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Craque Imortal – Arjen Robben

Foto: Getty Images.

 

Nascimento: 23 de janeiro de 1984, em Bedum, Holanda.

Posições: Ponta-Direita, Atacante e Meia

Clubes: Groningen-HOL (2000-2002 e 2020-2021), PSV-HOL (2002-2004), Chelsea-ING (2004-2007), Real Madrid-ESP (2007-2009) e Bayern München-ALE (2009-2019).

Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Holandês (2002-2003) e 1 Supercopa da Holanda (2003) pelo PSV.

2 Campeonatos Ingleses (2004-2005 e 2005-2006), 1 Copa da Inglaterra (2006-2007), 2 Copas da Liga Inglesa (2004-2005 e 2006-2007) e 1 Supercopa da Inglaterra (2005) pelo Chelsea.

1 Campeonato Espanhol (2007-2008) e 1 Supercopa da Espanha (2008) pelo Real Madrid.

1 Liga dos Campeões da UEFA (2012-2013), 1 Supercopa da UEFA (2013), 8 Campeonatos Alemães (2009-2010, 2012-2013, 2013-2014, 2014-2015, 2015-2016, 2016-2017, 2017-2018 e 2018-2019), 6 Copas da Alemanha (2009-2010, 2012-2013, 2013-2014, 2015-2016, 2018-2019) e 5 Supercopas da Alemanha (2010, 2012, 2016, 2017 e 2018) pelo Bayern München.

 

Principais títulos individuais:

Bola de Bronze da Copa do Mundo da FIFA: 2014

Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 2014

FIFA FIFPro World XI: 2014

Futebolista Holandês do Ano: 2002-2003

Eleito para o Time do Ano da PFA: 2004-2005

Eleito para o Time do Ano da ESM: 2004-2005, 2009-2010 e 2014-2015

Bravo Award: 2005

Jogador do Ano da Bundesliga: 2009-2010

Jogador do Ano da revista Kicker: 2010

Futebolista do Ano na Alemanha: 2010

Eleito para o Time do Ano da UEFA: 2011 e 2014

Eleito para o Time do Ano da Liga dos Campeões da UEFA: 2013-2014

Esportista do Ano da Holanda: 2014

8º Maior Artilheiro da história do Bayern com 144 gols

Eleito para a Seleção dos Sonhos da Holanda do Imortais: 2020

Eleito para o Time dos Sonhos do Bayern do Imortais: 2022

 

“Previsível e fatal”

 

Por Guilherme Diniz

 

Por mais manjado que fosse seu drible, todos caíam nele. E, com a bola grudada em seus pés, poucos conseguiam desarmá-lo. Veloz, oportunista e dinâmico, sempre foi uma arma perigosa de seus times e também da seleção da Holanda, pela qual disputou as Copas de 2006, 2010 e 2014. Se muitos títulos escaparam por detalhes, outros vieram graças ao seu futebol e talento. Um dos mais notáveis e habilidosos pontas-direitas do futebol nos anos 2000 e 2010, Arjen Robben cravou seu nome na história com apresentações memoráveis, dribles e gols. Superou as críticas e a fama de “amarelão” em determinado momento da carreira com voltas por cima em grande estilo, a mais lembrada pelo Bayern München, quando venceu a Liga dos Campeões da UEFA de 2013, marcando o gol do título na final contra o Borussia Dortmund um ano depois do traumático vice-campeonato de 2012. Pela Holanda, teve o gol do título em seus pés na final contra a Espanha, mas Casillas evitou o tão sonhado título mundial. Quatro anos depois, em 2014, voltou a brilhar em uma Copa, destroçou a algoz Espanha no lendário 5 a 1 da fase de grupos, mas outra vez foi privado do título, quando sua Holanda acabou eliminada na semifinal pela Argentina. Mesmo com essas tristezas, Robben colecionou celebrações, fãs e foi um dos mais talentosos jogadores de seu tempo. É hora de relembrar.

 

Canhotinha de futuro

Arjen Robben pelo Groningen. Foto: Getty Images.

