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Craque Imortal – Alessandro Nesta

Foto: Mike Hewitt / Getty Images.

 

Nascimento: 19 de março de 1976, em Roma, Itália.

Posição: Zagueiro

Clubes: Lazio-ITA (1993-2002), Milan-ITA (2002-2012), Montreal Impact-CAN (2012-2014) e Chennaiyin-IND (2014).

Principais títulos por clubes: 1 Recopa da UEFA (1998-1999), 1 Supercopa da UEFA (1999), 1 Campeonato Italiano (1999-2000), 2 Copas da Itália (1997-1998 e 1999-2000) e 1 Supercopa da Itália (2000) pela Lazio.

1 Mundial de Clubes da FIFA (2007), 2 Ligas dos Campeões da UEFA (2002-2003 e 2006-2007), 2 Supercopas da UEFA (2003 e 2007), 2 Campeonatos Italianos (2003-2004 e 2010-2011), 1 Copa da Itália (2002-2003) e 2 Supercopas da Itália (2004 e 2011) pelo Milan.

1 Campeonato Canadense (2013) pelo Montreal Impact.

Principal título por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (2006) pela Itália.

Principais títulos individuais:

Defensor do Ano da Série A: 2000, 2001, 2002 e 2003

Eleito para o Time do Ano da Série A: 2010-2011

Melhor Futebolista Jovem da Série A: 1998

Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 2000

Eleito para Time do Ano da UEFA: 2002, 2003, 2004, 2007

Eleito para o Time do Ano da ESM: 2000-2001

FIFPro World XI: 2005 e 2007

FIFA 100: 2004

Eleito para o Hall da Fama do Milan

Eleito para o Hall da Fama do Futebol Italiano: 2021

UEFA Ultimate Team: 2015

Eleito para o Time dos Sonhos do Milan do Imortais: 2021

 

“A essência da classe na zaga”

 

Por Guilherme Diniz

 

Imagine um zagueiro que conseguia desarmar adversários de maneira artística, plástica. Imagine esse mesmo zagueiro capaz de sair jogando como se fosse um camisa 10, iniciando jogadas ofensivas de cabeça erguida e aplicando dribles nos oponentes. Imagine ainda esse zagueiro jogando de maneira veloz, tendo força de marcação e ainda especialista em carrinhos precisos para tirar a bola dos rivais, muitos, inclusive, dentro da área (!). Pois esse zagueiro existiu. Mais um membro da lendária fábrica de defensores italianos dos anos 1990, Alessandro Nesta foi simplesmente uma lenda da Lazio e do Milan e conquistou fãs no mundo do futebol com um desempenho notável, títulos e atuações que beiravam a perfeição. Embora tenha sofrido bastante com as lesões, quando Alessandro Nesta estava em forma, dificilmente um atacante conseguia passar por ele. E olha que ele encarou alguns dos maiores de todos os tempos nos mais de 20 anos de carreira. É hora de relembrar a carreira dessa lenda do Calcio.

 

Prodígio laziale

Nascido na Cidade Eterna e em uma família de fanáticos torcedores da Lazio, Alessandro Nesta começou a jogar futebol com apenas oito anos, em uma escolinha de futebol da Cinecittà, área leste de Roma. Jogando preferencialmente no meio de campo, Nesta chamou a atenção de vários olheiros na época pela técnica apurada e a impressionante facilidade para desarmar os rivais. Francesco Rocca, célebre olheiro da AS Roma, rapidamente tentou levar o garoto para jogar na Loba e o clube ofereceu cerca de cinco mil euros na época por Nesta. No entanto, quando a notícia chegou aos ouvidos do pai de Nesta, ele recusou a proposta e levou o filho à Lazio, onde o jovem foi aprovado sem contestações e jogou em quase todas as posições do clube. Quando estava no time sub-12, Nesta ainda enfrentou um tal de Francesco Totti em um dos torneios da categoria – mal sabiam aqueles meninos nos imortais que eles iriam se transformar…

Quando foi encaixado como zagueiro pelo técnico Domenico Caso em 1992, Nesta passou a colecionar títulos na equipe de juniores e foi alçado à equipe principal pelo treinador e ex-goleiro Dino Zoff na temporada 1993-1994. Sua estreia aconteceu em março de 1994, em um empate de 2 a 2 contra a Udinese, quando entrou no segundo tempo em substituição a Pierluigi Casiraghi. Tempo depois, Nesta sofreu a primeira lesão na carreira em uma disputa de bola com Paul Gascoigne em um treino. Ele acabou perdendo algumas partidas e só teve uma boa sequência a partir da temporada 1995-1996. Naquela época, a Lazio já tinha alguns emblemas que seriam cruciais para os louros do final da década como o goleiro Marchegiani, o defensor Fuser e o atacante Alen Boksic.

