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Jogos Eternos – Portugal 5×3 Coreia do Norte 1966

Data: 23 de julho de 1966

O que estava em jogo: uma vaga na semifinal da Copa do Mundo da FIFA de 1966

Local: Estádio Goodison Park, Liverpool, Inglaterra

Juiz: Menachem Ashkenazi (ISR)

Público: 40.248 pessoas

Os Times:

Portugal: José Pereira; Morais, Baptista, Vicente e Hilário; Jaime Graça e Mario Coluna; José Augusto, Eusébio, Torres e Simões. Técnico: Otto Glória.

Coreia do Norte: Lee Chang Myung; Lim Zoong Sun, Shin Yung Kyoo, Ha Yung Won e Oh Yoon Kyung; Pak Seung Zin, Im Seung Hwi, Han Bong Zin e Pak Doo Ik; Li Dong Woon e Yang Seung Kook. Técnico: Hyun Myung Rye.

Placar: Portugal 5×3 Coreia do Norte. Gols: (Pak Seung Zin-CNO, aos 1’, Li Dong Woon-CNO, aos 22’, Yang Seung Kook-CNO, aos 25’, Eusébio-POR, aos 27’ e aos 43’ (pênalti) do 1º T;  Eusébio-POR, aos 11’ e aos 14’ (pênalti), e José Augusto-POR, aos 35’ do 2ºT).

 

“A Espetacular Virada do Pantera”

Por Guilherme Diniz

Após o fim da primeira fase da Copa do Mundo de 1966, a seleção portuguesa estava soberba. Motivo? Oras, ela havia superado Bulgária, Hungria e o então bicampeão mundial Brasil com verdadeiros shows. Os comandados de Otto Glória demonstraram um futebol que misturava (muita) técnica e força e se classificaram às quartas de final com 100% de aproveitamento. A equipe encarnada já era considerada uma das favoritas ao título. Ainda mais após a definição de seu adversário: a Coreia do Norte, que havia eliminado a Itália com um surreal triunfo por 1 a 0. Mesmo com aquela vitória, ninguém dava bola para um time que corria de maneira frenética e irresponsável. Portugal tinha a vitória como certa. Mas, no dia do jogo, em apenas 25 minutos de jogo, os europeus já perdiam por 3 a 0. Isso mesmo. Em plena quartas de final de Copa do Mundo, a equipe tão eficiente na primeira fase e com craques do glorioso e multicampeão Benfica daqueles anos 60 estava levando um sapeco homérico dos alucinados asiáticos.

Como reverter aquele placar? Como marcar ao menos quatro gols? Com um jogador conhecido como Pantera Negra. Um atacante formidável, devastador. Tão rápido quanto aqueles ligeiros coreanos. Eusébio. Ele fez um. Fez dois. No segundo tempo, fez três. Fez quatro. Pronto. Em 34 minutos de bola rolando, Portugal virou. Perto do fim, José Augusto ainda fez o quinto. E o placar do Goodison Park cravou 5 a 3. Foi um jogo eletrizante, rápido, incrível. Para ser aplaudido de pé pelos mais de 40 mil presentes. Foi uma das maiores viradas da história das Copas (seria a maior?). Algo jamais repetido ou igualado desde então.

E a partida que sacramentou de vez Eusébio como um dos maiores craques da história do futebol. Que confirmou a qualidade do que vinha das terras lusitanas. Era futebol de talento. De magia. De superação. A Coreia nada pôde fazer. Restou o consolo do aplauso e do reconhecimento por uma campanha tão impressionante e por ter ido tão longe justamente em sua primeira participação em um Mundial. Mas não foi só Eusébio o grande responsável pelo triunfo luso. O técnico Glória deu uma notável contribuição com a sacudida no time no intervalo. É hora de relembrar.

 

Pré-jogo

Portugal de 1966. Em pé: Baptista, Jaime Graça, Hilário, Vicente, Morais e José Pereira; Agachados: José Augusto, Torres, Eusébio, Mario Coluna e Simões.

