in ,

Seleções Imortais – Espanha 2022-2024

Foto: ICONSPORT
Em pé: Le Normand, Fabián Ruiz, Laporte, Rodri, Morata e Unai Simón. Agachados: Carvajal, Cucurella, Dani Olmo, Nico Williams e Lamine Yamal. Foto: Getty Images.
 

Grandes feitos: Campeã Invicta da Eurocopa (2024) e Campeã da Liga das Nações da UEFA (2022-2023). Fez da Espanha a primeira tetracampeã da história da Eurocopa.

Time-base: Unai Simón; Carvajal (Jesús Navas), Le Normand (Nacho), Laporte e Cucurella (Jordi Alba); Rodri (Zubimendi), Fabián Ruiz e Dani Olmo (Pedri); Nico Williams (Gavi / Pino) e Lamine Yamal (Merino / Asensio); Morata (Oyarzabal / Joselu). Técnico: Luis De La Fuente.

 

“A Soberania dos Reis da Europa”

Por Guilherme Diniz

Fim de jogo em Kiev. Com uma goleada espetacular de 4 a 0 sobre a Itália, a Espanha conquista pela terceira vez a Eurocopa, a segunda de maneira consecutiva, e se iguala à Alemanha como maior campeã europeia. De quebra, ainda alcança um feito impressionante ao levantar, entre 2008 e 2012, duas Euros e uma Copa do Mundo. Mas, após esse período marcante, a seleção espanhola viveu tempos conturbados. Na Copa de 2014, deu vexame e caiu na primeira fase, com direito a uma goleada sofrida de 5 a 1 para a Holanda. Nas Euros de 2016 e 2020, foi eliminada pela Itália nas duas edições. Nas Copas do Mundo de 2018 e 2022, caiu nas oitavas de final em ambos os torneios, nos pênaltis, para Rússia e Marrocos, respectivamente. E amargou ainda o vice-campeonato da Liga das Nações da UEFA de 2020-2021, quando perdeu de virada para a França.

Mas aquela derrota na Liga das Nações foi uma espécie de mudança de chave. Desde 2020 que a seleção vivia uma transição. Deixava de lado um estilo de jogo e passava a jogar de outra maneira, mais incisiva, porém, sem deixar de tratar bem a bola. A Espanha já tinha criado a cultura de vencer naqueles anos de ouro. A renovação, claro, custou boas campanhas nos torneios posteriores a 2012, mas quando uma nova geração chegou, eis que a roja foi “para as cabeças” novamente. Os jovens presentes na campanha de prata nas Olimpíadas de Tóquio-2020 (disputada em 2021) aprenderam a mentalidade vencedora. E, comandados por Luis de la Fuente, venceram a Liga das Nações da UEFA de 2022-2023, troféu inédito que recolocou a equipe entre as favoritas para a Eurocopa de 2024. 

Em solo alemão, eles praticaram o melhor futebol do torneio com uma campanha incontestável: sete jogos, sete vitórias, melhor ataque, dona do melhor jogador (Rodri), do melhor jogador jovem (Lamine Yamal, que completou 17 anos durante a competição) e da melhor linha ofensiva. Derrubaram quatro campeões do mundo pelo caminho. E, na final, venceram a Inglaterra com autoridade para levantarem a Euro pela quarta vez, o terceiro troféu nas últimas cinco edições. Na Europa, pelo menos até 2028, eles são os reis hegemônicos. Os maiores campeões. É hora de relembrar.

A nova geração

Após perder para a França na final da Liga das Nações de 2021, a Espanha deu uma última chance ao técnico Luis Enrique na Copa do Mundo da FIFA de 2022. O treinador, que tinha no currículo títulos marcantes pelo Barcelona, era admirado por gostar do futebol de toque de bola e ofensivo e já havia mudado a faceta do time ao apostar em novos nomes como Laporte, Gavi, Sarabia, Ferran Torres e Oyarzabal, além de manter na equipe atletas experientes como Azpilicueta, Koke e Busquets. No Mundial do Catar, a Espanha começou com tudo ao aplicar um 7 a 0 na Costa Rica, uma das maiores goleadas da história da competição. Na sequência, empatou em 1 a 1 com a Alemanha, mas perdeu para o Japão no último jogo do grupo por 2 a 1 e se classificou na segunda colocação, atrás da própria seleção asiática, o que gerou dúvidas quanto ao desempenho do time na etapa seguinte. 

Nas oitavas de final, a Espanha entrou como favorita para o duelo contra Marrocos e Luis Enrique deixava claro que sua equipe era candidata ao título pelos jovens talentos que tinha – sobretudo Pedri e Gavi – e alguns veteranos, como Jordi Alba e Sergio Busquets. Porém, quando a bola rolou, a Espanha mostrou um futebol insosso e sem qualquer objetivo, enquanto Marrocos foi soberano na marcação e levou perigo com seus ataques rápidos e o elo entre defesa e ataque muito bem feito por Hakimi, Mazraoui e Ziyech.

Olmo e Ounahi, na Copa de 2022.
 

No meio, Amrabat e Ounahi jogavam absurdamente bem e eram os grandes senhores do setor de Marrocos, roubando bolas, dando passes e demonstrando uma aplicação tática digna das maiores estrelas do futebol mundial. Embora a Espanha tenha tido 68% de posse de bola, 1041 passes e 13 finalizações, apenas uma delas foi ao gol. Já Marrocos teve seis finalizações, com três ao gol. O tão falado meio de campo espanhol nada fez e foi engolido pelo marroquino, em especial Amrabat, que parecia se multiplicar em campo tamanha vitalidade e consciência tática.

O jogo ficou 0 a 0 tanto no tempo regulamentar quanto na prorrogação. E, na decisão por pênaltis, brilhou a estrela do goleiro Bono, que defendeu três pênaltis – Sarabia, Soler e Busquets -, enquanto Marrocos converteu três chutes, perdeu apenas um e o placar de 3 a 0 classificou os Leões do Atlas às quartas de final. Na cobrança final, Hakimi fez de cavadinha e foi a prova maior da ironia, pois o lateral nasceu na Espanha, em Madri, chegou inclusive a jogar nas categorias de base do Real Madrid e no time principal, mas preferiu defender a seleção de seus pais, oriundos do Marrocos.

