Grandes feitos: Campeão Mundial Interclubes (2004), Campeão da Liga dos Campeões da UEFA (2003-2004), Campeão da Copa da UEFA (2002-2003), Bicampeão Português (2002-2003 e 2003-2004), Campeão da Copa de Portugal (2002-2003) e Bicampeão da Supercopa de Portugal (2003 e 2004).
Time base: Vítor Baía; Paulo Ferreira (Seitaridis / Bosingwa), Ricardo Carvalho (Pedro Emanuel), Jorge Costa e Nuno Valente (Ricardo Costa); Costinha, Pedro Mendes (Alenichev / Diego), Deco (Quaresma / Luís Fabiano) e Maniche; Derlei e Hélder Postiga (Benni McCarthy / Carlos Alberto / Jankauskas). Técnicos: José Mourinho (2002-2004) e Víctor Fernandéz (2004).
“Prazer em conhecê-lo, José Mourinho”
Por Guilherme Diniz
Os portugueses leais ao azul e ao branco do Futebol Clube do Porto viveram três anos simplesmente maravilhosos de 2002 até 2004. Depois de anos dominando o cenário futebolístico nacional com títulos e mais títulos do Campeonato Português, principalmente com o ídolo Jardel, o Porto conseguiu, enfim, expandir sua supremacia para o continente europeu de maneira emblemática, com jovens cheios de talento e lapidados por um treinador novato que logo entraria para o rol dos maiores de todos os tempos: José Mourinho. O polêmico e emburrado técnico conduziu o time de Vítor Baía, Ricardo Carvalho, Costinha, Maniche, Deco e Derlei às maiores glórias possíveis no velho continente: a Copa da UEFA e a Liga dos Campeões da UEFA. E as taças não vieram de qualquer jeito não. Elas foram conquistadas com show, talento, brilho, e um passeio na decisão da Liga contra o Monaco: 3 a 0. Mourinho conseguiu dar ao Porto praticamente todas as glórias, faltando apenas uma Supercopa da UEFA (perdidas para o Milan, em 2003, e Valencia, em 2004). O segundo troféu da Liga igualou os Dragões ao Benfica, maior rival, que desde a década de 60 se vangloriava por ter mais taças europeias que o Porto. Pobres vermelhos… É hora de relembrar os melhores anos da história do Porto, sem dúvida alguma, que tiveram taças, craques, Mourinho, façanhas e a inauguração de um estádio novinho em folha.
A chegada do “Special One”
Em janeiro de 2002, o Porto precisava de um novo treinador e ter de volta o brilho e força para vencer o campeonato nacional, que desde 1999 não ia para as terras do dragão. Para isso, a diretoria decidiu apostar num novato chamado José Mourinho, que vinha de trabalhos no União Leiria e no Benfica, além de ter feito estágio com o lendário Louis van Gaal no Barcelona, na década de 90. Mourinho chegou ao clube com pompa e já prometendo conquistas, além de trazer junto com ele o atacante brasileiro Derlei. Sisudo, organizado e ávido por disciplina tática, Mourinho rapidamente concentrou o grupo em jogadores chave, entre eles Vítor Baía, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Costinha, Deco, Derlei e Postiga.
No decorrer da temporada, o Porto mostraria dinamismo em campo, jogadas de efeito e uma competitividade enorme. O título do campeonato português não veio, mas o terceiro lugar, com 21 vitórias em 34 jogos, foi um grande início para Mourinho, que começaria uma dinastia incrível no Porto: o time, depois de perder em casa por 3 a 2 para o Beira-Mar, em fevereiro de 2002, jamais seria derrotado no Campeonato Português jogando em seus domínios com Mourinho no comando da equipe (foram 36 vitórias e dois empates em 38 jogos). Isso se transformaria num recorde pessoal de Mourinho que durou até os tempos de Real Madrid, nove anos e 150 partidas depois.
