Grandes feitos: Campeão do Mundial de Clubes da FIFA (2022), Campeão da Liga dos Campeões da UEFA (2021-2022), Campeão da Supercopa da UEFA (2022), Campeão do Campeonato Espanhol (2021-2022) e Campeão da Supercopa da Espanha (2021-2022).
Time-base: Courtois; Carvajal (Lucas Vázquez), Eder Militão (Nacho), Alaba e Mendy (Marcelo); Casemiro, Luka Modric (Camavinga) e Toni Kroos; Valverde (Ceballos / Asensio), Benzema e Vinícius Júnior (Rodrygo). Técnico: Carlo Ancelotti.
“Nunca desafie o Rei”
Por Guilherme Diniz
Algumas competições do esporte mundial devem ser explicadas por seus campeões. Sem eles, elas não fazem sentido algum. Mas em determinados casos, alguns campeões formam uma simbiose tão grande com tal competição que parece que um foi feito para o outro e um não tem razão de existir sem o outro. Em Copas do Mundo, é inconcebível pensar no torneio sem recordar os jogos, as conquistas e os craques de Brasil, Alemanha, Itália, Argentina, França, Uruguai, Holanda, Espanha e Inglaterra. Na NBA, nenhuma conversa pode começar sem as lembranças do Los Angeles Lakers, do Boston Celtics e do Chicago Bulls. E a Liga dos Campeões da UEFA tem neste século XXI um lastro marcante com o Real Madrid. Depois da dinastia dos cinco títulos nos primeiros cinco anos da competição, o clube merengue forjou para sempre seu amor pelo torneio continental. Veio mais um título em 1966, mas a partir daquele ano, a equipe entrou em um jejum que parecia interminável – 32 anos para ser exato.
E, mesmo durante esse período, ninguém conseguiu igualar ou ultrapassar as seis taças dos merengues. Até que, em 1998, ele voltou a uma final. Azarão, diante de uma lendária Juventus com Del Piero e Zidane, o Real venceu com um gol improvável de Mijatovic e faturou a sétima taça. Em 2000, no Stade de France, lá estava o Real em mais uma final para levantar a oitava. E, em 2002, no ano de seu centenário, o clube venceu a 9ª com uma vitória assinada pela obra-prima de Zidane e pelas “paradas” sensacionais de um jovem Casillas. Mas, de novo, o Real entrou em um longo jejum – 12 anos. E, de novo, ninguém empatou ou igualou a quantidade de troféus dos merengues. Bem, se ninguém estava a fim de “dinastiar”, o Real voltou a aprontar.
Venceu a décima em 2014. E, entre 2016 e 2018, emendou mais três troféus, o primeiro tricampeonato desde o longínquo Bayern de 1974-1976. Após a Era Cristiano Ronaldo, muitos pensaram que o Real estava acabado. Sem a “máquina de golos” e com os bastiões envelhecendo, eles não iriam ganhar um torneio tão difícil e com um nível técnico tão alto, ainda mais com os endinheirados Manchester City e PSG sedentos pela primeira Velhinha Orelhuda. Mas o Real Madrid é o Real Madrid. Y nada más. Em uma temporada de provações, o clube tratou de calar a boca de todos das mais diferentes maneiras e com personagens conhecidos do público, mas menosprezados inexplicavelmente. Quando Carlo Ancelotti retornou, disseram que ele não era mais o mesmo. Quando viam Casemiro, Modric e Kroos no meio de campo, acharam que eles não iriam aguentar tantos jogos. E quando viam Benzema sozinho lá na frente com Vinícius Júnior e Valverde, pensaram que os gols não seriam em profusão.
Claro que no início da temporada tudo isso parecia mesmo acontecer quando um time da Moldávia derrotou o Real em pleno Santiago Bernabéu. Mas ali foi o ponto de virada. Ancelotti forjou seu grupo. Confiou nos jovens. E criou um time voraz. Com apetite. E que usou exatamente o Santiago Bernabéu – mesmo passando por uma imensa reforma – para trazer de volta uma mística dos anos 1980. De que 90 minutos no Bernabéu são muito longos.
No mata-mata, esteve à beira do nocaute em todos os duelos. Primeiro, contra o PSG de Mbappé, que trucidou o Real em Paris, mas só fez um gol. No Bernabéu, levou um gol e precisava de três para avançar. Benzema resolveu a parada e fez todos no 3 a 1. Nas quartas, vitória sobre o então campeão Chelsea em pleno Stamford Bridge por 3 a 1, com mais três gols de Benzema. Na volta, no Bernabéu, o Chelsea amassou o Real de novo. Fez 3 a 0. Deixou o Rey na lona. Mas, como lembrava a torcida merengue, “nunca jogue com o Rey”. Rodrygo e Benzema fizeram os gols que ressuscitaram o Real. E colocaram o time na semifinal. O adversário seguinte foi o Manchester City. Favorito, assim como foram Chelsea e PSG. Na Inglaterra, os Citizens venceram por 4 a 3. Foi pouco, pois tinha a volta… Em Madri, o City fez 1 a 0 no segundo tempo. Mas 90 minutos no Bernabéu… Sabe como é… Rodrygo, duas vezes em dois minutos, virou e forçou a prorrogação. Nela, o City não resistiu e Benzema fez o gol da vaga na final.
Ainda tinha gente que achava que o Real não era favorito diante do Liverpool. “Ah, não era o Bernabéu”, “ah, é jogo único”, “ah, é a vingança do Salah”… A todos: o Real Madrid é o Real Madrid. Y nada más. O time merengue não se cansou, não se enervou. Ficou ali, esperando a presa. Quando ela atacava, Courtois defendia. Foi assim uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. As nove defesas assombrosas de um goleiro que mostrou-se de corpo fechado em Saint-Denis. E, no segundo tempo, quando todos olhavam Benzema, Vini Jr. recebeu de Valverde para fazer o gol do título. Pra que mais gols? Foram tantos durante a campanha, um só ali estava bom. Afinal, as defesas de Courtois já valiam por uma goleada.
