Grandes feitos: Campeão do Campeonato Francês (2016-2017), Vice-campeão da Copa da Liga da França (2016-2017) e Semifinalista da Liga dos Campeões da UEFA (2016-2017). Conquistou o título francês com a 2ª maior pontuação da história do torneio – 95 pontos em 38 jogos -, a maior série de vitórias seguidas da história da Ligue 1 – 16 vitórias – e encerrou um jejum de 17 anos sem títulos no Campeonato Francês.
Time-base: Subasic; Sidibé (Almamy Touré), Glik (Raggi), Jemerson e Benjamin Mendy; Fabinho (João Moutinho), Bakayoko, Bernardo Silva e Lemar; Radamel Falcao (Valère Germain / Nabil Dirar) e Mbappé (Carillo). Técnico: Leonardo Jardim.
“Avassaladores do Principado”
Por Guilherme Diniz
Mônaco sempre encantou os turistas por sua beleza, pelas festas e pela Fórmula 1. O futebol, claro, também entra no pacote quando o time do Principado, o AS Monaco, está bem. E, durante a temporada 2016-2017, quem visitava o 2º menor país do mundo na Costa Azul francesa e tivesse a oportunidade, ia correndo comprar um ingresso para ver um jogo dos monegascos no Stade Louis II. Bem, não era apenas um jogo. Era um espetáculo. Uma ode ao futebol ofensivo, aos dribles, à intensidade. E os primeiros registros de uma lenda que nascia ali, com seus braços cruzados, sorriso de orelha a orelha, habilidade e explosão fora do comum, digna da mais alta estirpe, como manda a cartilha da riqueza do Principado. Kyllian Mbappé assombrou o mundo do futebol naquela temporada, assim como o técnico Leonardo Jardim, os laterais Sidibé e Mendy, os meias Lemar e Bernardo Silva, os volantes Fabinho e Bakayoko e o sempre prolífico atacante Radamel Falcao, estrelas do Monaco campeão francês com 95 pontos em 38 jogos, 107 gols marcados e apenas três derrotas. Além disso, foram 16 jogos seguidos só vencendo os adversários, série que começou naquela temporada e só foi acabar no início da seguinte.
Não bastasse o show e o modo avassalador daquele esquadrão em casa, o time foi longe, também, na Liga dos Campeões da UEFA, superando de maneira categórica equipes como Tottenham, Bayer Leverkusen, Manchester City e Borussia Dortmund. O sonho de chegar à final só ruiu diante da “asa-negra” Juventus, que eliminou os alvirrubros na semifinal, assim como havia feito na semi de 1997-1998. Mesmo efêmero, o Monaco 2016-2017 marcou a história do futebol francês e europeu e merecia pelo menos mais uma temporada. Porém, os grandes do futebol do Velho Continente acabaram levando as principais estrelas do time e a magia se foi num estalo. É hora de relembrar.
Sumário
Aqui nasce um “novo Henry”
Depois de passar por momentos terríveis no começo dos anos 2010, com queda para a segunda divisão e graves problemas financeiros, o Monaco começou a ressurgir após a venda de 67% do clube para o bilionário russo Dmitry Rybolovlev, que começou a injetar dinheiro nos monegascos a fim de recuperar o prestígio de uma equipe que sempre brigava por títulos desde os anos 1990, inclusive em torneios europeus. Em 2014, já na elite da França e com reforços, os alvirrubros passaram a ser comandados pelo técnico Leonardo Jardim, que tinha uma modesta carreira e escassos títulos – os principais eram o Campeonato Grego e a Copa da Grécia de 2012-2013 pelo Olympiacos. Em suas primeiras temporadas, conseguiu conduzir o Monaco ao 3º lugar na Ligue 1, mas o time fracassou em suas campanhas europeias, caindo nas quartas de final da UCL de 2013-2014 – para a asa-negra Juventus – e na primeira fase da Liga Europa da UEFA de 2015-2016.