 

Estreantes em Copas naquele ano de 1966, Portugal e Coreia chegaram às quartas de final em condições distintas para a disputa de uma vaga na semifinal do Mundial inglês. O selecionado europeu contava com a melhor geração de craques de sua história, baseada, sobretudo, no Benfica bicampeão europeu em 1961 e 1962 e em grandes nomes para todas as posições do campo. Na defesa, Hilário, Morais e Baptista, ambos do Sporting, eram os pilares da zaga, responsáveis pelos desarmes e pelas intervenções viris sobre os rivais. No meio, Jaime Graça, do Vitória de Setúbal, dava a proteção para que o maestro e capitão Mario Coluna, do Benfica, armasse as jogadas com sua precisão fantástica para o quarteto de ataque encarnado lá na frente fazer estragos. Este era composto por José Augusto, José Torres, Antonio Simões e Eusébio, todos do Benfica. Para comandar aquele elenco, a federação portuguesa inovou e contratou dois técnicos: Manuel de Luz Afonso, exclusivo para a seleção de atletas – ele ficou conhecido como “seleccionador” -, e o brasileiro Otto Glória, para comandar todos em campo.

Em cima, da esquerda para a direita: Carvalho, Figueiredo, Fernando Mendes (por estar lesionado, não fazia parte dos 22), Lourenço, Eusébio, José Pereira, Morais, Manuel Duarte, Hilário, Coluna e Festa;  Abaixo: Jaime Graça, Peres, José Carlos, Simões, Torres, José Augusto, Américo, Custódio Pinto e Vicente (não estão nesta foto Germano, Alexandre Baptista e Cruz). Foto: Arquivo Expresso Diário (POR).

 

Nas Eliminatórias, Portugal teve um grupo difícil pela frente, com Romênia, Tchecoslováquia e Turquia, mas conseguiu vencer quatro jogos, empatar um, perder apenas um e garantir pela primeira vez a vaga em uma Copa. Nela, outra vez os encarnados tiveram pela frente um grupo complicado, ao lado de Hungria, Bulgária e o então bicampeão Brasil. Muitos pensaram que o peso da estreia e a falta de experiência daquele time iria prejudicar o rendimento luso na Copa. Mas o selecionado do técnico Glória mostrou muita maturidade e futebol para dar show. Na estreia, vitória por 3 a 1 sobre o Hungria. Depois, triunfo por 3 a 0 sobre a Bulgária.

E, na última partida do grupo, contra o temido Brasil, vitória fácil por 3 a 1, num jogo marcado pelo excesso de faltas de ambos os lados, não somente as cometidas por Portugal – o Brasil fez 16 faltas, contra 17 de Portugal. O que pesou foi a maneira ríspida como Vicente e Morais chegaram nos brasileiros. Pelé, por exemplo, levou “apenas” três faltas, mas o suficiente para minar suas ações em campo. E, como não eram permitidas substituições na época, o Brasil acabou ficando com o Rei capengando com o joelho enfaixado e apenas caminhando dos quatro minutos do segundo tempo até o final.

Mesmo com a pancadaria, Portugal foi sonoramente elogiado por seu futebol e pelo talento de seus jogadores, ao contrário do Brasil, que saiu da Inglaterra eliminado ainda na primeira fase de maneira vexatória em uma de suas piores campanhas na história dos Mundiais. Classificado em primeiro lugar do grupo 3 e uma das duas seleções com 100% – a outra era a URSS -, Portugal foi para as quartas de final sendo uma das favoritas ao título. Sem desfalques e com o time entrosado, faltavam poucos jogos para a sonhada final em Wembley.

O adversário dos lusos seria outra seleção estreante em Copas. E uma zebra enorme: a Coreia do Norte. Filiada à FIFA apenas em 1958, a equipe se classificou para a Copa de 1966 disputando apenas dois jogos após o boicote das seleções africanas, que não quiseram participar das Eliminatórias por causa das normas da FIFA de juntar as equipes da África, Ásia e Oceania em uma só chave. Os africanos não achavam justo ter de disputar uma única vaga (isso mesmo, a FIFA daria apenas UMA vaga para três continentes…) com equipes de outras partes do globo. Além disso, havia uma corrente política contra o regime do apartheid na África do Sul, readmitida na FIFA em 1963 e banida da entidade pouco tempo depois por pressão dos países africanos.