O começo da dinastia
Na temporada 2002-2003, o Porto tinha vários compromissos pela frente: Campeonato Português, Copa de Portugal e Copa da UEFA. Mourinho, sabendo da força do grupo que tinha em mãos, do entrosamento e da garra, tinha a certeza que poderia vencer tudo. E foi para isso que o seu Porto começou os trabalhos. No Campeonato Português, o time azul e branco se impôs desde o início da competição, venceu 16 das 17 partidas jogadas em casa (empatou a outra), perdeu apenas duas fora e conquistou o título nacional com 27 vitórias, cinco empates e duas derrotas em 34 jogos, com 73 gols marcados e 26 sofridos (e duas vitórias pra cima do Benfica, por 2 a 1 em casa e 1 a 0 fora). Aquele time começava a chamar atenção pelo equilíbrio e por ser forte não só no meio de campo (super criativo com Maniche e Deco), mas também na defesa, com destaque para Ricardo Carvalho e Jorge Costa. Na Copa de Portugal, o time não tomou conhecimento dos rivais e ganhou todas as partidas com certa tranquilidade: 2 a 1 no Vitória de Guimarães; 7 a 0 no Varzim; 2 a 0 no Naval e 1 a 0 no União Leiria, na final.
Rumo ao título inédito
Durante suas caminhadas portuguesas, o Porto teve desafios na Copa da UEFA, competição que a equipe nunca havia vencido. Os dragões estrearam contra o Polonia Warszawa-POL e venceram o primeiro jogo com um fácil 6 a 0, dando-se ao luxo de perder por 2 a 0 a partida de volta. Na sequência, duas vitórias sobre o Austria Wien-AUT por 2 a 0 e 1 a 0. Na fase seguinte, um 3 a 0 contra o Lens-FRA deixou o time com os pés nas oitavas de final da competição, mesmo com a derrota por 1 a 0 na partida de volta, na França. O adversário seguinte foi o Denizlispor-TUR, que foi goleado por 6 a 1 na partida de ida, em Portugal, com gols de Capucho, Derlei, Ricardo Costa, Jankauskas, Deco e Alenichev. Na volta, o empate em 2 a 2 colocou o Porto nas quartas de final.
O adversário seguinte foi o Panathinaikos-GRE, que na época tinha uma equipe perigosa. No primeiro jogo, em Portugal, Mourinho não conseguiu fazer sua equipe se impor, mesmo com Deco e Derlei, maestro e matador do time, respectivamente, e os gregos venceram por 1 a 0, gol de Olisadebe. Na volta, em Atenas, Derlei fez 1 a 0 Porto aos 16´do primeiro tempo, placar que permaneceu intacto até o final do jogo. Na prorrogação, o mesmo Derlei marcou o gol da suada classificação aos 103´, para delírio da torcida e de Mourinho, que se mostrou orgulhoso com o poder de reação do time e do brio psicológico demonstrado nos 120 minutos de jogo. Depois daquela partida, todos tinha a certeza que o Porto poderia, sim, vencer a Copa.
Show histórico
Nas semifinais, um duelo de puro equilíbrio era esperado entre Porto e Lazio-ITA, com o primeiro jogo em Portugal. Do lado da Lazio, vários remanescentes do título italiano de 2000 e outros grandes jogadores como Peruzzi, Stankovic, Mihajlovic, Favalli, Fernando Couto, Simeone, Chiesa e Claudio López. Com vários craques, a equipe italiana começou melhor a partida no estádio Das Antas e abriu o placar logo aos seis minutos com o argentino López. A torcida portuguesa temia pelo pior e via o filme do jogo contra o Panathinaikos se repetir. O problema era que a volta, em Roma, seria muito mais complicada do que contra os gregos. Mas quem disse que o Porto se entregaria?
A equipe lusa deu show de vontade e futebol e conseguiu empatar com Maniche, aos 10´, e virou com Derlei, aos 28´. No segundo tempo, o artilheiro Derlei marcou mais um e Hélder Postiga fechou uma inesperada e surpreendente goleada: 4 a 1. Na volta, Mourinho armou uma equipe muito bem postada na defesa para segurar a vantagem, sem deixar de levar perigo nos contra-ataques. No final, o 0 a 0 no placar garantiu o Porto na final da Copa da UEFA. O adversário seria o tradicional Celtic-ESC, que havia eliminado o Boa Vista-POR.
Haja coração!
O estádio Olímpico de Sevilha, na Espanha, foi o palco da grande final da Copa da UEFA de 2002-2003. De um lado, o Celtic de Paul Lambert, Neil Lennon, Petrov, Sutton e o sueco Larsson. Do outro lado, o ascendente Porto de Mourinho, comandado por Vítor Baía, Ricardo Carvalho, Jorge Costa, Costinha, Maniche, Deco e Derley. Uma curiosidade envolvendo aquela final era que ambas as equipes tinham os artilheiros do torneio, Larsson e Derley, com 8 e 10 gols, respectivamente. Será que eles tirariam a “nega” para ver quem seria o rei dos gols daquela Copa? Com certeza!
