Por Guilherme Diniz
Com quase 100 anos de histórias, a Copa do Mundo reúne o melhor do futebol. E, como não poderia deixar de ser, criou grandes confrontos que se repetiram ao longo das décadas e acabaram criando rivalidades marcantes. Mas quais são as maiores? Descubra a seguir!
Argentina x Inglaterra
Jogos em Copas: 5
Vitórias da Inglaterra: 3 (3 a 1, fase de grupos, 1962); (1 a 0, quartas de final, 1966), (1 a 0, fase de grupos, 2002)
Vitórias da Argentina: 1 (2 a 1, quartas de final, 1986)
Empates: 1 (2 a 2, oitavas de final, 1998. A Argentina venceu nos pênaltis por 4 a 3)
Muita gente cita a Guerra das Malvinas como principal ponto de intriga entre argentinos e ingleses. Sim, é um grande ponto, mas em Copas a rivalidade da dupla vem de muito antes do confronto bélico dos anos 1980. O primeiro duelo aconteceu em 1962, na fase de grupos da Copa do Mundo do Chile, e terminou com vitória inglesa por 3 a 1, gols de Flowers, Bobby Charlton e Jimmy Greaves. Mas foi em 1966, na Copa realizada na Inglaterra, que a rivalidade nasceu. Em um jogo muito disputado e tenso no estádio Wembley, os ingleses venceram os argentinos por 1 a 0, gol de Hurst. O jogo ficou marcado pela polêmica expulsão do argentino Antonio Rattín por “indisciplina e pelo olhar controverso” como disse o árbitro alemão Rudolf Kreitlein, mesmo não sabendo nada de espanhol. O argentino ficou mais de 10 minutos em campo exigindo uma explicação e até um intérprete antes de ser retirado do gramado.
Os argentinos alegaram na época que o gol inglês foi impedido e chamaram o duelo de “o roubo do século”. A mídia inglesa chamou os argentinos de “animais”, ambos trocaram acusações e nunca mais o confronto entre as nações foi amistoso. Mas é claro que o duelo nas quartas de final da Copa de 1986 foi o maior de todos. A Argentina deu o troco nos ingleses de uma maneira apoteótica e que entrou definitivamente para a história graças a um homem baixinho, marrento e com uma camisa que tinha um imenso número 10 às costas que protagonizou dois lances mágicos que sacramentaram a vitória alviceleste por 2 a 1: Diego Armando Maradona.
O meia chamou para si a responsabilidade de destruir aqueles europeus pelo orgulho da nação argentina e por tudo o que eles haviam causado na Guerra das Malvinas. Mas Maradona não trabalhou sozinho. Ele contou com uma ajuda divina para colocar a bola para dentro do gol inglês logo no começo do segundo tempo. Minutos depois, Maradona não teve ajuda de ninguém. Foi apenas ele, sua genialidade, sua explosão, seu talento e a bola. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Meio time da Inglaterra foi driblado por Maradona. E a Copa do Mundo ganhava o seu gol mais sublime e maiúsculo para ser adorado, revisto e idolatrado para a eternidade.
Em 1998, a Inglaterra tentou o troco em outro jogaço, desta vez válido pelas oitavas de final do Mundial da França, mas o empate em 2 a 2 no tempo normal e derrota nos pênaltis por 4 a 3 minou o sonho inglês. Mesmo assim, o English Team foi valente, marcou um golaço com Michael Owen e jogou boa parte do jogo com um jogador a menos. Só em 2002 que a equipe inglesa conseguiu a desforra ao vencer por 1 a 0 os argentinos na fase de grupos, fato que contribuiu para a eliminação da equipe sul-americana já na fase inicial do Mundial. Desde então, os rivais só se encontraram em um amistoso disputado em 2005, em Genebra-SUI, vencido pela Inglaterra por 3 a 2.
Alemanha x Inglaterra
Jogos em Copas: 5
Vitórias da Alemanha: 2 (3 a 2, quartas de final, 1970); (4 a 1, oitavas de final, 2010)
Vitórias da Inglaterra: 1 (4 a 2, final, 1966)
Empates: 2 (0 a 0, segunda fase de grupos, 1982); (1 a 1, semifinal, 1990. A Alemanha venceu nos pênaltis por 4 a 3).
Um dos confrontos mais famosos do mundo do futebol, Alemanha e Inglaterra possuem histórias únicas em seus encontros nos Mundiais. A primeira partida foi logo a final de 1966, cercada de polêmicas por conta do “gol fantasma” anotado pelos ingleses na prorrogação que até hoje é motivo de discussão. Curiosamente, depois desse jogo, a Alemanha nunca mais perdeu para a Inglaterra em Copas. Em 1970, as equipes duelaram nas quartas de final e a Alemanha, após estar perdendo por 2 a 0, conseguiu empatar e levar o jogo para a prorrogação, na qual o time germânico fez o gol da virada e eliminou os então campeões mundiais.
Em 1982, o jogo entre a dupla aconteceu na segunda fase de grupos, e o placar de 0 a 0 ajudou a Alemanha a avançar para a semifinal. Em 1990, mais uma vez um duelo eliminatório entre os rivais e novo empate – 1 a 1. Na disputa por pênaltis, Pierce e Waddle desperdiçaram seus chutes, e a Alemanha venceu por 4 a 3. No final da partida, Gary Lineker, um dos craques do time inglês, soltou uma de suas mais famosas frases: “O futebol é um jogo simples: 22 homens correm atrás de uma bola durante 90 minutos e, no final, os alemães sempre vencem”.
O mais recente duelo aconteceu nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2010 e também teve polêmica – na verdade um “acerto de contas”. A Alemanha vencia por 2 a 1 quando Frank Lampard chutou de fora da área, a bola explodiu no travessão, quicou, saiu e Neuer pegou. Sim, o mesmo filme de 1966. Mas, ao contrário daquele ano, a Jabulani entrou! Muito! O tal “um metro” que Hurst sempre frisou. Mas… O juiz mandou seguir o jogo. Não tinha VAR. Não tinha bola com chip. Mas sim dezenas de câmeras que comprovaram o gol. E mesmo assim ele não deu. O que deu foi Alemanha: 4 a 1. Goleada. E mais uma vitória sobre o rival. A mais doce vingança. Naquele dia, os alemães tiveram duas certezas: a bola entrou. E os ingleses sentiram a mesma sensação que eles sentiram lá em 1966.
