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Esquadrão Imortal – Internazionale 1997-1999

A Inter campeã da Copa da UEFA de 1998. Em pé: Zé Elias, Colonnese, Zanetti, Pagliuca e Taribo West. Agachados: Simeone, Djorkaeff, Zamorano, Aron Winter, Fresi e Ronaldo.
Internazionale 1997-1999
A Inter campeã da Copa da UEFA de 1998. Em pé: Zé Elias, Colonnese, Zanetti, Pagliuca e Taribo West. Agachados: Simeone, Djorkaeff, Zamorano, Aron Winter, Fresi e Ronaldo.
 

Grandes feitos: Campeã da Copa da UEFA (1997-1998) e Vice-campeã do Campeonato Italiano (1997-1998).

Time-base: Pagliuca (Frey); Fresi (Bergomi); Colonnese, Taribo West (Simic) e Javier Zanetti (Fabio Galante); Aron Winter (Cauet), Zé Elias (Paulo Sousa / Silvestre) e Diego Simeone; Djorkaeff (Álvaro Recoba / Roberto Baggio / Andrea Pirlo); Zamorano (Kanu / Moriero) e Ronaldo (Ventola). Técnicos: Luigi Simoni (1997-1998), Mircea Lucescu (novembro-1998 até março-1999), Luciano Castellini (de março-1999 até abril-1999) e Roy Hodgson (de maio-1999 até junho-1999).

 

“L’Inter del Fenômeno”

Por Guilherme Diniz

Arrancadas imparáveis. Dribles desconcertantes. Explosões de gols. Delírios e mais delírios no estádio Giuseppe Meazza. Muitos dizem que durou pouco. Que todo aquele espetáculo merecia mais troféus. Mas foi puro deleite. Pura arte. Entre 1997 e 1999, o torcedor da Internazionale teve um dos maiores privilégios que poucas torcidas no mundo já tiveram: ver bem de perto um dos maiores atacantes de todos os tempos no auge da forma. Simplesmente Ronaldo, que virou de vez o Fenômeno que arrebatou os fãs do esporte em todo o planeta com atuações sensacionais vestindo o azul e preto da Inter. Eleito o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA em 1996 e 1997, o brasileiro fez jus ao(s) título (s) com gols e mais gols que deram à equipe de Milão justamente o caneco que havia escapado em 1996-1997: a Copa da UEFA, com goleada de 3 a 0 sobre a fortíssima Lazio na decisão e golaço de Ronaldo. Mas aquela Inter não tinha “apenas” Ronaldo. Tinha Pagliuca, um dos mais consagrados goleiros do futebol italiano. O lendário Giuseppe Bergomi, prestes a pendurar as chuteiras, mas ainda impecável no sistema defensivo. Um jovem Javier Zanetti, que começava a despontar como futuro Capitano. Diego Simeone, feroz do meio de campo. Zamorano, sempre perigoso no ataque e parceiro de Ronaldo na frente. E ainda o craque incontestável Roberto Baggio. É hora de relembrar.

A loucura pelo craque

Ronaldo, em 1996, pelo Barça: sonho de longa data da Inter.
 

Após a fase de ouro do esquadrão campeão italiano de 1988-1989 e da Copa da UEFA de 1990-1991, a Inter entrou em um período de escassez de títulos e o amargo desprazer de conviver com os rivais Milan e (principalmente) Juventus colecionando canecos na Itália e fora dela. Além disso, teve que ver o Parma também figurar entre os copeiros do período. Apesar de vencer a Copa da UEFA de 1993-1994 no embalo do craque Dennis Bergkamp, a nerazzurri não levantava o Campeonato Italiano desde 1989, o que obrigava o presidente Massimo Moratti a pensar em alternativas para recolocar a Inter na rota das conquistas.

Na temporada 1996-1997, a equipe brigou por todos os títulos, mas terminou de mãos vazias outra vez. No Italiano, 3º lugar, atrás da campeã Juventus e do vice Parma. Na Copa da Itália, queda nas semifinais diante do Napoli. E o mais doloroso revés foi na Copa da UEFA, quando os nerazzurri alcançaram a decisão contra o Schalke 04-ALE, mas perderam a taça nos pênaltis em pleno estádio Giuseppe Meazza. A Inter tinha um bom elenco, mas parecia que faltava algo, um “ser” fora de série. E foi esse alguém que o presidente Moratti foi buscar em junho de 1997: o brasileiro Ronaldo.

