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Esquadrão Imortal – Barcelona 1996-1997

Barcelona 1996-1997
Em pé: Vítor Baía, Nadal, Popescu, Blanc, Guardiola e Luis Enrique. Agachados: Giovanni, Ronaldo, Amor, Sergi e Figo.
 

Grandes feitos: Campeão Invicto da Recopa da UEFA (1996-1997), Campeão Invicto da Copa do Rei (1996-1997) e Campeão da Supercopa da Espanha (1996). Fez do Barcelona o maior campeão da história da Recopa da UEFA com 4 títulos.

Time-base: Vítor Baía; Ferrer, Nadal (Abelardo), Fernando Couto (Laurent Blanc) e Sergi; Gheorghe Popescu (Amor) e Guardiola; Figo, Giovanni (De la Peña) e Luis Enrique (Pizzi / Stoichkov); Ronaldo. Técnico: Bobby Robson.

 

“O Barça do Fenômeno”

 

Por Guilherme Diniz

Certas equipes, mesmo efêmeras, conseguem entrar para a história graças aos títulos e grandes jogos realizados. E algumas despertam nostalgia por determinados jogadores. Com vários esquadrões ao longo de sua história, o Barcelona já teve times que construíram dinastias e empilharam taças em profusão. Porém, um esquadrão blaugrana tem um lugar especial na memória de todos mesmo com duração de apenas uma temporada: o time de 1996-1997. Motivo? Além dos três títulos conquistados naquela época, ele teve simplesmente um dos maiores atacantes de todos os tempos em sua melhor fase da carreira. Estamos falando de Ronaldo Fenômeno, que chegou em 1996 ao Barcelona para simplesmente destroçar adversários, recordes e redes. Com 47 gols em 49 jogos, o brasileiro fez em uma temporada o que muitos atacantes não fazem em toda vida. E fez o que apenas gênios conseguem fazer. Além dele, a equipe catalã teve nomes que brilharam no Dream Team e o técnico Bobby Robson, que mais uma vez mostrou seu talento como um dos mais emblemáticos treinadores de sua época. É hora de relembrar.

Da transição ao Fenômeno

Chegada de Ronaldo ao Barça marcou uma era. Foto: Arquivo / FC Barcelona
 

Após anos inesquecíveis sob o comando de Johan Cruyff, o Barcelona viveu uma temporada aquém das expectativas em 1995-1996. Na última época do técnico holandês no clube catalão, o Barça não levantou títulos, perdeu a final da Copa do Rei para o Atlético de Madrid e, mesmo com as contratações de Luís Figo e Gheorghe Popescu, não conseguiu manter o nível competitivo dos anos anteriores muito por causa das saídas de peso que o clube teve no elenco, entre eles Ronald Koeman, Begiristain, Romário, Eusebio e Stoichkov. Sem Cruyff, o Barcelona foi comandado por alguns meses por Carles Rexach até selar a contratação do inglês Bobby Robson, que vinha de passagens por PSV e Sporting após comandar a seleção inglesa nos anos 1980. 

Aquele verão de 1996 seria marcante para o clube não só pela chegada de Robson, mas também pela compra de um atacante que vinha gastando a bola há anos no PSV: o brasileiro Ronaldo, contratado naquele ano por mais de 20 milhões de dólares em negociação que teve participação de Bobby Robson, que acompanhava o brasileiro há algum tempo e sabia de seu potencial. Stoichkov, após um período sem brilho pelo Parma, também retornou. Fernando Couto e Vítor Baía chegaram para reforçar o setor defensivo e o meia brasileiro Giovanni, após arrasar no Santos de 1995, foi contratado por 5,5 milhões. 

Giovanni fez uma grande temporada em 1996-1997. Foto: Arquivo / ESPN
 

Tais vindas de estrangeiros foram possíveis graças à Lei Bosman, que entrou em vigor exatamente em 1996 e abriu as portas para os clubes da Europa terem vários atletas de diferentes países ao invés de apenas três como antigamente. O lado ruim de tal lei foi o abismo que começaria a surgir entre os clubes com mais dinheiro e cuja consequência vemos hoje em dia, com quase sempre os mesmos times vencendo a Liga dos Campeões da UEFA e os campeonatos nacionais, sem a competitividade dos anos 1980, 1990 e início dos anos 2000.

