Grandes feitos: Campeão da Recopa da UEFA (1982-1983), Campeão da Supercopa da UEFA (1983), Tricampeão do Campeonato Escocês (1979-1980, 1983-1984 e 1984-1985), Tetracampeão da Copa da Escócia (1981-1982, 1982-1983, 1983-1984 e 1985-1986) e Campeão da Copa da Liga Escocesa (1985-1986).
Time-base: Jim Leighton; Stuart Kennedy (Doug Rougvie), Alex McLeish, Willie Miller e John McMaster; Gordon Strachan, Neil Simpson, Neale Cooper e Peter Weir; Eric Black (Drew Jarvie / John Hewitt / Frank McDougall) e Mark McGhee (Steve Archibald). Técnico: Alex Ferguson.
“Muito prazer, Alex Ferguson”
Por Guilherme Diniz
O futebol escocês quase sempre foi dominado pela dupla Celtic e Rangers, que possuem, juntos, mais de 100 dos quase 130 campeonatos nacionais já disputados no país. Poucos foram os clubes que conseguiram quebrar essa hegemonia do Old Firm. E só um conseguiu ir além e conquistar não só títulos nacionais, mas também torneios continentais: o Aberdeen de 1980-1986, comandado por um novato Alex Ferguson e com um time que marcou época pela competitividade, pelas viradas impossíveis e por desbancar esquadrões temidos e camisas pesadíssimas do continente. Afinal, poucos são os clubes que conseguem derrotar o Real Madrid em uma final europeia. Menos ainda são os clubes que vencem a Supercopa da UEFA sem vencer a Liga dos Campeões. E foi isso e muito mais que os Dons de Ferguson conseguiram. É hora de relembrar as façanhas e o apogeu de um dos mais emblemáticos esquadrões europeus dos anos 1980.
“Furioso” na área
Após o título nacional de 1954-1955, o Aberdeen passou anos e anos no jejum de conquistas importantes em solo escocês. Embora tenha vencido a Copa da Escócia de 1969-1970 e a Copa da Liga em 1976-1977, o Campeonato Escocês era mesmo um sonho distante, restrito apenas aos titãs Celtic e Rangers, que viveram nos anos 1960 e 1970 tempos de glórias não só dentro de casa, mas também em solo europeu, com o Celtic vencendo a Liga dos Campeões da UEFA de 1966-1967 e o Rangers levantando a Recopa da UEFA de 1971-1972. Foi então que o clube alvirrubro viu sua história mudar graças ao fortalecimento econômico da cidade de Aberdeen, famosa pela extração de granito, e também pela exploração de petróleo e gás no Mar do Norte. Esse boom econômico e a vinda de novos investidores aconteceu na virada dos anos 1960, seguiu por toda a década de 1970 e possibilitou o Aberdeen a investir em suas categorias de base e também na reforma do estádio Pittodrie, que passou a ter cadeiras no lugar das arquibancadas, algo inovador na época no Reino Unido.
Além disso, o clube decidiu mudar de técnico em junho de 1978, quando trouxe Alex Ferguson, então com 36 anos e com boa passagem pelo St.Mirren, para o lugar de Billy McNeill, ídolo do Celtic dos anos 1960. Na equipe vermelha e branca, Ferguson demorou um pouco para engrenar e dar seu estilo de jogo ao elenco. Ele só conseguiu chegar ao estágio ideal no começo dos anos 1980, quando dizia ter “alcançado o respeito e a união dos jogadores”. Disciplinador, durão e cada vez mais energético, Ferguson ganhou dos jogadores do Aberdeen na época o apelido de “Furious Fergie” (“Furioso Fergie”). Ele ficava mesmo furioso quando sua equipe não jogava bem, disparava contra tudo e todos se algo estava errado e fazia o que fosse preciso para consertar as coisas e alcançar a vitória. E esse estilo, aliado ao elenco de talento que ele tinha em mãos, iria transformar para sempre a história dos Dons.
