Grandes feitos: Bicampeã do Campeonato Italiano (2001-2002 e 2002-2003), Bicampeã da Supercopa da Itália (2002 e 2003) e Vice-Campeã da Liga dos Campeões da UEFA (2002-2003).
OBS.: A equipe foi bicampeã italiana em 2004-2005 e 2005-2006, mas teve os títulos revogados por causa do escândalo do Calciopoli.
Time-base: Buffon; Thuram (Zebina / Balzaretti), Ferrara (Tudor / Fabio Cannavaro), Iuliano (Montero / Chiellini) e Pessotto (Birindelli); Zambrotta (Camoranesi), Tacchinardi (Appiah / Emerson) e Davids (Conte / Vieira / Blasi); Pavel Nedved; Trezeguet (Di Vaio / Zalayeta) e Del Piero (Ibrahimovic / Mutu). Técnicos: Marcello Lippi (2001-2004) e Fabio Capello (2004-2006).
“Um novo sonho em bianconeri”
Por Guilherme Diniz
Como num mantra que não pode ser cessado, a Juventus Football Club teima em construir, desde sua fundação, um grande esquadrão em praticamente toda década. Foi assim na Juve do Tridente Mágico de John Charles, Omar Sívori e Boniperti do final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Foi assim na equipe multicampeã italiana e vice-campeã europeia dos anos 1970. Foi assim na lendária Juve de Platini, Scirea e Zoff, dos anos 1980. E foi assim na Juve de Del Piero, Ravanelli, Peruzzi e Zidane dos anos 1990. Com a chegada do novo milênio, óbvio que ela montou um novo esquadrão para chamar de seu, para escrever uma nova página, fascinar multidões e gerar novos fãs. Com uma leva de craques impressionantes, a equipe de Turim foi um dos times mais fortes daquele início de anos 2000 mesmo em tempos de esquadrões poderosíssimos espalhados por todo continente. Se a Roma tinha Totti, Batistuta, Cafu, Samuel e Montella, a Internazionale tinha Zanetti, Vieri, Adriano e Recoba e o Milan ostentava Shevchenko, Maldini, Nesta, Dida, Pirlo e Seedorf, a Juventus exibia Buffon, Thuram, Ferrara, Zambrotta, Camoranesi, Davids, Nedved, Trezeguet e Del Piero, todos comandados por Marcello Lippi, que permaneceu no clube até 2004, conquistou dois campeonatos nacionais e por pouco não faturou uma Liga dos Campeões da UEFA.
Dali, ele partiu para a Seleção Italiana rumo ao título mundial de 2006. Em 2004, uma nova etapa começou com Fabio Capello, vencedor incontestável e que voltou a celebrar títulos com os aportes de Vieira, Cannavaro e Ibrahimovic. Sim, o que a Juve conquistou entre 2004 e 2006 foi apagado por culpa das falcatruas de dirigentes e de escândalos de arbitragem, mas Capello e os jogadores do clube não tiveram nada com isso. Para o torcedor, o que eles fizeram em campo, jogando o fino, encarando os mais fortes rivais, sempre favorita nos Palpites de Futebol e vencendo com uma categoria única, digna dos mais notáveis tempos da Velha Senhora, ninguém jamais apagou. É hora de relembrar um dos mais famosos times do início deste século. E escalado do goleiro até o 11º jogador por qualquer amante do futebol até hoje.
Hora de pôr ordem na casa
Depois de vencer grandes títulos e fazer história entre 1994 e 1998, a Juventus viu os rivais domésticos tomarem conta dos noticiários esportivos naquele final de anos 1990 e início dos anos 2000. A Lazio vinha de títulos marcantes em 1999 (Recopa da UEFA e Supercopa da UEFA) e em 2000 (Campeonato Italiano); a Internazionale levantou um título da Copa da UEFA em 1998; a Roma encerrou um longo jejum com o título nacional de 2001 e o Milan havia levantado o título italiano de 1999 e começava a montar um novo esquadrão naqueles primeiros anos do novo milênio.
E ainda tinha o Parma, campeão da Copa da UEFA e da Copa da Itália de 1999, time que dava um trabalho danado para os considerados “gigantes” da bota. Com tantos esquadrões, a Juventus começou a ficar preocupada naquele ano de 2001. Era preciso renovar o elenco para voltar a brigar por taças. E, sem levantar troféus desde 1998, o jejum já era considerado uma enormidade para uma equipe tão acostumada a ser protagonista em seu país e brigar de igual para igual com qualquer clube da Europa.
Para isso, a diretoria bianconeri precisou contratar. Após perder jogadores como Zidane, Deschamps, Peruzzi, Van der Sar e Inzaghi, o time de Turim foi buscar nos próprios rivais as peças para reforçar seu elenco. Do Parma, vieram o jovem goleiro Gigi Buffon e o já consagrado defensor francês Lilian Thuram. Da Lazio, a diretoria trouxe o meia tcheco Pavel Nedved e o atacante chileno Marcelo Salas – que acabaria se lesionando e sendo pouco aproveitado. Além deles, o técnico Marcello Lippi, após uma temporada na Internazionale, voltou à equipe bianconeri para retomar a trajetória de tanto sucesso lá nos anos 1990.
Com os remanescentes dos tempos de glória e contratações recentes, a Juventus voltava a ter um timaço. No sistema defensivo, Buffon e Thuram teriam a companhia do experiente Ferrara, de Iuliano, Pessotto, do grandalhão Tudor e do temido Paolo Montero. No meio de campo, o talento sobrava: Zambrotta (que podia atuar também nas laterais), Tacchinardi, Davids, Nedved, Conte… E, no ataque, Del Piero e Trezeguet eram as referências máximas, além das opções no banco como Zalayeta e Amoruso. Enfim, Lippi tinha um elenco muito bom nas mãos. E, notável estrategista, sabia muito bem como utilizá-lo. Aos rivais, restava o aviso: a Juventus estava de volta. Agora na versão século XXI.
Em busca do Scudetto
A estreia da Juve na temporada foi categórica: 4 a 0 no Venezia, com dois gols de Trezeguet e dois de Del Piero. Na rodada seguinte, vitória por 2 a 0 sobre a Atalanta, fora de casa. Após os 3 a 2 sobre o Chievo, em casa, a equipe ficou seis rodadas sem vencer e acumulou cinco empates (incluindo um 3 a 3 no clássico contra o Torino) e uma derrota (em casa, para a então campeã Roma, por 2 a 0). Tais resultados derrubaram a Juve para a 6ª posição e mostraram que o time ainda não havia encontrado o entrosamento necessário entre as novas contratações e os jogadores já presentes no elenco. Na 12ª rodada, a derrota por 1 a 0 para a Lazio foi preponderante para que Lippi mexesse com seus jogadores em busca de uma reviravolta. Àquela altura, o time não poderia mais perder pontos se quisesse levantar o título. Principalmente pelo fato de a concorrência pelo Scudetto ser muito alta na época.