Brasil x França
Jogos em Copas: 4
Vitórias da França: 2 (3 a 0, final, 1998); (1 a 0, quartas de final, 2006)
Vitórias do Brasil: 1 (5 a 2, semifinal, 1958)
Empates: 1 (1 a 1, quartas de final, 1986. A França venceu nos pênaltis por 4 a 3)
Se você ver o encontro entre franceses e brasileiros em Copas, pode ter certeza de que ele será decisivo e valendo vaga (ou título). Sempre candidatos ao caneco, as equipes possuem embates marcantes em Mundiais. O primeiro foi na Copa de 1958, na semifinal, no choque dos timaços do Brasil, com Didi, Pelé, Garrincha, Vavá e companhia, e da França, com Kopa e a máquina de gols Fontaine. Vavá, aos 2´, abriu o placar para os sul-americanos. Fontaine, num belo gol, empatou, mas Didi, aos 39´, deixou o Brasil em vantagem mais uma vez. Naquele momento, a França viu seu capitão, Jonquet, ter de deixar o gramado por causa de uma fratura na perna após um choque com Vavá dois minutos antes do tento de Didi.
Como na época não haviam substituições, os franceses tiveram que jogar os seis minutos seguintes e mais todo o segundo tempo com apenas dez homens. Foi o inevitável fim. Pelé chamou para si o protagonismo do jogo e marcou três gols na etapa complementar (aos 7´, 19´e 30´), com Piantoni descontando para os franceses quando já não havia mais tempo de reação. O placar de 5 a 2 definiu a classificação do Brasil para a decisão e levou os franceses para a disputa do terceiro lugar.
Muitos anos depois, o troco dos Bleus veio nas quartas de final da Copa de 1986, no México. Com o placar em 1 a 1, o Brasil teve um pênalti a seu favor na segunda etapa. Zico, longe da melhor forma física e que tinha acabado de entrar, foi para a bola. E errou. O jogo continuou empatado e foi para os pênaltis. Na disputa, Zico bateu de novo e dessa vez marcou. Mas os erros de Sócrates e Júlio César decretaram a eliminação do Brasil da Copa.
Em 1998, mais um choque épico entre as duas equipes, mas na aclamada final da Copa. Para o amante do futebol, era a final dos sonhos. De um lado, a anfitriã França, melhor defesa da Copa, com craques em todos os setores do campo, jovens aptos a decidir e torcida toda a seu favor. Do outro, o Brasil, badalado e campeão mundial, que se não tinha uma zaga lá muito confiável, era dono do melhor ataque com 14 gols, não havia deixado de balançar as redes em nenhum jogo, contava com um goleiro iluminado, laterais fantásticos, Dunga e Rivaldo vivendo grandes fases e o melhor jogador do mundo no ataque: Ronaldo. Mas, quando a bola rolou, o que se viu foi um jogo de um time só. A França, com uma autoridade impressionante, abriu 2 a 0 já no primeiro tempo em duas jogadas idênticas e dois gols de Zidane.
Na segunda etapa, a anfitriã só teve que controlar o jogo e esperar uma oportunidade para fechar a conta com Petit, nos acréscimos, para decretar o elástico e impensável 3 a 0 que deu à França o primeiro título mundial e ao Brasil uma de suas maiores derrotas em Copas. Foi uma surpresa até mesmo para os franceses um placar como aquele em plena final. Para os brasileiros, o revés foi intragável, tido como injusto, “jogo comprado” e roteiro para contos, como o popular “se soubesse a verdade, você ficaria enojado”. Acontece que o Brasil perdeu aquele jogo bem antes. E a França era muito melhor.
Em 2006, nas quartas de final, mais uma vez a França foi carrasco do Brasil e venceu por 1 a 0, gol de Henry, em jogo no qual Zidane só não fez chover em campo com sua classe e condição de carrasco brasileiro em Copas. O craque deu passes precisos, chapéu em Ronaldo, o passe pro gol e exibiu seu repertório único que o fez um dos maiores deuses do futebol em Copas.
Brasil x Itália
Jogos em Copas: 5
Vitórias da Itália: 2 (2 a 1, semifinal, 1938); (3 a 2, segunda fase de grupos, 1982)
Vitórias do Brasil: 2 (4 a 1, final, 1970); (2 a 1, disputa pelo 3º lugar, 1978)
Empates: 1 (0 a 0, final, 1994. O Brasil venceu nos pênaltis por 3 a 2)
Um jogo de respeito mútuo, camisas pesadíssimas e duas finais. Brasil e Itália são verdadeiros patrimônios das Copas e suas histórias se confundem com a do próprio torneio. O primeiro encontro foi lá em 1938, quando a então campeã Azzurra encarou o forte Brasil de Leônidas da Silva e venceu por 2 a 1, em jogo marcado pelo pênalti polêmico de Domingos da Guia em Piola que resultou no gol da vitória de Meazza. O troco do Brasil, porém, veio em grande estilo: na finalíssima da Copa do Mundo de 1970, que valia, além do tricampeonato para ambas as seleções, a posse em definitivo da Taça Jules Rimet. E, com um show épico de Pelé, Jairzinho, Tostão, Gérson, Rivellino e companhia, o Brasil goleou os italianos por 4 a 1 e consagrou a maior seleção do século XX em um dos maiores jogos da história dos Mundiais.
Em 1978, as equipes se reencontraram na disputa pelo terceiro lugar da Copa da Argentina e o time canarinho venceu por 2 a 1, com gols de Nelinho e Dirceu. No entanto, após duas derrotas seguidas, a Itália, enfim, conseguiu sua desforra em 1982, na segunda fase de grupos. Italianos e brasileiros duelaram por uma vaga na semifinal e bastava ao Brasil o empate. Parecia barbada, afinal, o time de Telê Santana jogava um futebol primoroso, artístico. Mas foi naquele dia 05 de julho de 1982 que a Seleção Italiana, antes esnobada, criticada e desacreditada, jogou tudo o que havia devido na primeira fase e renasceu.
