Por Guilherme Diniz
Nome: Johan Cruijff Arena
Localização: Amsterdã, Holanda
Inauguração: 14 de agosto de 1996
Partida Inaugural: Ajax 0x3 Milan, 14 de agosto de 1996
Primeiro gol: Savicevic, do Milan.
Proprietário: AFC Ajax
Capacidade: 55.865 pessoas
Recorde de público: 54.874 pessoas no Ajax 1×2 Real Madrid, 13 de fevereiro de 2019.
Os estádios de futebol sofreram profundas mudanças nas últimas décadas. Templos antes tidos como ultrapassados foram reformados, outros acabaram demolidos e reconstruídos do zero e alguns simplesmente foram abandonados. Ao vermos tais estádios, nos deparamos com as arenas, feitas para abrigarem não só o futebol, mas também shows, eventos e até outros esportes. Mas o que poucos sabem é que uma arena em particular foi responsável por iniciar essa era moderna lá na metade dos anos 1990 com um projeto audacioso e impressionante para a época. Hoje, soa banal. Mas há quase 30 anos, era futurista. Casa do AFC Ajax, da maioria das partidas da seleção holandesa e maior estádio da Holanda, a Johan Cruijff Arena é um marco na engenharia de estádios e foi um modelo a ser seguido para as dezenas de arenas que surgiram pós-2000. É hora de conhecer mais sobre “a pioneira”.
Sumário
Da decepção ao desenvolvimento

Em meados de 1986, havia na Holanda o desejo de se construir um novo estádio para suplantar o antigo Estádio Olímpico de Amsterdã, clássico palco de grandes jogos no país desde 1928. O novo estádio era um dos artífices para que a capital vencesse a disputa pelos Jogos Olímpicos de 1992. Porém, em outubro de 1986, a cidade holandesa acabou perdendo a disputa para Barcelona e os Jogos foram para a Espanha. Com isso, a expectativa pelo novo estádio ruiu e o projeto acabou arquivado. No ano seguinte, a Amsterdam Sports City Foundation foi criada a fim de retomar a criação do estádio, com novas inclusões e benfeitorias ao projeto anterior. A ideia era construir uma arena com capacidade para pouco mais de 55 mil pessoas, com uma pista de atletismo em volta do gramado e um teto fixo. Com a liderança do AFC Ajax, que vinha em nova ascensão após a temporada de 1987, quando conquistou a Recopa da UEFA sob o comando do técnico Johan Cruyff e do artilheiro Marco van Basten, o clube queria uma nova casa para dar mais espaço ao seu torcedor, que se espremia no De Meer em partidas “menores” e tinha que ir ao Estádio Olímpico nos jogos mais importantes.

Porém, após analisar mais uma vez o projeto, a equipe decidiu remover a pista de atletismo e manter as arquibancadas mais próximas ao gramado, afinal, não havia muitas expectativas para uma nova Olimpíada ser realizada na Holanda tão cedo. Além disso, o teto fixo seria substituído por um teto retrátil inovador e inédito para a época, o que iria permitir mais conforto aos torcedores em dias de chuva ou muito frio, além de dar uma opção para grandes shows no local. Em 1992, o governo de Amsterdã autorizou a obra e, em novembro de 1993, os trabalhos, enfim, começaram sob a responsabilidade da Ballast Nedam e o Royal BAM Group.
Bem vindo ao futuro!

As obras levaram cerca de três anos para serem concluídas ao valor de 140 milhões de euros e, em julho de 1996, uma cerimônia de abertura aconteceu com a presença da rainha Beatrix. Antes, uma tocha olímpica foi conduzida até o estádio, com o início da caminhada feita por Johan Cruyff e terminada por Frank Rijkaard. Concluído, o estádio, que naquela época ganhou o nome de Amsterdam Arena, chamava a atenção pelo design totalmente diferente dos estádios já existentes. Com seu teto retrátil, que se fechava ou abria em apenas 20 minutos, arquibancadas belíssimas e muita tecnologia, a nova casa do Ajax era sem dúvida o mais moderno estádio do mundo naquele ano de 1996. Por fora, era encorpado, diferente, nem parecia um estádio de futebol. Mas, por dentro, era algo inédito e impactante na época. Entre as características da arena, destaque para:
- 50 câmeras de segurança;
- Telões com 50 metros quadrados atrás dos gols;
- Visibilidade plena do campo de jogo, com o assento mais próximo distante apenas 15m do gramado e o mais longe 60m;
- Sistema de ar-condicionado que mantém a temperatura média em 20 graus;
- Acesso a um dos oito andares do estádio por elevadores ou escadarias;
- Assentos numerados e confortáveis;
- Dois pisos de estacionamentos no subterrâneo para 2 mil carros e uma avenida abaixo do gramado;
- Sensores que indicavam quais áreas do gramado precisavam de água ou drenagem. No inverno, o sensor aquecia o gramado para evitar congelamento;
- Áreas VIP e camarotes