Nesse meio tempo, a equipe de Turim conseguiu a classificação em primeiro lugar no Grupo E para a segunda fase de grupos da Liga dos Campeões da UEFA, à frente de Celtic-ESC, Porto-POR e Rosenborg-NOR, com três vitórias, dois empates e apenas uma derrota em seis jogos. No entanto, a Juve ficou na última colocação do Grupo D, não conseguiu superar o futuro vice-campeão Bayer Leverkusen-ALE, o Arsenal-ING de Henry e o forte Deportivo La Coruña-ESP da época e acabou eliminada.
Com a queda na competição continental, os italianos puderam concentrar seus esforços no Campeonato Italiano e ficaram 16 rodadas seguidas sem perder, sequência que começou nos 2 a 0 sobre o Perugia (gols de Nedved e Trezeguet), no dia 1º de dezembro de 2001, e só foi terminar no dia 23 de março de 2002, na derrota por 1 a 0 para o Parma, fora de casa. Durante o período de invencibilidade, destaque para as seis vitórias seguidas entre as 16ª e 21ª rodadas, e os preciosos pontos conquistados nos empates fora de casa contra Milan (1 a 1), Fiorentina (1 a 1), Roma (0 a 0) e Internazionale (2 a 2) – este último quase uma vitória, pois a equipe vencia até os 46’ do segundo tempo quando Seedorf empatou para a Inter.
Já era visível a melhora no jogo do time, em especial no setor defensivo. Buffon, Thuram, Ferrara, Iuliano e Pessotto, os preferidos de Lippi para compor o setor, jogavam muito e davam tranquilidade para o meio de campo e ataque darem show. Com a velocidade e talento de Davids e Nedved e a precisão goleadora de Del Piero e Trezeguet, a Juve aumentava seu saldo de gols a cada rodada e era, sim, candidata ao título. Desde a 19ª rodada que o esquadrão bianconeri não saía do “Top 3” do campeonato e até chegou à liderança na 23ª rodada, após triunfo por 2 a 1 sobre a Fiorentina, em casa.
Com os empates contra Torino e Inter, a Juve caiu para a 3ª colocação, mas não perdeu os rivais Inter e Roma de vista e ganhou força extra após a grande vitória sobre o fortíssimo Milan por 1 a 0, em casa, na 31ª rodada, em um Delle Alpi tomado por mais de 50 mil pessoas. Após as vitórias sobre Piacenza (1 a 0, fora) e Brescia (5 a 0, em casa, com três gols de Trezeguet e dois de Del Piero), a Juve chegou à última rodada com 68 pontos, um a menos que a líder Inter (69) e um a mais que a 3ª colocada, Roma (67). Com isso, o cenário era o seguinte: os três times que disputavam o título jogariam fora de casa. A Inter teria pela frente a Lazio e era a única que só dependia dela para ser campeã. A Juve viajou até Udine para enfrentar a Udinese e precisava vencer e torcer por pelo menos um empate da Inter. Já a Roma enfrentaria o Torino, em Turim, e tinha que vencer seu jogo, torcer para a Inter perder e a Juve pelo menos empatar. Sobrava emoção naquela última rodada. Quem será que iria levar o Scudetto?
Ajuda celeste e glória incontestável
Com apenas 11 minutos de jogo, a Juve abriu 2 a 0 sobre a Udinese naquele dia 05 de maio de 2002, gols de Trezeguet e Del Piero, e só administrou a vantagem no decorrer da partida com qualidade nos passes e muita organização tática, características principais daquele time no decorrer da campanha, em especial na reta final da competição. Sem sofrer sustos, os juventinos só tinham ouvidos para a partida entre Lazio e Inter. Mas, até os 24’ do primeiro tempo, a Inter vencia por 2 a 1 e caminhava rumo ao Scudetto. Mas, aos 45’, Poborsky empatou e a Juve foi para o intervalo campeã italiana e sem se importar com a Roma (que acabaria vencendo o Torino por 1 a 0).
No segundo tempo, os bianconeri eram total desinteresse. Queriam que aquela partida acabasse logo e a Lazio consumasse o empate ou mesmo a virada. E ela aconteceu. Simeone (ele ainda jogava bola!) virou o jogo para a Lazio logo aos 10’ do segundo tempo no Olímpico. E, aos 29’, Simone Inzaghi ampliou para 4 a 2, levando à euforia os torcedores e os jogadores da Juventus em Udine. Ao apito final nos dois jogos, a Juventus sagrou-se campeã italiana pela 26ª vez em sua história e pela primeira vez desde 1998. Na época, aquela decisão de campeonato foi considerada pelo jornal La Repubblica como a mais disputada e frenética dos últimos 30 anos no Calcio. A Juventus terminou o campeonato com 71 pontos, 20 vitórias, 11 empates, três derrotas, 64 gols marcados (melhor ataque) e 23 gols sofridos (melhor defesa). O mais curioso é que a equipe foi líder em apenas três rodadas distintas do torneio: na 3ª, na 23ª e na última.
David Trezeguet, com 24 gols, foi o artilheiro do campeonato (Dario Hübner, do Piacenza, também marcou 24 gols), ficando à frente de outros goleadores como Vieri, Shevchenko, Crespo, Luca Toni, Montella e Di Vaio. Del Piero, com 16 tentos, também foi um dos principais artilheiros do time. Buffon e Trezeguet foram os únicos jogadores do elenco que disputaram todos os 34 jogos da campanha do título. Os que mais se aproximaram da dupla foram Zambrotta, Nedved e Del Piero, com 32 partidas cada. A festa pelo Scudetto só não foi ainda maior porque a Juve acabou derrotada na final da Copa da Itália pelo Parma (vitória por 2 a 1 em casa e derrota por 1 a 0 fora. O Parma foi campeão graças ao gol marcado em Turim), após despachar Sampdoria, Atalanta e Milan (com direito a vitória por 2 a 1 em pleno San Siro) no caminho até a decisão. Mas o troco já tinha data marcada…
Título e a quase vinda de Cristiano Ronaldo
A Juventus manteve a base da temporada anterior e ainda foi buscar reforços para brigar por mais títulos e quem sabe ir mais longe na Liga dos Campeões da UEFA. A Velha Senhora trouxe o atacante Di Vaio para suprir a ausência de Trezeguet – que sofreu uma lesão no joelho durante a pré-temporada e só voltaria meses depois -, e o polivalente Camoranesi para ter um elenco ainda mais forte que pudesse disputar as várias competições daquela temporada. O primeiro desafio veio na final da Supercopa da Itália, disputada na Líbia, contra o Parma. E a equipe de Turim conseguiu a revanche ao vencer o duelo por 2 a 1, com dois gols de Del Piero.