Mas não foi somente ela que teve um momento fênix no acanhado Sarriá. Paolo Rossi, atacante renegado e na seca há muito tempo, marcou um. Dois. Três gols. Dino Zoff, que havia sido execrado justamente contra o Brasil, num duelo pelo terceiro lugar na Copa de 1978, operou um milagre fantástico na última bola do jogo. E a Itália venceu. Saiu das cinzas, assim como Zoff, Rossi, Cabrini, Scirea, Tardelli, Conti e tantos outros talentos que ninguém notava, mas que estavam ali, vestindo o azul que era ofuscado pelo brilho amarelo do Brasil, o time da arte, o time do futebol vistoso. Para os brasileiros, foi uma tragédia. Para os italianos, um dos jogos mais importantes de toda a história de sua seleção. Para as Copas, um dos jogos mais espetaculares e emocionantes de todos os tempos.
Mas, em Copas, sempre tem a volta. E, em 1994, mais uma vez brasileiros e italianos decidiram um Mundial. E, de novo, um dos dois seria o pioneiro na lista de maiores campeões com 4 títulos, assim como em 1970. Em uma final agônica no Rose Bowl, os times não saíram do 0 a 0 nem nos 90 minutos nem na prorrogação. Na disputa de pênaltis, o Brasil aplicou o mesmo placar de 1982, venceu por 3 a 2 e virou o primeiro tetra.
Alemanha x Argentina
Jogos em Copas: 7
Vitórias da Alemanha: 4 (3 a 1, fase de grupos, 1958); (1 a 0, final, 1990); (4 a 0, quartas de final, 2010); (1 a 0, final, 2014)
Vitórias da Argentina: 1 (3 a 2, final, 1986)
Empates: 2 (0 a 0, fase de grupos, 1966); (1 a 1, quartas de final, 2006. A Alemanha venceu nos pênaltis por 4 a 2).
Confronto mais repetido em finais de Copas – foram três decisões! – Alemanha e Argentina é um duelo de grandes histórias, jogos memoráveis e craques do mais alto calibre. Mesmo com tantos embates decisivos, só tivemos uma vez um pouco de ânimos acirrados – no duelo de 2006. Tudo começou em 1958, quando a Alemanha venceu os sul-americanos por 3 a 1 na fase de grupos daquele Mundial em jogo que teve a equipe albiceleste jogando de camisa amarela. Motivo? O selecionado argentino não trazia consigo uniforme reserva e foi necessário o empréstimo das vestimentas do IFK Malmö, clube da cidade onde as seleções iriam se enfrentar. Com isso, a Argentina entrou em campo com um exótico uniforme composto por camisa amarela, calção preto e meias cinzas.
Em 1966, de novo em uma fase de grupos, um 0 a 0 sem grandes emoções ainda não inspirava uma rivalidade entre as nações. Foi só em 1986, na decisão da Copa do México, que o duelo, enfim, virou um clássico das Copas. Com Maradona no auge, a albiceleste abriu 2 a 0 no placar, mas levou o empate. Quando o jogo parecia ir à prorrogação, Dieguito enfiou um passe perfeito para Burruchaga fazer 3 a 2 e dar o bicampeonato à Argentina. Quatro anos depois, na Itália, a Argentina tentou o tri diante dos alemães, mas um gol de pênalti de Andreas Brehme enterrou o sonho dos sul-americanos. E, a partir daquele triunfo, começaria um inferno astral que até agora a equipe albiceleste não conseguiu reverter.
Em 2006, nas quartas de final do Mundial em solo alemão, o empate em 1 a 1 no tempo normal levou a decisão para os pênaltis. E, na marca da cal, a Alemanha venceu e não deixou a grande geração de futebolistas argentinos seguir adiante. Após a vitória alemã, teve confusão entre os jogadores e bate-boca, mas felizmente nada de agressões ou alguém indo às vias de fato. Quatro anos depois, em 2010, o encontro entre a dupla foi nas quartas de final. E o jovem time alemão goleou por 4 a 0, mandando o time comandado pelo técnico Diego Maradona mais cedo para casa.
O mais recente duelo foi em outra final, em 2014, no Brasil. Favorita após enfiar o 7 a 1 nos anfitriões, a Alemanha viu a Argentina perder dois gols feitos com Higuaín e Messi, mas controlou os nervos e venceu por 1 a 0 com o gol anotado na prorrogação por Mario Götze. A Alemanha virou tetra e a Argentina aumentou seu suplício em Mundiais, cujo maior carrasco é justamente a equipe germânica.
Alemanha x França
Jogos em Copas: 4
Vitórias da Alemanha: 2 (2 a 0, semifinal, 1986); (1 a 0, quartas de final, 2014)
Vitórias da França: 1 (6 a 3, disputa pelo 3º lugar, 1958)
Empates: 1 (3 a 3, semifinal, 1982. A Alemanha venceu nos pênaltis por 5 a 4).
Os alemães não consideram tanto os franceses como seus rivais no futebol, mas a rixa do outro lado é muito forte por conta dos encontros tensos que ambas as nações fizeram a partir dos anos 1980 em Copas do Mundo e pelos revezes em sequência dos franceses desde então. A única vitória dos Bleus aconteceu em 1958, na disputa pelo terceiro lugar. Com uma equipe super ofensiva, o time azul goleou os alemães por 6 a 3, com quatro gols de Just Fontaine, que se tornou naquele ano o maior artilheiro de uma só Copa com 13 gols em apenas seis jogos. Muito tempo se passou e apenas em 1982 que França e Alemanha se enfrentaram em uma Copa. E foi logo em uma semifinal, tida até hoje como o maior jogo entre ambos na história e conhecida como a “Batalha de Sevilha”.
O duelo era repleto de expectativas, mas o favoritismo pendia para o lado germânico pelo fato de os franceses jamais terem disputado uma final de Copa na época. Sem Rummenigge, no banco, a Alemanha foi com Littbarski, Magath e Fischer no ataque, um trio de respeito e que poderia causar sérios problemas aos franceses. Isso sem contar com Paul Breitner, no meio de campo. E, quando a bola rolou, Littbarski abriu o placar para os alemães, aos 17´do primeiro tempo. Tempo depois, Platini empatou para a França, de pênalti, aos 26´. Mesmo jogando melhor, a França não conseguia furar a retranca alemã. No segundo tempo, um lance que poderia mudar o panorama do jogo provocou polêmica. O goleiro alemão Schumacher nocauteou, literalmente, o francês Battiston em um lance deplorável, que deixou o jogador inconsciente e com o maxilar quebrado (!).