O início das glórias
Na temporada 1979-1980, Alex Ferguson começou a dar seu toque de Midas e transformar o Aberdeen num dos maiores da Escócia no período. Primeiro, veio o título nacional de 1979-1980 com 19 vitórias, 10 empates e sete derrotas em 36 jogos, com o melhor ataque (68 gols) e a segunda melhor defesa (36 gols sofridos). Era a primeira Liga do clube desde 1955, o que colocou Ferguson no mais alto patamar de idolatria dentro do Aberdeen. No início da campanha, o clube capengou, perdeu sete dos primeiros 21 jogos, mas emendou 15 partidas sem perder até o final da competição, derrotou o Celtic fora de casa (2 a 1), assumiu a liderança na 32ª rodada e não largou mais. Steve Archibald (22 gols), Gordon Strachan (15 gols) e Drew Jarvie (14 gols) foram os artilheiros do Aberdeen na temporada, que quase teve também o título da Copa da Liga, mas esta foi perdida para o rival Dundee United após empate sem gols no primeiro jogo da final e derrota por 3 a 0 no replay, em Hampden Park.
Na temporada seguinte, o time disputou a Liga dos Campeões da UEFA (na época chamada de Copa dos Campeões), mas foi eliminado logo na segunda fase diante do fortíssimo Liverpool de Bob Paisley, que derrotou os escoceses por 1 a 0 no Pittodrie e 4 a 0 na Inglaterra. No Campeonato Escocês, os Dons ficaram mais 15 jogos invictos – aumentando para 30 partidas de invencibilidade no torneio, somando os jogos da temporada anterior -, incluindo uma vitória por 2 a 0 sobre o Celtic na casa dos alviverdes e um 4 a 1 jogando no Pittodrie, este na 19ª rodada. Porém, os comandados de Ferguson perderam a intensidade na reta final, empataram demais e o título ficou com o Celtic, que somou 56 pontos contra 49 do Aberdeen. Ambos tiveram o mesmo número de derrotas – seis -, mas o Celtic venceu mais (26 vitórias contra 19 do Aberdeen) e empatou bem menos (quatro empates contra 11 dos Dons). Por outro lado, o Aberdeen teve a melhor defesa do torneio – apenas 26 gols sofridos em 36 jogos.
Mesmo com a saída do atacante Steve Archibald para o Tottenham em 1980, os alvirrubros mantiveram a base e um grupo enxuto de 22 jogadores que facilitava o trabalho de Ferguson. Na época 1981-1982, os Dons disputaram a Copa da UEFA graças ao vice-campeonato escocês, e fez sua então melhor campanha em um torneio continental na história. Logo de cara, a equipe eliminou o Ipswich Town-ING, campeão da própria Copa da UEFA na temporada anterior e comandado pelo célebre técnico Bobby Robson, empatando em 1 a 1 na Inglaterra e vencendo os Tractor Boys por 3 a 1 na Escócia (dois gols de Peter Weir e um de Strachan). No duelo seguinte, os Dons despacharam os romenos do Arges Pitesti (5 a 2 no agregado) e encararam o Hamburgo-ALE de Ernst Happel nas quartas de final. Em casa, o Aberdeen mostrou força e venceu por 3 a 2, gols de Watson, Black e Hewitt. Mas, na Alemanha, os escoceses perderam por 3 a 1 e foram eliminados.
O revés não abalou o Aberdeen, que seguiu em busca de títulos. No Campeonato Escocês, a briga com o Celtic foi ferrenha, mas nos quatro confrontos diretos – o torneio na época tinha 10 clubes, que jogavam entre si em quatro turnos -, o Aberdeen venceu apenas um e o título ficou com os alviverdes, que somaram 55 pontos, enquanto os Dons alcançaram 53. Mas o troco veio na Copa da Escócia, na qual o Aberdeen eliminou o Celtic na segunda fase (vitória por 1 a 0) e seguiram até a final após eliminarem Kilmarnock e o St.Mirren.
Na decisão, em Hampden Park, o Aberdeen encarou o Rangers e aplicou uma goleada histórica de 4 a 1 sobre os Gers depois de 1 a 1 no tempo normal! McLeish, McGhee, Strachan e Cooper fizeram os gols do time vermelho que garantiu o título nacional. Aquele triunfo mostrou um outro lado das equipes de Ferguson: o preparo físico e a gana pela vitória a qualquer custo, não importando se faltava um minuto para o final do jogo ou se os jogadores estavam exaustos após os 90 minutos da etapa regulamentar. E tais atributos seriam essenciais para a temporada de ouro que estava por vir.
