Grande feito: Vice-Campeão da Copa Libertadores da América (2008).
Time-base: Fernando Henrique; Gabriel, Thiago Silva, Luiz Alberto (Roger) e Júnior César; Fabinho (Ygor), Arouca, Conca e Thiago Neves; Cícero (Dodô) e Washington. Técnico: Renato Gaúcho.
“A mais bela… Das tristes histórias…”
Por Guilherme Diniz
Eles tiveram a melhor campanha da primeira fase. Nas oitavas, não se importaram com o peso de um adversário campeão continental em 1989 e venceram os dois jogos. Nas quartas, encararam o São Paulo e estavam eliminados até os 46’ do segundo tempo, quando Washington fez o gol que colocou o Flu pela primeira vez em uma semifinal de Libertadores. Mas ainda tinha mais. O rival seguinte foi o Boca Juniors, campeão continental no ano anterior, com Riquelme, Palermo, a tal da camisa pesada e tudo mais. Pois aquele time tricolor arrancou um empate na Argentina. Levou um gol na volta. Mas fez três e carimbou sua vaga na decisão. O último desafio foi um rival conhecido lá da fase de grupos, aparentemente menos complicado do que São Paulo e Boca. Só que eles eram terríveis. Na ida, venceram por 4 a 2 e poderiam ter feito mais. Na volta, em um Maracanã efervescente, abriram o placar e obrigaram o Flu a fazer três gols. Impossível? Não para Thiago Neves, que encarnou todos os heróis, todos os estilos, foi o Sobrenatural de Almeida em carne, osso e chuteiras e fez os três gols que viraram o jogo para 3 a 1. Porém, o gol da taça não veio nem nos minutos finais nem na prorrogação. E, nos pênaltis, os heróis da campanha acabaram errando seus chutes. A LDU foi campeã. Um desfecho melancólico na mais bela das tristes histórias. É hora de relembrar a campanha do Fluminense vice-campeão da Libertadores de 2008.
Preparação
A montagem do time da Libertadores partiu do ano anterior, quando o Fluminense conquistou a Copa do Brasil de 2007 em cima do Figueirense. O título fez o clube encerrar um jejum de grandes títulos e deu a vaga na Copa Libertadores depois de 23 anos desde a última participação do tricolor. Na campanha do título nacional, em 12 jogos, o Flu venceu seis, empatou cinco e perdeu apenas um, com 22 gols marcados (melhor ataque) e 11 gols sofridos. Muitos acreditavam que a equipe iria apenas “curtir” o Brasileirão de 2007, mas o torneio serviu para Renato Gaúcho fazer testes, entrosar o elenco e para a explosão da melhor fase na carreira de um reserva que viraria titular absoluto: Thiago Neves.
Vaga “dupla” na Liberta!
Com a atenção voltada apenas para o Campeonato Brasileiro, o Fluminense se reforçou com o lateral-direito Gabriel e os atacantes Somália e Jean (que não renderam o esperado), e viu Carlos Alberto voltar para o futebol europeu. Com isso, Thiago Neves ganhou a vaga de titular, renovou seu contrato após um período turbulento e virou uma peça chave no time de Renato Gaúcho. Com habilidade, bons dribles e faro goleador, o meia seria o principal jogador do time ao longo da competição.
Embora tenha feito um primeiro turno mediano, o time acordou depois de broncas do técnico e calou quem falava que a equipe iria apenas “treinar” no torneio Nacional. O Flu terminou na 4ª colocação com 16 vitórias, 13 empates, nove derrotas, 57 gols marcados e 39 gols sofridos em 38 jogos. Na zona de classificação para a Libertadores, a torcida brincou dizendo que o time havia conseguido uma “vaga dupla” na competição continental pelo fato de já ter sua presença garantida com o título da Copa do Brasil.
