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Técnico Imortal – Sven-Göran Eriksson

Nascimento: 05 de fevereiro de 1948, em Sunne, Suécia. Faleceu em 26 de agosto de 2024.

Clubes que treinou: Degerfors-SUE (1977-1978), IFK Göteborg-SUE (1979-1982), Benfica-POR (1982-1984 e 1989-1992), Roma-ITA (1984-1987), Fiorentina-ITA (1987-1989), Sampdoria-ITA (1992-1997), Lazio-ITA (1997-2001), Seleção da Inglaterra (2001-2006), Manchester City-ING (2007-2008), Seleção do México (2008-2009), Seleção da Costa do Marfim (2010), Leicester City-ING (2010-2011), Guangzhou-CHN (2013-2014), Shanghai SIPG-CHN (2014-2016), Shenzhen-CHN (2016-2017) e Seleção das Filipinas (2018-2019).

Principais títulos por clubes: 1 Division 3 (1978) pelo Degerfors.

1 Copa da UEFA (1981-1982) e 2 Copas da Suécia (1978-1979 e 1981-1982) pelo IFK Göteborg.

3 Campeonatos Portugueses (1982-1983, 1983-1984 e 1990-1991), 1 Taça de Portugal (1982-1983) e 1 Supertaça de Portugal (1989) pelo Benfica.

1 Copa da Itália (1985-1986) pela Roma.

1 Copa da Itália (1993-1994) pela Sampdoria.

1 Recopa da UEFA (1998-1999), 1 Supercopa da UEFA (1999), 1 Campeonato Italiano (1999-2000), 2 Copas da Itália (1997-1998 e 1999-2000) e 2 Supercopas da Itália (1998 e 2000) pela Lazio.

Principais títulos individuais

Técnico do Ano da Série A: 1999-2000

Técnico do Ano da BBC: 2001

 

“O Transformador de Esquadrões”

Por Guilherme Diniz

Ao longo das décadas, ele conseguiu mudar a história de vários times. Pegava uma equipe sem muitas expectativas e a colocava para competir contra os gigantes. Alternando jogos brilhantes com outros mais táticos, por vezes pragmáticos, alcançava resultados surpreendentes. Primeiro, fez um clube sueco ser campeão europeu pela primeira vez, em 1982. Depois, levantou taças pelo Benfica, onde quase foi campeão da Liga dos Campeões da UEFA. Na Itália, brilhou na Roma, na Sampdoria e, em especial, na Lazio, pela qual venceu mais um título europeu, títulos nacionais e comandou o maior esquadrão da história da equipe romana. Estendeu sua carreira ao nível de seleções, comandando uma geração de puro talento da Inglaterra em duas Copas do Mundo, quando acabou vítima do técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari, que eliminou o sueco tanto em 2002 (pelo Brasil) quanto em 2006 (por Portugal). 

Tido como um dos mais talentosos técnicos da história, Sven-Göran Eriksson quebrou paradigmas e foi o mais laureado treinador sueco no futebol, além de ter tido o privilégio de trabalhar com craques do mais alto nível como Torbjörn Nilsson, Falcão, Pagliuca, Gary Neville, Alessandro Nesta, Mihajlovic, Ashley Cole, Beckham, Nedved, Verón, Rooney, Crespo entre outros. É hora de relembrar.

Novos desafios

Sven-Göran Eriksson, o homem que mudou para sempre a história do Göteborg.
 

Nascido em Sunne, pequena cidade sueca, Eriksson cresceu na ainda menor Torsby e começou a jogar futebol no time da cidade, aos 16 anos. Ele permaneceu na equipe do Torsby IF de 1964 até 1971 atuando como lateral-direito. Nesse período, estudou Economia e aliava a vida de jogador com a de professor já em meados de 1972, quando passou a lecionar em Örebro enquanto jogava pelo Karlskoga. Em 1973, após não obter muito sucesso como jogador, Eriksson decidiu se aposentar, e, na sequência, passou a se interessar na carreira de técnico sob influencia de Tord Grip, jogador-treinador do Karlskoga em 1973 e adepto do estilo de jogo inglês dos técnicos Bob Houghton e Roy Hodgson, que começaram a dirigir clubes suecos a partir das décadas de 1970 e 1980. 

Esse estilo consistia no esquema tático 4-4-2, com duas linhas de quatro, marcação por zona, pressão alta, bola longa e muita intensidade, além de não correr riscos desnecessários quando estivesse com a vantagem no placar. Em 1976, Eriksson foi assistente de Grip no Degerfors até seu mentor receber o convite para trabalhar na seleção sueca que disputaria a Copa do Mundo de 1978, o que abriu espaço para Eriksson assumir o comando do clube principal. E, rapidamente, ele conseguiu o acesso para a divisão 2 do futebol nacional. Não demorou muito para outros clubes ficarem sabendo do talento de Eriksson e, em 1979, o IFK Göteborg decidiu contratar o novato treinador mesmo com sua vaga experiência. 

Embora não fosse conhecido, Eriksson ganhou a confiança da diretoria e o treinador incorporou ao elenco profissional jovens das categorias de base como o atacante Dan Corneliusson e o zagueirão Glenn Hysén. Eriksson fez seu time jogar em duas linhas de quatro clássicas, com foco total na marcação sobre pressão e no pouco espaço ao oponente, algo que viraria moda na virada dos anos 1980 e início da década de 1990.

Torbjörn Nilsson e Eriksson, em 1982.
 

Além disso, ele trabalhou bastante a consciência tática dos jogadores e maneiras de evitar a todo custo cartões bobos e faltas duras, tornando o time um dos mais disciplinados do país. Após perder seus três primeiros jogos e até oferecer seu cargo à diretoria (iniciativa coibida pelos próprios jogadores do clube, que encorajaram o treinador a permanecer), Eriksson levou o Göteborg ao vice-campeonato sueco em 1979 (apenas um ponto atrás do campeão, o Halmstads BK) e ao título inédito da Copa da Suécia do mesmo ano, após vencer o Åtvidabergs FF por 6 a 1 na final disputada no estádio Rasunda, em Estocolmo.

