Data: 18 de maio de 1994
O que estava em jogo: o título da Liga dos Campeões da UEFA de 1993-1994
Local: Estádio Olímpico, Atenas, Grécia
Árbitro: Philip Don (ING)
Público: 70.000 pessoas
Os Times:
AC Milan-ITA: Rossi; Tassotti, Galli, Maldini (Nava, aos 83′) e Panucci; Albertini, Desailly, Boban e Donadoni; Savicevic e Massaro. Técnico: Fabio Capello.
FC Barcelona-ESP: Zubizarreta; Ferrer, Koeman, Nadal e Sergi (Estebaranz, aos 71′); Guardiola, Amor e Bakero; Stoichkov, Romário e Begiristain (Sacristán, aos 51′). Técnico: Johan Cruyff.
Placar: Milan 4×0 Barcelona. Gols: (Massaro-MIL, aos 22’ e aos 45’+2’ do 1º T; Savicevic-MIL, aos 2’ e Desailly-MIL, aos 13’ do 2ºT).
“A Mística Rossonera em Atenas”
Por Guilherme Diniz
No futebol, o dito “camisa ganha jogo” tem fundamento, peso e veracidade. E esse chavão do esporte, associado ao instinto predatório dos jogadores do Milan naquele dia 18 de maio de 1994, foi visto em plenitude máxima na final europeia de Atenas, local perfeito para uma partida mitológica entre dois gigantes do futebol. Antes de a bola rolar, ninguém duvidava do título do Barcelona, tetracampeão espanhol, campeão europeu em 1992 e completo. Só que se esqueceram que do outro lado tinha o Milan, dominante na Itália, que passava por uma entressafra, mas ainda tinha grandes jogadores, a maioria experiente e acostumada a vencer e superar os mais variados desafios. Soma-se a isso o talento do técnico Fabio Capello, estrategista nato e que colocou seu time para frente sem medo do Barcelona.
E, quando a bola rolou, deu no que deu. Massaro fez 1 a 0 e ampliou no finalzinho da primeira etapa, após linda jogada de Donadoni. Na segunda etapa, Savicevic aproveitou uma bobeada de Nadal, percebeu o goleiro Zubizarreta adiantado e chutou da lateral, por cobertura. Golaço, um dos mais bonitos da história das finais da UCL em todos os tempos. Desnorteado e sem ação, o Barcelona só queria o fim do jogo para sumir dali no primeiro voo até a Espanha. Mas ainda tinha mais. Desailly, após outra falha da zaga catalã, fez 4 a 0 e sacramentou o 5º título do Milan na UCL, o terceiro conquistado pelo clube rossonero após uma goleada de quatro gols (ele venceu o Ajax por 4 a 1, em 1969, e o Steaua Bucareste-ROM por 4 a 0, em 1989). De fato, em final europeia, camisa pesa. Ainda mais de um clube como o Milan e em uma cidade tão mitológica como Atenas. É hora de relembrar.
Pré-jogo
Após anos espetaculares entre 1987-1991, quando dominou a Europa e a Itália com um esquadrão sensacional e inesquecível comandado por Arrigo Sacchi, o Milan passou por anos de entressafra muito por conta da derrota na final europeia de 1993, para o Olympique de Marselha, que simbolizou o fim do trio holandês no clube – Rijkaard, Gullit e Van Basten – e fez com que novos nomes passassem a figurar no plantel rossonero. O técnico Fabio Capello teve que remodelar o time e conseguiu aliar a mais pura essência do futebol italiano e mudar um pouco a cara daquele Milan ao transformar a equipe num paredão defensivo, mas com qualidade ofensiva na medida certa, sem as habituais goleadas dos anos anteriores.
Marcar um gol naquele time era tarefa para poucos, pouquíssimos. Não era bonito de se ver, mas o que importava era o resultado e, claro, o título. Sem rivais na Itália – onde foi tricampeão consecutivo nas temporadas 1991-1992, 1992-1993 e 1993-1994 -, a equipe de Milão refez o caminho na Liga dos Campeões da UEFA de 1993-1994 derrotando o Aarau-SUI por 1 a 0 fora de casa, gol de Papin, e empatando sem gols em Milão. Na segunda fase, um vareio sobre o Copenhagen: 6 a 0 na Dinamarca – gols de Papin (2), Simone (2), Laudrup e Orlando – e 1 a 0 na Itália, gol de Papin. Em seguida, veio a fase de grupos, na qual os dois primeiros de cada grupo avançariam para as semifinais para aí sim chegar a final.