Os pontos altos da campanha foram as vitórias categóricas fora de casa sobre Sport (2 a 0), Botafogo (2 a 0), Figueirense (2 a 0), Internacional (4 a 1), Santos (4 a 2) e até sobre o campeão São Paulo (1 a 0). A grande arrancada do time aconteceu a partir da 24ª rodada, na qual venceu o Sport, fora, por 2 a 0, e só subiu de posições até a última rodada. Nesses últimos 15 jogos foram nove vitórias, três empates e apenas três derrotas, com 27 gols marcados e 17 sofridos. E teve ainda uma saborosa vitória por 2 a 0 sobre o rival Flamengo em um jogo com um dos recordes de público do torneio (mais de 61 mil pessoas no Maracanã, no duelo válido pela 30ª rodada).
Thiago Neves jogou tanta bola que abocanhou a Bola de Ouro de melhor jogador do Campeonato pela revista Placar, além de ter sido um dos principais artilheiros do torneio com 12 gols. No fim do ano, o torcedor tricolor era só alegria: fim de jejum de títulos, time entrosado, craque do campeonato e ótimas perspectivas para 2008. A Libertadores era um sonho, mas muito possível.
Ajustes e reforços
Nas Laranjeiras, o primeiro semestre de 2008 só tinha um objetivo: a Libertadores. Por causa dela, todo o planejamento da equipe foi baseado na competição e reforços de peso foram contratados. Para o meio de campo, o argentino Conca foi a novidade. O meia era um sonho antigo da diretoria desde 2005, quando ajudou seu time à época, a Universidad Católica-CHI a eliminar o Tricolor da Copa Sul-Americana daquele ano. Para o ataque, a diretoria trouxe Washington, Leandro Amaral e Dodô. Com a base do ano anterior mantida, Renato Gaúcho tinha um plantel muito bom do meio de campo para frente, mas um pouco frágil na defesa, pois os laterais não eram eficientes na marcação e o goleiro Fernando Henrique não era regular.
No começo do campeonato estadual, a equipe fez bons jogos e Renato Gaúcho testou a equipe com três atacantes em alguns jogos e gostou do que viu. No entanto, um imbróglio na justiça tirou Leandro Amaral do time. Com isso, Washington e Dodô viraram titulares e Renato teve que mudar o esquema de jogo mais uma vez. Em fevereiro, o time estreou na Libertadores pelo Grupo 8 contra a LDU-EQU (guarde bem esse nome. Você ainda vai ler muito sobre ele…), em Quito. Diante de apenas 12 mil pessoas, o time brasileiro apenas empatou sem gols, resultado considerado normal àquela altura. A segunda partida foi contra o Arsenal-ARG e, diante de sua torcida, o Flu deu show: 6 a 0, com dois gols de Dodô, um de Thiago Neves, um de Gabriel, um de Washington e outro de Cícero. Dodô, aliás, deu show com dois golaços de primeira e fazendo jus à fama de “artilheiro dos gols bonitos”.
Aquele jogo foi uma síntese do que viria pela frente. Renato Gaúcho havia montado uma equipe muito forte no ataque, leve, rápida e perigosíssima no jogo aéreo. Washington, Luiz Alberto e Thiago Silva sempre subiam nas bolas paradas e marcavam vários gols. Falando em bola parada, a equipe não tinha apenas um bom batedor de faltas ou escanteios. Tinha vários! Thiago Neves, Conca, Gabriel, Cícero e Washington podiam tranquilamente chutar com categoria qualquer falta contra os adversários. Enfim, era um time ótimo para torneios de tiro curto como a Libertadores. Pena que, dias depois, Dodô, que estava começando a engatilhar uma sequência de bons jogos, sofreu uma contusão na face que o deixaria de molho por dois meses.
Esqueça o Carioca! Foco na Liberta
Embora tenha feito uma campanha irrepreensível na primeira fase da Taça Guanabara, com direito a goleada de 4 a 1 sobre o rival Flamengo (com três gols de Thiago Neves e um de Maurício), a equipe foi eliminada na semifinal pelo Botafogo. Mais tarde, na Taça Rio, outra vez o time passeou na primeira fase, mas caiu na decisão novamente diante do Botafogo, que sagrou-se campeão estadual daquele ano. O fato é que o torneio servia apenas para Renato Gaúcho testar seu time para a Libertadores, o que ficava bem claro nas escalações distintas quando jogava no Rio (mescla de atletas e variações táticas) e jogava o torneio continental (um “onze” titular mais coeso, com poucas mudanças nos nomes).
