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Brasil x Inglaterra: Grandes jogos na história

 

Por Guilherme Diniz

 

Os ingleses são considerados os “inventores” do futebol. Já os brasileiros foram por muito tempo descritos como “reinventores”. Inglaterra e Brasil possuem histórias riquíssimas no futebol mundial e, ao longo das décadas, suas seleções e clubes alcançaram feitos marcantes e títulos inesquecíveis. E, quando as equipes dos dois países se encontram, temos sempre um choque de estilos e craques. Desde 1956, ano do primeiro jogo, até hoje, Brasil e Inglaterra já se enfrentaram 27 vezes, sendo quatro em Copas do Mundo. Os brasileiros levam imensa vantagem com 12 vitórias (a mais recente por 1 a 0, em amistoso disputado em Wembley, em março de 2024, gol de Endrick), contra apenas 4 da Inglaterra, além de 11 empates. É hora de relembrar os principais jogos dessa história.

 

Inglaterra 4×2 Brasil – Amistoso, Wembley (ING), 09 de maio de 1956

Nilton Santos e Billy Wright, capitães de Brasil e Inglaterra em 1956. Foto: Getty Images.

 

O primeiro jogo entre os inventores e os reinventores foi no lendário Wembley, dois anos antes do primeiro título mundial da seleção canarinho. Comandada por Walter Winterbottom, a Inglaterra, que tinha um ótimo time composto por nomes como Billy Wright, Roger Byrne, Duncan Edwards, Stanley Matthews e Tommy Taylor se impôs desde o início e abriu 2 a 0, gols de Tommy Taylor e Colin Grainger. O Brasil, que já tinha na época nomes como Gylmar, Djalma Santos, Nilton Santos, Didi, Canhoteiro e Gino, descontou no começo do segundo tempo com Paulinho de Almeida. Didi empatou e colocou fogo no jogo, mas os ingleses fizeram mais dois, de novo com a dupla Taylor e Grainger, consolidando a vitória por 4 a 2. 

 

Brasil 0x0 Inglaterra, Copa do Mundo, Nya Ullevi (SUE), 11 de junho de 1958

Foto: PA

 

O reencontro da dupla aconteceu pouco tempo depois, na fase de grupos da Copa do Mundo da FIFA da Suécia. Depois de vencer a Áustria na estreia por 3 a 0, o Brasil encarou uma combalida equipe inglesa, que estava muito enfraquecida por causa do Desastre Aéreo de Munique ocorrido em fevereiro de 1958 e que matou mais de meio time do Manchester United, base do English Team na época. O Brasil, que ainda não havia jogado com a dupla Pelé e Garrincha, só empatou em 0 a 0 com a equipe inglesa e viu sua classificação para a fase seguinte ameaçada. No duelo seguinte, porém, a dupla entrou, o Brasil venceu a URSS e seguiu firme rumo ao título mundial. A Inglaterra empatou seus três jogos e foi eliminada.

 

Brasil 2×0 Inglaterra, Amistoso, Maracanã (BRA), 13 de maio de 1959

Julinho (de cara fechada), Didi, Henrique, Pelé e Canhoteiro: a linha de frente do Brasil no duelo histórico contra a Inglaterra.

 

Provavelmente um dos jogos mais emblemáticos entre a dupla aconteceu naquela tarde de 13 de maio de 1959, em um Maracanã tomado por mais de 130 mil pessoas. O confronto contra a Inglaterra era um amistoso festivo do time canarinho que havia vencido a Copa do Mundo no ano anterior. O técnico Vicente Feola não chamou o titular absoluto da ponta-direita, Garrincha, por motivos até hoje incertos (uns dizem que o Mané estava fora de forma, outros que ele abandonou a concentração e chegou atrasado e ainda que se apresentou no dia do jogo ligeiramente alcoolizado…). Na expectativa de ver o artista da camisa 7 com o manto verde e amarelo pela primeira vez após o título mundial, a torcida carioca teve uma reação instantânea e nada amistosa no momento da locução dos jogadores brasileiros que iriam entrar em campo: “Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando Peçanha, Nilton Santos, Dino Sani, Didi, Julinho…”.

