Nascimento: 31 de Dezembro de 1941, em Glasgow, Escócia.
Times que treinou: East Stirlingshire-ESC (1974), St. Mirren-ESC (1974-1978), Aberdeen-ESC (1978-1986), Seleção Escocesa (1985-1986) e Manchester United-ING (1986-2013).
Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Escocês (1976-1977 – First Division) pelo St. Mirren.
1 Recopa da UEFA (1982-1983), 1 Supercopa da UEFA (1983), 3 Campeonatos Escoceses (1979-1980, 1983-1984 e 1984-1985), 4 Copas da Escócia (1981-1982, 1982-1983, 1983-1984 e 1985-1986) e 1 Copa da Liga Escocesa (1985-1986) pelo Aberdeen.
2 Mundiais de Clubes (1999 e 2008), 2 Ligas dos Campeões da UEFA (1998-1999 e 2007-2008), 1 Recopa da UEFA (1990-1991), 1 Supercopa da UEFA (1991), 13 Campeonatos Ingleses (1992-1993, 1993-1994, 1995-1996, 1996-1997, 1998-1999, 1999-2000, 2000-2001, 2002-2003, 2006-2007, 2007-2008, 2008-2009, 2010-2011 e 2012-2013), 5 Copas da Inglaterra (1989-1990, 1993-1994, 1995-1996, 1998-1999 e 2003-2004), 4 Copas da Liga Inglesa (1991-1992, 2005-2006, 2008-2009 e 2009-2010) e 10 Supercopas da Inglaterra (1990, 1993, 1994, 1996, 1997, 2003, 2007, 2008, 2010 e 2011) pelo Manchester United.
Principais títulos individuais:
Eleito o Melhor Técnico da Década de 90 pela LMA
Eleito o Melhor Técnico do Ano pela LMA: 1999, 2008 e 2011
Prêmio de Honra ao Mérito da LMA: 2009 e 2011
Melhor Técnico da Temporada no Campeonato Inglês: 1993-1994, 1995-1996, 1996-1997, 1998-1999, 1999-2000, 2002-2003, 2006-2007, 2007-2008, 2008-2009 e 2010-2011
Eleito 27 vezes o Técnico do Mês do Campeonato Inglês
Eleito o Técnico do Ano pela UEFA: 1999
Eleito para comandar o Time do Ano da UEFA: 2007 e 2008
Técnico do Ano Onze d´Or: 1999, 2007 e 2008
Melhor Técnico de Clubes do Mundo pela IFFHS: 1999 e 2008
Melhor Técnico do Século XXI pela IFFHS: 2012
Melhor Técnico do Mundo pela revista World Soccer: 1993, 1999, 2007 e 2008
Prêmio Laureus: 2000
Personalidade do Ano dos Esportes pela BBC: 1999
Personalidade do Ano por obra de vida pela BBC: 2001
Eleito para o Hall da Fama do Futebol Inglês: 2002
Eleito para o Hall da Fama do Futebol Europeu: 2008
FIFA Presidential Award: 2011
Técnico da Década do Futebol Inglês: 1992-2002 e 2002-2012
Prêmio Tributo da FWA: 1996
“Sir Alex Football Ferguson”
Por Guilherme Diniz
O dia 08 de maio de 2013 entrará para sempre na história do futebol mundial por ter marcado o anúncio do fim de uma era. De uma lenda. De um dos mais longínquos comandantes de um clube de futebol na história. De um sujeito que desde pequeno respirava futebol. De um homem que transformou um time que vivia apenas de seu glorioso passado nos anos 1960 no maior time da Inglaterra. Do escocês simples que virou cavalheiro. Que virou Sir. Que virou patrimônio do esporte do Reino Unido. Patrimônio mundial. Patrimônio do Manchester United Football Club. E da eternidade futebolística. Sir Alexander Chapman Ferguson, ou simplesmente Alex Ferguson, se aposentou como técnico para entrar na imortalidade. Energético, revolucionário, inspirador, estrategista, vencedor. Várias são as qualidades do técnico mais importante e vencedor da história do Manchester e que já havia feito história muito antes de comandar os Diabos Vermelhos, mais precisamente entre 1978 e 1986, quando colecionou taças pelo Aberdeen, da Escócia.
Ferguson não foi apenas um técnico de futebol. Ele foi um inspirador, um homem que encarnou o esporte em si próprio e viveu por ele durante décadas. No Manchester United, Ferguson ajudou a equipe a se desenvolver como time e como clube, contratando certo, modernizando suas estruturas de treinamento e desenvolvendo uma faceta vencedora. Era preciso sair da sombra de Liverpool, Arsenal, Tottenham, Aston Villa. Era preciso mostrar força e se consagrar como o maior. E o United conseguiu. Graças a Ferguson, que arrumou a casa, fez do clube praticamente uma extensão dele próprio e conquistou estrondosos 38 títulos, sendo 13 do Campeonato Inglês, que fez o United passar o então recordista Liverpool e se isolar como o maior campeão do país com 20 troféus. É hora de relembrar a carreira exuberante desse técnico imortal que já deixa muita saudade.
Se não vai na bola, vai no banco!
Ferguson começou desde cedo a respirar futebol na Escócia como torcedor do Rangers. Ainda jovem, decidiu seguir carreira no esporte como atacante e teve alguns bons momentos – inclusive no Rangers, mas jamais conseguiu conquistar títulos expressivos ou de renome. Uma de suas experiências mais marcantes na juventude foi quando ele assistiu das arquibancadas do Hampden Park, em Glasgow, a decisão da Liga dos Campeões da UEFA de 1960 entre Real Madrid-ESP e Eintracht Frankfurt-ALE, que terminou com uma alucinante goleada merengue de 7 a 3 pra cima dos alemães. Naquele dia, Ferguson ficou ainda mais convicto de que o futebol seria o seu futuro. Só que, como jogador, as ambições não deram certo e Ferguson se aposentou em 1974, aos 32 anos. Naquele mesmo ano, decidiu seguir carreira como treinador e tentar sorte melhor no esporte.
