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Craque Imortal – Duncan Edwards

Duncan Edwards

Nascimento: 1º de outubro de 1936, em Dudley, Inglaterra. Faleceu em 21 de fevereiro de 1958, em Munique, Alemanha. 

Posição: Meio-campista

Clube: Manchester United-ING (1953-1958)

Principais títulos por clubes: 2 Campeonatos Ingleses (1955-1956 e 1956-1957) e 2 Supercopas da Inglaterra (1956 e 1957) pelo Manchester United.

Principais títulos individuais: 

Eleito para o Football League 100 Legends: 1998

Eleito para o Hall da Fama do Futebol Inglês: 2002

Eleito o 61º Melhor Jogador Europeu no Jubileu da UEFA: 2004

Eleito para a Seleção dos Sonhos da Inglaterra do Imortais: 2020

 

“A Rocha em um Mar Revolto”

Por Guilherme Diniz

Forte, vigoroso, inteligentíssimo, polivalente e um dos mais brilhantes jogadores da história do futebol inglês e do Manchester United. Ele teve uma carreira curtíssima – apenas 4 anos como profissional – por conta do trágico acidente aéreo de Munique, mas sua trajetória foi simplesmente inquestionável. Capaz de atuar como meio-campista defensivo e também mais à frente, criando jogadas de ataque, ele foi definido certa vez por Stanley Matthews como o título deste texto: “uma rocha em um mar revolto”, tamanho seu vigor e sua força para romper defesas ou interceptar atacantes com seus desarmes precisos. Além disso, ele chutava forte com as duas pernas, dava passes primorosos e tinha uma visão de jogo estupenda. 

Duncan Edwards foi uma lenda que precisou de pouco tempo para provar sua importância ao esporte. Com a característica de cobrir todos os setores centrais e ajudar tanto no ataque quanto na defesa, o tão desejado box-to-box do futebol atual, Edwards foi uma das estrelas do Manchester United dos anos 1950 que ficou conhecido como Busby Babes, esquadrão multicampeão inglês que encantou o continente e que só não teve mais brilho naquela segunda metade de anos 1950 por causa do fatídico acidente aéreo que encerrou precocemente a vida de Edwards e outros atletas dos Red Devils. É hora de relembrar a carreira de um dos maiores jogadores de todos os tempos.

Atenção especial

Duncan Edwards, em registro de 1951.
 

Duncan Edwards nasceu na área residencial de Woodside, em Dudley, centro da Inglaterra.  Primeiro filho de Gladstone e Sarah Ann Edwards, Duncan teve uma irmã mais nova, Carol Anne, mas ela faleceu com apenas 14 semanas em 1947. Com isso, o jovem cresceu como filho único e estudou na Priory Primary School de Dudley entre 1941 e 1948 e completou o segundo grau na Wolverhampton Street School. Em todas as escolas que passou, Edwards jogou futebol e começou a demonstrar talento para o esporte, além de ganhar desenvoltura nas apresentações de dança morris (um estilo típico da Inglaterra) em sua cidade. Ele chegou até a ser selecionado para competir em uma disputa nacional, mas hesitou em prol de um teste que tinha na Associação de Futebol das escolas inglesas, aos 14 anos.

Dois anos antes, em 1948, Edwards chamou a atenção de Jack O’Brie, olheiro do Manchester United, que foi correndo dizer para Matt Busby (técnico dos Red Devils) que havia encontrado um garoto que “merecia atenção muito especial”. Em 1950, Edwards jogou pela equipe do English Schools XI diante de 100 mil pessoas em Wembley e foi simplesmente perfeito. Com muita vitalidade, personalidade e domínio de bola, ele, como capitão, fez os jovens ao seu lado parecerem meros figurantes. A estrela, ali, era ele, muito bem amparado por David Pegg, que seria seu companheiro no United anos depois. Além de jogar no meio de campo em uma posição mais defensiva, Edwards tinha categoria para sair jogando, abrir espaços pelas laterais e atuar mais à frente, por vezes como um ala. Muito inteligente, ele parecia um atleta do futuro. 

“Duncan tinha tudo. Tinha força e espírito que simplesmente se esparramavam pelo campo. Tenho certeza absoluta de que se sua carreira tivesse um período maior, ele provaria ser o maior jogador que já vimos”, comentou Bobby Charlton, outra lenda do futebol inglês, tempo depois.

Duncan Edwards

Temendo perder o prodígio para clubes como Aston Villa, Birmingham, Wolves e Bolton, o Manchester United tratou de agir logo após a partida do English Schools XI e Bert Whalley convenceu Edwards a jogar pelo clube de Old Trafford, mesmo com os Wolves tendo o time mais forte da época. Em junho de 1952, o jovem assinou seu primeiro contrato com o United, ainda como amador. A negociação enfureceu os dirigentes do Wolverhampton, que acusaram os Red Devils de oferecerem dinheiro extra aos familiares de Edwards, algo que seria negado pelo jogador.