Em busca do sonho
O time do Aberdeen estava no auge da forma física e mental naquela temporada 1982-1983. Depois de consolidar seu trabalho, Ferguson tinha o grupo na mão e sabia tudo sobre seus jogadores e suas características. Mesmo jovem, o elenco já havia incorporado a mentalidade vencedora que Ferguson sempre pregou e vários nomes eram convocados para a seleção da Escócia, entre eles Willie Miller, Gordon Strachan, Alex McLeish e Jim Leighton, todos presentes na seleção que disputou a Copa do Mundo de 1982. O título da Copa da Escócia da época anterior deu ao Aberdeen uma vaga na Recopa da UEFA daquela temporada, competição que teria grandes potências na disputa como Bayern München, Barcelona, Real Madrid e Internazionale, além de Tottenham e PSG. Por ter 34 clubes, a Recopa daquele ano teria mais uma fase eliminatória. E, por ser de um país com baixo coeficiente da UEFA, o Aberdeen teria que disputar a primeira fase eliminatória antes das etapas principais.
O primeiro desafio dos escoceses foi o Sion-SUI, goleado no duelo de ida no Pittodrie por 7 a 0. Na volta, outra vitória fácil dos Dons (4 a 1) e vaga garantida na etapa seguinte. O adversário foi o Dinamo Tirana-ALB, que vendeu caro a derrota por 1 a 0 na primeira partida, em Aberdeen. Na volta, na Albânia, o empate em 0 a 0 classificou os escoceses para a etapa seguinte. Nela, a equipe de Ferguson encarou o Lech Poznań-POL, campeão da Copa da Polônia na temporada anterior e que seria campeão polonês em 1982-1983. Na ida, jogando em casa, o Aberdeen venceu por 2 a 0 (gols de McGhee e Weir) e só não goleou por causa da boa atuação do goleiro Pleśnierowicz. Na volta, em Poznań, os escoceses voltaram a vencer (1 a 0, gol de Bell) e ficaram com a vaga nas quartas de final.
Já em 1983, a equipe alvirrubra conciliava seus compromissos europeus com os torneios nacionais. No Campeonato Escocês, o Aberdeen lutou, alcançou 55 pontos, mas um mísero ponto privou o time do título, que ficou com o Dundee United, campeão com 56 pontos. Na Copa da Escócia, a equipe despachou o Hibernian (4 a 1), o Dundee (1 a 0), o Partick Thistle (2 a 1) e o Celtic (1 a 0) antes de garantir a vaga na final, que seria disputada em maio. Antes, era preciso continuar a saga continental. E encarar um rival titânico: o Bayern München-ALE de Rummenigge e Paul Breitner.
Time da virada!
Em março de 1983, o Aberdeen encarou o fortíssimo Bayern por uma vaga na semifinal da Recopa. Além da dupla “Breitnigge”, os bávaros contavam também com Augenthaler, Dieter Hoeness e Horsmann. Ferguson voltou a enfatizar a mentalidade vencedora e o “sangue nos olhos” aos seus jogadores para que a equipe saísse viva do estádio Olímpico de Munique, palco do jogo de ida. A boa notícia para os escoceses era a ausência no time alemão do ótimo goleiro Pfaff, lesionado, que seria substituído por Manfred Müller. Mesmo assim, o Bayern era perigoso e não costumava perder pontos jogando em casa. Em campo, porém, o Aberdeen foi gigante, se impôs, fechou os espaços e não deixou o Bayern ameaçar a grande área do goleiro Leighton. O placar final de 0 a 0 foi como uma vitória para os alvirrubros, que viram a torcida alemã vaiar seu time diante do péssimo placar em casa.
Na volta, o estádio Pittodrie recebeu mais de 23 mil pessoas, que confiavam em seus ídolos por uma vaga histórica na semifinal. Mas, logo aos 10’, Augenthaler recebeu de Breitner e chutou forte para abrir o placar. O Aberdeen não se abateu e, aos 22’, levou perigo em uma cabeçada na trave de McLeish. Simpson, aos 39’, aproveitou rebote da zaga bávara e empatou o jogo em um momento crucial da partida, deixando o duelo aberto, mas ainda favorável ao Bayern, que agora podia se classificar com um empate com gols por conta do critério do gol qualificado vigente na época.