O desejo de ter o atacante mais famoso do mundo na época era antigo, desde quando o craque gastava a bola no PSV-HOL. Após perder a chance para o Barcelona-ESP, Moratti viu a oportunidade naquele verão com a relação conturbada do jogador com os catalães, muito por causa dos privilégios que ele tinha em comparação com outros atletas blaugranas, a ponto de ter sido liberado para curtir o Carnaval brasileiro no começo de 1997 enquanto todos os jogadores barcelonistas treinavam. Além disso, os empresários do atacante dificultavam as negociações para renovação de seu contrato, mesmo com o presidente do Barça na época, Josep Lluís Núñez, ter dito que Ronaldo seria do clube “por toda a vida”. Mas a comitiva da Inter foi até a Espanha com um cheque de 27 milhões de dólares (recorde na época) para contratar Ronaldo e pagar sua cláusula de rescisão. O negócio foi fechado e o brasileiro embarcou para Milão logo em seguida.

“Eu estava em negociação para um novo contrato com o Barcelona, mas não conseguimos chegar a um acordo para a renovação. Imediatamente eu decidi que não ia ficar no Barcelona, porque eu não confiava mais na diretoria. A Inter veio e me ofereceu um desafio incrível. Naquela época, a Série A era o campeonato mais forte do mundo e também o mais difícil. Acho que foi a melhor decisão que tomei”.Ronaldo, em entrevista à TV Inter, em 2018, e reproduzida no site Trivela, parceiro do Imortais.

A notícia, claro, caiu como uma bomba no meio futebolístico. E deixou os torcedores da Inter em polvorosa, mas não tanto a imprensa italiana, descrente do sucesso do brasileiro pelo fato de na Espanha as zagas não serem tão eficientes quanto no calcio. Na Inter, o atacante Maurizio Ganz chegou até a dizer que “Ronaldo terá que conquistar a posição de titular”, em uma clara demonstração de ciúmes. Obviamente que o craque iria calar todos os esnobes com seu futebol e também com a ajuda dos reforços da Inter para aquela temporada. Moratti trouxe o nigeriano Taribo West para o setor defensivo, o argentino Diego Simeone, o francês Benoît Cauet, o italiano Francesco Moriero e o brasileiro Zé Elias para o meio de campo, e o meia uruguaio Álvaro Recoba. Para comandar todos esses novos nomes, Luigi Simoni, ex-técnico do Napoli e que havia eliminado a própria Inter da Copa da Itália da temporada anterior.

Cheguei!
 
Ronaldo e o técnico Luigi Simoni.
 

Os novos aportes faziam do elenco da Inter um dos mais fortes da Itália. Afinal, já estavam no time o goleiro Pagliuca, o zagueiro Bergomi, o lateral Zanetti (que atuava na maioria das vezes pela esquerda naquela época), o volante Aron Winter e o atacante Zamorano, que fez com que Ronaldo tivesse que usar a camisa 10 pelo fato de o chileno já vestir a 9. A expectativa era a maior possível do lado azul e preto de Milão, a começar pela torcida, que lotou o aeroporto na chegada do brasileiro e também o estádio Giuseppe Meazza na apresentação do craque. O mundo todo estava de olho em Milão. Na Internazionale. E em Ronaldo.

Começam os shows

Se tinha Ronaldo em campo, tinha batalhão de fotógrafos! Foto: imago/Kosecki.
 

Quem aparecesse nos treinos da Inter naquele começo de temporada poderia estranhar o jeito de Ronaldo jogar. Ele batia bola, chutava, corria e marcava gols, mas fazia o básico, nada de extrapolias. O brasileiro preferia guardar sua mágica para a hora da verdade, o jogo mesmo. Os adversários é que teriam que sofrer com seus dribles e arrancadas, não seus companheiros. A estreia foi contra o Brescia, na primeira rodada do Campeonato Italiano, em um Giuseppe Meazza tomado por quase 70 mil torcedores. Nervoso, o brasileiro não conseguiu furar a retranca do rival, que abriu o placar no segundo tempo, mas o uruguaio Recoba saiu do banco e anotou dois gols que deram a vitória por 2 a 1 aos nerazzurri.

Na estreia de Ronaldo, quem brilhou foi o uruguaio Recoba (abraçado pelo goleiro Pagliuca)!
 

Mas Ronaldo não demorou para deixar seu primeiro gol pela Inter. Ele aconteceu já na partida seguinte, contra o Bologna, fora de casa, quando Djorkaeff deu um passe na medida para o brasileiro entortar o zagueiro rival com um corte espetacular e fuzilar o goleiro. Golaço com a assinatura do Fenômeno, apelido que o camisa 10 passou a conviver dia após dia na Inter.