Ele conseguiu sua primeira chance no East Stirlingshire, da Escócia, onde ganhava 40 libras por semana e não tinha sequer um goleiro em seu elenco. No pouco tempo em que ficou por lá, Ferguson ganhou notoriedade pelo seu jeito disciplinador e motivador, sempre falando muito alto e mostrando o quão importante era a dedicação pela vitória. Em outubro de 1974, Ferguson foi para o St. Mirren seguindo os conselhos de sua principal referência, o célebre treinador escocês Jock Stein, mítico comandante do melhor Celtic de todos os tempos, do final dos anos 1960. E seria no St. Mirren que a trajetória de Ferguson começaria a mudar da água para o mais vertiginoso vinho.
A primeira taça
O St. Mirren era (e ainda é) uma equipe pequena da Escócia naquele ano de 1974. Mas Ferguson não se importou com isso e conseguiu levar um time da segunda divisão e que tinha média de público de pouco mais de 1000 pessoas à elite do futebol escocês. O treinador construiu uma equipe jovem, talentosa e com um ataque soberbo que conquistou de maneira impecável o título do Campeonato Escocês da chamada First Division (a primeira abaixo da Premier Division, a elite) com 25 vitórias, 12 empates e apenas duas derrotas em 39 jogos, com 91 gols marcados (melhor ataque) e 38 sofridos (melhor defesa junto com o Clydebank, vice-campeão).
Naquela temporada, Ferguson lapidou talentos como Billy Stark, Tony Fitzpatrick e Lex Richardson, além de outros jovens que davam ao St. Mirren uma média de idade de 19 anos. Mas nem tudo foi as mil maravilhas para Ferguson no clube de Paisley. O treinador foi muitas vezes intimidador e áspero com várias pessoas do St. Mirren no período, quis fazer uma série de mudanças na equipe peitando de frente com o presidente e foi demitido do cargo em 1978. Aquela foi a primeira e única demissão de Ferguson na carreira de treinador.
Surge um vencedor
Depois da turbulenta passagem pelo St. Mirren, Ferguson foi comandar o Aberdeen em junho de 1978 no lugar de Billy McNeill, outro que fora ídolo do Celtic dos anos 60. Na equipe vermelha e branca, Ferguson demorou um pouco para engrenar e dar seu estilo de jogo ao elenco. Ele só conseguiu chegar ao estágio ideal no começo dos anos 80, quando dizia ter “alcançado o respeito e a união dos jogadores”. Disciplinador, durão e cada vez mais energético, Ferguson ganhou dos jogadores do Aberdeen na época o apelido de “Furious Fergie” (“Furioso Fergie”). Ele ficava mesmo furioso quando sua equipe não jogava bem, disparava contra tudo e todos se algo estava errado e fazia o que fosse preciso para consertar as coisas e alcançar a vitória. Na temporada 1979-1980, o treinador começou a dar seu toque de Midas e transformar o clube num dos maiores da Escócia no período.
Primeiro, veio o título nacional com 19 vitórias, 10 empates e sete derrotas em 36 jogos, com o melhor ataque (68 gols) e a segunda melhor defesa (36 gols sofridos). Era a primeira Liga do clube desde 1955, o que colocou Ferguson no mais alto patamar de idolatria dentro do Aberdeen. Na temporada seguinte, o time conquistou a Copa da Escócia com uma goleada histórica pra cima do Rangers por 4 a 1 depois de 1 a 1 no tempo normal. McLeish, McGhee, Strachan e Cooper fizeram os gols do time vermelho. Aquele triunfo mostrou um outro lado das equipes de Ferguson: o preparo físico e a gana pela vitória a qualquer custo, não importando se faltava um minuto para o final do jogo ou se os jogadores estavam exaustos após os 90 minutos da etapa regulamentar. O treinador ainda colecionaria títulos da Copa da Escócia nos anos seguintes e levantaria mais dois campeonatos nacionais, mas a grande obra de Ferguson viria na temporada de 1982-1983.
Conquistador da Europa
Depois das glórias nacionais, Ferguson concentrou as ações do seu Aberdeen na Recopa da UEFA. Depois de passar fácil pelo Sion-SUI com um 7 a 0 e um 4 a 1 na fase preliminar, os vermelhos eliminaram o Dinamo Tirana-ALB e o Lech Poznan-POL até chegarem as quartas de final. Nela, o adversário seria o gigante Bayern München-ALE. No primeiro jogo, em Munique, os escoceses seguraram o 0 a 0 e levaram a decisão para a Escócia. Jogando em casa, o time de Ferguson ficou duas vezes atrás do placar, mas mostrou brio e virou para 3 a 2. Na semifinal, goleada por 5 a 1 sobre o Waterschei Thor-BEL na ida e derrota magra por 1 a 0 na volta, insuficiente para eliminar os vermelhos, que foram para a final enfrentar mais um gigante: o Real Madrid-ESP.
Emblemática vitória
Em 1960, Ferguson viu ao vivo o baile do Real Madrid pra cima do Eintracht na final da Liga dos Campeões da UEFA. Em campo, estavam estrelas como Puskás, Gento e um tal de Di Stéfano. Curiosamente, naquela noite chuvosa de 11 de maio de 1983, Ferguson reencontraria os mesmos protagonistas de 1960 que tanto mexeram com seus sonhos: o Real Madrid e Di Stéfano, técnico dos merengues naquela final. Não poderia ser mais emblemático para Fergie derrotar o time e o treinador que ele tanto aplaudiu em 1960. O confronto foi realizado na Suécia, com vários fãs escoceses que esperavam pelo primeiro título continental da história do Aberdeen justamente em sua primeira final. E eles não se decepcionaram. Mesmo diante do Real e de jogadores como José Antonio Camacho, Gallego, Uli Stielike, Juanito e Santillana, o Aberdeen venceu por 2 a 1, gols do artilheiro Eric Black e de Hewitt, e conquistou a Recopa da UEFA. A festa foi enorme e Ferguson conseguiu seu tão sonhado primeiro título continental.
