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Esquadrão Imortal – Flamengo 2022

Em pé: Léo Pereira, Filipe Luís, João Gomes, David Luiz, Thiago Maia e Santos. Agachados: Gabriel Barbosa, Rodinei, Everton Ribeiro, De Arrascaeta e Pedro.

 

Grandes feitos: Campeão Invicto da Copa Libertadores da América (2022) e Campeão da Copa do Brasil (2022). Alcançou a melhor campanha da era moderna da Copa Libertadores (94,9%) e a 2ª melhor campanha da história da competição.

Time-base: Santos; Rodinei, David Luiz (Pablo), Léo Pereira (Fabrício Bruno) e Filipe Luís (Ayrton Lucas); Thiago Maia (Vidal); Everton Ribeiro (Diego Ribas) e João Gomes; De Arrascaeta (Everton Cebolinha / Marinho); Gabriel Barbosa e Pedro. Técnicos: Paulo Sousa (janeiro até junho de 2022) e Dorival Júnior (junho até dezembro de 2022).

 

“Fla das Copas”

 

Por Guilherme Diniz

 

O ano de 2021 terminou de maneira melancólica para o torcedor flamenguista. A tristeza vinha do Uruguai, local onde o rubro-negro perdeu a final da Copa Libertadores para o Palmeiras, mesmo após uma campanha impecável e invicta ao longo da competição. E o time ainda saiu derrotado de maneira trágica, com um erro bizarro de Andreas Pereira que culminou no gol de Deyverson. Em 2022, com a manutenção dos principais atletas do elenco, a esperança era brigar por novos troféus. Só que o time simplesmente não conseguia emendar uma boa sequência de vitórias. E, para piorar, a diretoria batia cabeça na escolha de técnicos e viu o português Paulo Sousa perder a Supercopa do Brasil e o Campeonato Carioca. Em junho, veio a demissão do treinador. E chegou Dorival Júnior. 

O brasileiro, aos poucos, conseguiu arrumar o time. Encontrou uma maneira para Gabigol e Pedro jogarem juntos. E o torcedor ganhou um Flamengo diferente. O Fla das Copas. Letal. Cirúrgico. Especialista em torneios de mata-mata. Não importava o rival, ele combatia e vencia. Foi assim na Copa do Brasil. E foi assim, de maneira plena, na Copa Libertadores, vencida com triunfo por 1 a 0 na final de Guayaquil diante do Athletico-PR com gol do ídolo Gabigol. Não foi apenas um título continental. Foi um título invicto e com o melhor aproveitamento da era moderna da Libertadores: 12 vitórias e um empate. Simplesmente inquestionável. E imortal. É hora de relembrar.

 

Alguém pode explicar como esse time não consegue jogar!?

Foto: Mailson Santana / FFC.

 

O Flamengo começou o ano de 2022 disposto a apagar os vices da temporada anterior com a manutenção da base de seu elenco e a contratação do técnico português Paulo Sousa, que estava na seleção da Polônia e chegou mais uma vez com a esperança de ser o “novo Jorge Jesus” do rubro-negro, que ainda vivia sob os encantos de seu comandante do passado e, por mais que tentasse, não conseguia trazê-lo de volta. Sousa demonstrou muita vontade em dirigir o Fla e pagou sua própria multa contratual para deixar a Polônia. Ele inovou ao comandar treinos com o auxílio de um telão em um dos campos do Ninho do Urubu e realizou várias mudanças táticas – que seriam mais assíduas tempo depois, após a lesão de Bruno Henrique. Porém, jogo a jogo, o treinador não conseguiu a confiança do elenco, expôs sua insatisfação em vários jogos e fracassou nas duas tentativas que teve de levantar uma taça. Primeiro, na Supercopa do Brasil, empatou em 2 a 2 com o Atlético-MG e perdeu o título nos pênaltis por 8 a 7. E, na decisão do Campeonato Carioca, o troféu ficou com o Fluminense após triunfo tricolor por 2 a 0 na ida e empate em 1 a 1 na volta.

Em junho, com uma campanha instável no Brasileirão, o técnico foi demitido pela diretoria. Em 32 jogos, foram 19 vitórias, 7 empates e 6 derrotas, um aproveitamento de 66,7%. Não foi um desempenho ruim, mas pesou bastante o fato de o Flamengo não jogar como a diretoria esperava e ter perdido mais dois títulos. O português lamentou não ter conseguido sucesso no Fla em sua carta de despedida. 