O Milan caiu no grupo B e não teve problemas. Empatou sem gols com o Anderlecht-BEL fora de casa, venceu o Porto-POR por 3 a 0 em Milão e bateu o Werder Bremen-ALE por 2 a 1 em casa. No returno do grupo, empate em 1 a 1 com o Werder Bremen na Alemanha, empate sem gols com o Anderlecht em Milão e novo empate sem gols com o Porto, em Portugal. Econômico, invicto e “chato”, o Milan conseguiu a primeira colocação e a vaga na semifinal, que seria disputada em jogo único, com o Milan tendo a vantagem de jogar em casa. Diante de 80 mil pessoas no San Siro, Capello decidiu abrir a porteira de gols do time e a torcida pôde ver sua equipe vencer por 3 a 0 o Monaco, com gols de Desailly, Albertini e Massaro. Porém, o Milan “ganhou” duas baixas para a final: Baresi e Costacurta, os pilares da defesa, estavam suspensos por cartões.
Além disso, em tempos sem Lei Bosman, a UEFA ampliou as restrições para jogadores estrangeiros nos times, o que forçou Capello a não contar com os gringos Raducioiu, Papin e Brian Laudrup. Para piorar, o adversário do Milan na decisão de Atenas seria o Barcelona-ESP, comandado por Cruyff e estrelado em campo com Zubizarreta, Ferrer, Guardiola, Koeman, Stoichkov e Romário. Como o time italiano conseguiria parar um ataque tão infernal sem seus principais jogadores de defesa?
Do lado catalão, a chegada de Romário obrigou o técnico Cruyff a fazer rodízio com seus jogadores. Afinal, era complicado manter em um mesmo time jogadores com egos tão inflados como Stoichkov, Michael Laudrup e o brasileiro. Porém, o jogador brasileiro logo tratou de mostrar que ele era a estrela principal ao marcar uma enxurrada de gols e ajudando o Barça a conquistar o inédito tetracampeonato espanhol, conseguindo um título que parecia perdido para o La Coruña. O ponto alto da campanha foi a goleada por 5 a 0 sobre o Real Madrid no Camp Nou, com show de Romário, que marcou três vezes e ainda deu passe para outro gol.
Novamente campeão nacional, o Barcelona disputou a Liga dos Campeões da UEFA de 1993/1994 como favorito. Na primeira fase, o clube perdeu por 3 a 1 em Kiev para o Dínamo, mas venceu em casa por 4 a 1 e conseguiu a classificação. Na segunda fase, o fantasma foi espantado e o time eliminou o Áustria Viena com duas vitórias: 3 a 0 e 2 a 1. Classificado, os espanhóis sobraram no Grupo A e terminaram invictos, com 4 vitórias e 2 empates, passando fácil por Galatasaray, Spartak Moscow e Monaco. Na sequência, o Barça enfrentou o Porto nas semifinais e venceu por 3 a 0, em jogo único, no Camp Nou, com dois gols de Stoichkov e um de Koeman.
Com um time “esfacelado”, Capello foi para a final precavido, mas sem deixar para trás o poder de contra-ataque de seu time. Ele armou suas habituais linhas de quatro, colocou Maldini na zaga e Panucci na lateral-esquerda, enquanto que no meio de campo apostou na força de Desailly e Albertini na marcação, com Boban e Donadoni mais abertos. No ataque, a dupla Savicevic e Massaro eram as armas para furar a zaga catalã, que tinha Koeman e Nadal como titulares, além dos bons laterais Sergi, pela esquerda, e Ferrer, pela direita. No meio, Capello temia Michael Laudrup, dinamarquês especialista em assistências fenomenais para Romário e Stoichkov. Só que o técnico Johan Cruyff, já em rusgas com Laudrup, deixou o meia de fora e tal fato foi tido como um erro pelo próprio Capello tempo depois. Sem ele, o Barcelona perderia criatividade no meio de campo e só teria jogadores mais de marcação naquele setor, com Guardiola, Amor e Bakero.