Taças e mais taças
Em 1983, o Aberdeen abocanhou mais uma taça continental: a Supercopa da UEFA, quando derrotou o poderoso Hamburgo-ALE de Felix Magath e Ernst Happel. No primeiro jogo, na Alemanha, empate sem gols. Na volta, no Pittodrie Stadium, o Aberdeen venceu por 2 a 0 e conquistou o título. As glórias internacionais se somaram a mais títulos nacionais em 1984, 1985 e 1986 e credenciaram Ferguson como um dos mais talentosos treinadores de seu país e da Europa, além de ele se consagrar como o técnico mais vencedor da história do Aberdeen. Paralelo aos trabalhos no clube vermelho, o treinador integrou a comissão técnica da seleção da Escócia que se preparava para a Copa do Mundo de 1986, no México. Mas uma reviravolta iria abalá-lo profundamente.
Adeus ao ídolo
Em 1985, a Escócia tinha um confronto decisivo contra País de Gales nas eliminatórias da Copa de 1986. O time precisava pelo menos de um empate para se classificar. Havia muita pressão em cima do treinador escocês Jock Stein, que era assistido por Alex Ferguson. No dia do jogo, houve muita catimba, jogadas ríspidas, nervos à flor da pele, mas a Escócia conseguiu o empate em 1 a 1 jogando em Cardiff e a vaga no mundial. A festa foi enorme para os escoceses em campo, mas não haveria muito que comemorar naquele dia. Com a saúde já debilitada e vítima de toda a pressão que envolvia aquele jogo, o técnico Jock Stein sofreu um colapso ainda em campo, foi atendido nos vestiários, mas não resistiu e faleceu.
A fatalidade comoveu a todos, principalmente Ferguson, que perdia sua maior inspiração na carreira e seu mentor. Depois da morte de Stein, Alex Ferguson foi nomeado o novo técnico da seleção escocesa e comandou a equipe na Copa do Mundo. Em terras mexicanas, ele não se deu bem e a equipe foi eliminada ainda na primeira fase após derrotas para Dinamarca (1 a 0), Alemanha (2 a 1) e um empate sem gols contra o Uruguai. A experiência no selecionado seria de curta duração – apenas 10 jogos, com três vitórias, quatro empates e três derrotas. Porém, naquele mesmo ano, Ferguson iria para o clube que transformaria para sempre sua carreira.
A chegada em Old Trafford
Depois de ser sondado por vários clubes ingleses como Arsenal, Tottenham e Wolverhampton, Ferguson recusou tais propostas e aceitou substituir Ron Atkinson no Manchester United em 06 de novembro de 1986. A diretoria do United acreditava que o talento e a disciplina de Ferguson poderiam ajudar o clube a voltar aos tempos de glória, que tinham ficado para trás, lá na década de 60, e jamais voltado. Era incômoda e chata a predominância do Liverpool à época, que conquistava títulos de baciada, dominava o cenário europeu há anos e se distanciava cada vez mais no número de títulos do campeonato nacional. A torcida dos Diabos Vermelhos também tinha esperança na reviravolta. Mas o começo não seria nada fácil.
Anos difíceis
Ferguson pegou o Manchester com vários problemas. Jogadores abusavam das saídas noturnas e das bebedeiras, não havia harmonia, padrão de jogo, identidade, nada. O time era uma verdadeira bagunça. Para piorar, poucas semanas depois de sua chegada, sua mãe morreu vítima de câncer no pulmão. O treinador demorou para se recompor, mas logo arregaçou as mangas e começou seu trabalho. Ferguson tratou de impor seu lado disciplinador no clube, bem como o foco na concentração e na comparação do futebol como um jogo de xadrez. Um lapso de desconcentração, segundo ele, era fatal e culminaria na derrota. Além disso, Ferguson passou a ter autonomia nas contratações e a sugerir nomes para a diretoria, além de investir nas categorias de base que renderiam inúmeros craques no futuro como Giggs e Beckham, por exemplo.
Depois de uma modesta 11ª colocação no campeonato de 1986-1987, na temporada 1986-1987 Ferguson reforçou o elenco e trouxe nomes como Steve Bruce, Viv Anderson, Brian McClair e Jim Leighton, seu fiel goleiro dos tempos de Aberdeen. Os jogadores deram resultado e a equipe ficou na segunda colocação do campeonato, mas ainda sim longe de bater o campeão Liverpool com nove pontos de diferença. Mas Ferguson continuou a procurar novas peças de reforço e trouxe Mark Hughes ao United naquele fim de temporada.
A vinda do galês deu retorno já na temporada seguinte e ele ajudou o United com 16 gols marcados, mesmo número de McClair. Mas o 11º lugar no Campeonato Inglês de 1988-1989 e um 13º lugar em 1989-1990, com direito a 11 jogos seguidos sem vitória e uma goleada de 5 a 1 sofrida para o rival Manchester City, deixaram a torcida louca da vida, que protestou com uma faixa em Old Trafford: “três anos de desculpas e ainda essa porcaria de time!?”. O cargo de Ferguson ficava enfraquecido e muitos pediam a saída do treinador, que não conseguia montar um time forte para aguentar tantos jogos. Mas seria naquela temporada de 1989-1990 que ele daria a volta por cima.