 

Convocações e ascensão

A primeira temporada com mais de 20 jogos disputados pelos profissionais marcou também um ano de afirmação para Nesta com a seleção da Itália. Ele integrou o time sub-21 que venceu o Campeonato Europeu da categoria em 1996. Titular da zaga ao lado de Fabio Cannavaro e jogando com outras feras como Francesco Totti e Christian Vieri, Nesta brilhou e converteu seu pênalti na decisão contra a Espanha de Raúl, que terminou empatada em 1 a 1 e teve vitória italiana na marca da cal por 4 a 2. No mesmo ano, o jovem foi levado por Arrigo Sacchi à Eurocopa da Inglaterra, mas Nesta ficou no banco e viu a Azzurra cair ainda na primeira fase.

 

Uma escalação da Itália sub-21 em 1995. Em pé: Buffon, Ambrosini, Coco, Nesta, Sadotti e Binotto. Agachados: Cammarata, Totti, Baronio, Zanchi e Fiore.

 

Na temporada 1996-1997, o zagueiro seguiu em alta na Lazio e também na seleção, disputando sete jogos nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998. Mas foi em 1997-1998 que o craque deu show. Com 49 jogos disputados e o prêmio de Melhor Jogador Jovem da Série A conquistado, Nesta foi o grande nome defensivo da Lazio que levantou o título da Copa da Itália daquela temporada. Na final, contra o Milan, o camisa 13 ainda marcou o gol do título no triunfo por 3 a 1 na partida decisiva, em um estádio Olímpico tomado por mais de 64 mil pessoas!

Em 1998, Nesta se lesionou e desfalcou a Itália na reta final. Fez falta…

 

Ainda em 1998, Nesta foi convocado para sua primeira Copa do Mundo e formou um verdadeiro paredão ao lado de Cannavaro, Costacurta e Maldini na Azzurra. A Itália empatou em 2 a 2 com o Chile e venceu Camarões por 3 a 0 nos primeiros jogos do Grupo B, até que, no último jogo, na vitória contra a Áustria por 2 a 1, Nesta sofreu uma ruptura nos ligamentos do joelho logo aos 4’ do primeiro tempo que o tirou de ação no Mundial – a Itália acabou eliminada nas quartas de final para a França. Depois de seis meses de recuperação, Nesta iria retornar em dezembro de 1998 em grande estilo: como capitão da Lazio e ao lado de novos companheiros para tempos inesquecíveis na capital italiana.

 

Taças e mais taças!

Nesta e Totti: expoentes de momentos históricos.

 

Na temporada 1998-1999, Nesta voltou a tempo para liderar a Lazio rumo ao título inédito da Recopa da UEFA. Jogando ao lado de craques como Mihajlovic, Almeyda, Roberto Mancini, Stankovic, Nedved, Salas e Vieri, além do comando técnico do sueco Sven-Göran Eriksson, Alessandro Nesta brilhou e foi um dos destaques daquele título continental invicto. Na final, a Lazio venceu o Mallorca-ESP por 2 a 1, com gols de Vieri e Nedved. Tempo depois, a equipe ainda disputou a final da Supercopa da UEFA contra o poderoso Manchester United-ING, campeão da Liga dos Campeões de 1998-1999, e venceu por 1 a 0 (gol de Marcelo Salas), levantando o primeiro título na temporada do centenário do clube – que foi muito especial. Com um timaço, a Lazio venceu o Scudetto e ainda faturou a Copa da Itália, coroando uma temporada 1999-2000 simplesmente espetacular para qualquer torcedor laziali. Entre 2000 e 2002, Nesta venceu ainda por três vezes seguidas o prêmio de melhor defensor da Série A.

O time da final da Recopa. Em pé: Nesta, Vieri, Mihajlovic, Pancaro, Marchegiani e Mancini. Agachados: Stankovic, Favalli, Almeyda, Nedved e Salas. Um timaço!