Com a manutenção de nomes que brilhavam desde o Dream Team como os laterais Ferrer e Sergi, o defensor Nadal, os meio-campistas Amor e Guardiola, e os recentes reforços Blanc, Luis Enrique e Pizzi, o Barcelona tinha corpo para brigar pelos títulos daquela época. E, com Robson no comando, a chance de isso acontecer era enorme, afinal, o inglês era perito em formar times competitivos, unir o elenco e aproveitar ao máximo o talento que tinha disponível. E o principal era Ronaldo, vivendo uma fase esplendorosa e sedento por gols.

 

Primeira taça e a formação

A torcida catalã teve a primeira mostra do que seria aquele Barcelona com Ronaldo no primeiro jogo da final da Supercopa da Espanha, realizado em agosto de 1996, contra o Atlético de Madrid. Ronaldo anotou o primeiro gol aos 5’. Giovanni fez o segundo e Juan Esnáider descontou ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa, Pantic empatou, Pizzi fez o terceiro do Barça e De la Peña marcou o quarto. Para fechar, aos 89’, Ronaldo fez 5 a 2 e deixou o Barcelona com grande vantagem para a volta. Nela, o Atlético venceu por 3 a 1 (o Barça não teve Ronaldo, Figo nem Giovanni por causa do calendário de seleções da FIFA), mas o troféu ficou com o time catalão. 

Embora tenha sofrido muitos gols naqueles dois jogos – o Atlético era um grande time na época, havia vencido La Liga e a Copa do Rei no ano anterior e Pantic vivia grande fase – o técnico Bobby Robson mudou um pouco o estilo de jogar do clube em relação ao que fazia Johan Cruyff. Ele não quis correr tantos riscos na defesa e apostava mais nos contra-ataques e em uma linha de quatro homens mais contida na defesa, esquema que acabava inibindo o estilo de jogo dos laterais Sergi e Ferrer. No meio, Robson optava por dois homens mais centralizados – Popescu e Guardiola. Enquanto Popescu podia atuar mais recuado graças à sua habilidade em atuar também como zagueiro, Guardiola ficava mais solto, distribuindo o jogo e municiando os homens da frente. No meio, Robson escalava Giovanni ou De la Peña para a função de criação. Pelas pontas, o Barça tinha muita força com Luis Enrique e Figo, que abriam espaços, chutavam bem, marcavam gols e davam passes precisos para Ronaldo, o centroavante. Jogo a jogo, aquele esquadrão iria provar seu valor. E fazer história.

 

Máquina de gols

Após a Supercopa, o Barcelona teve pela frente o Campeonato Espanhol – na época ainda com 22 clubes, ou seja, longas 42 rodadas -, a Copa do Rei e a Recopa da UEFA. Como a Copa do Rei só iria começar em 1997, Robson teve tempo para moldar seu time em La Liga e focar também na disputa da Recopa, torneio que o Barça era um dos maiores campeões com três troféus. No campeonato nacional, o Barça permaneceu 13 rodadas sem perder e foi líder da 7ª até a 13ª rodada. Com um ataque devastador, o time blaugrana causava estragos impressionantes nas defesas não só com Ronaldo, mas também com Luis Enrique, Figo e Pizzi. 

O brasileiro marcou dois gols nos 3 a 2 sobre a Real Sociedad, na 4ª rodada, fez dois gols nos 5 a 3 na Real Zaragoza fora de casa, e fez mais dois nos 5 a 1 sobre o Compostela, fora de casa. Aliás, foi nesse jogo que o brasileiro anotou um de seus mais emblemáticos gols com a camisa blaugrana ao arrancar do meio de campo, escapar de um puxão de camisa do adversário e sair em disparada em direção ao gol. Ninguém conseguiu pará-lo. E ele anotou um golaço épico. Veja abaixo: 

O técnico Bobby Robson teve grande participação nesse desempenho ao dar todas as condições e liberdades para o brasileiro dentro de campo. Com um esquema de jogo focado para dar bolas ao camisa 9, Ronaldo se esbaldou. E Robson não poderia ficar mais feliz. Certa vez, ele disse:

 

“Ronaldo poderia pegar a bola do meio-campo e todo o estádio pegaria fogo. Ele foi a coisa mais rápida que já vi correndo com a bola em toda minha vida. Se ele tivesse conseguido ficar livre de lesões, ele teria todas as chances de se tornar o melhor jogador de futebol de todos os tempos”.