Tempo depois, uma história curiosa poderia mudar o destino da equipe. Em outubro de 2002, o olheiro da Juventus Gianni Di Marzio viajou até Lisboa para observar um atacante muito habilidoso chamado Ricardo Quaresma, do Sporting. No entanto, ele acabou encantado com um outro atacante, de 17 anos. Seu nome? Cristiano Ronaldo… Após ver o jovem jogar, ele ligou imediatamente para Turim dizendo que aquele garoto seria o “melhor jogador do mundo”. Ele conseguiu conversar com Cristiano e levou o português para a Itália. O negócio parecia encaminhado, mas a negociação entre Juventus e Sporting envolveria o chileno Marcelo Salas, que praticamente não jogava e era carta fora do baralho de Lippi. E, na hora de assinar os termos da troca, Salas não aceitou os valores expostos e o negócio não se concretizou.
O chileno acabaria voltando ao River Plate tempo depois. E Cristiano foi negociado com o Manchester United após gastar a bola em um amistoso entre o seu Sporting e os ingleses, em agosto de 2003, e encantar o lendário técnico Alex Ferguson. Agora imagine, caro leitor (a), se Cristiano tivesse assinado com a Juve naquela temporada? Imagine ele, Del Piero, Nedved, Trezeguet e Davids, juntos? Só pense…
Ainda mais forte
Mesmo sem Cristiano, a Juventus demonstrou que o entrosamento adquirido na temporada anterior havia atingido o ápice. Com o reforço de Camoranesi no meio de campo, ajudando na marcação, desarmes e passes, a polivalência de Zambrotta jogando tanto pelas laterais quanto no meio e o trio Davids, Nedved e Del Piero ainda mais decisivo, a equipe foi o adversário a ser batido no Calcio. Mesmo com Milan e Inter muito fortes, a Juve não deixaria os rivais ameaçar sua hegemonia no Campeonato Italiano. A equipe ficou imbatível nas primeiras 12 rodadas, arrancou um empate contra a Inter no Giuseppe Meazza, venceu o Milan em casa (gols de Di Vaio e Thuram), goleou o rival Torino por 4 a 0 no clássico de Turim em 17 de novembro de 2002 e empatou em 2 a 2 com a Roma, no Olímpico, após estar perdendo por 2 a 0. Os primeiros tropeços só vieram nas rodadas 13 e 14, com derrotas para Brescia (2 a 0, fora) e Lazio (2 a 1, em casa).
Nas 11 rodadas seguintes, o esquadrão bianconeri venceu 10 jogos e empatou um, com destaque para a goleada de 3 a 0 sobre a Inter, no Delle Alpi, com show de Nedved, o triunfo por 2 a 1 sobre o Parma em pleno Ennio Tardini, e a goleada de 5 a 0 sobre o Reggina. Àquela altura, a Velha Senhora era líder do campeonato e já acumulava uma confortável margem de pontos sobre os rivais. O bicampeonato estava próximo. Mas eles tinham olhos, também, para outro sonho: a Liga dos Campeões.
A caminhada europeia e o bicampeonato nacional
Os compromissos da Juventus na Liga dos Campeões começaram em setembro, quando a equipe viajou até Roterdã e empatou em 1 a 1 com o Feyenoord-HOL. Na sequência, duas vitórias em casa sobre Dynamo Kiev-UCR (5 a 0) e Newcastle-ING (2 a 0). No returno do grupo, a equipe só tropeçou diante dos ingleses (derrota por 1 a 0, fora de casa) e venceu o Feyenoord (2 a 0, com dois gols de Di Vaio) e o Dynamo (2 a 1, em Kiev), resultados que colocaram a Juve na segunda fase de grupos. Nela, a equipe bianconeri teve um trabalho danado para se classificar, mas conseguiu. Foram duas vitórias (4 a 2 sobre o Basel-SUI e 3 a 2 sobre o Deportivo La Coruña-ESP), um empate (2 a 2, com o Deportivo, fora de casa) e três derrotas (duas para o Manchester United-ING de Van Nistelrooy, Giggs e companhia e uma para o Basel), resultados bem aquém das expectativas, mas que foram suficientes para colocar a Juventus na fase de mata-mata em segundo lugar (os Red Devils foram líderes), com sete pontos e saldo zero, ao contrário dos outros rivais diretos, que ficaram com o mesmo número de pontos, mas saldo negativo.
As quartas de final da Liga estavam marcadas para abril e maio, meses de jogos decisivos, também, do campeonato nacional. Líder no Calcio, a equipe de Lippi manteve a ponta da tabela mesmo com o revés para o Milan, na 26ª rodada, que decretou o fim da invencibilidade de 11 jogos do time de Turim na época. Logo na sequência, a vitória por 2 a 0 no clássico contra o Torino foi fundamental para o embalo ser mantido. A equipe conquistou um ponto fora de casa contra o Bologna (2 a 2), venceu a Roma e o Brescia em casa (2 a 1 nos dois jogos), segurou a Lazio fora de casa (0 a 0) e selou o título após o empate em 2 a 2 com o Perugia, em casa, com duas rodadas de antecedência. Já sem grandes preocupações, a equipe perdeu na rodada seguinte para o Reggina (2 a 1, fora de casa), e fez a festa com a torcida na última rodada, em casa, com vitória por 4 a 3 sobre o Chievo.
A Juve somou 72 pontos em 34 jogos, com 21 vitórias, nove empates, quatro derrotas, 64 gols marcados (melhor ataque) e 29 gols sofridos (melhor defesa). Del Piero, com 16 gols, foi o artilheiro do time, mas não conseguiu alcançar o compatriota Vieri na artilharia (ele somou 24 gols). A taça do bi foi dedicada ao lendário ex-presidente e torcedor símbolo do clube Gianni Agnelli, L’Avvocato, que faleceu em 24 de janeiro daquele ano de 2003, aos 81 anos.
Destruidores de titãs
De volta ao mata-mata da Liga dos Campeões, a Juventus teve pela frente nas quartas de final o Barcelona-ESP, com sua legião de holandeses (Reiziger, Frank de Boer, Overmars e Kluivert), além de outras estrelas como Riquelme, Saviola, Puyol e Xavi. No primeiro duelo, em Turim, os italianos precisavam de um bom resultado para ir até o Camp Nou com uma boa vantagem. No entanto, o placar em 1 a 1 deixou o torcedor apreensivo para a partida de volta, em Barcelona. Como vencer o Barça em sua casa e com mais de 90 mil torcedores contra? Oras, sendo a Juve de sempre: equilibrada, com os nervos sob controle e Nedved em seu esplendor. Foi dele o gol que abriu o placar no comecinho do segundo tempo, após receber de Davids pela esquerda, invadir a grande área mesmo cercado por dois rivais pelos lados, um atrás e um na frente, e chutar sem chances para o goleiro Bonano.
