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Craque Imortal – Gascoigne

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Nascimento: 27 de Maio de 1967, em Gateshead, Inglaterra.

Posição: Meia

Clubes: Newcastle United-ING (1985-1988), Tottenham Hotspur-ING (1988-1992), Lazio-ITA (1992-1995), Rangers-ESC (1995-1998), Middlesbrough-ING (1998-2000), Everton-ING (2000-2002), Burnley-ING (2002), Gansu Tianma-CHN (2003) e Boston United-EUA (2004).

Principais títulos por clube:

1 Copa da Inglaterra Sub-18 (1984-1985) pelo Newcastle United.

1 Copa da Inglaterra (1990-1991) pelo Tottenham Hotspur.

2 Campeonatos Escoceses (1995-1996 e 1996-1997), 1 Copa da Escócia (1995-1996) e 1 Copa da Liga da Escócia (1995-1996) pelo Rangers.

Principais títulos por seleção: 1 Copa Rous (1989) pela Inglaterra.

 

Principais títulos individuais:

Melhor Jogador Jovem pela PFA: 1988

Eleito para o Time do Ano da PFA: 1988 e 1991

Eleito Personalidade do Ano nos Esportes pela BBC: 1990

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1990

Premiado pelo Goal of the Season da BBC: 1991

Eleito pelos jogadores da Liga Escocesa o Jogador do Ano: 1996

Eleito pelos jornalistas escoceses o Jogador do Ano: 1996

Eleito para a Seleção da Eurocopa: 1996

Eleito o 89º Craque do Século XX pela revista Placar: 1999

Eleito o 85º entre os 100 Maiores Craques da Copa do Mundo pela revista Placar: 2006

Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal inglês Sunday Times

Eleito para o Hal da Fama do Futebol Inglês: 2002

Eleito para o Hall da Fama do Rangers F.C.: 2006

Eleito para a Seleção dos Sonhos da Inglaterra do Imortais: 2020

 

 “Beberrão, craque e sensível”

Por Guilherme Diniz

O que Cantona, George Best e Heleno de Freitas têm em comum? Sim, foram craques em seus auges e decidiram jogos sozinhos, mas ficaram marcados, também, pelo comportamento fora de campo por conta de polêmicas, brigas, mulheres e bebedeiras. Porém, existe um jogador que coloca esse trio e muitos outros craques-problema no chinelo fácil, fácil: Paul John Gascoigne, ou simplesmente “Gazza”, um dos maiores jogadores do futebol mundial em todos os tempos, estrela maior da seleção inglesa no começo dos anos 90 e um ícone do esporte e dos tabloides naqueles anos. Energético, carismático, fanfarrão e, lá no fundo, sensível, Gazza fez história por aliar um talento magnífico com a bola nos pés e uma personalidade autodestrutiva ao mesmo tempo, conjunto que lhe custou uma carreira apenas breve no futebol. Em seus poucos anos em campo, Gazza marcou gols históricos, fez jogadas de gênio e provou ser um dos maiores mestres em driblar os adversários em velocidade, sempre com cortes curtos e precisos, em direção ao gol. Gascoigne tinha um espírito vencedor único, se doava em campo como nenhum outro e vestia a camisa de seu clube ou de sua pátria para a vitória e nada menos que isso.

Foi esse espírito que explicou sua reação ao levar o cartão amarelo mais famoso da história das Copas, em 1990, que o tiraria de uma possível final. Gazza não partiu pra cima do árbitro, não brigou com o adversário muito menos quis chamar a polícia. Ele chorou. Chorou muito. Copiosamente. E, naquele instante de mais pura dor e incapacidade em poder defender seu país em uma hipotética decisão de Copa do Mundo (o que não aconteceu, pois a Inglaterra perdeu para a Alemanha), Gascoigne entrava para sempre no coração dos torcedores ingleses. Uma pena que aquele bonachão tenha se metido em tanta encrenca… É hora de relembrar os feitos e as hilariantes histórias desse mágico (e doido) da bola.