A queda precoce no Mundial fez Luis Enrique pedir demissão do comando técnico da seleção e rapidamente a RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol) promoveu Luis de la Fuente, então técnico da seleção sub-23, à comandante da equipe principal com contrato até a Eurocopa de 2024. A escolha surpreendeu, mas foi muito bem feita. O espanhol vinha comandando as seleções de base do país desde 2013, quando assumiu a equipe sub-13, até dirigir a seleção sub-21 entre 2018 e 2022 e chegar à sub-23 em 2021. Nesse período, De la Fuente pôde garimpar os melhores jogadores do país e criou uma das mais fortes equipes juniores do continente. Em 2015, por exemplo, ele venceu o campeonato europeu sub-19. Em 2019, venceu o campeonato europeu sub-21. E, em 2021, conduziu a Espanha à final das Olimpíadas de Tóquio, quando acabou perdendo para o Brasil por 2 a 1, na prorrogação.

Com essa experiência de quase 10 anos nas equipes de base, Luis de la Fuente tinha a confiança da federação e o apoio dos atletas, afinal, a grande maioria já conhecia o treinador. E ele iria formar um time baseado exatamente nos atletas que havia comandado nos Jogos Olímpicos e uma mescla de outros jogadores já consagrados em seus clubes. Na apresentação do novo treinador, o então presidente da RFEF, Luis Rubiales, exaltou De la Fuente.

“Com toda a humildade e modéstia, se há alguém que conhece o presente e o futuro do futebol espanhol é este homem que está sentado diante de vocês”.

Luis de la Fuente deixou claro que todos teriam chances naquele novo ciclo. “É uma nova etapa. Todos os jogadores selecionáveis têm as mesmas oportunidades. Existem bons futebolistas e todos têm as portas abertas. Sou um defensor do talento. Tentarei extrair o melhor de cada futebolista em prol do grupo”. Desde o início, De la Fuente mostrou que os jovens teriam espaço, assim como os mais experientes. Ele sempre dizia que “o compromisso com as pessoas em quem confiamos no sistema juvenil não é uma pose, é uma convicção” e que precisava de tempo para formar um time competitivo. Mas aquela nova Espanha ficaria “pronta” bem antes do esperado…

O caminho é pelas pontas

Lamine Yamal e Nico Williams, estrelas ofensivas da Espanha. Foto: REUTERS/Irakli Gedenidze
 

No dia-a-dia, Luis de la Fuente alternou sua equipe em um 4-3-2-1 e 4-2-3-1, com foco na posse de bola, como sempre, mas uma força incisiva no ataque pelas pontas. Com jovens velocistas e muito talentosos surgindo no país, De la Fuente conseguiu construir uma equipe rápida e letal nos cruzamentos para a área, principalmente por baixo, com os atacantes e meias finalizando de primeira, sem aquela morosidade tão característica em muitas equipes, que ciscam, ciscam e ciscam perto e dentro da área, mas não concluem ao gol. A Espanha seria uma equipe de ataque pelas pontas, em velocidade, usando bastante a qualidade de seus laterais e também de seus meias. 

No gol, Unai Simón era absoluto na posição desde a Euro de 2020 e seguiu como preferido de Luis de la Fuente. Na lateral-direita, o veterano Jesús Navas era o escolhido na época, enquanto Carvajal teria mais espaço após a Liga das Nações. Na esquerda, Jordi Alba, em seus últimos momentos pela seleção, foi o capitão da equipe em diversas ocasiões, incluindo na final da Liga das Nações. No miolo de zaga, Le Normand e Laporte já faziam uma dupla muito segura, com velocidade para sair jogando e técnica para começar as jogadas lá de trás. No meio de campo, Rodri e Fabián Ruiz eram as opções de contenção, enquanto Gavi, Pino e Asensio tinham características mais de criação e ataque na linha de três. 

No centro do ataque, Morata era a escolha comum, embora o atacante nunca tenha estado à altura de seus antecessores na seleção como Diego Costa, Fernando Torres, David Villa e Raúl, por exemplo, e sofresse bastante com as críticas pelo baixíssimo número de gols. Além desse 11 utilizado por De la Fuente naquele início de trabalho, ele ainda dava espaço para Mikel Merino e Dani Olmo durante as partidas.

Derrota para a Escócia foi um dos raros momentos de baixo rendimento da Espanha. Foto: Scott Heppell / AP
 

O primeiro jogo da roja sob o comando de Luis de la Fuente foi em março de 2023, na vitória por 3 a 0 sobre a Noruega, na fase de qualificação da Eurocopa, com dois gols de Joselu e um de Dani Olmo. Três dias depois, a equipe acabou perdendo para a Escócia por 2 a 0 em Hampden Park, mas ainda tinha uma posição favorável à classificação. Em junho, a equipe encarou a Itália na semifinal da Liga das Nações da UEFA e estava disposta a acabar com a sina de maus resultados diante da Azzurra em competições continentais nos últimos anos. 

Antes da semi, a Espanha superou Portugal (1 a 1 e 1 a 0), República Tcheca (2 a 2 e 2 a 0) e Suíça (1 a 0 e 1 a 2) para terminar em primeiro lugar no Grupo A2, com 11 pontos em seis jogos, e se garantir no “Final Four”. Para aquele jogo, De la Fuente apostou na experiência dos laterais Navas e Alba, escalou Rodri e Merino no meio de campo e compôs o sistema ofensivo com Rodrigo Moreno, Gavi, Yeremy Pino e Morata. Com apenas três minutos, os espanhóis abriram o placar com Pino. Aos 11’, Immobile, de pênalti, empatou. A Espanha não se abateu e, aos 88’, Joselu fez o gol da vitória que classificou a equipe ibérica para outra decisão de Liga das Nações. 

Enfim, campeões!

O adversário da equipe espanhola na decisão foi a Croácia, que havia eliminado a Holanda nas semis e queria uma taça para coroar uma geração que vinha em ascensão desde o vice-campeonato na Copa do Mundo de 2018 e que havia ficado com o 3º lugar no Mundial de 2022. A partida seria muito complicada, com poucos espaços e sem grandes chances de gol. O zero não saiu do placar nem no tempo regulamentar nem na prorrogação. Com isso, a disputa foi para os pênaltis.

