Nascimento: 20 de maio de 1981, em Móstoles, Madri, Espanha.
Posição: Goleiro
Clubes: Real Madrid-ESP (1999-2015) e Porto-POR (2015-2020).
Principais títulos por clubes: 1 Mundial de Clubes da FIFA (2014), 2 Mundiais Interclubes (1998 e 2002), 3 Ligas dos Campeões da UEFA (1999-2000, 2001-2002 e 2013-2014), 2 Supercopas da UEFA (2002 e 2014), 5 Campeonatos Espanhóis (2000-2001, 2002-2003, 2006-2007, 2007-2008 e 2011-2012), 2 Copas do Rei (2010-2011 e 2013-2014) e 4 Supercopas da Espanha (2001, 2003, 2008 e 2012) pelo Real Madrid.
1 Campeonato Português (2017-2018) e 1 Supertaça Cândido de Oliveira (2018) pelo Porto.
Principais títulos por seleção: 1 Copa do Mundo da FIFA (2010) e 2 Eurocopas (2008 e 2012) pela Espanha.
Principais títulos individuais e recordes:
Bravo Award: 2000
Goleiro Europeu do Ano: 2010
Melhor Goleiro do Mundo pela IFFHS: 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012
FIFA FIFPro World XI: 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012
Luva de Ouro da Copa do Mundo da FIFA: 2010
Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 2010
Eleito para o All-Star Team da Eurocopa: 2008 e 2012
Eleito para o Time do Ano da UEFA: 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012
Eleito para o Time do Ano da ESM: 2008
UEFA Ultimate Team All-Time XI: 2019
Golden Foot: 2017
Revelação do Campeonato Espanhol: 2000
Troféu Zamora: 2007-2008
Melhor Goleiro do Campeonato Espanhol: 2009 e 2012
La Liga Fair Play Award: 2012-2013
Primeira Liga Fair Play Award: 2017-2018
Melhor Goleiro do Campeonato Português: 2018-2019
Eleito para o time da temporada do Campeonato Português: 2018-2019
Quinas de Ouro Best XI: 2018-2019
Marca Fair Play Award: 2018
Goleiro com maior número de jogos sem levar gols por uma seleção: 102 jogos
Goleiro campeão de uma Copa do Mundo com menor número de gols sofridos: 2 gols, em 2010, recorde compartilhado com Gianluigi Buffon (pela Itália em 2006) e Fabien Barthez (pela França em 1998)
Goleiro com maior tempo sem levar gols na história da Eurocopa: 509 minutos
Goleiro com mais jogos sem levar gols na história da Eurocopa: 9 jogos entre 2004 e 2012, recorde compartilhado com o holandês Edwin van der Sar
Goleiro campeão com menor número de gols sofridos e que sofreu menos gols em uma edição de Eurocopa: 1 gol, em 2012
Recordista em jogos na Liga dos Campeões da UEFA: 177 jogos
2º jogador com mais vitórias na história da Liga dos Campeões da UEFA: 101 vitórias
Goleiro com maior número de jogos sem levar gols na história da Liga dos Campeões da UEFA: 57 jogos
Maior número de temporadas disputadas na história da Liga dos Campeões da UEFA: 20
Primeiro goleiro a vencer 100 jogos na história da Liga dos Campeões da UEFA
Goleiro mais jovem a disputar (e também vencer!) uma final de Liga dos Campeões da UEFA: 19 anos e quatro dias, em 2000
Goleiro que mais defendeu pênaltis na história da Liga dos Campeões da UEFA durante os tempos regulamentares: 7 de 23
Goleiro com mais títulos conquistados na história da Liga dos Campeões da UEFA: 3 troféus
Um dos 10 futebolistas com mais de 1000 jogos na carreira: 1119 partidas
Eleito para a Seleção dos Sonhos da Espanha do Imortais: 2020
Eleito para o Time dos Sonhos do Real Madrid do Imortais: 2021
“San Iker”
Por Guilherme Diniz
Foram seis anos de aperfeiçoamento até ser chamado pela primeira vez ao time profissional do Real Madrid. Com apenas 16 anos, lá estava ele no time principal. Com 19, lá estava ele em uma final de Liga dos Campeões da UEFA. Com 21, lá estava ele fazendo milagres após entrar no segundo tempo de uma decisão continental para garantir outra UCL ao Real em pleno ano do centenário merengue. Tempo depois, assumiu a braçadeira de capitão da Espanha. E, em 2008, venceu a Eurocopa com atuações sensacionais. Dois anos depois, ele evitou um gol certo da Holanda na final da Copa do Mundo. E levantou, com lágrimas na maior emoção de sua vida, o troféu que tanto sonhou sem levar um gol sequer na fase eliminatória. Ainda sedento por taças, venceu outra Eurocopa em 2012 levando apenas um gol em toda a campanha espanhola, um recorde. Aliás, ele sempre gostou de recordes. A Liga dos Campeões da UEFA virou sua vitrine, uma extensão de sua carreira. A Eurocopa, idem. E a Copa do Mundo também (com exceção da fatídica edição de 2014…).
Suas defesas, seus reflexos, seu arrojo para fechar o ângulo e não se importar em ir nos pés dos atacantes para agarrar a bola, seu senso de colocação e agilidade para realizar defesas sensacionais em segundos o transformaram em um dos maiores goleiros de todos os tempos e provavelmente no maior que a Espanha já teve. Tantos milagres canonizaram aquele homem de Móstoles em San Iker. Patrimônio do Real Madrid, da Espanha e do futebol. Iker Casillas Fernández, ou simplesmente Casillas, escreveu seu nome na história com profissionalismo, regularidade, títulos e recordes. Com uma enxurrada de prêmios individuais e números impressionantes como você pôde notar acima, o espanhol cravou seu nome entre os maiores goleiros do futebol com um estilo único de jogar, principalmente por crescer de maneira absurda em decisões, não importava o tamanho dela ou qual taça em disputa. Por isso que San Iker venceu simplesmente os maiores troféus que qualquer futebolista sonha em vencer. É hora de relembrar.
A “construção” em La Fábrica
Filho de José Luis Casillas, funcionário público no Ministério da Educação, e de María del Carmen Fernández González, cabeleireira, Iker Casillas nasceu em Móstoles, província de Madri, após seus pais saírem de Navalacruz, em Ávila, centro da Espanha. Apaixonado por futebol, Casillas desde pequeno gostou de jogar bola, mas seguindo o caminho preterido pela maioria dos garotos de sua idade: como goleiro. A escolha veio por causa de seu pai, que fora arqueiro na juventude e acompanhava todos os jogos do Campeonato Espanhol, além de apostar nos resultados da rodada do fim de semana na loteria. Certa vez, José Luis Casillas anotou os palpites de 14 jogos e deu para seu filho fazer a aposta. Mas Iker, com cerca de 8 anos de idade, se esqueceu de depositar os palpites… Adivinhe o que aconteceu? Casillas-pai acertou TODOS os resultados, mas como seu filho não foi à lotérica, de nada adiantou. Ele teria ganhado o equivalente a 1,2 milhão de euros (!) na época… iSanta Madre! O goleiro comentou sobre o ocorrido em entrevista ao The Guardian (UK), em 07 de junho de 2004.
“Nah, não foi grande coisa, apenas um pouco estúpido de minha parte (risos). Meu pai acertou todos os 14 resultados, perdendo apenas a partida bônus. Felizmente meu pai não me bateu, nada disso. O dinheiro teria sido útil, mas ele não fala mais sobre isso”.
Claro que aquilo mexeu com as “estribeiras” da família, mas não tanto, pois já aos 9 anos Iker Casillas foi levado pelo pai aos juvenis do Real Madrid – para ver se o filho iria vingar para retribuir sua “dívida”. Após algumas semanas de treinos, Casillas foi aprovado para jogar em La Fábrica, como é conhecido o sistema de formação de jogadores do clube merengue. Ele disputou na temporada 1990-1991 o Torneio Social, que era realizado anualmente pelo clube. Suas grandes atuações chamaram a atenção de Antonio Mezquita, figura importante que ajudou em seu desenvolvimento como profissional. Embora não fosse muito alto, Casillas compensava os centímetros a menos com uma agilidade impressionante, defesas seguras, rapidez no raciocínio e saídas arrojadas do gol. Corajoso, não se importava em dividir a bola com os atacantes e foi subindo de categoria rapidamente, jogando com os mais velhos e integrando equipes titulares nas mais diversas competições.
Após oito anos em La Fábrica, Casillas foi jogar no Real Madrid C e venceu a Nike Premier Cup como goleiro menos vazado, além do Mundialito da Bolívia. Mesmo ainda longe do time profissional, o jovem foi lembrado para as seleções de base da Espanha e faturou em 1997 o Campeonato Europeu Sub-16, e, em 1999, o Mundial Sub-20 (ao lado do meio-campista Xavi) mesmo com dois anos a menos do que o limite da categoria. Em 1997, com 16 anos, Casillas estava na escola quando foi urgentemente avisado que o técnico do Real Madrid na época, Jupp Heynckes, precisava de um goleiro para completar o elenco para uma partida contra o Rosenborg, na Noruega, pela Liga dos Campeões da UEFA. E o adolescente foi relacionado pela primeira vez no time principal do Real Madrid! No entanto, ainda não era a hora de ele estrear. Casillas ficou mais uma temporada no time C do Real até chegar a época 1999-2000, que seria definitiva para seu início entre os profissionais.
Garoto de estrela
No segundo semestre de 1999, o goleiro titular do Real, Bodo Illgner, sofreu uma lesão que o tirou de toda a temporada. Além dele, o argentino Albano Bizzarri também se lesionou, além de fazer jogos bastante irregulares. Tais casos abriram a oportunidade para Casillas, com apenas 18 anos, virar o titular do Real Madrid tanto na Liga dos Campeões quanto no Campeonato Espanhol. Iker estreou com a camisa merengue no dia 12 de setembro de 1999, no empate em 2 a 2 contra o Athletic Bilbao, fora de casa, em San Mamés, em La Liga. Era a maior mudança da carreira do jogador.
“Imagine a diferença: de três jornalistas cobrindo a partida (na época da terceira divisão), agora eram pelo menos 50. De jogar para 500 pessoas, agora jogava para 50 mil. Foi uma mudança brutal. […] É a maior memória do futebol que tenho.” – Iker Casillas, em entrevista ao site Goal, 12 de setembro de 2011.
Três dias depois do debute em La Liga, Casillas se tornou o mais jovem goleiro a disputar uma partida de Liga dos Campeões da UEFA na época, ao entrar em campo com 18 anos e 177 dias no empate em 3 a 3 contra o Olympiacos-GRE, também fora de casa. Em novembro de 1999, outro fator beneficiou o goleiro no Real: a chegada de Vicente Del Bosque ao comando técnico do clube, treinador que conhecia Casillas desde os tempos de juvenil e sabia de todo o potencial do goleiro. Dali em diante, o então camisa 27 disputou curiosamente 27 jogos em La Liga e 12 partidas na campanha do Real na Liga dos Campeões da UEFA. Os merengues conquistaram o título europeu com uma categórica vitória por 3 a 0 sobre o Valencia na decisão em Saint-Denis, na qual Casillas alcançou outro recorde: o de goleiro mais jovem a disputar e vencer uma final de Liga dos Campeões da UEFA: quatro dias após seu aniversário de 19 anos.
O título continental simbolizou não só a ascensão meteórica do jovem goleiro, mas também de talentos espanhóis da época como os atacantes Raúl e Morientes e o defensor Iván Helguera. Outros que também brilharam naquele esquadrão foram o brasileiro Roberto Carlos, o argentino Fernando Redondo e o inglês Steve McManaman. Após a conquista europeia, Casillas foi eleito o melhor futebolista jovem do ano pelo Guerin Sportivo e recebeu o prestigiado Prêmio Bravo, a primeira das muitas distinções individuais de sua carreira.
O ano de 2000 marcou também a estreia de Casillas com a camisa da seleção principal da Espanha, em um amistoso contra a Suécia, fora de casa (ele e sua sina de estrear longe do lar…), no dia 03 de junho, que terminou empatado em 1 a 1. No mesmo ano, o craque esteve no grupo espanhol que disputou a Eurocopa de 2000, como reserva de Santiago Cañizares. A Fúria tinha um bom time, com destaque para Helguera, Guardiola, Mendieta e Raúl, mas foi eliminada nas quartas de final para a futura campeã e quase imbatível França de Zidane, Henry, Deschamps e companhia nada limitada.
Na temporada 2000-2001, Casillas foi o titular absoluto do Real na campanha do título espanhol ao disputar 34 dos 38 jogos da equipe e sofrer apenas 37 tentos, além de permanecer 12 partidas sem sofrer gols – o clube merengue teve a 2ª melhor defesa da competição. Mas, como em toda afirmação, o jovem goleiro teria que superar alguns obstáculos.
Nasce San Iker
Tudo corria bem no início da temporada 2001-2002, marcada por ser a do centenário do clube madrileno – celebrado em 2002. Com um grande time e a manutenção de Vicente Del Bosque no comando técnico, a diretoria não esperava menos do que todos os títulos possíveis. Embora tenha vencido a Supercopa da Espanha ao derrotar o Real Zaragoza na decisão, a equipe não foi constante no Campeonato Espanhol, teve um péssimo início com apenas uma vitória nas primeiras seis rodadas e o título nacional ficou com o grande Valencia. Na Copa do Rei, a equipe também fracassou e perdeu o título em pleno Santiago Bernabéu para o Deportivo La Coruña, no icônico “Centenariazo”.
Àquela altura, além do torcedor, quem também não estava nada contente era Casillas, que frequentava o banco de reservas do time por conta de atuações medianas na primeira metade da temporada. Isso fez com que o jovem perdesse o posto para César Sánchez. Aquele foi, segundo o próprio Casillas alguns anos depois, seu pior momento no clube e o fez pensar até em deixar Madri. Mas o destino guardava algo especial ao jovem. Mesmo aquém das expectativas em casa, o Real Madrid fez bonito na campanha da Liga dos Campeões da UEFA, eliminou inclusive o rival Barcelona nas semifinais e garantiu uma vaga na decisão contra o Bayer Leverkusen-ALE de Ballack, Schneider, Lúcio e Oliver Neuville no lendário estádio Hampden Park, na Escócia.
Do banco, Casillas viu o artilheiro Raúl abrir o placar e gelou quando Lúcio empatou cinco minutos depois. Vibrou mais uma vez quando Zidane marcou um dos gols mais espetaculares da história do torneio, e, no segundo tempo, viu César se lesionar. Sem condições de continuar em campo, o goleiro obrigou Del Bosque a chamar Casillas. O placar estava 2 a 1, mas o Bayer chegava a todo momento no campo de defesa do Real. Ainda restavam 20 minutos de jogo. Era uma fogueira imensa, na qual o Real poderia cair e se queimar. Mas Casillas gostava daquilo. Jogo grande era com ele. E, com uma frieza impressionante, fechou o gol madrileno com defesas magistrais, três delas nos minutos finais e uma à queima roupa, fundamentais para o título europeu merengue em seu ano do centenário. A 9ª taça deveria ter o nome de Casillas, pois o que ele fez foi incrível. Veja abaixo:
Emocionado, Casillas festejou demais a conquista da nova Velhinha Orelhuda merengue. E não era para menos, afinal, aquele título com participação decisiva do camisa 1 marcava de vez sua importância ao clube. Ninguém deveria ser testado ou colocado no gol. A meta do Real Madrid tinha dono. Era de San Iker.
A primeira Copa
Embalado em 2002, Casillas viveu a expectativa de ser convocado para a Copa do Mundo da Coreia do Sul e Japão naquele ano. De fato, o técnico José Antonio Camacho levou o madrileno, mas a primeira opção na época para a titularidade era o valenciano Santiago Cañizares. No entanto, um episódio pitoresco beneficiou Casillas. Em maio de 2002, durante a preparação da Espanha antes da viagem ao Oriente, Cañizares estava em seu quarto de hotel em Jerez (ESP) quando um vidro de loção pós-barba (algumas fontes dizem que foi um vidro de perfume, mas não importa, foi bizarro do mesmo jeito!) caiu em seu pé-direito. Os estilhaços perfuraram seu tendão e o goleiro teve que ser cortado da Copa (!), além de passar por uma cirurgia (!!). Após saber do ocorrido, Casillas foi solidário ao companheiro:
“Foi um azar terrível para o Cañizares e eu certamente não estou feliz por ver um companheiro de seleção se lesionar. Mas o futebol é assim e agora o Ricardo, o Contreras (os outros dois convocados por Camacho) e eu vamos lutar por uma vaga e qualquer um de nós poderá ser escolhido”. – Iker Casillas, em entrevista à BBC (UK), 17 de maio de 2002.
Casillas venceu a disputa com os concorrentes e se tornou o goleiro mais jovem a assumir a titularidade de uma seleção entre todas as equipes da Copa de 2002, com 21 anos. E ele não decepcionou. Na primeira fase, a Espanha foi líder do Grupo B com três vitórias em três jogos ao superar Eslovênia (3 a 1), Paraguai (3 a 1) e África do Sul (3 a 2). Mas foi nas oitavas que a santidade de Casillas apareceu. Em um complicado duelo contra a Irlanda, a Espanha vencia o rival por 1 a 0 até os 45’ do segundo tempo quando um pênalti convertido por Robbie Keane decretou o empate e a ida à prorrogação. Após 30 minutos sem gols, a decisão da vaga foi para as penalidades. E, nela, Casillas defendeu os chutes de Connolly e Kilbane e a Espanha venceu por 3 a 2, garantindo uma vaga entre os oito melhores.
Mas, contra um dos anfitriões – a Coreia do Sul – a Fúria foi vítima de uma das piores arbitragens da história das Copas ao ter dois gols anulados – um no tempo normal e um Gol de Ouro na prorrogação. No gol, Casillas manteve a meta espanhola intacta e ainda fez uma grande defesa durante a partida em um chute à queima roupa:
Após o placar de 0 a 0 durante 120 minutos, a Coreia do Sul venceu nos pênaltis por 5 a 3 e eliminou a Espanha, garfada sem dó naquele jogo.
Auge e a glória na Euro
Ainda em 2002, Casillas venceu como titular seu primeiro Mundial de Clubes, na vitória por 2 a 0 sobre o Olimpia-PAR. Com o reforço de Ronaldo para o ataque, o Real continuava forte (a ponto de faturar La Liga), mas não o bastante para manter a coroa na Europa. Começaria naquela temporada 2002-2003 o jejum merengue de 12 anos sem vencer a Velhinha Orelhuda, amargo período no qual o clube teve que se acostumar com as boas fases do Milan de Shevchenko e Kaká, do Barcelona de Ronaldinho e de Messi e Guardiola, do Liverpool de Gerrard, do Manchester United de Cristiano Ronaldo, da Internazionale de Sneijder e Mourinho entre outros esquadrões. Esse período pós-2002 foi o estopim do projeto dos Galácticos e a megalomania do presidente Florentino Pérez, que não poupava esforços para contratar grandes nomes do futebol mundial, mas a maioria para o setor de ataque. Chegavam Beckham, Owen, Figo e Ronaldo, mas faltavam peças à altura para o meio de campo e principalmente para a defesa. Isso sobrecarregava demais a retaguarda merengue, e, consequentemente, Casillas.
Mas foi diante dessa dificuldade imposta pelo projeto do presidente Pérez que o camisa 1 se transformou em um dos maiores goleiros do mundo no período, principalmente entre 2003 e 2010. Com reflexos apurados, uma agilidade absurda e saídas precisas do gol, Casillas defendia demais mesmo quando seu time perdia e até quando era goleado. Um dos mais notáveis exemplos aconteceu em 2009, na Liga dos Campeões da UEFA, quando o Real Madrid foi atropelado por 4 a 0 pelo Liverpool em Anfield Road, mas Casillas foi imensamente elogiado pela quantidade de defesas épicas que realizou. Não fosse ele, o Real teria levado 7, 8 ou 9 gols. E isso não é exagero nenhum.
Nas temporadas 2006-2007 e 2007-2008, o goleiro foi fundamental para o bicampeonato espanhol do Real Madrid, com performances impecáveis, em especial na temporada 2007-2008, quando sofreu apenas 32 gols em 36 jogos e venceu o Troféu Zamora de Melhor Goleiro do Campeonato Espanhol. Durante a jornada 2007-2008, Casillas teve a melhor atuação da carreira (segundo o próprio) ao realizar um punhado de defesas (incluindo um pênalti) na vitória por 3 a 0 sobre o Athletic Bilbao, válido pela rodada 34 de La Liga. Após defender o pênalti, o público no Santiago Bernabéu gritou em uníssono “Iker, Iker, Iker”, reverenciando o craque.
Ao lado de Raúl, Casillas era um dos maiores ídolos do clube na época por ser cria das bases, ter enorme identificação com o Real e exibir seu perfeccionismo em campo, com vibração em cada defesa ou triunfo e total irritação quando a zaga falhava e ele tinha que apagar o incêndio causado por algum atacante sozinho na área.
Essa regularidade plena do camisa 1 foi tamanha que ele foi eleito seis vezes consecutivas para o Time do Ano da UEFA (2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012) e cinco vezes consecutivas o Melhor Goleiro do Mundo pela IFFHS (2008, 2009, 2010, 2011 e 2012), isso com vários titãs no páreo, entre eles o italiano Gianluigi Buffon. E curiosamente o campeão do mundo com a Itália em 2006 – ano em que Casillas foi novamente titular da Espanha na Copa do Mundo, mas nada pôde fazer para evitar a eliminação diante da França de Zidane nas oitavas de final – acabou ofuscado pelo talento de Casillas na Eurocopa de 2008.
Formada por uma geração talentosíssima e comandada pelo técnico Luis Aragonés, a Espanha buscava um troféu de grande porte que não aparecia desde 1964 pelas bandas rojas. E a ocasião não poderia ser melhor para Casillas, que assumiu a posição de capitão da seleção após a aposentadoria de Raúl da Fúria. Na fase de grupos, a Espanha venceu todos os jogos – 4 a 1 na Rússia, 2 a 1 na Suécia e 2 a 1 na Grécia – e Casillas levou apenas dois gols (ele foi poupado contra a Grécia). Nas quartas de final, a roja encarou a campeã do mundo Itália e o empate sem gols não saiu do placar tanto no tempo regulamentar quanto na prorrogação. Na disputa de pênaltis, Casillas mais uma vez cresceu e defendeu os chutes de Di Natale e De Rossi, garantindo a vitória por 4 a 2 e a classificação. Nas semis, vitória fácil sobre a Rússia (3 a 0) e duas grandes defesas de Casillas durante a partida. Na final, triunfo por 1 a 0 sobre a Alemanha, resultado que deu à Espanha sua segunda taça da Euro na história.
Logo em seu primeiro torneio como capitão da seleção, Casillas levantou o troféu e se tornou o primeiro goleiro-capitão a erguer a Eurocopa. De quebra, foi eleito o melhor arqueiro da competição. Foi um ano mágico para Casillas, que continuou pegando tudo para chegar tinindo em seu próximo (e imenso) desafio: a Copa do Mundo de 2010.
O mundo em suas mãos (e pés também!)
Após a Euro, Casillas seguiu absoluto na meta espanhola, e, em setembro de 2009, o craque superou Andoni Zubizarreta como goleiro com mais jogos sem levar gols na história da Espanha ao atingir 57 partidas sem buscar a bola dentro do gol em 98 jogos disputados – Zubizarreta alcançou 56 jogos sem levar gols com um número bem maior de jogos – 126 partidas. Dois meses depois, o capitão chegou à marca de 100 jogos com a camisa da Espanha e se tornou apenas o 3º com uma centena de partidas pela Fúria. Nas Eliminatórias para a Copa de 2010, Casillas levou apenas cinco gols nos 10 jogos da Espanha, que se classificou com sobras para o Mundial e 100% de aproveitamento, deixando para trás Bósnia e Herzegovina, Turquia, Bélgica, Estônia e Armênia. Comandada por Vicente Del Bosque, velho conhecido de Casillas nos tempos de Real Madrid, aquela seleção estava ainda mais forte e era uma das favoritas ao título. Capitão, Casillas soube controlar os ânimos de seus companheiros e o clima de rivalidade entre Barcelona e Real Madrid que poderia atrapalhar os vestiários, afinal, os clubes eram os principais “fornecedores” de atletas para a Espanha na Copa.
Mas a estreia da Fúria não foi nada boa: derrota por 1 a 0 para a Suíça, resultado que gerou dúvidas quanto ao futuro da equipe na competição e trouxe à tona os velhos fantasmas de Mundiais passados, com eliminações precoces e a fama de a equipe sempre morrer na praia. Mas aquilo não passou de um susto. As vitórias sobre Honduras (2 a 0) e Chile (2 a 1) classificaram a seleção ibérica para a etapa eliminatória, na qual Casillas iria provar sua enormidade debaixo da meta espanhola.
Nas oitavas, não levou gols e a Espanha venceu o clássico ibérico contra Portugal por 1 a 0. Nas quartas de final, confronto impróprio para cardíacos contra o Paraguai. O duelo foi equilibrado, mas com a Espanha tendo sempre maior posse de bola e as melhores oportunidades. Depois de um primeiro tempo morno, o segundo foi apoteótico. O Paraguai teve um pênalti a seu favor após falta de Piqué em Cardozo. O atacante paraguaio partiu para a bola e… Casillas defendeu! Tempo depois, foi a vez de a Espanha ter um pênalti a seu favor. Xabi Alonso bateu e marcou, mas o juiz mandou voltar. Na nova cobrança, Alonso bateu e… O goleiro Villar defendeu! O jogo parecia caminhar para a prorrogação, até que, aos 37’, o artilheiro David Villa encheu o pé após aproveitar um rebote de um chute na trave de Pedro e fez o gol da vitória.
Pela primeira vez desde a Copa de 1950, a Espanha estava em uma fase semifinal de Copa. O adversário seguinte foi a Alemanha, sensação daquele Mundial e vítima da Espanha na final da Eurocopa de 2008. Enfrentar os alemães em uma Copa é sempre tarefa ingrata, mas a Espanha soube neutralizar de maneira plena o rival e conseguiu fazer um time que jogava somente no ataque passar a maior parte do jogo recuado em sua defesa. Os espanhóis, mais uma vez, dominaram a partida, tiveram as melhores chances, mas… O gol não saía de jeito nenhum. Se o ataque não resolvia, foi um zagueiro quem colocou a Espanha na final. Aos 28´ do segundo tempo, Xavi cobrou escanteio e Puyol cabeceou para o fundo do gol do goleiro Neuer. A Espanha estava na final de uma Copa do Mundo pela primeira vez. Nunca um título mundial esteve tão perto. Aquela chance não podia ser desperdiçada de jeito algum. E Casillas sabia bem disso.
Na decisão contra a Holanda de Sneijder e Robben, a Espanha foi vítima de botinadas e muitas faltas dos holandeses, responsáveis pela final com maior número de cartões da história: 14, sendo 9 para a Holanda, além de um vermelho para o zagueiro Heitinga. A partida foi tensa, e, no segundo tempo, a Holanda teve a melhor chance do jogo. Aos 16’, Sneijder deu um passe em profundidade sensacional para Robben, que avançou livre em direção ao gol de Casillas. Era um contra um. A chance de abrir o placar, e, quem sabe, fazer o gol do título da laranja. No entanto, o atacante padeceu sob a presença de Casillas, que defendeu com os pés a tentativa de Robben. Foi o lance da partida. E uma das mais emblemáticas defesas da carreira do goleiro. Tempo depois, Robben teve outra chance, aos 38’, mas também foi interceptado pelo capitão espanhol, que comentou sobre os lances à FIFA TV.
“A primeira defesa foi a mais importante, claro, foi um mano a mano, e nos dois, três segundos antes do chute do Robben, muita coisa vem à sua cabeça. Eu tive que manter minha posição e tentar adivinhar como ele ia chutar. Claro que você tem que ter um pouco de sorte e o jeito que eu defendi não foi com minhas mãos, como eu costumava fazer, mas com os pés. Na segunda grande chance do Robben, ele conseguiu escapar do Puyol e do Piqué e eu tive que tentar agarrar a bola em um momento no qual ele não estivesse com total controle da bola. Consegui encontrar o momento certo e fiz a defesa”. – Iker Casillas, em entrevista à FIFA TV.
A partida foi para a prorrogação, e, faltando poucos minutos para o fim, Iniesta fez o gol emblemático que deu o título mundial à Espanha pela primeira vez. Ao apito do árbitro, a consagração de Casillas estava completa: melhor goleiro da Copa, vencedor da Luva de Ouro, eleito para o All-Star Team e terceiro goleiro-capitão a erguer a maior das taças na história, repetindo os italianos Gianpiero Combi (em 1934) e Dino Zoff (em 1982) – o francês Hugo Lloris também entraria para o grupo em 2018. A emoção de Casillas era evidente após o título. Sem segurar as lágrimas, o camisa 1 ergueu aos prantos a taça, em um dos momentos mais emocionantes das Copas.
“Chorar é chorar de alegria. Chorar é por cumprir um sonho de pequeno, por demonstrar que a Espanha podia, sim, ganhar um Mundial”, comentou o goleiro ao Diário Marca. Durante a celebração ainda no estádio Soccer City, ele não escondeu a alegria ao ser entrevistado pela namorada (hoje esposa), a repórter Sara Carbonero, e a beijou ao vivo diante das câmeras.
Aquele gesto foi também um desabafo do goleiro, criticado injustamente após a derrota na estreia diante da Suíça pelo fato de sua namorada estar atrás do gol naquela partida e supostamente ter tirado sua concentração. Nada como um dia após o outro. E nada como um título mundial para calar os corneteiros e “bestões” de plantão. “Fiquei muito incomodado com o que estavam falando e por isso dei o beijo. Fico muito contente por ela, por tudo que ela sofreu nessa Copa do Mundo. Às vezes o futebol é justo e prova que muita gente estava errada”, comentou o goleiro na época.
E a coleção só aumenta
Após o Mundial, Casillas voltou suas atenções ao Real Madrid, pelo qual venceu o Campeonato Espanhol de 2011-2012, a Copa do Rei de 2010-2011 e a Supercopa da Espanha de 2012. As taças serviram para amenizar a frustração de não conseguir sucesso no âmbito internacional, culpa do Barcelona de Guardiola, que vivia seu auge e dava um trabalho danado ao goleiro espanhol em clássicos eletrizantes e bastante tensos. Essa rivalidade acabou chegando à seleção e o técnico Vicente Del Bosque teve que tornar público uma diretriz: se algum jogador levasse aquele clima hostil da rivalidade entre catalães e madridistas para a seleção, ele seria cortado da equipe espanhola, fosse amistoso, fosse competição oficial. Isso fez com que Casillas, Xavi e Puyol organizassem reuniões entre Del Bosque e os jogadores para amenizar aquele clima para manter o foco da seleção, que iria disputar a Eurocopa de 2012 como detentora do título e franca favorita. Casillas comentou sobre esse período, em especial em 2011, quando os rivais se enfrentaram quatro vezes em apenas 18 dias.
“Não estávamos preparados para jogar quatro clássicos num mês. Havia muita tensão, muita loucura. A rivalidade ficou enredada e exacerbada pela questão da independência catalã e a certa altura parecia ser mais política do que futebol. Tudo o que eu queria era não jogar mais lenha na fogueira, por isso, tinha de fazer as coisas para agradar a todos”. – Iker Casillas, em entrevista ao The New York Times (EUA) e reproduzida no jornal Record (POR), 15 de outubro de 2020.
A união dos jogadores e a liderança de Casillas deram resultado. Na competição continental, a Espanha sobrou, avançou em primeiro lugar no Grupo C com duas vitórias (4 a 0 sobre a Irlanda e 1 a 0 sobre a Croácia) e um empate (1 a 1 contra a Itália), passou pela França nas quartas de final (2 a 0) e por Portugal nas semis (empate em 0 a 0 e triunfo nos pênaltis por 4 a 2, com outra defesa de Casillas). Na decisão, contra a Itália, uma ode ao futebol bem jogado daquela Espanha: goleada de 4 a 0 e bicampeonato consecutivo à Fúria. Casillas ergueu mais uma vez o troféu e quebrou o recorde de minutos sem levar gols em uma Eurocopa: 509 minutos. Ele sofreu apenas um gol naquela Euro, na estreia, e passou intacto até o fim. Até o goleiro italiano Buffon se rendeu ao talento do espanhol.
“Honestamente, não preciso usar muitas palavras para dizer o quão bom ele é, os resultados estão à vista de todos. Ele ganhou tudo o que há para ganhar e está no mesmo nível há muito tempo, o que é bem difícil para um goleiro. A Espanha quase nunca sofre gols e Casillas é a principal razão para isso”. – Gianluigi Buffon, em entrevista ao site da UEFA, 30 de junho de 2012.
Não havia ninguém melhor do que ele naquela época. O mundo estava aos pés de Casillas.
La Décima e o pesadelo no Brasil
Entre 2013 e 2014, Casillas viveu momentos bons e outros complicados. Primeiro, o camisa 1 passou a conviver de maneira nada amistosa com o técnico português José Mourinho, que sacou o goleiro de alguns jogos no final de 2012 e início de 2013. Para piorar, o espanhol sofreu uma fratura na mão e Mourinho pediu a contratação de outro goleiro (Diego López). Mesmo após retornar de lesão, Casillas continuou no banco até o fim da temporada 2012-2013, algo que gerou críticas até mesmo de companheiros de Casillas na seleção, como Iniesta. O camisa 1 só retornaria após a saída de Mourinho e a chegada de Carlo Ancelotti, que manteve o goleiro como titular nas partidas da Copa do Rei e da Liga dos Campeões da UEFA e Diego López nos compromissos do Campeonato Espanhol.
Essas escolhas aconteceram muito por conta de outra lesão que Casillas sofreu naquela temporada, além de uma visível queda de rendimento do camisa 1, que perdera a agilidade característica de seus anos de ouro e não saía mais tanto do gol como antes. Mas o goleiro alcançou uma incrível marca de 952 minutos sem sofrer gols, com destaque para os oito jogos sem ser vazado na campanha do Real Madrid até a final da Copa do Rei de 2013-2014. Na decisão, o Real venceu o rival Barcelona por 2 a 1 e faturou o título. Mas a cereja do bolo foi na Liga dos Campeões. Casillas levou apenas cinco gols em seis jogos na primeira fase, só foi vazado quatro vezes nos seis jogos da fase de mata-mata e ajudou o Real a vencer a 10ª Velhinha Orelhuda de sua história ao bater o Atlético de Madrid por 4 a 1 na final de Lisboa. Foi a primeira Liga dos Campeões erguida por Casillas como capitão do Real Madrid e a primeira do clube desde o título de 2002.
Se por um lado Casillas reviveu o caminho das glórias pelo Real, o capitão passou a conviver com a falta delas vestindo a camisa da seleção. Em 2013, embora favorita, a Espanha perdeu a Copa das Confederações para o Brasil. E, em 2014, Casillas viu sua equipe ser eliminada ainda na primeira fase da Copa do Mundo após duas derrotas e uma vitória. A queda precoce foi decisiva muito por conta da sacolada sofrida para a Holanda por 5 a 1 logo na estreia, com falhas de Casillas nos gols do zagueiro De Vrij e no segundo tento do atacante Van Persie, e show de Robben, que se “vingou” de seu algoz de 2010 com dois gols naquele jogo. Após o revés para o Chile, o goleiro disse: “é difícil explicar o que acontece. Peço perdão aos torcedores. Não conseguimos. Não tivemos sorte e também não estivemos bem”.
A participação pífia da Espanha no Mundial do Brasil começou a determinar o fim da trajetória de Casillas como titular da seleção. Ele passou a ser a segunda opção da equipe, perdendo a vaga para David De Gea. Na Euro de 2016, o goleiro foi convocado, mas não atuou em nenhuma partida. Seu último jogo pela Espanha foi um amistoso contra a Coreia do Sul em junho de 2016, vencido por 6 a 1. Ele deixou a Fúria com um retrospecto impressionante: 167 jogos, 121 vitórias, 27 empates, 19 derrotas, 103 gols sofridos (média de 0,61 gol sofrido por jogo) e aproveitamento de 80,5%.
Volta por cima no Porto
Passado o pesadelo da Copa, Casillas assumiu a titularidade do Real Madrid em mais duas conquistas: a Supercopa da UEFA de 2014 e o Mundial de Clubes da FIFA de 2014, com triunfos sobre Sevilla-ESP (2 a 0) e San Lorenzo-ARG (2 a 0), respectivamente. O duelo contra os argentinos foi mais especial pelo fato de Casillas chegar à marca de 700 jogos com a camisa do Real Madrid. Naquela temporada 2014-2015, porém, o goleiro e seu Real não venceram mais nenhum troféu – os principais ficaram com o Barcelona do trio MSN – e o goleiro decidiu mudar de ares. Após muita especulação, Casillas assinou contrato com o Porto-POR, e revelou o motivo pelo qual decidiu encerrar sua trajetória em Madri.
“Precisava de um pouco de paz, de ficar calmo para voltar a aproveitar novamente. […] Não gostava de me ver na imprensa todos os dias, nem no meio de certas discussões. A melhor opção era ir embora. Mesmo sendo o lugar onde cresci, que foi a minha casa, o lugar onde muita gente sofreu comigo. Eu não queria essa angústia”. – Iker Casillas, em entrevista ao The New York Times (EUA) e reproduzida no jornal Record (POR), 15 de outubro de 2020.
O goleiro também se sentiu abandonado pelo presidente Florentino Pérez, bastante criticado pela maneira como conduziu a saída de Casillas do clube, recebendo até pedidos para renunciar à presidência por grande parte da torcida pela falta de zêlo à história do goleiro, sem nenhuma grande homenagem nem partida de despedida.
Já em Portugal, Casillas continuou a quebrar recordes como o jogador com mais jogos na história da Liga dos Campeões da UEFA e também o goleiro com mais partidas sem sofrer gols na competição. Após um início conturbado, o goleiro deu a volta por cima com grandes defesas e atuações que lembraram seus melhores anos pelo Real, garantindo ao Porto o título do Campeonato Português em 2017-2018, além de o goleiro ter sido eleito o melhor jogador do clube em 2018. Na temporada 2018-2019, Casillas foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Português, foi eleito para o time do ano do torneio e ganhou ainda o prêmio Quinas de Ouro. Com 37 anos, o espanhol parecia seguir o caminho do italiano Buffon e seguir atuando até pelo menos os 40 anos. Mas um susto iria abreviar a carreira do camisa 1.
Ouvindo o coração
Em maio de 2019, Casillas sofreu um infarto no miocárdio durante um treino no Porto e foi encaminhado com urgência ao hospital, onde teve que passar por uma cirurgia de cateterismo. O rápido atendimento dos médicos do clube ao goleiro foi crucial para salvar sua vida. Ele permaneceu cinco dias internado até ser liberado sem sequelas, mas com a incerteza sobre seu futuro no futebol. Após um tempo, o camisa 1 assumiu brevemente uma função diretiva no Porto, auxiliando na ligação entre jogadores, treinador e direção. Ele voltou a treinar seis meses depois, sem grandes esforços, e o Porto deu total apoio ao espanhol, sem pressioná-lo em sua volta e zelando por sua recuperação plena. No entanto, o goleiro decidiu pendurar as luvas e não arriscar. Com isso, em agosto de 2020, Casillas anunciou sua aposentadoria do futebol aos 39 anos. Em sua rede social, o goleiro disse:
“Um dia difícil, mas não um dia triste, pois me considero um afortunado por ter chegado até aqui. E não me refiro a títulos, mas sim a parte humana. O importante é o caminho que você percorre e as pessoas que o acompanham, não o destino para onde o leva, porque isso com trabalho e esforço vem sozinho e acho que posso dizer, sem hesitar, que esse foi o caminho e o destino dos sonhos”.
Em 156 jogos pelo Porto, Casillas sofreu 119 gols, outra vez uma média inferior a um gol por partida. O goleiro foi homenageado pelo Dragão e virou um dos grandes ídolos do clube mesmo no curto período em que esteve vestindo o azul e branco. Hoje, o espanhol segue no mundo esportivo como conselheiro do Real Madrid, mas sempre avesso aos holofotes por ser bastante reservado.
Para sempre na história
Com números impressionantes, títulos incontestáveis e recordes, Iker Casillas conseguiu cravar seu nome como o maior goleiro da história da Espanha e do Real Madrid, reconhecido por todos em seu país e superando inclusive Ricardo Zamora, tido por muito tempo como o maior da história espanhola. Com um estilo de jogo único, “paradas” sensacionais e perito em jogos decisivos, Casillas foi o santo que ajudou a Espanha a destroçar jejuns, espantar fantasmas e espíritos zombeteiros que tanto perambulavam pelo país e impediam a conquista de grandes títulos. Com seus milagres, vieram duas Eurocopas e uma Copa do Mundo, divisores que mudaram para sempre a história do futebol espanhol e consagraram San Iker. Um craque imortal.
Números de destaque:
Disputou 725 jogos, sofreu 750 gols e permaneceu 264 jogos sem levar gols pelo Real Madrid.
Disputou 167 jogos, sofreu 103 gols e permaneceu 102 jogos sem levar gols pela seleção da Espanha.
Disputou 156 jogos, sofreu 116 gols e permaneceu 74 jogos sem levar gols pelo Porto.
Disputou 1048 jogos na carreira (contando apenas como profissional, sem as partidas por seleções de base). Desses, foram 440 jogos sem levar gols.
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