Real Madrid campeão da Europa – e também da Espanha, só para lembrar. Rey da Europa pela 14ª vez. Sim, senhoras e senhores. Na Liga dos Campeões da UEFA, ninguém pode com o Rey desde 1981, ano de sua última derrota em uma final. Se não o matam pelo caminho, ele chega na final. E a vence de qualquer maneira. É hora de relembrar a temporada impressionante, consagradora e que assegurou de uma vez por todas – a quem ainda duvidava ou não acreditava – a imortalidade e lenda do clube mais vitorioso do planeta.
Há vida pós-CR7? Sim!
Depois de vencer três Ligas dos Campeões consecutivas entre 2016 e 2018, o Real Madrid passou por um ligeiro período de entressafra com a saída do ídolo Cristiano Ronaldo – que, após tantas glórias, recordes e se tornar o maior artilheiro da história merengue, foi jogar na Juventus. Muitos acreditaram que o clube não iria voltar a conquistar títulos de peso tão cedo, ainda mais pela maneira como foi eliminado da UCL de 2018-2019, com derrota por 4 a 1 em casa para o Ajax, pela derrota na final da Supercopa da UEFA de 2018 para o rival Atlético de Madrid (4 a 2) e pela sacolada que levou do Barcelona em La Liga (5 a 1). Nesse período turbulento, a equipe teve dois técnicos: Julen Lopetegui e Santiago Solari, dupla que não conseguiu fazer o time jogar bem nem brigar por taças – a única vencida foi o Mundial de Clubes da FIFA, sobre o frágil Al Ain.
Em março de 2019, o técnico Zinédine Zidane retornou ao clube, e, no verão de 2019, o clube trouxe novos nomes como Eden Hazard, Luka Jović, Éder Militão, Ferland Mendy, Rodrygo, entre outros atletas que custaram mais de € 350 milhões aos cofres merengues. Com vários nomes da época de ouro ainda presentes no elenco – Marcelo, Casemiro, Modric, Kroos, Carvajal e Benzema – o Real Madrid levantou o Campeonato Espanhol e a Supercopa da Espanha, porém, foi eliminado já nas oitavas de final da Liga dos Campeões para o Manchester City-ING após duas derrotas por 2 a 1 tanto em casa quanto fora.
A partir de junho de 2020, o clube iria mandar seus jogos no Estádio Alfredo Di Stéfano, por conta das obras mais complexas da reforma do Santiago Bernabéu. Sem a força de seu tradicional estádio, o Real passou em branco na temporada 2020-2021 e mais uma vez foi eliminado na UCL, na semifinal, para o asa-negra Chelsea-ING. Sem troféus, Zidane não resistiu e deixou o clube após o fim da temporada e a diretoria merengue apostou em um velho conhecido para o comando técnico: Carlo Ancelotti, treinador do clube na conquista da Décima UCL, em 2014. Além dele, chegaram o defensor austríaco David Alaba e o meio-campista francês Eduardo Camavinga. No entanto, o Real Madrid iniciou a temporada ainda sob dúvidas.
A frustração por não contratar a estrela francesa Mbappé, a má fase de Hazard e ter a defesa como ponto vulnerável com as saídas de Varane e Sergio Ramos na janela de transferências de 2021 davam a sensação de que o time estava incompleto e incapaz de encarar uma temporada tão longa e com rivais tão hostis, em especial na Liga dos Campeões. O Real parecia uma equipe em transformação e a presença de Carlo Ancelotti não inspirava muita confiança por causa de seus trabalhos fracos nos últimos anos e a faceta de técnico “em direção à aposentadoria”. Só que todas aquelas crenças iriam cair por terra à medida que o trabalho de Don Carletto tomasse forma. E as joias do elenco começassem a brilhar.
A arte do Don
Carlo Ancelotti sempre foi um treinador formidável em criar grupos competitivos e apostar em jovens talentos. Seus títulos e seu comando no lendário Milan campeão de tudo entre 2002 e 2007 são irrefutáveis. Por isso, o treinador tratou de dar mais chances aos jovens do elenco sem abrir mão dos veteranos. Militão e Alaba iriam formar o miolo de zaga principal, com Mendy e Carvajal nas laterais e Nacho como opção tanto para a zaga como para qualquer lateral, além de Lucas Vázquez, polivalente que poderia atuar, também, na ala direita.
No meio e no ataque, setores onde o Real tinha mais opções, Ancelotti iria alternar o Trio Eterno Casemiro, Modric e Kroos com os jovens Camavinga, Federico Valverde e Ceballos, além de Asensio em algumas partidas, enquanto no ataque o brasileiro Vinícius Júnior seria a principal companhia de Benzema, indo na contramão do ex-técnico Zidane, que não dava muitas oportunidades ao atacante. O outro atacante brasileiro do elenco, Rodrygo, também teria oportunidades para mostrar seu futebol e ajudar o Real tanto no Campeonato Espanhol quanto na UCL. Estrategista e conhecedor pleno do jogo, Ancelotti iria sepultar qualquer dúvida sobre seu trabalho ao longo da temporada de maneira sensacional. Mas não antes de encarar alguns obstáculos.
