Nascimento: 19 de outubro de 1956, em Montevidéu, Uruguai.
Posição: Zagueiro
Clubes: Nacional-URU (1975-1977), São Paulo-BRA (1977-1988), Flamengo-BRA (1988), Palmeiras-BRA (1989) e Gamba Osaka-JAP (1990-1992).
Principais títulos por clubes: 1 Campeonato Uruguaio (1976) pelo Nacional.
2 Campeonatos Brasileiros (1977 e 1986) e 4 Campeonatos Paulistas (1980, 1981, 1985 e 1987) pelo São Paulo.
1 Copa do Imperador (1990) pelo Gamba Osaka.
Principais títulos individuais:
Bola de Prata da revista Placar: 1981, 1983 e 1986
Eleito para o Time dos Sonhos do São Paulo do Imortais: 2021
Eleito para a Seleção dos Sonhos do Uruguai do Imortais: 2020
“Don Darío”
Por Guilherme Diniz e Leandro Stein
Garra, técnica, estilo, preparo físico invejável e coração no bico da chuteira, tudo no mais puro espírito uruguaio. Assim era Alfonso Darío Pereyra Bueno, ou simplesmente Darío Pereyra, um dos maiores zagueiros da história de seu país e do São Paulo, onde virou ídolo e jogou por mais de 10 anos. Depois de estrear pela seleção celeste aos 18 anos, já virou capitão aos 19, uma prova do grande líder que era. Ao chegar ao tricolor paulista, venceu quatro Campeonatos Paulistas e dois Campeonatos Brasileiros (em especial o de 1986, fazendo dupla de zaga com Oscar) jogando sempre com amor à camisa e muita eficiência. De quebra, marcava muitos gols para um zagueiro (foram 37 pelo tricolor) e se consagrou como um dos melhores defensores do futebol sul-americano nos anos 1980. É hora de relembrar.
Talento precoce
Quando vivia em Sauce, a 30km da capital uruguaia, Darío Pereyra corria em meio às parreiras, plantações e animais do sítio do pai. Na escola, praticou atletismo, salto em altura, corridas de 100, 200 e 400m e até arremesso de peso, modalidade que venceu uma medalha, aos 13 anos. Mas sua paixão era mesmo o futebol, esporte que ele não queria ser “apenas um jogador, queria ser um grande jogador”, segundo o próprio. O jovem despontou no Nacional, na metade da década de 1970, em uma função bem diferente daquela que o consagraria. O garoto promissor costumava atuar mesmo na meia esquerda, jogando de cabeça erguida e com notável domínio de bola. Além disso, independente da posição, tinha a fama de ‘caudilho’ pela personalidade aguerrida e a força física, oriunda, segundo os colegas de Nacional, dos 4 litros de leite (!) que bebia por dia quando tinha 16 anos de idade. “Era uma marca invejável para qualquer bezerro”, disse Darío, aos risos, em 1988, à revista Placar.
O talento era tamanho que, aos 18 anos, estreou na seleção uruguaia e, aos 19, já vestia a braçadeira de capitão – em um ano e meio pela seleção, acumulou incríveis 32 partidas. Foi campeão uruguaio em 1976 pelo Nacional e logo depois acabou atraindo o interesse do São Paulo, que o via como o substituto de Pedro Rocha, de saída do Morumbi. Pois os dirigentes tricolores não economizaram para buscar o prodígio, naquela que foi, na época, a segunda maior contratação do futebol brasileiro. O negócio foi fechado justamente em 21 de outubro de 1977, mês de aniversário do jogador, por conta da regra que impedia os jogadores uruguaios de se transferirem ao exterior antes dos 21 anos. Em sua chegada ao país, uma multidão de torcedores foi recepcioná-lo no aeroporto de Congonhas.
“Nunca pensei em jogar futebol por dinheiro. Comecei e continuei apenas porque gostava. Se gostasse mais de estudar, teria largado a bola e me agarrado nos livros. Sou profissional, mas continuo achando que primeiro o jogador tem que pensar em jogar, só depois deve pensar no dinheiro. Mais dinheiro, melhores salários, tudo isso é simples consequência”, declarou, em entrevista à Placar, em 1977.
No Uruguai, Darío Pereyra iniciou a faculdade de economia (que ele acabou abandonando no segundo ano, para poder se dedicar ao futebol) e sempre teve fama de leitor voraz. “Não estou deixando minha terra por causa do dinheiro e acho até que poderia ganhar mais em outros países. Vim para me superar, para continuar jogando bem e para aprender cada vez mais – e isso só é possível em poucos países como é aqui no Brasil”. O lado culto ajudou o jovem a sempre cuidar bem do seu dinheiro, conseguindo construir uma sólida vida financeira.