Na continuação da fase de grupos, em março, a equipe viajou até Assunção, no Paraguai, e venceu o Libertad por 2 a 1 (dois gols de Washington) e ficou muito próxima da vaga. Em abril, o time venceu mais uma vez o Libertad, por 2 a 0 – gols de Thiago Silva e Cícero, e chegou aos 10 pontos. No quinto jogo, o primeiro tropeço: derrota por 2 a 0 para o Arsenal, na Argentina. A classificação foi carimbada no último jogo, com uma vitória por 1 a 0, em casa, sobre a LDU – gol de Cícero. Em seis jogos, foram quatro vitórias, um empate e uma derrota, 11 gols marcados e três sofridos, retrospecto que rendeu ao time a melhor campanha na fase de grupos entre todos os classificados. Mas agora não era mais hora de brincar nem testar. Era hora de mata-mata.
Começa a magia do Maracanã
Nas oitavas de final, o Flu encarou o tradicional Atlético Nacional-COL. No primeiro duelo, na Colômbia, a equipe não se importou com a pressão da torcida e abriu o placar com Thiago Neves, de pênalti, aos 21’ do primeiro tempo. No segundo tempo, Arrué empatou, mas Conca, num belo chute de fora da área, fez o gol da vitória do Tricolor por 2 a 1. Mesmo com a vantagem do empate no jogo de volta, a equipe freou o ímpeto dos colombianos e venceu por 1 a 0, com gol do zagueiro Roger após cobrança de falta de Thiago Neves. Vaga nas quartas de final! E hora de mais um adversário complicado e tradicional: o São Paulo-BRA.
No jogo de ida, no Morumbi, mais de 61 mil pessoas lotaram o estádio paulista para empurrar o time de Muricy Ramalho. O Flu sabia da força do rival em seu estádio, ainda mais pela Libertadores, e tentaria levar pelo menos um empate para a volta, no Rio. Já com Dodô, que foi titular no lugar de Conca, o Flu tentou, mas não conseguiu furar a meta de Rogério Ceni. Já o dono da casa fez seu gol logo aos 20’ do primeiro tempo, com Adriano. No segundo tempo, o time carioca tentou armar faltas para perto da área paulista, mas nenhuma tentativa deu certo, ainda mais contra um time cheio de defensores altos como o São Paulo. E o placar ficou mesmo 1 a 0.
Na volta, quase 70 mil pessoas lotaram o Maracanã para empurrar o Fluminense. O time precisava de pelo menos dois gols e não levar nenhum se quisesse ir para a semifinal. Com o considerado “onze titular” ideal, a equipe foi com tudo pra cima do São Paulo e não deixou o time paulista respirar. Já aos 12’, Washington aproveitou a sobra na área e abriu o placar: 1 a 0. O São Paulo tentou reagir, mas a falta de pontaria e o barulho da torcida do Flu atrapalhavam a equipe. Aos 38’, Conca viu Rogério Ceni adiantado e arriscou de longe. A bola bateu no travessão e Thiago Neves, no rebote, quase ampliou.
No segundo tempo, a torcida da casa emudeceu momentaneamente quando Adriano empatou o jogo, aos 26’. Faltavam menos de 20 minutos para o fim e o Flu teria que fazer dois gols. No entanto, Dodô não deixou o Flu esfriar e, após lançamento de Conca, fez 2 a 1. Fogo no jogo de novo! A partir dali, a equipe de Renato Gaúcho ficou toda no ataque e tentou de todas as maneiras o gol, mas a bola não queria entrar. O jogo já estava nos acréscimos quando o Flu ganhou um escanteio. O cronômetro marcava 46 minutos.