Assim que o narrador disse o nome de Julinho, as mais de 130 mil vozes começaram a gritar e a vaiar como jamais o Maracanã havia presenciado. O barulho ecoava pelas paredes, pelo ar, pelo gramado e entrava como facas afiadas nos ouvidos de Julinho à beira do túnel de acesso ao campo. Ao invés de ficar desnorteado, tonto, com medo e pedir para não jogar, ele manteve a calma e disse ao colega Nilton Santos que iria jogar bem, mas muito bem. Dois minutos após as vaias, o narrador completou a escalação do Brasil (“…Henrique, Pelé e Canhoteiro”) e os atletas entraram no colossal Maracanã.

O destaque da Manchete Esportiva após o jogo: só deu Julinho!

 

Concentrado e com cara fechada, Julinho telegrafou os ingleses e todo o campo para iniciar a partida de sua carreira, o jogo de sua vida. Com apenas três minutos, Canhoteiro deixou com Henrique, este tocou para Julinho e o craque fuzilou o goleiro inglês para abrir o placar: 1 a 0. Na comemoração, raiva liberada e gritos de gol. Aos 29´, foi dele o passe para Henrique fazer o segundo gol do Brasil. Com a vitória mais do que consolidada, o time da casa continuou no ataque e Julinho foi pura arte a cada toque na bola e a cada drible humilhante em todo e qualquer jogador que aparecesse em sua frente. Nas arquibancadas, aqueles que vaiaram, sorriam. Aqueles que gritaram, sentiam na boca o amargor da culpa, da atitude sem pensar.

Quando o juiz apitou o final do jogo, o público do Maracanã se levantou e aplaudiu a atuação exuberante de Julinho. O maior estádio do mundo na época ainda colaborou com sua acústica e aumentou o som das batidas de palmas. Eram os dois minutos de palmas para compensar os dois minutos de vaias. Estava escrita a lenda. No mesmo dia em que recebeu as maiores vaias da história do Maracanã, Julinho também recebia as maiores ovações possíveis para um só homem. Leia mais sobre Julinho e sobre esse jogo clicando aqui!

 

Brasil 3×1 Inglaterra, Copa do Mundo, Estádio Sausalito (CHI), 10 de junho de 1962

Garrincha em ação na Copa de 1962. Foto: Acervo / Smith Archive / Alamy

 

Na caminhada do bicampeonato, o Brasil enfrentou a Inglaterra nas quartas de final da Copa do Mundo da FIFA do Chile. Já sem Pelé, lesionado após sofrer bastante com as faltas na fase de grupos, o Brasil seguiu forte com a entrada de Amarildo e o brilho de Garrincha, que fez uma Copa espetacular. Mané abriu o placar no primeiro tempo, até que Hitchens empatou. No começo do segundo tempo, Vavá aumentou para o Brasil e Garrincha, de novo, fez o terceiro: 3 a 1. Vaga carimbada na semifinal. Foi nesse jogo, também, que aconteceu a icônica cena do cachorrinho preto que invadiu o gramado, driblou vários jogadores até ser dominado por Jimmy Greaves, que ficou de quatro, caminhou vagarosamente e capturou o animal. Veja clicando aqui!

 

Brasil 5×1 Inglaterra, Taça das Nações, Maracanã (BRA), 30 de maio de 1964

A maior goleada da história do confronto foi no Maracanã, em duelo válido pela Taça das Nações, torneio que reuniu quatro seleções (as outras foram Argentina e Portugal) como parte da celebração dos 50 anos da CBD (atual CBF). A Inglaterra já tinha nomes que seriam campeões do mundo em 1966 como Bobby Moore, Bobby Charlton, Jimmy Greaves e George Cohen, mas a equipe canarinho era bicampeã mundial e não deu chance alguma para os europeus. Rinaldo fez dois, Pelé fez outro (o Rei deu TRÊS assistências), Julinho marcou o seu e Roberto Dias fechou a conta. Jimmy Greaves fez o gol de honra, e o placar ficou em 5 a 1. A campeã da Taça das Nações, porém, foi a Argentina…

 

Brasil 1×0 Inglaterra, Copa do Mundo, Estádio Jalisco (MEX), 07 de junho de 1970

O desarme espetacular de Moore pra cima de Jairzinho. Foto: Arquivo / The Telegraph.

