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Jogos Eternos – PSG 5×0 Internazionale 2025

PSG 5X0 INTER 2025 FINAL

Data: 31 de maio de 2025

O que estava em jogo: o título da Liga dos Campeões da UEFA de 2024-2025.

Local: Allianz Arena, Munique, Alemanha

Árbitro: István Kovács (ROM)

Público: 64.327 pessoas

Os Times:

PSG-FRA: Donnarumma; Hakimi, Marquinhos, Pacho e Nuno Mendes (Lucas Hernández); João Neves (Zaïre Emery), Vitinha e Fabián Ruiz (Mayulu); Doué (Barcola), Dembélé e Kvaratskhelia (Gonçalo Ramos). Técnico: Luis Enrique.

Internazionale-ITA: Sommer; Pavard (Bisseck / Darmian), Acerbi e Bastoni; Dumfries, Barella, Çalhanoglu (Asllani), Mkhitaryan (Carlos Augusto) e Dimarco (Zalewski); Marcus Thuram e Lautaro Martínez. Técnico: Simone Inzaghi.

Placar: PSG 5×0 Internazionale. Gols: (Hakimi-PSG, aos 12′ e Doué-PSG, aos 20′ do 1ºT; Doué-PSG, aos 18′, Kvaratskhelia-PSG, aos 28′ e Mayulu-PSG, aos 41′ do 2ºT).

 

“Un, deux, trois, quatre, cinq… ZÉRO!”

Por Guilherme Diniz

Finais de Liga dos Campeões da UEFA não costumam ser jogadas, mas vencidas. Em décadas de história, a competição teve jogos decisivos espetaculares, no entanto, a maioria vencida por detalhes, em jogos táticos, tensos e com poucos gols. Goleadas sempre foram raras. A primeira delas em 1960, quando o Real Madrid aplicou 7 a 3 no Eintracht Frankfurt para completar sua dinastia de cinco troféus seguidos. Anos depois, vimos os 4 a 0 do Bayern München para cima do Atlético de Madrid, na final de 1974. Em 1989, o super Milan de Arrigo Sacchi aplicou impiedosos 4 a 0 no Steaua Bucareste-ROM para levantar a UCL daquele ano. E, em 1994, outra vez o Milan goleou em uma decisão europeia: 4 a 0 no Dream Team do Barcelona de Romário e Stoichkov.

De lá para cá, nunca mais vimos diferenças tão grandes de gols em finais. Bem, isso até chegar a final de 2025 entre PSG e Internazionale. De um lado, os nerazzurris, que se vangloriavam do grande sistema defensivo e de performances inesquecíveis diante do Barcelona nas semifinais. Do outro, um PSG que se reconstruiu após anos de investimentos pesados, mas desempenhos aquém do desejado em campo, para formar um time unido, jovem e muito bem treinado por Luis Enrique. Era uma final sem favoritos, que provavelmente seria decidida pelos detalhes, talvez na prorrogação ou quem sabe pênaltis. 

Só que, quando a bola rolou, a Allianz Arena de Munique viu apenas um time jogar futebol. E que futebol. O Paris simplesmente encaixotou a Internazionale. Fez 1 a 0 com menos de 15 minutos. Ampliou aos 20’, com um garoto de 19 anos. E poderia fazer mais. No segundo tempo, alguns pensaram na remontada italiana, na garra. Nada disso aconteceu. A equipe de Milão parecia entorpecida. A de Paris, ávida. Fez 3 a 0. Fez 4 a 0. Fez 5 a 0. Poderia fazer 6, 7. Ficou em uma mão mesmo: PSG 5×0 Inter. 

A maior goleada da história das finais da Liga dos Campeões da UEFA demorou 70 anos para acontecer. Pois aconteceu com um time oriundo da cidade que abrigou justamente a primeira final lá de 1955-1956. Um clube jovem, que passou décadas ouvindo piadas e gozações dos tantos craques que por lá passavam e não conseguiam levantar a Velhinha Orelhuda. Pois o PSG destroçou tudo e todos naquele 31 de maio. Um passeio que poucas vezes vimos em uma final. Talvez o maior da história das finais. Foi uma avalanche. Um rolo-compressor que devastou a Inter e lhe impôs provavelmente sua maior derrota em mais de 100 anos. É hora de relembrar.