O árbitro holandês Charles Corver entendeu (?) que a jogada foi normal (!!) e deu apenas tiro de meta para os alemães. O lance revoltou demais os franceses e a todos no estádio, que passaram a torcer contra a Alemanha. O placar permaneceu 1 a 1 e levou a partida para a prorrogação. Nela, a França abriu 3 a 1 com Trésor e Giresse e parecia com a vaga na mão. Bem, só parecia. Rummenigge marcou o segundo gol alemão, aos 102´. Fischer, de bicicleta (!), empatou, aos 108´. O 3 a 3 seguiu até o final e o jogo foi para os pênaltis, na primeira decisão desse tipo em uma partida eliminatória na história das Copas.
Nas cobranças, todos foram convertendo até o alemão Stielike, no terceiro chute, errar. Ele ajoelhou-se no gramado e chorou. Ali, todos pensaram que a Alemanha perderia. Mas o francês Six viu o goleiro Schumacher defender seu chute e ficou tudo igual. Rummenigge e Platini converteram suas cobranças e começaram os chutes alternados. Hrubesch fez o seu e Bossis parou em Schumacher: vitória alemã por 5 a 4 e vaga na final.
Quatro anos depois, em 1986, outra vez a Alemanha encarou a França na semifinal. Mas, diferente do drama de 1982, dessa vez a partida foi toda da Alemanha. Logo aos 9’, Brehme cobrou falta ensaiada da entrada da área, o goleiro Joël Bats falhou e o placar foi inaugurado no estádio Jalisco: 1 a 0. A França ainda teve uma chance claríssima de empatar no primeiro tempo em um lance com Bossis, que chutou por cima do gol vazio após um rebote do goleiro Schumacher. No segundo tempo, Stopyra também fez grande jogada pela direita e chutou rasteiro, mas Schumacher defendeu com as pernas. Já aos 45’, em contra-ataque mortal, Allofs lançou Rudi Völler livre pelo centro, o atacante encobriu o goleiro e só teve o trabalho de tocar a bola para o gol vazio e liquidar de vez a partida: 2 a 0. E Alemanha na final. Em 2014, no Brasil, a Alemanha aumentou a fama de carrasco pra cima dos franceses e eliminou os Bleus nas quartas de final com um placar de 1 a 0, seguindo firme rumo ao tetra.
Brasil x Argentina
Jogos em Copas: 4
Vitórias do Brasil: 2 (2 a 1, segunda fase de grupos, 1974); (3 a 1, segunda fase de grupos, 1982)
Vitórias da Argentina: 1 (1 a 0, oitavas de final, 1990)
Empates: 1 (0 a 0, segunda fase de grupos, 1978).
O maior clássico da América do Sul – e um dos maiores do mundo – teve poucos duelos em Copas, mas muito marcantes. O primeiro foi na Copa de 1974, na segunda fase de grupos que dava ao campeão do grupo uma vaga na final. Jogando com alguns remanescentes do time tricampeão em 1970 como Rivellino, Jairzinho e PC Caju, o Brasil derrotou os Hermanos por 2 a 1 e foi para a última rodada com chance de classificação. Porém, o escrete canarinho foi derrotado pela Holanda de Cruyff e deu adeus ao sonho do tetra.
Em 1978, no Mundial da Argentina, um confronto tenso entre a dupla na segunda fase ficou conhecido como a “Batalha de Rosário”. Antes do duelo, a polícia local permitiu que torcedores argentinos buzinassem e fizessem barulho em frente ao hotel Libertador, onde o Brasil estava hospedado. Tal artimanha aumentou ainda mais a fúria brasileira para a partida. Com dez segundos, a Argentina já fez a primeira falta. Com três minutos, já eram seis faltas marcadas. E, com 12 minutos, 14 faltas. O clima hostil seguiu até o fim, mas o Brasil não se intimidou e segurou o 0 a 0.
Na última rodada, a equipe brasileira venceu a Polônia, mas ficou fora da final por causa do saldo de gols, pois a Argentina goleou o Peru por 6 a 0 – ela precisava vencer por quatro gols de diferença -, em uma história até hoje bastante polêmica pela “vontade” dos peruanos na partida… A Argentina acabou campeã do mundo naquele ano, enquanto os brasileiros se proclamaram os “campeões morais” do torneio.
A desforra brasileira aconteceu na Copa de 1982, quando o Brasil venceu de maneira categórica a Argentina por 3 a 1, gols de Zico, Serginho e Júnior. O duelo ficou marcado pela expulsão de Diego Maradona, que acertou um chute em Batista e levou cartão vermelho direto. Um ano antes, Dieguito havia marcado seu gol no empate em 1 a 1 contra o Brasil durante o Mundialito de 1981, no Uruguai, e já era um craque em ascensão naquele Mundial de 1982. No entanto, o meia nada fez e foi eclipsado pela inesquecível seleção canarinho.
Mas, na Copa do Mundo de 1990, o time argentino deu o troco nas oitavas de final. Jogando um futebol burocrático na fase de grupos e com foco na defesa, a equipe brasileira acabou fazendo naquele dia seu melhor jogo no Mundial, com direito a três bolas nas traves do goleiro Goycochea. A Argentina não era nem sombra do time campeão do mundo em 1986, mas tinha uma carta na manga: Maradona. El Diez recebeu uma bola no meio de campo, passou por Alemão, por Dunga, trouxe a marcação de outros três defensores brasileiros para si até dar um passe magistral para Caniggia, sozinho, que driblou Taffarel e tocou para o gol vazio: 1 a 0, aos 35’ do segundo tempo. Foi o suficiente. Argentina classificada. Brasil, fora da Copa. Desde então, os rivais não conseguiram se enfrentar em uma Copa. Houve a chance de ouro em 2014, na Copa do Mundo realizada no Brasil, mas o time da casa caiu na semifinal. Em 2022, pode ocorrer um Superclássico na semifinal… Já pensou?
França x Itália
Jogos em Copas: 5
Vitórias da Itália: 2 (3 a 1, quartas de final, 1938); (2 a 1, fase de grupos, 1978)
Vitórias da França: 1 (2 a 0, oitavas de final, 1986)
Empates: 2 (0 a 0, quartas de final, 1998. A França venceu nos pênaltis por 4 a 3); (1 a 1, final, 2006. A Itália venceu nos pênaltis por 5 a 3).