Forjando a mentalidade
O Real começou sem sustos a caminhada no Campeonato Espanhol com sete jogos sem derrotas e o retorno ao Santiago Bernabéu – ainda sem o público total. O destaque dessa sequência foi o triunfo sobre o futuro campeão da Copa do Rei, Real Betis, por 1 a 0 em Sevilha, os 5 a 2 sobre o Celta de Vigo, em casa, com três gols de Benzema, e os 6 a 1 sobre o Mallorca, também em casa, com dois gols de Benzema e três de Asensio. Na estreia da UCL, a equipe merengue venceu a Inter de Milão por 1 a 0, na Itália, gol de Rodrygo, mas em seguida, o time merengue viu seu retorno ao Santiago Bernabéu em uma competição europeia após um ano e meio ser arruinado pelo modesto Sheriff Tiraspol, da Moldávia, que venceu por 2 a 1, em uma das maiores zebras da história recente da Liga dos Campeões.
O triunfo veio justamente após o anúncio fracassado da Superliga, ideia do presidente Florentino Pérez de um torneio com os clubes mais poderosos do continente em detrimento à UCL, provando que os clubes pequenos podem, sim, escrever grandes histórias em competições continentais. Após o jogo, Ancelotti deixou bem claro durante a coletiva de imprensa que a derrota feriu o orgulho do time madrileno e não seria digerida tão cedo.
“Mais do que preocupados, estamos tristes. Jogamos com intensidade e comprometimento, mas perdemos nos mínimos detalhes. A equipe jogou bem, podíamos ter sido mais afiados na área, mas é difícil explicar o que aconteceu. Os pequenos detalhes nos custaram o jogo e devemos aprender com isso no futuro”.
Ainda sob os efeitos do revés, o time perdeu a primeira no Campeonato Espanhol (2 a 1, fora, para o Espanyol) e caiu para o segundo lugar na tabela após seis rodadas na liderança. Mas a volta por cima veio rápido: goleada de 5 a 0 sobre o Shakhtar, fora (com dois gols de Vinícius Júnior), pela UCL, e triunfo em um momento crucial no clássico contra o rival Barcelona, no Camp Nou, pelo Espanhol, que terminou com vitória merengue por 2 a 1, gols de Alaba e Lucas Vázquez.
O Real retomou a liderança de La Liga na rodada 13, na goleada de 4 a 1 sobre o Granada, e encaminhou a classificação para as oitavas de final da UCL com três vitórias seguidas sobre Shakhtar (2 a 1, em casa, com dois gols de Benzema), 3 a 0 no Sheriff, fora de casa (gols de Alaba, Kroos e Benzema), e 2 a 0 sobre a Inter de Milão, em casa, gols de Kroos e Asensio, selando a vaga em primeiro lugar com cinco vitórias, uma derrota, 14 gols marcados e apenas três gols sofridos.
Àquela altura, o Real já tinha um estilo de jogo ofensivo consolidado, com Benzema vivendo uma fase espetacular e Vinícius Júnior esbanjando categoria e confiança após ser alçado à titularidade por Ancelotti, que acreditou no potencial do brasileiro e deu conselhos para ele voltar um pouco para recuperar a bola e ter confiança na hora da finalização e nas tomadas de decisão. Era visível o crescimento do atacante e sua intensidade no ataque, jogando sem medo e fazendo filas e filas nas zagas rivais, além de dar passes na medida para os companheiros.
Além dele, Modric esbanjava sua classe de maneira colossal e jogava tanto ou mais do que na temporada em que venceu a Bola de Ouro. Camavinga, mesmo sem ser titular absoluto, dava mobilidade e agilidade ao meio de campo e o uruguaio Valverde também demonstrava muita entrega e habilidade, características que seriam melhor aproveitadas na reta final da temporada, por conta de uma entorse sofrida pelo uruguaio no clássico contra o Barcelona, em outubro de 2021, que o tirou dos gramados por 32 dias. Nos meses de novembro e dezembro de 2021, o Real venceu sete jogos seguidos em La Liga e confirmou a liderança tranquila no campeonato. A série embalou o time para a disputa da Supercopa da Espanha, em janeiro, na Arábia Saudita. Se vencesse, o time teria um combustível fundamental para a sequência da temporada.
Taça de um lado, decepção do outro
Como vice-campeão espanhol de 2020-2021, o Real se classificou para a Supercopa da Espanha de 2021-2022, que desde 2019-2020 mudou seu formato para quatro equipes ao invés de duas, reunindo os campeões da temporada anterior da Copa do Rei e do Campeonato Espanhol e seus respectivos vice-campeões. Os madrilenos enfrentaram o rival Barcelona (campeão da Copa do Rei de 2020-2021) na semifinal e Vinícius Júnior abriu o placar logo aos 25’ da primeira etapa. O Barça empatou com Luuk de Jong, aos 41’, e Benzema colocou o Real na frente aos 27’ do segundo tempo. Fati empatou 11 minutos depois e o jogo foi para a prorrogação. Nela, o Real mostrou que não queria saber de pênaltis e Valverde fez o gol da vitória por 3 a 2, aos 8’ da primeira etapa do tempo extra, que colocou os merengues na final.
O adversário seguinte foi o Athletic Bilbao (vice-campeão da Copa do Rei de 2020-2021) e os merengues venceram por 2 a 0, gols de Modric e Benzema, em jogo que teve Rodrygo e Vinícius Júnior no ataque. O troféu embalou o Real para mais uma sequência de oito jogos sem derrota no Campeonato Espanhol – seis vitórias e dois empates – mas o time acabou eliminado da Copa do Rei nas quartas de final, após derrota por 1 a 0 para o Athletic Bilbao, em San Mamés. Mas havia um lado positivo naquela eliminação: as duas principais competições da temporada, La Liga e a UCL, teriam foco total dos merengues.