O Barça não se entregou e chegou ao empate tempo depois, com Xavi. A situação da Juve ficou dramática quando Davids, aos 34’, levou o cartão vermelho e deixou a Velha Senhora com um jogador a menos. Mais precavida, a equipe segurou o placar e forçou a prorrogação. Com a angústia aumentando a cada minuto, parecia que o duelo iria para os pênaltis. Até que, faltando seis minutos para o fim do tempo extra, Nedved pegou a bola no campo de defesa e iniciou um contra-ataque rápido. Ele tocou no meio para Zalayeta, que deixou na direita com Birindelli. O lateral cruzou na medida para o mesmo Zalayeta aparecer na área e mandar a bola pro fundo do gol: 2 a 1. Um gol arquitetado, letal, genuinamente construído sob a faceta de Marcello Lippi e a escola italiana de contra-ataques, a mais nobre do futebol em toda a história. Um golaço!
A Juventus, com um a menos, no Camp Nou e na prorrogação, vencia o Barça e se garantia na semifinal. Faltava apenas um desafio antes da grande decisão. Mas ele seria o maior de todos: o Galáctico Real Madrid, então campeão europeu e com jogadores como Casillas, Roberto Carlos, Hierro, o ex-ídolo Zidane, Figo, Raúl e Ronaldo. O confronto, recheado de história, reunia dois dos maiores esquadrões da Europa. E eles provaram tais condições em dois jogaços. No primeiro, em Madri, o Real venceu por 2 a 1, aproveitando o fator casa e a ausência de Davids, suspenso. No entanto, o clube merengue tinha duas dúvidas para o duelo de volta, em Turim: Ronaldo, que sofreu uma contusão ainda no primeiro tempo do jogo no Bernabéu, e Makélélé, também por contusão. Do lado da Juve, a boa notícia era a volta do holandês Davids no meio de campo, embora Ferrara e Iuliano não pudessem atuar no setor defensivo.
Até que chegou o grande dia. Com mais de 67 mil pessoas no Delle Alpi (maior público da Juve em casa naquela temporada), Juventus e Real Madrid fizeram uma das partidas mais emblemáticas da história da Liga dos Campeões. Trezeguet, aos 12’, abriu o placar. A Juve assumia o controle da partida com uma intensidade notável, preenchendo os espaços, marcando as estrelas do rival e não deixando Zidane aprontar das suas. Aos 42’, Del Piero fez um belo gol, ao seu estilo, e fez explodir a torcida em Turim.
Na segunda etapa, o Real mudou a postura e tentou equilibrar as coisas. O jogo ficou mais equilibrado até que, aos 20’, Paolo Montero fez falta em Ronaldo (que, mesmo sem estar 100%, entrou na segunda etapa) dentro da área e o árbitro marcou pênalti. Era a chance do time merengue voltar de vez ao jogo. Na bola, Figo, um dos melhores jogadores do mundo na época. Mas no gol estava Buffon. E o goleirão defendeu a cobrança do português! A Juve ficou ainda mais pilhada e Nedved, aos 28’, fez um golaço para praticamente selar a vitória bianconeri: 3 a 0.
O Real ainda descontou com Zidane, aos 44’, mas era tarde. A Juventus venceu por 3 a 1 e carimbou sua vaga na final da Liga dos Campeões. Aquela partida é tida até hoje como uma das mais impecáveis da história do clube, e ficou conhecida como “la partita perfetta della Juventus”, tão bonita e rica em detalhes como a Mole Antonelliana. Leia mais sobre aquele jogo clicando aqui.
Embora tenha conseguido uma classificação histórica, a Juventus sofreu um duro golpe naquele jogo. Seu principal maestro, Nedved, foi advertido com um cartão amarelo quando a equipe de Turim já vencia por 3 a 0, após uma falta totalmente desnecessária em McManaman, e ficou impossibilitado de disputar a decisão. O craque ficou inconsolável, bem como o torcedor, que sabia a falta que o tcheco iria fazer no duelo final. E, com o desfecho da outra semifinal – o Milan superou a rival Internazionale, a Liga dos Campeões da UEFA de 2002-2003 teria pela primeira vez em sua história uma final italiana: Juventus x Milan. O Old Trafford ficaria pequeno demais para tantos craques em campo…
A decepção nos pênaltis
No dia 28 de maio de 2003, mais de 60 mil pessoas lotaram o Teatro dos Sonhos para o embate entre os gigantes italianos. Dida, Nesta, Maldini, Seedorf, Pirlo, Shevchenko, Inzaghi, Buffon, Thuram, Ferrara, Davids, Zambrotta, Del Piero, Trezeguet… Todos eles estariam em campo para aquele duelo cercado de expectativas e totalmente sem favoritos. Mas, quando a bola rolou, o excesso de qualidade dos setores defensivos prevaleceu e o placar não saiu do zero. As melhores chances foram de Inzaghi, que cabeceou à queima roupa de Buffon e viu o goleiro fazer uma defesa impressionante; Pirlo, que mandou uma bola na trave; e Conte, da Juve, que também beliscou a trave de Dida em uma cabeçada. Fora isso, muitas faltas e jogo pegado, tenso.
Após 90 minutos e outros 30 de prorrogação, a final foi para os pênaltis. Nela, Buffon defendeu os chutes de Kaladze e Seedorf, mas o brasileiro Dida espalmou as cobranças de Montero, Trezeguet e Zalayeta. No chute decisivo, Shevchenko converteu e deu ao Milan mais um título europeu.
Era a terceira derrota em uma final continental da Juve nas últimas três que havia disputado – a equipe também foi vice em 1997 e 1998. De fato, a Velha Senhora não tinha sorte na Liga dos Campeões… E tal estigma seria comprovado anos mais tarde, com mais dois vices em 2015 e 2017. No entanto, muitos dizem que se Nedved tivesse jogado aquela decisão de 2003, a história seria bem diferente… Será? Impossível saber. Mas é possível imaginar uma Juve mais agressiva e artística com o tcheco naquele dia…
Mudança de comando e novos craques
Como não poderia deixar de ser, Pavel Nedved levou o Ballon d’Or da revista France Football de Melhor Jogador da Europa, prêmio mais do que merecido a um jogador que foi um virtuose com a bola nos pés em 2003. Para a temporada 2003-2004, a equipe manteve a base, fez pontuais contratações e venceu logo de cara a Supercopa da Itália sobre o Milan, curiosamente nos pênaltis, após empate em 1 a 1 na prorrogação, dessa vez com 100% de aproveitamento – 5 a 3. No entanto, aquela foi a única taça da equipe. No Campeonato Italiano, o Milan ficou com o título, em uma campanha bem irregular da Velha Senhora, que terminou na 3ª colocação, perdeu jogos decisivos em casa, acumulou sete derrotas no total e não mostrou a força defensiva das temporadas anteriores – levou 42 gols em 34 jogos, um “absurdo” para o padrão juventino.