Nas entrevistas prévias, Cruyff demonstrava muita confiança. “É sempre bom para o futebol quando uma equipe ofensiva vence. Muitas pessoas copiam os vencedores. Se pudermos provar que uma equipe ofensiva e técnica vence contra uma equipe mais física, isso deve ser bom para o futebol. Impomos nosso jogo sobre a oposição, movendo a bola rapidamente e forçando o jogo. O Milan baseia o deles na força física e na organização defensiva”, disse o treinador, que aproveitou para cutucar Capello.
“Na minha opinião, o verdadeiro AC Milan foi o time de [Arrigo] Sacchi. Eles ganharam tanto quanto o time de [Fabio] Capello, mas a diferença estava na maneira empolgante e dramática com que jogavam, atacando constantemente. Foi o time de Sacchi que deu ao Milan o prestígio que eles estão desfrutando hoje. Como espectador, prefiro o Milan de alguns anos atrás. Mas como treinador, prefiro esta equipe porque eles ganharam mais títulos.”
No dia do jogo, mais de 70 mil pessoas lotaram o Estádio Olímpico de Atenas, que recebeu o Milan com sua tradicional camisa branca, talismã em finais europeias. E, historicamente, quando o time italiano jogava assim, se dava bem, como aconteceu em 1963, 1989 e 1990. Mas, naquele dia, nem a camisa dava o favoritismo ao time italiano. Praticamente todos acreditavam em uma vitória fácil do Dream Team de Cruyff.
Primeiro tempo – O choque de realidade
Capello armou seu time de uma maneira irrepreensível, disciplinada e eficiente. Embora o Barcelona tenha tido o controle da bola nos primeiros minutos, o Milan soube fechar os espaços e, sem Laudrup no lado catalão, a bola não chegava em Romário. A primeira chance blaugrana foi aos 7’, com Stoichkov, em chute de fora da área. A resposta italiana veio aos 10’, em cobrança de falta que resultou em gol de Panucci, mas anulado por impedimento – equivocadamente, pois nada mais nada menos do que seis jogadores do Barça davam condições para o italiano. Minutos depois, Guardiola lançou Stoichkov, que bateu de primeira para o meio e Begiristain chutou, também de primeira, mas pra fora. O Milan não se intimidou e respondeu, em novo lançamento para Savicevic, o mais acionado àquela altura, que cruzou, mas a zaga tirou.
Aos 14’, Albertini fez um passe para Panucci. Ele avançou em direção a Ferrer e cruzou para a entrada da área, onde Massaro ergueu a bola no ar, virou e soltou um chute de voleio defendido por Zubizarreta. O Milan, de fato, demonstrava muito mais vontade e gana para vencer. O Barça se via encurralado, inclusive jogadores acostumados a avançar, como Koeman, que teve que ficar mais contido na zaga e não pôde atacar como normalmente fazia. Só aos 20’ que o time catalão, enfim, avançou com qualidade após uma jogada de passes hipnóticos: Sergi, Amor, Romário, Bakero, Amor novamente, Romário novamente. Finalmente, Romário lançou um passe rápido entre Maldini e Galli – que estavam separados por poucos centímetros – para deixar Amor livre. Ele chegou primeiro à bola, logo dentro da área, mas Maldini mostrou uma notável aceleração e força para recuperar terreno, lutar com Amor e finalmente bloquear seu chute, custando um escanteio.
Até que, aos 22’, após tiro de meta cobrado por Rossi, Nadal matou no peito, a bola subiu muito e ele teve que tocar de cabeça para Sergi, que foi surpreendido por Boban, que tomou a bola do rival e deixou com Savicevic, pela direita. O atacante avançou, driblou Nadal, invadiu a área e, na saída de Zubizarreta, cruzou prensado para a esquerda. A bola acabou indo para Massaro, livre, fazer 1 a 0.
O gol inflou ainda mais o Milan, que aproveitava as chances e jogava no erro do adversário, sentido pela pressão do favoritismo e achando que venceria a qualquer momento. Logo após o 1 a 0, Stoichkov tentou o empate em boa jogada individual, mas Rossi evitou o gol em uma das poucas investidas do Barça dentro da área rossonera. Aos 32’, Savicevic recebeu de Desailly e fez bela jogada individual, passando por dois marcadores, em claro exemplo da ótima fase que vivia. Aos 33’, Albertini tentou ampliar em cobrança de falta, mas a bola passou longe do gol. Aos 41’, Romário recebeu uma rara bola perto da área, avançou e chutou forte. Ela tinha endereço: o canto do goleiro Rossi. Mas, no caminho, apareceu o bico da chuteira de Galli, que desviou para escanteio em um lance de perigo do time blaugrana.