O título deu ao Göteborg uma vaga na Recopa da UEFA de 1979-1980, torneio que o clube disputou pela primeira vez. Naquela ocasião, os azuis e brancos eliminaram o Waterford-IRL (2 a 1 no agregado) e o Panionios-GRE (2 a 1 no agregado), mas caíram nas quartas de final diante do Arsenal-ING após derrota por 5 a 1 na Inglaterra e empate sem gols na Suécia. Em 1980, o time voltou a ficar entre os três primeiros no Campeonato Sueco e teve o segundo melhor ataque do torneio com 45 gols em 26 jogos. A terceira colocação na tabela classificou o Göteborg para a Copa da UEFA de 1981-1982. E mal sabiam os escandinavos que aquela competição seria inesquecível para eles.

A glória que mudou tudo

O time de 1982. Em pé: Conny Karlsson, Dan Corneliusson, Ruben Svensson, Torbjörn Nilsson, Glenn Hysén, Glenn Strömberg e o técnico Sven-Göran Eriksson. Agachados: Tord Holmgren, Tommy Holmgren, Thomas Wernersson, Stig Fredriksson e Jerry Carlsson.
 

Em 1981, o Göteborg mais uma vez passou perto do título do Campeonato Sueco e ficou com o vice, quatro pontos atrás do campeão (Östers IF), mas com o melhor ataque (60 gols em 26 jogos), segunda melhor defesa (24 gols sofridos) e ainda o artilheiro do torneio, Torbjörn Nilsson, com 20 gols. Disputado entre abril e outubro daquele ano (o campeonato sueco não compreendia dois anos como a maioria dos torneios europeus), o Göteborg teve um tempo razoável para se preparar com cuidado para a disputa da Copa da UEFA de 1981-1982, que começou em setembro de 1981 e terminaria em maio de 1982.

Os escandinavos começaram o torneio muito bem após eliminar o FC Haka-FIN com duas vitórias (3 a 2 e 4 a 0) e passar pelo Sturm Graz-AUT com um 5 a 4 no placar agregado. Nas oitavas de final, a equipe sueca bateu o Dinamo Bucaresti-ROM por 3 a 1, em casa, com dois gols do artilheiro Torbjörn Nilsson, e venceu por 1 a 0, fora de casa, garantindo a vaga nas quartas de final. O problema é que, para enfrentar seu próximo adversário (o perigoso Valencia-ESP, que vinha de uma recente conquista da Recopa da UEFA de 1979-1980), o Göteborg não tinha dinheiro de viajar até a Espanha por causa de vários problemas internos e uma drástica mudança no corpo administrativo do clube que quase levou os alviazuis à falência. 

A permanência da equipe na competição e o pagamento dos custos da viagem só foram possíveis graças a um empréstimo junto à associação de torcedores do clube, que mostraram enorme fidelidade e paixão pelo bem do Göteborg. Aquela boa ação era apenas uma das muitas que transformaram os torcedores do time azul e branco em seres “intocáveis” e um verdadeiro combustível para o sucesso do clube dali em diante. 

Com as contas pagas, o Göteborg viajou até a Espanha e enfrentou o Valencia e seu imponente estádio Mestalla. A partida foi frenética e os espanhóis abriram o placar logo aos seis minutos, com Arnesen. Aos 13´, Svensson empatou e um minuto depois o atacante Nilsson virou o jogo para os suecos. Aos 18´, Arnesen deixou tudo igual de novo, mas o Göteborg conseguiu segurar o empate e levou um ótimo resultado para a partida de volta, em Gotemburgo. Em casa, mais de 50 mil torcedores lotaram o estádio Nya Ullevi e explodiram de alegria logo aos 4´, quando Tommy Holmgren fez o primeiro gol do jogo. No segundo tempo, Fredriksson, de pênalti, fechou o placar em 2 a 0 e colocou o Göteborg na semifinal.

Nela, a equipe sueca encarou o Kaiserslautern-ALE das lendas Andreas Brehme e Briegel, e empatou em 1 a 1 o primeiro jogo, na Alemanha, com o gol salvador marcado por Corneliusson. Na volta, muito equilíbrio e novo empate em 1 a 1 que forçou a prorrogação. Aos 12´, o lateral Fredriksson foi mais uma vez decisivo e marcou o gol da vitória e da vaga na sonhada final, para delírio dos torcedores no estádio Nya Ullevi.

Na época, a Copa da UEFA era decidida em duas partidas, uma na casa de cada time. O Göteborg faria o primeiro jogo diante de sua torcida contra um adversário extremamente complicado: o Hamburgo-ALE do técnico Ernst Happel e de jogadores como Jakobs, Groh, Félix Magath, Lars Bastrup e Hrubesch, um elenco de peso que conquistaria a Liga dos Campeões da UEFA na temporada seguinte (leia mais clicando aqui). Com mais de 40 mil pessoas no estádio, o Göteborg tentou a todo custo marcar a maior quantidade possível de gols para viajar até a Alemanha com uma boa vantagem, mas o técnico Happel fechou seu time na defesa e parecia satisfeito com o empate sem gols, ainda mais em um campo castigado pela chuva e cheio de lama. Só aos 42´do segundo tempo que Tord Holmgren furou a retranca alemã e fez o único gol do jogo: 1 a 0.

Strömberg domina a bola: ele era o dono do meio de campo do time multicampeão de 1982.
 

Na volta, no Volksparkstadion, quase 60 mil pessoas acreditavam plenamente na virada do Hamburgo e no título continental. Só que aquela gente toda se esqueceu de que haviam suecos bons de bola e um técnico muito inteligente do outro lado. No primeiro tempo, o time escandinavo controlou bem o jogo, se armou na defesa e explorou os contra-ataques com muita precisão. Em um desses momentos, Corneliusson aproveitou um lançamento longo e fuzilou o goleiro Uli Stein para abrir o placar para o Göteborg: 1 a 0. No segundo tempo, com muitos espaços por causa do desespero dos alemães, o time sueco viu sua vida ficar mais fácil e ampliou o placar com autoridade e talento. Após uma brilhante roubada de bola, Nilsson recebeu no ataque e só teve o trabalho de tocar na saída do goleiro para fazer 2 a 0. Quatro minutos depois, Fredriksson, de pênalti, fechou a conta: 3 a 0. Estava escrita a história! 