Foi na época 2015-2016 que Leonardo Jardim incorporou ao elenco profissional um jovem talentoso, rápido como um foguete e com rara habilidade chamado Kylian Mbappé, que fez sua estreia com a camisa do Monaco em dezembro de 2015, com apenas 16 anos e 347 dias, o mais jovem a jogar profissionalmente pelo clube na história, quebrando o recorde de Thierry Henry, que também começou nos monegascos. Aliás, Mbappé era tido como “novo Henry” pelos torcedores e dirigentes do Monaco pelas semelhanças e estilo de jogo com o craque francês campeão do mundo em 1998. Focado e disciplinado, Mbappé era exemplar e demonstrava uma maturidade impressionante, algo que credenciou o jovem a um lugar garantido na seleção francesa e até mesmo na Copa do Mundo de 2018.
Mas não era apenas Mbappé que iria brilhar a partir da época 2016-2017. Thomas Lemar, de 21 anos, era um dos promissores meio-campistas do time na época, assim como Bernardo Silva, português de 22 anos que podia ajudar tanto na criação quanto na marcação. O brasileiro Fabinho, de 23 anos, era outro que podia atuar como volante e também mais recuado, como zagueiro, e havia crescido de produção após passar um período no Real Madrid B. O lateral-esquerdo Benjamin Mendy, de 22 anos, era outro jovem com moral e já com convocações para a seleção francesa por seus grandes jogos.
E, por fim, Bakayoko, também de 22 anos, meio-campista muito bom na parte defensiva e que dava mais liberdade para o ataque monegasco, que ganharia na época 2016-2017 o reforço do colombiano Radamel Falcao, de volta após um período emprestado ao futebol inglês. Além de Falcao, o Monaco trouxe os defensores Sidibé (ex-Lille) e Glik (ex-Torino). Com esses nomes, Leonardo Jardim conseguiu construir uma equipe muito forte ofensivamente e coesa na zaga, dando total apoio aos jovens, bem como motivação aos veteranos e a atletas que já estavam no time – como João Moutinho, Subasic e Germain.
Gols e ajustes
A pré-temporada do Monaco já dava indícios do que o torcedor poderia esperar do time: muitos gols e jogos pirotécnicos. Em oito partidas, foram três vitórias, dois empates e três derrotas, com 18 gols marcados e 20 sofridos. A zaga, obviamente, precisava de ajustes, e Jardim tratou de reforçar o setor para o decorrer da jornada com Bakayoko e Fabinho centralizados, Mendy e Sidibé nas laterais, mas não tão ofensivos, deixando para Lemar, Bernardo Silva, Falcao e Mbappé as funções de ataque, com os dois primeiros pelas pontas e os dois últimos mais à frente. Com a bola, o Monaco iria avançar em bloco, com duas linhas de quatro bem clássicas, enquanto que Fabinho poderia se transformar em terceiro zagueiro para reforçar o sistema defensivo quando os alvirrubros sofriam contra-golpes.
Além disso, Bernardo Silva e Lemar podiam recuar para o centro, formando um quinteto no meio de campo com Mendy e Sidibé nas pontas. Leonardo Jardim adaptava seu time conforme o adversário e momento da partida, não hesitava em trocar alguns atletas de posição e impunha o ritmo ofensivo de um jeito difícil de neutralizar. Claro que a exposição ao ataque iria gerar muitos espaços, fato observado principalmente nos gols sofridos na fase de mata-mata da Liga dos Campeões da UEFA. Mas os adversários iriam sofrer (muito) nos duelos contra os monegascos.
No pelotão de frente
Antes de iniciar o Campeonato Francês, o Monaco começou a temporada na sempre complicada fase preliminar da Liga dos Campeões da UEFA. O primeiro adversário dos alvirrubros foi o Fenerbahçe-TUR, que venceu o duelo de ida, em casa, por 2 a 1. Na volta, Germain (duas vezes) e Falcao fizeram os gols do triunfo por 3 a 1 que colocou os monegascos no playoff contra o Villarreal-ESP. No primeiro jogo, na Espanha, Fabinho e Bernardo Silva anotaram os gols da vitória por 2 a 1 sobre os amarelos, resultado que dava a vantagem do empate para a volta. Em casa, o triunfo por 1 a 0 – gol de Fabinho – foi suficiente para selar a vaga na fase de grupos.
