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Signal Iduna Park – O Templo da Muralha Amarela

Foto: traveldigg

 

Por Guilherme Diniz

 

Nome: Signal Iduna Park (nome oficial por conta de naming rights). Antes, o nome era Westfalenstadion. O estádio é chamado de BVB Stadion Dortmund em partidas válidas por competições da UEFA.

Localização: Dortmund, Alemanha

Inauguração: 02 de abril de 1974

Partida Inaugural: TBV Mengede 1×2 VfB Waltrop, 02 de abril de 1974

Primeiro gol: Elisabeth Podschwadtke, do Mengede.

Proprietário: Borussia Dortmund

Capacidade: 81.365 pessoas

Recorde de público: 83.000 pessoas em seis oportunidades: Dortmund-Schalke, 30 de janeiro de 2004; Dortmund-Stuttgart, 6 de março de 2004; Dortmund-Bayern, 17 de April de 2004; Dortmund-Rostock, 1º de maio de 2004; Dortmund-Bayern, 18 de Setembro de 2004 e Dortmund-Schalke, 5 de dezembro de 2004.

 

Nenhum estádio na Alemanha comporta mais gente do que ele. Nenhum estádio na Alemanha tem uma acústica tão marcante como ele. E nenhum estádio no país tem a faceta de caldeirão como ele, ainda mais com uma arquibancada que parece crescer e entrar pra dentro do gramado quando os times estão em campo, com milhares e milhares tremulando bandeiras em amarelo e preto, uma verdadeira muralha. Construído como um dos palcos da Copa do Mundo da FIFA de 1974, passou por reformas ao longo dos anos até chegar ao seu auge nos anos 2000, quando abrigou outra Copa do Mundo, superou a marca dos 80 mil lugares, virou um dos maiores estádios do mundo e a casa da fanática torcida do anfitrião, o Borussia Dortmund. O Westfalenstadion, atualmente conhecido como Signal Iduna Park, é um dos mais icônicos estádios do futebol. Jovem perto de outros colossos de concreto espalhados por aí, ele nasceu com a vocação para os grandes jogos, grandes esquadrões, grandes craques, além de ser também um dos mais bonitos do planeta. É hora de conhecer a história desse templo aurinegro.

 

Mais gente, por favor!

O Stadion Rote Erde, antiga casa do Borussia.

 

Entre 1937 e 1974, o Borussia Dortmund disputava seus jogos no Stadion Rote Erde, construído para cerca de 25 mil pessoas e que teve, entre 1962 e 1974, a capacidade ampliada para 42 mil pessoas graças à instalação de arquibancadas de madeira. Essa expansão foi a maneira mais rápida encontrada na época para tentar comportar a fanática torcida do clube, que viu seu quadro associativo aumentar principalmente após o Borussia vencer a histórica Recopa da UEFA de 1966, o primeiro título europeu conquistado por um clube alemão. O grande objetivo da prefeitura de Dortmund e do comitê de finanças era, de fato, construir um novo estádio na região, mas as condições financeiras não eram das melhores para financiar o projeto. Porém, em 1971, tudo mudou. A cidade de Colônia abdicou de sua condição de cidade-sede da Copa do Mundo de 1974 e Dortmund foi escolhida pelo comitê para suplantar a lacuna. Com isso, os investimentos que seriam feitos em Colônia acabaram migrando para Dortmund, que pôde, enfim, colocar a ideia do novo estádio em ação. 

Os “Gêmeos Terríveis” Emmerich e Held, dupla que fez história para o Borussia na conquista da Recopa.

 

No entanto, os arquitetos do Planungsgruppe Drahtler, diante do orçamento baixo, tiveram que rever o projeto de estádio oval, com pista de atletismo e capacidade para 60 mil pessoas, pois tal obra iria custar mais de 60 milhões de marcos. Com isso, eles pensaram em uma arena para 54 mil pessoas, feita em setores de concreto pré-fabricado, que acabou custando pouco mais de 32,7 milhões de marcos. O estádio foi construído exatamente ao lado do Stadion Rote Erde, que recebeu pouco mais de 1 milhão de marcos para obras de melhorias para que continuasse a ser utilizado para treinamentos – ele passaria ao controle da municipalidade de Dortmund.