Na Copa da Itália, a Juve chegou à final, mas foi derrotada pela Lazio após perder o primeiro jogo (2 a 0, em Roma) e só empatar em 2 a 2 jogando em casa. E, na Liga dos Campeões, os italianos foram eliminados logo nas oitavas de final pelo Deportivo La Coruña-ESP, com derrota tanto em casa (1 a 0) quanto fora (1 a 0). Desgastado, Marcello Lippi acabou deixando a Juve e prometeu não assinar com outro clube italiano. Ele assumiu a Seleção Italiana, com a qual iria levantar a Copa do Mundo dois anos depois.
Precisando de ares novos, a diretoria bianconeri trouxe o multivencedor Fabio Capello, lendário treinador do super Milan dos anos 1990 e da Roma campeã da Itália em 2001, que assumiu o comando técnico na temporada 2004-2005. Além dele, a Juve trouxe como principais reforços o volante brasileiro Emerson (ex-Roma, comprado por 26 milhões de euros), o atacante sueco Ibrahimovic (ex-Ajax, por 19 milhões de euros), e os defensores Zebina e Fabio Cannavaro.
E esses aportes deixaram a equipe ainda mais forte e pronta para retomar a coroa em casa e quem sabe buscar uma nova decisão europeia. Capello armou um time com uma retaguarda extremamente eficaz, com Buffon, Cannavaro e Thuram como principais nomes. No meio, a saída de Davids deixou a torcida carente, mas o brasileiro Emerson mostraria enorme categoria com seu futebol e notável entrosamento com Camoranesi e Nedved, além de proteger ainda mais o sistema defensivo bianconeri como um todo.
No ataque, Ibrahimovic iria crescer demais de produção graças a Fabio Capello, que percebeu que o sueco tinha sérias dificuldades de finalização e passou a aprimorar a pontaria do atacante com sessões extras de meia hora após os treinamentos. Dia após dia, o grandalhão ficou cada vez mais perigoso com a bola nos pés e se transformou no atacante técnico, forte e perigoso que conhecemos principalmente após 2006. Capello também foi fundamental para que o francês Trezeguet, desmotivado no time, permanecesse no clube naquela temporada. Era tida como certa a saída do atacante, mas o treinador italiano conversou com o jogador e o convenceu de que ele teria sucesso e poderia oferecer muito mais à Juve. E o experiente técnico estava mais do que certo.
Foco no Scudetto
A campanha da Juve no Italiano começou da melhor maneira possível: vitória por 3 a 0 sobre o Brescia, fora de casa, gols de Trezeguet, Ibrahimovic e Nedved. Nas oito rodadas seguintes, mais sete vitórias e um empate – com o time sofrendo apenas dois gols. Na 10ª rodada, o breve tropeço diante do Reggina (derrota por 2 a 1, em casa) não atrapalhou o embalo do esquadrão bianconeri, que ficou da 11ª até a 21ª rodada sem perder – foram sete vitórias e três empates. Nesse período, a Juve teve compromissos pela Liga dos Campeões, e, após superar a fase preliminar, avançou em primeiro lugar no complicado Grupo C, superando Bayern München-ALE, Ajax-HOL e Maccabi Tel-Aviv-ISR com cinco vitórias e um empate, com destaque para a vitória por 1 a 0 sobre os holandeses em plena Amsterdam Arena (atual Johan Cruyff Arena), com um golaço de Nedved.
O time foi bastante econômico nos gols – venceu cinco jogos por 1 a 0 -, mas demonstrou enorme equilíbrio técnico e uma força defensiva impressionante. No mata-mata, a equipe reencontrou o Real Madrid, e, após perder por 1 a 0 a partida de ida, na Espanha, venceu a volta por 2 a 0 (gols de Trezeguet e Zalayeta) e garantiu a classificação para as quartas de final. Nela, os italianos tiveram pela frente o Liverpool, mesmo adversário da Tragédia de Heysel, como ficou conhecida a decisão da Liga dos Campeões da UEFA de 1985 entre ingleses e italianos.
E, curiosamente, o primeiro duelo, em Anfield Road, foi exatamente no aniversário de 20 anos do dia em que 39 torcedores da Juve morreram após conflitos com hooligans ingleses. Antes da partida, uma série de homenagens aconteceu e a torcida inglesa escreveu “amizade” em um mosaico, além de formalizar um pedido de desculpas. Mas elas não foram aceitas – e seguem assim até hoje – pela Juventus e sua torcida. Em campo, o Liverpool venceu por 2 a 1 e segurou o empate sem gols em Turim, resultados que classificaram os ingleses – eles seriam os campeões daquela temporada.
A queda na Liga fez com que a Juventus tivesse apenas o Campeonato Italiano como compromisso até o final da temporada – na Copa da Itália, a equipe foi eliminada logo de cara pela Atalanta. E isso foi benéfico para o time de Capello. Sem a pressão do torneio continental, a Juve só perdeu três dos 17 jogos que teve de fevereiro até maio, conseguiu vitórias marcantes e fundamentais fora de casa sobre Roma (2 a 1, gols de Cannavaro e Del Piero), Lazio (1 a 0) e Milan (1 a 0), e garantiu o título italiano de 2004-2005 com duas rodadas de antecedência. Foram 26 vitórias, oito empates, quatro derrotas, 67 gols marcados (melhor ataque) e 27 gols sofridos (melhor defesa). Ibrahimovic, com 16 gols, foi o artilheiro do time, seguido de Del Piero, com 14. Sem sustos e com um elenco muito forte, a Juve vencia a terceira taça nacional das últimas quatro disputadas. Uma enormidade diante da força do Campeonato Italiano da época e a concorrência dos rivais.
