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Stade Vélodrome – Le Magnifique

Nome: Stade Vélodrome – desde 2016 é chamado de Orange Vélodrome, por questão de naming rights

Localização: Marselha, França

Inauguração: 13 de junho de 1937

Proprietário: Governo da cidade de Marselha – a concessão e operação é do Olympique de Marselha

Capacidade: 67.394 pessoas

Recorde de público: 65.894 pessoas no jogo Olympique de Marselha 0x3 PSG, 26 de fevereiro de 2023.

Por Guilherme Diniz

Ele possui curvas sinuosas, marcantes e inconfundíveis. Visto de fora, parece até uma obra de arte. Por dentro, oferece uma impressão cênica de impacto, que inspira a fanática e temida torcida do Olympique de Marselha a realizar festas memoráveis. E, sempre que o clube da casa entra em campo, a música Jump, do Van Halen, embala a multidão a jamais ficar parada e sempre pular e pular durante os 90 minutos. Com quase nove décadas de história, palco de jogos emblemáticos em duas Copas do Mundo, da Eurocopa de 1984 e de 2016, dos Jogos Olímpicos de 2024 e um dos estádios mais bonitos do planeta, o Orange Vélodrome – cujo nome de batismo é Stade Vélodrome – é um símbolo da arquitetura francesa e um dos muitos monumentos de destaque da bela cidade de Marselha, no sul da França. É hora de conhecer a histórias e as curiosidades por trás desse magnífico estádio.

Índice

Ciclismo e futebol

O Vélodrome em junho de 1937: estádio tinha uma ampla pista de ciclismo em volta das arquibancadas.
 

Fundado em 1899, o Olympique de Marselha jogou de 1904 até 1937 no Stade de l’Huveaune, que ficava próximo ao Parque Borély. O estádio era de propriedade do OM, e, acanhado, recebeu melhorias graças à colaboração financeira dos torcedores e passou a comportar 15 mil pessoas a partir dos anos 1910. Com o passar do tempo, porém, o governo de Marselha quis construir um estádio maior e que refletisse a força da cidade, que já vivia às turras com a capital Paris pelo protagonismo social e econômico do país. 

Em 1935, a Pollack Ploquin foi a empresa escolhida para realizar o projeto, em uma área bem próxima ao Stade de l’Huveaune. O arquiteto Henri Ploquin foi o responsável pelo desenho original do estádio, graças à sua experiência em ter criado juntamente com Charles Bouhana, em 1932, o Stade Municipal Louis Darragon, construído na cidade de Vichy e cujo nome homenageou o ciclista francês Louis Darragon, falecido em 1918 durante uma corrida no Vélodrome d’Hiver, em Paris. A pedra fundamental foi lançada em 28 de abril de 1935, no terreno que compreendia as áreas de St. Giniez e Sainte-Marguerite.

Em apenas dois anos, o estádio saiu do papel e foi inaugurado em 13 de junho de 1937, com um campo para a prática de futebol e rúgbi, um lance de grandes arquibancadas e uma pista de ciclismo em volta do gramado que acabou inspirando o nome do estádio e o fez ser batizado como Stade Vélodrome. A partida inaugural aconteceu em 13 de junho de 1937, no amistoso vencido pelo Olympique por 2 a 1 sobre o Torino-ITA. Embora fosse bem maior – ele comportava 30 mil pessoas – que o Stade de l’Huveaune, o Vélodrome ainda não era “simpático” aos torcedores do OM, que consideravam a antiga casa a verdadeira do clube. Após a 2ª Guerra Mundial, o OM até chegou a jogar mais no Stade de l’Huveaune, mas o clube se mudou em definitivo para o Vélodrome na década de 1960.

Primeira Copa

Nils Eriksen e Giuseppe Meazza, capitães de Noruega e Itália, respectivamente, pela Copa de 1938. Foto colorizada por Dario Romano
 

Em seus primórdios, o Vélodrome já teve um grande teste em 1938: sediar partidas da Copa do Mundo da FIFA. A primeira foi na primeira fase, quando a Itália, então campeã do mundo, sofreu para derrotar a Noruega. Após abrir o placar aos 2’ do primeiro tempo, com Ferraris, a Azzurra não marcou mais gols e levou o empate aos 83’. A partida foi para a prorrogação e nela o artilheiro Silvio Piola marcou o gol da vitória por 2 a 1 que classificou o time para a etapa seguinte.