Thiago Neves foi para a bola com foco total no grandalhão Washington. Era a jogada deles. A jogada tão ensaiada nos treinos e uma das armas mais letais daquele time. Thiago cobrou com precisão. Washington subiu mais alto do que todo mundo e cabeceou no ângulo de Rogério Ceni. Indefensável! Golaço! 3 a 1. O Maracanã explodiu. E o Fluminense, pela primeira vez em sua história, estava na semifinal. A festa varou a noite no Rio e Washington se derreteu em lágrimas. Com emoção e paixão, aquele Tricolor mostrava que podia, sim, alcançar a decisão. Mas ainda tinha um obstáculo. E era o maior de todos: o Boca Juniors-ARG, atual campeão, com Riquelme, Palermo e companhia. Será que dava?
Show! Como o Santos de Pelé!
A torcida do Flu estava eufórica após a classificação épica sobre o São Paulo, mas muitos colocaram os pés no chão ao saber que o Boca seria o adversário na semifinal. E não era para menos. O time era o campeão vigente da competição e tinha o craque Riquelme, além de jogadores perigosos e toda a hostilidade de sua camisa e de sua torcida. Para amenizar aquela situação, o Flu jogaria o primeiro duelo em Avellaneda, e não na Bombonera, por causa de uma punição da Conmebol imposta ao clube argentino após incidentes no estádio no duelo contra o Cruzeiro-BRA, nas oitavas de final daquela mesma Libertadores. Mesmo assim, o estádio do Racing era bem complicado e quase tão infernal quanto a Bombonera.
Com a marcação adiantada, o Boca pressionou o Flu desde o início e foi logo abrindo o placar com Riquelme: 1 a 0. Dois minutos depois, Thiago Neves cobrou falta e Thiago Silva, de cabeça, empatou o jogo. A reação rápida esfriou os argentinos, que perceberam que aquele esquadrão brasileiro era bem diferente dos que eles estavam acostumados a vencer nos últimos tempos. Muito seguro, o Flu jogava de igual para igual e levava perigo ao gol argentino. A partida era muito boa e bem jogada e, na segunda etapa, o Boca fez mais um com Riquelme, de falta, aos 19’. Pouco tempo depois, nova reação do Flu. Thiago Neves chutou da entrada da área, o goleiro Migliore falhou feio e a bola entrou: 2 a 2. Ao fim do jogo, o empate foi considerado sensacional e deu muito mais tranquilidade para a volta.
No dia 04 de junho, mais de 78 mil pessoas encheram o Maracanã de luzes e fumaça para uma linda festa. Era dia de buscar a vaga na final da Libertadores! Quando a bola rolou, a torcida percebeu uma postura diferente do time no primeiro tempo. Ao invés de buscar o jogo como sempre, a equipe apostava mais no contra-ataque e esperava o Boca em seu campo. Como eram os argentinos que precisavam do resultado, Renato Gaúcho tinha certeza de que mataria a partida em um contra-ataque rápido. Mas não foi bem assim. O Boca foi perigoso e só não abriu o placar por causa das boas defesas de Fernando Henrique. Riquelme não ganhava marcação especial e fazia o que queria – para desespero de Renato Gaúcho, que berrava em campo pedindo uma maior atenção ao argentino.
Na segunda etapa, o Flu mudou sua postura, mas o Boca continuou firme até chegar ao primeiro gol com Palermo, aos 12’, que cabeceou sozinho após cruzamento de Dátolo. Medo no Maracanã. Será que o Flu seria mais uma vítima do Boca na Libertadores? Não! Renato Gaúcho colocou Dodô no lugar do volante Ygor e mudou a postura do time. Mais ofensivo, o Flu passou a atacar mais e chegou ao empate do jeito que mais gostava: na bola parada. Dodô sofreu uma falta na entrada da área e Washington, magistralmente, colocou a bola no ângulo esquerdo do goleiro: que golaço! Parecia feito com a mão! E deixou até Riquelme com inveja! 1 a 1.