 

Nascido em Bedum, nordeste da Holanda, Robben começou desde cedo a chamar a atenção pela habilidade que demonstrava e também por sua notável velocidade. Com uma perna esquerda terrível e calibrada, o garoto iniciou sua trajetória profissional no Groningen, no qual já aplicava a jogada que tanto lhe foi característica em toda carreira: a condução da bola em velocidade, o corte para dentro e o chute de esquerda. Com apenas 16 anos, fez seu debute na equipe principal em dezembro de 2000, substituindo o brasileiro Leonardo dos Santos durante um duelo contra o RKC Waalwijk. Depois da pausa de inverno da Eredivisie, Robben conseguiu mais espaço no time e disputou 18 partidas até o fim da temporada, marcando dois gols.

Nesse início, figurou também nas seleções de base da Holanda e foi convocado frequentemente para os times sub-16, e, quase sem escalas, ao sub-19, até chegar ao time sub-20 que disputou o Mundial de 2001, quando a laranja foi eliminada nas quartas de final. Na temporada 2001-2002, cresceu ainda mais de produção quando disputou 28 jogos e marcou seis gols, além de ter realizado jogadas brilhantes. Não demorou muito para um dos gigantes do país perceber o talento de Robben e contratá-lo: em julho de 2002, o PSV desembolsou 3,9 milhões de euros. Era questão de tempo até o jovem ganhar de vez os holofotes.

 

Batman and Robben!

Van Bommel, Robben e Kezman: grandes estrelas do PSV campeão holandês de 2002-2003.

 

Com a camisa alvirrubra, Robben rapidamente ganhou a titularidade do time de Eindhoven e foi um dos destaques da equipe campeã holandesa ao marcar 12 gols em 33 jogos e fazer uma celebrada dupla de ataque ao lado de Mateja Kezman, artilheiro máximo daquela temporada do PSV com impressionantes 35 gols em 31 jogos. A parceria fez com que a torcida criasse o apelido “Batman and Robben” para a dupla, e Robben venceu o prêmio de jogador mais talentoso da temporada holandesa. Jogando aberto pela ponta-esquerda, o atacante causava sérios estragos às zagas rivais mesmo com seu estilo manjado de driblar, mas que sempre funcionava. Além do título nacional, o jovem marcou o primeiro gol do triunfo por 3 a 1 sobre o Utrecht que rendeu ao PSV o título da Supercopa da Holanda de 2003.

Foto: Adam Davy/EMPICS via Getty Images

 

Robben estava tinindo, mas sofreu duas lesões no tendão que o tiraram de vários jogos, prejudicando o rendimento do PSV e sua luta pelo bicampeonato. Porém, isso em nada atrapalhou o interesse de outros clubes. O Manchester United tentou uma negociação com o atleta, que inclusive conversou com o técnico dos Red Devils na época, Sir Alex Ferguson.

 

“Tive ótima conversa com Alex Ferguson, num jantar em Manchester. Falamos sobre futebol, e sobre a vida. Também conheci bem o centro de treinamento, e tudo era bom”. Arjen Robben, em entrevista à revista Four Four Two e reproduzida no site Trivela, 04 de abril de 2018.

 

Porém, as negociações não avançaram por causa do baixo valor oferecido pelo clube inglês – pouco mais de 7 milhões de euros, valor ironizado pelo dirigente do PSV Harry van Raaij, que disse que aquele montante só “compraria uma camisa autografada por Robben”. Tempo depois, outro clube foi mais certeiro: o Chelsea de Roman Abramovich, que levou o holandês para Stamford Bridge por 18 milhões de euros. Robben chegou ao clube azul junto com o companheiro Kezman e outros nomes.

Robben e Petr Cech, algumas das muitas contratações daquela nova era do Chelsea.