A primeira remontada
O adversário do Real Madrid nas oitavas de final da Liga dos Campeões foi o PSG, que mais uma vez investiu tudo para buscar sua inédita Velhinha Orelhuda. Com Mbappé em grande fase e as estrelas Neymar e Messi, o clube francês entrou como favorito na disputa e provou a condição no primeiro jogo, em Paris. Os anfitriões dominaram o duelo contra o Real, controlaram o meio de campo e não sofreram com os avanços de Vinícius Júnior (que teve que se sacrificar defensivamente) e Benzema (retornando de lesão). O time francês teve a chance mais clara de pênalti, mas Messi viu Courtois se agigantar para defender a cobrança do argentino. Mbappé levou os maiores perigos aos merengues, mas também parou no goleiro belga. Quando o empate de 0 a 0 parecia consolidado, eis que Mbappé tirou seu truque escondido: invadiu a área, pedalou, driblou dois e fuzilou para marcar um golaço: 1 a 0.
Foi uma vitória merecida do PSG por tudo o que criou, mesmo com as grandes atuações defensivas do Trio Eterno e de Militão. Para a volta, o Real teria que fazer valer seu mando e sua mística para reverter a vantagem parisiense, que não era grande pelo fato de o critério de gol fora ter acabado. Ou seja, mesmo que o PSG fizesse um gol, o Real poderia fazer dois que o jogo iria para a prorrogação, por exemplo. Mas, quando a bola rolou no Santiago Bernabéu com quase 60 mil pessoas, o filme parecia o mesmo de Paris: PSG mais perigoso, Mbappé frenético e arrancando suspiros e mais suspiros dos madrilenos que tanto desejavam ver o francês vestindo branco.
E, aos 39’ da primeira etapa, o craque abriu o placar para o PSG e aumentou para 2 a 0 a vantagem merengue. Àquela altura, ninguém acreditava em uma reviravolta do Real. Mas bastou uma faísca para tudo mudar. Aos 16’ do segundo tempo, o goleiro Donnarumma, que não sabe jogar com os pés, tentou tocar de lado após um recuo de Nuno Mendes e viu Benzema aparecer como um colosso perto dele. O italiano tremeu e tocou de lado sem pensar. A bola sobrou para Vinícius Júnior, que rolou para Benzema empatar. Dois minutos depois, Benzema teve uma chance de cabeça, mas a bola foi para fora. Na sequência, Vinícius Júnior também teve ótima oportunidade, mas chutou por cima do gol. Porém, o Real seguiu ávido. E, aos 31’, Modric deu um passe perfeito para Benzema girar e bater: 2 a 1.
O Bernabéu entrou em ebulição. E mexeu com os nervos dos jogadores do PSG. Desnorteados, os parisienses perderam a bola no meio de campo e, dois minutos depois, Rodrygo acionou Vinícius, que invadiu a área e recebeu uma interceptação de Marquinhos. O zagueiro brasileiro foi mal e praticamente tocou para Benzema aparecer e chutar de primeira com a parte de fora do pé e decretar a virada: 3 a 1. Um hat-trick para a história! E a classificação tida como improvável do Real, que simplesmente ressurgiu na partida com uma vitalidade impressionante. O Rei estava vivo. E pronto para mais batalhas.
O apagão e a resposta
Dias depois da vitória sobre o PSG, o Real Madrid encarou o Barcelona também no Santiago Bernabéu, pela 29ª rodada do Campeonato Espanhol. Ainda com uma vantagem confortável de nove pontos na liderança, o Real poderia liquidar de vez o rival, em terceiro, na briga pelo título. Mas quem deu show foi o Barça, que venceu por 4 a 0 e deu olé no Bernabéu, confirmando a boa fase da equipe na época – em franca ascensão em La Liga e também na Liga Europa da UEFA (isso até eles serem eliminados pelo futuro campeão Eintracht Frankfurt…).
O revés, porém, em nada mexeu com a liderança madrilena, com 66 pontos e nove sobre o Sevilla, enquanto o Barça tinha apenas 54 pontos. Faltavam nove rodadas e muitos acharam que o time sentiria aquele revés nos jogos seguintes. Só que Ancelotti não deixou aquela derrota abater o elenco e venceu o jogo seguinte contra o Celta, fora, por 2 a 1, e manteve a busca pelo caneco intacta. Quatro dias depois, o Real viajou até Londres para encarar o Chelsea no primeiro jogo das quartas de final da UCL. Seria um grande desafio pelo fato de os Blues jamais terem perdido para o Real em duelos continentais. Eis o retrospecto:
1×1 / 2×1 – Final da Recopa da UEFA de 1970-1971
1×0 – Final da Supercopa da UEFA de 1998
1×1 / 2×0 – Semifinal da Liga dos Campeões da UEFA de 2020-2021
Com esse passado, os ingleses confiavam na classificação. Mas o Real Madrid tinha Benzema. Muito bem assessorado por Vinícius Júnior e Valverde, o francês marcou os três gols da vitória por 3 a 1 em pleno Stamford Bridge que acabou com a escrita do Real de nunca ter vencido os Blues em torneios da UEFA. Foi um grande jogo tático e coletivo do clube espanhol, que surpreendeu o rival com a presença de Valverde mais aberto pela direita e recuando para dar mais apoio ao meio de campo e as tabelas incessantes de Vini e Benzema, além do sempre impecável Modric, jogando muito, e do goleirão Courtois. Real classificado? Bem, não tanto assim…
Não jogue com o Rei
Antes da partida da volta contra o Chelsea, o Real venceu o Getafe por 2 a 0 e manteve a liderança do Espanhol. Até que, no dia 12 de abril, as mais de 59 mil pessoas no Bernabéu viram uma partida histórica… Do Chelsea! Os Blues simplesmente trucidaram o Real e abriram 2 a 0 com gols de Mount e Rüdiger. Aos 30’ do segundo tempo, Werner fez o terceiro e o resultado de 3 a 0 dava a vaga na semifinal ao então campeão europeu. O Real não jogava absolutamente nada. Mas, aos 35’, após as mudanças de Ancelotti, Camavinga recuperou uma bola de Kanté, tocou para Marcelo e este deixou para Modric. O croata deu um passe de trivela para Rodrygo, que chutou de primeira para descontar e forçar a prorrogação.