Ao invés de se defender, o Milan quis marcar mais um para ficar mais tranquilo na etapa final. E conseguiu de maneira espetacular. Já nos acréscimos, a equipe italiana ficou com a bola por quase um minuto, trocando passes de pé em pé e envolvendo o Barcelona como o time culé gostava de fazer com os rivais. Tudo começou quando Rossi tocou para Panucci pela esquerda, que jogou curto para Donadoni, e então o ponta passou pelo meio para Massaro, que devolveu para Panucci. Este rolou para Maldini, que passou para Galli, que lançou para Savicevic, e este devolveu de primeira para Boban. Boban então passou e recebeu de volta do calcanhar de Savicevic. Boban, então, passou para Tassotti, 10 metros dentro da linha lateral direita, e recebeu de volta. O croata mandou para Donadoni, na esquerda, que fintou Albert Ferrer e disparou em direção à linha de fundo. O ponta tocou para trás e Massaro chutou de primeira com o pé esquerdo para fazer um gol antológico: 2 a 0.
Foi um golaço digno do Futebol Total, para Johan Cruyff aplaudir de pé. Bem, o holandês certamente faria isso se o time dele fosse o responsável. Mas, naquele instante, foi o Milan, que jogava muito e era o merecedor pleno do resultado. Um gol pensado, construído com paciência e ferocidade na medida certa. E um claro exemplo das brechas defensivas que o Barça deixava na partida. Ao apito do árbitro, o público no Estádio Olímpico parecia confuso com o que havia acontecido naquele primeiro tempo. O tão aclamado Dream Team vestia camisas brancas, não azul e grená. E o placar de 2 a 0 enganava muito. Poderia ser mais. E seria.
Segundo tempo – A camisa pesada
Os dois times voltaram com as mesmas formações para a etapa final e, logo aos 3’, um erro bisonho da zaga blaugrana acabou por enterrar qualquer possibilidade de reação dos espanhóis. Albertini, no meio de campo, percebeu a subida de Savicevic pela direita e lançou pelo alto. A bola acabou quicando e caiu fácil nos pés de Nadal. Porém, o zagueiro viu a chegada de Savicevic, a camisa do Milan e pareceu ter ficado com medo. Ele tentou chapelar ou dar de bico, mas Savicevic ganhou a disputa. O montenegrino esperou aquela esguia bola parar de quicar demasiadamente e chutou de primeira para o gol, por cobertura, aproveitando a leve adiantada do goleiro Zubizarreta. A redonda voou até o ângulo oposto do arqueiro espanhol e entrou: 3 a 0.
A festa rossonera pelo golaço de Savicevic foi o contraste da fúria de Zubizarreta, que ficou “possuído” com o erro do companheiro. Três gols de desvantagem em uma final europeia era impossível de se reverter naquela época, principalmente pelo fato de o Barça não ser o Liverpool-2005 e ter do outro lado um Milan que se recusava a levar gols – para se ter uma ideia, em toda a temporada, a equipe levou apenas 25 gols em 54 jogos e apenas 15 gols em 34 jogos no Campeonato Italiano! E, naquela UCL, eram apenas dois gols sofridos em 12 jogos!
Precisando do resultado, mas com o Milan à sua cola, o Barça foi total desespero dali em diante. Aos 9’, Nadal, irritado com a péssima partida que fazia e com o erro no terceiro gol, fez uma falta duríssima em Savicevic e levou um barato cartão amarelo, que poderia ser vermelho. Nos três minutos seguintes, mais dois cartões para defensores blaugranas – Sergi e Ferrer. Estava mais do que claro que aquela final já era do Milan. Cruyff poderia entrar em campo, mas nem ele conseguiria furar a retaguarda milanista nem a organização tática do time, que dominava o meio de campo em atuações extraordinárias de Desailly e Albertini, os senhores do setor naquele dia.