Os primeiros três batedores de cada lado converteram suas cobranças até Lovro Majer chutar o quarto da Croácia e o goleiro Unai Simón defender. Na última cobrança da Espanha, Laporte teve a chance de selar a vitória, mas chutou na trave. Nas cobranças alternadas, Petkovic chutou e Simón defendeu mais uma. Carvajal cobrou o último chute da Espanha e fez o gol que fechou o placar de 5 a 4 e o inédito título da Liga das Nações da UEFA dos espanhóis! A equipe se tornou naquele dia o segundo país a ter no currículo Copa do Mundo, Eurocopa e Liga das Nações em sua galeria, a exemplo da França. 

“Essa geração promete muito. Somos muito fortes mentalmente. Temos coisas a melhorar, mas vencer é sempre bom. Temos que celebrar”, comentou o meio-campista Rodri após a partida. 

O craque, aliás, viveu um ano mágico em 2023, pois venceu o Treble com o Manchester City e marcou o gol do título europeu dos Citizens na decisão diante da Internazionale. A conquista foi a primeira da Espanha desde o título europeu de 2012, encerrando um jejum que já passava de uma década. De quebra, deu à equipe muita confiança para o ciclo das Eliminatórias da Eurocopa.

Hora da garotada

Foto: EFE / EPA / MOHAMED MESSARA
 

Apesar do título da Nations, o ano de 2023 foi conturbado no futebol espanhol. Primeiro, o defensor Sergio Ramos, ao anunciar sua aposentadoria da seleção em junho, detonou a federação e a falta de prestígio que recebeu. Na sequência, o presidente Luis Rubiales deixou o cargo de presidente da RFEF após a polêmica na final da Copa do Mundo Feminina, quando deu um beijo sem consentimento na jogadora Jenni Hermoso durante a comemoração do título – a federação viveu tempos terríveis e ficou sob fiscalização inclusive do governo espanhol no começo de 2024. Dentro de campo, a seleção viu o meio-campista Gavi se lesionar em uma partida das Eliminatórias da Euro e perder o restante da temporada. E um possível reforço para a seleção, o meia Brahim Díaz, optou por se naturalizar marroquino e passar a defender a seleção de Marrocos. 

Diante de tanta turbulência, Luis de la Fuente conseguiu blindar seu grupo e começou a dar mais espaço aos jovens. No primeiro jogo após o título da Liga das Nações, em setembro de 2023, contra a Geórgia, Nico Williams, de 21 anos, e Lamine Yamal, de apenas 16 anos (!), foram convocados e entraram no segundo tempo da goleada de 7 a 1 da Espanha pra cima da rival, com um gol de cada jovem, além de um de Olmo, três de Morata (que desencantou) e um contra de Kvirkvelia. O gol de Yamal fez dele o mais jovem jogador a marcar um gol em uma fase de qualificação da Euro na história! Era apenas o primeiros dos vários recordes que a revelação do Barcelona iria quebrar.

Gavi sente o joelho: jogador foi uma baixa sentida no final de 2023. Foto: Getty Images.
 

Conhecido de Luis de la Fuente das seleções de base, Yamal era o jogador que mais inspirava o futuro da seleção. Habilidoso, inteligente, rápido, destemido e com um talento impressionante para a pouca idade, ele já aguentava jogos bem complicados pelo Barcelona e demonstrou muita personalidade naquele início na seleção principal. 

“Lamine é um talento natural do futebol numa escala excepcional. Existem muito poucos como ele. A sua grandeza será medida pelo quanto ele consegue manter-se ainda mais humilde a cada dia. Ele tem de manter o equilíbrio e a maturidade que lhe permitam evitar os grandes altos e baixos. Porque esta é a história do futebol, isso sempre acontecerá. O que há de especial agora é como é difícil fazer o que ele faz aos 16 anos e com tanta naturalidade. 

Mas a nossa responsabilidade é ajudá-lo a manter os seus valores, humildade, responsabilidade e profissionalismo. Essas coisas farão dele uma pessoa ainda melhor à medida que crescer e um jogador de futebol ainda melhor. Para nossa grande sorte, é espanhol e esperamos que possamos desfrutar de um grande jogador de futebol, se tiver sorte, por muito tempo no topo do futebol mundial”. – comentou Luis de la Fuente, em entrevista ao site da UEFA.

Yamal: maturidade e talento com apenas 16 anos. Foto: Mateo Villalba/Getty Images
 

Ver Yamal e outros jovens na seleção só reforçavam o trabalho de base da seleção espanhola e que tanto De la Fuente queria ver na equipe principal. “Estou na Federação Espanhola de Futebol há 11 anos e, desde o dia em que cheguei, vi que havia um modelo e uma ideia muito claros. Todos nós, treinadores, reforçamos esse conceito com as nossas próprias ideias para continuar a crescer. O mais importante é que a filosofia está completamente integrada no modelo da federação, de modo a que todas as selecções tenham a mesma ideia. O mais importante é que todos nós estamos empenhados e continuamos a acreditar neste estilo.

Mas isso de nada serve se não tivermos futebolistas excepcionalmente talentosos que são muito bem desenvolvidos nos seus clubes desde a mais tenra idade. Os clubes são os verdadeiros líderes neste domínio. Os jogadores atingem este nível com uma formação muito boa. Temos muito pouco tempo, mas temos uma vantagem, que é o grande talento e a continuidade de jogar nos escalões mais jovens durante 14 ou 15 anos, até chegarem à selecção principal. Aprenderam num percurso muito claro, o que lhes facilita a aprendizagem dos conceitos que cada treinador lhes ensina à medida que vão subindo de escalão”, explicou Luis de la Fuente, ao site da UEFA, em 2024.

Ainda pelas Eliminatórias, a Espanha goleou Chipre por 6 a 0, se vingou da Escócia e venceu por 2 a 0, bateu a Noruega em Oslo por 1 a 0, venceu Chipre, fora de casa, por 3 a 1 (com mais um gol de Yamal) e selou sua classificação com uma vitória por 3 a 1 sobre a Geórgia, em casa. A Espanha se classificou com 21 pontos, sete vitórias, uma derrota, 25 gols marcados e apenas cinco gols sofridos em oito jogos. Joselu e Morata, com 4 gols cada, foram os artilheiros da equipe no grupo.