O jogo foi de muito equilíbrio e com várias chances de gol, reflexo direto das características ofensivas das equipes. Foi então que nos acréscimos do primeiro tempo, Derlei abriu o placar para o Porto. No segundo tempo, com apenas dois minutos, o sueco Larsson não deixou barato e marcou o gol de empate. Alguns minutos depois, Deco, sempre ele, colocou Alenichev na cara do goleiro Douglas para fazer 2 a 1. Três minutos depois, Larsson, de novo, empatou. O jogo seguiu alucinante, mas o placar ficou em 2 a 2. Na prorrogação, o brilho e a estrela de Derlei falaram mais alto e o atacante brasileiro mostrou oportunismo para marcar o terceiro gol faltando cinco minutos para o fim: Porto 3×2 Celtic.
Enfim, depois de 16 longos anos, o Porto voltava a conquistar uma taça continental, inédita para o futebol português. Era o cartão de visitas que faltava àquela equipe e a Mourinho, que vibrou como nunca e fez a festa. Derlei, herói do título, venceu a disputa particular com Larsson e foi o artilheiro do torneio com 12 gols marcados. Os azuis e brancos coroavam uma temporada brilhante ganhando tudo o que haviam disputado: Campeonato Português, Copa de Portugal e Copa da UEFA, um inédito “Treble de prata” para o time, já que o Treble original tem a Liga dos Campeões da UEFA no lugar da Copa. Mas essa Mourinho ainda não havia disputado, ora pois…
Dragão ganha casa nova
A temporada 2003-2004 começou ótima para o Porto. O time conseguiu manter seus principais jogadores (menos Postiga, que foi para o Tottenham) e se reforçou com a contratação efetiva de Benny McCarthy, atacante sul-africano que havia jogado algumas partidas na temporada anterior e marcado vários gols, além do meia brasileiro Carlos Alberto (ex-Fluminense, que chegaria em 2004), e os laterais-direito Bosingwa e Seitaridis. No mês de agosto, o time venceu a Supercopa de Portugal com vitória por 1 a 0 sobre o União Leiria. Também em agosto, os portugueses enfrentaram o Milan-ITA de Dida, Nesta, Maldini, Rui Costa, Gattuso, Pirlo, Seedorf, Shevchenko e Inzaghi pela final da Supercopa da UEFA, na qual Mourinho não conseguiu superar os italianos e viu o time rossonero vencer por 1 a 0 (gol de Shevchenko).
Depois do revés, a torcida pôde celebrar novamente em novembro, com a inauguração do Estádio do Dragão, a nova casa do Porto e um dos estádios que seriam utilizados na Eurocopa de 2004. Com capacidade para mais de 50 mil pessoas e super moderno, o caldeirão foi um divisor de águas na equipe de Mourinho, simbolizando uma era ainda mais suprema do time, que estreou na nova casa derrotando o Barcelona-ESP por 2 a 0, na partida que marcou a estreia de Lionel Messi entre os profissionais do clube catalão.
Reis de Portugal
Os comandados de Mourinho foram mais uma vez irresistíveis no Campeonato Português. Ainda mais fortes em casa (onde venceram todas as 17 partidas da temporada), a equipe deu show e faturou o bicampeonato com oito pontos de vantagem sobre o Benfica, com 25 vitórias, sete empates e apenas duas derrotas em 34 jogos, marcando 63 gols (melhor ataque) e sofrendo 19 (melhor defesa). O sul-africano Benny McCarthy foi decisivo e se tornou o artilheiro da equipe e do campeonato com 20 gols. Os destaques da campanha foram as vitórias sobre o Sporting por 4 a 1 e sobre o Benfica por 2 a 0, ambas em casa. A festa só não foi maior porque a equipe perdeu a Copa de Portugal para o rival Benfica por 2 a 1. Mas o foco, além de manter a hegemonia em casa, era a Liga dos Campeões da UEFA.