Mais um duelo de titãs de Copas que possuem histórias marcantes, também, em outras competições, como a Eurocopa – decidida pela dupla em 2000, com vitória da França. O primeiro encontro entre Bleus e Azzurra foi em 1938, na Copa do Mundo realizada em solo francês. Com a base campeã mundial quatro anos antes e reforçada pelo artilheiro Silvio Piola, a Itália eliminou os anfitriões nas quartas de final com uma vitória por 3 a 1, embalando a equipe rumo ao bicampeonato. Exatos 40 anos depois, as equipes se enfrentaram na fase de grupos da Copa do Mundo da Argentina e o forte time italiano venceu de novo: 2 a 1, gols de Paolo Rossi e Zaccarelli.
A partir da década de 1980, porém, a sorte virou no clássico. Em 1986, o esquadrão comandado por Platini derrotou os italianos nas oitavas de final do Mundial do México por 2 a 0 e acabaram com a seca no duelo. Tempo depois, nas quartas de final da Copa de 1998, os franceses eliminaram os italianos nos pênaltis com vitória por 4 a 3, após empate sem gols no tempo normal. Eram tempos de glória da equipe de Zidane, Djorkaeff e companhia, que venceram os italianos na final da Euro de 2000 e consagraram uma geração de ouro.
Mas, em 2006, veio a revanche italiana em grande estilo: na final. Logo no início de jogo, pênalti para a França. Zidane partiu, bateu com cavadinha e fez 1 a 0. Todos pensavam que a Itália teria dificuldade para furar a boa defesa francesa, mas foi justamente um defensor quem colocou o time novamente no jogo. Pirlo cobrou escanteio e Materazzi empatou, de cabeça: 1×1. A igualdade seguiria até o final, levando o jogo para a prorrogação. Que teria novas doses de emoção.
As equipes ficaram num misto de arriscar para ganhar e defender para evitar problemas. Numa de suas investidas, a França teve uma chance de ouro com Zidane. O craque cabeceou forte para o gol. Porém, Buffon fez uma das defesas mais fabulosas da história das Copas. Coisa de cinema. Mas outra coisa de cinema, mais precisamente de um filme de terror, chamou a atenção. Depois de ser provocado por Materazzi, Zidane deu uma cabeçada no peito do jogador italiano, fora do olhar do árbitro argentino Horacio Elizondo.
Porém, o quarto árbitro avisou o argentino, que expulsou o jogador francês. Seria o fim da carreira do maior jogador que a França já teve. Um triste fim. Fim da polêmica, fim de jogo. A Copa seria decidida, pela segunda vez, nos pênaltis. E, de novo, como em 1994, a Itália seria uma das protagonistas. Com 100% de aproveitamento, a Azzurra converteu todos os seus chutes, Trezeguet mandou na trave, e o placar de 5 a 3 deu o tetracampeonato aos italianos.
Brasil x Uruguai
Jogos em Copas: 2
Vitórias do Brasil: 1 (3 a 1, semifinal, 1970)
Vitórias do Uruguai: 1 (2 a 1, final, 1950. OBS.: era um quadrangular, mas, como ambos fizeram o último jogo, acabou “virando” uma final)
O clássico sul-americano não tem o mesmo peso que Brasil x Argentina, mas é inegável que ambos possuem algumas das maiores histórias das Copas, uma delas a maior, sem dúvida. Em 1950, a festa já estava pronta. Cartazes de “campeões do mundo” eram vistos por toda parte e nas capas dos jornais. Políticos já tinham discursos prontos. Uma nação inteira esperava apenas o apito final do inglês George Reader para soltar o grito de alegria no maior estádio do mundo, o Maracanã, construído especialmente para aquela Copa do Mundo de 1950. Mas os milhões de brasileiros se esqueceram de avisar os rivais uruguaios, campeões do mundo em 1930 e invictos em jogos de Copa.
Os jogadores do Brasil não contavam com a fibra e a raça celeste. E, acima de tudo, não jogaram futebol, não se prepararam adequadamente e entraram já derrotados em campo. O resultado não poderia ser outro: Brasil 1×2 Uruguai. Mais de 200 mil pessoas no Maracanã ficaram emudecidas. E choraram. Muito. Foi o maior choro coletivo da história do futebol. Lenços que tremulavam antes da partida agora enxugavam as lágrimas que escorriam pelo rosto. Estava feita a tragédia. E sacramentada uma das maiores derrotas da história do futebol brasileiro, bem como a maior vitória da história dos uruguaios. Jamais o esporte no Brasil foi o mesmo depois daquele 16 de julho de 1950. Ele mudou, felizmente, para melhor. Mas aquela ferida, aberta e escancarada por apenas 11 homens, jamais se fechou.
Exatos 20 anos depois, no México, o Brasil reencontrou o Uruguai em uma Copa, dessa vez na semifinal. As equipes começaram cautelosas, se estudando. E o Uruguai saiu na frente com Cubilla, após passe de Morales, num gol meio que sem querer, após o chute do uruguaio sair meio que torto. Com a liderança no placar, o Uruguai cozinhava a partida, não deixava o Brasil jogar. Foi então que o técnico Zagallo mexeu na maneira do time jogar, recuando Gérson e liberando Clodoaldo ao ataque. Deu certo, o santista empatou, e deu mais tranquilidade ao Brasil. No segundo tempo, o Brasil virou, após ótima jogada do trio de ouro Pelé-Tostão-Jairzinho, com este último fuzilando pro gol. O Brasil ainda faria mais um com Rivellino, fechando o placar em 3 a 1. Fantasma enterrado, e passaporte carimbado para a final.
E foi nessa partida contra o Uruguai que Pelé, o maior nome da história das Copas, protagonizou dois lances incríveis. O primeiro foi um chute de bate pronto após uma reposição errada do goleiro Mazurkiewicz. O goleiro uruguaio pegou, mas no susto. O outro foi fantástico. Pelé recebeu a bola da esquerda, Mazurkiewicz saiu do gol para tentar pegá-la, mas eis que ele viu o brasileiro chegando como um foguete. Sem saber o que fazer, ele vê o rei passar por ele sem tocar na bola, num drible de corpo sensacional. Goleiro batido, Pelé chutou pro gol. Mas, um pedaço de grama raspado pela chuteira do uruguaio Ancheta, que corria desesperadamente em direção ao gol, tirou a bola, que foi pra fora. Desde então, brasileiros e uruguaios nunca mais se enfrentaram em Copas – existe uma chance do duelo acontecer na segunda fase da Copa de 2022, no Catar.