De novo no jogo, o Flu encurralou o Boca e aproveitou as brechas na zaga para matar de vez o rival. Aos 25’, Dodô, endiabrado, roubou a bola no meio de campo e lançou Conca pela esquerda. O argentino saiu em disparada e chutou cruzado. A bola bateu na perna de Ibarra e enganou completamente o goleiro Migliore: 2 a 1. Sabe quando aquele Flu iria perder a vaga na final? Nunca mais! Palermo tentava, Fernando Henrique defendia. Do outro lado, Dodô enervava os adversários com chutes perigosos e muita movimentação. Aos 46’ e com o Maracanã em polvorosa, Júnior César, após uma jogada toda sua, quase marcou um golaço ao chutar na trave. Um minuto depois, Dodô, grande nome daquela reta final de segundo tempo, aproveitou um passe errado de Palacio no campo de defesa boquense, driblou o zagueiro e fuzilou: 3 a 1. E fim de jogo!
O Fluminense estava na final da Libertadores pela primeira vez! E se tornava o primeiro time brasileiro desde o lendário Santos de Pelé a eliminar o Boca em um mata-mata de Libertadores. Foi um show. Foi épico. Aquela campanha merecia um desfecho com o mais nobre título continental. Eles mereciam demais. Mas, no futebol, nem sempre as coisas cumprem um roteiro…
Jogo lendário não garante a taça
O Fluminense reencontrou a LDU naquela final de Libertadores e tinha como lembrança o fato de o time ter sido o que menos “sofreu” quando enfrentou o clube, afinal, foram um empate sem gols e uma vitória do Flu por apenas 1 a 0. A equipe equatoriana era muito bem treinada por Edgardo Bauza, contava com bons nomes em todos os setores do campo e ainda o habilidoso Guerrón no ataque. Embora não tivesse história na competição, era um adversário forte, mas poucos diziam isso por causa do tamanho da fama que aquele Fluminense tinha alcançado com suas partidas. Letal no ataque, o time vivia uma fase melhor do que o rival e era o favorito, de fato. No entanto, os primeiros 45 minutos daquela decisão foram simplesmente deploráveis para o Tricolor.
A LDU abriu o placar com Bieler, aos dois minutos. Conca empatou aos 12’, mas Guerrón, aos 29’, e Campos, aos 34’, fizeram 3 a 1. A torcida da casa gritava “olé”. A altitude diminuía o fôlego dos brasileiros. Cada ataque equatoriano era motivo de pânico. O Flu não jogava absolutamente nada. Aos 45’, Urrutia fez 4 a 1. E o juiz encerrou a primeira etapa. Foi um vareio. Os jogadores brasileiros saíram de campo mudos, sem falar com a imprensa. O que estava acontecendo? Ninguém sabia. No segundo tempo, Thiago Neves descontou aos 12’, mas nada mais aconteceu por causa da falta de fôlego de ambas as equipes – a LDU acusou o segundo gol e se deu por satisfeita com a vantagem construída. Já o Flu entendeu, após os 30’, que o 4 a 2 estava até que barato pelo que foi a primeira etapa e era melhor não arriscar. Tudo ficaria para o Maracanã. Lá, o Flu teria que vencer por três gols se quisesse ser campeão da América pela primeira vez.
No dia da decisão, o mais emblemático estádio brasileiro foi decorado por uma torcida apaixonada e vibrante. A energia que emanava daquele colosso de concreto era impressionante. E, em campo, o que se viu foi um jogo emocionante e impróprio para cardíacos. A LDU, acredite se quiser, abriu o placar. Mas o Flu fez um. Dois. Três gols. Todos com Thiago Neves. Poderia ter feito quatro, cinco. Mas não fez. O duelo foi para a prorrogação. E para os pênaltis. Na marca da cal, curiosamente os três principais craques do time tricolor – Conca, Washington e Thiago Neves – perderam suas cobranças. E a LDU foi campeã. Aquele jogo não tem tantos detalhes neste texto por ser grande demais, épico demais. Ele é um jogo eterno. Leia mais clicando aqui.
Até hoje ninguém consegue explicar aquela derrota. Foi muito, mas muito dolorida. Até quem não torcia (com exceção dos adversários do Rio, claro) pelo Flu queria que ele fosse campeão pela campanha, pela superação, pelas viradas e pela torcida que deixou o Maracanã lindo como nunca. Thiago Neves foi vice-artilheiro do torneio com 7 gols (um a menos do que Cabañas, artilheiro principal), craque do time na competição e primeiro jogador a marcar três gols em uma decisão de Libertadores. Renato Gaúcho, técnico tricolor na época, comentou tempo depois sobre aquela derrota.