Mais tranquilo, o Monaco foi para a Ligue 1 com foco em um bom início de campanha para evitar que o favorito PSG pudesse abrir uma vantagem muito grande na tabela. E foi exatamente isso que o clube do Principado fez. Nas primeiras cinco rodadas, quatro vitórias e um empate, com destaque para o triunfo por 3 a 1 sobre o PSG no Stade Louis II, na 3ª rodada, gols de João Moutinho, Fabinho e Aurier (contra), resultado que deixou os monegascos na segunda colocação – a partir dali, o time não iria mais sair do Top 3 da classificação. Na sexta rodada, os alvirrubros foram goleados pelo rival Nice fora de casa, no Derby de la Côte d’Azur, por 4 a 0, resultado catastrófico e que tirou os alvirrubros da liderança. A volta por cima veio já nas duas rodadas seguintes, com vitórias sobre Angers (2 a 1) e Metz (7 a 0).
Nesse meio tempo, a equipe foi caminhando rumo à classificação para o mata-mata da Liga dos Campeões. A estreia foi contra o Tottenham-ING, em Wembley, e os monegascos venceram por 2 a 1, gols de Bernardo Silva e Lemar. No duelo seguinte, empate em 1 a 1 com o Bayer Leverkusen-ALE, seguido de empate em 1 a 1 com o CSKA-RUS, fora. Na 4ª rodada, Falcao, duas vezes, e Germain fizeram os gols da vitória por 3 a 0 sobre os russos, no Louis II. Para selar a vaga, os alvirrubros venceram o Tottenham, em casa, por 2 a 1 (gols de Sidibé e Lemar) e nem a derrota na última rodada para o Bayer por 3 a 0 tirou a liderança da equipe.
Ainda brigando para voltar ao topo da Ligue 1, o Monaco emendou oito jogos sem perder da 10ª até a 17ª rodada, uma sequência crucial para as pretensões de título do time de Leonardo Jardim. Foram seis vitórias e dois empates, sendo todas as vitórias por goleada:
- 6 a 2 no Montpellier (casa);
- 6 a 0 no Nancy (casa);
- 3 a 0 no Lorient (fora);
- 4 a 0 no Olympique de Marselha (casa);
- 5 a 0 no Bastia (casa);
- 4 a 0 no Bordeaux (fora).
Na rodada 18, a equipe acabou perdendo para o Lyon por 3 a 1, mas aquele seria o último revés alvirrubro no campeonato. Com a vitória por 2 a 1 sobre o Caen na rodada 19 e a goleada de 4 a 1 sobre o Olympique em pleno Vélodrome, os monegascos assumiram a liderança na 20ª rodada. E não iriam largar mais. Ainda em dezembro de 2016, a equipe estreou na Copa da Liga da França e goleou o Rennes por 7 a 0, com o primeiro hat-trick de Mbappé pelos alvirrubros.
Hora da verdade!
A partir de janeiro e meados de fevereiro de 2017, o time de Leonardo Jardim iria passar pelos verdadeiros testes da temporada. O campeonato nacional se encaminhava para o segundo turno, as copas nacionais teriam suas etapas finais e as oitavas de final da UCL figuravam no horizonte. Àquela altura, o treinador já escalava Mbappé de maneira mais regular e percebia que o craque não podia sair do time. Germain, preferido em boa parte dos primeiros meses da temporada, acabaria no banco. E foi só o jovem atacante começar a jogar mais que o Monaco virou uma máquina de fazer gols, embora tenha começado a levar muitos gols também.