A segunda partida no Vélodrome foi na semifinal, curiosamente de novo com vitória italiana: 2 a 1 pra cima do Brasil de Leônidas e Domingos da Guia. A Azzurra abriu 2 a 0 com gols de Colaussi e Meazza, enquanto Romeu Pellicciari descontou para o time sul-americano. A final foi disputada no estádio de Colombes, perto de Paris, onde a Itália venceu a Hungria por 4 a 2 e ficou com o bicampeonato mundial. Também em 1938, o Vélodrome recebeu um duelo entre Austrália e França pela rugby league, um clássico da modalidade entre os Kangaroos e os Chanticleers. A partida terminou com vitória australiana por 16 a 11 e foi vista por 23.100 pessoas.

Renovações

Após a 2ª Guerra Mundial, o Vélodrome foi palco de diversos eventos importantes no mundo do rúgbi e, claro, do futebol. O estádio virou um dos principais do sul da França e a torcida do OM passou a frequentá-lo de maneira mais assídua a medida em que o clube passou a jogar mais por lá. Uma curiosidade é que, após o fim de alguns jogos, alguns torcedores aproveitavam a pista de ciclismo em volta do gramado para sair das arquibancadas e escorregar por ela, uma divertida brincadeira que tirava do sério os seguranças do estádio.

A diversão, porém, diminuiu a partir da década de 1970, quando a uma série de obras de melhorias começaram a acontecer, entre elas a redução da pista de ciclismo por conta do desuso da mesma, o que transformou o espaço em mais 6 mil assentos e aumentou a capacidade do Vélodrome para 55 mil pessoas. O estádio ganhou, também, novas torres de iluminação em 1971, que melhoraram de maneira considerável a visibilidade para jogos noturnos e eventos. Antes, em 1960, o Vélodrome foi palco de duas partidas da edição inaugural da Eurocopa: a semifinal vencida pela campeã URSS diante da Tchecoslováquia (3 a 0) e a disputa pelo 3º lugar entre Tchecoslováquia e França (vitória dos tchecoslovacos por 2 a 0). 

Na temporada 1982-1983, o OM teve que retornar ao seu antigo estádio por causa de novas obras de melhorias no Vélodrome por conta dos preparativos para a Eurocopa de 1984. O gramado foi completamente trocado e melhorias foram feitas nas arquibancadas. Durante o torneio, o Vélodrome foi palco de duas partidas: o empate em 1 a 1 entre Portugal e Espanha, pelo Grupo B, e a vitória da campeã França sobre Portugal por 3 a 2, na prorrogação, na semifinal. Este jogo teve um público superior a 54 mil pessoas, recorde do estádio na época.

Fim do “ciclismo” a Era Tapie e Jump!

Entre 1984 e 1985, o Vélodrome perdeu em definitivo a pista de ciclismo e teve sua capacidade mais uma vez aumentada para quase 50 mil pessoas. Foi a partir da segunda metade dos anos 1980 que o estádio ganhou atenção especial do lendário e polêmico presidente do OM, Bernard Tapie, responsável por transformar o clube no mais poderoso da França, multicampeão nacional e primeiro clube francês campeão da Liga dos Campeões da UEFA, em 1993. O mandatário quis fazer do Vélodrome um estádio com múltiplos fins, para abrigar eventos, shows e ser um polo de entretenimento da cidade. E foi a partir de 1986 que a música “Jump”, da banda Van Halen, virou o hino oficial do Vélodrome. Nos próximos parágrafos, leia mais sobre essa curiosidade, em texto de Leandro Stein.