 

“Existem coisas e pessoas que não controlamos, que não conseguimos mostrar, convencer e fazer acreditar que existe um outro caminho. Para se querer verdadeiramente mudar e evoluir no sentido da dimensão do clube, é fundamental todos – sem exceção – rumarem com a mesma confiança e convicção no mesmo caminho”, disse Sousa.

Paulo Sousa não conseguiu convencer e deixou o Fla. Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

 

Precisando de um técnico o mais rápido possível para conduzir a equipe na Libertadores e na Copa do Brasil, o Flamengo contratou Dorival Júnior, que já havia passado pelo clube em outras duas oportunidades – 2012 e 2018 – e vinha de um bom trabalho no Ceará. Dorival era conhecido por unir estrelas e formar equipes bastante competitivas. Seu trabalho mais notável foi no Santos de 2010, campeão da Copa do Brasil e equipe que revelou de vez para o país o atacante Neymar. Sabendo da importância das copas, Dorival não hesitou em formar duas equipes para a sequência da temporada: uma teria os principais nomes do elenco e disputaria as copas. A outra, com um time mesclado, disputaria o Brasileirão, num claro sinal de que o torneio não era prioridade.

 

A mágica do professor

Nas primeiras semanas de trabalho, Dorival Júnior percebeu que o elenco do Flamengo era, claro, um dos melhores do país e não fazia sentido aquele time estar onde estava. Todos poderiam render mais e, no ataque, ele “se deu” uma missão: escalar o Flamengo com Pedro e Gabigol juntos. Desde 2020 que a dupla raramente jogava junta por “terem estilos de jogo iguais” segundo os treinadores que passaram pela Gávea. Mas, no entendimento de Dorival, eles poderiam, sim, jogar juntos. Com os treinamentos, o técnico modificou o estilo de jogo de Gabriel Barbosa para que ele pudesse atuar mais aberto ao invés de centralizado, enquanto Pedro seria o centroavante de ofício, mas que também saía para buscar jogo e atrapalhar os zagueiros. Essa tática seria a grande mágica de Dorival e que tornaria o Flamengo um time extremamente copeiro. O técnico falou sobre isso em entrevista ao podcast Charla e reproduzida no site da ESPN:

 

“Eu sempre ouvia de longe que ‘o Pedro não pode jogar com o Gabriel pelas características, elas não batem, não se cruzam’. Eu achava tudo isso muito estranho”. […] Quando cheguei, falei para o Gabriel: ‘Com quem você jogava no Santos comigo?’, e ele falou: ‘Ricardo Oliveira’. Perguntei: ‘E qual a diferença do Ricardo para o Pedro?’. Logicamente, cada um tem suas particularidades, mas são dois grandes centroavantes, não tenho dúvidas, cada um com seus fundamentos. E eu perguntei: ‘Por que isso não pode acontecer aqui no Flamengo?'”

Dorival (de costas) conversa com Pedro, De Arrascaeta e Gabigol: trio jogou muito e conduziu o Flamengo aos títulos históricos de 2022. Foto: GILVAN DE SOUZA/FLAMENGO

 

Com esse ajuste no ataque, Dorival conseguiu trabalhar o ponto mais vulnerável daquele time: a defesa. Ele conseguiu melhorar o posicionamento dos zagueiros, soube aproveitar a boa fase de Rodinei pela lateral-direita, e, principalmente, o talento do meio-campista João Gomes, que fez uma grande dupla com Thiago Maia na contenção, liberando Everton Ribeiro e De Arrascaeta para a criação. No gol, a escolha preferida era de Santos, ex-Athletico Paranaense, sempre muito regular e acostumado com partidas decisivas. O Fla ainda ganharia o aporte de Arturo Vidal, consagrado no futebol europeu e multicampeão pela seleção chilena; Everton Cebolinha, atacante com grande passagem pelo Grêmio, e o meio-campista chileno Erick Pulgar, ex-Fiorentina. Com muitos bons jogadores, Dorival tinha o material humano necessário para buscar troféus. E ele podia sonhar grande. Dava, sim, para ser campeão das duas copas. 

 

De volta aos eixos

De Arrascaeta vibra: craque foi o grande nome da classificação diante do Galo. Foto: Marcelo Cortes / Flamengo.