As obras demoraram três anos e tiveram algumas curiosidades: mais de 50 mil metros cúbicos de terra foram removidos e reforços tiveram que ser feitos por conta das antigas minas do século passado que foram descobertas. Além disso, quase três dúzias de bombas (!) foram encontradas e tiveram que ser desativadas bem longe dali! As arquibancadas leste e oeste seriam totalmente cobertas e iriam comportar 17 mil pessoas, enquanto que 80% dos outros 37 mil assentos também seriam cobertos. Com ampla visão para qualquer torcedor, as arquibancadas eram próximas do campo e a arquitetura do estádio ajudou a criar um efeito acústico impressionante. Ele lembrava muito os clássicos estádios ingleses do começo do século XX e fugia do estilo oval que ficou muito característico na construção dos estádios entre os anos 1930 e 1960. 

O Westfalenstadion, pronto. Acima, o Stadion Rote Erde.

 

Em 02 de abril de 1974, enfim, o novo estádio de Dortmund foi inaugurado e ganhou o nome de Westfalenstadion, em alusão à região onde está a cidade: Westphalia. A partida inaugural foi um jogo amistoso disputado pelos times de futebol feminino do Mengede e do Waltrop. A partida foi uma surpresa do diretor de esportes da cidade, Erich Rüttel, que colocou a partida das mulheres no lugar dos homens por “prever um futuro brilhante do futebol feminino no país”. De fato, ele foi um visionário, pois a Alemanha se tornou bicampeã mundial nos anos 2000! O primeiro gol da história do Westfalenstadion foi de Elisabeth Podschwadtke. 

Gerd Müller deixou sua marca na goleada sobre a Hungria.

 

Mais de 50 mil pessoas acompanharam o jogo, que foi seguido de um amistoso entre os rivais locais Borussia Dortmund e Schalke 04, com vitória do Schalke por 3 a 0. No dia 17 de abril, foi a vez da seleção da Alemanha jogar sua primeira partida na casa do Borussia. Em um amistoso que reeditou a final da Copa de 1954, os alemães golearam a Hungria por 5 a 0, com dois gols de Gerd Müller, um de Kremers, um de Hölzenbein e outro de Wimmer. 

 

Copa e melhorias

Meses depois, o estádio estreou na Copa do Mundo da FIFA em 14 de junho de 1974, na vitória da Escócia sobre Zaire por 2 a 0 – os gols foram de Lorimer e Jordan. Na sequência, o Westfalenstadion abrigou três jogos da lendária seleção da Holanda, vice-campeã daquele ano. Foram dois na primeira fase – o empate sem gols contra a Suécia e a vitória por 4 a 1 sobre a Bulgária – e um na fase final, o triunfo dos laranjas sobre o Brasil por 2 a 0, em duelo visto por 52.500 pessoas. Após o Mundial, o Borussia teve o desprazer de ver os vizinhos fazerem o primeiro jogo no Westfalenstadion em uma partida válida pela Bundesliga. Foi em abril de 1976, no duelo Bochum 1×4 Schalke. Isso aconteceu por dois motivos: primeiro, pelo fato de o Bochum estar reformando seu estádio e, com isso, mandar seus jogos no Westfalenstadion. E, segundo, porque o Borussia estava na segunda divisão do Campeonato Alemão bem naquela época… Só em 1976 que a equipe conseguiu subir.

Brasil e Holanda, perfilados, no duelo pela fase final da Copa de 1974.

 

Nos anos seguintes, o estádio permaneceu sem grandes mudanças e só ganhou reformas mais incisivas a partir dos anos 1990. Em 1992, as arquibancadas norte ganharam assentos devido às novas regras da UEFA e a capacidade do estádio caiu para 42.800 pessoas. Porém, três anos depois, as arquibancadas leste e oeste ganharam mais 6 mil assentos. Até que, em 1999, dois anos depois da conquista do Borussia na Liga dos Campeões da UEFA, o Westfalenstadion aumentou a capacidade de sua arquibancada sul para 24.454 pessoas, transformando esse setor na maior arquibancada sem cadeiras da Europa, o terrace onde fica a muralha amarela – isso ampliou a capacidade total para 68.600 pessoas. Tal setor tinha a possibilidade de receber assentos para os casos de partidas internacionais, pois as regras da UEFA só permitiam torcedores sentados.

 

Século XXI: caldeirão consagrado

Em 2001, o Westfalenstadion foi palco da final da Copa da UEFA entre Liverpool-ING e Alavés-ESP. A partida foi uma das mais emocionantes da história da competição e terminou com vitória dos Reds por 5 a 4, um jogo eterno que você pode ler mais clicando aqui. Tempo depois, o estádio passou por novas reformas como parte dos investimentos da Copa do Mundo da FIFA de 2006. O estádio recebeu reforços estruturais, novas colunas de iluminação, melhorias na cobertura e mais 14 mil assentos. Vale destacar a implementação de estacas de fundação com 15 metros de comprimento inseridas no solo nas áreas norte e sul. Elas foram colocadas nos cantos do que mais tarde se tornaria a escadaria, redirecionando a carga de 3.000 toneladas do telhado de arquibancada para o terreno estável. Tais obras fecharam as lacunas das laterais e aumentaram a capacidade do Westfalenstadion para mais de 81 mil pessoas.