Com isso, as Eliminatórias tiveram apenas Austrália e Coreia do Norte, já que a Coreia do Sul desistiu de participar também por divergências políticas. Mas, quando os australianos iriam enfrentar os norte-coreanos, outro problema surgiu: o governo australiano não reconhecia o governo do rival e se negou a ceder vistos de entrada aos atletas asiáticos, muito menos permitiu que seus atletas fossem até Pyongyang. Para resolver a situação, a FIFA decidiu organizar os dois jogos em campo neutro, no Camboja. A Coreia venceu os dois jogos, por 6 a 1 e 3 a 1, e carimbou sua vaga ao Mundial pela primeira vez.

Pak Doo Ik marca o gol da Coreia do Norte sobre a Itália, em 1966: pesadelo inimaginável para os italianos.

 

Já naquelas partidas, a Coreia do Norte espantou os australianos pelo seu futebol “extremamente rápido”. Porém, ninguém do ocidente deu muita bola e tudo levava a crer que os asiáticos seriam mais um “saco de pancadas” no Mundial, ainda mais com a baixa média de altura dos norte-coreanos (1,61m) e total desconhecimento de seu esquema de jogo por conta do regime político fechado do país que impossibilitava qualquer entrevista. Na estreia, contra a URSS, os asiáticos perderam por 3 a 0 e só aumentaram os prognósticos. Porém, na partida seguinte, eles empataram em 1 a 1 com o Chile e arrancaram um sonoro “oh” dos sul-americanos e dos ingleses, que realmente não esperavam aquele resultado. Só que ainda tinha mais.

No último jogo do grupo, a Coreia teve pela frente a Itália, que tinha chances de classificação. Óbvio que todos apostaram na bicampeã mundial. Mas, com um gol de Pak Doo Ik no finalzinho do primeiro tempo, a Coreia venceu por 1 a 0. Foi uma catástrofe para a Itália, eliminada na primeira fase por uma seleção totalmente desconhecida e fora do pelotão do futebol. O escândalo foi tão grande que os italianos foram recebidos com uma chuva de frutas e tomates podres na volta para casa pela torcida (!). Estava sacramentada a grande zebra da Copa, que se classificou para as quartas de final após um novo triunfo da URSS, contra o Chile, resultado que beneficiou os asiáticos.

A equipe comandada pelo técnico Hyun Myung Rye realmente era rápida, com jogadores muito parecidos não só na fisionomia, mas no modo de jogar. Eles tocavam e corriam de maneira pouco antes vista e causavam problemas em rivais lentos e desavisados – no caso, a Itália. O segredo do time estava no meio de campo, por onde Pak Seung Zin comandava as ações com bons passes e boa visão de jogo. No mais, o time era rápido, dificultava as ações dos adversários com marcação cerrada e exagerava um pouco nas faltas.

Mas o fato é que aquela seleção estava se preparando há muito tempo, com exaustivos treinos na Alemanha meses antes da Copa, para a adaptação ao continente europeu, e discussões diárias sobre a parte tática entre jogadores e comissão técnica duas horas antes de dormir, como foi descoberto depois segundo o jornalista Robin Hackett, da ESPN International, em reportagem publicada no dia 05 de maio de 2014.

Quando o duelo Portugal e Coreia ficou definido, os lusos não deram muita bola. Eles treinaram normalmente dias antes da partida e nem sequer imaginavam que teriam algum problema, ainda mais pela vitória sobre o poderoso Brasil. No dia do jogo, o belo Goodison Park, em Liverpool, estava lotado e com boa parte da torcida em prol dos asiáticos. Na preleção, Otto Glória disse para seus jogadores terem cuidado, pois pouco se conhecia do jogo deles, apenas que eram rápidos e que era preciso lembrar do exemplo da Itália. Mas os “convencidos” portugueses nem ligaram. Como bem disse o zagueiro Hilário:

 

“Nós nem prestamos atenção às palavras do Glória. (Elas) Entraram por um ouvido e saíram pelo outro…”Hilário, em entrevista ao site da revista Visão (POR), 20 de junho de 2010.