 

O primeiro desafio de Dorival foi a etapa das oitavas de final da Copa do Brasil – o rubro-negro havia superado o Altos-PI na fase anterior com duas vitórias (2 a 1 e 2 a 0). O rival era o Atlético-MG, então campeão e “entalado” na garganta dos flamenguistas por causa do revés na Supercopa do Brasil. No primeiro jogo, em Minas, o Atlético venceu por 2 a 1 e a decisão ficou para o Maracanã. Precisando de dois gols para não depender dos pênaltis, o Flamengo venceu por 2 a 0, com dois gols do uruguaio De Arrascaeta, resultado que classificou o time para as quartas de final. Nesse período, o Fla também iniciou sua trajetória nas oitavas de final da Copa Libertadores, competição que a equipe havia superado a fase de grupos com facilidade após cinco vitórias e um empate em seis jogos. 

Contra o Tolima, virou passeio!

 

O Tolima-COL foi o primeiro rival dos brasileiros e o Fla venceu a ida, na Colômbia, por 1 a 0. Na volta, no Maracanã, o Flamengo deu show e goleou os colombianos por 7 a 1, com quatro gols de Pedro, um de Gabigol, um de Matheus França e um contra de Quiñones. Foi depois desse jogo que Dorival Júnior, em entrevista coletiva, rechaçou a dupla Pedro-Gabigol como titulares. “Dois jogadores do nível que nós temos e, de repente, taxaram que não podem jogar juntos… Olha, eu sou muito sincero. São jogadores de altíssimo nível e jogadores de altíssimo nível se entendem. Precisamos que tenham consciência que não vão trabalhar só no ataque, mas também atuar na defesa”, disse Dorival, que acrescentou. 

 

“A retomada da bola passa muito pela atitude do ataque, a que teve e a que terá. Fazendo isso, você pode encaixar grandes jogadores de qualquer forma. É nisso que eu acredito. A disposição deles é que nos fez acreditar que poderia ser possível. Vim para o Flamengo com isso na cabeça, que era possível os dois jogarem juntos. É uma questão de participação e conscientização de cada um.”

 

O Fla era preciso nos ataques, usava com destreza o talento de suas peças ofensivas e se protegia com consciência na defesa. Não levava aqueles gols bobos de antes, a zaga conseguia afastar o perigo nas bolas alçadas e o time era muito mais organizado. Se não encantava a todo momento como insistia a diretoria, era encantador quando atacava. E vencia, o que realmente importava àquela altura. 

 

Hora de demolir!

Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

 

Entre julho e setembro, o Flamengo viveu seu momento mais brilhante de toda a temporada – que seria mais curta e desgastante por causa da Copa do Mundo em novembro. Além de ir bem nas copas, o time se encontrou no Brasileirão e ficou 10 jogos sem perder, somando sete vitórias e três empates, desempenho que melhorou a colocação da equipe que, se não podia mais brigar pelo título por causa da distância para o Palmeiras e o Inter, pelo menos se manteve entre os cinco primeiros colocados. Em agosto, o Fla encarou o Corinthians nas quartas de final da Libertadores e iniciou uma série de jogos decisivos contra o Timão naquele ano. 

No duelo de ida, em Itaquera, Dorival armou sua equipe de maneira inteligente e não sofreu grandes sustos ao longo do jogo. Lá na frente, De Arrascaeta e Gabigol fizeram os gols da enorme vitória por 2 a 0 que deu uma vantagem e tanto para o Fla na partida de volta, no Maracanã tomado por mais de 68 mil pessoas. O jogo foi tenso, mas Pedro, no começo da segunda etapa, marcou o gol da vitória por 1 a 0 que selou a vaga rubro-negra na semifinal. 

Foto: Alexandre Durão / GE

 

Pela Copa do Brasil, o Fla enfrentou o Athletico-PR nas quartas de final. No primeiro jogo, no Maracanã, o time não fez um bom jogo e empatou em 0 a 0. O resultado acendeu o sinal de alerta, afinal, jogar na Arena da Baixada não era nada fácil. Só que o time carioca conseguiu a vitória de maneira especial. No segundo tempo, Rodinei – o lateral fez uma partidaça e vivia um momento espetacular – cruzou e Pedro emendou uma bicicleta para dar a vitória por 1 a 0 e a vaga na semifinal! O placar foi magro, mas um gol daqueles valeu por muitos! 