Argentina x Uruguai
Jogos em Copas: 2
Vitórias da Argentina: 1 (1 a 0, oitavas de final, 1986)
Vitórias do Uruguai: 1 (4 a 2, final, 1930)
Um dos clássicos mais antigos do mundo, Argentina e Uruguai já nutriam uma rivalidade histórica quando se encontraram pela primeira vez em uma Copa, aliás, na primeira Copa, em 1930. Rivais na decisão olímpica de 1928 (vencida pelo Uruguai), as equipes mostraram que eram mesmo as melhores do mundo ao decidirem o primeiro Mundial da história. Só que o que era para ser um jogo de futebol ganhou proporções de guerra. Torcedores cruzando o rio da Prata na calada da noite com armas (!). Árbitro do jogo exigindo garantias de vida e uma passagem de volta ao seu país tão logo terminasse o duelo. E bolas diferentes para cada etapa da partida (!) a fim de atender os gostos das duas seleções. A primeira final da história das Copas teve tudo isso e muito mais. Todos os temperos de um clássico eterno. De uma final que ficará marcada para sempre no esporte. E que iniciou da maneira mais épica possível o maior torneio do futebol mundial. No fim, o Uruguai derrotou a albiceleste por 4 a 2 e ficou com o título.
A Argentina teve que esperar muitas décadas para rever o vizinho novamente: em 1986, nas oitavas de final da Copa realizada no México, quando a albiceleste venceu por 1 a 0, gol de Pedro Pasculli, e eliminou a Celeste do Mundial. Mesmo com tanta história entre si, argentinos e uruguaios mereciam mais encontros em Mundiais.
Brasil x Holanda
Jogos em Copas: 5
Vitórias da Holanda: 3 (2 a 0, segunda fase de grupos, 1974); (2 a 1, quartas de final, 2010); (3 a 0, disputa pelo 3º lugar, 2014)
Vitórias do Brasil: 1 (3 a 2, quartas de final, 1994)
Empates: 1 (1 a 1, semifinal, 1998. O Brasil venceu nos pênaltis por 4 a 2)
Com estilos ofensivos e craques aos borbotões, Brasil e Holanda já protagonizaram alguns dos jogos mais eletrizantes e imprevisíveis das Copas, consagrando um dos duelos que mais vezes se repetiu no torneio. O primeiro foi em 1974, época em que o técnico do Brasil, Zagallo, estava confiante e não passava por sua cabeça ser eliminado pelos europeus, afinal, o Brasil era tricampeão mundial e tinha o ótimo goleiro Leão, o zagueiro Luís Pereira, o craque Rivellino no meio de campo e Jairzinho na frente. Porém, camisa não ganha jogo. Muito menos se o adversário tiver Cruyff e Neeskens, os autores dos gols da vitória Laranja por 2 a 0, que mandaram o Brasil para a disputa do 3º lugar (perdida para a Polônia por 1 a 0). O Brasil ficou perdido em campo, não conseguiu neutralizar a Holanda e apelou para a pancadaria, com Luís Pereira expulso já perto do final do jogo. Não fosse Leão, o Brasil teria levado uma goleada. E Zagallo teve que digerir uma laranja bem azeda…
O troco canarinho aconteceu em 1994, nas quartas de final. Após um primeiro tempo insosso, Dallas viu naquele dia 09 de julho de 1994 um dos maiores segundos tempos da história das Copas. Gols maravilhosos. Um Brasil demolidor nos primeiros minutos e que abriu 2 a 0, com Romário, melhor atacante do planeta na época, e Bebeto, que inspirou gerações ao comemorar o nascimento do filho “embalando-o” após o segundo gol. Mas veio a pane geral logo na sequência. E a Holanda empatou. Drama em Dallas. Até que o time brasileiro ganhou, literalmente, uma falta na entrada da área. Era de longe. Na bola, Branco, tão criticado, tão longe de suas melhores condições físicas. O lateral-esquerdo cobrou a falta de sua vida. Romário, lá na área, tirou o corpo para ajudar o amigo a entrar para a história. Gol. Vitória por 3 a 2. Zagallo conseguia sua vingança. E o Brasil o embalo necessário para o tetra.
Em 1998, outro jogo sensacional entre brasileiros e holandeses, dessa vez na semifinal. Outra vez com craques maiúsculos em campo e outra vez jogando um futebol ofensivo, abusado e sem medo algum de levar um gol num contra-ataque (nem mesmo um gol de ouro em uma alucinante morte súbita), Brasil e Holanda fizeram 120 minutos repletos de emoção, aplausos e um tímido 1 a 1 no placar. Na disputa de pênaltis, os tetracampeões do mundo converteram todas as suas cobranças. Já a mais brilhante seleção holandesa em um Mundial desde aquela de Cruyff em 1974 marcou apenas dois gols. E perdeu outros dois. Falta de sorte? Nervosismo? Não. Culpa de Taffarel, que defendeu com maestria os chutes de Ronald de Boer e Cocu, colocando o Brasil na final.
A partir dali, porém, a Holanda iria reverter o histórico no duelo. Em 2010, nas quartas de final, a equipe laranja saiu perdendo, mas conseguiu a virada no segundo tempo por 2 a 1, eliminou o Brasil e seguiu sua caminhada até a final. E, em 2014, os europeus enfrentaram o anfitrião Brasil na disputa pelo 3º lugar e venceram facilmente por 3 a 0, aproveitando a terra devastada do time canarinho pós-7 a 1. Com isso, a Holanda tem a vantagem de 3 a 2 no retrospecto contra o Brasil em Copas.