Assim como no jogo contra o Barcelona lá no começo do ano, pela Supercopa da Espanha, o Real Madrid tratou de resolver a partida já no primeiro tempo. Camavinga, em partidaça, recuperou outra bola e esperou a chegada de Benzema na área inglesa. O meio-campista levantou para o artilheiro da Liga dos Campeões, que não perdoou o espaço deixado pela zaga para fazer 3 a 2. Dali em diante, o Real se segurou como um senhor do tempo, experiente e tarimbado, enquanto o Chelsea partiu para o desespero e não conseguiu fazer nada. Sob os cânticos frenéticos de uma torcida mudada, mais agitada e audível como nunca antes na história do Bernabéu, o Real conseguiu a vaga na semifinal mesmo jogando muito abaixo do esperado.
Quando estava na lona, com o juiz na contagem regressiva, eis que o Real conseguiu se levantar, acertar um cruzado e vencer. Como aquilo era possível? Ninguém sabia. Bem, só a torcida, que antes do jogo estendeu uma faixa com os dizeres “Nunca jogue com o Rei”. De fato, jogar contra o Real na UCL e no Bernabéu era missão impossível. Poderia até vencer, como o Chelsea venceu, mas sair com a vaga? Aí já é outra história…
O que chamava a atenção naquele time era o preparo físico dos atletas, que cresciam quando os adversários agonizavam. Era fruto do trabalho de uma lenda: Antonio Pintus, preparador físico do clube e conhecido pelos atletas como “o sargento” pela rigidez nos treinamentos. Pintus estava no Real na época do tricampeonato europeu e Zidane já dizia que ele era um dos responsáveis pelo grande rendimento do time. O italiano tinha fama de longa data, pois foi o preparador físico da Juventus campeã da Europa em 1996 e também da Inter de Milão campeã da Itália em 2021. O método de trabalho do profissional é focado principalmente em treinamentos sem bola e na potencialização física em jogadores de todas as idades. Além disso, ele faz constante acompanhamento do desgaste dos atletas, conseguindo reduzir o número de contusões.
A coroa na Espanha e os jogos eternos
No dia 17 de abril, o Real Madrid encarou o Sevilla, fora de casa, em um duelo crucial na briga pelo título. Mesmo com vários desfalques e sem um lateral-esquerdo de origem (Carvajal jogou improvisado na esquerda e Lucas Vázquez pela direita), o Real conseguiu uma virada espetacular após sair perdendo por 2 a 0 e virar para 3 a 2, com gols de Rodrygo (que fez um jogaço), Nacho e Benzema – este já nos acréscimos do segundo tempo. O triunfo fez o Real abrir 15 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o Barça, e praticamente deixou os merengues com a mão na taça. Na rodada seguinte, o Real venceu o Osasuna fora de casa por 3 a 1 e confirmou o título na rodada 34, na goleada de 4 a 0 sobre o Espanyol, com dois gols de Rodrygo, um de Asensio e outro de Benzema. Foi o 35º título espanhol da história do clube e conquistado um mês antes do fim do torneio. Nas quatro rodadas seguintes, a equipe apenas cumpriu tabela, venceu um, perdeu outro e empatou dois.
Em 38 jogos, foram 26 vitórias, oito empates, quatro derrotas, 80 gols marcados (melhor ataque) e 31 gols sofridos. Benzema foi o artilheiro do time e do Campeonato com 27 gols em 32 jogos, e também o maior assistente com 12 passes para gols, seguido de Vinícius Júnior, com 17 gols marcados e 10 assistências, e Asensio, com 10 gols marcados. Modric, com 9 assistências, também foi uma das estrelas do time na competição. O troféu foi erguido por Marcelo, que fez em 2021-2022 sua última temporada pelo clube e se transformou no atleta com mais troféus da história merengue. Quem também fez história foi o técnico Carlo Ancelotti, que se tornou o primeiro treinador da história a vencer os cinco principais campeonatos nacionais da Europa: La Liga (Real), Bundesliga (Bayern), Serie A (Milan), Ligue 1 (PSG) e Premier League (Chelsea).
Durante a reta final de La Liga, o Real Madrid encarou o Manchester City nas semifinais da Liga dos Campeões. Os ingleses mais uma vez eram favoritos, assim como foram Chelsea e PSG. Na Inglaterra, os Citizens abriram 2 a 0 com apenas 11 minutos. Benzema diminuiu. O City fez 3 a 1. Vini Jr. descontou em um golaço. O City foi lá e marcou mais um. E Benzema diminuiu de novo, de pênalti, com cavadinha e tudo: 4 a 3. Mas poderia ter sido 5 a 3, 6 a 3. O City criou muito, jogou muito. Mas fez pouco diante das circunstâncias. Afinal, tinha a volta, no Bernabéu…
Na Espanha, o jogo seguiu 0 a 0 até os 28’ do segundo tempo, quando Mahrez fez 1 a 0. O Real precisava de dois gols. Ancelotti já havia colocado o brasileiro Rodrygo. E a entrada do atacante mais uma vez mudou o jogo. Talismã, Rodrygo marcou duas vezes em dois minutos, virou e forçou a prorrogação. Sob os cânticos “si, ¡se puede!” da torcida. No tempo extra, o City não resistiu à ebulição do Bernabéu, um caldeirão como jamais havia sido na história. E Benzema, de pênalti, fez o gol da vaga na final no primeiro tempo, assim como no duelo contra o Chelsea e contra o Barça na Supercopa.