Preparação

Foto: Rafael Ribeiro/CBF
 

Já em 2024, Luis de la Fuente passou a escalar de maneira mais regular o 11 titular que planejava para a disputa da Eurocopa, na Alemanha. Além disso, estudou com cuidado os suplentes para que sua equipe não sofresse com queda técnica se um ou outro atleta tivesse que deixar o time por causa de lesão ou cartão acumulado. E esse planejamento foi essencial para a Espanha ter um dos elencos mais equilibrados entre todas as seleções da Eurocopa. Tudo bem que os dois primeiros desafios da temporada foram abaixo da média: derrota por 1 a 0 para a Colômbia, em amistoso disputado em Londres, e empate em 3 a 3 diante do Brasil, no Santiago Bernabéu, mas o time melhorou nos jogos seguintes e venceu bem a seleção de Andorra (5 a 0) e a Irlanda do Norte (5 a 1). 

Nesses jogos, o time já era bem diferente do que venceu a Liga das Nações e tinha na lateral-esquerda o incansável Cucurella, Pedri ao lado de Rodri e Fabián Ruiz no meio de campo e o ataque com os imparáveis Nico Williams e Yamal pelas pontas e Morata como centroavante. Na convocação final, De la Fuente levou:

  • Goleiros: Unai Simón (Athletic Bilbao), Raya (Arsenal-ING), Remiro (Real Sociedad);
  • Defensores: Carvajal (Real Madrid), Jesús Navas (Sevilla), Laporte (Al Nassr-ARS), Le Normand (Real Sociedad), Nacho (Real Madrid), Vivian (Athletic Bilbao), Cubarsi (Barcelona), Grimaldo (Bayer Leverkusen-ALE) e Cucurella (Chelsea-ING);
  • Meio-campistas: Rodri (Manchester City-ING), Zubimendi (Real Sociedad), Mikel Merino (Real Sociedad), Fabián Ruiz (PSG-FRA), Pedri (Barcelona), Marcos Llorente (Atlético de Madrid), Aleix García (Girona), Alex Baena (Girona) e Fermín (Barcelona);
  • Atacantes: Ferran Torres (Barcelona), Dani Olmo (RB Leipzig-ALE), Nico Williams (Athletic Bilbao), Morata (Atlético de Madrid), Joselu (Real Madrid), Oyarzabal (Real Sociedad), Lamine Yamal (Barcelona) e Ayoze (Betis).

Chamava a atenção a variedade dos clubes pelos quais os convocados jogavam, acabando com o excesso de atletas de Barcelona e Real Madrid que tanto foram comuns na seleção nas temporadas passadas. Era uma mostra da nítida evolução do futebol no país e a importância que os clubes davam aos seus atletas, mantendo-os ao máximo em seus planteis. Outro ponto em destaque era que sete titulares da final olímpica de 2021 foram convocados: Unai Simón (titular), Marc Cucurella (titular), Martín Zubimendi, Mikel Merino, Pedri (titular), Mikel Oyarzabal e Dani Olmo (titular em boa parte dos jogos). A Espanha era, de fato, uma das favoritas ao título. E, em campo, provou que era a melhor do Velho Continente.

100%!

Foto: Kacper Pempel / Reuters
 

A Espanha entrou na Euro 2024 em um dos grupos mais complicados da primeira fase, pois teria pela frente a Itália – campeã da edição anterior – a Croácia – rival dos espanhóis na final da Liga das Nações de 2023 – e a Albânia, revelação da etapa de qualificação e comandada pelo técnico brasileiro Sylvinho. O primeiro desafio foi diante da Croácia, no belíssimo estádio Olímpico de Berlim, palco da decisão e onde os espanhóis queriam estar no dia 14 de julho. E, quando a bola rolou, a roja deu show e construiu a vitória apenas no primeiro tempo. Aos 29’, Morata recebeu de Fabián Ruiz e chutou na saída do goleiro para fazer 1 a 0. Minuto depois, Fabián Ruiz fez bela jogada na entrada da área e marcou um golaço: 2 a 0. Já nos acréscimos, Yamal cruzou e Carvajal, vivendo notável fase artilheira, marcou o terceiro gol. 

Unai Simón salta para defender mais um pênalti de Petkovic! Foto: Annegret Hilse / Reuters
 

Na segunda etapa, a Espanha mostrou que não era ótima apenas no ataque, mas também na defesa, e conseguiu segurar o ímpeto croata. De quebra, o goleiro Unai Simón ainda defendeu um pênalti de Petkovic e selou a vitória espanhola na estreia. No duelo seguinte, a equipe encarou a Itália e dominou a Azzurra. Com muita criatividade e chances criadas, os ibéricos só não abriram o placar cedo porque o goleiro Donnarumma fez um punhado de defesas que evitaram gols certos – foram nove chutes a gol no primeiro tempo, quatro em direção ao goleirão italiano. 

Depois de tanto insistir, a Espanha foi premiada no começo do segundo tempo, quando Nico Williams fez jogada pela ponta e cruzou. Donnarumma espalmou, mas bola bateu em Calafiori, que marcou contra. O placar de 1 a 0 classificou a Espanha, que só cumpriu tabela na última rodada diante da Albânia e venceu por 1 a 0, gol de Ferran Torres. Com 100% de aproveitamento, nenhum gol sofrido e líder do grupo, a roja confirmou a boa fase e a condição de favorita. Era hora da fase final.

Passeio e a vitória sobre os “velhos fregueses”

Nas oitavas, a Espanha encarou a Geórgia, 3ª colocada no Grupo F e conhecida da equipe lá das Eliminatórias. Mesmo favorita, a roja sofreu um bocado até conseguir a vitória. Os georgianos foram pra cima no início do jogo e, aos 18’, Le Normand tentou cortar um cruzamento e acabou jogando contra o próprio gol, abrindo o placar para a Geórgia: 1 a 0. Atrás do placar pela primeira vez naquela Eurocopa, a Espanha experimentou um cenário novo, de ter que correr atrás da virada e enfrentar um rival bem postado no campo de defesa. Sem conseguir penetrar na zaga rival, o jeito foi começar a arriscar de longe. E, aos 39’, o meio-campista Rodri chutou da meia-lua e empatou o jogo: 1 a 1. 