De volta ao Olimpo
Ausente das últimas Ligas, o Porto voltou ao principal palco do futebol europeu naquela temporada de 2003-2004. O time caiu no grupo F, ao lado de Real Madrid-ESP, Olympique de Marselha-FRA e Partizan-SRV. Na estreia, empate fora de casa contra o Partizan em 1 a 1, com o gol do Porto marcado por Costinha. Na partida seguinte, a equipe começou vencendo o Real Madrid em casa, com gol de Costinha, mas levou a virada e perdeu por 3 a 1. Aquela seria a única derrota do time na competição. Os portugueses se recuperaram no jogo seguinte, contra o OM de Drogba, ao vencer por 3 a 2 em Marselha (gols de Maniche, Derlei e Alenichev). No returno do grupo, vitória em casa sobre o OM por 1 a 0 (gol de Alenichev), vitória por 2 a 1 em casa sobre o Partizan (dois gols de McCarthy) e empate em 1 a 1 com o Real Madrid na Espanha (gol de Derlei). Em segundo no grupo, a equipe conseguiu a classificação e estava pronta para o mata-mata, além de já contar com o brasileiro Carlos Alberto entre os titulares, jogando muito e mostrando personalidade.
Quem é o azarão?
Nas oitavas de final, ninguém apostava que o Porto, mesmo com um grande time e super bem treinado por Mourinho, fosse capaz de derrotar o Manchester United de Gary Neville, Saha, van Nistelrooy, Giggs, Roy Keane, Scholes e Fortune. Mas, no primeiro jogo, em Portugal, a equipe mostrou mais uma vez seu poder de reação em situações adversas. Fortune abriu o placar para os ingleses aos 14´ do primeiro tempo. McCarthy empatou aos 29´e, no segundo tempo, acertou um lindo chute de primeira para virar o jogo para o Porto e garantir a vitória por 2 a 1, para delírio da torcida. Na volta, em Old Trafford, Scholes abriu o placar para o United aos 32´do primeiro tempo.
O resultado classificava o time inglês para a fase seguinte por conta do gol marcado fora. A partida seguia pegada e dramática, até que no último minuto do jogo o Porto teve uma falta a seu favor. Era a chance derradeira para a equipe. McCarthy bateu, o goleiro não segurou e Costinha, talismã do time naquela Liga, colocou a bola pra dentro do gol: 1 a 1 e classificação histórica para as quartas de final! A torcida portuguesa presente em Manchester enlouqueceu, bem como Mourinho, que correu em direção aos jogadores na hora do gol. Era hora das quartas de final.
Na fase seguinte, o adversário foi outra pedreira: o Lyon-FRA de Coupet, Edmílson, Essien, Diarra, Juninho Pernambucano, Malouda, Govou e Élber. Mourinho sabia que um resultado positivo e sem levar gols no primeiro jogo, no estádio do Dragão, era crucial para as pretensões da equipe. E foi o que aconteceu. Deco e Ricardo Carvalho fizeram os gols da vitória por 2 a 0, que deixou o time muito perto das semifinais. Na volta, em Lyon, o Porto marcou duas vezes com Maniche, levou dois gols, mas o empate em 2 a 2 classificou os comandados de Mourinho. A final estava muito próxima.
Derlei decide
Na semifinal, o Porto encarou o incrível Deportivo La Coruña-ESP, que havia eliminado o então campeão Milan com uma sapecada de 4 a 0 na partida de volta das quartas de final, mesmo depois de ter levado 4 a 1 em Milão. Com moral, os espanhóis foram duros de serem enfrentados na primeira partida, em Portugal. O Porto bem que tentou pressionar, mas o jogo foi muito pegado, disputado e com muitas faltas. O zero não saiu do placar e a decisão ficou para a Espanha.
Na partida de volta, Mourinho conseguiu neutralizar as investidas dos donos da casa graças a um eficiente sistema de marcação, principalmente do ótimo Costinha, que anulou o perigoso meia-atacante Valerón. A partida seguiu sem gols até os 60´, quando o Porto teve um pênalti a seu favor. Derlei, herói da conquista da Copa da UEFA de 2003, bateu e colocou o time na final da Liga dos Campeões depois de 17 anos. O sonho do bicampeonato estava a um passo.