Foi simplesmente histórico. De novo, na lona, o Real ressurgiu. Provou sua imortalidade. Que “venha Deus e explique”, clamou o jornal Marca no dia seguinte para tentar explicar o inexplicável. O brasileiro Rodrygo, tempo depois, comentou sobre aquele jogo histórico.
“Eu sempre falo que foi uma noite mágica contra o City. A gente sempre fala que o Bernabéu é mágico, mas, naquela noite, eu subi de patamar. Eu já era reconhecido na cidade, mas aumentou muito, não posso sair na rua que já vem muita gente tirar foto, eu acho que mudou muito, não só pra mim, mas pra todos os jogadores. Então, contra o City, foi realmente uma noite mágica, mudou muito pra mim. […]
O que me passou na cabeça quando ele (Carlo Ancelotti) me chamou foi decidir o jogo contra o City, isso que eu pensei. Ele pediu agressividade no lado direito, que a gente precisava atacar mais o lateral deles e sem esquecer o lado defensivo. Se você olhar o lance do gol direitinho, aconteceram várias coisas, era pra ser. Eu ia entrar na área, mas o zagueiro me empurrou, aí eu fui pra trás, a bola ainda desvia no Asensio e aí eu peguei e cabeceei bem. Eu nem lembro se o olho tava aberto ou fechado”. – Rodrygo, em entrevista ao programa “Bem, Amigos!”, do canal SporTV, e reproduzida no UOL Esporte, 13 de junho de 2022.
Só faltava um desafio para a 14ª taça europeia ir para Madri. E o adversário seria o sempre perigoso Liverpool, um dos poucos a derrotar o Real Madrid em uma final continental na história – em 1981 – e ainda engasgado com os espanhóis por causa da perda do título de 2018.
La DécimaCourtois!
O Stade de France, em Saint-Denis, trazia boas recordações ao Real Madrid. Foi lá que o time merengue venceu sua 8ª UCL, diante do Valencia, com um inapelável 3 a 0. E foi também na França que o clube levantou sua primeira taça, lá em 1956, contra o Stade de Reims. Porém, foi também na França que o Liverpool derrotou o Real por 1 a 0 e ficou com a UCL de 1981. Eram vários cenários, muitas histórias e uma expectativa enorme para o duelo entre ingleses e espanhóis. Com um time bem comandado por Jürgen Klopp e acostumado às decisões, o Liverpool levava certo favoritismo, mas era muito difícil apostar contra o Real. Era a competição predileta do Rei. A que ele não perdia em finais desde exatamente 1981. Desde então, sete finais e sete títulos.
Mas, quando a bola rolou, parecia que o Liverpool iria acabar com aquela banca. Atacou, finalizou, chutou, criou. Mas o Real não deixava passar nada. Seu goleiro, Courtois, estava implacável. No primeiro tempo foram 10 chutes a gol do Liverpool e apenas um do Real. Cinco deles foram ao gol. Todos defendidos por Courtois. Era impressionante a fase do belga e o preparo mental do Real Madrid para suportar tanta pressão com uma calma descomunal. Nem parecia um jogo difícil. Na verdade, ele tornou fácil perto dos duelos nas semifinais e nas quartas de finais.
No segundo tempo, o Liverpool seguiu pressionando e disparou mais 13 chutes ao gol do Real. Quatro foram no gol. E todos defendidos por Courtois. Isso mesmo. Foram nove defesas cruciais, algumas à queima roupa e quase impossíveis. Naquela etapa, o Real deu apenas dois chutes ao gol. E um foi no gol. Aos 14’, Federico Valverde disparou pela direita e preparou o chute / cruzamento. Toda a marcação foi em cima dele. Se esqueceram de Vinícius Júnior… O brasileiro apareceu dentro da área, nas costas de Arnold, e mandou para o gol: 1 a 0.
Era o suficiente para o Real. Ao apito do árbitro, a Europa era merengue pela 14ª vez. Incríveis 14 títulos em 17 finais. O dobro de títulos do segundo colocado (Milan, com 7) no ranking de campeões. Última final perdida? Em 1981… Desde então, foram 8 finais. E 8 títulos. De todos os 14 títulos, aquele já estava alçado como um dos maiores de todos os tempos pela dramaticidade, pela loucura, pelas reviravoltas e por tudo o que aquele time provou e superou. Nunca uma camisa foi tão pesada e fez tanto a diferença.
Em 13 jogos, o Real Madrid venceu nove, perdeu quatro, marcou 29 gols e sofreu 14. Benzema, com 15 gols em 12 jogos disputados, foi o artilheiro implacável da competição e melhor jogador do torneio. Vinícius Júnior, com quatro gols e seis assistências, também apareceu como um dos principais nomes do time e foi eleito o melhor jogador jovem da competição. O técnico Carlo Ancelotti foi quem entrou ainda mais na história como primeiro técnico a vencer a UCL por quatro vezes na história (duas com o Milan e duas com o Real).
Como não poderia deixar de ser, Courtois ganhou o prêmio de Melhor Jogador da Final e foi eleito para o Time da Temporada ao lado de Modric, Benzema e Vinícius Júnior. A temporada 2021-2022 marcou o quarto “double” (Campeonato Espanhol + Liga dos Campeões) da história do Real Madrid – os outros foram em 1956-1957, 1957-1958 e 2016-2017. Em 56 jogos na temporada, o clube venceu 39, empatou oito, perdeu apenas nove, marcou 119 gols e sofreu 50, aproveitamento de 69,6%.