 

Um dos mais memoráveis duelos entre brasileiros e ingleses foi pela fase de grupos da Copa do Mundo da FIFA do México. Então campeões mundiais, os ingleses tinham um timaço e deram um trabalho danado ao time brasileiro, que seria o campeão daquele ano. Os ingleses, claro, não desgrudaram de Pelé, mas quem acabou com o jogo foi Tostão. O craque fez uma partida épica e construiu a jogada que resultou no único gol da partida, anotado pelo Furacão Jairzinho.

A defesa do século de Banks na cabeçada de Pelé.

 

Pelé e Moore após o jogaço.

 

Foi nesse jogo, inclusive, que aconteceu a Defesa do Século, quando Gordon Banks fez o impossível ao evitar um gol certo em cabeçada mortal de Pelé. A partida foi incrível, repleta de alternativas e lances mágicos, que só realçaram a qualidade de ambas as seleções. Sem dúvida, um dos jogos mais marcantes de todas as Copas – e que será relembrado em breve por aqui!

 

Brasil 1×0 Inglaterra, Amistoso, Wembley (ING), 12 de maio de 1981

Um ano antes de encantar o mundo na Copa da Espanha, o Brasil fez uma série de amistosos contra grandes equipes e uma delas foi a Inglaterra, em Wembley, onde a seleção jamais havia vencido a equipe da casa. Pois naquele dia, a equipe de Telê Santana acabou com a escrita ao vencer por 1 a 0, gol de Zico logo aos 12’ do primeiro tempo. Quase 100 mil pessoas viram a vitória do time canarinho, que foi a campo com Waldir Peres (São Paulo-SP), Edevaldo (Fluminense-RJ), Oscar (São Paulo-SP), Luizinho (Atlético Mineiro) e Júnior (Flamengo-RJ); Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Sócrates (Corinthians-SP) e Zico (Flamengo-RJ); Paulo Isidoro (Grêmio-RS), Reinaldo (Atlético Mineiro) e Éder (Atlético Mineiro).

 

Inglaterra 2×0 Brasil, Amistoso, Maracanã (BRA), 10 de junho de 1984

Depois de 28 anos, enfim, a Inglaterra conseguiu vencer o Brasil. E dentro do Maracanã! A equipe inglesa, na época comandada por Bobby Robson, fez um grande jogo e abriu o placar com John Barnes, aos 44’ do primeiro tempo, em um golaço no qual ele pintou e bordou na zaga brasileira antes de mandar a bola para o gol. Na etapa complementar, Mark Hateley ampliou de cabeça e fechou a vitória histórica do English Team no então “maior do mundo”.

 

Brasil 3×1 Inglaterra, Copa Umbro, Wembley (ING), 11 de junho de 1995.

Brasil campeão da Copa Umbro de 1995.

 

No embalo do título mundial de 1994, o Brasil fez a primeira “final” contra a Inglaterra naquele ano de 1995, pela Copa Umbro. As equipes chegaram à rodada decisiva com chances de título, em especial o Brasil, que já havia vencido dois jogos, enquanto os ingleses tinham uma vitória e um empate. Com a base campeã do mundo e nomes em ascensão como Roberto Carlos, César Sampaio, Juninho Paulista, Edmundo e Ronaldo, o Brasil não se abateu com o gol de Graeme Le Saux, aos 38’ do primeiro tempo, e virou o jogo no segundo tempo com gols de Juninho Paulista, Ronaldo e Edmundo. A vitória, mais uma em Wembley, deu o título à equipe comandada por Zagallo.