 

 

Em 2005, por conta da crise financeira que ainda passava, o Borussia Dortmund decidiu vender o naming rights de seu estádio para o Signal Iduna Group, uma famosa seguradora alemã. Com isso, o Westfalenstadion passou a se chamar Signal Iduna Park. Durante a Copa do Mundo, porém, a casa do Borussia foi chamada pela FIFA de FIFA World Cup Stadium Dortmund. Seis jogos foram realizados no local, todos com capacidade de 65 mil pessoas pelo fato de a arquibancada sul não poder comportar torcedores em pé:

  • Trinidad e Tobago 0x0 Suécia – Grupo B
  • Alemanha 1×0 Polônia – Grupo A
  • Togo 0x0 Suíça – Grupo G
  • Japão 1×4 Brasil – Grupo F
  • Brasil 3×0 Gana – Oitavas de final

O último jogo foi o lendário Alemanha 0x2 Itália, na semifinal, partida decidida apenas na prorrogação e com o último gol um dos mais espetaculares da história das Copas, na aula de contra-ataque dos italianos. Aquela foi a primeira derrota da Alemanha jogando na casa do Dortmund após 12 jogos em 32 anos.

Del Piero corre após marcar seu golaço contra a Alemanha: Andiamo a Berlino! Foto: Alex Livesey/Getty Images.

 

Na década de 2010, o estádio foi o principal aliado do Borussia para uma nova era de ouro. Os aurinegros venceram torneios nacionais e alcançaram a final da Liga dos Campeões da UEFA com um grande esquadrão e shows de sua torcida, que aumentou ainda mais a fama da Muralha Amarela pela Europa. As partidas por lá nas campanhas dos títulos da Bundesliga tiveram sempre mais de 80 mil pessoas, a maior média de público do futebol mundial na época. Para se ter uma ideia do quão intimidador era aquela muralha, o meio-campista Bastian Schweinsteiger, quando questionado sobre quem ele temia mais do Borussia na época, o time ou o treinador Jürgen Klopp – ele disse: “O que mais me assusta é a Muralha Amarela”.

De fato, quando aquela parte do estádio começava a cantar, tremular bandeiras ou armar algum mosaico, não tinha nenhum jogador que não ficasse intimidado. Sem contar o barulho que praticamente não saía dali e atordoava os rivais durante toda a partida. Foi com essa atmosfera que o Borussia realizou jogos marcantes, entre eles os 4 a 1 sobre o Real Madrid pela UCL de 2012-2013, resultado que praticamente selou a vaga da equipe na final.

O Marca (ESP) brinca com o nome de Lewandowski e a “paliza” que ele deu no Real (o termo “paliza”, no linguajar esportivo espanhol, é quando um time dá uma aula, uma surra no adversário).

 

Desde então, o Signal Iduna Park continua como um dos mais temidos do continente e tem nota máxima de qualidade da UEFA. Ele ainda é exemplo de sustentabilidade com placas solares no telhado que geram uma potência de 924 kW. O estádio possui lojas, museu, iluminação totalmente em LED, acessibilidade e capacidade para receber, além do futebol, shows e os mais diversos tipos de eventos. E, desde a temporada 2022-2023, ganhou o aval da UEFA para ter sua Muralha Amarela em pé, como nos jogos da Bundesliga, o que permite a capacidade total de 81.365 pessoas, uma boa notícia para o Borussia retomar o sucesso em competições continentais com o apoio de sua torcida e sua casa. Em 2024, o Signal Iduna Park voltará a receber uma grande competição: a Eurocopa, com sede na Alemanha e que terá seis jogos no estádio, um das oitavas de final e um da semifinal, assim como na Copa de 2006. Só falta ao Signal Iduna Park uma decisão de UCL, algo que ele merece há muito tempo – a UEFA deveria parar de repetir estádios e dar mais valor a outros palcos de valor e história. Como tem o Signal Iduna Park.

Foto: Arne Müseler – www.arne-mueseler.com

 

Foto: Maja Hitij / Bongarts / Getty Images

 

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