 

No jogo seguinte, o Barça enfiou 8 a 0 no Logroñés, com mais dois de Ronaldo, venceu o Sevilla por 1 a 0 fora de casa e bateu o Valencia no Camp Nou por 3 a 2, com tripleta de Ronaldo. Só na 14ª rodada que o time de Robson conheceu a primeira derrota na competição ao perder para o Athletic Bilbao por 2 a 1. Em dezembro, o time catalão perdeu para o Real Madrid fora de casa por 2 a 0 e caiu para a 3ª colocação. Nesse período, pela Recopa da UEFA, os espanhóis despacharam o AEK Larnac, do Chipre, com vitória por 2 a 0 em casa (dois gols de Ronaldo) e empate sem gols fora, na primeira fase. Nas oitavas, triunfo por 3 a 1 sobre o Estrela Vermelha-IUG, em casa, com dois gols de Giovanni e um de Figo, seguido de empate em 1 a 1 em Belgrado (gol de Giovanni). 

Já em 1997, vieram os primeiros compromissos pela Copa do Rei. E gigantes: o rival Real Madrid logo nas oitavas de final. Pois o Barça conseguiu se vingar do revés por La Liga e venceu os merengues na ida por 3 a 2, gols de Ronaldo, Nadal e Giovanni. Na volta, o Barça empatou em 1 a 1 e garantiu a vaga nas quartas de final, que começaria em fevereiro, mês no qual o Barça tropeçou duas vezes e continuou longe da liderança: perdeu para o Espanyol por 2 a 0, fora de casa, e para a Real Sociedad também por 2 a 0, fora. As vitórias sobre Racing de Santander (1 a 0) e Real Zaragoza (4 a 1, com três gols de Ronaldo) minimizaram o prejuízo, mas tais pontos iriam fazer falta no final.

Choque de titãs: Ronaldo e Roberto Carlos.
 
Redondo, do Real Madrid, tenta, em vão, marcar Figo e Ronaldo: dupla inesquecível para o torcedor blaugrana.
 

Nas quartas de final da Copa do Rei, o Barça encarou o Atlético de Madrid e fez dois jogos memoráveis. O primeiro, em Madri, terminou empatado em 2 a 2. Na volta, o Barça levou 3 a 0 no primeiro tempo no Camp Nou. Diante de 90 mil pessoas, Bobby Robson não poderia deixar seu time ser eliminado daquela maneira. Ele enervou seus comandados, mudou a tática da equipe e foi pra cima de maneira demolidora. E o Camp Nou viu uma virada de cinema bem antes dos 6 a 1 sobre o PSG de 2017. 

Ronaldo fez o primeiro com 2’. Fez outro quatro minutos depois. Pantic, que havia anotado três gols no primeiro tempo, fez mais um e dificultou ainda mais a situação do Barça. Mas Figo, em um chutaço aos 67’, fez o gol de empate. Aos 81’, Pizzi fez o gol da virada e da vitória por 5 a 4 que manteve o time catalão vivo em busca do título. Também em março, a equipe superou o AIK Solna-SUE pelas quartas de final da Recopa ao vencer a ida por 3 a 1, em casa, e empatar a volta em 1 a 1, na Suécia. 

Pizzi foi o herói da virada contra o Atlético.
 

Em março, os blaugranas começaram uma sequência de cinco jogos sem perder em La Liga, com direito a uma goleada de 5 a 2 sobre o Atlético de Madrid em pleno Vicente Calderón (três gols de Ronaldo), um 4 a 0 sobre o Sevilla, em casa, e um 4 a 0 sobre o Sporting de Gijón, em casa. Tais resultados mantiveram o Barça na briga pelo título, mas em abril a equipe perdeu para o Real Valladolid (3 a 1) e teve que continuar torcendo por tropeços do Real Madrid, que liderava o torneio desde a 14ª rodada.