Festa sueca em plena Alemanha!
 

Pela primeira vez, um clube sueco vencia uma competição europeia. E na casa do adversário, contra todos os prognósticos! Era a consagração do trabalho iniciado lá em 1979 e a vitrine para o continente conhecer o brilhante feito do técnico Eriksson, que armou um time muito competitivo e levantou a Copa da UEFA de maneira invicta: 9 vitórias e três empates em 12 jogos, com destaque para Torbjörn Nilsson, artilheiro da competição com 9 gols.

Estadia em Portugal

Toni e Eriksson.
 

Como sempre acontece no futebol europeu, um técnico que consegue grandes façanhas comandando uma equipe de menor expressão é cobiçado por clubes gigantes. E, com Sven-Göran Eriksson, não foi diferente. O técnico do Göteborg recebeu diversas propostas após o título da Copa da UEFA e optou por comandar o Benfica-POR já no ano de 1982. O sueco teve autonomia para dispensar atletas que não seriam necessários e trouxe como principal reforço o meia/atacante Diamantino, que havia passado pelo clube entre 1977 e 1981, mas estava jogando no Boavista. Com ele atuando ao lado do iugoslavo Filipovic e ainda o ídolo Chalana, o meio-campista Shéu, o zagueiro Humberto Coelho e o goleiro Manuel Bento, o Benfica dominou o Campeonato Português e levantou o título com 22 vitórias, sete empates e uma derrota em 30 jogos, além de 67 gols marcados e apenas 13 sofridos.

Os encarnados ainda venceram o rival Porto no turno – 3 a 1, em casa – , e seguraram o empate fora em 0 a 0. Já em 1983, Eriksson conseguiu outro reforço para o time no meio de campo: Glenn Strömberg, seu ex-jogador nos tempos de Göteborg. A equipe de Lisboa ainda fez grande campanha na Copa da UEFA e Eriksson por pouco não conseguiu levantar o bicampeonato consecutivo por dois clubes diferentes. Na primeira fase, os lisboetas eliminaram o Real Betis-ESP (4 a 2 no agregado) e despacharam o Sporting Lokeren-BEL (4 a 1 no agregado) na segunda fase. Em seguida, bateram o FC Zurique-SUI nas oitavas com um 5 a 1 no agregado. 

Nas quartas, embate duríssimo contra a Roma de Falcão, mas a equipe portuguesa venceu por 2 a 1 em plena capital italiana e empatou em 1 a 1 no estádio da Luz. Nas semis, o Universitatea Craiova-ROM foi um adversário complicado, mas o empate em 1 a 1 na Romênia classificou o Benfica para a final graças ao critério do gol qualificado. Na final, o rival foi o Anderlecht-BEL, que desde os anos 1970 tinha um dos esquadrões mais competitivos da Europa e nomes como Morten Olsen, Ludo Coeck, Franky Vercauteren, Juan Lozano e Erwin Vandenbergh. 

No jogo da ida, em Bruxelas, os belgas venceram por 1 a 0 e obrigaram o Benfica a vencer por dois gols de diferença no estádio da Luz. Shéu, aos 32’, abriu o placar para os portugueses, mas o espanhol Juan Lozano empatou seis minutos depois. O Benfica não teve forças par buscar a vitória e o título ficou mesmo com o time belga. Desapontado, Eriksson comentou sobre o revés ao seu estilo: “A festa acabou cedo com aquele gol de Lozano. Devíamos ter jogado de forma mais inteligente porque os contra-ataques do Anderlecht foram muito fortes. Paciência”.

A volta por cima aconteceu tempo depois, na final da Taça de Portugal de 1982-1983, que foi adiada para 21 de agosto de 1983 por causa de uma briga do Porto com a Federação Portuguesa em relação ao local da decisão. A principio, o jogo seria em Coimbra, mas os portistas queriam que a final fosse no Estádio das Antas, casa dos alviazuis. Depois de muita discussão, a Federação aceitou e o jogo aconteceu no Porto. Mesmo diante de um cenário hostil, o Benfica se impôs e venceu por 1 a 0 (gol de Carlos Manuel), levantando um título histórico.

Bicampeão nacional e ida à Itália

Foto: Alamy
 

Ainda em agosto, o Benfica venceu a Taça Ibérica, torneio que reunia os campeões da Espanha e de Portugal em duelos de ida e volta. O rival dos portugueses foi o Athletic Bilbao, que venceu a partida de ida por 2 a 1 – gols de Sola e De Andrés, com Nené descontando para o Benfica. Na volta, em Lisboa, Nené, duas vezes, e Filipovic fizeram os gols da vitória por 3 a 1 que deu o título aos encarnados. O troféu inspirou a equipe lisboeta a vencer mais um título nacional naquela temporada, com destaque para o ataque: 86 gols em apenas 30 jogos. O Benfica venceu 24, empatou quatro e perdeu dois. Na campanha da Copa dos Campeões da UEFA (atual Liga dos Campeões), os lisboetas superaram o Linfield, da Irlanda do Norte, e o Olympiacos, da Grécia, nas primeiras etapas eliminatórias, mas caíram nas quartas de final para o futuro campeão Liverpool-ING após derrota tanto em Anfield Road (1 a 0) quando no Estádio da Luz (4 a 1). 

Em julho de 1984, Eriksson aceitou um novo desafio e foi comandar a Roma, que tentava se reconstruir após a dolorosa perda do título da Liga dos Campeões da UEFA em casa diante do Liverpool. A Loba ainda tinha grandes nomes no elenco como Sebastiano Nela, Carlo Ancelotti, Toninho Cerezo, Bruno Conti, Falcão, Giannini, Pruzzo e Graziani, mas não conseguiu levantar títulos na temporada 1984-1985. Só em 1985-1986 que Eriksson, mesmo com a saída de Falcão, conseguiu recuperar a competitividade do time e brigou até o fim pelo título da Série A, mas a taça acabou ficando com a Juventus. 