A obra-prima de Pedro. Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

 

Ainda em agosto, o time carioca encarou o São Paulo pelas semis da competição nacional. Embora o tricolor tenha tido mais volume de jogo, a experiência e organização do Flamengo foram notáveis e determinantes para a vitória. João Gomes, aos 12’, fez 1 a 0. Gabigol, aos 67’, fez 2 a 0. Rodrigo Nestor diminuiu aos 78’ e incendiou o Morumbi. Porém, Everton Cebolinha, nos acréscimos, fez 3 a 1 e esfriou de vez a torcida são-paulina, que percebeu ser muito difícil reverter o placar no Maracanã.

 

APEDROteose!

Toda reverência foi pouco ao atacante Pedro no duelo contra o Vélez. Foto: EFE

 

Antes de jogar a partida de volta das quartas da Copa do Brasil, o Flamengo decidiu seu futuro na Libertadores diante do Vélez Sarsfield-ARG, campeão da América em 1994 e que havia eliminado os compatriotas River Plate e Talleres nas fases anteriores. O duelo de ida foi na Argentina e o Flamengo sabia que pelo menos um empate era fundamental para se manter na briga. Mas o time argentino não deu nem pro gasto. Com uma atuação sensacional, Pedro marcou três gols, Everton Ribeiro fez outro, e o Flamengo fez 4 a 0 em pleno José Amalfitani. O primeiro gol do artilheiro foi clássico, em um toque na bola após cruzamento de Léo Pereira da direita. O segundo veio após passe preciso de Gabigol, com conclusão perfeita na saída do goleiro. E o terceiro surgiu após outro passe de Gabigol, com um tapa na bola de Pedro no canto do goleiro. 

O resultado rendeu imensos elogios até mesmo da imprensa argentina, que exaltou Pedro, dizendo que o atacante teve uma atuação “a la Maradona” naquela noite. O Diário Olé classificou o Flamengo naquele dia como “impossível”. A goleada foi a maior de um visitante em cima de um clube argentino dentro da Argentina em toda a história da Libertadores e também a maior de um visitante em uma fase semifinal de Libertadores. Dias depois, o Flamengo venceu de novo o Vélez – 2 a 1, com mais um gol de Pedro e outro de Marinho – e carimbou sua vaga para a final da Libertadores – a terceira em quatro anos.

Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

 

 

Hat-trick de Pedro foi histórico! Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

 

Com 12 gols, Pedro superou Zico e Gabigol e virou o maior goleador do Flamengo em uma única edição de Libertadores. A boa fase do atacante fez com que ele fosse convocado à seleção brasileira. Tempo depois, ele seria um dos convocados para a Copa do Mundo do Catar. O atacante comentou sobre a importância de Dorival em sua escalada naquela temporada em coletiva de imprensa no dia 20 de setembro de 2022.

 

“A chegada do Dorival foi muito boa para mim. Ele desde o primeiro dia me deu muita confiança, apostou em mim. Falou que se eu voltasse a jogar e a ir bem, eu poderia retornar à Seleção. Aquilo ali me deu ainda mais confiança. Estou muito feliz com essa oportunidade e espero fazer meu melhor para continuar na Seleção e chegar à Copa do Mundo”.

 

Após a vaga na final da Libertadores garantida, o Flamengo despachou o São Paulo da Copa do Brasil com uma vitória por 1 a 0 – gol do meia De Arrascaeta – e garantiu sua vaga na final do torneio. Enfim, o rubro-negro tinha mais duas chances de levantar uma taça em 2022. Era possível vencer as duas. Mas será que tudo iria correr bem? Ou novos fantasmas iriam aparecer?

 

Copa 1 – Tetra do Brasil!

Foto: Sergio Ribas / Reuters.

 

Pela primeira vez na história, os clubes de maiores torcidas do país se encontraram em uma final de Copa do Brasil. O Fla entrou como favorito, muito por causa do histórico recente de triunfos sobre o Timão – em especial nas quartas de final da Libertadores – e também por decidir em casa. O Corinthians se apoiava totalmente no duelo de ida, em Itaquera, e na experiência de Cássio, Fágner, Renato Augusto e Fábio Santos. Na Neo Química Arena, o Flamengo criou várias chances, mas parou no coeso sistema defensivo do Timão e o placar não saiu do zero. O resultado deu relativa vantagem ao Flamengo, que foi para o Rio precisando de uma vitória simples. O favoritismo rubro-negro aumentou ainda mais quando Pedro abriu o placar logo aos 7’. 