Com a bola sob seu domínio e dona do jogo, a Espanha teve mais tranquilidade no segundo tempo e começou a encontrar as lacunas que precisava para a virada. Logo aos 51’, Lamine Yamal fez boa jogada pela ponta e tocou para Fabián Ruiz anotar o segundo gol. Aos 75’, Nico Williams recebeu, entortou o zagueiro e fuzilou para marcar um golaço: 3 a 1. Oito minutos depois, foi a vez de Dani Olmo receber na entrada da área, ajeitar para a perna esquerda e fechar o placar: 4 a 1. A Espanha estava nas quartas de final! E o adversário seguinte foi simplesmente a Alemanha, dona da casa e rival da Espanha na final europeia de 2008. 

Enfrentar a Nationalelf sempre foi um problema para qualquer equipe do planeta, mas a Espanha é uma das poucas – a outra é a Itália – a não temer os alemães. Nos grandes confrontos na história entre as duas seleções, a Espanha sempre saiu vitoriosa. Foi assim na Eurocopa de 1984, na fase de grupos, quando a roja venceu por 1 a 0. Foi assim na já citada final da Euro de 2008, em Viena. Foi assim na semifinal da Copa do Mundo da FIFA de 2010, quando a Espanha venceu por 1 a 0 e seguiu rumo ao título. E foi assim no histórico 6 a 0 válido pela Liga das Nações da UEFA de 2020-2021. Além disso, a Alemanha não vencia a Espanha em uma competição oficial desde os 2 a 0 válido pela Eurocopa de 1988, ou seja, há 36 anos. 

Dani Olmo foi o nome do jogo. Foto: Heiko Becker/Reuters
 

Contando com a imensa maioria da torcida, a Alemanha esperava romper com aquela escrita na Mercedes-Benz Arena, em Stuttgart, mas a velocidade e posse de bola da Espanha foram predominantes em boa parte do jogo. Toni Kroos, que disputava sua última competição da carreira, impôs uma baixa no time ibérico ao chegar muito forte em Pedri e contundir o rival, que teve que ser substituído logo aos 8’ por Dani Olmo. E, após um primeiro tempo sem gols, foi justamente de Olmo o primeiro gol do jogo, aos 51’, quando Yamal fez a jogada e o camisa 10 completou para as redes. A Alemanha tentou empatar a todo custo e Füllkrug acertou a trave de Unai Simón, aos 32’. Até que, aos 89’, Wirtz, estrela do Bayer Leverkusen campeão da Bundesliga de 2024, aproveitou uma bola escorada por Kimmich e marcou o gol de empate.

O jogo foi para a prorrogação e ambas as equipes demonstraram respeito nos primeiros minutos e receio de levar gol. Mas, aos 13’ do segundo tempo, Olmo, grande nome espanhol naquela partida, apareceu bem no campo de ataque e tocou para Merino, que cabeceou e fez o gol da classificação para a semifinal! Mais uma vitória marcante da Espanha! E aumento da freguesia alemã diante dos espanhóis. Após o jogo, o herói Merino comentou sobre a vaga e a união do grupo, à Reuters. “Nos conhecemos há muito tempo. Esse é provavelmente no grupo mais unido em que já estive, e acredito que essa é a nossa maior força. A irmandade e o espírito de equipe”.

Fim da escrita e vaga na final

O rival da Espanha na semi foi a França, adversário que não trazia boas lembranças aos espanhóis, afinal, os franceses derrotaram a Espanha na final da Eurocopa de 1984, eliminaram a roja nas quartas de final da Euro 2000 e nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2006 e na final da Liga das Nações da UEFA de 2021. A única grande vitória da Espanha em um torneio de peso havia sido nas quartas de final da Euro de 2012, quando Xabi Alonso fez uma partidaça e garantiu a vitória da roja ao anotar os dois gols da vitória por 2 a 0. 

Os titãs europeus se enfrentaram na Allianz Arena, em Munique (ALE) e a França, com um grupo acostumado aos grandes jogos, abriu o placar aos 8′, com Kolo Muani. Sem se abater, a Fúria foi pra cima e empatou em um golaço de Lamine Yamal, de fora da área, aos 21′, o que fez dele o jogador mais jovem a marcar um gol na história da Eurocopa. Apenas quatro minutos depois, a Espanha virou em gol de Dani Olmo, em bela jogada dentro da área. Na segunda etapa, o cansaço físico pesou, a França não conseguiu ser objetiva, Mbappé não foi decisivo e a Espanha ficou com a vitória por 2 a 1 e a vaga na decisão. E que momento de Yamal, melhor jogador da partida e autor do golaço que recolocou a Espanha na partida. 

Yamal chuta para marcar seu golaço. Foto: Getty Images
 

“Antes de tudo, estou muito feliz pela vitória e por avançar para a final. Não sei se é o melhor gol do torneio, mas para mim foi o mais especial por ser o primeiro pela seleção principal na Euro, então é muito especial e estou feliz pela classificação à final. A partir dos 60 minutos, só pensei em chegar à final. E quando o juiz apitou, fiquei muito feliz, porque na última Eurocopa estava com meus amigos e é um sonho estar com o time adulto nesta decisão. Farei o que for preciso para auxiliar a equipe”, resumiu Yamal após o jogo.

Os Reis da Europa!

Williams abriu o placar da decisão. Foto: Wolfgang Rattay / Reuters
 

A Espanha começou sua trajetória na Euro em Berlim. E para Berlim ela voltou para encerrar sua campanha impecável, até então com seis vitórias em seis jogos. O último desafio era a Inglaterra, presente pela segunda vez seguida em uma final de Euro e querendo acabar com o interminável jejum de quase 60 anos sem um grande troféu. O problema era que o time inglês não estava jogando nada e vinha superando seus rivais em jogos sofridos e sem justificar o elenco estrelado que tinha – muito por culpa do técnico Southgate e da falta de “apetite” dos jogadores do English Team. Já a roja foi com sua gana para vencer intacta e completa, com a volta de Carvajal na lateral-direita (após cumprir suspensão diante da França) e Olmo já consolidado no meio de campo desde a saída de Pedri.

