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O Atlético de Madrid campeão mundial em 1974

Atlético de Madrid mundial 1974

Por Guilherme Diniz

Quando era disputado em jogos de ida e volta, o Mundial Interclubes reunia exclusivamente os campeões da Liga dos Campeões da UEFA e da Copa Libertadores. Foi assim entre 1960 e 1979 até a competição passar a ser disputada em jogo único, a partir de 1980, no Japão. Porém, na década de 1970, a competição sofreu alguns boicotes de clubes europeus, seja por represália à violência das equipes argentinas, seja por problemas no calendário ou desinteresse. Nas vezes em que o campeão europeu não participou, o vice ia em seu lugar, mas acabava perdendo para o campeão sul-americano. Bem, isso até chegar o ano de 1974, quando o Atlético de Madrid, vice-campeão europeu, se tornou o primeiro clube em tal condição a vencer um título mundial. E foi em cima do super Independiente de Pavoni, Galván, Bochini, Percy Rojas e Daniel Bertoni, tetracampeão continental naquela metade de anos 1970. Foi um título que amenizou o trauma da derrota de meses antes, na Liga dos Campeões.

Segundos que devastaram

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Atlético e Bayern, em Bruxelas (BEL), com o icônico Atomium ao fundo.
 

Os espanhóis vinham de uma final traumática contra o Bayern München-ALE, base da seleção alemã campeã do mundo naquele ano. A final europeia foi disputada no Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, mais de uma década antes da tragédia que marcou o local. Só que, para o torcedor do Atlético, já naquele ano o estádio belga se transformou em sinal de mau agouro. O Bayern ainda era um desconhecido no continente e tinha em sua galeria menos títulos nacionais do que o Nuremberg, por exemplo, nenhuma Liga dos Campeões e somente uma Recopa da UEFA, assim como o Atlético de Madrid. Por isso, o duelo era equilibrado, mas, analisando jogador a jogador, obviamente que os bávaros eram favoritos. Quando a bola rolou, o jogo realmente foi disputado e terminou empatado em 0 a 0.

Na prorrogação, o Atlético avançou mais ao ataque e, em falta cobrada por Luis Aragonés faltando seis minutos para o fim, os colchoneros abriram o placar. Diante do cansaço visível em ambas as equipes, parecia mesmo que a vitória seria madrilena. Que maneira de ser campeão da Europa! Com gol do ídolo Aragonés, veteraníssimo e símbolo daquela era de ouro dos rojiblancos. Mas… Faltando cerca de 30 segundos para o apito final, o zagueiro Schwarzenbeck saiu da área e foi conduzindo a bola despretensiosamente. Ninguém deu atenção, afinal, era um zagueiro, não tinha como ele fazer algo àquela altura. Bem, tinha sim. O camisa 4 chutou de longe, o goleiro Reina, com a visão encoberta, não viu a trajetória da bola e, quando saltou, foi tarde demais. Ela foi parar no canto direito do gol. Era o empate. E, ao apito final, seria necessário um novo jogo dali a dois dias, pois na época não havia disputa de pênaltis.

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Gerd Müller ergue a UCL de 1973-1074.
 

Foi uma tragédia para os espanhóis. Por segundos, eles tiveram as mãos no mais cobiçado troféu da Europa. E em segundos eles viram o sonho ruir em Heysel. Devastados, os colchoneros entraram em campo para o replay cabisbaixos, já derrotados. E foram engolidos pelo Bayern: 4 a 0, dois gols de Uli Hoeness e dois de Gerd Müller, que deram a primeira Velhinha Orelhuda aos bávaros – os alemães seriam tricampeões consecutivos do torneio. Ao Atlético, ficou a amargura e uma de suas maiores derrotas da história – para muitos, a maior e mais traumática. Diante daquele drama e de uma temporada sem troféus (o clube foi vice-campeão de La Liga e semifinalista da Copa del Generalísimo), Aragonés decidiu se aposentar do futebol.

O curioso é que, décadas depois, o clube também iria perder a chance de vencer a UCL em uma reta final de jogo, em 2014, quando vencia por 1 a 0 o rival Real Madrid até os 90’+3’, mas levou um gol de Sergio Ramos que levou a partida para a prorrogação. Nela, os merengues fizeram três gols e ficaram com La Décima. Mas, após a derrota de 1974, ficava a pergunta: será que era o fim daquele esquadrão, bicampeão do Campeonato Espanhol e campeão da Copa do Rei?

O título mundial

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O time campeão do mundo. Em pé: Alberto, Melo, Eusebio, Pacheco, Capón e Adelardo. Agachados: Aguilar, Gárate, Ayala, Irureta e Heredia.
 

Perder daquela maneira a UCL fez com que o técnico Toto Lorenzo deixasse o Atlético e voltasse para a Argentina, onde faria história pelo Boca Juniors bicampeão da Libertadores em 1977 e 1978. Sem técnico, o Atlético de Madrid passou a ser comandado pelo agora aposentado Luis Aragonés, que aceitou o desafio de iniciar uma carreira com a prancheta usando como mantra a frase: 

“Ganar y ganar y ganar y volver a ganar, eso es el fútbol”

E tanto ele como o clube abraçaram a oportunidade que surgiu meses depois: disputar o Mundial Interclubes, após a recusa do Bayern em participar da competição por conta da logística de ter que viajar à América do Sul e pelos compromissos na Bundesliga e na caminhada continental em busca do bicampeonato, além de o clube preferir realizar amistosos para emancipar sua marca e aproveitar o êxito de seus craques após o título mundial da Alemanha na Copa.

Com isso, o Atlético de Madrid, vice-campeão europeu, foi para a disputa do título contra o Independiente-ARG, campeão da Copa Libertadores de 1974. Na época, eram dois jogos, com possibilidade de uma partida desempate em caso de igualdade de pontos. Mas, para evitar viagens extras, o Atlético combinou com os argentinos que o saldo de gols seria o fator de desempate. Com praticamente a mesma base da temporada anterior e Aragonés no comando técnico, o Atlético viajou até Avellaneda e enfrentou um time fortíssimo e temido, que já havia vencido o Mundial de 1973 diante da Juventus-ITA, vice-campeã europeia que disputou o torneio no lugar do Ajax, que abdicou da disputa naquele ano.

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O goleiro Pacheco (de cachecol verde), Gárate (com a camisa do Independiente) e Eusebio em pé, ao lado do técnico Luis Aragonés, de terno marrom no canto. Abaixo, rodeando a taça, estão Aguilar, Alberto, Irureta, Ayala, Heredia (estes últimos dois de casaco branco) e Capón.
 

Com 60 mil pessoas no estádio rojo, o Independiente venceu os madrilenos por 1 a 0, gol de Balbuena, e foram para Madri com a vantagem do empate. Eles tinham certeza do título assim como tiveram contra a Juve em 1973. Mas, em seu caldeirão tomado por 65 mil pessoas, o Atlético mostrou força, fibra, mais preparo físico e garra para fazer história. Escalado com Pacheco; Melo, Heredia, Eusebio e Capón; Adelardo, Alberto, Irureta e Aguilar; José Eulogio Garate e ‘Ratón’ Ayala, o Atleti venceu por 2 a 0, gols de Irureta e Rubén Ayala, e ficou com o título mundial, sendo o primeiro na história a conseguir o feito sem ter um título continental no currículo. Esse detalhe, porém, jamais abalou o torcedor, que vibrou como nunca pelo troféu em um alento após uma época tão difícil e traumática como a de 1973-1974.

Leia mais sobre o Atlético de Madrid 1970-1974 clicando aqui!

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