Pré-jogo

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A Liga dos Campeões da UEFA de 2024-2025 foi a primeira da era “Fase de Liga”, que pôs fim à manjada e entediante fase de grupos que por décadas definiu os classificados para o mata-mata. Nessa nova fase, vimos jogos muito melhores e grandes clubes sofrendo bastante para conseguirem suas vagas nas oitavas de final, além de outros só se garantirem por meio dos playoffs. E o PSG foi um deles. O time francês foi apenas o 15º colocado, com quatro vitórias, um empate e três derrotas em oito jogos. A equipe venceu o Girona-ESP em casa por 1 a 0, perdeu para o Arsenal-ING por 2 a 0 (fora), empatou em casa com o PSV-HOL em 1 a 1, perdeu em casa para o Atlético de Madrid-ESP por 2 a 1 e para o Bayern München-ALE, fora, por 1 a 0. Precisando de vitórias, a equipe engatilhou uma série de três triunfos que garantiram a vaga nos playoffs: 3 a 0 no RB Salzburg-AUT, fora, 4 a 2 no Manchester City-ING, em casa, e 4 a 1 no Stuttgart-ALE, fora.

Na decisão da vaga para as oitavas, a equipe de Luis Enrique encarou o vizinho Brest-FRA e passou sem sustos, com um 10 a 0 no agregado. Nas oitavas, um titã pela frente: o Liverpool-ING, que foi ao Parque dos Príncipes e fez 1 a 0. Na volta, em pleno Anfield Road, Dembélé fez o gol da vitória por 1 a 0, levou o jogo para a prorrogação, e, nos pênaltis, o PSG fez 4 a 1 (com dois pênaltis defendidos por Donnarumma), calando a fortaleza vermelha!

Nas quartas, vitória por 3 a 1 sobre o Aston Villa-ING, em casa, vantagem confortável para a volta, na Inglaterra. Por lá, o PSG abriu 2 a 0, ficou tranquilo, mas viu os Villans virarem o jogo para 3 a 2, insuficiente para evitar a classificação. Nas semis, foi a vez de encarar o algoz do Real Madrid, o Arsenal-ING. Na ida, em pleno Emirates Stadium, Dembélé fez 1 a 0 logo aos 4’ do primeiro tempo e o PSG levou a vantagem do empate para sua casa, que embalou a vitória por 2 a 1 que garantiu os franceses na final.

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Dembélé, grande nome do PSG no mata-mata. Foto: Acervo / One Football
 

Do outro lado, a Inter fez uma Fase de Liga confortável, terminou na 4ª colocação e avançou direto para as oitavas de final. Os italianos empataram em 0 a 0 com o Manchester City-ING (fora), derrotaram o Estrela Vermelha-SER por 4 a 0 (em casa), o Young Boys-SUI por 1 a 0 (fora), o Arsenal-ING por 1 a 0 (em casa), o RB Leipzig-ALE por 1 a 0 (em casa), perderam para o Bayer Leverkusen-ALE por 1 a 0 (fora), venceram o Sparta Praga-RCH por 1 a 0 (fora) e também o Monaco-MO, em casa, por 3 a 0. Nas oitavas, eliminaram o Feyenoord-HOL com um 2 a 0 em pleno De Kuip e um 2 a 1 em casa. 

Na sequência, derrotaram o Bayern por 2 a 1 fora e empataram em 2 a 2 no Giuseppe Meazza até encontrarem o Barcelona-ESP, melhor ataque da competição e com Raphinha e Lamine Yamal infernais. E os jogos foram simplesmente alucinantes: empate em 3 a 3 na ida, em Barcelona, e vitória nerazzurri por 4 a 3 na volta, decidida na prorrogação. Leia mais clicando aqui!

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Com a final definida, a expectativa era de um jogo sem favoritos e com estilos bem diferentes. Do lado francês, o PSG apostava em um jogo de toque de bola e velocidade, com o talento de seu ótimo meio de campo, as chegadas do lateral Hakimi pela direita e o ataque formado por Doué, Dembélé e Kvaratskhelia. Era um time muito bem organizado por Luis Enrique, que evoluiu bastante ao longo da competição e soube enfrentar rivais poderosos sem medo. A equipe ainda lutava por um inédito Treble, pois já havia conquistado o Campeonato Francês e a Copa da França.

“O que tento transmitir é que nosso caminho foi muito difícil. Jogamos partidas de altíssimo nível desde o início da Champions. Jogamos nesse estádio (Allianz Arena, palco da final) contra o Bayern München. Não temos motivo para ter medo. Tentaremos mostrar nossas melhores armas. Estou muito orgulhoso de estar aqui na final. Nada foi fácil. É simplesmente um prazer estar neste ponto da competição. A Inter também é uma grande equipe e merece estar na final. Eles sabem atacar, defender, são um time físico”, comentou dias antes da final o técnico espanhol, campeão da UCL com o Barcelona em 2015 e que tentava levantar a Velhinha Orelhuda pela segunda vez. 