Itália x Alemanha
Jogos em Copas: 5
Vitórias da Itália: 3 (4 a 3, semifinal, 1970); (3 a 1, final, 1982); (2 a 0, semifinal, 2006)
Empates: 2 (0 a 0, fase de grupos, 1962); (0 a 0, segunda fase de grupos, 1978)
Alguns alemães costumam brincar que o duelo contra a Itália é um clássico inútil, pois eles sabem que é quase certo que a Azzurra vencerá. E, ao longo das décadas, vimos isso mesmo. Dois dos maiores campeões da história das Copas com quatro títulos cada um, alemães e italianos já se enfrentaram cinco vezes em Copas e nunca a Nationalelf conseguiu derrotar a Nazionale. Depois do empate sem gols no primeiro jogo entre a dupla de titãs, em 1962, o segundo foi simplesmente o Jogo do Século, tido até hoje como o maior jogo da história das Copas. Exagero? Que nada!
Na semifinal de 1970, a Itália estava cheia de fôlego, enquanto a Alemanha ainda repunha as energias por causa da batalha prévia contra os ingleses nas quartas de final, decidida na prorrogação. Parecia fácil para os italianos. Só parecia. Eles cometeram o pecado da retranca enquanto venciam. Os alemães, maiores traiçoeiros do planeta bola, aproveitaram. Quando a torcida italiana já se programava para a final, eis o gol de empate. Sim, os alvinegros teriam pela frente outra prorrogação. Como aguentar?
Beckenbauer fratura a clavícula. Substituições já realizadas. Ficar com 10 homens? Nem a pau! O Kaiser volta ao campo. Enfaixado. Heroico. Sua bravura inspira a Alemanha. Que vira. E leva nova virada. Mas empata! Mas perde. Mas valeu. Naquele dia 17 de junho de 1970, milhões de pessoas assistiram a maior partida de futebol da história das Copas do Mundo: Itália 4×3 Alemanha. Jamais houve um jogo como aquele. Jamais uma prorrogação foi tão alucinante e frenética. Times ao ataque. Zagueiros além do meio de campo. Atletas exaustos. Foi eterno, como os próprios mexicanos confirmaram ao fazer uma placa na porta do estádio Azteca homenageando aquele confronto.
Oito anos depois, no Mundial da Argentina, um novo 0 a 0 em uma fase de grupos. E, em 1982, a Itália coroou sua campanha de ressurreição na Copa da Espanha ao derrotar os rivais por 3 a 1 na grande final do Santiago Bernabéu. Os italianos dominaram o jogo logo no início e tiveram a chance de abrir o placar no primeiro tempo, mas Cabrini desperdiçou um pênalti. Na segunda etapa, logo aos 11 minutos, Paolo Rossi, sempre ele, marcou seu sexto gol na Copa e o primeiro da Itália na decisão. Aos 24´, Tardelli ampliou, e, aos 35´, Altobelli fez 3 a 0. Breitner descontou para a Alemanha dois minutos depois, mas já era tarde. A Itália era tricampeã mundial de futebol e conquistava a Copa depois de 44 anos.
Para comprovar a sina de maior carrasco dos germânicos em Mundiais, a Itália enfrentou a Alemanha em mais uma semifinal em 2006, na casa dos germânicos. Assim como em 1970, o duelo entre a dupla de tricampeões do mundo foi tenso durante os 90 minutos, terminou empatado e foi eletrizante nos trinta minutos da prorrogação. Não houve cinco gols como no Mundial do México, mas dois golaços dignos dos maiores esquadrões que a Itália já teve.
Um, no penúltimo minuto, marcado por um jogador pouco badalado (Grosso) que acertou um chute magnífico após um passe exuberante de Andrea Pirlo. E o outro, com aquilo que os italianos são mais peritos no futebol: o contra-ataque, em uma aula que começou na defesa, teve clímax no meio de campo e grand finale no chute preciso de Del Piero que colocou a Azzurra na final, pavimentou o caminho do tetra e aumentou a freguesia alemã para os italianos.
Alemanha x Holanda
Jogos em Copas: 3
Vitórias da Alemanha: 2 (2 a 1, final, 1974); (2 a 1, oitavas de final, 1990)
Empates: 1 (2 a 2, segunda fase de grupos, 1978)
O sentimento anti-alemão é muito profundo na Holanda desde a 2ª Guerra Mundial, quando as tropas nazistas ocuparam o país por cinco anos. Desde então, a rivalidade sempre existiu e, claro, migrou para o futebol. E o primeiro encontro entre as nações na história das Copas foi justamente na final do Mundial de 1974, em solo alemão, com duas equipes lendárias: a Alemanha de Beckenbauer, Gerd Müller e Paul Breitner contra a Holanda de Cruyff, Neeskens, Rep e companhia. Depois de abrir o placar no comecinho do jogo, a Holanda parecia que iria coroar uma campanha inesquecível e um esquadrão antológico. Mas a Alemanha conseguiu a virada e levou o título contra todos os prognósticos, aumentando ainda mais a repulsa dos holandeses para com os rivais e o clima hostil que segue entre a dupla até hoje.
Em 1978, no Mundial da Argentina, a equipe laranja conseguiu um valioso empate de 2 a 2 diante da Nationalelf na segunda fase de grupos, resultado que ajudou a equipe laranja a seguir rumo a mais uma final e eliminar o time germânico. Tempo depois, na Copa do Mundo de 1990, a desforra alemã veio nas oitavas de final, quando Klinsmann e Brehme fizeram os gols da vitória por 2 a 1 que tirou a apática Holanda do Mundial e vingou a derrota sofrida pelos alemães na semifinal da Eurocopa de 1988, vencida pela Holanda na casa alemã. Durante o jogo, a hostilidade ficou marcada no lance da cusparada do holandês Frank Rijkaard no alemão Rudi Völler, que acabou causando a expulsão do volante da equipe laranja.
Argentina x Holanda
Jogos em Copas: 6
Vitórias da Argentina: 1 (3 a 1, final, 1978)
Vitórias da Holanda: 2 (4 a 0, Segunda Fase de Grupos, 1974; 2 a 1, Quartas de final, 1998)
Empates: 3 (0 a 0, Fase de grupos, 2006; 0 a 0, Semifinal, 2014 – a Argentina venceu nos pênaltis por 4 a 2; 2 a 2, Quartas de final, 2022 – a Argentina venceu nos pênaltis por 4 a 3).
