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Gran Parque Central – O pioneiro da América

Nome: Estádio Gran Parque Central

Localização: Montevidéu, Uruguai

Inauguração: 25 de maio de 1900

Partida Inaugural: Deutscher 0x2 CURCC, 25 de maio de 1900

Proprietário: Club Nacional de Football

Capacidade: 37.000 pessoas

Por Leandro Stein e Guilherme Diniz

Ele foi construído em um local histórico para o povo uruguaio. Naquele terreno em Montevidéu, o cenário fez parte da independência do Uruguai onde, em 1811, José Gervasio Artigas seria nomeado o “Jefe de los Orientales” e líder do movimento de libertação do país, com a independência declarada em 1825. O tempo passou e ele se consagrou como um dos estádios mais importantes do país, sede de jogos da Copa América de 1923 e 1924 e de seis jogos da primeira Copa do Mundo da FIFA, em 1930 – incluindo o primeiro da seleção brasileira. Com quatro grandes reformas, ele mudou bastante ao longo das décadas, mas segue com sua essência de “estádio raiz” viva. O Gran Parque Central, também conhecido como Parque Central, é o mais antigo estádio de futebol da América do Sul e casa do Nacional. Com mais de 120 anos de existência, transborda classicismo e histórias que apaixonam o amante do futebol. É hora de relembrar.

Índice

Sob a aura de Artigas

Gran Parque Central

A atual estrutura do Gran Parque Central é a quarta versão do estádio, que continua recebendo as partidas dos tricolores e até mesmo passou por ampliações recentes. O que não se perde é a alma de sempre, traduzida nos jogos que passam pelo gramado. Foi no local da construção do estádio, no coração do bairro de La Blanqueada, que Artigas começou a libertação do país e sua independência. Ainda hoje existe uma placa de homenagem ao herói, em que menciona a importância histórica do lugar a qualquer transeunte que passe por ali. 

Em seus primórdios, o Parque Central não tinha o Nacional como dono exclusivo. A inauguração, em 25 de maio de 1900, serviu para celebrar o espaço cedido pela companhia de bondes como local público para a prática de esportes, em especial o futebol, já em alta no país. A inspiração do acanhado estádio foram os campos ingleses, com assentos de madeira bem próximos ao gramado e poucos lugares. Naquele início, o estádio não tinha praticamente nenhuma grande estrutura, apenas o campo e poucas arquibancadas. Sob grande festa, com apresentações musicais e outras atrações, a abertura contou com 7 mil presentes, um recorde na época. A primeira partida aconteceu entre Deutscher Fussball Club e CURCC – este, o clube que deu origem ao Peñarol -, com vitória dos aurinegros por 2 a 0 na ocasião. O Nacional só entrou em campo dois dias depois, em 27 de maio, empatando com o Deutscher por 1 a 1. O primeiro gol dos tricolores foi de Ernesto Caprario, que um ano antes havia fundado a agremiação tricolor.

Gran Parque Central

Nacional e Deutscher logo se tornaram os mandantes costumeiros no Parque Central, que possuía dois campos, além de quadras de tênis. No entanto, os tricolores conseguiriam a concessão definitiva, investindo no espaço e construindo mais arquibancadas de madeira – a seleção uruguaia também mandava os jogos durante seus primórdios no estádio. Com a popularização da modalidade em Montevidéu, o Parque Central cresceu junto e, em 1911, o estádio passou por sua primeira grande reforma, onde foram construídas novas arquibancadas de madeira, aumentando a capacidade para aproximadamente 15.000 espectadores, fazendo do Parque Central um dos melhores estádios do continente na época.

Nem só de futebol vivia aquele gramado, palco também de suas tragédias. Em 1918, o capitão do Nacional, Abdón Porte, tirou sua própria vida com um tiro no círculo central, desiludido com o declínio de sua carreira na equipe. Meses depois, em 1920, ocorreu um duelo de pistolas (!) entre o ex-presidente José Batlle y Ordóñez e Washington Beltrán, jornalista do El País. Embora 29 anos mais velho, Batlle y Ordóñez foi mais rápido no gatilho e matou seu oponente dentro do Gran Parque Central.

Incêndios, reconstruções e a primeira Copa

Em 1923, o Gran Parque Central sofreu um incêndio e foi reconstruído em apenas três meses para iniciar sua era de grandes competições naquele mesmo ano, com a realização do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América). O título do Uruguai, campeão com um elenco baseado principalmente em jogadores tricolores, levaria a Celeste à consagração nos Jogos Olímpicos de 1924. O torneio continental de 1924 também seria sediado no estádio, até que a cereja do bolo ficasse guardada para a Copa do Mundo de 1930. O pontapé inicial do Mundial ocorreu no Parque Central, que recebeu o Estados Unidos x Bélgica no mesmo horário que França x México, no Estádio de Pocitos. O primeiro gol, todavia, se deu na antiga casa do Peñarol, anotado pelo francês Lucien Laurent.