Final atípica
A Arena AufSchalke, em Gelsenkirchen, na Alemanha, recebeu uma final totalmente atípica naquele dia 26 de maio de 2004. Ninguém esperava que Porto e Monaco fizessem a final depois de Milan e Real Madrid golearem seus adversários nas quartas de final de maneira tão categórica. Mas os titãs europeus sucumbiram diante de “pequenos” por conta da soberba e do excesso de confiança. O Monaco tinha um plantel de talento, com Ibarra, Evra, Cissé, Giuly e Morientes. Já o Porto foi a campo com o que tinha de melhor, com uma dupla de ataque brasileira (Carlos Alberto e Derlei), Deco e Maniche na criação, Costinha e Pedro Mendes como cães de guarda no meio de campo e Jorge Costa e Ricardo Carvalho como os paredões da zaga, protegidos nas laterais por Paulo Ferreira e Nuno Valente e Vítor Baía no gol apenas “observando” tudo aquilo. E, curiosamente, foi exatamente isso que o goleiro do Porto fez durante todo o jogo…
A Europa é do Porto. E de Mourinho também
Com um futebol envolvente, rápido e sem erros, o Porto não tomou conhecimento do rival e jogou muito naquela final. O Monaco não conseguiu mostrar a eficiência no ataque das partidas anteriores e foi obrigado a ver o passeio de Carlos Alberto, Deco e Alenichev, que marcaram os gols da goleada de 3 a 0 do time português. Porto campeão da Europa! Era a consagração definitiva daqueles jogadores que tiraram a equipe, enfim, das sombras do Benfica e, de quebra, elevaram o Dragão ao posto de maior campeão do país (se contarmos os títulos internacionais). A festa foi enorme na Alemanha e sacramentou uma geração fantástica do time azul e branco, muito graças ao talento inegável de Mourinho, que soube como ninguém transformar jogadores antes comuns em craques e estrelas mundiais, sendo o principal deles o meia Deco.
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O adeus do ídolo e de outros craques
Logo depois da conquista da Liga dos Campeões da UEFA, José Mourinho não resistiu aos milhões de dólares do russo Roman Abramovich e aceitou o desafio de treinar o estrelar Chelsea-ING, deixando órfãos jogadores e torcedores do Porto, que colocaram o português no mais alto patamar de idolatria do clube. Além dele (e de Ricardo Carvalho, que foi junto), a estrela Deco também saiu, para integrar o Barcelona-ESP. Sem Mourinho, o time perdeu força e passou a ser comandado pelo espanhol Víctor Fernandes. No primeiro desafio do novo técnico, ele comandou a vitória do Porto pra cima do Benfica pela decisão da Supercopa de Portugal, com gol de Quaresma aos 55´. Uma semana depois, o Porto decidiu mais uma Supercopa da UEFA, dessa vez contra o Valencia-ESP, mas perdeu por 2 a 1 (gol de honra marcado por Quaresma).
Reforços e preparação para o Mundial
Na temporada 2004-2005 o Porto contratou dois brasileiros: os meias Diego (ex-Santos), e Quaresma (ex-Barcelona), e o atacante Luís Fabiano (ex-São Paulo). Ambos integrariam o elenco da equipe lusa e lutariam por um objetivo: enfrentar e derrotar os colombianos do Once Caldas, surpreendente equipe que eliminou os ex-clubes de Diego e Luís Fabiano da Copa Libertadores e ficou com a taça pela primeira vez. O Porto teria muita dificuldade para vencer o time devido a já conhecida zaga que não deixava passar nem mosquito de tão retranqueira que era.
Na marca da cal, bicampeão mundial
Em dezembro, na cidade de Tóquio-JAP, Porto e Once Caldas fizeram um jogo histórico não só pelo cunho da decisão de um título mundial, mas também por aquela partida ser a última do torneio naqueles moldes, em jogo único, pois a partir de 2005 ele seria organizado pela FIFA com mais equipes e um novo sistema eliminatório. Vencer aquela competição significaria muito para ambas as equipes. O jogo, claro, foi de um time só, o Porto, que atacou, atacou, atacou e parou na zaga do Once Caldas, no goleiro Henao, e na falta de sorte (foram quatro bolas na trave e dois gols anulados por impedimento!). Depois de 120 minutos angustiantes, a decisão foi para os pênaltis.
Nas cobranças, Diego aproveitou para provocar Henao depois de marcar seu gol e foi expulso. Na quarta cobrança, Maniche acertou a trave. Na quinta cobrança do Once Caldas, Fabbro teve a chance de dar o título ao time colombiano, mas errou. Nas cobranças alternadas, os times foram fazendo seus gols até que García, do Once, chutou para fora. Pedro Emanuel chutou a seguinte do Porto e marcou, enfim, o gol da vitória por 8 a 7 e do título mundial, o segundo do Porto. A equipe se isolava ainda mais como a única de Portugal a ter em sua sala de troféus uma taça mundial, ou melhor, duas (a outra foi conquistada em 1987). Era o encerramento de um ano mágico que jamais deveria terminar para a apaixonada torcida do time azul e branco.