Imortalidade plena
Com novas contratações para a temporada 2022-2023 (menos Mbappé, que permaneceu no PSG) e a manutenção do técnico Carlo Ancelotti, o Real brigou por mais títulos e venceu a Supercopa da UEFA e o Mundial de Clubes, se consagrando como o maior campeão mundial e maior colecionador de taças internacionais, mas acabou eliminado na semifinal da UCL pelo Manchester City. Porém, é preciso um capítulo à parte da temporada 2021-2022 por tudo o que ela representou ao clube. Foi o auge de Benzema. O elixir de Vinícius Júnior. A consagração de Modric como provavelmente um dos mais brilhantes meio-campistas da história do Real Madrid. A consolidação de Courtois como um dos melhores goleiros deste século. A volta da mística do Santiago Bernabéu. A transformação de uma torcida antes tida como sem emoção em caliente. A volta por cima de uma lenda chamada Carlo Ancelotti. E a imortalidade plena de um clube que nasceu para as glórias, para o tudo. O Rei. Real Madrid Club de Fútbol.
Os personagens:
Courtois: ele chegou para suprir uma antiga lacuna do Real após a aposentadoria de Casillas, último goleiro “masterclass” do clube. E, jogo após jogo, o belga deu mais tranquilidade ao torcedor com grandes atuações. Mas foi na temporada 2021-2022 que o camisa 1 fez história. Com uma série de defesas impressionantes nos mais diversos jogos e muita regularidade, Courtois foi o emblema defensivo do Real e personagem de todos os grandes momentos do clube. E, na final da Liga dos Campeões, teve provavelmente a melhor atuação de um goleiro em uma decisão europeia na história. Entre 2018 e 2022, Courtois disputou 181 jogos pelo Real e acumulou 52 partidas só na temporada 2021-2022. Já está no rol de melhores goleiros do clube.
Carvajal: cria das canteras do Real, o espanhol passou um tempo no futebol alemão até retornar ao clube em 2013 e assumir de vez a lateral-direita. Muito bom nos passes e com bom papel tático, foi um dos mais importantes jogadores do time no período de ouro entre 2014 e 2018, mesmo sofrendo com lesões. Em 2021-2022, teve alguns problemas musculares, mas conseguiu jogar de maneira mais assídua na reta final da temporada e participou de 36 jogos, incluindo 11 dos 13 jogos do Real na Liga dos Campeões. Há anos é um dos mais regulares laterais do mundo e muito querido pela torcida. Já tem mais de 330 jogos pelo Real na carreira e é um dos seletos atletas do “clube dos 5”, com cinco títulos da UCL.
Lucas Vázquez: outra cria das bases, o arisco e rápido Vázquez mostrou sua polivalência ao atuar como lateral e também mais avançado, como meia e até atacante, ao longo da temporada. Foram 41 jogos disputados e três gols marcados.
Eder Militão: o brasileiro fez uma temporada memorável pelo Real Madrid após ficar mais na reserva nas épocas 2019-2020 e 2020-2021. Com muita velocidade, bom senso de colocação, agilidade e boa cobertura, Militão virou titular absoluto do técnico Ancelotti e disputou 50 jogos na temporada, marcando dois gols. Foi crescendo ao longo dos jogos e confirmou sua grande fase na carreira.
Nacho: polivalente do setor defensivo, pode jogar como zagueiro, lateral-esquerdo ou lateral-direito com muita eficiência e regularidade. Chuta bem, tem bom passe e é aplicado taticamente. Disputou 42 jogos na temporada e foi um dos mais importantes jogadores táticos do técnico Ancelotti, que diz que Nacho é o “defesa pessimista, que sempre acha que algo ruim pode acontecer”, destacando a concentração do espanhol em campo.
Alaba: o austríaco chegou já consagrado ao Real Madrid após anos e anos de glórias no Bayern München. E, com experiência e muita personalidade, fez uma grande dupla de zaga com Militão e arrumou o setor mesmo diante de adversários tão poderosos. Além disso, demonstrou grande carinho pelo clube e torcida, vibrando bastante na caminhada europeia. Brilhante temporada de estreia do craque, que disputou 46 jogos e marcou três gols.
Mendy: o setor mais frágil da defesa do Real Madrid foi o esquerdo. E isso se deve à queda de rendimento de Marcelo e também ao francês Mendy, que não foi tão regular e possibilitou muitos avanços dos rivais pelo setor. Por conta de uma lesão sofrida em outubro de 2021, o francês perdeu alguns jogos e, quando retornou, não rendeu tanto assim.
Marcelo: o brasileiro mais laureado da história do Real Madrid com 25 troféus terminou sua história impressionante pelo Real Madrid com mais títulos para a coleção. Ele não jogou como titular ao longo da temporada e disputou apenas 18 partidas, mas foi ele o capitão escolhido para erguer tanto La Liga quanto a Liga dos Campeões da UEFA, provas e reconhecimento às 16 temporadas disputadas pelo clube, aos 546 jogos, aos 38 gols e ao fato de ter sido um dos melhores laterais-esquerdos ofensivos do mundo principalmente entre 2013 e 2018. Na temporada 2023, foi para o Fluminense e venceu a Copa Libertadores.
Casemiro: técnico, exímio ladrão de bolas e protetor do meio de campo, Casemiro marcou seu nome no Real durante as conquistas das três UCL no período 2016-2018. Entretanto, a temporada 2021-2022 não foi uma das melhores do brasileiro em termos técnicos, mas ainda sim o volante disputou 48 jogos – 32 deles em La Liga – e ajudou o time em diversos momentos da temporada. Com a camisa merengue, Casemiro tornou-se um dos jogadores mais respeitados no futebol europeu e ídolo da torcida. Deixou o Real no início da temporada 2022-2023 para jogar no Manchester United. Foram 336 jogos, 31 gols e 18 títulos (!) pelo clube.