A ideia de levar a música do Van Halen ao Vélodrome foi de Bernard Tapie. Quem conta essa história é Alain Giresse, um dos maiores craques da história do futebol francês, que defendia os marselheses em 5 de agosto de 1986, a primeira vez que ‘Jump’ soou nos alto-falantes. O som deu sorte, já que o OM abriu o Campeonato Francês na ocasião vencendo o Monaco por 3 a 1. Jean-Pierre Papin, Karlheinz Föster e Joseph Antoine Bell eram outras referências do Olympique na época.

“Tapie queria dar uma cara aos jogos do Marseille com uma música característica. Quando entramos em campo, não sabíamos o que estava acontecendo. Os gritos da torcida se misturaram com essa música. Isso nos deu energia. É o último impulso de concentração, de motivação. Não vou dizer que é um elemento fundamental, mas isso nos fez sentir bem. A escolha foi ótima”, afirmou Giresse, em entrevista à France Football, em 2015. 

Vice-campeão em 1986/87, o Olympique de Marseille iniciaria seu tetracampeonato nacional em 1988/89, encerrando um jejum de 17 anos na Ligue 1. Desde então, ‘Jump’ já tocou mais de 500 vezes no Vélodrome, inclusive na campanha do título da Champions League 1992/93. O clube chegou a abandonar a tradição em 1993, quando foi rebaixado pelo escândalo de manipulação de resultados liderado por Tapie. A intenção era demarcar a mudança interna e deixar para trás a relação com o antigo mandatário. Porém, a decisão não duraria: os próprios jogadores pediriam para que ‘Jump’ voltasse ao estádio. No fim, virou uma música atemporal, sem qualquer relação com o momento da equipe, apesar das boas lembranças da virada dos anos 1980 para os 1990.

“Esta música te apoia. É difícil de explicar. Mas, quando jogamos em Marselha, ela tem importância. É o hino do OM. Está consagrado. Essa música, como a da Liga dos Campeões, faz os torcedores sonharem. Eu vi pessoas mais velhas gritarem. Van Halen tem esse poder”, afirmou Jean-Christophe Marquet, meio-campista do clube entre 1991 e 1997, também à France Football. 

Visão complementada por Bernard Casoni, defensor da equipe na década de 1990: “Quando saíamos do túnel, tínhamos a impressão de que flutuávamos, que éramos teletransportados. Você tinha a impressão de que nada poderia acontecer com você”. Não há festa da fanática torcida marselhesa sem a canção do Van Halen, afinal. E não é apenas no sul da França que a música virou tradição. Por anos, a comemoração dos gols no San Siro também era acompanhada por ‘Jump’, entre outras canções. Da mesma forma, outros clubes usam a melodia para injetar vibração em seus torcedores, como o Brondby e o Groningen. Mas nenhuma relação é tão forte quanto a vivida em Marselha.

Copa de 1998, cobertura e Euro de 2016

Bergkamp (à esq.) no épico Holanda 2×1 Argentina, pela Copa do Mundo de 1998.
 

Como sede de mais uma Copa do Mundo, em 1998, o Vélodrome foi ampliado de 42.000 para 60.031 assentos e teve o privilégio de sediar o sorteio dos grupos do Mundial, em 04 de dezembro de 1997, na primeira vez em que um sorteio foi realizado em um estádio à céu aberto na história. Foram 38 mil pessoas acompanhando ao vivo e o evento foi transmitido ao vivo na TV pela BBC e acompanhado por mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. As seleções foram sorteadas por notáveis personalidades do futebol como Franz Beckenbauer, Carlos Alberto Parreira, George Weah e Raymond Kopa.