Do lado da Inter, o técnico Inzaghi esperava não sofrer tanto na defesa antes intransponível como havia sofrido diante do poderoso ataque do Barça nas semifinais. Mais do que isso, vencer o título europeu seria a salvação de uma temporada ruim, na qual a Inter foi eliminada nas semifinais da Copa da Itália para o rival Milan (derrota por 3 a 0), perdeu o título da Supercopa Italiana também para o Milan (derrota de virada por 3 a 2) e ficou com o vice no Campeonato Italiano, um ponto atrás do campeão Napoli. Inzaghi confiava no seu elenco, que soube “sofrer” e superar adversidades para chegar à final, a segunda do time em três anos – os italianos perderam para o Manchester City em 2023

“É normal ficar animado para um jogo como esse, diante de uma grande torcida, entre dois times que merecem estar aqui. Aprendemos algo com o jogo de 2023 – por exemplo, como nos preparar melhor para esta final. Cada jogo é diferente, claro. Como da última vez, enfrentamos uma grande equipe. Por isso, precisamos enfrentar o Paris sabendo que haverá momentos em que sofreremos e outros em que teremos a bola e eles precisarão defender. Detalhes e momentos são essenciais”.

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Foto: Getty Images
 

A boa fase do goleiro Sommer, o entrosamento do trio de zaga e a linha de cinco no meio de campo, além do sempre decisivo capitão Lautaro Martínez no ataque, eram os diferenciais do time que queria o tetracampeonato e acabar com o jejum de 15 anos sem levantar a Velhinha Orelhuda. Mais do que isso, era a chance de trazer os holofotes ao futebol italiano, antes protagonista no continente, mas que passou a coadjuvante nos últimos anos e luta para voltar a dominar os grandes torneios europeus – o sopro de esperança veio em 2024, com o título da Atalanta na Liga Europa da UEFA. 

Um fato que animava o lado francês era o local daquela final: Munique. A cidade já havia abrigado outras quatro finais de UCL (as três primeiras no Olímpico de Munique e a última na Allianz Arena) e em todas o campeão foi inédito. Primeiro, em 1979, quando o Nottingham Forest-ING levantou sua primeira Velhinha Orelhuda (o clube seria bi em 1980). Depois, em 1993, quando o Olympique de Marselha bateu o Milan e se tornou o primeiro clube francês campeão da UCL. Em 1997, foi a vez do Borussia Dortmund faturar sua primeira UCL com os 3 a 1 sobre a Juventus. E, em 2012, o Chelsea-ING jogou água no chopp do Bayern e venceu sua primeira UCL em plena Allianz Arena. Será que o filme iria se repetir pela quinta vez?

Primeiro tempo – Um só time em campo

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Achraf Hakimi fez o primeiro gol do PSG. Foto: EFE/EPA/RONALD WITTEK
 

O PSG deu a saída e começou com uma tática já conhecida de outros jogos: chutar a bola para frente, na lateral, a fim de iniciar a marcação-pressão e reduzir logo de cara os espaços do rival. Luis Enrique tratou desde aquele primeiro minuto de encaixotar a Inter, não deixar o meio de campo italiano pensar e seu time ter a dominância. Deu certo. João Neves, Fabián Ruiz e Vitinha tomaram a bola para si e pareciam brincar de bobo com os nerazzurris. Tocavam para lá, para cá, pensavam, costuravam, lançavam. Esbanjavam futebol, assim como Hakimi pela direita e Doué onipresente, responsável pelos primeiros chutes a gol. Só dava PSG, que via uma Inter cheia de buracos e muito passiva, sem demonstrar o apetite de outros jogos. 

Até que, aos 11’, Kvaratskhelia recebeu na esquerda, avançou, acompanhado de perto por Dumfries, e tocou a bola para Fabián Ruiz. O espanhol girou, tirou a marcação e recuou para Vitinha, que fez um passe perfeito que quebrou uma linha de quatro marcadores da Inter (isso mesmo, QUATRO) e a bola sobrou livre para Doué, dentro da área, que girou e rolou no meio para Hakimi, totalmente livre e com Dimarco dando condição. Hakimi só teve o trabalho de dar um sutil toque para o gol, com Sommer totalmente batido: 1 a 0.