 

Vice em La Liga

Ronaldo em campo, garotada em êxtase!
 

O Barça venceu mais cinco seguidas no Campeonato Espanhol, incluindo o Real Madrid, com vitória por 1 a 0 no Camp Nou, gol de Ronaldo, que chegava ao seu 8º jogo seguido marcando gol em La Liga. O brasileiro marcou nos dois jogos seguintes – vitórias sobre o Celta e Deportivo La Coruña – mas um revés para o modesto Hércules por 2 a 1 na rodada 40 minou as chances de título. Há duas rodadas do fim, o Real até perdeu o jogo final e o Barça venceu seus dois últimos jogos, mas a diferença de dois pontos deu o título aos madrilenos, que somaram 92 pontos contra 90 do Barcelona. 

O Barça da final da Recopa de 1997: ataque devastador e com vários opções graças aos talentosos meias do time e, claro, a Ronaldo.
 

No entanto, o time blaugrana teve mais vitórias – 28 a 27 -, menos empates – 6 a 11 -, e mais gols marcados – 102 gols contra 85 do Real. O que pesou, claro, foram as derrotas bobas lá no início do torneio e os revezes nas rodadas finais, que deixaram o time culé com 8 derrotas contra apenas 4 do Real. Ronaldo foi o artilheiro máximo de La Liga com 34 gols em 37 jogos, uma das maiores médias de gols da história do torneio na época. Luis Enrique, com 17 gols, e Pizzi, com 9 gols, foram os outros artilheiros do Barça na competição. 

 

Os campeões invictos!

Stoichkov ergue a Copa do Rei de 1997. Foto: Arquivo / FC Barcelona
 

Se o troféu de La Liga escapou, o Barça tratou de buscar os dois que estavam no páreo. Na Copa do Rei, a equipe despachou facilmente o Las Palmas na semifinal – 4 a 0 e 3 a 0 – até chegar à final diante do Real Betis. Mesmo sem Ronaldo, o Barça empatou em 2 a 2 no tempo regulamentar – gols de Figo e Pizzi – e marcou um gol na prorrogação com Figo, tento que selou a vitória por 3 a 2 e deu o título invicto aos catalães. Com 6 gols, Ronaldo foi o artilheiro daquela Copa do Rei.

Na Recopa, o Barça enfrentou a Fiorentina de Batistuta nas semifinais e empatou em 1 a 1 a partida de ida no Camp Nou. Na volta, mesmo diante de 43 mil pessoas no Artemio Franchi, o time catalão venceu por 2 a 0 – gols de Couto e Guardiola – e selou a vaga na decisão de Roterdã. O adversário foi o PSG-FRA, campeão da temporada anterior e tentando algo inédito na história da Recopa – um bicampeonato consecutivo. Os franceses tinham grandes nomes como Le Guen, Guerín, Raí e Leonardo. Mas o Barça tinha Ronaldo, que marcou o único gol do jogo e deu o 4º título da Recopa ao Barcelona. O troféu fez do clube espanhol o maior campeão da história da competição, que seria disputada até 1999, quando acabou incorporada pela Copa da UEFA.

Festa blaugrana na Recopa! Foto: Imago
 
José Mourinho, Bobby Robson e Ronaldo com a taça da Recopa.
 

Em 58 jogos na temporada, o Barcelona venceu 38 jogos, empatou 12 e perdeu 8, um aproveitamento de 65,5%. Foram 143 gols marcados e 69 gols sofridos. Ronaldo marcou 47 gols em 49 jogos, Luis Enrique anotou 18 gols em 51 jogos e Pizzi marcou 16 gols em 49 jogos. Com três troféus em 1996-1997, o Barcelona foi o clube espanhol mais bem sucedido na temporada e um dos mais aclamados do continente, mais até do que o campeão europeu Borussia Dortmund. Como não poderia deixar de ser, Ronaldo foi eleito o Melhor do Mundo tanto em 1996 quanto em 1997.