Na Copa da França, a equipe passou pelo Ajaccio por 2 a 1 e superou o modesto Chambly em um maluco 5 a 4, com gols de Carillo, Lemar, Mbappé, N’Doram e Glik. Nas oitavas, a equipe passou pelo Olympique de Marselha em outro jogo alucinante: 4 a 3, com gols de Moutinho, Mbappé, Mendy e Lemar. No Campeonato Francês, a liderança foi mantida depois do triunfo por 4 a 0 sobre o Lorient e o empate em 1 a 1 com o PSG no Parque dos Príncipes. Na rodada 23, os monegascos deram o troco no rival Nice e venceram por 3 a 0 o clássico, com dois gols de Falcao e um de Germain. Nos dois jogos seguintes, vitórias sobre Montpellier (2 a 1) e Metz (5 a 0, com três gols de Mbappé).
Mas o entretenimento puro aconteceu na Liga dos Campeões da UEFA. Os alvirrubros tiveram pela frente o poderoso Manchester City-ING, que na época tinha Agüero, Leroy Sané, De Bruyne e companhia nada limitada. O primeiro jogo foi na Inglaterra e o Monaco foi valente desde o início, sem se importar com a força do rival nem com o território hostil. Sterling abriu o placar, mas Falcao empatou. Ainda no primeiro tempo, Mbappé virou o jogo e, no segundo tempo, Agüero fez 2 a 2. Falcao deixou o Monaco na frente três minutos depois, mas Agüero fez 3 a 3. Só quando Stones fez 4 a 3 que o jogo ficou mais para o City, que fez 5 a 3 com Sané, aos 37’, fechando um dos jogos mais alucinantes daquele ano – vale lembrar que foi naquelas oitavas de final que aconteceu o lendário Barcelona 6×1 PSG.
Semanas depois, o Monaco tinha que vencer por dois gols de diferença se quisesse a classificação. Na época, o critério de gol fora ainda vigorava na UEFA e isso dava um pouco de vantagem aos monegascos, afinal, eles anotaram três na Inglaterra. E, com um ritmo alucinante desde o início da partida, a equipe da casa abriu o placar logo aos 8’, com Mbappé, em seu 11º gol em 16 partidas em 2017. Fabinho, goleador como nunca naquela temporada, deixou o seu aos 29’, gol que classificava o Monaco. No segundo tempo, o City foi pra cima e Sané descontou, aos 26’, deixando o torcedor monegasco temeroso. Mas, seis minutos depois, Bakayoko fez 3 a 1 e o placar de 6 a 6 no agregado classificou o Monaco pelo critério de gols marcados fora de casa!
Foi um “choque” para Guardiola, tão acostumado a atacar seus adversários, sofrer do próprio veneno. O Monaco não era uma equipe de posse de bola, longe disso, mas a verticalidade e o ataque pelas pontas eram armas letais que geravam resultado e gols. O triunfo foi ainda uma resposta aos que criticavam o time por ir bem em uma liga frágil como a francesa. Óbvio que ela não tinha o nível da Premier League, por exemplo, mas ter uma média superior a três gols como os monegascos tinham na época deixava claro que eles eram diferentes. E diferente era Mbappé, voando, jogando como um craque da elite do futebol com apenas 18 anos. E, como não poderia deixar de ser, ele era o mais requisitado após o triunfo sobre os Citizens.
“Olhe nos meus olhos: eles estão brilhando. Isso que está acontecendo é verdadeiramente incrível. Estou saboreando o momento, e espero que isso seja apenas o começo de tudo. […] É evidente que esta é uma façanha contra um time do Manchester City que hoje está entre os melhores da Europa, com jogadores de nível internacional. Mas nós conseguimos elevar o nosso nível e encará-los de igual para igual. E tentamos desde o início mostrá-los que não era o dia deles, e sim o nosso. Fomos para cima em seu campo, não deixamos eles jogarem no nosso, e em quase todas as nossas tentativas fizemos gols.