 

Com apenas 20 anos, Robben foi um estrondo em sua primeira temporada pelos Blues, que começou só em novembro por causa de uma lesão. O holandês virou o xodó da torcida e foi crucial para o desempenho do time na Premier League. Foram apenas 18 jogos, mas o craque anotou sete gols e deu nove assistências, números mais do que suficientes para alavancar o Chelsea à liderança e ao título da Premier League. Ver Robben naquela época foi puro deleite, o que não podemos dizer de seu companheiro Batman, digo, Kezman, que foi uma decepção e não brilhou, marcou míseros 7 gols em 41 jogos e foi negociado ao Atlético de Madrid já na temporada 2005-2006.

 

Lesões, Copa e a ida ao Real

Foi no Chelsea que Robben começou a enfrentar os questionamentos sobre sua condição física. Além da lesão logo em sua primeira temporada, sofreu com o risco de um tumor nos testículos, descartado pelos médicos. Após perder a final da Copa da Liga Inglesa de 2005 por causa de outra lesão, retornou na época 2005-2006 e ajudou os Blues na caminhada do bicampeonato com 6 gols em 28 jogos. Ainda em 2006, foi convocado para sua primeira Copa do Mundo pelo então técnico Marco van Basten e disputou três jogos na campanha que terminou nas oitavas de final, após derrota por 1 a 0 para Portugal na famosa Batalha de Nuremberg. Na fase de grupos, marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre Sérvia e Montenegro e foi um dos poucos a se salvar das críticas do time holandês, que rendeu bem abaixo do esperado naquele Mundial.

Robben, Sneijder e Gio van Bronckhorst na Euro de 2008. (Foto: Johannes Simon/Bongarts/Getty Images)

 

Na época 2006-2007, Robben começou bem e seguiu com seus dribles e grandes jogadas, mas uma nova lesão o tirou de combate em janeiro de 2007. Em março, teve que fazer uma pequena operação no joelho e retornou a tempo para disputar a semifinal da Liga dos Campeões da UEFA. Porém, o holandês desperdiçou seu pênalti na disputa pela vaga e o Liverpool conseguiu a classificação. Em agosto de 2007, Robben se transferiu para o Real Madrid por cerca de 35 milhões de euros, quase o dobro do montante pago pelo Chelsea três anos atrás. Ele se uniu a uma pequena legião holandesa que vestia o manto merengue na época, ao lado de Wesley Sneijder, Ruud van Nistelrooy e Royston Drenthe. 

Foto: Barrington Coombs – EMPICS/PA Images via Getty Images.

 

Comandado por Fabio Capello, Robben ganhou rapidamente uma vaga na meia-esquerda do time espanhol e encantou a torcida com suas investidas insinuantes ao ataque. Em 28 jogos, marcou cinco gols e foi um dos destaques da campanha do título espanhol conquistado pelo Real, caneco que deu ao holandês seu terceiro título nacional diferente. Na reta final da competição e já campeão, Robben ainda deixou sua marca em um clássico contra o Barcelona, derrotado por 4 a 1. Na época 2008-2009, Robben disputou 37 jogos e marcou oito gols, mas os tempos em Madri começaram a ficar caóticos à medida em que o rival Barcelona se fortalecia e levantava canecos com Pep Guardiola e seu esquadrão quase imbatível. Foi naquela temporada, inclusive, que o Barça aplicou a goleada de 6 a 2 que simbolizou o início definitivo da Era Guardiola na Catalunha.

Já perto do fim da temporada, Robben foi procurado pelo Bayern, que vivia uma época difícil, bem longe da dominância vista na década de 2010 – naquele ano, o campeão foi o Wolfsburg. No início, o holandês ficou cético quanto à investida do clube alemão, mas decidiu que não havia muita perspectiva no caótico ambiente madrileno e aceitou, a contragosto, a proposta do bávaros, que comprou o craque por 25 milhões de euros. Mal sabia o ponta que ali começaria uma fase única em sua carreira, de fases, reviravoltas e ascensões.

 

Títulos e a Copa de 2010

Robben e o técnico do Bayern na época 2009-2010, Louis van Gaal.