 

Infância difícil

Gascoigne em começo de carreira, no Newcastle. Cara de santo...
Gascoigne em começo de carreira, no Newcastle. Cara de santo…

 

A personalidade de Paul Gascoigne na vida adulta pode ser explicada pela infância complicada que teve em Dunston, no estado de Gateshead, Inglaterra. Segundo dos quatro filhos de John e Carol Gascoigne, o pequeno Paul vivia em um único quarto com uma cama compartilhada e banheiro coletivo de uma moradia social (Council House, muito comum no Reino Unido) junto com seus três irmãos e pais. Seu dia-a-dia era conturbado e Paul tinha que conviver com as brigas de seus pais, a falta de dinheiro e a solidão. As mudanças também eram comuns para ele, que vivia como um nômade. Mesmo com esses problemas, Gascoigne já costumava jogar futebol e voltava para casa sempre sozinho, correndo e com medo. Com apenas 10 anos, viu o irmão mais novo de um amigo morrer atropelado bem à sua frente. Para piorar, seu pai começava a ter constantes ataques epiléticos que o impossibilitava de trabalhar. Com isso, Paul começou a ter cacoetes e vícios em fliperamas que o fazia cometer pequenos furtos para manter sua jogatina. Depois dessas crises, Gascoigne decidiu, aos 15 anos, arranjar um meio de sustentar sua família e viu no futebol a grande chance.

Em 1983, conseguiu uma vaga no Newcastle United e por lá recebeu o apelido de Gazza. Rapidamente, seu talento foi identificado e o jovem foi assumindo a titularidade dos times que integrava. Seu futebol energético, cheio de dribles curtos em direção ao gol e sua vontade de vencer conquistaram a todos. Era apenas uma questão de tempo para o agora adolescente Gascoigne começar a ganhar fama jogando bola. E tentar apagar da memória os tempos difíceis que passara na infância.

 

Talento e problemas

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Gascoigne teve seu primeiro brilho na temporada 1984-1985, quando levou o Newcastle ao título da Copa da Inglaterra juvenil, tendo marcado dois gols na segunda partida da final contra o Watford (um deles um golaço de fora da área). O garoto foi capitão do time e despertou o interesse do técnico da equipe principal do Newcastle, Jack Charlton, que o levou ao time titular do clube. Em 1985, Gazza fez seu debute na liga principal inglesa e começou a se destacar constantemente com suas jogadas de efeito e alguns gols. Porém, da mesma maneira que exibia um talento fantástico, o craque enfrentava problemas com a balança e com seu comportamento.

Já adepto de uns goles e outros, Gazza envolveu-se em vários problemas, como quando atropelou uma pessoa junto com seu companheiro de porre Jimmy Gardner e fugiu. O craque disse que seu carro havia sido roubado antes de confessar o crime. Detalhe: ele não tinha habilitação. Outro caso notável foi quando pegou um trator de jardinagem e dirigiu com a velocidade máxima até a parede do vestiário do Newcastle, pulou e deixou o trator se espatifar contra o muro. O insano Gazza foi multado em 75 libras pelo incidente. A diretoria do Newcastle foi paciente e seguiu dando novas chances ao jovem, que na temporada 1987-1988 foi um dos maiores destaques do futebol inglês. Depois de um leilão entre Manchester e Tottenham, os Spurs contrataram Gascoigne por dois milhões de libras, um valor astronômico para a época. Era hora de mudar de casa. De novo.

 

Estrela

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No Tottenham, Gascoigne começou a mostrar que era, sim, um craque fora de série. Sua habilidade foi ficando cada vez maior, suas arrancadas, fulminantes, e seus dribles irresistíveis. Nas bolas paradas, seus chutes podiam ser venenosos diretos ao gol ou açucarados para os gols dos companheiros. O único problema de Gazza era quando ele ia roubar a bola de um adversário, pois sua vontade era tanta que acabava cometendo faltas, advertidas com cartão amarelo na maioria das vezes. Seu futebol o levou rapidamente para a seleção inglesa, quando virou figura constante das convocações do técnico Bobby Robson. Em 1989, ajudou a Inglaterra a vencer a extinta Copa Rous, com empate sem gols contra o Chile e vitória por 2 a 0 sobre a Escócia. Em 1990, num amistoso contra a Checoslováquia, marcou um gol e participou dos outros três da goleada inglesa por 4 a 2, uma atuação brilhante que praticamente lhe garantiu no mundial da Itália. No auge da forma, jogando muito e sempre carismático, Gascoigne ganhou de presente a convocação para a Copa do Mundo. Era a primeira e maior chance de sua carreira para mostrar seu talento.

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Maestro na Itália

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Ao lado de Peter Shilton, Stuart Pearce, Chris Waddle, John Barnes e Gary Lineker, Gascoigne tinha esperanças de faturar a Copa do Mundo logo em sua primeira participação. Titular absoluto do time, o craque entrou disposto a tudo e não queria nem saber quais adversários teria que enfrentar. Waddle, companheiro de Gazza naquela Copa, comentou em entrevista à Radio Five, em 2010, sobre o espírito competitivo do craque:

“Uma coisa ótima no Gascoigne é que ele não queria saber qual era o adversário e contra quem ele iria jogar. Ele também nem sequer sabia quais seriam os adversários. Quando eu mencionei naquela Copa que iríamos enfrentar o Rijkaard (jogador da Holanda, adversária da Inglaterra na fase de grupos) ele achou que Rijkaard era um país!”Chris Waddle.