Quando a bola rolou, os times demonstraram muito nervosismo e pouca objetividade, com um mísero chute real a gol na primeira etapa, da Inglaterra. No segundo tempo, logo aos 2’,  a Espanha ligou o modo turbo e, em uma jogada que começou na direita, do campo de defesa, Lamine Yamal avançou em diagonal e trouxe a marcação consigo. Ele viu a brecha pela esquerda e só tocou para Nico Williams, como um foguete, chutar de primeira e fazer 1 a 0.

O gol desnorteou a Inglaterra, e a Espanha teve mais chances para fazer o segundo e perdeu grandes oportunidades, em especial uma com Lamine Yamal, que chutou e exigiu enorme defesa de Pickford. Parecia mesmo que o título ia ficar com a Espanha, mas o técnico Southgate mexeu no time e colocou Watkins no lugar de Kane e Palmer no lugar de Mainoo. E, em um ataque pela direita puxado por Saka, a Inglaterra saiu da lona. O meia invadiu a área, tocou no meio para Bellingham, que escorou para trás e Palmer, em seu primeiro toque na bola, mandou a redonda pra dentro: 1 a 1.

O jogo ficou dramático e a Espanha teve outra chance aos 81’, com Yamal, que mais uma vez chutou e Pickford fez uma defesa impressionante. Mas a Espanha seguiu querendo definir no tempo regulamentar e, aos 86’, Cucurella apareceu pela esquerda, cruzou rasteiro e Oyarzabal, que havia entrado no lugar de Morata, tocou de primeira, se antecipando ao zagueiro, para fazer 2 a 1. Três minutos depois, a Inglaterra teve uma chance absurda dentro da área, mas Dani Olmo tirou de cabeça, em cima da linha, uma cabeçada inglesa, e praticamente “marcou um gol”. 

O jogo foi para os acréscimos, mas a Espanha foi absoluta e controlou o placar. Ao apito do árbitro, o Olímpico de Berlim viu a consolidação de mais um tetra no futebol. Depois da Itália em 2006 na Copa do Mundo, era a vez da Espanha ser tetracampeã da Eurocopa e se isolar como recordista em troféus na história do torneio, superando as três taças da Alemanha. Após a vitória, a emoção tomou conta de todos, em especial do técnico Luis de la Fuente. “Continuamos a ser quem somos. Estes jogadores sabem interpretar todas as ações do jogo. São os melhores do mundo. Somos uma família e assim conquistamos o título. Muito orgulhoso por eles e por mim”, disse o treinador.

Foto: Alex Pantling / UEFA via Getty Images.
 

A Espanha terminou a Eurocopa com 100% de aproveitamento e uma campanha histórica:

  • 7 jogos
  • 7 vitórias
  • 15 gols marcados (melhor ataque em uma só edição de Euro, superando os 14 gols da França-1984)
  • 4 gols sofridos
  • Média de 17 chutes a gol por jogo
  • Média de 6 chutes no gol por jogo

Rodri foi eleito o Melhor Jogador da competição e Lamine Yamal ganhou o prêmio de Melhor Jogador Jovem. Na seleção do torneio, seis atletas foram eleitos para o All-Star Team: Cucurella, Rodri, Fabián Ruiz, Dani Olmo, Nico Williams e Lamine Yamal. Campeã da Liga das Nações e da Euro, a Espanha repetiu Portugal de 2016-2019 e garantiu os dois principais troféus da UEFA em um mesmo período. A equipe ibérica também se classificou para a Finalíssima de 2025, quando enfrentará a Argentina, campeã da Copa América de 2024. 

Foto: Ina Fassbender/AFP/Getty Images
 

O tetra na Euro só reforçou o que o mundo do futebol já sabe neste século: que a Espanha é uma das mais fortes e mais vencedoras seleções do planeta. Antes de 2008, o time tinha apenas uma Eurocopa, lá em 1964. Depois de 2008, a equipe já tem 3 Eurocopas, uma Copa do Mundo e uma Liga das Nações da UEFA, isso tudo em 16 anos! Com uma equipe extremamente jovem, focada e vencedora, a Espanha é, sem dúvida, uma das favoritas na Copa do Mundo da FIFA de 2026. E, se depender do apetite dos Reis da Europa, eles certamente irão brigar pelo topo do mundo. Com a bola, atacando e dando show, como manda o DNA construído entre 2008-2012. Eles já são imortais. Mas querem alcançar o Olimpo do futebol. 

Os personagens:

Unai Simón: titular absoluto do Athletic Bilbao e no clube desde 2018, Unai Simón começou a ser convocado para a seleção principal em 2020, quando desbancou vários concorrentes na época e ganhou a confiança de Luis Enrique, que levou o jovem para a Eurocopa de 2020. Aos poucos, ele foi tomando conta da meta espanhola e cresceu bastante de produção principalmente após a chegada de Luis de la Fuente, que conhecia Simón desde as categorias de base. Muito seguro e com 1,90m de altura, fez grande defesas ao longo da Euro de 2024 e também na campanha do título da Liga das Nações, quando defendeu dois pênaltis na final contra a Croácia. Entre 2020 e 2024, Simón disputou 46 jogos pela Espanha.

Carvajal: um dos mais experientes do grupo, o lateral-direito sofreu com algumas lesões antes do período da Euro – principalmente entre 2020 e 2021 -, mas deu a volta por cima e estendeu sua grande fase pelo Real Madrid para a roja. Com a regularidade de sempre, precisão nos desarmes, muita raça e boa chegada ao ataque, virou uma peça importante no esquema tático do técnico De la Fuente e teve estrela na final da Liga das Nações, quando bateu o pênalti de cavadinha para selar o título inédito. Na Euro, foi impecável, marcou gol nos 3 a 0 sobre a Croácia, na fase de grupos, e foi fundamental para o equilíbrio defensivo do time. Foi expulso no final do jogo contra a Alemanha, nas quartas de final, mas retornou na decisão e fez uma grande partida diante da Inglaterra.