Tudo isso, hoje, é algo comum nas arenas que pipocam por aí. Mas tudo isso lá na metade da década de 1990 era simplesmente estonteante e inédito. Pensar em tanta modernidade em um estádio de futebol parecia algo exagerado, mas não era. Por que não dar conforto ao torcedor? Por que não oferecer uma experiência diferente e única? Era isso que aquela verdadeira nave espacial oferecia: um passeio pelo que seria o futuro dos estádios.

A Amsterdam Arena chegava em um momento crucial na história do Ajax, que havia vencido a Liga dos Campeões da UEFA de 1995 e ficado com o vice na edição de 1996. A inauguração da Amsterdam Arena aconteceu em 14 de agosto de 1996, no duelo entre Ajax x Milan, exatamente os clubes que fizeram a final europeia vencida pelos holandeses em 1995. Mas, para a frustração dos presentes, o Milan jogou água na cerveja dos Godenzonen e venceu por 3 a 0, com o primeiro gol da história da Arena anotado por Savicevic. No mês seguinte, a Arena já recebeu três shows de Tina Turner, com sua turnê mundial “Wildest Dreams”, que levou mais de 160 mil pessoas nas três apresentações.
Grandes jogos e melhorias

Pouco depois da inauguração, descobriu-se que o projeto da Amsterdam Arena não contemplava boas condições de cultivo da grama mesmo com os já citados sensores e, por isso, o campo tinha que ser renovado até 5 vezes por ano. Esses problemas foram posteriormente resolvidos com a instalação de uma tecnologia inovadora de cultivo, que consiste numa combinação de lâmpadas, turbinas eólicas e aspersores de água, técnicas utilizadas em boa parte da agricultura holandesa. Com o passar do tempo, a casa do Ajax virou sinônimo de conforto para se assistir a um jogo de futebol e o estádio superou seus concorrentes mais velhos. Com as arquibancadas próximas e uma estrutura mais fechada, a acústica da Amsterdam Arena era algo notável e criava um ambiente muito legal nos jogos de futebol. Por mais que o estádio não fosse tão bonito por fora, era dentro que a magia acontecia. Para chegar até lá, os holandeses contavam com uma integração muito bem feita entre carros – com um amplo estacionamento – e transporte público, com duas estações de metrô vizinhas ao estádio.

Vedete do futebol, a Amsterdam Arena foi palco já em 1998 da final da Liga dos Campeões da UEFA entre Real Madrid e Juventus, duelo vencido pelos espanhóis por 1 a 0 e que deu ao clube merengue sua primeira Velhinha Orelhuda desde o longínquo título de 1966. Em 2000, a casa do Ajax abrigou cinco jogos da Eurocopa, incluindo três da seleção holandesa na fase de grupos e a fatídica semifinal na qual a Holanda acabou perdendo para a Itália nos pênaltis a chance de ir à final e brigar pelo seu segundo título continental. A decisão acabou acontecendo em Roterdã, na casa do Feyenoord, algo que gerou muita revolta em Amsterdã e acusações de “influências externas” para a não realização da partida na capital, alimentando a ferrenha rivalidade entre Ajax e Feyenoord.


Por ser apta a vários esportes, a Amsterdam Arena recebeu nos anos seguintes partidas de Futebol Americano, com duelos da NFL em 2007. O local também foi sede de shows memoráveis de artistas como Michael Jackson, The Rolling Stones, Backstreet Boys, Bon Jovi, David Bowie, U2, Madonna, Justin Timberlake, Bruce Springsteen, AC/DC, Rihanna, One Direction, Coldplay, Beyoncé, Armin van Buuren, Metallica entre outros. A Arena tem capacidade para 68 mil pessoas em shows, com a utilização do campo para a pista.