A Roma perdeu muito – oito jogos – enquanto a Juve só sofreu três derrotas em 30 jogos. Por outro lado, a Loba foi a dona do melhor ataque com 53 gols, com Roberto Pruzzo anotando 19 gols. No returno, a Roma venceu a Juve por 3 a 0 em casa, em um jogaço que teve gols de Graziani, Pruzzo e Cerezo. O ponto alto da temporada foi o título da Copa da Itália, que veio após a equipe da capital superar a antiga fase de grupos que havia no torneio e eliminar pelo caminho Atalanta, Internazionale e Fiorentina até derrotar a Sampdoria na final por 3 a 2 no agregado, após derrota na ida por 2 a 1 e vitória em casa por 2 a 0 – gols de Desideri e Cerezo. Já no final da temporada 1986-1987, Eriksson deixou a Roma para treinar a Fiorentina, mas o período em Florença não foi satisfatório e ele retornou ao Benfica em 1989.

Revés europeu e volta por cima

Eriksson já era conhecido dos lisboetas por sua primeira passagem e as grandes melhorias que fez no futebol benfiquista. O meia Diamantino, em entrevista ao site Bola na Rede (POR), em 20 de maio de 2020, comentou sobre o sueco. 

“Eriksson trouxe uma nova metodologia e passamos de um treino convencional para um treino mais específico. Deixamos de correr nas matas, de fazer treinos de conjunto durante duas horas, de andar a correr à volta do campo, subir bancadas. Começamos a fazer um treino que era específico para o futebol e deixamos de fazer o trabalho de força do atletismo. Em seguida, ele revolucionou em termos mentais. Por exemplo, nós jogávamos em Roma, como se jogássemos em casa contra uma equipe mais acessível do nosso campeonato. Em termos técnicos nós éramos muito bons, só faltava encarar todos os adversários da mesma maneira, sabendo que ganharíamos a maioria dos jogos. E foi o que aconteceu, tanto em Portugal como na Europa”.

Eriksson de fato mexeu bastante com o Benfica na época e trouxe de volta naquela temporada a mentalidade copeira e competitiva do time. Adepto de vídeos sobre os rivais, muitas conversas e treinos específicos de jogadas, o sueco queria repetir no Benfica o sucesso que já havia tido naquele começo de década e também pelo IFK Göteborg. Eriksson montou um time muito equilibrado defensivamente e também no meio de campo e viu naquela temporada Magnusson virar o principal homem-gol.

A época começou próspera com o título da Supertaça diante d’Os Belenenses após duas vitórias por 2 a 0 tanto em casa quanto fora. No Campeonato Português, o Benfica travou uma intensa disputa com o rival Porto, mas a derrota para os alviazuis no primeiro turno (1 a 0), o empate no segundo (0 a 0) e a derrota para o Boavista na 31ª rodada minaram o sonho do bicampeonato. A equipe terminou como vice-campeã, quatro pontos atrás do rival, mas teve o melhor ataque – 76 gols em 34 jogos – e a segunda melhor defesa – 18 gols sofridos. 

Eriksson sabia que o alvo do presidente João Santos era o título europeu. Por isso, por mais que o Benfica tenha brigado até o fim pelo caneco nacional, o objetivo era mesmo o título europeu, mesmo com grandes concorrentes pelo caminho. A estreia lisboeta foi contra o Derry City-IRL e a equipe portuguesa venceu a ida, na Irlanda, por 2 a 1 (gols de Ricardo Gomes e Thern). Na volta, no Estádio da Luz, Magnusson, Vata, Ricardo Gomes e Aldair fizeram os gols da goleada de 4 a 0 que classificou os encarnados. Na etapa seguinte, o rival foi o tradicional Budapest Honvéd-HUN. E, de novo, o Benfica deu show: venceu por 2 a 0 a ida, na Hungria (gols de Pacheco e Valdo) e massacrou os húngaros por 7 a 0 na volta (dois gols de César Brito, dois gols de Vata, dois gols de Magnusson e um gol de Abel Campos). 

Vata e o polêmico gol diante do OM.
 

Nas quartas de final, o Dnipro Dnipropetrovsk, da União Soviética, complicou as coisas na partida de ida, em Lisboa, e o Benfica venceu por apenas 1 a 0, gol de pênalti de Magnusson. Mas, na volta, o time português se impôs e venceu por categóricos 3 a 0 (dois gols de Lima e um de Ricardo Gomes), resultado que colocou os encarnados na semifinal. O último desafio antes da decisão era o forte Olympique de Marselha-FRA, que já tinha na época craques como Amoros, Di Meco, Deschamps, Mozer, Tigana, Papin e Francescoli. Uma verdadeira seleção que dominava o futebol francês na época e iria faturar anos depois a Liga dos Campeões da UEFA de 1992-1993. Passar por aquele esquadrão seria um feito e tanto para os benfiquistas. E o time percebeu que seria difícil quando foi derrotado por 2 a 1 na partida de ida, em Marselha, resultado que acabou com o 100% do time na competição.

O técnico Eriksson tratou de entusiasmar seus jogadores e fez valer da força do Estádio da Luz, que no dia do jogo da volta recebeu mais de 120 mil torcedores. A partida foi muito tensa, mas o Benfica precisava de apenas um gol, afinal, na época valia o critério do gol qualificado. E, aos 41’ da segunda etapa, o angolano Vata marcou após bola cruzada na área e o 1 a 0 colocou o Benfica na final. O gol foi polêmico, pois Vata tocou a bola com a mão. Mesmo diante dos protestos dos jogadores franceses, o árbitro Marcel Van Langenhove validou o gol. Polêmicas à parte, o fato era que o Benfica estava em mais uma final europeia. Pela quinta vez, o clube tinha a chance de ser campeão continental. Era tudo ou nada. E até um ídolo do passado iria tentar contribuir pelo fim da maldição.

A final de 1990 seria entre o Benfica de Eriksson e o Milan de Sacchi, então campeão europeu e mundial e maior clube do planeta. Com Maldini, Baresi, Rijkaard, Gullit e Van Basten, o esquadrão rossonero era um time sublime, encantador, estupendo, ou qualquer outro adjetivo que queira usar. Os italianos eram os favoritos não só pela bola que jogava, mas também pela maldição que assolava o Benfica. A fim de quebrá-la, o lendário Eusébio, ex-jogador benfiquista e que estava no time campeão europeu de 1962, fez questão de visitar o túmulo de Béla Guttmann, que estava exatamente em Viena, cidade na qual a decisão iria acontecer. O Pantera Negra rezou diante da lápide de Guttmann e pediu para que a maldição fosse quebrada.