Rodinei converteu o pênalti que deu o título ao Flamengo. Foto: André Durão / GE

 

Mas, no segundo tempo, o Corinthians foi pra cima e empatou perto do final do jogo, aos 82’, com Giuliano. Com o 1 a 1, a partida foi para os pênaltis e tudo parecia conspirar a favor do Timão quando Cássio defendeu o primeiro chute dos cariocas, de Filipe Luís. Mas, na sequência, Fagner e Mateus Vital erraram seus chutes, o Flamengo acertou todos, venceu por 6 a 5 e faturou o tetra. De Arrascaeta foi eleito o craque da Copa do Brasil e o Fla faturou mais de R$ 60 milhões com a conquista. O título foi o 4º do clube rubro-negro na competição e serviu como combustível para buscar outro troféu: a Libertadores.

 

Copa 2 – Tricampeões da América!

O Flamengo viajou até Guayaquil, no Equador, para buscar a Glória Eterna e o tricampeonato da Libertadores. O adversário foi o Athletico-PR, comandado por Felipão e que havia eliminado o Palmeiras nas semifinais. Time por time, o Flamengo, claro, era favorito, mas todo cuidado era pouco diante do Furacão. E, quando a bola rolou, a partida foi bem equilibrada. O time paranaense dificultava a saída de bola do Fla e construía jogadas perigosas. Teve duas boas chances de gol, mas não aproveitou. A dupla Pedro e Gabigol não funcionava como esperado e a torcida começava a ficar preocupada – principalmente após Filipe Luís deixar o gramado, aos 20’, por lesão, e ser substituído por Ayrton Lucas. Mas foi exatamente o lateral suplente que trouxe uma boa notícia para o Flamengo. Aos 43’, Pedro Henrique, que já tinha cartão amarelo por falta em Gabigol, acertou Ayrton Lucas com um carrinho e foi expulso.

O Fla das Copas: time se mostrou muito forte do lado direito, com Rodinei em grande fase, Everton Ribeiro o maestro e Arrasca jogando muito e sem lesões. Na frente, dupla Pedro e Gabigol demoliu os rivais.

 

Ficar com um a menos desmontou o sistema defensivo do Athletico e, nos acréscimos do primeiro tempo, Everton Ribeiro tabelou com Rodinei e cruzou de primeira. A bola viajou e encontrou adivinhe quem? Gabigol, o homem das decisões, o senhor América, o único a marcar gols em três finais seguidas de Libertadores – quatro gols em três finais. Foi dele o 1 a 0. Tinha que ser dele. Do artilheiro-símbolo de uma era, de uma geração de campeões. No segundo tempo, com um jogador a mais, o Flamengo controlou o jogo com o que mais sabia fazer: manter a posse de bola. E, com ela em seus pés, o rubro-negro não deixou o Athletico assustar. E, quando o time paranaense assustava, o goleiro Santos garantia a meta intacta, assim como a zaga.

O gol do título tinha que ser dele! Foto: Buda Mendes / Getty Images.

 

Ao apito do árbitro, o Flamengo consolidou o tricampeonato da América e a melhor campanha da era moderna da Libertadores. Foi campeão invicto e registrou o 2º melhor aproveitamento da história do torneio – 94,9% -, atrás apenas dos 100% do Estudiantes em 1969. Porém, os pincharratas disputaram apenas quatro jogos naquele ano, ou seja, não podemos nem comparar com os 13 jogos do Flamengo em 2022. Pedro, com 12 gols, foi o artilheiro da Libertadores, melhor jogador do torneio e eleito tempo depois o Rei da América, prêmio ao melhor jogador do continente em 2022. A seleção do torneio teve ainda seis jogadores do Fla – Santos, David Luiz, Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Pedro e Gabigol – e Dorival Júnior o melhor técnico.

Foto: Luis Acosta / AFP / Getty Images.

 

Na entrega da taça, Diego Alves, Diego Ribas e Everton Ribeiro ergueram, juntos, o troféu, um gesto simbólico de três atletas que marcaram a história recente do clube. Foi a conquista que colocou o Flamengo no rol dos maiores campeões da Libertadores no Brasil e fez do clube o mais bem sucedido em quatro anos na competição. Herói da conquista, Gabigol comentou sobre mais uma Libertadores com a camisa do Fla após o jogo.

 

“Primeiro, agradecer a Deus pela benção, mais um título e mais um gol. Parece o primeiro em final, é sempre especial. Agradecer à minha família pelo apoio, a todo staff do Flamengo e aos jogadores. Foi feita uma grande preparação pra esse jogo e merecíamos sair campeões. Muito feliz, é comemorar bastante porque merecemos”.