Acho que eles não esperavam ir para o intervalo tomando 2 a 0. No segundo tempo, nosso desempenho caiu um pouco. Nós fomos forçados a recuar, e eles começaram a quebrar as linhas com alguns passes, incluindo os de Kevin de Bruyne e David Silva. Mas nós mostramos que tínhamos caráter, e voltamos ao ataque para marcar o terceiro gol, e, assim, nos classificamos”. – Mbappé, em entrevista pós-jogo à France Football, 15 de março de 2017.
Naquele mesmo mês de março, Mbappé foi convocado pela primeira vez pelo técnico Didier Deschamps para dois jogos da seleção principal da França: um contra Luxemburgo, pelas Eliminatórias, e outro contra a Espanha, em duelo amistoso. Outros três destaques do Monaco foram chamados: Thomas Lemar, Djibril Sidibé e Benjamin Mendy.
Imparáveis
Os shows na UCL continuaram, bem como a trajetória do time na Ligue 1. Sem rivais, o time alvirrubro seguiu derrotando quem via pela frente no torneio e mantendo a liderança. Em março e abril, foram mais sete vitórias seguidas. E, nas quartas de final da Liga dos Campeões, a equipe foi mais uma vez gigante. No duelo de ida, contra o Borussia Dortmund, os monegascos venceram por 3 a 2 em pleno Westfalenstadion e sua temida muralha amarela. Mbappé marcou dois e seguiu como principal nome ofensivo do time de Leonardo Jardim.
Na volta, em casa, o Monaco não sentou na vantagem e foi ao ataque, abrindo 2 a 0 com apenas 17 minutos, em gols de Mbappé (de novo…) e Falcao. No segundo tempo, Reus descontou, mas Germain fez 3 a 1 e colocou o Monaco em mais uma semifinal de Liga dos Campeões da UEFA! As más notícias de abril ficaram nas copas nacionais, quando os monegascos acabaram eliminados na semifinal da Copa da França pelo PSG (com time reserva, priorizando a UCL, o Monaco perdeu de 5 a 0) e perderam a final da Copa da Liga também para os parisienses por 4 a 1 – em grande jogo dos sul-americanos Cavani e Di María.
Outra vez a Velha Coroca!
A última missão do Monaco antes do sonho de disputar a final da UCL pela segunda vez foi o pior rival possível para o clube alvirrubro: a Juventus-ITA. Motivo? É que a equipe italiana sempre causou problemas aos monegascos e destruiu esperanças em torneios continentais. Foi assim em 1997-1998, na semifinal da UCL, e também nas quartas de final de 2014-2015. Com um ataque devastador, o time de Leonardo Jardim esperava acabar com aquela zica diante da Juve, só que havia um porém: a Velha Senhora tinha a melhor defesa de toda a UCL, com dois gols sofridos lá na fase de grupos e mais nada.
Buffon, Bonucci, Chiellini, Barzagli e Alex Sandro eram os expoentes de um paredão praticamente intransponível, que ainda tinha Marchisio e Pjanic no meio e uma linha de frente respeitável com Dybala, Mandzukic e Higuaín. No duelo de ida, no Louis II lotado, o Monaco tentou, mas não conseguiu furar a zaga italiana. E, para piorar, Higuaín marcou duas vezes, selando o placar de 2 a 0 que deixou a Juventus com os dois pés na final. Na volta, em Turim, a Juve abriu 2 a 0 ainda no primeiro tempo, Mbappé descontou na segunda etapa, mas não adiantou: o Monaco foi eliminado pela terceira vez na história pela Velha Senhora – que, para os monegascos, é uma Velha Coroca! Vale lembrar que, na decisão, a equipe italiana foi sapecada pelo Real Madrid por 4 a 1.
Enfim, campeões!