Do bicampeonato ao Calciopoli
Na temporada 2005-2006, a Juve trouxe como principais reforços o volante Vieira (lenda da seleção francesa e do Arsenal campeão inglês invicto de 2003-2004) e o zagueiro Chiellini. Outra vez com a manutenção do elenco, a equipe era favorita ao título italiano. Para se ter uma ideia da força daquele time, 13 jogadores juventinos estariam na Copa do Mundo de 2006: Ibrahimovic (Suécia), Nedved (República Tcheca), Buffon, Cannavaro, Zambrotta, Del Piero e Camoranesi (da campeã Itália), Emerson (Brasil), Tudor e Kovac (Croácia), Vieira, Thuram e Trezeguet (da vice-campeã França).
Por tudo isso, a Juve confirmou as expectativas com uma campanha impecável, liderando o torneio praticamente de ponta a ponta, da 2ª até a última rodada. A equipe venceu 27 jogos, empatou dez e perdeu apenas um – para o Milan, no San Siro por 3 a 1 -, além de 71 gols marcados (2º melhor ataque) e 27 gols sofridos (melhor defesa). Trezeguet, com 23 gols, foi vice-artilheiro do campeonato e maior goleador da equipe na competição. Na Liga dos Campeões, os italianos até se classificaram em primeiro na fase de grupos, mas caíram mais uma vez nas quartas de final, após derrota para o grande Arsenal de Henry por 2 a 0, na Inglaterra, e empate sem gols em Turim.
Mas uma temporada que era para terminar sob festas terminou de maneira vexatória para a Juventus. Foi revelado naquele ano de 2006 um escândalo de manipulação de resultados conhecido como Calciopoli, que envolveu clubes como Milan, Lazio, Reggina, Fiorentina e… Juventus! As investigações começaram em 2005, quando o Ministério Público de Turim encontrou os primeiros indícios de que algo não estava bem no futebol italiano. Até que, em maio de 2006, a imprensa italiana divulgou uma série de áudios e conversas telefônicas que mostravam Luciano Moggi e Antonio Giraudo, executivos da Juventus, influenciando os diretores da arbitragem nacional a prejudicarem os adversários da equipe em determinadas partidas, aplicando cartões e anotando faltas duvidosas. Moggi tinha até a influência de interferir na escolha dos árbitros das partidas e comentava sobre o comportamento que eles deveriam ter em campo! Um verdadeiro absurdo! E isso tudo dias antes do embarque da Seleção Italiana para a Copa do Mundo e na reta final do Campeonato Italiano.
Quando a Juve voltou à Turim da partida que definiu seu título nacional naquele ano, vários torcedores foram até o aeroporto criticar e vaiar não os jogadores, mas os dirigentes do clube. E, após muito trabalho e a confirmação que mais de uma dezena de jogos teve interferência de dirigentes dos clubes citados, ficou definido que o título da Juventus de 2004-2005 seria cancelado e o daquela temporada de 2005-2006 repassado para a Internazionale, 3ª colocada e primeira na sucessão após os fraudulentos Juventus (1ª) e Milan (2º). As punições finais aos clubes envolvidos foram:
- Milan: perda de 30 pontos na temporada 2005-2006 e de oito pontos aplicados na temporada 2006-2007;
- Fiorentina: perda de 30 pontos na temporada 2005-2006 e de 15 pontos aplicados na temporada 2006-2007, além de perder a vaga na Liga dos Campeões da UEFA de 2006-2007;
- Reggina: perda de 11 pontos aplicados na temporada 2006-2007 e multa de 100 mil euros;
- Lazio: perda de 30 pontos na temporada 2005-2006 e de três pontos aplicados na temporada 2006-2007, além de perder a vaga na Copa da UEFA de 2006-2007.
Mas a maior punição ficou mesmo com a Juventus. O clube, além de perder os títulos de 2004-2005 e 2005-2006, foi rebaixado para a Série B e começou o campeonato com -9 pontos. Os dirigentes envolvidos foram suspensos do futebol, praticamente todo o conselho diretivo da Juventus entregou o cargo, além de vários dirigentes da Federação Italiana. Foi um lamaçal tremendo, tão horrível quanto o acontecido lá nos anos 1980. Leia mais sobre o Calciopoli em brilhante matéria do site Calciopédia, parceiro do Imortais, clicando aqui.
Não bastassem as punições, a Juve viu uma debandada acometer o time na temporada 2006-2007. Sem o dinheiro da Serie A e da Liga dos Campeões, o clube não teria como segurar seus principais jogadores, que consequentemente não iriam querer jogar a Segundona com tantos clubes espalhados pela Europa querendo seus passes. Com isso, Cannavaro, Emerson e o técnico Fabio Capello foram para o Real Madrid, Thuram e Zambrotta foram para o Barcelona e Vieira e Ibrahimovic para a Internazionale. Como prova de fidelidade e amor à camisa, Nedved, Del Piero, Buffon, Trezeguet, Camoranesi e Zalayeta permaneceram no clube e foram eles os grandes responsáveis por levar a Juventus de volta à Serie A já naquela temporada com a conquista do título da Série B, que veio com sobras e seis pontos de vantagem sobre o vice-campeão, o Napoli.
Anos depois, a Juventus voltou a celebrar títulos e virou a soberana do país na década de 2010, com incríveis oito títulos seguidos no Calcio, quatro Copas da Itália, quatro Supercopas e dois vice-campeonatos da Liga dos Campeões, mantendo a sina de um grande esquadrão por década.
Cartolas não apagam um esquadrão imortal
Mesmo com a mancha do Calciopoli e a corrupção de dirigentes (?) que não sabiam nada sobre espírito esportivo e sobre o esporte, os jogadores que compuseram a Juve de 2004-2006 não tiveram nada a ver com o que aqueles cabeças de bagre fizeram fora de campo. Por isso, aqueles craques e também os atletas do esquadrão da Era Lippi de 2001-2003 formaram uma das mais lendárias equipes do futebol italiano e uma das mais queridas pelo torcedor (quem nunca escolheu aquela Juventus no Winning Eleven?) por reunir tantos ídolos e jogadores extremamente identificados com o clube de uma só vez. Capaz de duelar com esquadrões tão ou mais fortes que ela, aquela Juventus encantou, levantou títulos e, como diz seu belo hino, “correu para fazer dela o que ela foi”. Um esquadrão imortal.