Em 2013, foi a vez do estádio receber a final da Liga Europa da UEFA de 2013 entre Chelsea e Benfica, quando os Blues venceram os portugueses e ficaram com o caneco continental. Em 2015, a administração iniciou uma série de melhorias externas e internas. As reformas proporcionaram melhor qualidade e atendimento aos visitantes, ampliando os anéis de passagem ao redor do estádio, criando mais espaço para os visitantes e para novas instalações. Como resultado, a parte externa do estádio passou de um formato côncavo para um formato convexo, alterando drasticamente sua aparência. A reforma foi concluída em 2020, quando quatro partidas da Eurocopa foram disputadas na Arena: as três da Holanda, pelo Grupo C, e a goleada de 4 a 0 da Dinamarca sobre País de Gales, pelas oitavas de final.
Homenagem eterna e inspiração para novas arenas

Em 2005, torcedores do Ajax se manifestaram para que a Amsterdam Arena mudasse de nome e virasse Rinus Michels Stadion em homenagem ao lendário técnico Rinus Michels, que faleceu em março daquele ano. Porém, a direção do clube não acatou a vontade dos torcedores, que levaram por muito tempo faixas com o desejo do novo nome e diziam entre eles que o estádio do Ajax era o Rinus Michels Stadion. Até que, em 2017, um ano depois da morte de Johan Cruyff, maior jogador da história da Holanda e do Ajax, a diretoria decidiu que a Amsterdam Arena iria se chamar Johan Cruyff Arena. Por conta de trâmites burocráticos entre o clube, a municipalidade de Amsterdã e a família de Cruyff, o batismo aconteceu apenas em 25 de abril de 2018, data de aniversário da lenda.

O nome oficial escolhido acabou sendo Johan Cruijff Arena, pedido da família para ficar mais próximo com a nomenclatura em holandês, embora no exterior o estádio seja conhecido como Johan Cruyff Arena. Para efeitos de marca, o estádio aparece em muitos locais grafado como Johan Cruijff ArenA, com o último “A” em maiúsculo. A homenagem tornou a casa do Ajax ainda mais cultuada no mundo do futebol e modelo para que diversos estádios no planeta fossem modernizados ou reconstruídos. Em levantamento feito pela Trivela, só entre 1997 e 2012, por exemplo, 26 estádios com capacidade para mais de 50 mil pessoas passaram por mudanças ou foram construídos do zero na Europa:
– Luzhniki (Moscou/RUS, 1997)
– Stade de France (Saint-Denis/FRA, 1998)
– Volkspark (atual Imtech, Hamburgo/ALE, 1998)
– Millenium (Cardiff/GAL, 1999)
– Arena Auf Schalke (atual Veltins Arena, Gelsenkirchen/ALE, 2001)
– Olímpico Atatürk (Istambul/TUR, 2001)
– José de Alvalade (Lisboa/POR, 2003)
– Do Dragão (Porto/POR, 2003)
– Da Luz (Lisboa/POR, 2003)
– Rhein Energie (Colônia/ALE, 2004)
– Borussia-Park (Mönchengladbach/ALE, 2004)
– Esprit Arena (Dusseldorf/ALE, 2004)
– Gottlieb-Daimler (atual MHPArena, Stuttgart/ALE, 2005)
– Allianz Arena (Munique/ALE, 2005)
– Commerzbank Arena (Frankfurt/ALE, 2005)
– Sükrü Saraçoglü (Istambul/TUR, 2006)
– Emirates (Londres/ING, 2006)
– Wembley (Londres/ING, 2007)
– Donbass (Donetsk/UCR, 2009)
– Aviva (Dublin/IRL, 2010)
– Türk Telekom (Istambul/TUR, 2011)
– Arena Nationala (Bucareste/ROM, 2011)
– Naradowy (Varsóvia/POL, 2011)
– Lille-Métropole (Lille/FRA, 2012)
– Friends Arena (Estocolmo/SUE, 2012)
– Olímpico (Londres/ING, 2012)

Após 2012, outros estádios também entraram na onda como Santiago Bernabéu – praticamente pronto neste ano de 2024 – e Camp Nou (em fase de reconstrução), e muitos outros ainda virão. O fato é que todos, sem exceção, tiveram pelo menos alguma inspiração na Johan Cruijff Arena, um estádio visionário, que marcou e acelerou em muitos e muitos anos o início da era moderna dos estádios de futebol.
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