Taça improvável
A pífia campanha no campeonato nacional não se repetiu na Copa da Inglaterra de 1989-1990. O Manchester eliminou Nottingham Forest, Hereford United, Newcastle United, Sheffield United e Oldham Athletic até chegar a decisão contra o Crystal Palace em Wembley. A partida final terminou 3 a 3 e um novo jogo teve de ser marcado. No replay, Lee Martin fez no segundo tempo o único gol do jogo e que deu o improvável título ao Manchester United. A taça serviu para acalmar os ânimos da torcida e dar uma sobrevida à Ferguson no comando da equipe. Ainda em 1990, Ferguson venceu a Supercopa da Inglaterra em conjunto com o Liverpool após empate em 1 a 1. Aquelas taças seriam um começo de novos tempos em Old Trafford, pois Ferguson tinha encontrado o caminho para começar sua dinastia.
Começa a Era Ferguson
Já com grandes nomes no elenco como Paul Ince, Denis Irwin, Gary Pallister e o sempre artilheiro Mark Hughes, o Manchester United tentou conquistar o Campeonato Inglês na temporada 1990-1991, mas não conseguiu e ficou na sexta posição. Em 1991, um garoto leve, rápido e criativo começaria a trilhar seu caminho de sucesso sob a batuta de Ferguson: Ryan Giggs. Junto com a revelação de um futuro craque, a torcida pôde comemorar mais uma taça: a Recopa da UEFA. Os ingleses eliminaram Pécsi Mecsek-HUN, Wrexham-WAL, Montpellier-FRA e Legia Warsaw-POL até chegarem à final, invictos, contra o Barcelona-ESP de Johan Cruyff.
No embalo de Hughes, o United venceu os catalães por 2 a 1, com dois gols do galês, e ficou com a taça. Era a segunda Recopa da carreira de Ferguson e a primeira do United, além de ser o primeiro troféu continental do clube desde a histórica Liga dos Campeões da UEFA de 1968. Os jornais espanhóis do dia seguinte fizeram uma analogia ao uniforme branco do United naquele jogo, dizendo que “os Diabos Vermelhos vieram vestidos de branco, como anjos”. Mas os vermelhos mostraram naquele jogo, disputado em Roterdã, todo o lado diabólico em campo com uma grande vitória. Ferguson comentou na época que os instantes finais daquela final, com inúmeras chances do Barça e muita pressão, foram os “dez minutos mais torturantes” da vida dele. Mal sabia o treinador que ainda tinha muita coisa pela frente…
Enfim, a(s) coroa(s) inglesa(s)
Nem a conquista da Recopa ajudou a acalmar os torcedores do United, que queriam a taça do Campeonato Inglês de qualquer jeito. Na temporada 1991-1992, o técnico bem que tentou dar o tão sonhado título aos torcedores, ainda mais com a contratação do goleiro Peter Schmeichel, mas o time ficou com o vice-campeonato. Naquele temporada, o United conquistou a Supercopa da UEFA diante do Estrela Vermelha e faturou a Copa da Liga Inglesa vencendo o Nottingham Forest. O título perdido para o Leeds United em 1992 motivou Ferguson a buscar exatamente a estrela que havia tido participação fundamental na conquista do rival: o atacante francês Eric Cantona. Muitos duvidaram que Cantona pudesse dar alguma retribuição ao Manchester, que vivia o tortuoso jejum de 26 anos sem títulos no Campeonato Inglês. Mas o francês provou em campo que todos estavam enganados.
Com Cantona no ataque, o United ganhou mais qualidade e referência para jogadas, gols e dribles. O francês foi o grande destaque do time já no fim do jejum em 1993, quando o United venceu a primeira Premier League – novo nome do campeonato do país – da história. Foram 24 vitórias, 12 empates e seis derrotas em 42 jogos, com 67 gols marcados e 31 sofridos. Era a primeira conquista do United desde os tempos do timaço de George Best, Bobby Charlton e companhia, lá em 1967. Cantona marcou 15 gols no torneio (alguns ainda pelo Leeds) e mostrou que iria fazer história pelo United. O polêmico jogador seria uma das estrelas do time no período muito graças ao trabalho de Ferguson, que seria um dos maiores amigos do francês no futebol, como ele mesmo comentou anos depois:
“Alguns técnicos na Inglaterra não dão exemplo. São gordos e tomam cerveja. Ele (Ferguson) era o treinador perfeito. Estava sempre preocupado com o que tínhamos de fazer nos treinos, com o que tínhamos de beber e com o nosso sono.” – Eric Cantona, sobre Ferguson.
A chegada de Cantona foi também o início de uma era de dominância do United no futebol inglês. Os Diabos Vermelhos conquistaram o bi da Premier League e a Copa da Inglaterra (vencida sobre o Chelsea com uma goleada por 4 a 0) na temporada 1993-1994. Ferguson tinha um elenco de muita qualidade, jogadores competentes e compenetrados e vários jovens promissores. Entre 1995 e 1998, a equipe venceu mais dois campeonatos nacionais, uma Copa da Inglaterra e duas Supercopas. No período, Ferguson viu craques como Ince, Hughes e Kanchelskis deixarem a equipe e chover críticas por ele não repor tais jogadores. Mas o treinador tinha no elenco jovens que dariam conta do recado: Scholes, os irmãos Neville, Beckham e Butt, nomes que dariam ao time na temporada 1998-1999 algo inédito no futebol inglês: o Treble.
Manchester United show – parte II
Depois de construir um time fantástico e multicampeão dentro de casa, Alex Ferguson montou um elenco para brigar não só por canecos ingleses, mas também na Europa. O treinador não tinha mais o astro Cantona, mas reforçou o elenco com o talentoso atacante de Trinidad e Tobago Dwight Yorke, o zagueiro holandês Jaap Stam e o ala sueco Blomqvist. O trio se juntou às estrelas Schmeichel, Gary Neville, Johnsen, Irwin, Beckham, Keane, Giggs, Scholes e Andy Cole, formando um esquadrão ainda melhor que aquele de 1994. A zaga era sólida, o meio de campo extremamente criativo e o ataque eficiente e rápido. Com Ferguson regendo seus músicos, a chance de melodias emocionantes era mais do que certa.