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Passe de Vitinha desmontou a zaga italiana.
 
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Luis Enrique regeu seu time de maneira sublime em Munique. Foto: AP Photo/Martin Meissner
 

Um gol trabalhado, arquitetado, com a assinatura de Luis Enrique. Golaço! E festa nas arquibancadas da Allianz Arena, onde só se ouvia a barulhenta e fanática torcida do Paris, que empurrava o time como se ali fosse o Parque dos Príncipes, com fumaça, bandeirões e muita gritaria. A Inter precisava de uma reação, mas o PSG não deixava. Apertava a marcação, dominava os espaços, tinha a bola consigo. Aos 17’ Kvaratskhelia chegou na entrada da área e arriscou um chute, que subiu e foi para fora. A resposta da Inter veio no minuto seguinte, quando Dumfries cobrou lateral na área, Thuram desviou e o zagueiro Pacho cortou. Quando a bola estava saindo em escanteio, o equatoriano se esforçou, ganhou a disputa de Barella e impediu a saída, originando um contra-ataque para o PSG.

Kvaratskhelia acionou Dembélé, que recebeu na esquerda e faz ótima inversão para o lado direito, para Doué. O camisa 14 dominou e bateu forte, chapado. A bola ainda desviou em Dimarco e entrou: 2 a 0. Outro belo gol coletivo, originado lá atrás, na recuperação perfeita de Pacho! Luis Enrique fez questão de apontar para o zagueiro, celebrando que aquele gol só aconteceu graças a ele. Mais fumaça na Allianz Arena! Que festa a torcida do PSG fazia. Que jogo! PS: era o 2 a 0 mais rápido da história das finais da Liga dos Campeões…

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Doué, artilheiro da final. Foto: Justin Setterfield / Getty Images
 
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Os times em campo: PSG devastou a Inter, controlou o meio de campo e goleou.
 

A Inter tinha que descontar o quanto antes. O jogo estava fora do controle dos italianos, totalmente perdidos. Aos 22’, Çalhanoglu cobrou escanteio para a pequena área, e Acerbi chegou no alto para cabecear. A bola subiu e foi por cima. Em novo ataque parisiense, Fabián Ruiz chutou de fora da área, aos 26’, e Sommer defendeu. Já passando dos 30’, o PSG seguia dono do meio de campo, com destaque para Vitinha, flutuando por ali e jogando como queria. O português era um dos destaques daquele primeiro tempo, a referência que Luis Enrique sempre gostou de ter em suas equipes. Só aos 36’ que a equipe italiana teve uma boa chance, quando Çalhanoglu cobrou escanteio com efeito, na segunda trave. Marcus Thuram subiu bem e cabeceou com força, mas a bola foi para fora.

Aos 43’, Doué fez mais uma boa jogada, após receber lançamento na esquerda, e tocou no segundo poste. Dembélé apareceu nas costas de Dimarco, chutou, mas errou bisonhamente, mandando a bola para a lateral! Que chance desperdiçada! Três minutos depois, Kvaratskhelia fez boa jogada na área, gingou diante da marcação e chutou cruzado. A bola desviou e foi para escanteio. Dembélé cobrou, Kvaratskhelia cabeceou e a bola passou perto do gol. Ao apito do árbitro, o primeiro tempo terminou com total domínio do PSG, que teve 61% de posse de bola e 13 finalizações, contra apenas duas da Inter. Destaque para o jogo limpo, com apenas cinco faltas do PSG e uma da Inter, algo louvável em uma final. O título estava perto de Paris. Para ir a Milão, a Inter teria que jogar como jogou contra o Barcelona. Caso contrário, a torcida nerazzurri ganharia outro vice para amargar…

Segundo tempo – Avalanche de gols e a goleada eterna

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As equipes voltaram sem mudanças para a etapa final e o PSG começou à sua maneira: pressionando e atacando. Logo aos 40 segundos, Kvaratskhelia recebeu pela esquerda, invadiu a área e chutou forte, mas por cima do gol. A Inter seguia sem organização e totalmente fora dos grandes jogos que havia feito na temporada. Aos 4’, Kvaratskhelia apareceu de novo na esquerda, aproveitou sobra de bola na área após tentativa de corte errada da zaga da Inter e chutou para fora. Outra boa chance desperdiçada pelo georgiano. No minuto seguinte, foi a vez de Dembélé chutar com perigo após receber de Fabián Ruiz, perto do gol de Sommer. A Inter mexeu aos 8’, com as entradas de Bisseck e Zalewski nos lugares de Pavard e Dimarco, respectivamente – ambos foram muito abaixo do esperado naquela decisão, principalmente Dimarco.