No segundo tempo, o Aberdeen seguiu no ataque, mas foi o Bayern que fez mais um gol em chute de Pflügler, aos 16’. Ferguson mexeu no time, colocou Hewitt no lugar de Simpson, e o Aberdeen foi para o tudo ou nada. E, aos 32’, Strachan e McMaster fingiram confusão em uma cobrança de falta, a zaga bávara se bagunçou e, na cobrança, a bola foi livre para McLeish empatar: 2 a 2.
Um minuto depois, ainda sob os efeitos da frenesi da torcida, o Aberdeen alçou outra bola na esburacada zaga alemã, Black subiu, cabeceou e o goleiro Müller espalmou à queima roupa. No rebote, o reserva Hewitt apareceu para tocar entre as pernas do goleirão: 3 a 2. A torcida enlouqueceu e alguns fanáticos até tentaram entrar no campo, mas foram contidos pela polícia. A vitória se consumou e classificou o Aberdeen para a semifinal. Foi, sem dúvida, um dos maiores jogos da história do clube e do futebol escocês na época. O título era mais do que possível.
Passeio e a glória imensurável
Na semifinal, o Aberdeen enfrentou o Waterschei Thor-BEL, que eliminou de maneira surpreendente o PSG-FRA, com direito a uma vitória por 3 a 0 em casa após derrota por 2 a 0 em Paris. Mesmo diante de um rival inexpressivo, Ferguson não quis saber de favoritismo e usou os duelos contra os belgas para recolocar a equipe nos trilhos após revezes complicados no Campeonato Escocês para o Dundee e St.Mirren, que iriam influenciar de maneira negativa a caminhada pelo título nacional.
No primeiro jogo, em casa, o Aberdeen não tomou conhecimento do Waterschei e aplicou sonoros 5 a 1, com gols de Black, Simpson, McGhee (2) e Weir. Na volta, em Genk, o Aberdeen se fechou bem e perdeu por apenas 1 a 0, resultado que tirou a invencibilidade dos escoceses, mas em nada atrapalhou o objetivo principal: chegar à inédita final europeia. Mas tinha um porém: o adversário seria o Real Madrid-ESP, que desde 1966 não vencia nenhum torneio continental e queria uma taça inédita para sua imensa galeria.
Enfrentar o Real Madrid era algo simbólico para Alex Ferguson. Afinal, uma de suas experiências mais marcantes na juventude foi quando ele assistiu das arquibancadas do Hampden Park, em Glasgow, a decisão da Liga dos Campeões da UEFA de 1960 entre Real Madrid-ESP e Eintracht Frankfurt-ALE, que terminou com uma alucinante goleada merengue de 7 a 3 pra cima dos alemães. Em campo, estavam estrelas como Puskás, Gento e um tal de Di Stéfano. Curiosamente, naquela noite chuvosa de 11 de maio de 1983, Ferguson reencontraria os mesmos protagonistas de 1960 que tanto mexeram com seus sonhos: o Real Madrid e Di Stéfano, técnico dos merengues naquela final. Não poderia ser mais emblemático para Fergie derrotar o time e o treinador que ele tanto aplaudiu em 1960.
O confronto foi realizado na Suécia, no estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, com vários fãs escoceses que esperavam pelo primeiro título continental da história do Aberdeen justamente em sua primeira final. E eles não se decepcionaram. Mesmo diante do Real e de jogadores como José Antonio Camacho, Gallego, Uli Stielike, Juanito e Santillana, o Aberdeen abriu o placar logo aos 7’, com Eric Black. Aos 15’, Juanito empatou, o jogo seguiu tenso e foi para a prorrogação. Nela, o Aberdeen não quis saber de amarrar a partida e foi pra cima. seguiu no ataque e fez 2 a 1 na etapa complementar, com o talismã Hewitt, e conquistou a inédita Recopa da UEFA. Em 11 jogos, o Aberdeen venceu 8, empatou dois e perdeu apenas um, marcou 25 gols e sofreu seis. McGhee, com seis gols, foi o artilheiro do time na competição, seguido de John Hewitt, com cinco gols.