Jesús Navas: veteraníssimo, o lateral de 38 anos marcou seu nome como um dos mais vencedores atletas da Espanha neste século, seja no âmbito de clubes, seja pela própria seleção. Ele esteve no grupo campeão do mundo em 2010 e também no time campeão da Eurocopa de 2012 e da Liga das Nações de 2023, esta como titular. Na Euro, foi reserva de Carvajal, mas entrou como titular no duelo contra a Albânia, como capitão, e deu conta do recado no difícil duelo contra a França, na semifinal, quando substituiu o companheiro, suspenso, e conseguiu conter Mbappé e companhia com muita leitura de jogo e eficiência tática. 

Le Normand: o zagueiro nasceu na França, mas optou por jogar pela Espanha após se consolidar na Real Sociedad e ser um dos destaques do time campeão da Copa do Rei de 2019-2020, quando a equipe basca bateu o rival Athletic Bilbao na decisão por 1 a 0. Le Normand começou a jogar pela seleção em 2023 e rapidamente virou a primeira escolha do técnico Luis de la Fuente, assim como Laporte, graças à sua qualidade para sair jogando e grande senso de colocação e antecipação.

Nacho: apto para jogar na zaga e também na lateral-direita e na lateral-esquerda, o defensor foi outro veterano que cumpriu seu papel quando entrou, embora nunca tenha sido uma unanimidade na seleção – foram apenas 29 jogos entre 2013 e 2024, por exemplo. Muito bom marcador e com técnica para lançamentos e passes, Nacho colecionou títulos no Real Madrid, onde jogou de 2011 até 2024.

Laporte: enquanto Le Normand alia mais técnica, Laporte é o responsável pela força e presença física na zaga espanhola. Marcador implacável, muito bom nas jogadas aéreas, nos passes e com enorme senso de posicionamento, foi um gigante tanto na conquista da Liga das Nações quando na Eurocopa. Acumulou 35 jogos entre 2021 e 2024 pela Espanha.

Cucurella: o lateral-esquerdo foi um dos principais destaques da Eurocopa de 2024 não só por sua cabeleira, mas também pelas partidas extremamente eficientes que desempenhou. Com uma notável aplicação tática, lançamentos precisos e muito bom nos cruzamentos, foi uma arma importante tanto na parte defensiva quanto na ofensiva. Após começar a ser vaiado nas semifinais e na final pela torcida alemã por conta de um toque de mão não marcado pela arbitragem no duelo contra os anfitriões, nas quartas de final, Cucurella respondeu aos críticos com bom futebol e passe para o gol do título diante da Inglaterra. Uma bela resposta!

Jordi Alba: o veterano esteve no grupo campeão da Liga das Nações e, como já havia integrado a equipe desde os tempos de Luis Enrique, foi mantido por Luis de la Fuente para as partidas do Final Four. Com a qualidade de sempre, foi bem e ajudou a Espanha na conquista do título inédito, tendo a honra de erguer a taça como capitão. Acabou se aposentando da equipe logo após a conquista, em 2023. Foram 93 jogos e 9 gols marcados pela Fúria entre 2011 e 2023, além dos títulos da Eurocopa de 2012 e da já citada Liga das Nações da UEFA de 2022-2023.

Rodri: um dos melhores meio-campistas do mundo nos últimos anos, Rodri provou que não desfilava suas virtudes apenas pelo Manchester City e também fez partidas espetaculares pela Espanha. Com uma visão de jogo assombrosa, passes perfeitos e presença de ataque, esteve em todos os grandes momentos da seleção nesse período. Na Eurocopa, foi simplesmente incontestável ao acertar uma média de 94% dos passes e recuperar quase sete bolas por jogo, além de ter marcado um gol no duelo contra a Geórgia. Não por acaso, Rodri foi eleito o melhor jogador da Eurocopa de 2024. 

Zubimendi: um dos destaques da Real Sociedad desde 2019, o meio-campista é uma das maiores revelações espanholas dos últimos anos e já foi comparado a Sergio Busquets por causa da enorme qualidade nos passes, visão de jogo e controle de bola, além de ajudar a criar oportunidades de gol. O jovem foi titular no duelo contra a Albânia, na primeira fase, e jogou também as partidas contra Croácia, França e Inglaterra, essas vindo do banco de reservas. 

Fabián Ruiz: outro conhecido do técnico Luis de la Fuente desde as categorias de base, o meio-campista gastou a bola pelas seleções sub-19 e sub-21 até começar a ser convocado para a equipe principal em 2019, por Luis Enrique. Aos poucos, foi ganhando mais oportunidades e virou o principal companheiro de Rodri no meio de campo da roja, ajudando na marcação, na recuperação e no início de contra-ataques, além de poder jogar tanto mais à frente quando na contenção. Fez uma grande Eurocopa e marcou dois gols, um diante da Croácia e outro diante da Geórgia.

Dani Olmo: polivalente, capaz de jogar centralizado, como meia, ou como ponta, Olmo foi um dos jogadores mais decisivos dessa Espanha nos últimos anos, daqueles que parece jogar melhor na seleção do que em seu próprio clube. Rápido, oportunista e com enorme senso de posicionamento, marcou um gol na vitória contra a Geórgia, nas oitavas, e substituiu Pedri em uma fogueira, nas quartas de final diante da Alemanha. Pois ele não só assumiu a responsabilidade como marcou um gol e deu passe para outro na vitória por 2 a 1! Olmo seguiu no time titular, marcou outro gol, na semifinal, contra a França, e fez uma partidaça diante da Inglaterra na final. Ele foi um dos artilheiros da Eurocopa com 3 gols.

Pedri: outro grande meio-campista de sua geração, Pedri começou a ser convocado para a seleção principal em 2021 e jogou a Copa do Mundo de 2022 como titular no time de Luis Enrique. Após o Mundial, seguiu na equipe como um dos muitos conhecidos de Luis de la Fuente e virou uma das peças principais do setor de criação ofensiva da Espanha. Na Euro, de uma assistência na vitória sobre a Croácia e jogou as partidas contra a Itália e Geórgia. No duelo contra a Alemanha, porém, o jovem sofreu uma entrada de Toni Kroos logo aos 8’ do primeiro tempo que acabou lesionando seu joelho e encerrando sua participação no torneio.