Aldair disputa a bola com Gullit. Foto: Bob Thomas Sports Photography via Getty Images
 
A equipe lisboeta conseguiu segurar o Milan, mas levou um gol na segunda etapa e perdeu a chance do tri.
 

Enquanto o craque fazia sua parte no campo espiritual, Eriksson armou o Benfica no campo real de um modo que Gullit e Van Basten não tocassem na bola como estavam acostumados. O foco era deixá-los impedidos e bloquear os passes vindos do meio de campo rossonero para a dupla fantástica milanista. Quando a bola rolou, a tática deu certo no primeiro tempo. Mas, na segunda etapa, o meio-campista Frank Rijkaard apareceu como elemento surpresa no ataque e marcou o único gol do jogo: 1 a 0. Milan bicampeão consecutivo da Europa. Benfica, pela 5ª vez, vice-campeão. De fato, a maldição era verdadeira. Nem com reza, nem com marcação, nada podia quebrar aquele carma.

Eriksson foi mantido no cargo de técnico do Benfica e o clube recuperou a coroa no Campeonato Português em 1990-1991 mesmo com as saídas de Aldair, Diamantino, Abel Campos e o ídolo Chalana. Rui Águas retornou, voltou a ser artilheiro (anotou 25 gols na Primeira Liga) e os encarnados foram campeões com dois pontos à frente do Porto, registrando 32 vitórias, cinco empates, apenas uma derrota, 89 gols marcados (melhor ataque) e 18 gols sofridos (melhor defesa). O destaque do título foi sem dúvida o triunfo por 2 a 0 sobre os rivais em pleno estádio das Antas, com dois gols de César Brito. 

Retorno à Itália

Foto: Getty Images
 

Em 1992, logo após perder o título da Liga dos Campeões da UEFA para o Barcelona, a Sampdoria precisava de uma mudança após anos fantásticos no futebol italiano e europeu e contratou Eriksson para comandar o time a partir daquela temporada. O sueco não conseguiu conduzir a equipe genovesa aos títulos em seu debute, mas, com mais tempo de trabalho, manteve a sina vencedora e levantou mais um caneco em 1993-1994: a Copa da Itália, conquistada de maneira categórica após a Sampdoria superar Roma, Internazionale e Parma nas fases finais e atropelar o surpreendente Ancona na final com um 6 a 1 na finalíssima, no Stadio Luigi Ferraris. 

Aquele foi o último trofeu da era de ouro do clube, que ainda tinha naquele ano nomes como o goleiro Pagliuca, o zagueirão Vierchowod, o incansável Attilio Lombardo, o inglês David Platt, o meia Evani e o cracaço holandês Ruud Gullit, artilheiro da Sampdoria na temporada 1993-1994 com 17 gols. Com um sistema tático de marcação por zona e explorando bastante o talento ofensivo de seu elenco, Eriksson manteve a Sampdoria competitiva, mas incapaz de brigar pelo título italiano com os rivais da época. A equipe até fez boa campanha na Recopa da UEFA em 1994-1995, eliminou Bodo/Glimt-NOR, Grasshopper-SUI e Porto-POR, mas os italianos foram eliminados pelo Arsenal na semifinal após derrota nos pênaltis em Gênova por 3 a 2. 

1994–95 Unione Calcio Sampdoria
 

Na época 1995-1996, a equipe ganhou o reforço de Enrico Chiesa, artilheiro da Samp na temporada com 22 gols em apenas 27 jogos, mas faltava mais qualidade no meio de campo para o time brigar por títulos. Na Série A, a Samp foi apenas a 8ª colocada, embora tenha o segundo melhor ataque da competição, atrás apenas do campeão Milan de George Weah. Na temporada seguinte, Eriksson perdeu seu artilheiro Chiesa para o Parma, mas a diretoria trouxe Vicenzo Montella, que assumiu o protagonismo do ataque e anotou 24 gols na temporada. A Samp, de novo, foi um dos times mais fortes do futebol italiano, principalmente com a boa fase do argentino Juan Sebastián Verón, mas os troféus não vieram. 

Já em 1997, Eriksson chegou a conversar sobre uma possível transferência para o Blackburn Rovers-ING, mas quem selou um acordo com o sueco foi a Lazio. Eriksson preferiu permanecer na Itália por causa dos filhos e por estar em um complicado processo de divórcio. E o sueco foi para a capital já na temporada 1997-1998, levando consigo o atacante Roberto Mancini e o talentoso defensor Sinisa Mihajlovic. Mal sabia Eriksson que ele iria começar a mais vertiginosa era de sua carreira.

A transformação da Lazio

Roberto Mancini e Sven-Göran Eriksson.
 

Além de levar Roberto Mancini e Mihajlovic (que chegou em 1998-1999) para a Lazio, Eriksson teve importantes reforços que agregaram ainda mais força ao elenco celeste em 1997-1998. A diretoria contratou o volante argentino Matias Almeyda, o lateral Giuseppe Pancaro e o atacante croata Boksic. Com uma base já formada e cheia de talento em todas as posições do campo (o seguro goleiro Marchegiani, os exímios defensores Nesta, Negro e Favalli, e o maestro do meio de campo Pavel Nedved), a Lazio poderia almejar muita coisa naquela época. No Campeonato Italiano, a Biancocelesti ainda não teve forças para competir com a forte Juventus de Del Piero – terminou na 7ª colocação -, no entanto, se em pontos corridos o time não foi bem, em torneios de mata-mata a história foi bem diferente. 