Soccer - FIFA World Cup Italia 90 - Group F - England v Netherlands - Stadio Sant'Elia, Cagliari

Mas Gazza sofreu naquele grupo F da Copa de 1990. Foram jogos horríveis, sonolentos e totalmente aquém das expectativas de todos. Para se ter uma ideia, Inglaterra, Holanda, Irlanda e Egito marcaram pífios sete gols em seis jogos. Isso mesmo. Foram três empates em 1 a 1, dois empates em 0 a 0 e apenas uma vitória: da Inglaterra, sobre o Egito por… 1 a 0, com passe de Gascoigne para o gol de Wright. A vitória inglesa foi crucial para o time se classificar em primeiro lugar no grupo. Nas oitavas de final, Gascoigne foi mais uma vez decisivo ao dar a assistência para o gol de Platt no penúltimo minuto da prorrogação, o gol da vitória por 1 a 0. Nas quartas, Inglaterra e Camarões duelaram em outra angustiante prorrogação que foi vencida pelos ingleses por 3 a 2, com dois gols de pênalti de Lineker e participação direta de Gascoigne. Classificados, os ingleses teriam pela frente a velha conhecida Alemanha.

 

O cartão amarelo mais famoso das Copas. E o choro também

O choro na Copa de 1990: cena épica.
O choro na Copa de 1990: cena épica.

 

Em Turim, a Alemanha tinha “mais pernas” que a Inglaterra pelo fato de não ter encarado prorrogações nas fases anteriores. Já o English Team teria que vencer o cansaço e os alemães se quisesse voltar a uma final de Copa depois de 24 anos. Brehme, da Alemanha, e Lineker, da Inglaterra, fizeram os gols que decretaram o empate em 1 a 1 no tempo normal. Outra vez, prorrogação para os ingleses. Nela, aos nove minutos do primeiro tempo, Gascoigne chegou de maneira ríspida pra cima de Berthold, daquele seu jeito característico. O árbitro brasileiro José Roberto Wright viu falta do inglês e lhe aplicou o cartão amarelo. Como Gascoigne havia sido advertido no jogo contra a Bélgica, o craque estava fora do próximo jogo da seleção inglesa, que poderia ser a final.

Ciente disso, Gascoigne, que já ficava vermelho durante as partidas, ficou ainda mais. E desandou a chorar. Lineker, companheiro do craque, notou e na hora sinalizou para o banco de reservas da Inglaterra que Gazza havia ficado abalado. O maestro inglês naquela Copa estava acabado. Como estar ausente do jogo da vida, da final da Copa? Era demais para ele. Mas os astros quiseram poupar Gazza daquele sofrimento. Depois do empate na prorrogação, o jogo foi para os pênaltis e a Alemanha venceu. Gazza ficou de fora da chocha disputa do terceiro lugar e a Inglaterra perdeu para a anfitriã Itália por 2 a 1. Sem prorrogação e com Gazza ligeiramente aliviado.

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Ídolo na Gazzamania

Gascoigne e Lineker: companheiros de seleção e de Tottenham.
Gascoigne e Lineker: companheiros de seleção e de Tottenham.

 

Depois da Copa (vencida pela Alemanha), Gascoigne voltou à Inglaterra como um ídolo instantâneo pelo seu amor à pátria. Além disso, foi eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo e considerado um dos maiores craques do planeta. Começou na terra da Rainha a Gazzamania, com a intensa procura por camisas do craque, entrevistas, fotos e mais detalhes sobre sua vida e seu estilo. A fama, claro, seria responsável por levar Gascoigne cada vez mais às bebidas, festas e tudo o que há de perigoso no mundo do glamour. Mas o craque ainda tinha mais o que mostrar.

O golaço contra o Arsenal: Gascoigne era perito em obras prima no mítico estádio de Wembley.
O golaço contra o Arsenal: Gascoigne era perito em obras primas no mítico estádio de Wembley.