Campeão brasileiro e superando lesões
O começo no tricolor foi fulminante: estreou em dezembro de 1977 e virou titular justamente na reta final do Brasileirão daquele ano, disputado no início do ano seguinte. Antes de vestir a camisa do São Paulo, Darío Pereyra chegou a receber uma proposta do Real Madrid, mas o uruguaio não queria jogar na Espanha na época. Sorte do tricolor. A permanência no Brasil foi fundamental para Darío Pereyra ajudar o São Paulo na conquista do primeiro título nacional do clube do Morumbi. Na decisão, em um Mineirão lotado, teve missão duríssima de cuidar de Toninho Cerezo, um dos craques do timaço invicto do Atlético Mineiro. Venceu a batalha pessoal contra o alvinegro e terminou com a taça, graças ao triunfo tricolor nos pênaltis.
A sequência, porém, não seria tão fácil assim ao uruguaio. Sofrendo com lesões, ele demorou a se firmar no 11 inicial. Alternava entre a meia esquerda e a cabeça de área, sem emendar grandes sequências de jogos. Ele narrou sua via crucis à Placar, em 1978.
“Este ano (1978) foi terrível para mim. Depois de toda aquela história de vem-não-vem, acabei entrando no time e contundi o cotovelo, logo nos primeiros jogos. Fiquei uns tempos de fora, contundi o braço. Agora (novembro de 1978), fiquei esse tempão parado, cuidando de uma distensão um pouco abaixo da cintura, e foi só voltar jogando firme, estourei a coxa”.
A sorte do uruguaio mudou em 1980, sob as ordens de Carlos Alberto Silva. O técnico resolveu improvisar Darío Pereyra na zaga. Improviso que tornou-se a certeza de que o uruguaio havia nascido para aquele ofício, especialmente diante da conquista do Campeonato Paulista de 1980. Veio o bicampeonato estadual, em 1981, e no mesmo ano o reconhecimento como um dos melhores zagueiros em atividade no país, recebendo a Bola de Prata da Revista Placar. O uruguaio levaria o troféu outras duas vezes para casa.
Difícil encontrar um jogador em sua posição que aliasse tão bem a capacidade física com o refinamento técnico – seja ele para roubar a bola de maneira limpa ou iniciar a saída de bola. Também era exímio pelo alto. Mais do que isso, um líder nato e símbolo da garra, formando uma muralha ao lado de Oscar. Em 1982, chegaram mesmo a cogitar a naturalização de Darío Pereyra para a seleção brasileira, o que esbarrava no fato de já ter disputado partidas oficiais pelo Uruguai. Prova maior da admiração que existia no país pelo beque.
“Eu me interessei (na naturalização) porque correu a notícia de que eu poderia disputar a Copa do Mundo de 1982 pelo Brasil. Depois, verifiquei que, como tinha atuado oficialmente pela seleção uruguaia, não poderia mais jogar pelo Brasil. Aí, abandonei a ideia”, relembrou Darío Pereyra à Placar, em 1987.
Bicampeão, única Copa do Mundo e aposentadoria
Em sua sequência no São Paulo, Darío Pereyra ainda conquistaria outras duas edições do Paulistão, em 1985 e 1987. Entretanto, o grande feito veio mesmo em 1986, com o segundo título brasileiro do clube. O uruguaio era o ponto de equilíbrio do esquadrão, que também contava com Careca, em fase inspiradíssima no ataque. Uma conquista inapelável que teve a final diante do Guarani o momento mais marcante da carreira do zagueiro. O jogo terminou empatado em 3 a 3. Nos pênaltis, o tricolor derrotou o rival em um jogo espetacular. Aos 30 anos de idade, já não havia como negar a importância histórica que o defensor havia construído no Morumbi.
Meses antes, aliás, Darío Pereyra cumpriu um sonho ao disputar a Copa do Mundo de 1986. Reserva nos dois primeiros jogos, só se tornou titular após a goleada da Dinamarca por 6 a 1. Depois disso, o time Celeste só tomou mais um gol, que culminou na eliminação nas oitavas, diante da rival Argentina – que seria campeã.
A trajetória de Darío Pereyra no São Paulo se encerrou em 1988, após mais de 450 jogos e quase 40 gols. Transferiu-se ao Flamengo, mas jogou pouco. Defenderia ainda o Palmeiras e o Matsushita Electronic (hoje Gamba Osaka), encerrando a carreira no Japão às vésperas da eclosão da J-League. Aposentado, o uruguaio voltaria ao Morumbi para iniciar sua carreira de técnico, durante a qual sua maior conquista foi o Campeonato Mineiro de 1999 com o Atlético – além de ter sido o comandante do Paysandu na histórica vitória sobre o Boca Juniors pela Copa Libertadores de 2003. O legado, de qualquer forma, já estava no passado. O meia que se consagrou como um dos melhores zagueiros de sua época. Um craque imortal.
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