 

A única decepção do craque nesse período foi na Eurocopa de 2000, quando foi titular na boa seleção montada pelo técnico Dino Zoff e ajudou a Itália a alcançar a final. Porém, a Azzurra perdeu no Gol de Ouro para a França e viu o sonho de um título ruir. Embora tenha ficado com o vice, Nesta foi eleito para o All-Star Team daquela Euro por suas performances impecáveis, em especial contra a Holanda, na semifinal, quando não aliviou para as estrelas Bergkamp, Kluivert e Overmars. Atuando mais centralizado, Nesta comandou as ações defensivas da Itália e foi um virtuose que ajudou a Azzurra a levar apenas quatro gols em seis jogos e ficar três deles sem levar gols.

 

Nova Copa e o início da década rossonera

 

Já consagrado e respeitado, Nesta era cobiçado por vários clubes em 2002. E, convocado para mais uma Copa, na qual foi titular na primeira fase, mas viu outra vez a Itália ser eliminada precocemente, o defensor entrou no radar na janela de transferências. Com a irresponsabilidade financeira dos mandatários da Lazio, o clube não teria condições de manter suas estrelas e teve que negociar vários jogadores – incluindo Nesta. Mesmo a contragosto, o zagueiro teve que deixar o clube e foi sondado pela Inter de Milão e pelo Milan. Na hora de fechar o negócio, o rossonero acabou vencendo a disputa ao pagar cerca de 30 milhões de euros pelo craque. Uma curiosidade é que na apresentação em Milão, Nesta apareceu sem os sorrisos habituais de novos contratados. De cara amarrada, não conseguiu esconder a frustração por deixar seu clube do coração, pois pensava que poderia jogar lá por toda carreira. Mas, de fato, aquela mudança seria boa para ele. Até mesmo a lenda Franco Baresi encheu Alessandro Nesta de elogios, dizendo que o Milan “estaria tranquilo com relação aos seus zagueiros por um bom tempo”.

E, de fato, estaria mesmo. Jogando ao lado de Maldini, Stam, Cafu, Kaladze, Dida, Serginho e companhia, Nesta formou provavelmente uma das maiores linhas defensivas do futebol mundial nos anos 2000. Na temporada 2002-2003, o craque foi absoluto no miolo central do Milan e ajudou o clube a vencer a Liga dos Campeões da UEFA no triunfo sobre a poderosa Juventus na final em Old Trafford. Além de garantir o 0 a 0 no tempo regulamentar, Nesta converteu seu chute na disputa de pênaltis vencida pelo Milan sobre a Juve por 3 a 2. Ele foi mais uma vez eleito o melhor defensor da Série A e também entrou no Time do Ano da UEFA. 

Com desarmes espetaculares, marcação cerrada sobre os rivais e um senso de cobertura e posicionamento raro, Nesta era um zagueiro dos sonhos, elogiado, cobiçado e temido. Vê-lo dando carrinhos dentro da área para tirar a bola de um atacante poderia causar pavor em um desavisado pelo perigo de um pênalti, mas ele era Alessandro Nesta, um perito no assunto tanto quanto seu companheiro Paolo Maldini. Enfrentar o Milan naquela época era tarefa ingrata. E superar a dupla, quase impossível.

Ronaldinho, no auge, tenta passar por Nesta… Aqui não!

 

Na época 2003-2004, Nesta conquistou seu segundo título do Campeonato Italiano na carreira e venceu ainda a Supercopa da UEFA, em triunfo sobre o Porto. Em 2004-2005, o time era favorito a todos os títulos mais uma vez e alcançou a final da UCL. No entanto, mesmo abrindo 3 a 0 sobre o Liverpool no primeiro tempo e com um timaço, o Milan permitiu o empate dos Reds e, nos pênaltis, foi derrotado por 3 a 2 no aclamado Milagre de Istambul. Aquele revés doeu demais. Mas tanto o Milan quanto Nesta iriam dar a volta por cima em pouco tempo e com estilo.

 

Campeão do mundo e novas taças com o Milan

Em 2006, Nesta foi para sua terceira Copa na carreira como um dos principais nomes do esquema do técnico Marcello Lippi. Jogando ao lado de Cannavaro, companheiro de longa data nas equipes de base da Azzurra e também de outros Mundiais, Nesta foi bem nos três jogos da Itália na primeira fase, porém, outra vez o carma da camisa azul atingiu o jogador, que se lesionou na coxa esquerda, aos 17 minutos do primeiro tempo da vitória por 2 a 0 sobre a República Tcheca, e acabou de fora da fase final, abrindo espaço para o companheiro Marco Materazzi. Mesmo sem Nesta, a Itália seguiu irretocável no setor defensivo, levou apenas dois gols em sete jogos (um contra e um de pênalti) e foi campeã do mundo ao bater a França na decisão. Enfim, Nesta conquistou o tão sonhado título pela seleção, que coroou não só sua já brilhante carreira, como também de vários atletas daquela geração de ouro da Azzurra.