Dragões eternos
Depois do título mundial, o Porto não conseguiu manter a sina vencedora na Liga dos Campeões e sucumbiu no torneio que seria vencido pelo Liverpool em 2005, mas foi bem em solo nacional conquistando vários campeonatos portugueses. O time só voltaria a brilhar em território europeu na temporada 2010-2011 ao conquistar a Liga Europa pela segunda vez, de novo com um promissor treinador luso, André Villas-Boas. As comparações com Mourinho foram instantâneas, mas logo depois ficou claro que ele não era como o Special One. O trabalho feito por Mourinho no Porto foi mágico e impagável, transformando e revelando craques, vencendo partidas improváveis, virando jogos perdidos e conquistando troféus de baciada. Aquele Porto foi, sem dúvida, imortal.
Os personagens:
Vítor Baía: uma lenda no Porto e maior goleiro da história do clube, Baía começou na equipe lá em 1987 e jogou até 1996, quando se transferiu para o Barcelona. Ficou pouco na Catalunha até descobrir que seu lugar era mesmo no Porto, para onde voltou em 1999 e ficou até encerrar a carreira, em 2007. Conquistou 26 títulos com o clube, sendo os principais 11 títulos nacionais, 6 Copas de Portugal, 1 Liga dos Campeões, 1 Copa da UEFA e dois Mundiais. Foi um dos maiores goleiros de Portugal e um dos grandes das décadas de 90 e de 2000.
Paulo Ferreira: jogava como volante no início de carreira até a chegada de Mourinho no Porto, em 2002, quando passou a atuar mais recuado, como lateral. Foi muito bem e virou titular absoluto da equipe, jogando tanto na esquerda quanto na direita. Essencial para as glórias do time entre 2002 e 2004.
Seitaridis: era o titular na lateral direita da incrível Grécia campeã da Eurocopa de 2004 justamente em cima de Portugal. Logo após a competição, o grego foi para o Porto, onde jogou como titular em várias partidas, inclusive na decisão do Mundial Interclubes de 2004. Era forte na marcação e podia atuar, também, como volante.
Bosingwa: lateral-direito, o jogador não teve muitas chances com Mourinho entre 2002 e 2004, e passou a condição de titular apenas com a saída do treinador, sendo peça chave nas conquistas nacionais posteriores.
Ricardo Carvalho: começou a jogar no Amarante até se transferir ainda juvenil para o Porto, em 1997, onde começou a crescer profissionalmente e a virar craque sob o comando de Mourinho a partir de 2002. Leal, perfeito nas antecipações e muito seguro, fez uma dupla marcante com Jorge Costa na zaga do Porto naqueles anos mágicos. Depois do título da Liga dos Campeões, foi junto com Mourinho para o Chelsea.
Pedro Emanuel: o zagueiro chegou ao Porto em 2002, mas sofreu por ter de brigar por vagas no time titular com Ricardo Carvalho e Jorge Costa. Ganhou mais chances depois da era Mourinho e com a saída de Carvalho, virando até capitão da equipe nos anos seguintes até se aposentar em 2009.
Jorge Costa: jogou nada mais nada menos que 15 anos no Porto, se transformando no dono da zaga da equipe e num leão em campo, com muito vigor físico e imponência graças aos seus 1,88m de altura. Foi o capitão do time supercampeão entre 2002 e 2004, além de fazer uma dupla de zaga memorável com Ricardo Carvalho. Ganhou praticamente tudo com a camisa do Porto e foi ídolo do time.
Nuno Valente: junto com Derlei, veio para o Porto a pedido de Mourinho e não decepcionou. Tomou conta da lateral-esquerda da equipe com segurança e poder de marcação. Esteve presente nos grandes momentos da equipe entre 2002 e 2004.
Ricardo Costa: passou pelas categorias de base do Porto até subir para o time profissional em 2003, passando a concorrer com os titulares por uma vaga na lateral esquerda. Foi titular na final do Mundial Interclubes e cumpriu seu papel. Podia jogar, também, como zagueiro.