Foi o primeiro – e até hoje único – título continental de um clube escocês fora de Glasgow e que colocou os Dons em um nível impensável na história do futebol do país. Para selar uma temporada inesquecível, o Aberdeen venceu, dias depois, a Copa da Escócia ao derrotar o Rangers na final de Hampden Park com gol de Eric Black, aos 116’ da prorrogação. O jogo foi “uma desgraça”, segundo Ferguson, pois o feito na Recopa acabou tirando a concentração de seus jogadores, que “só foram para o jogo porque falei que eles iriam matar o Rangers na decisão”. A equipe, de fato, não fez um bom jogo, mas saiu com a vitória e fechou a temporada com dois troféus.
Supercampeões e bicampeonato nacional
Na temporada 1983-1984, o Aberdeen queria manter a coroa na Recopa e quase conseguiu: passou pelas duas primeiras fases, despachou o Újpest Dozsa-HUN nas quartas de final e alcançou a semifinal. Nela, a equipe acabou eliminada pelo Porto-POR, que foi vice-campeão ao perder a final para a Juventus-ITA. Mas os Dons levantaram no final do ano outra taça inédita: a Supercopa da UEFA. O adversário foi o Hamburgo, campeão da Copa dos Campeões, e no primeiro jogo, na Alemanha, os escoceses seguraram o empate sem gols. Na volta, em casa, o Aberdeen venceu por 2 a 0 – gols de Simpson e McGhee – e ficaram com o troféu, inédito para qualquer clube da Escócia.
Em casa, o Aberdeen retomou a coroa no Campeonato Escocês com uma grande campanha: 25 vitórias, sete empates, quatro derrotas, 78 gols marcados, míseros 21 gols sofridos e 57 pontos em 36 jogos. McGhee e Strachan, cada um com 13 gols, foram os artilheiros do time na trajetória vitoriosa que teve vitórias marcantes sobre Rangers (2 a 0, fora, e 3 a 0, em casa), Dundee United (3 a 1, fora, e 5 a 1, em casa), e Celtic (3 a 1, em casa). Os alvirrubros venceram também a Copa da Escócia, derrotando o Celtic na final em Hampden Park por 2 a 1, gols de McGhee e Black, completando o Double dos Dons.
Na temporada 1984-1985, o Aberdeen conquistou o bicampeonato nacional com um ataque devastador – 89 gols em 36 jogos -, além de um novo desempenho incontestável da zaga – 26 gols sofridos -, além de 59 pontos ganhos. O reforço Frank McDougall, com 22 gols, foi o grande destaque ofensivo do time. Na Copa dos Campeões, porém, os escoceses foram eliminados já na primeira fase com o revés diante do Dinamo Berlin, da Alemanha Oriental. Na temporada 1985-1986, os Dons não ficaram com o tri, mas levantaram a Copa da Escócia – vitória por 3 a 0 sobre o Heart of Midlothian na final – e a Copa da Liga – triunfo por 3 a 0 sobre o Hibernian na decisão. Na Copa dos Campeões, o time alcançou as quartas de final, mas foi eliminado para o IFK Göteborg-SUE após empate em 2 a 2 em casa e 0 a 0 fora.
As glórias internacionais e os títulos nacionais credenciaram Alex Ferguson como um dos mais talentosos treinadores de seu país e da Europa, além de ele se consagrar como o técnico mais vencedor da história do Aberdeen. Paralelo aos trabalhos no clube vermelho, o treinador integrou a comissão técnica da seleção da Escócia que se preparava para a Copa do Mundo de 1986, no México. Mas uma reviravolta iria abalá-lo profundamente.
O adeus do professor e o fim
Em 1985, a Escócia tinha um confronto decisivo contra País de Gales nas eliminatórias da Copa de 1986. O time precisava pelo menos de um empate para se classificar. Havia muita pressão em cima do treinador escocês Jock Stein, que era assistido por Alex Ferguson. No dia do jogo, houve muita catimba, jogadas ríspidas, nervos à flor da pele, mas a Escócia conseguiu o empate em 1 a 1 jogando em Cardiff e a vaga no Mundial. A festa foi enorme para os escoceses em campo, mas não haveria muito que comemorar naquele dia.
Com a saúde já debilitada e vítima de toda a pressão que envolvia aquele jogo, o técnico Jock Stein sofreu um colapso ainda em campo, foi atendido nos vestiários, mas não resistiu e faleceu. A fatalidade comoveu a todos, principalmente Ferguson, que perdia sua maior inspiração na carreira e seu mentor. Depois da morte de Stein, Alex Ferguson foi nomeado o novo técnico da seleção escocesa e comandou a equipe na Copa do Mundo. Em terras mexicanas, ele não se deu bem e a equipe foi eliminada ainda na primeira fase após derrotas para Dinamarca (1 a 0), Alemanha (2 a 1) e um empate sem gols contra o Uruguai.