Os personagens:
Buffon: ele já havia provado seu talento com a camisa do Parma do final dos anos 1990, mas foi com a maglia bianconeri que Gianluigi Buffon se transformou em um dos maiores goleiros de todos os tempos, tido por muitos como o maior da história da Itália, mais até que a lenda Dino Zoff. Com reflexos impressionantes, defesas sensacionais, séries e mais séries de jogos sem levar gols, presença de área que inibia o mais temido atacante e um absolutismo único na meta juventina, Gigi foi titular absoluto da equipe de 2001 até 2018, atingindo 656 jogos pela equipe de Turim, o 2º na lista dos que mais vestiram a camisa bianconeri, atrás apenas de Del Piero. Além disso, foi o goleiro da Azzurra campeã do mundo na Copa de 2006 com atuações espetaculares e apenas dois gols sofridos em sete jogos. Sua maior prova de amor à Velha Senhora foi permanecer no clube para a disputa da Série B enquanto quase todas as estrelas preferiram vestir outras camisas. Um imortal do futebol. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Thuram: outro que já jogava muito pelo Parma antes de desembarcar em Turim, o defensor podia atuar na lateral-direita e também no miolo de zaga com a mesma eficiência que o consagrou como um dos mais talentosos de seu tempo. Forte na marcação, com ótimos passes e um “estudioso” do campo, Thuram conseguia antever as jogadas como poucos e era fundamental para o ótimo sistema defensivo da Juve na época. Com a chegada de Cannavaro, formou uma dupla de zaga dos sonhos. Após o Calciopoli, foi jogar no Barça e se aposentou em 2008. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Zebina: o francês fez grandes temporadas pela Roma entre 2000 e 2004 e chegou à Juventus para jogar até 2010. Forte na marcação e com boa presença de área, era um velho conhecido de Fabio Capello e teve várias chances no time na época, atuando como lateral e também como zagueiro. Disputou mais de 110 jogos com a camisa do clube.
Balzaretti: o lateral começou no rival Torino, em 1999, e chegou à Juve em 2005 após passagens pelo Varese e Siena. Rápido e com muito fôlego, apoiava constantemente o ataque da equipe e teve boas chances na temporada 2005-2006. Permaneceu na Juve em 2006-2007 e foi titular na campanha do título da Série B.
Ferrara: foi um dos maiores defensores da história do futebol italiano, ídolo no Napoli dos anos 1980 e presente tanto na Juventus dos anos 1990 quanto naquela da virada do milênio. Jogava com elegância e ao mesmo tempo mostrava raça e vigor nas divididas e desarmes, mas sem violência. Era muito leal e tinha técnica para sair jogando e ajudar o meio de campo com bons passes e ampla visão de jogo, além de possuir um grande senso de colocação e antecipação. Jogou na Juve de 1994 até 2005 e disputou mais de 350 jogos com a camisa bianconeri.
Tudor: o croata foi jogador da Juve por quase dez anos e atuou como titular na zaga bianconeri em várias oportunidades. Com mais de 1,90m de altura, era pleno nas jogadas aéreas e se sobressaia perante os rivais em jogadas de escanteio. Sofreu algumas lesões no período, mas, quando estava em forma, foi muito bem.
Fabio Cannavaro: uma lenda do Calcio, Cannavaro chegou em 2004 à Juve como um dos principais zagueiros da Itália e cumpriu as expectativas com atuações de gala e a titularidade plena no esquema de Fabio Capello ao lado de Thuram. Virtuoso e técnico, viveu a melhor fase da carreira exatamente na equipe de Turim. Confirmou a boa fase ao ser um dos principais jogadores da Itália na conquista da Copa do Mundo de 2006, ano em que foi eleito o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Iuliano: outro grande defensor da Juve super campeã na década de 1990, Iuliano jogou de 1996 até 2004 e atuou em mais de 187 jogos pela equipe de Turim. Tinha presença física (1,91m de altura) e muita força na zaga. Disputou 19 partidas pela seleção entre 1998 e 2003.
Montero: com este uruguaio na zaga, não tinha conversa: era bola ou perna! Ele foi um dos recordistas de cartões vermelhos na Serie A (16), mas mesmo sendo duro (às vezes até desleal) com os adversários, era um bom zagueiro. Impunha respeito no setor defensivo e jogou de 1996 até 2005 na equipe de Turim. Na época em que jogou com Zidane, foi o melhor amigo do francês no elenco bianconeri.
Chiellini: chegou em 2005 na Juve e começou naquele ano a disputar vários jogos como titular e ganhando espaço no time com muita regularidade, grandes atuações e identificação com a torcida. Assumiu a titularidade definitiva quando a Juve foi para a Série B e não saiu mais. É o 5º jogador com mais jogos pela Juve na história: são mais de 500 jogos.
Pessotto: chegou em 1995 e só deixou a Juve em 2006, ano em que se aposentou. Foi um dos principais jogadores da equipe no período e podia atuar na lateral, no miolo de zaga e no meio de campo, mais recuado. Era muito veloz e conseguia ir e vir até o ataque com muita eficiência. Intelectual, se formou em Direito mesmo conciliando os estudos com o futebol. Disputou 366 jogos pela Juventus.
Birindelli: polivalente, podia atuar tanto na lateral-esquerda quanto na direita com a mesma eficiência. Com vocação mais ofensiva, por vezes era quase um ponta, embora não tivesse propensão a marcar gols – foram apenas sete em 295 jogos pela Juve. Jogou de 1997 até 2008 na Velha Senhora.
Zambrotta: jogou de 1999 até 2006 na Juve e foi outro grande nome daquele esquadrão. Ambidestro, dinâmico e muito inteligente, podia atuar na lateral-esquerda, na lateral-direita e no meio de campo. Tinha muita qualidade nos passes e cruzamentos e foi um dos principais jogadores italianos de seu tempo. Não por acaso, foi titular da Itália campeã do mundo em 2006.
Camoranesi: foi ídolo da torcida por sua garra, inquietude em campo e plena regularidade durante os oito anos nos quais vestiu a camisa da Juventus. Atuava no meio de campo, mais aberto pelas pontas, e dava apoio à marcação quando não estava no ataque. Raçudo e técnico, foi outro a levantar o título da Copa de 2006 com a Itália.
Tacchinardi: com mais de 400 jogos pela Juventus entre 1994 e 2005, o meio-campista foi outro jogador muito identificado com o clube e se destacava pela presença física, pelos chutes de longa distância e pelo bom passe. Foi um dos principais jogadores do esquema tático de Marcello Lippi. Sem espaço após a chegada de Capello, foi emprestado ao Villarreal em 2005 e encerrou a carreira no Brescia, em 2008.
Appiah: jogador ganês de muita técnica e força, ajudou a fortalecer o meio de campo da Juve entre 2003 e 2005 e atuou como titular principalmente na temporada 2003-2004. Era eficiente na marcação e tinha talento de sobra para iniciar contra-ataques e armar jogadas. Deixou a Juve em 2005 para brilhar pelo Fenerbahçe, da Turquia.
Emerson: o brasileiro foi um dos maiores volantes de seu tempo, técnico, vigoroso e que brilhou por praticamente todos os clubes por onde passou. Após viver anos de glórias na Roma, foi contratado em 2004 para reviver a parceria de sucesso que teve com o técnico Fabio Capello na Loba. Foi titular absoluto e formou um meio de campo dos sonhos principalmente na temporada 2005-2006, quando jogou ao lado de Vieira. Acabou deixando a Juve após o escândalo do Calciopoli para jogar no Real Madrid.