 

Portugal era especialista em atacar. Por mais que os norte-coreanos fizessem um gol maroto como haviam feito contra os italianos, os encarnados tinham certeza que sairiam dali com a vitória. Glória costumava dizer: “não gostamos de defesa. Nosso ataque é a melhor defesa. Não gostamos de jogar na defesa e não sabemos como jogar na defesa”. Porém, eles não tinham a mínima ideia do que os velocistas asiáticos eram capazes…

 

Primeiro tempo – O susto e a bola no chão

Foto: FIFA.com

 

Quando o jogo começou, os norte-coreanos trataram de mostrar suas armas logo no primeiro minuto de jogo. Após um passe errado vindo da direita, o meio de campo asiático tomou a bola para si e começou a construir uma jogada de pé em pé. Após um chute bater num defensor português, a bola sobrou na direita para Han Bong Jin, que rolou para Pak Zeung Zin encher o pé e abrir o placar para a Coreia: 1 a 0. O goleiro Pereira nem foi na bola. O estádio vibrou intensamente. A zebra estava aprontando de novo! Mas é claro que os portugueses estavam soberbos, tinham plena convicção de que iriam vencer facilmente. Portugal tentou responder após cobrança de escanteio, mas a zaga coreana afastou o perigo.

Concentrados, os asiáticos se mostravam dispostos a dificultar as coisas para os favoritos rivais. Yang Seung Kook, num chute cruzado, voltou a aparecer com perigo na área lusitana. O jogo era frenético. Portugal tentava chegar com bolas alçadas, pelo alto, aproveitando a baixa estatura do rival, mas a falta de objetividade facilitava os trabalhos da zaga coreana. Quando arriscava chutes de longe, Portugal parava no goleiro Li Chan Myong, que dava pontes plásticas para a alegria da torcida e dos fotógrafos e surpreendia a todos com lindas defesas.

Torres tenta passar pelos coreanos.

 

Eusébio em um de seus lances no jogo.

 

Após várias chances desperdiçadas, eis que um gol saiu. Da Coreia. Yang Seung Kook salvou uma bola na linha de fundo e cruzou. O goleiro Pereira afastou muito mal e a redonda sobrou para Li Dong Woon, que só escorou para dentro: 2 a 0. Ninguém entendia o que estava acontecendo! Três minutos depois, outra vez uma jogada coreana pela esquerda, com Yang Seung Kook. Ele conduziu a bola, escapou da marcação e tocou no meio. Pak Doo Ik chutou mascado, a bola sobrou para Yang Seung Kook dentro da área e o camisa 15 dominou, ajeitou e chutou no canto, outra vez sem Pereira sequer pular na bola: 3 a 0. Era uma devastação. A Coreia do Norte aproveitava suas chances de maneira plena e goleava Portugal, que até então só chutava pra fora ou parava no goleiro.

Os jogadores portugueses olhavam uns para os outros sem entender, estupefatos. No banco, Otto Glória era uma pilha de nervos e tratou de chamar José Augusto para que ele começasse a marcar mais o camisa 8, Pak Seung Zin, que sempre tocava na bola nas jogadas de ataque dos coreanos. Era preciso uma ação rápida para tentar reverter o quase irreversível, afinal, só em 1954 – no alucinante Áustria 7×5 Suíça -, que uma equipe que perdia de três gols (no caso, a Áustria) conseguiu uma virada. Mas tinha um jogador que não se conformava com tudo aquilo e estava disposto a escrever o nome de Portugal na história das Copas: Eusébio.

Eusébio fuzila: ele iniciou a arrancada lusitana.