 

À espera de Rivaldo

O Barça de Ronaldo tinha grandes expectativas para faturar títulos e mais títulos na temporada 1997-1998. Principalmente após as contratações de Rivaldo, Reiziger, Sonny Anderson e o técnico Louis van Gaal, que substituiu Bobby Robson, alçado a um cargo da direção do clube na época. Porém, a diretoria culé surpreendeu a todos ao vender Ronaldo à Internazionale por 27 milhões de dólares, na então maior transação da história do futebol mundial. Foi um baque para o torcedor catalão e até para o jogador brasileiro, que esperava permanecer mais tempo no clube. 

 

“Eu assinei a renovação do meu contrato no final da temporada e viajei com a seleção brasileira. Cinco dias depois, eles me ligaram para me dizer que não podiam renovar comigo. Nunca esteve nas minhas mãos. […] O clube não me valorizou como eu pensei que fariam. Eu queria ficar, mas não era minha decisão”, explicou Ronaldo em entrevista ao One football, em fevereiro de 2020.

O vice-presidente do Barça na época, Joan Gaspart, comentou em entrevista ao site goal.com que um almoço definiu a saída do brasileiro. 

 

“Eram três da tarde e, justificadamente, decidimos sair para comer e comemorar a renovação de Ronaldo, e depois voltar ao escritório e assinar o acordo que havíamos chegado. Isso foi um erro, porque se não tivéssemos saído para comer e tivéssemos assinado ao mesmo tempo em que chegamos ao acordo, Ronaldo teria ficado no Barcelona”. contou.

Durante a reunião citada por Gaspart, um dos agentes de Ronaldo saiu para atender um telefonema de Massimo Moratti, presidente da Internazionale. Na época, os dirigentes não deram muita atenção à ausência do agente. Quando ele voltou, pediu desculpas, tomou um café e fez um brinde antes de ir ao escritório assinar o contrato. “Desde o primeiro momento em que chegamos ao escritório do presidente [Josep] Núñez, os agentes começaram a colocar obstáculos, disseram a Ronaldo para ir para casa e que o chamariam para assinar”, relembrou Gaspart. Naquele momento, a proposta da Inter já era a preferida e o clube italiano depositou o valor da multa e da transferência. 

“Em lágrimas, [Ronaldo] me disse que estava arrependido, mas seus agentes tinham uma oferta muito melhor do que a nossa e que era melhor para todas as partes que ele fosse para outro clube para ganhar muito mais dinheiro. […] Sempre que o vejo, lembro que Ronaldo não queria ir para a Inter, foram seus agentes que o convenceram por causa do dinheiro. O coração de Ronaldo é mais blaugrana do que Madrid porque ele tem melhores memórias do seu tempo no Barcelona”, rechaçou Gaspart.

Ronaldo seguiu em ótima forma na Inter, mas após a Copa do Mundo de 1998, o Fenômeno iniciou o período mais complicado de sua carreira por conta das lesões e só voltaria a brilhar em 2002, quando foi campeão do mundo pela seleção brasileira no Mundial da Coreia do Sul e do Japão. Sem ele, o Barcelona recuperou a coroa no Campeonato Espanhol de 1997-1998, venceu a Supercopa da UEFA diante do Borussia Dortmund e foi bicampeão da Copa do Rei no embalo de Rivaldo, que em 1999 foi eleito o Melhor do mundo após conduzir o Barça ao bicampeonato espanhol em 1998-1999. Mesmo assim, o “Barça dos holandeses”, como ficou conhecido o time daquele período, não foi tão brilhante e encantador como o Barça de Ronaldo. Um esquadrão efêmero, fenomenal e imortal.

 

Os personagens:

Vítor Baía: um dos principais goleiros portugueses da história, Vítor Baía chegou ao Barcelona em 1996 e, após um início não tão bom, conseguiu se firmar e foi titular absoluto da meta blaugrana naquela temporada. Após a saída de Bobby Robson, não conseguiu a mesma sequência com Louis van Gaal, além de sofrer com lesões no joelho. Retornou ao Porto em 1999, onde permaneceu até 2007 para levantar diversos títulos, incluindo uma Liga dos Campeões da UEFA em 2004.