 

Em abril de 1991, Gascoigne marcou um de seus mais maravilhosos gols da carreira. Foi no estádio de Wembley, na semifinal da Copa da Inglaterra, contra o Arsenal. O craque bateu uma falta de longe, muito longe, e acertou o ângulo do goleiro Seaman: golaço. A maravilha inspirou o Tottenham a derrotar os Gunners por 3 a 1, com os outros dois gols marcados por Lineker. O gol de Gazza foi eleito pela BBC o “Gol da Temporada” do futebol inglês. A vitória levou o Tottenham à final contra o Nottingham Forest. E Gascoigne tinha a chance de faturar seu primeiro grande título.

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A dor e a taça

Gascoigne e o fatídico lance: contusão séria no joelho.
Gascoigne e o fatídico lance: contusão séria no joelho.

 

Na grande final da Copa da Inglaterra de 1990-1991, de novo no mítico Wembley, Gascoigne foi vítima de sua própria ânsia de vencer. Com menos de 15 minutos de jogo, o craque fez uma falta dura à altura do joelho de Gary Charles e rompeu os ligamentos de seu próprio joelho direito. Pearce fez o gol resultante da falta para o Nottingham Forest, mas o Tottenham virou o jogo para 2 a 1 no segundo tempo e faturou o título, que foi dedicado, claro, a Gascoigne, que ficou quase um ano sem jogar. Justo após ter acertado sua transferência para a Lazio, da Itália.

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Confusão demais e futebol de menos

Gascoigne "em ação": perigo constante.
Gascoigne “em ação”: perigo constante.

 

A contusão no joelho, como em grande parte dos jogadores de futebol, causou sérios danos a Gascoigne. O craque perdeu boa parte de sua explosão e capacidade de dribles curtos em velocidade, sua característica principal. Na Itália, o inglês sofreu com as contusões, a falta de regularidade e o excesso de peso. Mesmo assim, conseguiu alguns lampejos de craque e marcou gols importantes em suas pouco mais de 45 partidas pela Lazio entre 1992 e 1995. Foi no Calcio que Gazza mostrou seu lado sarcástico mais uma vez. Uma repórter norueguesa chegou a ele após um jogo e perguntou se ele não tinha alguma mensagem para a Noruega. Gazza foi direto: “Yes. Fuck off, Norway!”. Algo como “Dane-se a Noruega”, para ser bem brando.

Gazza saiu correndo e gargalhando, para delírio de seus torcedores. Foi também na Itália, em um prestigiado restaurante de Roma, que Gazza foi questionado pelo garçom qual dos moluscos do tanque ele gostaria de provar. Naturalmente, Gazza deveria dizer o molusco e o garçom iria pegá-lo para a confecção do prato. Mas, segundos depois, lá estava Gascoigne enfiando a mão no tanque e agarrando, orgulhoso, o crustáceo que ele queria devorar. Pobre bicho…

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Ressurreição

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Depois de temporadas decepcionantes na Lazio e de ver sua Inglaterra sequer ir para a Copa de 1994, Gascoigne voltou aos velhos tempos na Escócia, mais precisamente no Rangers. Com a camisa azul, o craque reencontrou seu melhor futebol e mostrou o talento de anos passados. Logo na quinta partida do Campeonato Escocês de 1995, Gascoigne marcou um golaço contra o grande rival Celtic depois de correr quase o campo inteiro. Em dezembro daquele ano, deu sua primeira mostra “fanfarrona” ao receber um cartão amarelo do árbitro e, aproveitando que o cartão havia caído, “amarelou” o juiz ironicamente.

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A temporada 1995-1996 foi mágica para Gazza. Com 14 gols, foi um dos artilheiros do Rangers na conquista do Campeonato Escocês. Ainda em 1996, o craque faturou a Copa da Escócia ajudando o time a golear o Heart of Midlothian por 5 a 1 na final. Em novembro daquele ano, Gazza foi ainda mais decisivo ao marcar dois gols na vitória por 4 a 3 sobre o Hearts que deu ao Rangers o título da Copa da Liga Escocesa. As três taças foram o combustível para o inglês brilhar, também, pela seleção.

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Um porre para comemorar!

Gascoigne e a comemoração emblemática em Wembley.
Gascoigne e a comemoração emblemática em Wembley.

 

Em 1996, Gascoigne integrou a seleção inglesa que disputou, em casa, a Eurocopa. E o craque teve, ao menos em um jogo, um lance épico.  Na fase de grupos, num clássico contra a Escócia, a Inglaterra vencia por 1 a 0 quando os escoceses tiveram um pênalti para bater. Na cobrança, o goleiro Seaman defendeu. Logo em seguida, o mesmo Seaman bateu um tiro de meta pra frente, a bola sobrou na esquerda e Anderton lançou Gascoigne. O camisa 8 dominou, chapelou o zagueiro escocês e fuzilou: obra prima em Wembley! Na comemoração, Gascoigne deitou no chão, extravasou e pediu água. No entanto, a comemoração foi uma clara referência aos seus porres e ao caso “Dentist´s Chair”, quando Gazza e alguns companheiros de seleção foram flagrados totalmente bêbados em uma cadeira de dentista em Hong Kong, numa turnê do English Team antes da Euro.