Com o Arsenal entre os dentes
O torcedor do MU levou um baita susto logo na primeira grande partida do time na temporada, a decisão da Supercopa da Inglaterra, contra o rival Arsenal. Os Gunners bateram os Red Devils por acachapantes 3 a 0. A derrota deixou todos ainda mais cabreiros com o Arsenal, afinal, o time havia tirado do Manchester o Campeonato Inglês da temporada anterior. Porém, aquele revés seria descontado com juros mais pra frente. E com ares dramáticos.
Na Copa da Inglaterra, o United teve sua primeira desforra. Depois de superar Middlesbrough, Liverpool, Fulham e Chelsea, sempre com gols salvadores da dupla Cole e Yorke, além de Giggs, o time enfrentou o rival Arsenal na semifinal. O empate sem gols forçou a realização de uma nova partida, que seria tensa, com expulsões e cheia de história. Beckham abriu o placar para o MU aos 17´do primeiro tempo, num chutaço de fora da área. O Arsenal não se abateu e empatou com Bergkamp, aos 69´, também num grande chute de longe. No fim do jogo, pênalti para o Arsenal. Se o time londrino fizesse, estaria na final. O frio e calculista Bergkamp foi para a bola… E Schmeichel defendeu de maneira primorosa! A torcida do Manchester explodiu em alegria!
Com o empate em 1 a 1, o jogo foi para a prorrogação. Os times continuaram plenos no ataque, afinal, com tantos craques em campo, não havia outra possibilidade. Foi então que um desses craques mostrou suas garras. Já no segundo tempo da prorrogação, Ryan Giggs aproveitou um passe errado no meio de campo, foi conduzindo a bola ao ataque, passou por um, dois, três, quatro e chutou sem chances de defesa: GOLAÇO do Manchester United!!! O lado Red Devil do estádio Villa Park, em Birmingham, era puro delírio: 2 a 1 e Manchester na final da Copa da Inglaterra. Embalado, o time venceu o troféu, com uma vitória por 2 a 0 sobre o Newcastle United. Era a segunda taça do time no ano. Peraí, segunda? Qual foi a primeira? Ora, o Campeonato Inglês!
“Premier Devils”!
Antes de levantar a taça da Copa da Inglaterra, o United faturou o torneio nacional com um ponto de diferença sobre o rival Arsenal. Foram 22 vitórias, 13 empates e apenas três derrotas em 38 jogos. O time deu show de talento ofensivo, com destaque para Yorke, autor de 18 gols, que se tornou o primeiro artilheiro do Manchester United na Premier League desde o mito George Best, em 1968. O time de Ferguson aplicou goleadas impiedosas, com destaque para um 6 a 2 no Leicester City (com três gols de Yorke e dois de Cole), e a maior goleada do Campeonato: 8 a 1 sobre o Nottingham Forest (dois gols de Yorke, dois de Cole e quatro de Solskjaer).
Nos duelos diretos contra os grandes rivais, o MU perdeu para o Arsenal fora de casa por 3 a 0 e empatou em casa em 1 a 1, venceu o Liverpool em casa por 2 a 0 e empatou fora por 2 a 2 e empatou os dois jogos com o Chelsea em 1 a 1 (casa) e 0 a 0 (fora). Novamente campeão, o time ainda tinha um último desafio pela frente: a Liga dos Campeões da UEFA.
A saga europeia
O Manchester United superou vários rivais complicados em sua campanha europeia, entre eles Barcelona-ESP, Internazionale-ITA e Juventus-ITA ate chegar à final. Com mais de 90 mil pessoas, o estádio Camp Nou, em Barcelona, foi o palco da grande final da Liga dos Campeões da UEFA de 1998-1999. De um lado, o Bayern München-ALE, que tentava seu quarto título europeu. Do outro lado, o Manchester United, lutando pelo bicampeonato e pelo fim de uma escrita incômoda: desde 1984 que um time inglês não vencia o principal torneio do continente. O jogo seria mágico. E foi.
O Bayern começou melhor e abriu o placar logo de cara, num gol de falta marcado por Basler aos seis minutos. O Manchester sentiu o baque e sofreu constantes ataques dos alemães, que conseguiam marcar muito bem a dupla de ataque Cole-Yorke e as investidas de Beckham e Giggs. Os ingleses paravam no paredão de Munique e sentiam a ausência de Roy Keane, suspenso pelo cartão amarelo que havia levado na semifinal contra a Juventus. No segundo tempo, o Bayern continuou a pressionar e mandar bolas na trave. Será que o Manchester perderia o título e a chance da tríplice coroa? Não. Aos 67´, Alex Ferguson começaria a mudar para sempre a história do time inglês.
Sobrenaturais da bola
Quando o jogo caminhava para seus momentos finais, Ferguson foi para o tudo ou nada. Tirou Blomqvist e colocou Sheringham, e sacou Cole para a entrada de Solskjaer. Mal sabia (ou sabia?) o treinador que aqueles substitutos fariam história no abarrotado Camp Nou. Aos 46´do segundo tempo, já nos três minutos de acréscimo sinalizados pelo árbitro Pierluigi Colina, o Manchester United teve um escanteio a seu favor. O goleiro Schmeichel foi até a área para tentar algo para o time inglês. Com praticamente 21 homens na área do Bayern, Beckham cobrou, a bola foi mal rebatida pela zaga alemã e sobrou para Sheringham empatar o jogo: 1 a 1. O estádio explodiu. E o Bayern ficou atordoado. Parecia que a partida iria para a prorrogação. Mas só parecia. Perto dos 48 minutos, novo escanteio para o MU. Era o último lance do jogo. De novo Beckham na bola. Ele chutou… Ela voou… E foi de encontro aos pés de Solskjaer. GOL!!! O Manchester United, nos três últimos minutos da final, fazia os dois gols da virada por 2 a 1. Ninguém acreditava!