Embora tenham se encontrado várias vezes em Copas, argentinos e holandeses não nutriam uma grande rivalidade em Mundiais se compararmos com os outros confrontos que temos nessa lista. Porém, tudo mudou em definitivo no duelo entre ambos nas quartas de final da Copa do Catar de 2022. Com brigas, provocações, vários cartões e uma história impressionante, o jogo entrou direto para a história das Copas e elevou o patamar de tensão que nunca vimos em nenhum outro jogo. As memórias do confronto começaram em 1974, quando a Laranja Mecânica de Cruyff fez 4 a 0 na Argentina e seguiu firme rumo à final daquele ano.
Quatro anos depois, a Argentina deu o troco na grande final da Copa do Mundo de 1978, jogando em casa. No primeiro tempo, a equipe sul-americana ficou mais acuada do que no ataque, com medo de a Holanda pôr em prática suas letais armas ofensivas, sempre com Neeskens e Rensenbrink como pivôs nos lances perigosos. Lá atrás, Fillol garantia a igualdade no placar e evitava que a Holanda abrisse o marcador. Foi então que o atacante Kempes, aos 38´, recebeu na entrada da área de Luque e abriu o placar para a Argentina ao seu estilo, com uma arrancada rápida e chute rasteiro.
Na segunda etapa, a Argentina parecia acomodada com o 1 a 0 e se segurou. A Holanda, valente, foi em busca do empate e conseguiu com Nanninga, de cabeça, aos 37 minutos. Os nervos dos argentinos ficaram à flor da pele e a Holanda quis porque quis virar o placar. Foi então que, no último minuto de jogo, Rensenbrink teve a chance de dar o título mundial para a Holanda, mas seu chute bateu na trave, para alívio dos argentinos e desespero dos holandeses. A final, empatada em 1 a 1, foi para a prorrogação.
Nela, a Argentina se lançou toda ao ataque e mostrou mais futebol que a azarada seleção laranja. No final do primeiro tempo, Kempes conduziu a bola no meio da zaga rival, deixou dois no chão e chutou na saída do goleiro Jongbloed. A bola bateu no arqueiro e ia sair quando o mesmo Kempes chutou de novo e marcou o gol argentino: 2 a 1. Perto do final da partida, Kempes foi novamente mágico ao conduzir a bola na entrada da área e deixar para Bertoni marcar o gol do título: 3 a 1. Pronto. A Argentina era, pela primeira vez, campeã mundial de futebol.
Exatos 20 anos depois, a dupla se reencontrou em uma Copa do Mundo, dessa vez nas quartas de final de 1998. A Argentina era um grande time, com Ortega, Batistuta – então artilheiro da Copa – Simeone, Zanetti, Almeyda… Mas a Holanda não ficava atrás e tinha em seu plantel nomes como Van der Sar, Stam, Frank de Boer, Reiziger, Davids, Cocu, Bergkamp e Kluivert. Seria um jogaço! E, de fato, foi. Com jogadas incisivas, velocidade e grandes lances, holandeses e argentinos proporcionaram 90 minutos de futebol em estado puro naquela tarde ensolarada no Vélodrome. Kluivert abriu o placar logo aos 12’. A Argentina empatou cinco minutos depois. A trave evitou mais gols e o jogo seguiu equilibrado até Numan levar cartão vermelho e deixar a Holanda em apuros nos 16 minutos finais. Só que a Argentina também ficou com um a menos perto do fim, com a expulsão de Ortega.
Quando o jogo parecia que ia para a prorrogação, Frank de Boer levantou a cabeça e viu Dennis Bergkamp lá na área argentina. De Boer lançou. A bola voou. Bergkamp, que tinha medo de voar, esperou ela ficar à meia altura o suficiente para ele dominar com um toque. Com outro toque, cortou Ayala passando a bola por entre suas pernas. Com mais um toque, mandou a bola para o gol de Roa. Uma obra de arte. Um golaço. Um dos gols mais bonitos da história das Copas do Mundo em todos os tempos. Um gol de classificação para a semifinal. O gol que sepultou a Argentina, o antigo algoz de 20 anos atrás.
Em 2006, ainda na primeira fase, argentinos e holandeses empataram sem gols de maneira conveniente, pois o resultado em nada atrapalhou a dupla rumo às oitavas de final. E, em 2014, a vaga na final do Mundial do Brasil só foi decidida nos pênaltis após empate sem gols tanto no tempo normal quanto na prorrogação. Curiosamente, a Argentina nunca ganhou da Holanda em 90 minutos. Só ganhou em 1978, na prorrogação. E, nas duas vitórias em fases eliminatórias, triunfou nos pênaltis. Fica a expectativa de como será o próximo encontro, afinal, ele trará de volta as intrigas e rusgas do épico de Lusail de 2022.
Brasil x Alemanha
Jogos em Copas: 2
Vitórias do Brasil: 1 (2 a 0, final, 2002)
Vitórias da Alemanha: 1 (7 a 1, semifinal, 2014)
Até 2002, Brasil e Alemanha jamais haviam se enfrentado em Copas do Mundo mesmo com tantos títulos e participações. E, logo no primeiro jogo, a dupla decidiu o Mundial da Coreia do Sul e Japão em uma final histórica que marcou a ressurreição do atacante Ronaldo, autor dos dois gols da final e vencedor do duelo particular sobre o temível goleiro Oliver Kahn. Mas foi por causa de um jogo que o time germânico entrou na lista de rivais do Brasil: o já icônico 7 a 1, na semifinal da Copa de 2014 e que rendeu números expressivos e trágicos ao time canarinho no torneio.
Não fosse por isso, a equipe alemã não teria relevância para os brasileiros, estaria como a Suécia ou Tchecoslováquia, mas o estrago causado naquele jogo elevou demais a relevância da Nationalelf no caminho brasileiro. Fica a expectativa de um novo encontro para ver quem ficará à frente no placar geral.
Leia mais sobre a história das Copas em nossa seção especial!
O trabalho Imortais do Futebol – textos do blog de Imortais do Futebol foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em imortaisdofutebol.com.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença.
Trabalho maravilhoso! E como estamos próximos de mais uma edição de Copa do Mundo, o site precisava disso! Afinal, são tantos grandes clássicos entre seleções! Só mesmo o Imortais para apresentar algo futebolístico tão bom de ler! Até acho que podia ter mais rivalidades, mas está bom! Sempre bom prestigiar o Imortais! Abraço!
OBS: em 1950, o duelo Brasil X Uruguai (que viria a ser o Maracanaço) virou uma final, de fato, mas não era um triangular e sim um quadrangular. Tinha Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia