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Craque Imortal – Butragueño

Foto: Acervo FIFA / Getty Images.
Butragueño

 

 

Nascimento: 22 de Julho de 1963, em Madri, Espanha.

Posição: Atacante

Clubes: Real Madrid-ESP (1984-1995) e Atlético Celaya-MEX (1995-1998).

Principais títulos por clubes: 2 Copas da UEFA (1984-1985 e 1985-1986), 6 Campeonatos Espanhóis (1985–1986, 1986–1987, 1987–1988, 1988–1989, 1989–1990 e 1994–1995), 1 Copa Iberoamericana (1994), 2 Copas do Rei (1988-1989 e 1992-1993), 1 Copa da Liga Espanhola (1985) e 4 Supercopas da Espanha (1988, 1989, 1990 e 1993) pelo Real Madrid.

Principais títulos individuais e Artilharias: 

Chuteira de Prata da Copa do Mundo da FIFA: 1986 (5 gols)

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA de 1986

Bravo Award: 1985 e 1986

3º colocado no Ballon d’Or: 1986 e 1987

Artilheiro do Campeonato Espanhol – Troféu Pichichi: 1990-1991 (19 gols)

FIFA 100: 2004

8º Maior Artilheiro da história da seleção da Espanha: 26 gols em 69 jogos

 

 

“El Buitre”

 

Por Guilherme Diniz

 

Durante a década de 1980 e parte dos anos 1990, os principais estádios da Europa e, em especial, o Santiago Bernabéu, viram o auge de um jogador de visão apurada e que costumava rodear a área adversária em busca de alimento. Quer dizer, de gols. Ele parecia um abutre, El Buitre, mas era na verdade Emilio Butragueño Santos, um dos maiores atacantes da história do Real Madrid e principal responsável pelo clube merengue ganhar quase tudo nos anos 1980 e não ter rivais à altura no futebol espanhol. Butragueño foi a estrela maior de uma geração de futebolistas conhecida como La Quinta del Buitre e encantou os torcedores com sua habilidade, enorme sorte para marcar gols ou para dá-los aos companheiros. Capaz de improvisos sensacionais e autor de gols decisivos pelo Real, Butragueño brilhou também pela seleção da Espanha, sendo um dos principais artilheiros da Fúria e carrasco da Dinamarca na Copa do Mundo de 1986. É hora de relembrar.

 

Do basquete ao futebol

Foto: omniafootball.it

 

Filho de um sócio e fanático torcedor do Real Madrid, Butragueño nasceu em julho de 1963 e no dia seguinte ao seu nascimento já era sócio de carteirinha do clube merengue. Como não poderia deixar de ser, cresceu apaixonado pelos esportes, mas a bola que despertou a primeira paixão do jovem foi a de basquete, com a qual jogou durante três anos como armador no time do Colegio Calasancio de Madrid de los Padres Escolapios, além de jogar também no Real Club Deportivo Casariche Balompié. Em julho de 1980, seu pai tentou convencer o filho a ingressar no time de juniores do Real Madrid, mas Butragueño não foi aprovado na primeira peneira. O garoto foi fazer um teste no rival, o Atlético de Madrid, e aí sim conseguiu ser aprovado, mas o pai de Butragueño não queria ver o filho com a camisa colchonera. Por isso, conseguiu outro teste para o filho e, aí sim, o jovem foi aprovado graças ao relatório técnico que dizia: “Tecnicamente, domina bem a bola com as duas pernas, em especial a direita. No posto de meio-campista, vê o jogo com uma facilidade assombrosa”.

Butragueño e Di Stéfano: lendas merengues.

 

Quando começou a treinar no Castilla, o time B do Real, Butragueño ia de moto para chegar mais cedo e não perder tempo nos ônibus. Porém, tal meio de locomoção foi vetado tempo depois por Alfredo Di Stéfano, técnico do Real Madrid na época e que aconselhou o jovem a largar a moto para não se acidentar e pôr em risco seu futuro no futebol. Muito focado e jogando bem, ele ajudou o Real Madrid B a vencer o título espanhol da Segunda Divisão de 1983-1984, algo inédito e jamais igualado por outra equipe reserva de um clube espanhol. Butragueño foi o vice-artilheiro do torneio com 21 gols em 21 jogos, dois a menos que Julio Salinas, do Bilbao Athletic, que anotou 23. 