Ferrer: grande ídolo do clube, Albert Ferrer começou nas bases do time catalão e passou quase 10 anos vestindo o azul e grená do Barcelona. Exímio defensor, integrou a seleção espanhola campeã olímpica nas Olimpíadas justamente de Barcelona, em 1992, e foi um dos principais nomes do Dream Team montado por Cruyff nos anos 1990. Tinha muita eficiência na marcação, qualidade nos passes e lançamentos e era muito veloz. Disputou as Copas do Mundo de 1994 e 1998 pela Espanha.

Abelardo: defensor muito eficiente na marcação e nas jogadas aéreas, atuou no Barcelona de 1994 até 2002 e participou de 32 jogos na temporada 1996-1997. Foi figura constante, também, na seleção da Espanha, pela qual disputou 54 jogos entre 1991 e 2001.

Nadal: outro jogador marcante daqueles anos 1990 do Barça, Nadal podia atuar como zagueiro e também meio-campista com funções de marcação (nesse quesito ele era implacável!) e criação. Com bom passe e versatilidade, era muito inteligente taticamente e desempenhava importantes funções em campo. Foram 39 jogos e dois gols na época 1996-1997.

Fernando Couto: um dos jogadores recordistas em jogos pela seleção portuguesa – 110 partidas – Couto brilhou no Porto e no Parma antes de chegar ao Barcelona em 1996. O zagueiro foi muito eficiente na cobertura e nas jogadas aéreas e fez uma grande temporada na época. Deixou o clube em 1998 para colecionar títulos na Lazio.

Laurent Blanc: um dos principais defensores do futebol francês nos anos 1980 e 1990, Blanc brilhou por quase uma década no Montpellier e em várias equipes da França nos anos 1990. Além de ser eficiente na zaga, Blanc se arriscava no ataque e marcava muitos gols – foram 137 gols em 708 partidas por clubes, um número bastante considerável para um zagueiro. No Barça, o defensor foi bem, mas algumas lesões prejudicaram sua estadia na Catalunha. Com isso, ele deixou o Barça já em 1997 para atuar no Olympique de Marselha.

Sergi: cria do Barça, o lateral jogou de 1993 até 2002 e foi um dos mais regulares atletas do clube no período – tinha uma média de 40 jogos por temporada e jogou 49 partidas em 1996-1997. Veloz e com ótimos passes, foi um dos grandes atletas da história do Barça e convocado constantemente para a seleção da Espanha.

Gheorghe Popescu: o grandalhão romeno já havia trabalhado com Bobby Robson no PSV e não teve dificuldades atuando no Barça em 1996-1997. Capaz de atuar como líbero, volante ou zagueiro, Popescu foi essencial para os blaugranas naquela temporada inesquecível. O romeno atuou em 44 jogos e marcou 5 gols. Brilhou também pela seleção da Romênia – foram 115 jogos e 16 gols na carreira – e no Galatasaray multicampeão do final dos anos 1990.

Amor: meio-campista muito versátil, jogou no Dream Team de 1988 até 1994, mas perdeu espaço com a chegada de Bobby Robson. Mesmo assim, atuou em 37 partidas na temporada, 17 delas como titular.

Guardiola: antes de se tornar o maior técnico da história do Barcelona, “Pep” foi um dos grandes jogadores do clube atuando como volante de extrema qualidade e dono de uma visão de jogo estupenda, além de ser perito nos passes e um dos expoentes do estilo de jogo proposto por Johan Cruyff naquele começo de anos 1990 e que o próprio Guardiola iria adotar como seu mantra após virar treinador. O volante disputou 388 partidas de 1990 até 2001 no Barça e teve o prazer de jogar ao lado das várias lendas que desfilaram pelo clube no período, entre eles, Romário, Stoichkov, Laudrup, Ronaldo e Rivaldo. É outro símbolo do futebol catalão e da qualidade das categorias de base do clube.

Figo: com 50 jogos e 8 gols naquela temporada, além de passes exuberantes e jogadas de efeito, Figo foi um ídolo naquela época para o torcedor blaugrana. O português fez uma parceria memorável com Ronaldo na época e, depois, com Rivaldo. Só não precisava ter saído para o rival Real Madrid da maneira como saiu em 2000… Caso contrário, seria venerado até hoje. Leia mais sobre ele clicando aqui!