 

Foto: Gilvan de Souza / Flamengo

 

Na volta para casa, o Flamengo desfilou pelas ruas do Rio com as duas taças conquistadas e fez uma festa enorme com sua torcida. Na Libertadores, o clube disputou 13 jogos, venceu 12, empatou um, marcou 33 gols, sofreu apenas 8, totalizando 94,9% de aproveitamento. E um detalhe: o rubro-negro venceu todos os jogos da fase de mata-mata! Na Copa do Brasil, foram 10 jogos, 6 vitórias, 3 empates, uma derrota, 13 gols marcados e 5 gols sofridos, aproveitamento de 70%. No Brasileirão, o Flamengo terminou na 5ª colocação, com 62 pontos, sendo 38 jogos, 18 vitórias, 8 empates, 12 derrotas, 60 gols marcados, 39 gols sofridos e 54,4% de aproveitamento. Com uma temporada de sonhos em 2022, a torcida mais uma vez acreditava em voos ainda mais altos em 2023 e, claro, na conquista do Mundial de Clubes da FIFA. Só que os pesadelos voltariam…

 

O preço da incompetência

Flamengo perdeu a final da Copa do Brasil de 2023 para o São Paulo, comandado, adivinhe, por Dorival Júnior! Foto: Ricardo Moreira/Getty Images / Esporte News Mundo

 

Quando um técnico faz o time voltar a jogar bola, recupera o futebol de jogadores, une o grupo e vence dois títulos, qual o caminho natural? Renovar seu contrato, certo? Pois a diretoria simplesmente começou a negociar com o ex-técnico do Corinthians, Vítor Pereira, já em novembro de 2022 e Dorival Júnior deixou o comando do clube no final do ano. O argumento do presidente do clube, Rodolfo Landim, foi que “o Flamengo teve uma queda de desempenho depois que conquistou as duas copas” e que o “final do Brasileirão foi ruim, além de o time ter pouco tempo para entrar nas condições ideais no início do ano”. Uma verdadeira piada! O time estava armado, era vencedor e tinha várias competições de peso no começo do ano. Qual a chance de um novo treinador pegar aquele time e se dar bem? Zero! E adivinhe o que aconteceu? Oras, o Flamengo simplesmente perdeu tudo:

 

  • Perdeu para o Palmeiras a final da Supercopa do Brasil por 4 a 3;
  • Perdeu para o Al-Hilal-ARS por 3 a 2 na semifinal do Mundial de Clubes da FIFA e nem sequer disputou a final. Na consolação do 3º lugar, venceu o Al-Ahly-EGI por 4 a 2;
  • Perdeu para o Independiente Del Valle-EQU a final da Recopa Sul-Americana. Na ida, derrota por 1 a 0. Na volta, venceu por 1 a 0, mas perdeu nos pênaltis por 5 a 4;
  • Perdeu o título do Campeonato Carioca para o Fluminense após vencer a ida por 2 a 0 e perder a volta por 4 a 1;

 

Tudo isso aconteceu com o tão falado Vítor Pereira, que se mostrou um desastre no comando técnico e, claro, foi demitido. Depois dele, a diretoria trouxe Jorge Sampaoli, problemático e uma bomba-relógio. E ele seguiu com a lista de fracassos:

 

  • Eliminação nas oitavas de final da Copa Libertadores para o Olimpia-PAR, após vitória por 1 a 0 em casa e derrota por 3 a 1 no Paraguai;
  • Campanha inconstante no início do Brasileirão;
  • Derrota para o São Paulo na final da Copa do Brasil. Adivinhe quem era o técnico do tricolor? Dorival Júnior…

 

De fato, o ano de 2023 foi melancólico para o Flamengo e o torcedor não acreditou como uma temporada que tinha tudo para ser tão próspera terminou tão catastrófica. Foi a consequência de uma ação patética da diretoria, que não acreditou em Dorival e preferiu treinadores estrangeiros e “de grife” (oi?) para comandar seu elenco. Deu no que deu. Com isso, o torcedor ficou nas lembranças do time de 2022, este sim marcado na história pelos títulos, pela imposição e por fazer do Flamengo um dos mais lendários campeões da Libertadores em termos de aproveitamento. O Fla das Copas foi, e sempre será, imortal.