O estádio espanhol via a mais emocionante decisão de Liga dos Campeões da história (até um certo milagre de Istambul aparecer, em 2005, na final Milan e Liverpool…) terminar com a apoteose do maior esquadrão da Europa naquela temporada: o Manchester United, depois de 31 anos, campeão europeu! Os reservas escolhidos por Ferguson faziam história, assim como o MU, que se tornava o primeiro clube na Inglaterra a conquistar a tríplice coroa (Campeonato Inglês, Copa da Inglaterra e Liga dos Campeões). Era o auge dos Red Devils. E o delírio puro da torcida, que podia dizer para todo o mundo que era a mais feliz do planeta depois de uma noite inesquecível. E sobrenatural.
Os comandados do Sir no topo do mundo
Um mês depois da épica conquista da Liga, Alex Ferguson recebeu das mãos da Rainha Elizabeth II o título de Sir, assim como Matt Busby, o treinador do Manchester campeão europeu de 1968, havia ganhado. Agora Sir, Alex Ferguson ainda tinha um último desafio naquele ano mágico de 1999: a disputa do Mundial Interclubes, jamais conquistado por um clube inglês até então. Na decisão, no estádio Nacional, em Tóquio (JAP), os ingleses, que não tinham mais o goleiro Schmeichel, enfrentaram o Palmeiras (BRA).
Num lance de extrema infelicidade de Marcos (que não segurou um cruzamento de Giggs), o Manchester conseguiu o gol da vitória por 1 a 0, marcado por Keane, o mesmo que fez muita falta na final da Liga dos Campeões. Pronto. O Manchester United voltava a fazer história e se tornava o primeiro time da Inglaterra a vencer um título mundial, coroando um ano mágico. Os ingleses eram campeões de tudo. E os donos do mundo.
Transições e brigas
Depois da conquista europeia e mundial, o Manchester passou por um período de transição, mudanças e brigas. Na Inglaterra, a equipe ainda venceu os torneios nacionais de 2000, 2001 e 2003, mas quem deu as cartas nesse período foi o Arsenal de Henry e companhia, com exibições fantásticas, futebol bonito e títulos. Em 2003, Ferguson se envolveu numa calorosa discussão no vestiário com um de seus pupilos, David Beckham, acertando-o com uma chuteira no rosto e que rendeu uma marca bem visível acima do olho do jogador. A briga foi muito por causa do casamento de Beckham com a eterna Spice Girl Victoria, que mudou completamente a cabeça do jogador levando-o a inúmeros eventos publicitários, às capas de revistas e ao glamour total. Tudo isso desagradou Ferguson, que viu seu mais importante jogador se perder completamente. Ferguson comentou sobre isso em 2007 ao The Independent:
“Ele (Beckham) nunca foi um problema até se casar. Ele costumava trabalhar junto com os técnicos e preparadores físicos até de noite, era um profissional fantástico. O casamento o levou ao mundo do entretenimento, que mudou sua vida para sempre. Ele é uma grande celebridade, o futebol é apenas a menor parte”. Alex Ferguson, ao The Independent, setembro de 2007.
As polêmicas fizeram com que Beckham deixasse o United ao término da temporada 2002-2003 para jogar no Real Madrid-ESP, clube que Ferguson já não tinha simpatia alguma àquela altura por causa dos assédios aos seus atletas, que se intensificaria mais nos anos seguintes. O atrito de Beckham com Ferguson foi um dos muitos exemplos de que quando o treinador batia de frente com um jogador e não o colocava mais nos planos, não tinha mais volta. Ou o jogador se contentava com a reserva até o fim de seu contrato ou era necessário fazer as malas e mudar de clube.
Passada a crise, o Manchester United voltou aos trilhos curiosamente após a derrota do Arsenal na Liga dos Campeões da UEFA de 2006. Depois daquela decisão, o bastão de “rei” na Inglaterra foi passado ao United de Alex Ferguson, que começaria na temporada 2006-2007 a montar uma nova equipe mágica. Para o gol, chegou o experiente goleiro Edwin van der Sar. Para o setor defensivo, vieram o zagueiro sérvio Nemanja Vidic e o lateral esquerdo Patrice Evra. Para o meio, o talentoso sul-coreano Park Ji-Sung. Os reforços ajudaram a recompor os jogadores que haviam deixado o United depois de anos e anos, caso de Phil Neville, Kléberson, Roy Keane e Quinton Fortune. Com isso, a equipe de Ferguson estava ainda mais forte, afinal, o United contava em seu elenco com “apenas” as seguintes estrelas: Ferdinand, Heinze, Piqué, Brown, Scholes, Giggs, Rooney e Cristiano Ronaldo. Com esses e muitos outros bons jogadores, era hora de o time colocar a bola no chão e fazê-la chegar dezenas e dezenas de vezes nas redes dos adversários.
Aprendendo com os erros
Depois de fracassos nas duas temporadas anteriores, o United de 2006-2007 foi outro. Saiu o time fraco na pontaria e entrou uma equipe mais sóbria, consistente e que errava pouco, mesmo com a saída do centroavante Ruud van Nistelrooy para o Real Madrid. O resultado veio com títulos. Primeiro, o Campeonato Inglês, conquistado de maneira brilhante graças principalmente a dupla Rooney-Ronaldo, que se entenderam e marcaram 31 gols juntos (17 de Ronaldo e 14 de Rooney), feito que contribuiu para o United ter o melhor ataque (83 gols), maior número de vitórias no geral (28), de vitórias em casa (15) e fora dela (13). Foram seis pontos de vantagem sobre o vice-campeão, Chelsea, e apenas cinco derrotas em 38 jogos.