De la Peña: com muita qualidade nos passes e intensa movimentação, o espanhol viveu grande fase no Barcelona e marcou 4 gols em 43 jogos naquela temporada. Só não foi mais longevo por causa das lesões que o atormentaram na carreira. 

Giovanni: a primeira temporada do meia brasileiro foi excelente. Ele se encaixou muito bem no esquema tático proposto por Bobby Robson, deu passes e foi assíduo no ataque. Anotou 12 gols em 44 jogos e praticamente carimbou sua vaga na Copa do Mundo de 1998 graças ao seu bom momento. Porém, com a chegada de Louis van Gaal em 1997 e a contratação de Rivaldo, Giovanni perdeu espaço e não conseguiu mais demonstrar o futebol de antes. Ele deixou os blaugranas já em 1999 para jogar no Olympiacos.

Luis Enrique: meia habilidoso e goleador, Luis Enrique deixou o Real Madrid em 1996 para viver a melhor fase da carreira no Barça. Rápido e criativo, marcou 18 gols em 51 jogos e foi o vice-artilheiro do time naquela temporada marcante. Ele jogou no Barça até 2004 e, anos depois, virou técnico do próprio clube na conquista do Treble de 2015.

Pizzi: o argentino foi um reserva de luxo do time de Robson e, entrando na maioria dos jogos, marcou 16 gols em 49 partidas. Era muito bom no senso de posicionamento e também nas bolas aéreas.

Stoichkov: ele foi marrento, endiabrado, craque, letal com a bola nos pés, autor de obras primas e carregou uma seleção inteira nas costas na Copa do Mundo de 1994. Você deve ter pensado instantaneamente no brasileiro Romário, não é? Pois errou. Essa é a descrição de Hristo Stoichkov, o maior jogador búlgaro de todos os tempos e um dos mais geniais atacantes da história do futebol mundial. Falastrão, polêmico e brincalhão, o craque encantou a Europa no final dos anos 1980 vestindo a camisa do CSKA Sofia e depois partiu para o estrelato com o azul e grená do Barcelona. Seu auge aconteceu em 1994, quando não só brilhou intensamente pelo time catalão como também fez da Copa do Mundo dos EUA um palco para o seu debute e consagração mundial pela Bulgária. Após uma breve saída, Stoichkov voltou em 1996 e teve tempo de anotar 8 gols em 35 jogos. Ele deixou o clube em 1998 e se aposentou em 2003. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Ronaldo: poucos clubes tiveram o privilégio de contar com Ronaldo Fenômeno no auge da forma. E um deles foi o Barcelona, que, ao lado da Internazionale, pôde ter o craque no topo de seu esplendor. O brasileiro chegou ao clube blaugrana em 1996 em uma trajetória muito parecida com a de Romário, com status de estrela e uma idolatria parecida até com a que Maradona teve na década de 1980. Em 1996, após entortar rivais e marcar golaços com suas típicas arrancadas impetuosas, venceu o prêmio de Melhor Jogador do Mundo pela FIFA. Em 1997, o craque ajudou o Barça a conquistar os títulos da Copa do Rei e o principal deles, a Recopa Europeia, quando marcou o gol do título, de pênalti, na final contra o forte PSG-FRA. E, de novo, venceu o prêmio de Melhor do Mundo da FIFA em 1997.

O jogador escreveu seu nome na história ao ser o artilheiro do Campeonato Espanhol com 34 gols em 37 jogos, uma média absurda na época de 0,91 gols por jogo. Suas atuações, arrancadas, dribles e golaços (alguns dos mais bonitos da carreira do craque foram pelo Barça!) o fizeram um popstar, além de ele se tornar o jogador mais cobiçado do planeta na época. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Bobby Robson (Técnico): em apenas uma temporada, o inglês provou porque era um dos mais lendários técnicos do futebol ao montar um Barcelona devastador e que jogou na sintonia de Ronaldo. Sem invencionices nem polêmicas, o inglês fez do Barça o grande time da época e cravou seu nome na história do clube com números inquestionáveis e três títulos. Leia mais sobre ele clicando aqui!

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