Titular no timaço

Força física e imponência: Duncan Edwards era um gigante em campo!
 

Jogando pelas equipes juvenis, Duncan Edwards evoluiu muito rápido e não tinha mais espaço entre os garotos. Ele jogava tanto que todos só passavam a bola para ele, algo que fazia com que os treinadores pedissem para os jovens pararem com tal artifício e “desenvolvessem seus próprios fundamentos” (!). Até que, com apenas 16 anos, Edwards debutou no elenco principal em abril de 1953, o que fez dele o mais jovem futebolista a jogar uma partida profissional do Campeonato Inglês na história.

Embora não tenha jogado tanto em sua temporada de estreia, o jovem teve mais chances na época 1953-1954, e, além de jogar pelos profissionais, ajudou a equipe do United juvenil a vencer vários títulos da FA Youth Cup. Mesmo com pouca idade, Edwards já era convocado para a seleção inglesa e demonstrava enorme personalidade com a camisa dos Three Lions. Com apenas 18 anos, foi o mais jovem atleta a vestir o manto da seleção por décadas, até ser superado por Michael Owen, em 1998. Na temporada 1954-1955, Edwards foi o titular absoluto do United no setor esquerdo do meio de campo e disputou 36 jogos, marcando 6 gols. 

Foto: Andy The Photo Dr
 

Mas foi na temporada 1955-1956 que o craque brilhou na campanha do título inglês, quando o United somou 11 pontos a mais que o vice-campeão Blackpool, derrotado na antepenúltima rodada em Old Trafford (tomado por mais de 62 mil pessoas!) por 2 a 1, jogo que sacramentou de vez o título. Em 42 jogos, os Red Devils venceram 25, empataram 10 e perderam apenas 7. Foram 83 gols marcados e 51 gols sofridos. Edwards disputou 33 jogos e marcou três gols na trajetória vencedora, além de contribuir com várias jogadas ofensivas.

Em 1956, Edwards ganhou ainda mais importância no mundo do futebol em um amistoso contra a Alemanha, então campeã mundial, disputado no estádio Olímpico de Berlim. Com a partida empatada em 0 a 0, o craque pegou a sobra da bola pouco depois do meio de campo, passou no meio de dois, passou por outro e chutou da entrada da área para marcar um golaço. O tento inspirou o English Team, que venceu os alemães por 3 a 1. Billy Wright, grande capitão da Inglaterra nos anos 1950, comentou sobre aquele jogo. 

 

“O nome de Duncan Edwards estava nos lábios de todos que viram aquela partida. Ele foi fenomenal. Houve poucas performances individuais para combinar com o que ele produziu naquele dia. Duncan abordou como um leão, atacou em todas as oportunidades e ainda fez um gol. Ele ainda tinha apenas 19 anos, mas já era um jogador de classe mundial”.

Com um físico privilegiado, Edwards jogava não só pelo United e pela seleção, mas também pelo time do exército, afinal, o serviço militar era obrigatório. Ele chegou a disputar 100 jogos em uma só temporada somando todas as partidas como futebolista profissional e pelo exército. Mesmo reservado e familiar, ele passou a figurar em propagandas de revistas e até escreveu um livro, Tackle Soccer This Way, no qual contou um pouco sobre seus métodos de treinamento e como conseguiu sua ascensão das categorias de base até os profissionais. Ele era a imagem do atleta bem-sucedido e um exemplo a ser seguido para os jovens no futuro.

A tragédia e o fim  

Em pé: Duncan Edwards, Bill Foulkes, Mark Jones, Ray Wood, Eddie Colman e David Pegg; Sentados: John Berry, Billy Whelan, Roger Byrne, Tommy Taylor e Dennis Viollet.
 

Na temporada 1957-1958, o Manchester United seguiu fortíssimo tanto na Inglaterra quanto na Copa dos Campeões da Europa (atual Liga dos Campeões da UEFA). Os Red Devils foram campeões da Supercopa da Inglaterra ao golear o Aston Villa por 4 a 0, com três gols de Taylor e um de Berry. Depois do triunfo, a equipe de Matt Busby competiu no Campeonato Inglês, na Copa da Inglaterra e na Copa dos Campeões. Os Red Devils eliminaram o Shamrock Rovers-IRL e o Dukla Praga-TCH até enfrentar o Estrela Vermelha-IUG nas quartas de final. 