Nico Williams: o atacante já havia provado seu valor na histórica conquista do título da Copa do Rei do Athletic Bilbao em 2024 e continuou a mostrar sua estrela pela Espanha. Quando Luis de la Fuente assumiu, o técnico não pensou duas vezes e criou um esquema de jogo que privilegiasse o estilo incisivo, rápido e driblador de Williams pela ponta-esquerda. E, com ele em campo, a Espanha levou os adversários à loucura com as jogadas de efeito que o craque criou. Nico Williams marcou dois gols na Euro: um na partida contra a Geórgia (no qual ele também deu uma assistência e teve 100% de precisão nos passes!) e outro na decisão diante da Inglaterra. Aliás, Nico Williams foi o melhor jogador da final e entrou de vez para o rol de heróis da Fúria na história da competição. 

Gavi: o meia era um dos principais jogadores da Espanha entre 2022 e 2023 até sofrer uma grave lesão que encerrou sua trajetória na temporada 2023-2024. Com isso, ele acabou perdendo a chance de disputar a Eurocopa. Antes, Gavi foi titular e essencial na conquista da Liga das Nações da UEFA de 2022-2023. Quando retornar a jogar, deve sofrer com a concorrência.

Pino: foi o ponta-esquerda titular da Espanha em 10 jogos no período 2022-2023 e no Final Four da Liga das Nações. Fez bons jogos, mas perdeu a posição para o fenômeno Lamine Yamal e não foi mais convocado.

Lamine Yamal: ele entrou na Eurocopa com 16 anos. Quebrou recordes como o mais jovem a disputar uma partida oficial no torneio e também a marcar gol – aliás um golaço, diante da França. Teve que entregar trabalho de escola enquanto estava na concentração. E, mesmo com toda sua juventude, foi um jogador que parecia ter anos e anos de experiência. Lamine Yamal fez da Eurocopa de 2024 sua porta de entrada para o estrelato no futebol. A competição serviu para mostrar, a quem ainda não o conhecia, exemplos de suas qualidades – que deverão melhorar ainda mais ao longo do tempo: ele tem velocidade, visão de jogo, não teme adversário algum, sabe ajudar na marcação, chuta bem de dentro e fora da área, cria oportunidades de gol, dá passes precisos, dribla e gosta de jogo grande. Yamal foi eleito o melhor jogador jovem da Eurocopa e virou um xodó instantâneo do torcedor espanhol. E ele só tem 17 anos, completados durante a Euro! Um assombro! 

Merino: o meio-campista esteve no grupo campeão europeu sub-19 em 2015 e, claro, foi um dos jogadores escolhidos por De la Fuente para compor o elenco desse ciclo vitorioso. Com boa presença física, imposição nas jogadas aéreas e qualidade nos passes, Merino foi campeão da Liga das Nações e herói na Eurocopa ao marcar o gol da vitória por 2 a 1 sobre a Alemanha, nas quartas de final. 

Asensio: outro que teve a confiança do técnico De la Fuente naquele início de trabalho, Asensio ajudou o time ibérico a vencer a Liga das Nações da UEFA atuando como titular, mais à frente do meio de campo, e integrou também o elenco vice-campeão olímpico em Tóquio. Com a ascensão dos jovens e muita concorrência no setor, acabou de fora das convocações posteriores.

Morata: o atacante nunca foi uma unanimidade na equipe, mas sempre teve voz no elenco e muita confiança, tanto é que assumiu a braçadeira de capitão. Em campo, ficou devendo bastante em alguns jogos e só marcou gol na estreia, diante da Croácia. Na reta final do torneio, deu uma assistência para o gol de Lamine Yamal diante da França, na semifinal. O fato é que Morata não conseguiu ser a referência como outros centroavantes espanhóis foram no passado. Aliás, essa é uma posição na qual a Espanha deve trabalhar nos próximos anos para chegar a um nível ainda melhor. Com ele, infelizmente, não dá.

Oyarzabal: capitão da Real Sociedad há anos, inclusive na campanha do título da Copa do Rei de 2020, o atacante fez grandes jogos pela Espanha no período e esteve em todas as seleções de base, além de brilhar na campanha olímpica de 2020 com três gols e marcar um gol na final da Liga das Nações de 2021, quando a Espanha perdeu para a França. Após perder duas finais seguidas pela seleção e sofrer uma lesão que o tirou do grupo campeão da Liga das Nações de 2023, Oyarzabal deu a volta por cima na Eurocopa, quando foi titular em uma partida e entrou em todas as outras seis. Na última, a grande final, Oyarzabal recebeu um passe de Cucurella e marcou o gol do título europeu da Espanha diante da Inglaterra. Enfim, ele conseguiu sua redenção. 

Joselu: o atacante talismã do Real Madrid campeão europeu de 2023-2024 não teve muitas chances no time titular, mas entrou em algumas oportunidades em 2023 e 2024 e marcou gols – foram 5 em 13 jogos, um deles na semifinal da Liga das Nações, diante da Itália.

Luis De La Fuente (Técnico): com o conhecimento das categorias de base, dos jogadores e do estilo de jogo incorporado na Espanha há anos, De la Fuente criou um dos times que apresenta o melhor futebol no mundo atualmente. Avesso ao toque de bola sem propósito, ele fez a Espanha tocar a bola, mas ir pra cima, criar chances e chutar, algo que faltou durante muitos anos após 2014. Em apenas 21 jogos, o treinador venceu 17, empatou dois, perdeu dois, viu seu time marcar 55 gols (média superior a dois por jogo), sofrer 15 e acumular um aproveitamento de 80,9%. E, claro, levantou dois troféus europeus. Tem tudo para continuar com um grande trabalho e conduzir a Espanha a uma campanha de destaque na próxima Copa do Mundo da FIFA.

Troféus da Espanha em 2023 e 2024: será que vem mais um em 2026?


Licença Creative Commons

O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.

Revisão Completa do Aplicativo GGbet

Maiores Viradas da Copa do Brasil