Costinha: um dos grandes craques do Porto, sem dúvida alguma, e dono do meio de campo da equipe. Era um verdadeiro “cão de guarda” e roubava bolas como ninguém, além de se posicionar como poucos, parecendo estar em todas as partes do campo. Surgia como elemento surpresa no ataque e marcava seus gols, principalmente na Liga dos Campeões da UEFA de 2003-2004, na qual ajudou o time com gols salvadores, sendo o maior deles nas oitavas de final contra o Manchester United. Era um dos xodós de Mourinho e titular absoluto. Ídolo do Porto entre 2001 e 2005.
Pedro Mendes: jogou apenas uma temporada no Porto, mas o suficiente para abocanhar o Campeonato Português, a Liga dos Campeões e a Supercopa de Portugal. Cumpriu seu papel e foi muito bem ao lado de Costinha no meio de campo.
Alenichev: era o 12º jogador de Mourinho e presença constante nas etapas finais das partidas. Tinha que concorrer com Deco por uma vaga no meio, por isso acabava perdendo espaço. Mesmo assim, foi titular em vários jogos e decisivo com gols em partidas importantes, marcando gol nas duas finais continentais do Porto: em 2003, na Copa da UEFA, e em 2004, na Liga dos Campeões. Muito habilidoso e com grande visão de jogo, o russo jogou no Porto de 2000 até 2004, até encerrar a carreira no Spartak Moscou-RUS.
Diego: veio do Santos-BRA em 2004 com status de estrela e como o nome certo para o lugar de Deco, mas não correspondeu com as expectativas, mesmo tendo uma boa atuação na conquista do Mundial daquele ano. Não se adaptou à vida em Portugal e deixou a equipe em 2006 para jogar no Werder Bremen-ALE.
Deco: de jogador comum, com passagem curta pelo Corinthians-BRA, à estrela mundial e craque. Deco foi lapidado e viveu momentos fantásticos sob o comando de José Mourinho naquele super Porto. Cerebral, com visão de jogo fora do comum e capacidade de colocar qualquer companheiro na cara do gol, o meia foi o grande nome da equipe naqueles anos, ao lado do brasileiro Derlei. O craque se naturalizou português e jogou a Eurocopa de 2004 por Portugal, além de disputar as Copas do Mundo de 2006 e 2010. Foi eleito o melhor meio-campista de 2004 e o jogador europeu do ano graças às suas atuações pelo Porto naquela temporada. Craque e ídolo eterno do clube, Deco seguiu carreira com muitos títulos pelo Barcelona-ESP, até chegar ao Chelsea e ao Fluminense, onde não repetiu o futebol de outros tempos por conta de seguidas lesões.
Quaresma: chegou à equipe em 2004 e começou marcando muitos gols, como o do título da Supercopa de Portugal pra cima do Benfica. Habilidoso, foi peça importante no ataque da equipe de 2004 até 2008.
Luís Fabiano: chegou ao Porto junto com Diego, em 2004, depois de ser eliminado pelo Once Caldas-COL da Copa Libertadores jogando pelo São Paulo-BRA. No Porto, não repetiu as boas atuações que teve no Tricolor Paulista e marcou pouquíssimos gols. Foi brilhar mesmo no Sevilla-ESP já em 2005.
Maniche: ao lado de Deco, compôs o meio de campo criativo do Porto entre 2002 e 2004. Com gols, passes e tabelas, ajudou a equipe a conquistar quase tudo o que disputou, com muita regularidade e disciplina, graças ao estilo de jogo proposto por Mourinho. Foi um dos grandes jogadores de seu tempo e presença constante na seleção portuguesa.
Derlei: o brasileiro chegou ao Porto em 2002, junto com o técnico José Mourinho, e, no auge da forma, se tornou um matador implacável no ataque do time. Graças aos seus gols, a equipe azul e branca conquistou o “falso” Treble na temporada 2002-2003, com destaque para a Copa da UEFA, onde Derlei foi sensacional e marcou 12 gols, sendo dois na vitória por 3 a 2 contra o Celtic-ESC na grande decisão. Na temporada seguinte, McCarthy virou o homem gol do time, mas Derlei permaneceu lá, sempre ajudando a equipe, como no gol de pênalti contra o La Coruña-ESP, nas semifinais, que colocou o Porto na final da Liga dos Campeões da UEFA. Foi ídolo e essencial para as glórias daqueles anos.