 

Foi a partir do Pantera Negra que Portugal começaria a sua retomada no jogo. Após cobrança de lateral, Eusébio conduziu a bola no meio de campo e tocou para o Simões. Este foi levando até a área e enfiou a bola para Eusébio, que chegou primeiro que os zagueiros e estufou as redes do goleiro: 3 a 1, dois minutos depois do terceiro gol coreano. Foi uma reação instantânea e importantíssima para as pretensões portuguesas no jogo.

O time europeu se lançou ao ataque, mas continuou abusando do chuveirinho. E dos chutes e cabeçadas sem pontaria. Foi então que, aos 43’, Torres recebeu na área e foi derrubado por trás. Pênalti. Na cobrança, Eusébio bateu forte e fez 3 a 2. Ótima reação portuguesa. Eles ainda teriam mais 45 minutos para reverter aquele placar maluco. No vestiário, Glória tratou de chacoalhar o elenco. Furioso, ele tirou a gravata, pendurou o casaco e bradou, segundo o zagueiro Hilário:

 

“Eliminei o meu país (Brasil) e quando voltar para lá vão cortar-me os tomates porque os traí! Hoje, com uma equipe que ninguém conhece, estão a perder?! Olhem, eu não vou dar tática alguma. Só quero é que vocês ganhem este jogo.” – palavras de Otto Glória, segundo o zagueiro Hilário em entrevista à revista Visão (POR), 20 de junho de 2010.

 

Os experientes Coluna, Germano e José Augusto aproveitaram a deixa para conversar com o elenco e pedir mais concentração. Estava mais do que claro que eles estavam sendo displicentes. Eusébio pediu para que Coluna e Graça tocassem mais a bola pelo chão, sem chuveirinho, para que ele pudesse ter mais chances de virar logo aquela peleja. Aquele timaço era capaz da virada. Só precisava encarar o rival com mais respeito e seriedade, pois aqueles coreanos não estavam para brincadeira.

 

Segundo tempo – A virada para a história das Copas

Carrinho em Eusébio dentro da área: pênalti da virada! Foto: CNN.

 

Com a bola no chão, Portugal mudou completamente o panorama do jogo. Logo aos 11’, Simões conduziu uma jogada pelo meio e tocou com categoria para Eusébio bater de primeira e empatar o jogo: 3 a 3. Minutos depois, o mesmo Eusébio conduziu uma bola lá do meio de campo, pela ponta-esquerda, até o campo coreano. Rápido, ele fazia até os ligeiros rivais ficarem cansados tamanha era sua velocidade e explosão. Eusébio driblou e ganhou na corrida de Oh Yoon Kyung, escapou da falta, deu entre as pernas de Shin Yung Kyoo, passou por ele, mas foi derrubado por um carrinho sem dó aplicado por Lim Zoong Sun dentro da área: pênalti! Ainda mancando, Eusébio fez questão de ir para a cobrança mesmo com o capitão Coluna perto da bola. O atacante bateu bem e fez o gol da virada portuguesa: 4 a 3. Eusébio 4×3 Coreia do Norte.

José Augusto marca o quinto gol português. Foto: AP.

 

Em uma reviravolta alucinante, os encarnados conseguiam virar um 0x3 de maneira incrível. E em um torneio tão hostil e difícil como uma Copa do Mundo. Absolutos, os portugueses dominaram completamente as ações e viram os coreanos se acuarem em seu campo de defesa, já conformados que não podiam com aquele time e seu Pantera Negra. Portugal ainda ensaiou mais gols, mas a bola caprichosamente não entrou em várias oportunidades e graças às defesas do goleiro. Até que, aos 35’, Eusébio cobrou escanteio na área, Torres escorou e José Augusto, de cabeça, fechou o placar: 5 a 3. Ao apito do árbitro israelense, o estádio Goodison Park, em Liverpool, bateu palmas. Festejou. Os dois times estavam de parabéns. Principalmente a Coreia, a grata e alegre surpresa do Mundial. Foi uma tarde de futebol pleno. De gols. Oito gols!