“Eu não engoli. Eu não faria nada de diferente. Você disputa uma Libertadores, chega a uma final do jeito que o Fluminense chegou, passando por Boca e São Paulo. Foi contra a LDU. Não jogamos bem o primeiro jogo, mas recuperamos no Maracanã. O que nós fizemos de errado? Onde nós erramos? Eu não vi erros. Infelizmente nós perdemos. […] Tive essa impressão (de decidir o jogo no tempo regulamentar). Tanto é que, depois do primeiro jogo, que nós perdemos de 4 a 2, eu falei: “No Maracanã, a gente vai reverter”. Meus melhores batedores erraram. Perder uma Libertadores nos pênaltis é doloroso”. – Renato Gaúcho, em entrevista ao site NetFlu, 31 de janeiro de 2017.
O time teve, no geral, a melhor campanha e o melhor ataque. Mas não levou a taça em mais um episódio sádico do futebol. Mesmo assim, segue na memória como um dos maiores esquadrões do Brasil em uma Libertadores, que propôs entretenimento, jogos épicos e colocou o Flu em definitivo no radar do futebol sul-americano.
Este texto é parte do especial que o Imortais fez do Flu no período 2007-2012. Dividimos do original para facilitar as pesquisas de quem busca mais sobre o time tricolor em 2008. Leia o material completo clicando aqui!
No hino do Flu, há um trecho que diz “quem espera sempre alcança”. Pois em 2023, depois de esperar, o torcedor pôde celebrar, enfim, a conquista de uma Copa Libertadores. Leia mais clicando aqui!
Os personagens:
Fernando Henrique: cria das bases, foi o goleiro do Flu durante oito anos, de 2002 até 2010, e alternava ótimas partidas com atuações bem abaixo da média. Foi muito importante na conquista da Copa do Brasil de 2007 e teve bons momentos na Libertadores de 2008. Disputou mais de 250 jogos com a camisa do clube.
Gabriel: o lateral viveu grande fase no Flu e foi uma das maiores armas de ataque pela direita no time de 2007-2008. Pecava na marcação, e, por isso, sobrecarregava o sistema defensivo do time. Após o vice da Libertadores de 2008, deixou o clube.
Thiago Silva: foi um dos grandes ídolos da torcida entre 2007 e 2008 e fez partidas memoráveis com a camisa do clube. Com presença de área marcante e perigoso nas bolas aéreas, o zagueiro marcou vários gols importantes e foi titular absoluto do time. Disputou mais de 140 jogos pelo clube até se transferir para o futebol europeu no final de 2008.
Luiz Alberto: foi titular ao lado de Thiago Silva no time campeão da Copa do Brasil de 2007 e vice da Libertadores de 2008. Alternava ótimas partidas com outras bem fracas, ficando longe da regularidade do companheiro. Deixou o Flu no começo de 2010.
Roger: o experiente zagueiro não era titular absoluto, mas foi peça chave durante a conquista da Copa do Brasil, na qual marcou o gol do título, na decisão contra o Figueirense. Fez boas partidas, também, em 2008, até se aposentar no mesmo ano.
Júnior César: assim como Gabriel, era uma grande arma na lateral do Flu entre 2007 e 2008, com velocidade, dribles e bons cruzamentos. Pecava na marcação e, por isso, sobrecarregava a zaga da equipe. Cria do Flu, deixou a equipe em 2009 para atuar no São Paulo.
Fabinho: volante muito bom na marcação e no desarme, Fabinho foi um dos destaques do meio de campo tricolor na conquista da Copa do Brasil de 2007. Ficou no clube até 2009, até se aposentar.
Ygor: fez poucas partidas no Flu em 2008, mas o bastante para ser titular no meio de campo durante a Libertadores. Não tinha a qualidade do companheiro Arouca, mas cumpriu seu papel.