Depois da eliminação, o Monaco se concentrou apenas na Ligue 1 e consolidou o título com uma rodada de antecipação, no dia 17 de maio, em vitória por 2 a 0 sobre o Saint-Étienne, em casa, com gols de Mbappé e Germain. Foi o troféu que a torcida aguardava há 17 anos e que serviu como prêmio justo a um trabalho tão bem feito e a um time ofensivo e merecedor. Após a vitória por 3 a 2 sobre o Rennes na última rodada, o Monaco fechou a 2ª melhor campanha da história da Ligue 1 com:
- 95 pontos
- 38 jogos
- 30 vitórias
- 5 empates
- 3 derrotas
- 107 gols marcados (melhor ataque)
- 31 gols sofridos
- média de 2,82 gols por jogo
Radamel Falcao foi o artilheiro do time no campeonato com 21 gols e anotou 30 gols em 43 partidas na temporada. Mbappé, com 15 gols, foi o vice-artilheiro do time no torneio e marcou 26 gols em 44 jogos na temporada. Quem também deixou sua marca na lista de artilheiros do time naquela época foi Germain (17 gols) e Lemar (14 gols). O Monaco terminou a temporada vencendo 12 jogos seguidos da Ligue 1, somatória que chegaria a 16 partidas com os primeiros quatro jogos da temporada 2017-2018. Além disso, a equipe alvirrubra permaneceu 19 jogos sem perder na campanha do título. Simplesmente incontestável e inesquecível.
Debandada e o fim
Para a tristeza do torcedor, o time encantador de 2016-2017 se desfez já na temporada 2017-2018. Bernardo Silva e Mendy foram para o Manchester City, Germain foi para o Olympique de Marselha, Bakayoko foi para o Chelsea e Mbappé foi para o PSG. Com isso, a chamada espinha dorsal do esquadrão se desfez e os monegascos passaram aquela época sem qualquer taça, terminando com os vice-campeonatos da Ligue 1, da Copa da Liga Francesa e da Supercopa da França. Desde então, os torcedores alvirrubros esperam por uma nova safra de jovens talentos que permaneça por mais tempo no Principado e garanta títulos, entretenimento e novos shows como os vistos em 2016-2017. Efêmeros, mas imortais.
Os personagens:
Subasic: revelado pelo Zadar, o croata chegou ao Monaco em 2012 e permaneceu até 2020, acumulando quase 300 jogos pelos monegascos. Com 1,91m de altura, se impunha no mano a mano com os rivais e viveu a melhor fase da carreira no Principado. Na campanha do título francês de 2016-2017, foi eleito o melhor goleiro da Ligue 1, feito que o manteve na titularidade da seleção croata, pela qual disputou a Copa do Mundo de 2018 e foi vice-campeão.
Sidibé: depois de uma boa passagem pelo Lille, o defensor chegou ao Monaco em 2016 e foi a principal escolha para a lateral-direita, embora pudesse atuar, também, no miolo de zaga e como volante. Foram 47 jogos e três gols na época 2016-2017, além do prêmio de um dos melhores jogadores da temporada na Ligue 1.
Almamy Touré: cria das bases do clube, o malinense começou no time principal em 2015 e demonstrou capacidade para jogar tanto como zagueiro quanto lateral-direito. Com a boa fase de Sidibé, não foi titular absoluto, mas atuou em 27 jogos na temporada 2016-2017. Em 2019, foi jogar no Eintracht Frankfurt, pelo qual venceu a Liga Europa da UEFA de 2021-2022.
Glik: o zagueiro polonês fez ótimas temporadas com a camisa do Torino antes de chegar ao Monaco, em 2016. Com 1,90m de altura, se destacava no jogo aéreo e no senso de posicionamento. Fez uma grande dupla de zaga com Jemerson e foi titular absoluto do time. Além disso, aparecia às vezes no ataque e, dessa maneira, marcou oito gols em 53 jogos, um deles um golaço de voleio que empatou o duelo contra o Bayer Leverkusen na fase de grupos da UCL. Pela seleção da Polônia, Glik disputou as Copas de 2018 e 2022, além das Eurocopas de 2016 e 2020.