O quinteto do abutre: Butragueño, Pardeza, Míchel, Sanchís e Martín Vázquez.

 

Naturalmente, o Castilla não pôde subir de divisão pelo fato de o Real Madrid principal já estar na primeirona. No entanto, a base daquele time campeão seria muito bem aproveitada pelo técnico Alfredo Di Stéfano. Cinco jogadores em especial ganharam a atenção da diretoria do clube após o jornalista Julio César Iglesias escrever um artigo no jornal “El País” batizando o time campeão de “La Quinta del Buitre”, referência aos talentos Manolo Sanchís, Miguel Pardeza, Míchel, Rafael Martín Vázquez e o tal de buitre Emilio Butragueño, que já ostentava o apelido de abutre por ter “uma visão apurada e rodear o campo em busca de gols”. 

Muito bem treinados, os cinco craques foram levados para o time principal e devidamente lapidados por Di Stéfano, que foi escalando os jovens aos poucos no time titular, que já tinha nomes como Miguel Ángel, Chendo, Camacho, Gallego, Stielike, Juanito e Santillana. Com média de idade abaixo dos 21 anos, cheios de vitalidade e gana para vencer, o quinteto deu a juventude e força que tanto o Real Madrid precisava para retomar o caminho das glórias e voltar a ser o soberano do país. O retorno das taças pelas bandas do Santiago Bernabéu era apenas uma questão de tempo.

 

Nascido para brilhar

Em pé: Chendo, Buyo, Míchel, Tendillo, Gordillo e Camacho. Agachados: Butragueño, Hugo Sánchez, Sanchís, Martín Vázquez e Gallego (Imago).

 

Se existe uma estreia perfeita, podemos dizer que foi a de Butragueño no time principal. Em fevereiro de 1984, o time merengue enfrentava o Cádiz, fora de casa, e perdia por 2 a 0 ao final do primeiro tempo. Precisando de uma revigorada no time, Di Stéfano decidiu colocar Butragueño na etapa complementar. E o garoto simplesmente destruiu: marcou dois gols e deu o passe para o terceiro gol, que decretou a vitória de virada por 3 a 2. Vestindo a camisa 14, a mesma de seu ídolo no futebol, Johan Cruyff, Butragueño foi de vez para as manchetes dos jornais e registrou naquelas primeiras três temporadas pelo clube (Castilla + time principal) um total de 40 gols em 79 jogos. Na época, Di Stéfano foi categórico para definir o jogador: “esse tipo tem o gol no corpo”.

Foto: Acervo Real Madrid

 

Na temporada 1984-1985, Butragueño se consolidou em definitivo como titular da equipe e foi um do destaques do time campeão da Copa da UEFA. Seu debute na campanha foi diante do Anderlecht-BEL, nas oitavas de final, no Santiago Bernabéu. Os merengues haviam perdido a dia por 3 a 0 e precisavam de um verdadeiro milagre para seguir na competição. E El Buitre tratou de chamar para si a responsabilidade e comandou um verdadeiro passeio do Real pra cima dos belgas: 6 a 1, com três gols do atacante, um de Sanchís e dois de Valdano. Nas quartas, os espanhóis eliminaram o Tottenham-ING, para na sequência despacharem a Internazionale-ITA na semifinal. Na final, o título veio diante do Videoton-HUN após vitória por 3 a 0 em casa e derrota por 1 a 0 fora. 

Ainda em 1984-1985, Butragueño fez seu debute na seleção principal da Espanha e marcou um gol na vitória por 3 a 0 sobre País de Gales, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1986. A ótima estreia fez dele presença constante na equipe e o jovem ajudou a Espanha a carimbar sua vaga no Mundial do México. A partir da temporada 1985-1986, o Real Madrid ganharia ainda outro apelido: La Quinta de los Machos, pelo fato de a garotada merengue já ter a experiência necessária para brigar pelo título do campeonato nacional e por outras façanhas. 