 

Os personagens:

 

Santos: após 11 anos no Athletico, Santos foi contratado pelo Flamengo em 2022 para suprir uma lacuna causada pelas lesões de Diego Alves e da inconstância de Hugo Souza. Com a regularidade demonstrada em temporadas passadas, frieza e boa colocação, fez grandes jogos e foi um dos responsáveis pela baixa média de gols do Fla na campanha da Libertadores e da Copa do Brasil. Foram 37 jogos disputados e 18 deles sem levar gols.

Rodinei: o lateral retornou ao Fla após ser emprestado ao Internacional e viveu a melhor fase da carreira. Com velocidade, cruzamentos precisos, dribles e muita intensidade no ataque, Rodinei participou ativamente das jogadas ofensivas e contribuiu para gols fundamentais, como o tento que abriu o placar contra o Vélez, o golaço de bicicleta de Pedro e a jogada que culminou no gol do título da Libertadores, além de ele marcar o gol de pênalti que deu o título da Copa do Brasil ao Fla. Ele deixou o clube ao final da temporada 2022 para jogar no Olympiacos-GRE.

David Luiz: experiente, o zagueiro chegou em 2021 ao Flamengo para reforçar um setor muito carente do clube e que vivia com baixas dos titulares no departamento médico. Embora estivesse longe de sua melhor forma física, David Luiz melhorou seu rendimento em 2022 e fez jogos muito regulares, principalmente no segundo semestre. Foram 10 partidas na Libertadores, 19 jogos no Brasileirão e 7 jogos na Copa do Brasil. 

Pablo: foi titular em boa parte dos jogos do primeiro semestre, mas perdeu espaço com a chegada de Dorival Júnior. 

Léo Pereira: após muitos altos e baixos, o zagueiro deu a volta por cima em 2022 e fez uma ótima temporada, atuando bem tanto na zaga quanto em suas subidas ao ataque, ora dando passes, ora tentando marcar gols em jogadas aéreas. Léo Pereira disputou 39 jogos em 2022, com dois gols e duas assistências. 

Fabrício Bruno: outro reforço de 2022, o zagueiro também cumpriu muito bem seu papel no setor defensivo do Fla e atuou majoritariamente no time do Brasileirão. Se destacou pela presença física, marcação e saída de bola. 

Filipe Luís: por conta da condição física, foi escalado para os jogos das copas e deu a segurança defensiva pelo lado esquerdo e a qualidade no passe que tanto Dorival Júnior queria. Experiente, foi muito importante na caminhada continental e demonstrou a eficiência de sempre. Na decisão da Libertadores, acabou se contundido, mas o time levou o título e Filipe Luís celebrou sua segunda taça na competição.

Ayrton Lucas: foi reserva de Filipe Luís, mas conseguiu seu espaço em vários jogos, em especial no Brasileirão. Com força no setor ofensivo, mas sem descuidar da zaga, cresceu bastante sob o comando de Dorival Júnior e seguiu em ascensão até a temporada seguinte. Disputou 41 jogos, marcou dois gols e deu seis assistências.

Thiago Maia: após superar uma grave lesão no joelho, o volante retornou com tudo em 2022 e fez uma grande temporada ao lado de João Gomes. Thiago Maia não só deu proteção ao meio de campo como também foi importantíssimo na marcação e na cobertura. Na final da Copa do Brasil, interceptou um chute perigosíssimo de Yuri Alberto que valeu como um gol. Com 45 jogos, Thiago Maia foi um dos atletas que mais jogou no Flamengo em 2022. Algo que ajudou bastante o jogador em sua ascensão foi Dorival Júnior, que havia trabalhado com ele em 2016, no Santos.

Vidal: o chileno chegou com muito alarde e foi um verdadeiro torcedor do Flamengo em campo. Carismático, conquistou a torcida, mas não foi titular absoluto, embora tenha sido importante nos vestiários com palavras de apoio e garra. Disputou 26 jogos e marcou dois gols em 2022.

Everton Ribeiro: o meia já é um dos maiores jogadores da história do Flamengo e demonstrou isso mais uma vez em 2022. Com os passes precisos de sempre, grande visão de jogo e liderança, foi um estandarte na reta final da temporada e atuou em 12 dos 13 jogos do Fla na Libertadores, marcando 4 gols e dando duas assistências, uma delas para o gol do título continental. Na Copa do Brasil, foram 8 jogos e três assistências. Foram 63 jogos em 2022, 7 gols e 10 assistências, além de superar a marca dos 320 jogos pelo Flamengo na carreira.

Diego Ribas: o experiente meio-campista se despediu do Flamengo em 2022 em grande estilo: com mais duas taças em sua galeria. Embora não tenha jogado muito (foram apenas 6 jogos na Libertadores, 5 na Copa do Brasil e 19 jogos no Brasileirão), Diego foi fundamental para o cotidiano e para fortalecer a união do elenco nos momentos decisivos.

João Gomes: cria do clube, o meio-campista fez em 2022 sua melhor temporada na carreira. Com desarmes precisos, passes impecáveis e ampla visão de jogo, foi o motor do meio de campo do Fla. Marcou dois gols em nove jogos na Copa do Brasil e disputou 12 dos 13 jogos do time na Libertadores. Após uma temporada de sonhos, foi jogar no Wolverhampton-ING 

De Arrascaeta: outro lendário ídolo do Flamengo, o uruguaio superou as lesões que o atormentaram em 2021 para jogar o fino em 2022. Com 13 gols e 19 assistências em 56 jogos, o meia acumulou a maior quantidade de partidas pelo Flamengo em toda a sua trajetória pelo clube. Ele faturou a Bola de Prata de 2022, foi eleito para a seleção da Libertadores, para a seleção da América do Sul e ganhou a Bola de Ouro da Copa do Brasil. 

Everton Cebolinha: não foi titular absoluto e oscilou bastante ao longo da temporada. Ainda sim, fez um gol decisivo na semifinal da Copa do Brasil diante do São Paulo e deu cinco assistências em 31 jogos.

Marinho: não teve muitas chances no primeiro semestre sob o comando de Paulo Sousa, mas recuperou a boa forma com Dorival Júnior e teve mais oportunidades. Apostando sempre na velocidade, foi uma alternativa em vários jogos da equipe. Atuou em 43 partidas, marcou seis gols e deu seis assistências.

Gabriel Barbosa: poucos apostavam no sucesso de Gabigol atuando mais aberto no ataque do Flamengo. Muito menos buscando o jogo. Pois o ídolo rubro-negro provou que tinha mesmo estrela e voltou a realizar grandes jogos e ser o craque decisivo de sempre. Gabigol disputou 12 jogos na Libertadores, marcou 6 gols (um deles o gol do título), deu três assistências e se entendeu perfeitamente com Pedro no ataque proposto por Dorival Júnior. No ano, o atacante disputou 63 jogos, marcou 29 gols e deu cinco assistências. Seus números e títulos só comprovam sua importância para a história do Flamengo e para o torcedor. Ele já é um dos maiores nomes do clube em todos os tempos. E isso não é exagero nenhum. 

Pedro: ele precisava de mais tempo de jogo. Mais jogos. Todo mundo sabia disso. E, quando a oportunidade surgiu, ele a agarrou com unhas e dentes. Com um faro artilheiro implacável, posicionamento espetacular e capaz de marcar gols plásticos, Pedro foi o grande nome ofensivo do Flamengo no ano e fundamental para a conquista da Libertadores. Em 13 jogos, Pedro anotou 12 gols e deu duas assistências. Na Copa do Brasil, foram 10 jogos, 3 gols e duas assistências, além de 11 gols em 24 jogos no Brasileirão e 3 gols no Carioca. Pedro terminou a temporada com 29 gols em 59 jogos e também colocou seu nome na história rubro-negra. 

Paulo Sousa e Dorival Júnior (Técnicos): a única boa herança de Paulo Sousa ao Flamengo foi a classificação em primeiro lugar no Grupo H da Libertadores. Fora isso, sobrou falta de sintonia e tino para comandar as feras do elenco. Com Dorival, o time mudou completamente e, aí sim, rendeu o que era esperado. Venceu dois títulos incontestáveis derrotando de maneira categórica seus principais oponentes e parou de sofrer tanto defensivamente como antes. Além disso, soube aproveitar ao máximo a boa fase física de De Arrascaeta e, claro, formou a sonhada dupla Pedro e Gabigol. O resultado não poderia ser outro: fez do Flamengo campeão da América e da Copa do Brasil após 42 jogos, com 25 vitórias, 8 empates, 9 derrotas e 65,9% de aproveitamento. Mesmo assim, deixou o comando do clube, em uma das maiores trapalhadas de cartolas em toda a história do futebol brasileiro. E isso não é exagero nenhum! É só perguntar para qualquer torcedor rubro-negro…

 

 

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