No primeiro jogo, em Manchester, a equipe de Busby venceu por 2 a 1. Na volta, em 05 de fevereiro de 1958, os ingleses entraram em um estádio tomado por mais de 55 mil pessoas. Mas os Busby Babes já estavam calejados e prontos para aquele desafio. E, com uma atuação de gala nos primeiros 45 minutos, a equipe enfiou 3 a 0 nos iugoslavos, com um gol de Viollet logo aos 2’, e dois gols de Bobby Charlton, aos 30’ e aos 31’. Foi um vareio! Mas, na etapa final, o time da casa assustou quando Kostic, duas vezes, e Tasic fizeram os gols do empate. Porém, a equipe de Busby se segurou e o empate em 3 a 3 classificou os ingleses para mais uma semifinal europeia!

A euforia tomou conta do time, que teria o Milan pela frente e a chance de um possível encontro com o Real Madrid na final. Mas, no dia 06 de fevereiro de 1958, quando a delegação do Manchester United retornava para a Inglaterra, o avião que transportava atletas, dirigentes e comissão técnica aterrissou em Munique, na Alemanha, para reabastecer. Em solo germânico, a aeronave começou a sofrer problemas com o motor e a forte nevasca dificultava a visão do piloto. Depois de duas tentativas fracassadas de decolagem, na terceira, o avião saiu do chão, mas tempo depois um forte estrondo aconteceu.

O avião Elizabethan deixou a pista, passou sobre uma cerca e cruzou uma rua antes da asa bater em uma árvore. A asa e parte da cauda foram arrancadas. O cockpit bateu em uma árvore e a parte estibordo da fuselagem se chocou em uma barraca de madeira que tinha um caminhão cheio de combustível e pneus. Eles explodiram. Era o desastre. Das 44 pessoas a bordo, 20 morreram na hora e outras três perderam a vida no hospital. Oito jogadores do Manchester United estavam entre os mortos e outros nove conseguiram sobreviver.

O que restou do avião após o acidente.
 

Duncan Edwards foi resgatado ainda com vida dos escombros e internado no hospital. Ele lutou pela vida durante 15 dias como tanto lutou em campo. Não se entregou facilmente, foi “a rocha”, mas, naquela vez, o mar estava revolto demais. O craque faleceu no dia 21 de fevereiro de 1958, aos 22 anos. Seu adeus fez dele o 8º Busby Babe a perder a vida. O United ainda continuou sua jornada nas competições que disputava, mas, com um time formado por reforços de última hora, juniores e alguns dos sobreviventes, a equipe foi presa fácil para os adversários. Uma curiosidade é que, no primeiro jogo do clube após o acidente, em casa, contra o Sheffield Wednesday, pela Copa da Inglaterra, 60 mil pessoas levaram cachecóis vermelhos e brancos com uma faixa preta em sinal de luto. A partir dali, o preto virou uma das cores oficiais do Manchester United, que antes só tinha o vermelho e branco como cores oficiais. Os Red Devils venceram aquele jogo por 3 a 0.

Duncan Edwards seria um nome certo da Inglaterra na Copa do Mundo de 1958, até mesmo como capitão, mas seu adeus precoce – além dos outros Busby Babes que faleceram no acidente – prejudicou demais o English Team em busca de um possível título mundial. Edwards foi sepultado no cemitério de Dudley, ao lado de sua irmã, Carol Anne, com mais de 5 mil pessoas presentes no cortejo funerário. Na lápide de seu túmulo, foi esculpida a frase:

“Um dia de memória, uma triste recordação, sem despedida, ele deixou todos nós”.

 

Além dessa e várias outras homenagens, uma janela colorida na igreja de Saint Francis em sua terra natal, Dudley, segue até hoje como um tributo ao jogador, além de uma estátua de Edwards ter sido erguida no centro da mesma cidade. Em 1999, a revista World Soccer elegeu Edwards um dos 100 melhores jogadores do século XX, e o craque foi lembrado por várias outras publicações, entidades e livros. Seu legado, imenso, permanece até hoje. E quem o viu sabe que ele foi um dos melhores. Jimmy Murphy, assistente de Busby no lendário esquadrão dos anos 1950, sempre dizia: “Quando eu ouvia Muhammad Ali dizendo ao mundo que ele era o maior, eu sempre sorria. O maior de todos foi um futebolista chamado Duncan Edwards”. Um craque imortal. 

Números de destaque:

Disputou 177 jogos e marcou 21 gols pelo Manchester United.

Disputou 18 jogos e marcou 5 gols pela Seleção da Inglaterra. 

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Comentários encerrados

2 Comentários

  1. Gosto muito desse site! Mas não há como negar que esse é um dos textos mais tristes do Imortais! Ouvi falar muito do Duncan Edwards, que ele era ótimo como volante, meia, ala-esquerda… Um grande craque! Uma grande perda para o futebol e para o United!

    Que bom que colocou o Duncan Edwards na galeria dos Imortais, Guilherme! Mas sabemos que o futebol não vive só de lembrança felizes! Não deu para a Rocha aguentar o mar envolto naquele dia!

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