Davids: um dos maiores e mais completos meio-campistas da história do futebol holandês, Edgar Davids foi um símbolo daquela Juventus. Incansável, perito nos desarmes perfeitos, marcador implacável, velocíssimo, técnico e craque incontestável, o baixinho fez uma parceria única ao lado de Nedved. Com ele em campo, a Juventus era fortíssima. Não por acaso, o jogador virou ídolo e entrou na lista de Pelé para o FIFA 100, com os maiores jogadores vivos do século XX, no centenário da entidade, em 2004. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Conte: outra grande referência do futebol italiano e com mais de 400 jogos pela Juve, o meia atuou de 1991 até 2004 pela Juventus e viveu grandes momentos pelo clube de Turim. Levantou 15 títulos pela Velha Senhora e esbanjou classe com seus passes precisos, grande visão de jogo e presença constante no ataque. Anotou 44 gols com a camisa bianconeri. Após pendurar as chuteiras, virou técnico e foi campeão invicto pela própria Juventus na temporada 2011-2012.
Vieira: jogou apenas uma temporada na Juventus, mas o suficiente para arrancar aplausos e elogios dos torcedores por sua técnica exuberante, classe e presença marcante no meio de campo. Vieira foi um dos maiores volantes da história do futebol francês e um ícone daqueles anos 2000. Foram 42 jogos e cinco gols pela Juve. Leia mais sobre ele clicando aqui!
Blasi: após algumas temporadas emprestado, retornou à Juventus em 2004 e teve algumas oportunidades com o técnico Fabio Capello. Atuava no meio de campo, dando apoio à marcação. Não chegou a ser titular absoluto, mas ainda sim fez 27 jogos na Serie A de 2004-2005 e 13 em 2005-2006.
Pavel Nedved: ídolo de gerações, cerebral, craque maiúsculo, meia virtuoso, imparável, adepto de golaços, identificado ao máximo com a camisa bianconeri e fiel à Juve até quando ela foi para a Série B. O tcheco foi simplesmente um dos principais jogadores da história da Juventus em todos os tempos e referência daquele time tão histórico. Nedved decidiu jogos sozinho, levantava o torcedor na arquibancada com suas jogadas de genialidade pura e tinha uma visão de jogo impressionante. Jogou de 2001 até 2009 na Juve e virou uma lenda bianconeri. Seu auge foi em 2003, quando venceu o Ballon d’Or. Um craque imortal. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Trezeguet: outro muito identificado com a Juve, o atacante jogou de 2000 até 2010 no clube de Turim e também escreveu seu nome na história bianconeri com atuações de gala, muitos gols e uma inesquecível parceria com Del Piero no ataque. Trezeguet é o 4º maior artilheiro da Juventus em todos os tempos com 171 gols em 320 jogos, ficando atrás “apenas” de Del Piero, Boniperti e Bettega e à frente de nomes como Sívori, Anastasi, Roberto Baggio, Platini, John Charles, Gabetto, Orsi e Inzaghi.
Di Vaio: o atacante chegou em 2002 para suprir a ausência temporária de Trezeguet, mas não cumpriu com as expectativas nem com o lado prolífico dos tempos de Parma. Melhorou um pouco em 2003, mas deixou a equipe em 2004 para jogar no Valencia.
Zalayeta: foram dez anos de Juventus, gols decisivos e uma identificação muito grande com a camisa bianconeri. Nunca foi titular absoluto por causa da ferrenha concorrência, mas sempre deu conta do recado quando exigido. Seu único momento negativo foi o erro na disputa de pênaltis da final da Liga dos Campeões de 2003. Ficou na equipe durante a disputa da Série B de 2006-2007 e só saiu depois de ser campeão e ajudar a Velha Senhora a voltar ao seu lugar de origem.
Del Piero: as linhas para descrever essa lenda são muito curtas aqui. Ele foi enorme. Incontestável. A representação máxima da Juventus em campo. Um ídolo que superou tudo e que marcou época. O maior artilheiro da história da Juventus. O que mais vestiu a camisa bianconeri. Ele foi demais. Leia mais sobre Del Piero clicando aqui.
Ibrahimovic: o atacante grandalhão e falastrão que tinha dificuldades para finalizar aperfeiçoou sua técnica exatamente naquela Juventus de Capello. E, dia após dia, se transformou em um dos mais famosos e perigosos atacantes do planeta. Foram apenas duas temporadas na Juve, mas suficientes para conquistar a torcida, principalmente a primeira, na qual ele marcou 16 gols em 35 jogos da campanha na Serie A. Ibra disputou 92 jogos e marcou 26 gols pela equipe de Turim. Leia mais sobre ele clicando aqui.
Mutu: o romeno disputou 32 jogos na Serie A de 2005-2006 e marcou sete gols. Foi uma das opções de Capello para o ataque e cumpriu seu papel. Após o Calciopoli, foi jogar na Fiorentina.
Marcello Lippi e Fabio Capello (Técnicos): ter dois dos maiores técnicos da história do futebol italiano foi um privilégio para aquela Juventus. Lippi teve uma passagem histórica lá nos anos 1990 e voltou para retomar as glórias naqueles anos 2000. Foi bicampeão italiano e por pouco não levantou outra Liga dos Campeões em 2003. Lippi deixou a Juve naquela segunda passagem após 161 jogos, 90 vitórias, 39 empates e 32 derrotas, aproveitamento de 55,9%. Já Fabio Capello chegou em 2004, e, com os reforços que recebeu, fez da Juve um timaço sem rivais no Italiano, que tinha domínio da posse de bola e sabia vencer bem tanto em casa quanto fora. Uma pena que os cartolas tenham manchado toda aquela história. Mas é preciso valorizar os feitos dentro de campo, o sábio manejo do elenco e as partidas realizadas por um time com uma defesa espetacular, sem dúvidas uma das melhores da história do Calcio. Capello deixou a Juve com 64% de aproveitamento. Foram 105 jogos, 68 vitórias, 24 empates e 13 derrotas.
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O esquadrão da Juve de 2011-2019 do octa-campeonato italiano e dos dois vices da Liga dos Campeões também já merece um especial.. Abraço e parabéns pelo trabalho!
Até hoje não entendo o porquê o título de 2004/2005 foi simplesmente cancelado e não repassado a nenhuma equipe, enquanto o de 2005/2006 foi repassado a Inter.
Bela materia. Um abraço a galera ai´!
Muito obrigado pelo prestígio!!