Aos 14’, um rápido lançamento de Albertini passou por Sergi, que perdeu a trajetória da bola e foi habilmente controlado em corrida por Savicevic. O atacante colocou a bola por cima do mergulho de Zubizarreta, mas ela quicou na parte interna da trave! Logo após esse lance, outro jogador que merecia um gol pela partidaça que fazia, enfim, deixou o dele. Desailly se antecipou no meio de campo, roubou a bola e deixou com Albertini. O italiano esperou a passada do ganês naturalizado francês e tocou para ele, mesmo sofrendo falta. Desailly recebeu livre, invadiu a área e deu o famoso “tapa” no canto do goleiro para fazer 4 a 0. Que espetáculo. Que vareio! E mais uma goleada por quatro gols do Milan em uma final europeia, assim como em 1969 – 4 a 1 sobre o Ajax de um ainda jovem Cruyff – e 1989 – nos 4 a 0 sobre o Steaua Bucareste.
Se uma faixa da torcida rossonera nas arquibancadas dizia “Con il cuore, si puó” (com o coração se pode), o time italiano provava que tinha muito mais que coração. Tinha talento, tática, destreza, organização e misticismo. Nos minutos seguintes, o Milan ficou mais com a bola e só esperou o tempo passar. Savicevic ainda teve mais duas chances, aos 19’ e aos 38’, mas a bola ousou em não entrar. Ao apito do árbitro, todo o banco de reservas do Milan entrou no gramado do Olímpico de Atenas para celebrar aquela vitória histórica e o quinto título europeu rossonero. Foi uma atuação espetacular de um esquadrão memorável, que fechou com chave de ouro uma era inesquecível dos milanistas. Capello, ao final da partida, ironizou o técnico Cruyff na coletiva.
“Cruyff tentou criar problemas para nós durante a partida e nós para ele. O resultado mostra quem o conseguiu”.
Ele ainda ressaltou que “o Milan fez uma partida extraordinária, com grande inteligência tática. Nós jogamos uma partida perfeita, onde nunca deixamos o Barcelona entrar no seu ritmo. Mais do que tudo, nós jogamos com grande intensidade, pressionando e uma tendência a sermos perigosos a qualquer momento que tivéssemos posse de bola – foram 113 desarmes completos do Milan no jogo. Eu gostaria de dar uma nota 10 a todos os jogadores do Milan. Naquela noite, o Milan foi mesmo nota 10. Foi um time místico, como mandava a cartilha dos deuses gregos, que certamente aplaudiram de pé a apoteose rossonera em Atenas.
Pós-jogo: O que aconteceu depois?
Milan: o caneco europeu inspirou o Milan em outra caminhada europeia na temporada 1994-1995, quando foi para mais uma final. Jogando em Viena e com praticamente o mesmo time, os italianos acabaram perdendo para o Ajax por 1 a 0, um esquadrão que marcou época com uma geração de imensos talentos. O rossonero só voltaria a vencer a Europa em 2003, quando bateu a rival Juventus nos pênaltis em Manchester. Um novo caneco veio em 2007, também em Atenas – palco do título de 1994 -, quando a equipe italiana derrotou o algoz de 2005, Liverpool, por 2 a 1.
Barcelona: “Não é que nós jogamos mal, nós não jogamos. Se não tínhamos a bola, não podíamos atacar”. Foi assim que Cruyff definiu a atuação de seu time naquela final para esquecer. Ele e todo o elenco reconheceram que o Barcelona não jogou nada e foi liquidado pelo Milan, que soube neutralizar as estrelas blaugranas com marcação individual e organização, além de saber aproveitar os erros defensivos que os espanhóis cometeram. Zubizarreta, muito abalado, disse ao The Guardian (Reino Unido) anos depois que “quando o terceiro gol aconteceu, nós sabíamos que tinha acabado. Aquela foi pior noite da minha carreira”.
O vice simbolizou o fim melancólico do Dream Team de Johan Cruyff. O treinador acabou deixando o Barcelona em 1996 para dirigir brevemente a seleção da Catalunha e se aposentar das pranchetas. O Barça só voltaria a celebrar o título europeu em 2006, quando Ronaldinho e companhia venceram o Arsenal na final de Saint-Denis por 2 a 1 e ficaram com a taça. Pelo caminho, os blaugranas ainda eliminaram o Milan, nas semifinais, o mesmo algoz do pesadelo de 1994.
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