Na Copa da Itália, a celeste eliminou Fidelis Andria, Napoli, a rival Roma (com duas vitórias, 4 a 1 e 2 a 1) e a Juventus até chegar à final contra o Milan. No primeiro jogo, em Milão, vitória rossonera por 1 a 0. Na volta, em Roma, Gottardi, Jugovic e Nesta marcaram os gols da vitória por 3 a 1 que deu o título à Lazio. Fora da Itália, a equipe caminhou a passos largos na Copa da UEFA até chegar a decisão do torneio contra a Internazionale-ITA de Ronaldo e Zamorano. Na partida, disputada em Paris-FRA, o time de Milão não tomou conhecimento da equipe romana e aplicou 3 a 0, com gols de Ronaldo, Zamorano e Zanetti, ficando com o caneco. A derrota, claro, doeu muito para os jogadores e a torcida, mas serviu como experiência e para mostrar que ali surgia mais uma força no futebol italiano.

Em 1998, a Lazio faturou a Supercopa da Itália ao derrotar a Juventus na final por 2 a 1. Naquela temporada, o time se reforçou com as chegadas dos iugoslavos Sinisa Mihajlovic e Dejan Stankovic, do português Fernando Couto, do chileno Marcelo Salas e do italiano Christian Vieri. Com um elenco ótimo, a torcida contava como ganho o título do Campeonato Italiano. Mas o time não levantou o Scudetto por apenas um ponto. Foram 69 pontos ganhos contra 70 do campeão Milan. A Lazio venceu 20 jogos, empatou nove e perdeu cinco, marcando 65 gols e levando 31 (melhor defesa). A frustração foi enorme principalmente depois de a equipe ficar da 11ª até a 27ª rodadas sem saber o que era derrota. Mas os comandados de Eriksson ainda brindaram a fanática torcida celeste com uma taça inédita e histórica naquela temporada.

A glória europeia

Alessandro Nesta, da Lazio, foi o último capitão a erguer a Recopa.
 

Ao final de 1999, a Recopa da UEFA, competição que reunia os vencedores das copas nacionais de diversos países europeus, seria extinta por conta do excesso de competições e de partidas no calendário europeu. A Copa da UEFA, com isso, ganharia mais peso e abrigaria esses campeões de copas a partir de 2000. Por conta desse fator curioso, a Lazio teria a chance de ser a última campeã do torneio que foi, por décadas, o segundo em termos de importância no velho continente.

A equipe estreou na competição contra o Lausanne-Sport-SUI e penou para se classificar. Depois de um empate em 1 a 1 em casa (gol de Nedved), um novo empate em 2 a 2 (gols de Salas e Conceição) garantiu a Lazio na fase seguinte graças aos gols marcados fora de casa. Nas oitavas de final, novo empate em casa contra o Partizan-IUG, mas vitória de virada na Iugoslávia por 3 a 2 (dois gols de Salas e um de Stankovic). Nas quartas de final, enfim, um duelo mais tranquilo contra os gregos do Panionios e duas vitórias: 4 a 0 na Grécia (dois gols de Stankovic, um contra de Gazis e um de Nedved) e 3 a 0 na Itália (gols de Nedved, Stankovic e De la Peña). Na semifinal, mais sufoco, dessa vez contra o Lokomotiv Moscow-RUS. No primeiro jogo, na Rússia, empate em 1 a 1 (gol de Boksic). Na volta, o empate sem gols garantiu a equipe na final.

O time da final. Em pé: Nesta, Vieri, Mihajlovic, Pancaro, Marchegiani e Mancini. Agachados: Stankovic, Favalli, Almeyda, Nedved e Salas. Um timaço!
 
Foto: Arquivo / The Sun / Rex
 

A decisão da última Recopa Europeia da história aconteceu em Birmingham, na Inglaterra, no estádio Villa Park. Mais de 33 mil pessoas acompanharam o duelo entre a Lazio, favorita, e o Mallorca-ESP, comandado por Héctor Cúper. O jogo começou a todo vapor e Vieri abriu o placar para os italianos aos sete minutos, após cruzamento perfeito de Pancaro. Aos 11´, Dani empatou para os espanhóis. Depois de muito equilíbrio, aos 36´do segundo tempo, o craque Nedved fez o gol do título da Lazio e decretou a vitória por 2 a 1. Para a inveja da Roma e para a alegria da torcida celeste, a Lazio era pela primeira vez campeã da Recopa da UEFA. Mais do que isso, tinha a honra de ser o último clube a escrever seu nome no histórico troféu. 

Em agosto, logo no início da temporada 1999-2000, a Lazio já mostrou seu poder de fogo e o quanto queria fazer história em seu centenário. Na final da Supercopa da UEFA, o time venceu o favorito Manchester United por 1 a 0, gol de Salas, e levantou mais uma taça inédita. O troféu serviu para colocar fim a uma suposta crise que poderia chegar depois da tumultuada saída de Vieri do time, que foi vendido para a Internazionale por mais de 30 milhões de libras, um recorde na época. Para o seu lugar, a equipe trouxe o irmão de Filippo Inzaghi, Simone, além dos volantes argentinos Verón e Simeone. Com um meio de campo fantástico, a Lazio tinha como meta ganhar tudo o que disputasse naquela temporada.

Dobradinha nacional

Celebrar um centenário com títulos é bom. Agora, conquistar uma dobradinha vencendo os dois principais torneios do país é demais. E foi exatamente isso que a Lazio fez. Além da Copa da Itália, a equipe faturou o tão sonhado Scudetto, o primeiro desde 1974. Foram 21 vitórias, nove empates e quatro derrotas em 34 jogos, com 64 gols marcados e 33 sofridos. Ao contrário das temporadas anteriores, o time mostrou força na reta final do torneio e ficou da 27ª até a 34ª rodadas sem perder, com destaque para as vitórias sobre a rival Roma por 2 a 1 (gols de Nedved e Verón) e sobre a vice-campeã Juventus, fora de casa, por 1 a 0 (gol de Simeone). O jogo do título foi em casa, na rodada final, com uma vitória por 3 a 0 sobre a Reggina, gols de Inzaghi, Verón e Simeone. Salas foi outra vez o goleador do time com 11 gols, seguido de Verón, com oito, e Mihajlovic e Inzaghi, com sete. 

O torcedor da Lazio era o mais feliz do planeta depois de duas conquistas históricas como presente máximo aos 100 anos do clube. No início da temporada 2000-2001, a Lazio levantou mais uma Supercopa da Itália ao bater a Internazionale por 4 a 3, com dois gols do recém-contratado Claudio López, um de Mihajlovic e um de Stankovic, mas aquela foi a última taça de Eriksson no comando da equipe. O sueco aceitou o desafio de comandar a seleção da Inglaterra e partiu para a terra da rainha em 2001.

Os “quases” pelo English Team

Sven-Göran Eriksson (à esq.), técnico da Inglaterra em 2001.
 

Com uma ascensão notável pela Lazio e títulos inquestionáveis, Sven-Göran Eriksson se tornou, em 2001, o primeiro técnico não-inglês a assumir o comando da seleção inglesa de futebol na história. Era uma missão e tanto para a carreira do sueco, que teve o privilégio de comandar uma das mais talentosas gerações de futebolistas ingleses, afinal, a Inglaterra tinha na época nomes como David Seaman, Gary Neville, Rio Ferdinand, Sol Campbell, Ashley Cole, Steven Gerrard, David Beckham, Paul Scholes, Steve McManaman e Michael Owen

E o primeiro grande cartão de visitas de Eriksson à frente do English Team foi a goleada inapelável de 5 a 1 pra cima da Alemanha em pleno Estádio Olímpico de Munique, em duelo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2002. Só Owen anotou três gols, com Gerrard e Heskey fechando a conta. Foi uma das piores derrotas da Alemanha em todos os tempos e um jogo que colocou a Inglaterra entre as favoritas ao título mundial na Copa da Coreia do Sul e Japão.

No Mundial, os ingleses caíram no chamado “Grupo da Morte”, ao lado de Argentina – favoritíssima ao título na época – Suécia e Nigéria. Na estreia, o English Team empatou em 1 a 1 com a Suécia, e, no segundo jogo, venceu a rival Argentina por 1 a 0. No último jogo, os ingleses empataram sem gols com a Nigéria e os resultados da chave classificaram Suécia (1º lugar) e Inglaterra (2º lugar), ambos com 5 pontos, e eliminaram os argentinos, com 4 pontos. Nas oitavas, a equipe venceu a Dinamarca por 3 a 0 e encarou o Brasil nas quartas de final. 

O jogo foi um dos melhores daquela Copa e a Inglaterra abriu o placar com Michael Owen no primeiro tempo. Perto do final da etapa inicial, o Brasil empatou, em grande jogada de Ronaldinho que terminou em gol de Rivaldo. Na segunda etapa, Ronaldinho marcou um golaço de falta que virou a partida. Minutos depois, o meia brasileiro foi expulso, mas nem isso nem as mudanças do técnico Sven-Göran Eriksson surtiram efeito. Se sobrava eficiência na defesa, faltava talento no ataque inglês, que não tinha um parceiro ideal para Owen (substituído no segundo tempo por Vassell) nem um meia habilidoso o suficiente para costurar a zaga brasileira como fez Ronaldinho. O placar de 2 a 1 classificou o Brasil, que seguiu rumo ao penta.

Os times perfilados.
Inglaterra Em pé: Owen, Campbell, Héskey, Mills, Seaman e Ferdinand. Agachados: Nick Butt, Cole, Beckham, Scholes e Sinclair.
Brasil Em pé: Edmílson, Lúcio, Gilberto Silva, Roque Júnior, Marcos e Cafu. Agachados: Ronaldinho, Ronaldo, Roberto Carlos, Rivaldo e Kléberson.
 
Os times em campo: Brasil avançou seus laterais para fechar os espaços e controlou bem o meio de campo. Expulsão de Ronaldinho assustou, mas equipe manteve a postura e controlou o jogo.
 

Apesar da eliminação, Eriksson deixou o Mundial com crédito e seguiu no comando da Inglaterra já com foco na disputa da Eurocopa de 2004. Ele seguia convicto com seu estilo 4-4-2, a marcação por zona, a guarda das posições sem a bola e explorando a velocidade de Owen e os lançamentos de Beckham. A imprensa inglesa, no entanto, passou a criticar o treinador principalmente após 2004, quando o time inglês caiu bastante de rendimento e não conseguiu mais repetir os bons jogos de 2001 e 2002. Na Eurocopa de 2004, a Inglaterra vencia a França, na estreia, até os 45’ do segundo tempo, mas levou dois gols de Zidane nos acréscimos e acabou derrotara por 2 a 1. 

A volta por cima veio diante da Suíça, com triunfo por 3 a 0 – dois gols de Rooney e um de Gerrard -, e nos 4 a 2 pra cima da Croácia – mais dois gols de Rooney, um de Scholes e outro de Lampard. Nas quartas de final, Eriksson reencontrou Felipão, agora comandando a seleção de Portugal. E o brasileiro mais uma vez derrotou o sueco. Inglaterra e Portugal empataram em 2 a 2. Nos pênaltis, os portugueses venceram por 6 a 5 e seguiram rumo à final. A eliminação abriu caminho para a imprensa acreditar que Eriksson deixaria o comando da seleção, ainda mais com rumores de que o Chelsea queria contratá-lo. No entanto, o sueco permaneceu e conduziu a Inglaterra em mais uma Copa do Mundo, em 2006. 

Em pé: Robinson, John Terry, Ferdinand, Gerrard, Ashley Cole e Lampard. Agachados: Carrick, Beckham, Rooney, Joe Cole e Hargreaves. Nem assim a Inglaterra foi bem na Copa de 2006…
 

Embora tivesse um elenco ainda mais forte do que 2002, a Inglaterra de novo não conseguiu jogar bem. Eriksson não encontrou uma maneira de fazer Lampard e Gerrard jogarem juntos, não conseguiu criar um sistema ofensivo e o English Team fez jogos bem medianos na fase de grupos, quando venceu Paraguai (1 a 0) e Trinidad e Tobago (2 a 0) e empatou com a Suécia em 2 a 2. Classificados na primeira posição, foram para as oitavas de final e venceram o Equador por um magro 1 a 0, até reencontrarem Portugal (e Felipão) nas quartas de final. O jogo foi muito pegado, cheio de faltas e Rooney acabou expulso aos 62’. Sem gols no tempo normal e na prorrogação, a partida foi para os pênaltis. E Portugal venceu de novo: 3 a 1. A eliminação foi o fim da linha para Eriksson, que acabou muito criticado por não dar chances ao atacante do Arsenal, Theo Walcott, e por não esboçar reação diante das adversidades. Ele deixou a Inglaterra com 59% de aproveitamento, sendo 40 vitórias, 17 empates e 10 derrotas em 67 jogos.