Aos 10’, Zalewski chegou pela esquerda, abriu espaço para o chute e finalizou em cima de João Neves. O rebote escapa, mas o lateral recuperou e atingiu Fabián Ruiz. O árbitro marcou a falta e deu cartão amarelo para o jogador da Inter que acabara de entrar. O dia não era mesmo da Inter e, aos 15’, Bisseck, outro que estava há poucos minutos em campo, sentiu dores na coxa e teve que ser substituído por Darmian. A Inter não atacava. Donnarumma era um mero espectador do jogo – o lado negativo disso para o goleirão era ter mais tempo para ficar ouvindo os “elogios” que a torcida da Inter, atrás do seu gol naquela etapa final, proferia a ele por conta de seu passado pelo Milan.

Aos 18’, Vitinha iniciou um ataque lá de trás, tocando para Dembélé no meio de campo, que devolveu com categoria para o português, que conduziu a bola em velocidade com muita liberdade. Vitinha esperou a chegada de Doué na direita, rolou para ele, que dominou e chutou no cantinho de Sommer: 3 a 0. Era o segundo gol do jovem na final. Ele já entrava para a história como o mais jovem a marcar dois gols em uma final de UCL, superando Eusébio nos 5 a 3 do Benfica pra cima do Real Madrid em 1962. Doué era ainda o primeiro jogador a participar de três gols (dois gols e uma assistência) em uma final de UCL. “Só” isso. O PSG ganhava um herói naquele 31 de maio. A conquista inédita era questão de minutos.

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O gol desmontou de vez a Inter. Pálida, combalida, dizimada. Luis Enrique fez questão de tirar Doué – para a entrada de Barcola – após o gol para que ele recebesse as palmas e ovações que merecia. Que jogo do camisa 14. Aos 24’, Barcola recebeu lançamento pela direita, saiu livre e tentou o cruzamento. A bola passou pela área, mas voltou para os pés de Fabián Ruiz. A zaga não afastou, e a sobra ficou com Barcola, que teve a chance do chute e bateu forte, mas por cima do gol. Aos 27’, após outra roubada de bola em seu campo de defesa, o PSG iniciou um contra-ataque pela esquerda e Dembélé lançou Kvaratskhelia, que saiu em disparada, livre. O camisa 7 só teve o trabalho de chutar colocado, no contrapé de Sommer, para fazer 4 a 0. Que baile! Que show!

A Inter até tentou fazer seu gol de honra minutos depois, em chute de Thuram, mas Donnarumma fez sua primeira grande defesa do jogo e evitou o tento italiano. Inquieto, Luis Enrique pedia para seu time seguir ávido, apertando a saída de bola do rival para fazer mais gols. Nada de zona de conforto, de ficar tocando para o lado. Eles tinham que continuar dando show. Aos 35’, Barcola fez ótima jogada após arrancar pelo meio e entrar na área. O atacante gingou diante da marcação, deixou Acerbi no chão e ia fazendo um golaço, mas errou o chute e mandou na rede pelo lado de fora. Incrível chance desperdiçada! 

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Depois de tanto martelar, Kvara, enfim, deixou o seu gol. Foto: Acervo / UEFA / Getty Images
 

Com algumas mudanças nos minutos seguintes, o PSG já entrou na contagem regressiva para o título. Nas arquibancadas, a torcida parisiense gritava “olé”, desfrutando do passeio de seu time. Aqueles 4 a 0 já entravam para a lista das maiores goleadas da história da UCL. Mas por que não transformar aquela goleada na MAIOR goleada? Pois foi isso que aconteceu, aos 41’: os franceses trocaram passes na entrada da área italiana, Mayulu, que acabara de entrar em campo, tocou para Barcola, que devolveu dentro da área para o jovem, que chegou diante de Sommer e chutou forte, cruzado, na bochecha da rede: 5 a 0.