 

De fato, o time realmente venceu La Liga com um ataque devastador e entrosado, após 26 vitórias, quatro empates e apenas quatro derrotas em 34 partidas, com 83 gols marcados (melhor ataque) e 33 sofridos. Hugo Sánchez foi o artilheiro do torneio com 22 gols marcados em 33 jogos, seguido do também madrileno Jorge Valdano, com 16. Butragueño anotou 10 gols em 31 jogos. Durante a competição, o Real venceu todos os 17 jogos disputados em sua casa (!).

 

O destruidor da Dinamáquina

Após o título nacional, Butragueño foi com o moral nas alturas para a disputa da Copa do Mundo. Ele era um dos destaques do bom time comandado por Miguel Muñoz, que tinha também nomes como o goleiro Zubizarreta, o lateral Camacho, o defensor Chendo, os meio-campistas Gallego e Míchel e o atacante Julio Salinas. Na primeira fase, a Espanha perdeu para o Brasil por 1 a 0, mas se recuperou e venceu a Irlanda do Norte por 2 a 1 (um gol de Butragueño) e derrotou a Argélia por 3 a 0, resultados que classificaram o time ibérico para as oitavas de final. O adversário foi a Dinamarca, sensação daquela Copa e conhecida como Dinamáquina por causa dos resultados expressivos que conseguiu na fase de grupos – 1 a 0 na Escócia, 6 a 1 no Uruguai e 2 a 0 na Alemanha. Os dinamarqueses eram imensos favoritos. Só que foram vítimas do Buitre…

Butragueño em ação contra o Brasil, de Sócrates. Foto: omniafootball.it

 

Butragueño só não fez chover naquela tarde em Querétaro. Olsen até abriu o placar para a Dinamarca, aos 33’, de pênalti, mas Butragueño empatou, aos 43’. No segundo tempo, aos 11’, ele fez 2 a 1. Goikoetxea fez 3 a 1, de pênalti, e Butragueño fez seu terceiro gol aos 35’. Aos 43’, Butragueño, de pênalti, fechou a goleada de 5 a 1 que classificou a Espanha para as quartas de final. Naquele dia, o craque se tornou um dos raros jogadores a marcar quatro gols em um só jogo de Mundial e o primeiro a atingir o feito desde os quatro gols de Eusébio nos 5 a 3 de Portugal sobre a Coreia do Norte na Copa de 1966.

El Buitre assombrou a Dinamarca! Foto: As

 

Na etapa seguinte, porém, a Espanha não conseguiu superar a forte Bélgica e, após 1 a 1 no tempo normal, os belgas venceram nos pênaltis por 5 a 4. Com cinco gols, El Buitre foi um dos artilheiros da Copa, ganhou a Chuteira de Prata e foi eleito para o All-Star Team do Mundial. Para coroar um ano mágico, o espanhol ainda ficou em 3º lugar na premiação do Ballon d’Or, sendo o primeiro espanhol a aparecer entre os três primeiros desde o prêmio vencido por Luis Suárez Miramontes em 1965. Butragueño seria o 3º colocado na premiação também em 1987.

 

Colecionando troféus

Brilhar na Copa elevou demais a condição de Butragueño no futebol. Inteligente, com ampla visão de jogo, criativo e driblador, ele foi um símbolo de uma mudança pela qual o próprio futebol do país passou naquela época, saindo de um profundo ostracismo no cenário internacional e que iria culminar na ascensão da seleção a partir dos anos 1990, em especial após o ouro olímpico de 1992. Ficou cada vez comum, também, o recurso que Butragueño utilizava para superar os rivais perto da área, quando ele dominava a bola e ficava parado, hipnotizando o rival até chegar o momento de arrancar ou dar o passe para o companheiro. El Buitre era o tão falado “falso 9”, que rodeava a área para dar assistências, marcar seus gols ou atrair a marcação.

Com Hugo Sánchez como companheiro ideal, Butragueño ajudou o Real Madrid a vencer outra Copa da UEFA em 1985-1986 e iniciar a dinastia de cinco troféus seguidos em La Liga entre 1985-1986 e 1989-1990. A única grande taça que escapou do craque na época foi a Liga dos Campeões da UEFA, na qual o Real acabou eliminado em três semifinais seguidas: 1987 (para o Bayern), 1988 (para o campeão PSV) e 1989 (para o campeão Milan, na sapatada de 5 a 0 dos rossoneros em Milão). 