Últimos anos e aposentadoria

Foto: Gareth Copley/PA Wire.
 

Após sua saga no English Team, Eriksson ficou um ano sem treinar qualquer clube até assumir o Manchester City, em 2007. Seu início nos Citizens foi bastante promissor, rendendo a ele até o prêmio de melhor técnico da Premier League em agosto de 2007, mas o City caiu de rendimento na sequência da temporada e o treinador deixou o clube já em 2008. Nos anos seguintes, o sueco comandou a seleção do México, entre junho de 2008 e abril de 2009, e foi diretor de futebol do Notts County até 2010, quando assumiu a seleção da Costa do Marfim na Copa do Mundo da África do Sul. 

O treinador tinha a missão de classificar os africanos para as oitavas de final, mas a derrota para o Brasil por 3 a 1 na segunda rodada, somada ao empate sem gols contra Portugal e à vitória sobre a Coreia do Norte por 3 a 0 eliminaram os marfinenses, que ficaram na terceira colocação com 4 pontos, apenas um a menos que Portugal. Meses após o Mundial, Eriksson treinou o Leicester City por um ano – sem grandes resultados -, trabalhou como diretor mais uma vez e foi se aventurar no futebol chinês, onde permaneceu de 2013 até 2017. Em 2018, realizou seu último trabalho na seleção das Filipinas até se aposentar das pranchetas em 2019, aos 71 anos, quando começou a cuidar mais da saúde. Em janeiro de 2024, o sueco anunciou que enfrentava um câncer terminal na região do pâncreas e que teria no máximo mais um ano de vida. 

“Toda a gente compreende que tenho uma doença que não é boa. Todos adivinharam que era câncer e é mesmo. Mas preciso de lutar da maneira que conseguir. Quanto tempo tenho de vida? Talvez um ano no máximo, no pior cenário um bocadinho menos. No melhor, pouco mais. Podem ter a certeza, é melhor nem pensar muito nisso”, disse o ex-treinador. 

A notícia pegou todos de surpresa e muitas homenagens começaram a ser feitas por ex-clubes e ex-jogadores que trabalharam com Eriksson. Mas a maior de todas foi em março, quando o sueco realizou o antigo sonho de dirigir o Liverpool em um amistoso entre lendas do clube contra o Ajax, em Anfield Road. Ele aceitou o convite de Jürgen Klopp e comandou o time por um momento naquela ocasião especial. “Ouvi sobre a admiração e amor pelo Liverpool e que ele (Eriksson) foi um torcedor por toda a vida. Ele é muito bem-vindo para vir aqui e ocupar no meu lugar no meu escritório e fazer o meu trabalho por um dia, se quiser – isso não é problema. Tê-lo aqui e mostrar-lhe tudo e como este maravilhoso clube se desenvolveu ao longo dos anos, acho que isso é definitivamente algo que lhe diremos. Ele pode vir e passar algumas horas maravilhosas aqui, tenho certeza”, comentou Klopp, técnico dos Reds na época, em entrevista ao jornal The Guardian

Eriksson, na coletiva antes do jogo, comentou: “Quando eu era técnico eu sempre sonhei com o Liverpool, mas isso nunca aconteceu. Mas, agora, quando eles pediram, achei que era uma piada, eles contataram o meu filho e eu disse “claro!””. Ao subir para o gramado do Anfield Road com a música ‘You’ll Never Walk Alone’, Eriksson foi aplaudido de pé pelos torcedores e se emocionou. O Liverpool venceu de virada o Ajax por 4 a 2, com gols de Vignal, Cissé, El Zhar e Fernando Torres. 

Eriksson foi ovacionado em Anfield. Foto: Getty Images.
 

“Acho que todos venceram hoje. Foi lindo, absolutamente incrível. Tudo, desde You’ll Never Walk Alone e o resto da partida. A gente chegou a perder por 2 a 0, mas fomos sempre o melhor time, então foi um resultado justo”, comentou o treinador ao final do jogo. 

Quem também ressaltou a presença de Eriksson foi Steven Gerrard, capitão do time de lendas do Liverpool e meio-campista que trabalhou com o sueco na seleção inglesa nos anos 2000. “Sven estar aqui foi especial. Quando soube que ele seria o treinador, fiquei na expectativa para jogar com ele mais uma vez. Ele fez muitas mudanças no intervalo, nos deu mais largura. Ele ainda consegue fazer mágicas”, elogiou.

Em 26 de agosto de 2024, Eriksson acabou falecendo, aos 76 anos, em casa, cercado de amigos e familiares. Com títulos históricos e uma carreira que superou décadas, Sven-Göran Eriksson merecia sorte maior na seleção inglesa, mas ainda sim entrou para a história como um dos mais vencedores e competitivos técnicos de sua geração, além de ter sido o maior técnico sueco de todos os tempos.

Números de destaque:

Comandou o Göteborg em 134 jogos, com 76 vitórias, 34 empates e 24 derrotas, aproveitamento de 56,7%

Comandou o Benfica, entre 1982 e 1984, em 78 jogos, com 57 vitórias, 14 empates, 7 derrotas, aproveitamento de 73%. Na segunda passagem, foram 144 jogos, 94 vitórias, 32 empates e 18 derrotas, aproveitamento de 65,2%

Comandou a Lazio em 136 jogos, com 78 vitórias, 32 empates e 26 derrotas, aproveitamento de 57,3%

Comandou a Seleção da Inglaterra em 67 jogos, com 40 vitórias, 17 empates e 10 derrotas, aproveitamento de 59,7%.


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Um Comentário

  1. Parabéns pelo texto Guilherme pois sven que infelizmente caminha para a eternidade merecia essa homenagem e você a fez em vida o que torna tudo ainda melhor.em poucas palavras um técnico que ganhava muito,perdia muito pouco e aparecia menos ainda.sven eterno.

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