Raggi: outro defensor com força física e bom no jogo aéreo (1,87m de altura), o italiano podia jogar na zaga e também na lateral-direita. Foi titular em boa parte dos jogos que disputou em seu início no clube alvirrubro, entre 2012 e 2016, fazendo uma média de 35 jogos por temporada, mas perdeu espaço na época 2016-2017, embora tenha atuado em 37 partidas, sendo 14 na Ligue 1 e 15 na caminhada europeia da UCL, ora como titular, ora entrando no decorrer das partidas.
Jemerson: revelado pelo Atlético Mineiro, integrou o grande time campeão da Libertadores de 2013, da Recopa de 2014 e da Copa do Brasil de 2014, e foi uma das maiores revelações da época pela regularidade, eficiência nos desarmes e boa colocação. Foi contratado pelo Monaco em 2016 e rapidamente ganhou a vaga de titular, formando a dupla de zaga principal ao lado do polonês Glik. Disputou 54 jogos na temporada 2016-2017 e marcou 2 gols. Permaneceu até 2021 no Principado.
Benjamin Mendy: o lateral-esquerdo começou a carreira no Le Havre e passou também pelo Olympique de Marselha antes de chegar ao Monaco, em 2016. Permaneceu apenas uma temporada, o suficiente para marcar seu nome na história como titular no time campeão francês. Fez jogos exuberantes, demonstrando personalidade, habilidade, força ofensiva e regularidade defensiva. Acabou indo para o Manchester City em 2017, mas deu azar e se lesionou logo no começo da temporada, retornando apenas em 2018, o que prejudicou sua condição de titular da seleção francesa na Copa do Mundo. Ele foi convocado e integrou o elenco campeão do mundo, mas o titular foi Lucas Hernández.
Fabinho: um dos principais nomes do time, o brasileiro atuava como cabeça de área, zagueiro, volante e até meia no esquema tático de Leonardo Jardim. Vivendo a fase mais goleadora da carreira, era especialista em cobranças de pênalti e também nos avanços ao ataque. Nos 56 jogos que disputou na época 2016-2017, marcou 12 gols, 9 deles na Ligue 1. Permaneceu no Monaco de 2013 até 2018, disputou 233 jogos e marcou 31 gols até ir para o Liverpool em 2018 faturar vários títulos com o esquadrão de Jürgen Klopp.
João Moutinho: o meio-campista chegou ao Monaco em 2013, após ótimas temporadas pelo Sporting e pelo Porto, pelo qual venceu a Liga Europa de 2010-2011. Virou titular da equipe rapidamente e fez valer o entrosamento construído com Radamel Falcao nos tempos de Porto. Com grande visão de jogo, eficiente na marcação e no apoio, caiu nas graças da torcida e permaneceu no clube até 2018, atuando em 219 jogos e marcando 11 gols. Em 2016, esteve na seleção de Portugal campeã da Eurocopa.
Bakayoko: com bom controle de bola, eficiência nos passes e na marcação, viveu momentos marcantes pelo Monaco entre 2014 e 2017, época em que chegou a ser convocado para a seleção francesa, mas acabou não sendo mais chamado por causa da enorme concorrência no setor e boas fases de outros meio-campistas como Pogba, Matuidi e Kanté. Embora não tivesse um bom relacionamento com o técnico Leonardo Jardim, ambos deixaram as diferenças de lado em 2016-2017 e Bakayoko jogou muito, anotando inclusive o gol da classificação diante do Manchester City nas oitavas de final da UCL. Bakayoko disputou 51 jogos em 2016-2017 e marcou três gols, além de ter sido eleito para o All-Star Team da UCL daquela época. Foi vendido ao Chelsea já em 2017-2018.
Bernardo Silva: foi pelo Monaco que o português ganhou de vez os holofotes e despertou a cobiça de vários clubes, entre eles o Manchester City de Guardiola, que levou o meia para a Inglaterra logo após a temporada espetacular que Silva fez em 2016-2017. Com 11 gols e 12 assistências em 58 jogos, foi um dos mais participativos do elenco e eleito um dos melhores jogadores da Ligue 1.