 

Nesta deixou sua marca na final do Mundial de Clubes. Foto: Koji Watanabe / Getty Images.

 

Na temporada 2006-2007, Nesta sofreu uma lesão no ombro que o fez abandonar a seleção para poder se recuperar e voltar a jogar em alto nível pelo Milan. Ele fez sua última partida pela Azzurra em outubro de 2006, na vitória sobre a Geórgia por 3 a 1, pelas Eliminatórias para a Eurocopa de 2008. Nesta conseguiu se recuperar e ajudou o Milan a vencer a Liga dos Campeões da UEFA em uma revanche contra o Liverpool. O defensor disputou oito jogos da campanha, incluindo a final, e mais uma vez foi impecável ao lado de Maldini no miolo de zaga. Meses depois, Nesta voltou a marcar um gol em uma final – como nos tempos de Lazio – e deixou sua marca nos 4 a 2 do Milan sobre o Boca Juniors na final do Mundial de Clubes da FIFA, tornando o clube italiano o primeiro tetracampeão mundial da história. Enfim, não faltava mais nada para o craque. Era o topo e a consolidação do zagueiro como um dos maiores da história.

 

Lesões, volta por cima e aposentadoria

A partir de 2008, Nesta passou a enfrentar sérios problemas nas costas que o forçaram a realizar uma cirurgia. Ele ficou um ano sem jogar e nem figurou na lista de atletas do Milan na época 2008-2009. Foi nesse período que o craque, aos 33 anos, cogitou se aposentar. O clube, inclusive, precisava de um veredicto do defensor para pensar no contrato e se iria renová-lo. Mas, na época 2009-2010, o zagueiro voltou e fez uma sólida dupla de zaga com o brasileiro Thiago Silva que ajudou o Milan a vencer já na temporada 2010-2011 o título do Campeonato Italiano, concedendo apenas 24 gols em 38 jogos. Na época 2011-2012, o craque faturou a Supercopa da Itália, mas preferiu não prolongar mais sua trajetória na Série A. Em 10 de maio de 2012, o defensor anunciou sua despedida do Milan após 326 jogos, 10 gols e 10 títulos conquistados.

Entre 2012 e 2013, Nesta se aventurou no futebol canadense e teve tempo de vencer o título nacional pelo Montreal Impact, provando ter estrela. Ao completar 37 anos, o craque anunciou sua aposentadoria dos gramados e só retornou pouco depois, em 2014, para uma breve aparição pelo Chennaiyin, da Índia, na época treinado por Marco Materazzi, seu companheiro de seleção em 2006. Após pendurar as chuteiras, Alessandro Nesta tentou uma carreira de técnico e passou por clubes como Miami FC, Perugia e Frosinone, mas não conseguiu sucesso. Ele é figura constante em eventos do Milan, da FIFA e da UEFA, além de participar de vários eventos pelo mundo do futebol.

Ídolo dos torcedores da Lazio e do Milan, Alessandro Nesta deixou para sempre uma história de glórias, grandes apresentações e excelência na zaga. Com técnica, força, senso de colocação, visão de jogo e velocidade, o defensor teve todas as qualidades necessárias para a posição e foi inspiração para inúmeros zagueiros nos anos 2010 e 2020. Nunca foi fácil encontrar um craque no miolo central. Mas, durante muitos anos, foi fácil ver com a camisa da Lazio, do Milan e da Itália um jogador com tal predicado. E ele foi Alessandro Nesta. Um craque imortal.

 

Números de destaque:

Disputou 261 jogos e marcou três gols pela Lazio.

Disputou 326 jogos e marcou 10 gols pelo Milan.

Disputou 78 jogos pela seleção da Itália. Não marcou gols.

 

Extra:

 

Veja alguns lances memoráveis de Nesta.

 

 

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Excelente. Esse Jogava de terno. Uma Pena que nao conseguiu uma grande sequência em uma Copa, mas isso em nada diminuiu sua importância. Poderia fazer do Robben?

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