Na Copa, o Vélodrome foi o segundo estádio com mais jogos (7 partidas), perdendo apenas para o Stade de France (que abrigou 9 jogos, incluindo a final). Mas, embora tenha ficado atrás em partidas, o Vélodrome sediou os dois maiores jogos daquele Mundial: o elétrico Holanda 2×1 Argentina, pelas quartas de final, e o dramático Brasil 1×1 Holanda, na semifinal, que terminou com vitória brasileira nos pênaltis por 4 a 2. O público em Marselha foi muito privilegiado e viu um desfile de craques e jogadas inesquecíveis. Veja a seguir os jogos realizados no estádio naquela Copa:

  • França 3×0 África do Sul, Grupo C
  • Inglaterra 2×0 Tunísia, Grupo G
  • Holanda 5×0 Coreia do Sul, Grupo E
  • Brasil 1×2 Noruega, Grupo A
  • Itália 1×0 Noruega, Oitavas de final
  • Holanda 2×1 Argentina, Quartas de final
  • Brasil 1×1 Holanda (Brasil 4×2 Holanda nos pênaltis), Semifinal

Em 2007, o Vélodrome sediou seis partidas da Copa do Mundo de Rúgbi, sendo duas do Pool C, duas do Pool D e duas das quartas de final, incluindo uma vitória da campeã África do Sul sobre Fiji por 37 a 20 e a vitória da Inglaterra sobre a Austrália por 12 a 10, que teve um público de 59.102 pessoas. No começo da década de 2010, o Vélodrome entrou em uma nova fase de modernização para acabar de vez com as críticas quanto às suas arquibancadas, totalmente abertas na época e que deixavam o público exposto ao forte sol da cidade de Marselha e ao vento. Após muitas discussões, a implantação da cobertura total das arquibancadas foi iniciada em 2011, além de um novo acréscimo de arquibancadas e melhorias para transformar o estádio em categoria Elite da UEFA. 

As obras deixaram o Vélodrome muito mais bonito e realçaram as curvas de seus arcos de arquibancadas. As obras terminaram em 2014 e o estádio entrou para o seleto grupo de estádios 4 estrelas da UEFA. A estreia de sua nova faceta em um grande evento foi em 2016, quando sediou seis partidas da Eurocopa:

  • Inglaterra 1×1 Rússia, Grupo B
  • França 2×0 Albânia, Grupo A
  • Islândia 1×1 Hungria, Grupo F
  • Ucrânia 0x1 Polônia, Grupo C
  • Polônia 1×1 Portugal (Portugal 5×3 Polônia nos pênaltis), Quartas de final
  • Alemanha 0x2 França, Semifinal

Mais uma vez, o Vélodrome foi pé-quente para a seleção francesa, que venceu seus dois jogos no estádio e eliminou a eterna algoz Alemanha nas semifinais diante de mais de 64 mil pessoas. Na decisão, no Stade de France, os Bleus acabaram perdendo para Portugal por 1 a 0.

Grandes eventos e à espera de um novo OM vencedor

Ao longo das décadas, principalmente após a administração de Bernard Tapie, o Vélodrome recebeu vários shows graças à sua estrutura sinuosa e apta para multidões. Entre os concertos marcantes, destaque para:

Julio Iglesias, 1980

Metallica, 1984

Pink Floyd, 1989

The Rolling Stones, 1990, 2003 e 2018

U2, 1993

Luciano Pavarotti, 2002

The Police, 2008

AC/DC, 2009 e 2016

Céline Dion, 2017

Beyoncé, 2023

Atualmente, o Vélodrome se chama Orange Vélodrome. (Photo by Hugo Pfeiffer/Icon Sport)
 

Em 2023, o Vélodrome mais uma vez foi escolhido como sede da Copa do Mundo de Rúgbi e foi palco de seis jogos, sendo quatro nas fases iniciais e duas partidas das quartas de final: Argentina 29×17 País de Gales e Inglaterra 30×24 Fiji. Já em 2024, o Vélodrome será um dos principais palcos dos jogos de futebol masculino e feminino nos Jogos Olímpicos e receberá 10 partidas, incluindo quartas de finais e semifinais de ambas as categorias. Mas o estádio quer mesmo é ver seu anfitrião, o Olympique de Marselha, voltar a levantar títulos como levantou nos anos 1980 e 1990. O clube não vence o Campeonato Francês desde 2010, não levanta uma Copa da França desde 1989 e só tem a Liga dos Campeões da UEFA de 1993 em sua galeria de grandes títulos internacionais. Imponente e sempre efervescente, o Vélodrome merece mais celebrações e “jumps” de emoção.

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