 

Nunca uma mudança de ares fez tão bem a um jogador como a Robben em 2009-2010. Comandado pelo holandês Louis van Gaal, o time de Munique era forte e tinha nomes como Philipp Lahm, Van Bommel, Schweinsteiger, Thomas Müller, Miroslav Klose e Mario Gómez. Com tantos craques, a equipe recuperou a coroa no Campeonato Alemão, venceu a Copa da Alemanha e Robben foi o principal destaque do esquadrão da Baviera ao disputar 37 jogos e marcar 23 gols. O holandês foi o artilheiro da equipe na temporada – à frente de Thomas Müller e Olic, que anotaram 19 gols cada. Na Liga dos Campeões da UEFA, o craque disputou 10 jogos e marcou quatro gols essenciais para conduzir o time até a final contra a Inter de Milão. Porém, os italianos venceram por 2 a 0 e ficaram com a taça.

Após o melhor desempenho goleador da carreira, Robben encheu os holandeses de expectativa para ver o atacante na Copa do Mundo de 2010. Mas, antes de começar a competição, o craque sofreu uma distensão muscular na coxa no último amistoso preparatório, contra a Hungria – vencido por 6 a 1, com dois gols dele. O holandês teve que iniciar um intenso tratamento com o fisioterapeuta Dick van Toorn, em sessões diurnas e noturnas. Isso fez com que ele perdesse os dois primeiros jogos da Holanda e fizesse sua estreia apenas na última rodada da fase de grupos, contra Camarões. E contribuiu para a vitória por 2 a 1 ao participar de um dos gols, quando chutou na trave e Huntelaar marcou no rebote. A partir da segunda fase, Robben voltou ao time titular e foi, ao lado de Sneijder, um dos expoentes da equipe que chegou à final. 

Nas oitavas, marcou um gol na vitória por 2 a 1 sobre a Eslováquia. Fez um bom jogo nas quartas de final contra o Brasil, mas quem roubou a cena foi Sneijder, com dois gols, e voltou a decidir na semifinal, quando fez um gol nos 3 a 2 sobre o Uruguai de Forlán. Mas, na grande decisão contra a Espanha, Robben viveu um pesadelo. Esteve nos pés do craque o sonhado título mundial dos holandeses. E por duas vezes. Na primeira, Robben arrancou com a bola dominada e ficou cara a cara com o goleiro Casillas, seu ex-companheiro no Real Madrid. No lance, o goleiro espanhol conseguiu desviar a bola com os pés e mandou para escanteio. Robben poderia driblar, dar por cobertura, mas escolheu a pior opção.

 

Minutos depois, o holandês invadiu a área na frente da marcação, mas acabou desarmado antes de chutar. O jogo seguiu sem gols e só na prorrogação que Iniesta fez o gol do título espanhol. Pela terceira vez em sua história, a Holanda ficou com o vice-campeonato. “É decepcionante para mim e para o time. O primeiro lance foi uma grande defesa do Casillas, e a segunda jogada foi um erro meu. São os tipos de jogadas que poderiam ter mudado o jogo”, disse Robben logo após a partida. Anos depois, ele ainda comentou sobre aquele fatídico jogo.

 

“Quando se esteve tão perto da conquista da Copa do Mundo…a dor ficará para sempre”.

 

A decepção na Copa foi enorme, mas o ano de 2010 foi marcante para Robben pelas conquistas pelo Bayern e pelos títulos individuais, como o de Futebolista do Ano na Bundesliga. Mas o inferno astral do craque estava só começando…

 

Até quando!?

Robben se desespera e é provocado por Subotic: holandês perdeu um pênalti e o Borussia venceu por 1 a 0 em duelo pela Bundesliga de 2011-2012.

 

A lesão sofrida antes da Copa se agravou durante o torneio e Robben só retornou aos gramados em janeiro de 2011. Seu Bayern passou longe dos principais títulos e só voltou a realizar grandes jogos na época 2011-2012, embora tenha sofrido bastante com o rival Borussia Dortmund, que ficou com o bicampeonato da Bundesliga e foi a pedra na chuteira dos bávaros mais uma vez. A esperança de título foi na Liga dos Campeões da UEFA, na qual Robben anotou 5 gols em nove jogos e foi mais uma vez uma das principais armas ofensivas do time de Jupp Heynckes. 