Lemar: ponta driblador e técnico, fez uma parceria marcante com Bernardo Silva e infernizou as defesas rivais naquela temporada de ouro. Marcou 14 gols em 55 jogos e cravou seu lugar na seleção francesa campeã do mundo em 2018. Em três temporadas pelo Monaco, Lemar disputou 127 jogos e marcou 22 gols.
Radamel Falcao: um dos maiores atacantes do planeta nos anos 2010, o colombiano foi ídolo da torcida monegasca principalmente após seu retorno, em 2016. Com 30 gols em 43 jogos, foi o artilheiro do Monaco na temporada e um dos principais atacantes do futebol europeu. Rápido, inteligente, oportunista e finalizador nato, sempre levava perigo aos rivais e mostrou estrela por levantar mais um título na carreira, após várias glórias pelo Porto e pelo Atlético de Madrid. O colombiano foi importante, também, para o crescimento de Mbappé, dando ao jovem espaço e passes para que ele pudesse finalizar e aperfeiçoar sua técnica. Nos treinamentos, Falcao ainda deu dicas para que o francês fosse mais calmo e sereno durante as partidas para não errar tanto e ter consciência na hora de chutar. Em sua trajetória no Monaco, Falcao disputou 140 jogos e marcou 83 gols.
Valère Germain: mesmo com a concorrência no ataque, o francês foi o que mais jogou na temporada 2016-2017 (60 jogos!), e foi muito importante para que o técnico Leonardo Jardim tivesse o elenco inteiro durante a temporada. Foi o terceiro maior artilheiro do time com 17 gols.
Nabil Dirar: após quatro temporadas no futebol belga, o marroquino chegou em 2012 ao Monaco e permaneceu até 2017. Meio-campista que ajudava na contenção e no ataque, fez bons jogos e entrava regularmente na equipe titular. Foram 33 jogos na época 2016-2017
Mbappé: ver uma estrela nascer é espetacular. E foi o que vimos naquela temporada 2016-2017 quando o atacante com a camisa 29 começou a jogar mais e mais pelo Monaco. Intempestivo, rápido, com uma arrancada fulminante, imparável e criativo, Mbappé arrebatou os amantes do futebol com técnica, arte e gols. Foram 26 gols em 44 partidas, jogadas exuberantes e uma prévia do que viria pela frente: a consolidação de um craque, campeão do mundo pela França em 2018 com apenas 19 anos, autor de quatro gols – um deles na final – e vice-campeão mundial em 2022 com 8 gols durante a campanha azul (três deles na final épica contra a Argentina). Foram apenas 60 jogos e 27 gols pelo Monaco antes de ir ao PSG, mas Mbappé conseguiu deixar sua marca como um dos maiores craques da história do clube. E um ídolo atemporal, que será lembrado para sempre.
Carillo: o argentino ajudou na rotação do elenco naquela temporada e deu fôlego às estrelas em algumas partidas. Foi bem quando exigido e marcou oito gols em 31 jogos.
Leonardo Jardim (Técnico): dando liberdade aos jovens e apostando na criatividade e talento do que tinha em mãos, Jardim fez do Monaco a grande sensação da temporada 2016-2017 do futebol não só europeu, mas mundial. Não hesitou em mandar seu time para frente, apostou na verticalização e nas variações táticas para vencer uma Ligue 1 histórica, além de chegar à semifinal de uma Liga dos Campeões deixando pelo caminho grandes equipes. Leonardo Jardim dirigiu o Monaco de 2014 até 2018, somando 233 jogos, com 125 vitórias, 54 empates, 54 derrotas, 428 gols marcados e 275 gols sofridos, aproveitamento de 53,6%. Ele retornou em 2019, mas não conseguiu repetir o desempenho anterior. O treinador trabalha desde 2021 no futebol árabe.
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