A experiência no selecionado seria de curta duração – apenas 10 jogos, com três vitórias, quatro empates e três derrotas. Porém, naquele mesmo ano, Ferguson iria para o clube que transformaria para sempre sua carreira: o Manchester United, que levou Ferguson para Old Trafford na época 1986-1987. Dali em diante, o treinador transformou para sempre o clube inglês assim como fez no Aberdeen e conquistou dezenas de títulos, entre eles duas Ligas dos Campeões da UEFA e dois Mundiais. Sem Ferguson, o Aberdeen não conseguiu mais brilhar, perdeu também vários de seus jogadores e viu os titãs Celtic e Rangers retomarem o controle do futebol escocês. No entanto, o legado de Ferguson permanece até hoje em Pittodrie. O lendário técnico ganhou uma estátua do lado de fora do estádio dos Dons em 2022 como reconhecimento de seu trabalho naqueles anos de ouro e que colocaram o Aberdeen nos holofotes do futebol europeu e mundial. Um esquadrão imortal.
Os personagens:
Jim Leighton: cria do Aberdeen, o sóbrio goleiro foi uma lenda do clube escocês e jogou de 1977 até 1988 nos Dons. Com grande senso de posicionamento, agilidade e grandes defesas, foi um dos responsáveis pela baixa média de gols sofridos do clube naquela época. Foi presença constante, também, na seleção da Escócia, pela qual disputou 91 jogos e esteve nas Copas de 1982, 1986, 1990 e 1998. Em 1997, retornou já veterano ao Aberdeen e encerrou a carreira no clube em 2000. Leighton é o 6º jogador que mais vestiu a camisa dos Dons na história: 533 partidas.
Stuart Kennedy: rápido, ótimo no apoio ao ataque e também na cobertura, o lateral-direito foi absoluto no time de Ferguson naquela época e se destacava pelo fôlego privilegiado. Jogou no Aberdeen de 1976 até 1983 e acabou de fora da final da Recopa por causa de uma grave lesão no joelho. Ele teve que se aposentar precocemente naquele ano de 1983 por causa disso.
Doug Rougvie: chegou ao Aberdeen aos 16 anos e conquistou a torcida com sua regularidade, força física no setor defensivo e qualidade no jogo aéreo – tinha 1,87m de altura. Rougvie podia atuar não só no miolo da zaga, mas também na lateral-esquerda e também na direita, esta a posição que ele atuou na final da Recopa diante do Real Madrid. Após quase 10 anos no Aberdeen, foi jogar no Chelsea em 1984.
Alex McLeish: segundo jogador que mais atuou no Aberdeen na história – 689 jogos entre 1978 e 1994 – McLeish se tornou uma lenda do clube pela habilidade que tinha com a bola nos pés mesmo jogando na zaga, afinal, ele começou a carreira como meia pela direita. Enquanto o companheiro Miller ficava mais na sobra, McLeish dava o combate e procurava complicar a vida dos atacantes rivais. Disputou 77 jogos pela seleção da Escócia e integrou o time nas Copas de 1982, 1986 e 1990.
Willie Miller: recordista em jogos pelo Aberdeen – 796 partidas entre 1972 e 1990 – é outra lenda dos Dons e indispensável para o sucesso do time naqueles anos de ouro. Capitão, líder e absoluto na retaguarda alvirrubra, era descrito por Alex Ferguson como o “melhor defensor da pequena área do mundo” tamanha sua qualidade para desarmar, bloquear e fechar espaços. Podia atuar como líbero e zagueiro central. Raramente se lesionava e disputou uma média de 40 jogos por 14 anos seguidos! Integrou a seleção da Escócia nas Copas de 1986 e 1990.
John McMaster: lateral-esquerdo de boa técnica e um potente chute de perna esquerda, atuava também como meia e jogou no Aberdeen de 1972 até 1987. Sofreu uma lesão no pé em 1980 que o afastou dos gramados por um ano, mas retornou bem e ajudou o time a colecionar troféus. Foram 315 jogos e 33 gols pelos Dons na carreira.