De virada espetacular. De atuações exemplares de vários jogadores. De cavalheirismo. Uma ode ao futebol ofensivo. Por um momento, a Coreia do Norte saiu de suas fronteiras e mostrou que era capaz de praticar um bom futebol. Em outro momento, Portugal provou que era uma das melhores seleções do planeta na época. E que tinha, naquele ano, o melhor jogador do mundo e um dos maiores mitos das Copas. Eusébio foi enorme naquela tarde. Foi o legítimo Pantera Negra. E protagonista de uma das maiores viradas da história dos Mundiais. Um jogo para a eternidade.

 

Pós-jogo: O que aconteceu depois?

Portugal: após a partida, Otto Glória deixou a braveza de lado e deu aos seus comandados duas garrafas de whisky para o “aperitivo antes do jantar”. Favoritíssimo ao título, Portugal teve pela frente a anfitriã Inglaterra na semifinal. E, sem Morais e Vicente, machucados, e com excesso de cavalheirismo para com os ingleses, os portugueses não jogaram bem e perderam por 2 a 1, em jogo com dois gols de Bobby Charlton. Restou o consolo do terceiro lugar, vencido pelos encarnados sobre a URSS por 2 a 1. Eusébio foi o artilheiro do Mundial com 9 gols em seis jogos e, depois disso, a seleção portuguesa só voltou a um Mundial 20 anos depois, em 1986, quando caiu ainda na primeira fase. Em 2002, retornou a uma Copa e mais uma vez sucumbiu na fase de grupos.

Só em 2006 que os encarnados voltaram a uma semifinal, perdendo para a França e terminando na quarta posição, ainda atrás da façanha da grande seleção de Eusébio, Coluna e companhia. No Mundial de 2010, na África do Sul, eis que o destino colocou Portugal e Coreia do Norte de novo frente a frente, dessa vez na fase de grupos. Os portugueses recordaram 1966. E não deram chance para a zebra aprontar. Resultado do reencontro? Portugal 7×0 Coreia do Norte, com seis marcadores diferentes – Meireles, Simão, Almeida, Liédson, Cristiano Ronaldo e dois de Tiago. Quatro gols num só jogo por Portugal e em Copas? Só Eusébio…

Cristiano Ronaldo (à esq.) por Portugal contra a Coreia do Norte, de Jong Tae-se, em 2010: goleada lusitana. Foto: Lars Baron/Getty Images Europe.

 

Coreia do Norte: muito aplaudida pela torcida, a Coreia agradeceu a todos e se mandou para sua casa. Por lá, permaneceu enclausurada até 1976, quando disputou os Jogos Olímpicos de Montreal. Sabe quem era o técnico? Pak Doo Ik, o mesmo que brilhou pela seleção de 1966 e algoz da Itália naquela Copa. Ele classificou a Coreia para as quartas de final, só que aí os asiáticos não foram páreos para a Polônia de Lato (leia mais clicando aqui!), tão rápido quanto Pak Doo Ik fora no passado. Os poloneses venceram por 5 a 0 e eliminaram os coreanos, que só voltaram a uma grande competição em 2010, na Copa do Mundo, ao lado de Brasil, Costa do Marfim e… Portugal! Mais uma vez se sabia muito pouco sobre eles, enclausurados ainda mais sob suas fronteiras. Será que eram rápidos como outrora? Será que seriam zebra? A verdade veio jogo após jogo, e, com três derrotas em três jogos e a última posição na classificação geral daquela Copa, a constatação foi uma só: o time de 1966 era bem melhor. E eles voltaram para suas fronteiras…

 

Leia mais sobre Portugal de 1966 e seus craques clicando aqui.

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5 Comentários

    • Olá Dirvan! Olha, pergunta difícil… Os dois são lendas, magníficos, históricos, além de parecidos fisicamente pela explosão e velocidade, embora Eusébio fosse mais forte. Mas o Cristiano, por tudo o que já fez e pelo título da Euro, está um degrau acima. No entanto, em termos de importância para o futebol português, são equivalentes.

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Jogos Eternos – São Paulo 4×0 Athletico-PR 2005