo Flamengo, em busca de um troféu que não vinha desde 1981. Do outro, o River, então detentor do título e maior dominante da década de 2010. Os argentinos conseguiram travar os rubro-negros durante 88 minutos no estádio Monumental “U”, em Lima, no Peru, e já pensavam na festa com 1 a 0 no placar. Só que o Flamengo não desistiu. E, com dois gols de Gabigol, fez 2 a 1 e faturou o título histórico. No futebol, só acaba quando termina… Leia mais clicando aqui!

 

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Comentários encerrados

7 Comentários

  1. Então foi por isso que o De León estava sangrando na foto levantando o troféu? Pensei que era por causa de algum lance de campo.

    E essa primeira conquista do São Paulo, com 100 mil (ou 120 mil torcedores, vai saber) pulando e vibrando e fazendo com que as estruturas entrassem em ressonância seria surpresa se elas não ficassem todas estouradas depois da partida.

  2. Belo trabalho, Imortais do Futebol. São tantas histórias e tantos esquadrões que ficaram loucos pela América. Acho que podia fazer um trabalho sobre as 10 Maiores Finais da História da Copa do Brasil

Craque Imortal – Grzegorz Lato

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