Arouca: cria do clube e volante muito bom na marcação e nos passes, Arouca foi o principal nome do setor na campanha do título da Copa do Brasil de 2007 e em boa parte da temporada de 2008. Disputou 200 jogos com a camisa tricolor até se transferir para o São Paulo, em 2009.
Conca: foi um dos maiores ídolos da torcida naquela Era de dramas e glórias. Raçudo, inteligente, técnico, veloz, driblador e endiabrado com sua perna esquerda e até goleador quando necessário, ele foi o líder do time na conquista do Brasileiro de 2010 ao participar de todos os 38 jogos da campanha, um feito exuberante. Foi brilhante, também, na Libertadores de 2008 e na arrancada de 2009. Acabou indo para o futebol chinês em 2011. Disputou 272 jogos (sendo 148 só no Brasileirão) e marcou 56 gols. Está na galeria dos imortais do Fluminense em todos os tempos.
Thiago Neves: o meia viveu os melhores momentos da carreira com a camisa do Fluminense, mais precisamente entre 2007 e 2008. Após a saída de Carlos Alberto, Thiago Neves assumiu de vez a titularidade e mostrou que podia fazer história no clube. E fez. Com atuações dignas de um camisa 10, foi o condutor do time na boa campanha do Brasileiro de 2007 e na caminhada impressionante da Libertadores de 2008. Sua atuação contra a LDU na grande final está entre as melhores de um jogador em toda a história do torneio e fez dele o primeiro – e até hoje único – a marcar três gols em uma decisão. Pena que ele errou seu chute na disputa de pênaltis e viu o Flu ficar com o vice. Alguns anos depois, o meia voltou para vencer o Brasileiro de 2012, mas já sem o grande brilho de 2007 e 2008.
Cícero: ficou no Flu de 2007 até 2008 e foi crucial para o título da Copa do Brasil e para o vice da Libertadores. Fez boas partidas como um “falso” atacante, ajudando Washington, Thiago Neves e Conca nas investidas de ataque. Cobiçado pelo futebol alemão, deixou o time logo após a Liberta de 2008 e foi jogar no Hertha Berlim-ALE.
Dodô: o artilheiro dos gols bonitos merecia mais sorte no Flu. Começou 2008 com tudo, mas sofreu uma contusão que o tirou de combate por meses. Quando voltou, não era mais titular, mas entrava no decorrer dos jogos e colocava fogo nos adversários. Na Libertadores, foi um dos destaques do time com seus gols decisivos e boas atuações. No entanto, a reserva não lhe agradava. Na fase de mata-mata, Dodô deixou isso bem claro ao não comemorar seus gols contra São Paulo e Boca. Deixou o clube logo após o término da competição.
Washington: o “Coração Valente” foi um dos atacantes mais queridos da torcida e viveu sua melhor fase na temporada de 2008. Com gols em profusão, muita disposição, oportunismo e perigo constante nas jogadas aéreas e até em cobranças de falta, Washington foi titular em boa parte de sua passagem no clube e um dos maiores atacantes do Brasil nos anos 2000. Na Libertadores de 2008, fez gols antológicos e foi essencial para a chegada do tricolor à final. No Brasileiro, continuou firme e foi o artilheiro do time com 21 gols em 28 jogos. Só naquele ano, Washington disputou 58 jogos e marcou 36 gols. Seu trabalho só foi coroado dois anos depois, com o título brasileiro de 2010. Encerrou a carreira no próprio Flu, em 2011.
Renato Gaúcho (Técnico): Renato foi o precursor, o torcedor em campo, o campeão da Copa do Brasil e o mentor do time mais atrevido daquela era 2007-2012. Com ele, o Flu não teve medo de camisa pesada, de torcida contra. Transformava o Maracanã em um templo sagrado que intimidava os adversários. E, se ele tivesse a zaga do time de 2010 ou 2012, a história na Libertadores teria sido bem diferente. Renato trata até hoje esse momento de 2008 como o mais triste de sua carreira de treinador. Porém, ela moldou sua trajetória e ele conseguiu a taça da Libertadores como técnico em 2017, pelo Grêmio.
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