 

Brasil 2×1 Inglaterra, Copa do Mundo, Shizuoka Stadium Ecopa (JAP), 21 de junho de 2002

Ronaldinho sai em disparada na jogada do primeiro gol…

 

Depois de enfrentar dois adversários frágeis (China e Costa Rica) e um mais complicado (Turquia) na fase de grupos, o Brasil começou a fase eliminatória da Copa do Mundo de 2002 com um teste daqueles: a Bélgica. Mas, com a estrela de Rivaldo e as defesas de Marcos, o time canarinho superou o obstáculo e avançou às quartas de final para enfrentar um velho conhecido em Copas: a Inglaterra, oponente do Brasil em outros três Mundiais. Seria o mais difícil rival do time de Felipão na caminhada rumo ao penta. O English Team contava com grandes estrelas do futebol como Seaman, Campbell, Ferdinand, Ashley Cole, Scholes, Beckham, Owen e o consagrado técnico Sven-Göran Eriksson. Além disso, a equipe vinha de grandes resultados desde antes do Mundial, incluindo um acachapante 5 a 1 pra cima da Alemanha em plena casa da Nationalelf. Seria um jogaço. E, de fato, foi. 

Os times perfilados.
Inglaterra – Em pé: Owen, Campbell, Héskey, Mills, Seaman e Ferdinand. Agachados: Nick Butt, Cole, Beckham, Scholes e Sinclair.
Brasil – Em pé: Edmílson, Lúcio, Gilberto Silva, Roque Júnior, Marcos e Cafu. Agachados: Ronaldinho, Ronaldo, Roberto Carlos, Rivaldo e Kléberson.

 

Mesmo melhor no jogo e arriscando mais, o Brasil não estava com a pontaria calibrada. E, para piorar, foi a Inglaterra quem abriu o placar, em bobeada da zaga canarinha que facilitou o caminho para Michael Owen deixar o seu. Só que aquela tarde ensolarada no Japão tinha dono e personagem: Ronaldinho. Com seus dribles, passes e alegria, o Bruxo – que ainda não tinha tal apelido nem a fama que o consagrou anos depois – provou que seria uma estrela muito em breve. Nos acréscimos da primeira etapa, o camisa 11 passou por dois marcadores em velocidade e encontrou Rivaldo, que marcou seu 5º gol naquela Copa. 

 

O empate deixou o Brasil vivo e pronto para a virada no segundo tempo. E, logo aos 5’, falta para o Brasil. De longe, muito longe. Ronaldinho fez que ia cruzar. Mas percebeu o goleiro Seaman adiantado. Ele chutou direto, a bola percorreu o céu japonês e foi parar no ângulo: gol antológico! O sorriso de Ronaldinho foi o mesmo dos milhões de brasileiros que acordaram de madrugada para ver aquele épico. Mas, minutos depois de ser bestial, o craque foi uma besta ao levar cartão vermelho em um lance bobo, deixando a seleção sul-americana com 10 homens por mais de meia hora de jogo. Só que Felipão sabia da competência de seus jogadores e tinha muita experiência. Aumentou a marcação, fechou as pontas e a Inglaterra não fez absolutamente nada. Foi tenso, mas o Brasil segurou o 2 a 1 e garantiu a vaga na semifinal. O Penta era uma realidade possível, embalada por aquela virada movida “à bruxaria”. Leia mais clicando aqui!

 

Inglaterra 1×1 Brasil, Amistoso, Wembley (ING), 1º de junho de 2007

O Brasil foi o país convidado pela FA para realizar, contra a Inglaterra, o primeiro jogo entre seleções do novo Wembley, reinaugurado naquele ano de 2007 e bem diferente do antigo. Com muita expectativa, o jogo acabou sendo mais festivo do que disputado e só teve o primeiro gol no segundo tempo, quando Beckham cobrou falta e Terry cabeceou para fazer 1 a 0. O Brasil buscou o empate e conseguiu já nos acréscimos, em gol de Diego Ribas.

 

Inglaterra 2×1 Brasil, Amistoso, Wembley (ING), 06 de fevereiro de 2013

Sede da Copa do Mundo de 2014, o Brasil não disputou as Eliminatórias e realizou uma série de amistosos antes da competição. E, em 2013, a equipe viajou até Wembley para enfrentar a Inglaterra, comandada por Roy Hodgson e com nomes como Cahill, Ashley Cole, Gerrard, Walcott, Rooney, Lampard e Milner. E, após muitos anos sem vencer o escrete canarinho, a Inglaterra triunfou por 2 a 1, com gols de Rooney e Lampard. Curiosamente, a vitória inglesa aconteceu diante de Felipão no banco e Ronaldinho em campo, mesmos algozes lá de 2002. Naquele dia, não teve bruxaria…

 

 

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