Que chocolate. Que croissant. Que macaron. Que crème brûlée. Que cannelé. Que éclair. Que madeleine. Ou qualquer iguaria que queira utilizar! Estava sacramentada a maior goleada da história das finais da Liga dos Campeões da UEFA. Um placar que demorou sete décadas para acontecer. Mas aconteceu, justamente com o clube que mais sonhou com aquele título e que mais tentou vencê-lo nos últimos anos. O árbitro nem precisou dar acréscimos. Pra quê? Aos 45’, apitou o final do jogo. Paris Saint-Germain, campeão da Liga dos Campeões da UEFA pela primeira vez. Campeão de um torneio continental depois de 29 anos, a primeira taça desde a Recopa da UEFA conquistada em 1996 com o esquadrão de Bernard Lama, Le Guen, Alain Roche, Guérin, Raí, Djorkaeff e Patrice Loko. Os parisienses terminaram a final com 23 chutes a gol contra apenas 8 da Inter, e 59% de posse de bola. 

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Era a conquista mais do que merecida a um time formado sem grandes estrelas, sem loucuras, com planejamento e um técnico extremamente profissional, inteligente e fantástico, que há 10 anos atrás fazia história com o título europeu pelo Barcelona também na Alemanha, mas em Berlim. E, naquele 31 de maio, levantava outro, em Munique, que viu pela 5ª vez um campeão europeu inédito. Chega de piadas vindas de Marselha. Chega de contestações. O PSG venceu a UCL. Da maior maneira possível. Da mais emblemática maneira possível. Da mais inesquecível maneira possível. Digno do Louvre. Digno da imortalidade.

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

PSG: a vitória consagrou de vez o time de Luis Enrique como o 11º a conquistar um Treble no futebol europeu, algo raríssimo e que nem grandes esquadrões do passado como o Real Madrid de Di Stéfano, o Bayern de Beckenbauer, o Milan de Sacchi ou o Real Madrid de CR7 conseguiram. Nas celebrações, Luis Enrique vestiu uma camisa em homenagem a sua filha, Xana, que esteve com ele na conquista europeia de 2015 e faleceu em agosto de 2019, aos nove anos, após cinco meses de luta contra um tumor ósseo. Nas arquibancadas, a torcida do PSG estendeu um bandeirão relembrando aquele momento, emocionante e que deixou o espanhol muito tocado. Semanas antes da final, durante uma coletiva de imprensa, ele mencionou esse momento.

“Minha filha não estará presente fisicamente, mas estará espiritualmente. E isso, para mim, é muito importante. Tenho memórias incríveis, porque minha filha adorava comemorar. E tenho certeza de que, onde quer que ela esteja, ela continua festejando. Lembro-me de uma foto incrível que tenho com ela depois de vencer a final da Champions em Berlim, colocando uma bandeira do Barça no centro do campo. Espero poder fazer o mesmo com o PSG.”

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Homenagem da torcida do PSG.
 
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Luis Enrique e sua filha, em 2015.
 
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Uma nova festa em 2025. Foto: Acervo / UEFA / Getty Images
 

Com o título consolidado e vendo aquela homenagem da torcida, além de recordar a foto com a filha, o espanhol comentou. “Meu sentimento, minha emoção agora, é de felicidade, de alegria. Nessa final, jogamos muito bem, pressionamos o tempo todo, contra uma ótima Inter, criamos chances desde o começo, ficamos com a posse de bola. Era nosso objetivo, nossa meta, desde o ano passado. No segundo ano alcançamos isso, escrevemos a história e queremos ganhar mais, mas antes precisamos celebrar e deixar as pessoas felizes. Muito obrigado. Acho que essa foto reflete muito como era a felicidade da minha filha nas festas, sempre conectada com a gente. Agora é hora de festa, de celebrar”. 

Celebrar é algo que todo torcedor parisiense fará por muito tempo. E Xana, de algum lugar, também celebra a conquista de seu pai, 10 anos depois daquela festa em Berlim. 


Internazionale: “Não parecia a minha Inter e sabemos disso. Mas estou orgulhoso dos meninos e do que eles fizeram ao longo do caminho. É muito doloroso, esta derrota dói ainda mais do que em Istambul há dois anos. Estávamos mais cansados que o PSG, faltou precisão nos passes, o frescor estava do lado deles. Sabíamos que seria difícil, mas tecnicamente o PSG era muito superior. Perdemos a nossa final”. Foi assim que o técnico Simone Inzaghi definiu a derrota na coletiva de imprensa pós-jogo. Foi difícil entender como um time que fez tantos jogos emocionantes nas fases anteriores da UCL esteve tão apático naquela decisão. Por mais que a temporada tenha sido desgastante, em uma final europeia se dá o sangue, se luta. E nada disso foi visto nos jogadores da Inter. Foi, sem dúvida, a pior derrota nerazzurri em competições europeias. Talvez de sua história. Uma ferida que demorará muito para cicatrizar. Bem, se cicatrizar…

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