Na decisão, jogando em casa, na Allianz Arena, o Bayern teve pela frente o Chelsea-ING. Ambas as equipes estavam desfalcadas para o duelo. No Bayern, Alaba, Badstuber e Luiz Gustavo não podiam jogar por conta de suspensões, bem como Ivanovic, Raul Meireles, Ramires e John Terry do lado azul. O ambiente do jogo era todo favorável ao Bayern, que tinha o apoio maciço de sua torcida e sua própria casa como palco. Ser pentacampeão naquele dia 19 de maio de 2012 era questão de honra para o time bávaro, que já amargurava dois vices na temporada. Mas tudo deu errado.

Foto: AFP.

 

O time dominou a partida, criou as melhores chances, mas pecava na hora de concluir e na sempre chata defesa do Chelsea. Quando o jogo parecia ir para a prorrogação, Thomas Müller aproveitou um cruzamento da esquerda e cabeceou firme, sem chances para Petr Cech: 1 a 0. Faltando apenas sete minutos para o fim, a torcida tinha como certa a conquista da UCL. Mas o Bayern já havia perdido títulos importantes em momentos derradeiros, como bem sabia a torcida alemã (vide as finais das Ligas dos Campeões de 1987 e 1999). Aos 43 ́ do segundo tempo, bola na área alemã e o marfinense Didier Drogba empatou, de cabeça. A decisão teria mais meia hora de angústia.

Desolado, Robben foi um dos mais criticados após a derrota de 2012. Foto: AFP.

 

Na prorrogação, logo aos cinco minutos, pênalti para o Bayern. Mais uma chance de ouro para o penta. Robben foi para a cobrança. Ele bateu fraquíssimo, para a fácil defesa de Cech. O jogo seguiu, ninguém marcou gol, e a final foi para os pênaltis. Nas cobranças, Mata perdeu logo de cara para o Chelsea e o Bayern acertou seus três primeiros chutes, mas Olic e Schweinsteiger desperdiçaram na sequência e o Chelsea calou a Allianz Arena ao vencer por 4 a 3. De novo, Robben amargurava um vice em uma grande competição. E, de novo, como vilão. O holandês foi vaiado, começou a ser contestado e, em 2012, esteve envolvido em polêmicas na eliminação da Holanda da Eurocopa ainda na primeira fase, com discussões internas e muita bagunça. Deixou de ser titular absoluto do Bayern, começou a ser escalado em jogos pontuais e via sua reputação no limbo. Seria o fim de sua carreira? Nada disso…

 

A volta por cima

Na segunda parte da temporada 2012-2013, o mundo do futebol presenciou a ascensão de Robben. O técnico Jupp Heynckes viu o lado físico do holandês se potencializar com a quantidade menor de jogos disputados pelo atacante e isso foi benéfico para o time. Com várias opções no ataque, o Bayern podia se dar ao luxo de ter Robben no banco em algumas partidas. Com isso, a equipe conquistou a Bundesliga, venceu a Copa da Alemanha e a Supercopa da Alemanha. Mas o grande título foi a Liga dos Campeões da UEFA, levantada com louvor em uma campanha inesquecível que teve pelo caminho dois shows contra o temido Barcelona: 4 a 0 na Allianz Arena e 3 a 0 no Camp Nou, com gols de Robben nos dois jogos. Na final, a equipe de Munique encarou o rival Borussia Dortmund.