Em nível continental, o United foi bem na fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA e ficou na liderança com quatro vitórias e duas derrotas em seis jogos. Nas oitavas de final, o time eliminou o Lille (FRA) e nas quartas deu show contra a Roma. Depois de perder por 2 a 1 na Itália, o time massacrou os italianos: 7 a 1, gols de Carrick (2), Smith, Rooney, Ronaldo (2) e Evra. O baile inflou o United rumo à final, mas a equipe teria o poderoso Milan pela frente, que eliminou os ingleses com atuações maiúsculas do brasileiro Kaká.
Cristiano, Rooney e Tevez resolvem
Depois do fim da temporada 2006-2007, os ventos começaram a soprar de maneira diferente em Old Trafford. A mística, o reinado e a força do clube atingiriam o topo novamente com um grupo de jogadores fortíssimo, mais de um craque por posição e Cristiano Ronaldo endiabrado. Além disso, chegaram mais jogadores à equipe, caso de Tevez, Anderson e Nani. Com isso, o time ficou ainda mais forte na criação de jogadas, conclusão e eficiência no ataque. No Campeonato Inglês, os Devils levantaram mais um caneco em uma disputa emocionante com o Chelsea, que ficou apenas dois pontos atrás dos comandados de Alex Ferguson.
O time fez uma temporada brilhante, com 27 vitórias, seis empates e cinco derrotas em 38 jogos, com 80 gols marcados (melhor ataque) e 22 sofridos (melhor defesa). Cristiano Ronaldo foi o artilheiro do time e do campeonato com 31 gols, anotando até seu primeiro hat-trick com a camisa vermelha, na goleada de 6 a 0 sobre o Newcastle United, quando os Devils fizeram todos os gols em apenas um tempo (!). Mas, além da taça nacional, o Manchester United queria mais. Um só troféu era pouco para aquele timaço. Era preciso mais. E eles foram atrás…
No caminho de Moscou
Na Liga dos Campeões da UEFA de 2007-2008, o United passou sem problemas pela fase de grupos, eliminou times como Lyon-FRA e Barcelona-ESP e alcançou depois de nove anos uma final de Liga dos Campeões. Na grande decisão, no estádio Luzhniki, em Moscou (RUS), o Manchester United enfrentaria o Chelsea em busca do tricampeonato continental e da coroação de uma temporada quase impecável (só deixou escapar as Copas nacionais, que ficaram em segundo plano). Era a primeira vez que dois times ingleses faziam a final do maior torneio de clubes do continente e o United não poderia sair derrotado para um clube que vivia dos dólares recentes da própria Rússia e que não tinha nem 1/3 da história e sucesso dos Red Devils. Seria um grande jogo, com muito equilíbrio e muita disputa.
O Manchester começou melhor e abriu o placar com o artilheiro da Liga, com 8 gols, e eleito melhor jogador do torneio: Cristiano Ronaldo, aos 26´do primeiro tempo. O Chelsea não se abateu e buscou o empate com Lampard, no finalzinho do primeiro tempo. O placar em 1 a 1 seguiu até o final do jogo, forçando a prorrogação. Nela, nada de gols, somente nervosismo e a expulsão de Drogba faltando quatro minutos para o fim. Com o apito final, o campeão europeu seria decidido nos pênaltis.
Três vezes United
Nas cobranças, o United converteu com Tevez, Carrick, Hargreaves e Nani. Cristiano Ronaldo, justo ele, perdeu seu chute para a defesa de Cech. O Chelsea viu seus batedores converterem todas as quatro primeiras cobranças com Ballack, Belletti, Lampard e Ashley Cole. Esteve nos pés de Terry o título europeu dos Blues, mas o zagueiro e capitão escorregou e chutou na trave, dando sobrevida ao United. Nas cobranças alternadas, Anderson e Giggs fizeram para o United e Kalou para o Chelsea. Na hora do chute de Anelka… van der Sar defendeu! O goleiro holandês garantia aos Red Devils a mais cobiçada taça do continente europeu! A Liga dos Campeões da UEFA de 2007-2008 era de Old Trafford. O que podia ser melhor e maior? Ora, o Mundial de Clubes da FIFA.
Show de gols antes da final
Com a vaga no Mundial de Clubes de dezembro, o United ainda encontrou tempo para abocanhar mais um troféu no ano, a Supercopa da Inglaterra, quando empatou sem gols com o Portsmouth e venceu nos pênaltis por 3 a 1. Na Supercopa da UEFA, porém, derrota por 2 a 1 para o Zenit (RUS). O time foi para a terra do sol nascente com suas estrelas e focado, sem desmerecer o torneio a exemplo de seus compatriotas britânicos, que nunca tiveram sucesso na competição. O United lutaria pelo bicampeonato e pela hegemonia como único time inglês campeão do mundo. Os Devils estrearam contra o Gamba Osaka, do Japão, nas semifinais. Os japoneses apostavam mais na correria e na vontade do que na técnica, e o United no toque de bola envolvente e no poder de finalização. A equipe inglesa abriu o placar aos 28´com Vidic. Nos acréscimos do primeiro tempo, Cristiano Ronaldo ampliou. Na segunda etapa, Yamazaki diminuiu para os japoneses, mas um minuto depois Rooney fez 3 a 1. Três minutos depois, Fletcher fez 4 a 1 e, um minuto depois, Rooney fez o quinto gol. O show e a classificação estavam garantidos, mas o Gamba Osaka ainda marcou dois gols com Endo, aos 40´, e Hashimoto, aos 46´: 5 a 3.