A Inglaterra foi avançando na competição, sempre amparada pela genialidade de Gascoigne nas bolas paradas, mas sucumbiu outra vez diante da Alemanha na semifinal, nos pênaltis, depois de Gazza quase marcar o gol de ouro na prorrogação com um de seus chutes que passou rente à trave. A Eurocopa, infelizmente, foi o último grande momento de Gazza com a camisa da Inglaterra, já que seu excesso de peso e problemas pessoais o afastaram definitivamente do English Team, custando-lhe inclusive a convocação para a Copa de 1998.

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A decadência e o fim

Pelo Rangers, Gascoigne tocou flauta como um legítimo protestante e provocou os católicos do Celtic...
Pelo Rangers, Gascoigne tocou flauta como um legítimo protestante e provocou os católicos do Celtic…

 

Gascoigne voltou a conquistar um Campeonato Escocês na temporada 1996-1997 com o Rangers, mas os problemas extracampo, as contusões e as confusões ficaram cada vez mais frequentes. Em uma delas, imitou tocar uma flauta num jogo contra o Celtic, gesto que enfureceu os católicos e fervorosos torcedores alviverdes pelo fato de a tal flauta ser uma referência à Orange Order, uma organização protestante. O craque deixou o Rangers em 1998 para jogar no Middlesbrough, mas não mostrou o futebol de antes. Neste mesmo ano, perdeu um de seus melhores amigos (morreu de coma alcoólico), caiu em depressão e desandou a beber ainda mais. Os problemas foram aumentando, Gazza perambulou por vários clubes e se aposentou de vez em 2004, fracassando posteriormente como treinador. Mesmo pendurando as chuteiras, Gascoigne continuou a estampar as capas dos tabloides. Em 2005, foi preso depois de bater em um fotógrafo. No ano seguinte, contou em sua autobiografia que sofreu muito durante a vida com bulimia e transtornos bipolares e, em seu aniversário de 40 anos, teve uma crise de úlcera que o obrigou a passar por uma cirurgia de emergência. Em 2008, tentou cometer suicídio, mas foi salvo pela irmã. Idas e vindas em clínicas de reabilitação viraram uma constante em sua vida pós-aposentadoria e hoje o velho Gazza tenta se livrar do alcoolismo, mas a batalha é complicada, ainda mais depois de voltar a beber em 2012 depois de 17 meses na seca.

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Problemas à parte, Paul Gascoigne entrou para a história do futebol por sua genialidade em campo, sua vontade de vencer e seu amor à pátria. Vítima de uma infância conturbada que influenciou diretamente em seu estilo de vida na fase adulta, Gazza poderia ter sido eleito o melhor do mundo nos anos 90 se não tivesse aprontado tanto e se entregado à bebida como se entregou. Mesmo assim, o bonachão de Gateshead conseguiu deixar sua marca com obras primas, passes marcantes e a idolatria eterna dos ingleses. Como ele mesmo dizia: “Só sei jogar futebol e me divertir”. Com certeza, todos entenderam o recado.

 

Números de destaque

Disputou 57 partidas pela seleção da Inglaterra e marcou 10 gols.

Disputou pouco mais de 465 jogos na carreira e marcou aproximadamente 110 gols.

 

Histórias de Gazza

Além das traquinagens contadas no texto, Gazza também aprontou outras poucas e boas:

  • Num amistoso entre Inglaterra e Suécia, Gascoigne chutou a bola no tocador de tuba durante o hino sueco;
  • Quando estava no Middlesbrough, Gascoigne foi dirigir o ônibus do time, mas estava tão bêbado que bateu no poste;
  • Uma hora após disputar uma partida pela Inglaterra, Gazza, bêbado, já estava num pub com seus amigos aprontando todas e munido de um chicote (!).

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Comentários encerrados

3 Comentários

  1. Excelente trabalho!!! Estava há algun tempo procurando informações sobre o Gascoigne e não achava nada relevante… Ótimo trabalho feito pois resumiu muito bem a vida desse craque que eu acompanhei na infância.

Esquadrão Imortal – Bayern München 1972-1976

Craque Imortal – Kubala