O jogo começou com domínio do Borussia, que tentava a todo custo o gol, mas parava no inspirado goleiro Neuer. Depois dos vinte minutos, o Bayern assumiu o protagonismo, mas era contido pelo goleirão Weidenfeller. No segundo tempo, o Bayern tomou as rédeas definitivas com seu equilíbrio, sangue frio e a incrível capacidade de suportar pressões. Mandzukic abriu o placar aos 15´, após boa jogada entre Ribéry e Robben. Oito minutos depois, pênalti bobo de Dante em cima de Reus. Gundogan cobrou bem e empatou para o Borussia. Todos achavam que a final iria novamente para a prorrogação, para desespero dos torcedores do Bayern, que viam a cada piscar de olhos o filme do ano anterior e os fantasmas vestidos de azul.

 

Mas uma pessoa não estava a fim de correr mais 30 minutos: Arjen Robben. O holandês enterrou de vez a fama de zicado aos 44´do segundo tempo, quando recebeu um passe na medida de Ribéry, avançou e chutou no canto oposto do goleiro do Borussia, fraquinho, mas o suficiente para entrar: 2 a 1. Aquele gol decretava a vitória bávara, o fim do trauma dos gols dos adversários nos minutos finais e a pecha de “eternos vices”. Naquela temporada, Robben disputou 31 jogos e marcou 13 gols, e fez a torcida começar a amar sua parceria com o francês Ribéry, criando a dupla Robbéry, que teve, como toda parceria, momentos de tensão.

Ribéry e Robben: dupla afiada.

 

Mosaico da torcida em jogo do Bayern, em 2015. Foto: Alex Grimm Bongarts / GettyImages.

 

O principal deles foi um ano antes, na semifinal da UCL de 2011-2012, contra o Real Madrid. No primeiro tempo, em uma falta perto da área do Real, as duas estrelas da equipe alemã insistiam em cobrar e começaram a troca de farpas. No fim, Toni Kroos acabou cobrando a falta. Segundo informações do jornal “Bild”, no caminho até o túnel, os dois continuaram com os insultos e trocaram empurrões até que Ribéry acertou um soco que quase atingiu o olho do companheiro holandês. A briga foi encerrada quando os outros jogadores conseguiram separar a dupla (!). Anos depois, em 2017, Robben comentou sobre o companheiro.

 

“Sempre nos demos bem e explodimos só uma vez, mas o incidente nos fez mais fortes. Foi uma vergonha. Jogamos juntos por muito tempo e experimentamos tantas coisas. Essa briga não conta a história toda, é só uma exceção em oito anos”. – Robben, em entrevista à Sky Sports e reproduzida no site Trivela.

 

A Copa de 2014

Robben faz cara de malvado: ele queria dar o troco. Foto: AFP.

 

Seguindo em grande forma e sem lesões, Robben disputou impressionantes 45 jogos na temporada 2013-2014 pelo Bayern, recorde em sua carreira, e marcou 21 gols. O Bayern dominou o cenário nacional, mas não conseguiu manter a coroa na Europa, que ficou com o Real Madrid. Pela seleção, Robben tratou de dar a volta por cima na Copa do Mundo. E, logo na estreia, fez uma apresentação de gala justamente contra a algoz de 2010: a Espanha. O craque marcou dois gols na goleada de 5 a 1 jogando como se fosse o garoto de 16 anos que despontava no Groningen. No primeiro gol, o camisa 11 dominou com a perna esquerda perfeitamente, limpou Piqué com uma facilidade tremenda e chutou forte, com raiva, para virar o placar: 2 a 1. Golaço! 

No segundo gol do craque, aos 35´, a Holanda decidiu coroar sua atuação de gala com um gol para a antologia das Copas – e um exemplo de contra-ataque para qualquer equipe do mundo. Após uma roubada de bola no campo de defesa, Sneijder recebeu e fez um lançamento forte e em profundidade em direção ao ataque. Quando a bola se mandou para a defesa espanhola, o camisa 10 deve ter pensado “caramba, chutei muito forte, o Robben não vai alcançar…”. O pensamento do meia foi o mesmo do zagueiro Sergio Ramos, que foi em direção à bola. Mas Robben, um dos jogadores mais rápidos que o futebol já viu, não pensou assim. Atrás de Ramos e vendo a bola se perder, o camisa 11 iniciou uma corrida impressionante que chegou à marca de 37 km/h, feito que o fez quebrar o recorde de velocidade de um jogador em um jogo oficial de futebol segundo a FIFA (a marca anterior pertencia ao inglês Theo Walcott, com 35,7 km/h). 