Hélder Postiga: cria do Porto, o atacante teve grandes momentos na temporada 2002-2003, contribuindo para os títulos daquele ano. Teve o azar de ser emprestado ao Tottenham-ING e perdeu a chance de conquistar a Liga dos Campeões da UEFA na temporada seguinte. Voltou ao time tempo depois e ajudou nas conquistas caseiras entre 2005 e 2007.
Benni McCarthy: o atacante sul-africano jogou no Porto apenas alguns jogos na temporada 2001-2002′, emprestado pelo Celta de Vigo, mas o suficiente para impressionar a todos com sua velocidade, oportunismo e faro de gols. Mourinho exigiu que o jogador fosse contratado em definitivo para a temporada seguinte e a diretoria, claro, atendeu. Com o atacante em campo, o Porto foi bicampeão português e seguiu a passos largos rumo ao título da Liga dos Campeões da UEFA. McCarthy foi o artilheiro do Campeonato Português naquela temporada com 20 gols, além de se entender muito bem com qualquer companheiro no ataque, seja Derlei, Carlos Alberto ou mesmo Luís Fabiano.
Carlos Alberto: o brasileiro chegou ao Porto como grande promessa depois de simplesmente arrasar nas categorias de base do Fluminense-BRA e no time principal. Chegou iluminado à equipe e formou uma dupla de ataque fantástica com McCarthy, principalmente na Liga dos Campeões da UEFA, onde o brasileiro marcou o primeiro dos três gols do time na final contra o Monaco. Ficou na equipe apenas naquele ano de 2004, mas o suficiente para ganhar quatro títulos: Campeonato Português, Supercopa de Portugal, Liga dos Campeões da UEFA e Mundial Interclubes. Em 2005, foi para o Corinthians-BRA da conturbada MSI e seu futebol começou a desaparecer.
Jankauskas: o atacante da Lituânia não era titular na equipe de Mourinho, mas ajudou muito o time marcando vários gols nas campanhas vitoriosas de 2003 e 2004. O jogador se tornou o primeiro de seu país a vencer uma Liga dos Campeões da UEFA, em 2004. Ganhou sete troféus com a camisa do clube.
José Mourinho e Víctor Fernandéz (Técnicos): José Mourinho se revelou para o mundo do futebol fazendo um trabalho de gênio com o Futebol Clube do Porto. Foram quase três anos de conquistas, vitórias emblemáticas e façanhas contra todos os prognósticos. O treinador transformou jovens e talentosos jogadores em craques do mais alto nível, impondo confiança e o espírito vencedor em cada um e em cada membro do clube. Com Mourinho, o Porto voltou a ser temido por todos e a vencer em solo europeu, conquistando uma inédita Copa da UEFA para Portugal, em 2003, e se igualando ao rival Benfica com o bicampeonato da Liga dos Campeões da UEFA, em 2004. Com a sua saída, o time enfraqueceu muito, mas não perdeu o espírito vencedor e ganhou mais dois troféus sob o comando de Víctor Fernandéz: a Supercopa de Portugal e o Mundial Interclubes, troféu este que encerrou com chave de ouro um período fantástico na história do clube.
Leia mais sobre Portugal de 2004-2006, que teve como base esse timaço do Porto, clicando aqui!
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Gostei muito do post! E, como portista, é um orgulho ler isto! 🙂
Porto era e ate hoje é um grande time o Deco no meu campo não tinha time para nos vencer porto é o meu clube favorito de coração ate morrer
Naquela final torci para o Monaco justamente pelo Porto ter sido campeão em 87, que também acho que seria interessante uma página sobre aquele time
Lamento ter que discordar de vc caio, o Porto de 2004 tinha sim estrelas e muitas como deco, carvalho, quaresma, luis fabiano entre outros e ao contário do corinthians de 2012 esse time dava show era envolvente lembrava o barça de hj. grande porto
A trajetória do Porto de 2004 me lembra um pouco o time do Corinthians em 2012, nas suas devidas proporções. Um time que não tinha estrelas, mas que com o dedo do treinador, se tornou um time cascudo e competitivo, com a força do conjunto e a aplicação dos jogadores como o diferencial. Tanto o Porto como o Corinthians conseguiram alcançar o topo do Mundo. Inclusive, o Tite disse que já se inspirou no Mourinho.