Mundo vermelho
Na grande final do Mundial, o Manchester United encarou a LDU (EQU), campeã da Libertadores de 2008. A exemplo de 1999, quando conquistou seu primeiro título mundial, o United jogou de vermelho. E deu sorte. Num jogo muito pegado, disputado e com várias chances, coube a Rooney inaugurar o placar aos 73´, dando a vitória por 1 a 0 e o bicampeonato mundial ao United. Era a taça final para coroar uma temporada mágica, que consagrou de vez o time inglês como o mais bem sucedido dos últimos anos na Europa e no planeta. E, acima de tudo, serviu para deixar o United dois pedestais acima dos rivais. Campeão do mundo na Inglaterra? Só o United.
Fome de títulos e o tri
Na temporada 2008-2009, Ferguson manteve a vocação campeã de sua equipe e faturou a Copa da Liga Inglesa derrotando o Tottenham Hotspur na final. No Campeonato Inglês, mais um título, o tricampeonato consecutivo. O United chegou ao seu 18º caneco e igualou o número de taças do Liverpool, além de o clube fazer novamente uma campanha consistente e imponente, com 28 vitórias, seis empates e somente quatro derrotas em 38 jogos, com 68 gols marcados e 24 sofridos (melhor defesa, ao lado do Chelsea). Cristiano Ronaldo, então o melhor jogador do mundo (eleito em 2008), foi novamente decisivo e contribui demais com o título anotando 18 gols.
Na Liga dos Campeões da UEFA de 2008-2009, os Devils passaram pela fase de grupos e eliminaram no mata-mata Internazionale-ITA, Porto-POR e Arsenal-ING. Na final, porém, começaria o pesadelo azul-grená de Ferguson. Ele perderia a final disputada em Roma (ITA) para o Barcelona de Guardiola, o que se repetiria em 2011. Ao término da temporada, Cristiano Ronaldo deixou o United para assinar com o Real Madrid e a equipe perdeu a intensidade de antes no ataque. Mesmo assim, ainda houve tempo para mais quatro títulos: Copa da Liga Inglesa (2010), Campeonato Inglês (2011) e 2 Supercopas da Inglaterra (2011 e 2012).
20 vezez United. E 13 vezes Ferguson
Depois de perder o título inglês na última rodada para o rival Manchester City na temporada 2011-2012, Alex Ferguson deu a volta por cima na temporada 2012-2013 e conquistou o título do Campeonato Inglês com quatro rodadas de antecipação, o 13º de sua carreira e o 20º da história do clube, que ficou com duas taças de vantagem sobre o eterno rival Liverpool. Em 2012, o treinador foi eternizado para sempre com uma estátua no Old Trafford. Parecia um prenúncio de que em breve o homem que mudou para sempre a história do Manchester United ia dar adeus.
O adeus do mito
Em 08 de maio de 2013, Sir Alex Ferguson e o Manchester United anunciaram o fim de um ciclo de quase 27 anos, 38 títulos, 1498 jogos, 894 vitórias, 337 empates, 267 derrotas, 2762 gols marcados e 1359 sofridos. A notícia pegou muitos de surpresa, principalmente os torcedores do Manchester, torcedores estes que são, em sua grande maioria, fãs do clube muito por causa de Sir Alex Ferguson, que assumirá um cargo executivo do clube e passará o bastão ao seu sucessor aos poucos, para não traumatizar nem torcida nem jogadores.
Simplesmente inesquecível
O legado de Ferguson para o Manchester e para o futebol são enormes e quase incontáveis. Foi Ferguson quem mudou para sempre a forma de se trabalhar e lapidar “jovens diabinhos” nas categorias de base do United. Foi Ferguson o responsável por acabar com o jejum de 26 anos sem títulos do United no Campeonato Inglês. Foi Ferguson o mentor de três times históricos e inesquecíveis do Manchester United: o de 1994, o de 1999 e o de 2008. Foi Ferguson o responsável por contratações marcantes para o clube. Foi Ferguson o responsável por transformar o Manchester United no clube mais rico do planeta e em uma das marcas mais conceituadas no esporte mundial.
Foi Ferguson o técnico que inverteu todas as porcentagens, médias e números antes pífios para ótimos no comando do United. E foi Ferguson o maior e mais notável treinador da história do Manchester United Football Club, um técnico que deixou sua marca como o treinador mais vitorioso do futebol britânico em todos os tempos, como exemplo de longevidade e de como se trabalha na administração de um time de futebol. É como o próprio Ferguson diz: “o mais importante não é fazer um time de futebol, mas sim um clube de futebol”. E ele fez. Para a alegria de milhões de torcedores na Inglaterra e no mundo. Um técnico imortal.
Números de destaque:
Comandou o Aberdeen em 455 jogos, com 269 vitórias, 106 empates, 80 derrotas, 900 gols marcados e 363 sofridos.
Comandou o Manchester United em 1498 jogos, com 894 vitórias, 337 empates, 267 derrotas, 2762 gols marcados e 1359 sofridos. Porcentagem de vitórias: 59,68%.
Conquistou 38 títulos com o Manchester United, incluindo 2 Mundiais, 2 Ligas dos Campeões da UEFA e 13 Campeonatos Inglês.
Teve uma média de um título a cada oito meses no comando do Manchester United.
Leia mais sobre os times do Manchester United comandados por Ferguson nos links abaixo!
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Esse foi um dos maiores estrategistas de todos os tempos. Genial!
Guilherme, qual foi o texto mais grande do imortais que você já fez ?
Olá Eliseu! Olha, acho que foi este mesmo, do Alex Ferguson! Normalmente os textos de técnicos são bem grandes. Um que também rivaliza como maior é o do Pelé.
O melhor técnico que já vi no futebol, colocou o Manchester United de volta aos titulos e fez do Aberdeen uma potencia na Escócia no inicio dos anos 80. O time do Aberdeen dos anos 80 terá espaço no Imortais?
Olá João Paulo! O Aberdeen de Ferguson terá espaço no Imortais sim! Fique ligado! Abraços!
Muuuuuito bom! Sir Foda!