Robben venceu Ramos na corrida (o espanhol chegou a “apenas” 30,6 km/h), dominou a bola, “freou” bruscamente a ponto de deixar Casillas no chão e Ramos atordoado, foi para o meio da área para que todo o mundo pudesse ver com clareza o que ele tinha acabado de fazer, e chutou mais uma vez forte para o gol: 5 a 1. E mais um golaço! Na comemoração, Robben ainda correu de um lado para o outro como se estivesse se aquecendo para dar mais uma disparada! Era um espetáculo. Um show. E uma goleada histórica. Nunca um campeão mundial tinha levado tantos gols logo na Copa seguinte à sua conquista. E há tempos que a Holanda não destroçava um oponente como naquele dia.

 

Robben seguiu como líder técnico do time de Van Gaal na Copa, corria o campo todo, orientava os companheiros, gritava, era a voz de uma equipe que jogou muito e alcançou as semifinais, mas acabou eliminada pela Argentina nos pênaltis, em duelo que teve um lance crucial no qual Robben teve uma chance clara de gol, mas foi desarmado de maneira impressionante por Mascherano. A Holanda ficou com o terceiro lugar e Robben foi um dos destaques da Copa ao ganhar a Bola de Bronze e ser eleito para o All-Star Team do Mundial. Além disso, ganhou o prêmio de Esportista do Ano da Holanda. Ele seguiria jogando pela seleção até 2017, mas foram tempos complicados para a laranja, que nem sequer se classificou para a Copa de 2018. Robben terminou sua jornada pela Holanda com 96 jogos e 37 gols.

 

Curtindo a Bundesliga adoidado e aposentadoria

Entre 2014 e 2019, Robben fez a festa com o Bayern em seis títulos seguidos da Bundesliga. Nesse período, o holandês jogou regularmente – apesar de algumas lesões – e, ao lado do companheiro Ribéry e de outros craques, fez do Bayern o adversário intocável na Alemanha. Com golaços e atuações marcantes, se tornou o holandês com mais gols na história da Bundesliga, atingindo a marca de 99 gols em 201 jogos. Em julho de 2019, encerrou sua trajetória na Allianz Arena com uma linda homenagem e deixou o Bayern como uma lenda incontestável e responsável por momentos de glórias e soberanias. Naquele ano, decidiu se aposentar do futebol, mas voltou atrás e, em junho de 2020, em plena pandemia da COVID-19, decidiu retornar aos gramados para vestir a camisa de seu antigo clube, o Groningen. Porém, as lesões voltaram a atrapalhar e o craque só conseguiu disputar sete partidas. Entre idas e vindas, anunciou de vez a aposentadoria aos 37 anos, em julho de 2021. 

A despedida do craque, em 2021.

 

Contestado e adorado, Robben deixou para sempre grandes memórias aos torcedores. Quando em forma, foi um dos melhores do mundo, imparável, rápido, driblador, letal. E aproveitou ao máximo seus momentos assim, com títulos e apresentações inesquecíveis por PSV, Chelsea, Real, Bayern e seleção da Holanda. Se alguns títulos teimaram em escapar por entre os dedos, Robben buscou, de um jeito ou de outro, glórias para a eternidade. Um craque imortal.

 

Números de destaque:

 

Disputou 59 jogos e marcou 12 gols pelo Groningen.

Disputou 75 jogos e marcou 21 gols pelo PSV.

Disputou 106 jogos e marcou 19 gols pelo Chelsea.

Disputou 65 jogos e marcou 13 gols pelo Real Madrid.

Disputou 309 jogos e marcou 144 gols pelo Bayern München.

Disputou 96 jogos e marcou 37 gols pela seleção da Holanda.

 

 

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