Das três eliminações, além da contra o Milan, a queda diante do PSV foi bastante doída para o torcedor pelo fato de o time merengue ter empatado em 1 a 1 jogando em casa e em 0 a 0 fora, o que classificou os holandeses graças ao critério do gol fora. No jogo em Eindhoven, o Real perdeu duas grandes chances no final da partida com o próprio Butragueño (de cabeça) e em uma bicicleta de Hugo Sánchez que Van Breukelen defendeu espetacularmente – aliás, o goleiro holandês pegou até pensamento naquela noite… O jejum na principal competição do continente só iria acabar em 1998, na geração de Raúl e companhia.

Falando em Hugo Sánchez, a parceria de Butragueño com o mexicano foi uma das mais notáveis da história do futebol no século XX, assim como tantas outras duplas memoráveis do esporte – nos sete anos em que jogaram juntos, a dupla foi responsável por 43% dos gols do Real Madrid! Praticamente a metade! Porém, a amizade nunca se estendeu para fora dos gramados, apenas dentro dele, como o próprio Butragueño admitiu em 1991, em entrevista publicada no thesefootballtimes.co: “Não tenho nenhuma relação com Hugo fora de campo, mas também não tive problemas com ele, nem houve ciúmes. Meu relacionamento mais íntimo com ele foi no campo de futebol.”

 

De volta ao México e aposentadoria

Foto: omniafootball.it

 

Nos anos 1990, Butragueño começou a jogar menos no Real Madrid e viu seu espaço começar a minar com a ascensão do novato Raúl González. Já sem lugar, também, na seleção – ele ainda disputou a Copa do Mundo de 1990, mas sem brilhar – o atacante decidiu deixar o Real em 1995 e aceitou um convite do Atlético Celaya, do México, e foi jogar no país onde ele era muito querido por conta do desempenho na Copa de 1986. Por lá, Butragueño reencontrou seus ex-companheiros de Real, Hugo Sánchez e Míchel, e fez um Campeonato Mexicano estrondoso em 1995-1996, quando anotou 17 gols em 34 jogos e ajudou o Atlético a disputar sua primeira final na competição. Os toros, porém, acabaram perdendo o título para o Necaxa por causa do critério de gol fora na final – 1 a 1, em casa, e 0 a 0, fora. 

Míchel, Butragueño e Hugo Sánchez. Foto: Santos Sacrilegios.

 

Butragueño foi uma celebridade no México e ganhou a simpatia de todos por seu conhecido cavalheirismo dentro e fora de campo – ele nunca foi expulso em sua trajetória profissional. O espanhol disputou mais duas temporadas no clube, com destaque para a época 1997-1998, quando marcou 10 gols em 31 jogos, até decidir se aposentar em 1998. Depois de pendurar as chuteiras, seguiu com laços no México, onde aparece para compromissos esportivos e trabalhou como comentarista para a Televisión Azteca durante a Copa do Mundo de 2010, curiosamente vencida pela Espanha. Butragueño também trabalhou no corpo diretivo do Real Madrid por muitos anos, chegando à vice-presidência. Atualmente, é membro da área de relações públicas do clube merengue.

Foto: Acervo Real Madrid.

 

Com uma carreira brilhante e idolatria tanto em Madri quanto no México, Emilio Butragueño foi sem dúvida um dos mais talentosos atacantes de seu tempo e um dos mais técnicos que a Espanha já produziu. Com gols, passes, jogadas brilhantes e entrega em campo, El Buitre foi um símbolo de uma era, o cavalheiro dos gramados e gigante que venceu quase tudo e encantou multidões que o viram no Santiago Bernabéu ou em qualquer outro estádio. Um craque imortal.

 

Números de destaque:

 

Disputou 82 jogos e marcou 40 gols pelo Real Madrid Castilla.

Disputou 463 jogos e marcou 171 gols pelo Real Madrid.

Disputou 91 jogos e marcou 29 gols pelo Atlético Celaya.

Disputou 69 jogos e marcou 26 gols pela seleção da Espanha.

Disputou 705 jogos e marcou 266 gols na carreira.

 

 

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Técnico Imortal – Johan Cruyff

Esquadrão Imortal – Real Madrid 1983-1990