Gordon Strachan: meia criativo e verdadeiro cérebro do Aberdeen, chegou ao clube em 1977 e permaneceu até 1984. Disputou 292 jogos e marcou 89 gols, além de dar vários passes para os companheiros anotarem seus tentos. Foi um dos mais talentosos jogadores da Escócia nos anos 1980 e ídolo do Aberdeen.
Neil Simpson: atuava como volante que marcava e também ajudava o setor ofensivo com passes e triangulações, além de ser forte no combate. Chegou jovem ao Aberdeen e foi um dos pilares do meio de campo do técnico Ferguson. Foram 310 jogos e 31 gols pelo clube entre 1978 e 1990.
Neale Cooper: nascido na Índia, mas com nacionalidade escocesa, foi revelado pelo Aberdeen e estreou no time profissional em 1980. Polivalente e capaz de atuar em vários setores do meio de campo, Começou a jogar de maneira mais frequente a partir da temporada 1981-1982 e foi titular até 1985-1986, quando foi jogar no Aston Villa.
Peter Weir: jogava mais pela ponta-esquerda e foi treinado por Ferguson quando atuou no St.Mirren. Rápido e criativo, foi um dos mais regulares do Aberdeen no período de 1981 até 1987 e marcou 38 gols em 237 jogos, além de contribuir com lançamentos, passes e cobranças de falta.
Eric Black: outra cria das bases, o atacante se tornou um dos principais artilheiros do Aberdeen na temporada 1982-1983, quando marcou 19 gols em 52 jogos, três gols na campanha do título da Recopa. Marcou 70 gols em 180 jogos pelo Aberdeen na carreira.
Drew Jarvie: o atacante é o 5º maior artilheiro da história do Aberdeen com 131 gols em 386 jogos e atuou no clube de 1972 até 1982. Acabou não atuando na campanha do título europeu, mas ajudou os Dons a levantarem o título nacional de 1979-1980, quando marcou 13 gols em 30 jogos.
John Hewitt: cria dos Dons e grande talismã do Aberdeen na campanha do título europeu, Hewitt não era titular absoluto, mas sempre que entrava, brilhava. Foram cinco gols em nove jogos naquela Recopa de 1982-1983, sendo que em cinco partidas ele saiu do banco de reservas. Ídolo da torcida, marcou o gol do título diante do Real e também deixou sua marca no duelo contra o Bayern, nas quartas de final. É um dos maiores artilheiros do Aberdeen com 90 gols em 363 jogos.
Frank McDougall: atacante já consagrado por suas passagens pelo Clydebank e St.Mirren, McDougall chegou em 1984 ao Aberdeen e ajudou o time a conquistar os títulos nacionais de 1984-1985 e 1985-1986. Na campanha do primeiro, foi o artilheiro da equipe com 22 gols em 28 jogos. Teve que encerrar a carreira em 1986, com apenas 29 anos, por causa de uma severa lesão nas costas. Anotou 44 gols em 69 partidas pelo Aberdeen, um excelente número para tão pouco tempo.
Mark McGhee: entre 1978 e 1984, o atacante fez a alegria da torcida com partidas marcantes, gols em profusão e muita qualidade. Técnico, inteligente e em constante movimentação, foi um dos pilares ofensivos do time de Ferguson. Marcou seis gols nos 11 jogos da campanha do título europeu de 1982-1983 e registrou 100 gols em 249 jogos pelo clube. Ele é o 9º maior artilheiro do clube na história.
Steve Archibald: jogou três temporadas no Aberdeen e ajudou o time a conquistar o título escocês de 1979-1980. Foi o artilheiro da equipe naquela campanha com 12 gols em 34 jogos. Acabou deixando os Dons em 1980 para jogar no Tottenham.
Alex Ferguson (Técnico): foi no Aberdeen que Ferguson começou a construir sua lenda no futebol e se transformar em um dos mais vitoriosos e competitivos treinadores de todos os tempos. De 1978 até 1986, Ferguson comandou o clube em 288 jogos, venceu 167, empatou 71, perdeu 50 e registrou um aproveitamento de 58%, além de ter levantado 10 troféus. Leia muito, mas muito mais sobre ele em nosso especial clicando aqui!
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