O Uruguai mandou todos os seus jogos na Copa de 1930 dentro do recém-inaugurado Estádio Centenário, sua casa a partir de então. Ao menos, o Gran Parque Central abrigou as estreias de Brasil e Argentina em Copas. Os brasileiros perderam para a Iugoslávia por 2 a 1, com o famoso tento de Preguinho para fechar o placar. Já os argentinos bateram a França por 1 a 0, cortesia de Luis Monti, futuramente um “oriundicampeão do mundo com a Itália. Por lá também ocorreu o primeiro hat-trick dos Mundiais, assinalado pelo estadunidense Bert Patenaude, na goleada dos Estados Unidos por 3 a 0 sobre o Paraguai. As partidas em 1930 foram:

Estados Unidos 3×0 Bélgica, 13 de julho de 1930

Iugoslávia 2×1 Brasil, 14 de julho de 1930

Argentina 1×0 França, 15 de julho de 1930

Chile 3×0 México, 16 de julho de 1930

Iugoslávia 4×0 Bolívia, 17 de julho de 1930

Estados Unidos 3×0 Paraguai, 17 de julho de 1930

Já em 1941, de novo o Gran Parque Central sofreu um incêndio, consequência de suas vulneráveis arquibancadas de madeira. Isso motivou uma reforma mais profunda, com a reconstrução das arquibancadas em concreto, obras que levaram três anos e promoveram a reinauguração do estádio em 1944, agora com capacidade para 20 mil pessoas. Ao longo dos anos, o Nacional foi incorporando terrenos próximos e criou mais quadras e campos para seus sócios e atletas. Só que a utilização frequente do Centenário tornou o velho estádio uma casa apenas ocasional ao Nacional, aproveitado mais por sua estrutura como sede do que como campo de futebol propriamente dito. Prova disso é que o Nacional não disputou nenhuma das finais das Libertadores nas quais foi campeão em sua casa. As decisões de 1971, 1980 e 1988 foram no Centenário, para levar mais gente e, claro, trazer mais dinheiro ao clube tricolor.

Modernizações e a volta do caldeirão

Durante as décadas de 1980 e 1990, o Gran Parque Central continuou a ser modernizado, com a adição de novas tecnologias e melhorias na segurança. A instalação de sistemas de iluminação foi um ponto importante durante a década de 1990, pois permitiram a realização de jogos noturnos, o que aumentou a flexibilidade na programação dos jogos e eventos. Os vestiários e outras áreas utilizadas pelos jogadores passaram por reformas significativas para oferecer mais conforto. As arquibancadas foram renovadas, com substituição de assentos e melhorias nas áreas de circulação. Houve também um foco em tornar o estádio mais acessível, com a instalação de rampas e outras facilidades para pessoas com deficiência. 

Mas foi na virada do milênio que o estádio passou por melhorias consideráveis entre 2005 e 2010. A capacidade do estádio foi significativamente aumentada, com a construção de novas arquibancadas e a renovação das existentes, levando a capacidade total para cerca de 34.000 espectadores em 2018. O estádio ganhou ainda cadeiras individuais, áreas VIP, novas áreas de imprensa, modernização dos vestiários e outras instalações. Essas reformas fizeram com que o Nacional passasse a jogar mais no Parque Central e reforçou a aura de alçapão. 

Gran Parque Central
Carlos Gardel tem sua “cadeira cativa” no Gran Parque Central.
 

A inauguração do novo estádio do Peñarol também possui sua influência, motivando os tricolores a mandarem suas partidas com mais frequência no próprio estádio, e não no Centenário. “Desde cedo, o jogador do Nacional aprende que dentro do Gran Parque ele precisa ganhar, não importa o adversário”, comentou Darío Pereyra, em entrevista à Red Bull em 2021. Um dos maiores zagueiros uruguaios da história, o ex-craque começou sua carreira no Nacional e morou nos alojamentos que ficavam embaixo das arquibancadas.

O estádio está a poucos minutos do Terminal Rodoviário de Três Cruces e próximo à Avenida 8 de Octubre, por onde passam diversas linhas de ônibus urbano, táxis e outros serviços. Recentemente, foram adicionadas novas instalações, como lojas, museus, e áreas de convivência para torcedores, consolidando o Gran Parque Central como um dos estádios mais modernos e icônicos do Uruguai e candidato, quem sabe, a ser uma das sedes da inflada Copa do Mundo de 2030, quando a competição completará 100 anos de história. 

Seria um presente e tanto para o torneio e para o futebol a presença do Gran Parque Central no rol de sedes. A Celeste Olímpica, primeira campeã do mundo, começou a se formar naquele gramado de tantas glórias. E ele foi o responsável pelo pontapé inicial do maior espetáculo futebolístico do planeta. Não existe simbolismo maior. Como não existe orgulho maior ao torcedor tricolor ver seu clube jogar há mais de 120 anos nesse lendário templo.

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