Luka Modric: o croata chegou ao Real lá em 2012 e ganhou o coração da torcida com atuações magistrais e um futebol de encher os olhos. Cerebral, rápido, com fôlego privilegiado, perigoso nos chutes, passador nato e ótimo tanto no apoio quanto na contenção, se transformou em um dos melhores jogadores do time no período e se consagrou com um dos maiores craques do planeta. Viveu em 2021-2022 uma temporada espetacular – até mais do que no ano em que venceu a Bola de Ouro, em 2018 -, com passes magistrais, atuações memoráveis e vibração contagiante. É um ídolo inquestionável e considerado por muitos um dos melhores meio-campistas da história do Real Madrid. Foram 45 jogos e três gols pelo clube na temporada.
Camavinga: foi um reserva de luxo do time e deu muita mobilidade e opções de contra-ataque, principalmente no mata-mata da Liga dos Campeões. Rápido, com grande visão de jogo e ótimo no desarme, foi uma contratação certeira do Real. Disputou 40 jogos e marcou dois gols na temporada.
Toni Kroos: o alemão teve uma temporada complicada por conta das lesões e da ascensão dos concorrentes Camavinga e Valverde. Porém, realizou grandes jogos e deu a tranquilidade que o torcedor já conhece há muito tempo enquanto esteve em campo. Disputou 45 jogos e marcou três gols. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Valverde: se recuperou de uma lesão e foi simplesmente crucial para as partidas eletrizantes do Real Madrid na reta final da temporada. Com um fôlego notável, a tradicional raça uruguaia, visão de jogo e velocidade, Valverde se encaixou perfeitamente no esquema tático de Ancelotti e compôs um trio ofensivo que sempre será lembrado pelo torcedor merengue. Foram 46 jogos e um gol na temporada.
Ceballos: outro que teve problemas com lesões e perdeu boa parte da temporada, disputando apenas 18 jogos. Pode jogar no meio de campo e também um pouco mais avançado, criando oportunidades de gol.
Asensio: no Real desde 2014 e presente no time multicampeão europeu de 2016-2018, Asensio foi uma peça importante para o setor ofensivo em La Liga, na qual marcou 10 gols em 31 jogos, alguns deles golaços. Deixou o clube para jogar no PSG.
Benzema: durante a Era Cristiano Ronaldo, Benzema foi um coadjuvante de luxo, porém decisivo, com gols e grandes jogos. Acontece que o francês não tinha o valor que merecia perto da badalação natural que existia diante de CR7. Quando o português se foi e o clube merengue viu a lacuna que ficou, Benzema assumiu todo aquele espaço e virou a principal referência madridista no ataque. E o fez de maneira histórica, arrebatadora. Foram 44 gols em 46 jogos, artilharias plenas de La Liga – 27 gols em 32 jogos – e da Liga dos Campeões – 15 gols em 12 jogos, uma das maiores médias da história do torneio – e atuações simplesmente inesquecíveis. Benzema viveu em 2021-2022 a melhor temporada da carreira. Provou de vez sua importância histórica ao Real Madrid. E virou mais um imortal do clube merengue. Ele se tornou o segundo maior artilheiro do clube com 323 gols (mesmo número do ídolo Raúl) em 605 jogos.
Vinícius Júnior: o atacante brasileiro foi sem dúvida alguma um furacão com a camisa madrilena na temporada. Com 22 gols em 52 jogos, diversas assistências, dribles, golaços e atuações dignas de um craque de longa data, Vinícius caiu nas graças do torcedor e provou ter um futebol primoroso que pode levá-lo ainda mais longe. Focado e determinado, teve o espaço que merecia, construiu uma parceria emblemática e perfeita com Benzema e ganhou confiança sob o comando de Ancelotti, que apostou na explosão do brasileiro na temporada. E que baita aposta! Seu gol na decisão da UCL só coroou um ano inesquecível. E bem diante dos olhares de Zidane, presente no Stade de France naquela final. Justo ele, que não deu oportunidades ao atacante no período em que treinou o Real pela segunda vez…
Rodrygo: por conta do bom futebol de Valverde, não conseguiu ser titular absoluto. Porém, quando jogou, foi decisivo e crucial para os títulos do Real. Contra o Sevilla, no jogo-chave para o título do Espanhol, jogou muito e ajudou o Real a vencer por 3 a 2. E, na UCL, foi o predestinado que mudou a história do duelo contra o Manchester City na partida angustiante do Bernabéu na semifinal, e também no gol da sobrevida do duelo contra o Chelsea, nas quartas. Foram 49 jogos e 9 gols marcados na temporada – cinco deles na Liga dos Campeões.
Carlo Ancelotti (Técnico): o trabalho de Carletto em 2021-2022 foi de renascimento e consagração definitiva. Depois dos fracos períodos no Napoli e no Everton, o italiano construiu no Real uma caminhada impressionante, emocionante, digna de livros e filmes, com um elenco unido, obstinado e concentrado. Ancelotti forjou um grupo competitivo ao extremo e que teve notas de vários esquadrões que ele já comandou. Golaços, aplicação tática, raça, crença na vitória até o último minuto, reservas decisivos, goleadores implacáveis, dribladores, vencedores. Uma síntese do que é Ancelotti e do que ele já construiu ao longo de uma carreira incontestável. Com mais uma UCL, ele é o técnico mais vencedor da história do torneio. O único com os cinco troféus das cinco principais ligas da Europa. E o 4º treinador com mais títulos na história do Real Madrid – 7 taças. Simplesmente imortal.
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