Dois dias depois, a Inter fez sua estreia na Copa da UEFA contra o Neuchâtel Xamax-SUI, em casa, e venceu por 2 a 0, gols de Ronaldo e Zé Elias. De volta ao Italiano, Ronaldo deixou mais um na vitória por 3 a 2 sobre a Fiorentina, em casa, e marcou mais dois nos 5 a 1 sobre o Lecce, fora. O craque seguiu implacável: fez o gol da Inter no empate em 1 a 1 com a Lazio, na 5ª rodada, fez os três gols da vitória por 3 a 0 sobre o Piacenza, na ida das oitavas de final da Copa da Itália, marcou o gol da vitória sobre o Parma por 1 a 0 na 7ª rodada do Italiano e marcou outro no empate em 2 a 2 contra o Milan, em seu primeiro Derby della Madonnina com a camisa nerazzurri.

A Inter só foi perder o primeiro jogo na Série A em 21 de dezembro, no revés de 1 a 0 diante da Udinese, fora de casa. O time de Milão era líder do campeonato desde a 3ª rodada e brigava firme contra a Juventus de Del Piero, a outra forte candidata ao Scudetto. No final daquele ano, a Inter superou seus desafios na Copa da UEFA ao vencer os suíços do Xamax por 2 a 0 na volta, fora de casa, vencer o Lyon-FRA por 4 a 3 no agregado e superar o RC Strasbourg-FRA por 3 a 0 na volta (com um gol de Ronaldo) após perder a ida por 2 a 0.

Ronaldo com o Ballon d’Or de 1997.
 

Com 14 gols em 19 jogos naquele segundo semestre de 1997, grandes atuações e a somatória de suas partidas pelo Barça no início do ano, Ronaldo venceu o Ballon d’Or da revista France Football e mais uma vez o prêmio de Melhor Jogador do Mundo pela FIFA, em cerimônia realizada em janeiro de 1998, conquistas que só aumentaram a fama do atacante pelo planeta. O craque teve impressionantes 480 pontos contra apenas 85 do segundo colocado, o brasileiro Roberto Carlos – foi a maior diferença de votos na história da premiação na época. A terceira posição ficou com o holandês Dennis Bergkamp (62 pontos), seguido do francês Zinédine Zidane (62) e do espanhol Raúl (51). Só em 2005 que Ronaldinho (BRA) superou a marca do Fenômeno ao somar 650 pontos a mais do que o segundo colocado Frank Lampard (ING). Vale lembrar que na “era antiga” da premiação, o recorde é de Lionel Messi (ARG), em 2009, com 721 pontos (!) de vantagem sobre Cristiano Ronaldo (POR).

Perda de pique no Italiano, avanços no continente

Del Piero e Ronaldo.
 

Em 04 de janeiro, a Inter venceu a Juventus por 1 a 0, em Milão, e manteve a liderança por mais duas rodadas até começar a desandar na Série A. Isso aconteceu muito por conta do baque causado pela goleada de 5 a 0 sofrida para o Milan pelo duelo de ida das quartas de final da Copa da Itália – os nerazzurri foram eliminados, pois venceram por apenas 1 a 0 a partida de volta. Entre a 16ª e a 22ª rodada, a Inter venceu apenas dois jogos, perdeu três e empatou dois, resultados que colocaram a Juventus na liderança. Ronaldo ainda marcou três gols nos 5 a 0 sobre o Lecce e outro na vitória por 2 a 0 sobre o Napoli nesse período, mas permitir escapar a ponta àquela altura do torneio deixava o título um pouco mais distante.

Já em março, a Inter reencontrou o Schalke 04-ALE pelas quartas de final da Copa da UEFA. A partida de ida foi em Milão e Ronaldo fez o gol da vitória por 1 a 0 que deu a vantagem do empate aos italianos para a volta, na Alemanha. Por lá, o Schalke vencia por 1 a 0 até os 46’ do segundo tempo quando o nigeriano Taribo West fez o gol do empate que classificou a Inter para a semifinal.

Ronaldo, Moriero e Simeone, este vibrando como sempre e levando a torcida ao delírio com sua garra e também gols!
 

No Italiano, os nerazzurri voltaram a vencer e emendaram seis vitórias seguidas, da 25ª até a 30ª rodada, com Ronaldo marcando gols em TODOS os jogos: um nos 4 a 0 sobre a Atalanta; um nos 2 a 1 sobre o Vicenza; um nos 3 a 0 sobre a Sampdoria; dois nos 2 a 1 sobre a Roma em plena capital italiana e um nos 2 a 0 sobre a Udinese. Mas o maior de todos esses jogos foi a vitória por 3 a 0 no clássico contra o Milan, na 26ª rodada, quando o Fenômeno marcou um golaço e Simeone fez os outros dois gols (o argentino jogou demais naquela temporada e virou um ídolo instantâneo da torcida com sua garra e categoria não só no domínio de bola, mas também por aparições decisivas no ataque).

O tento do brasileiro foi o segundo do jogo, após receber de Moriero na entrada da área e encobrir o goleiro rossonero. Quem teve bastante trabalho com o camisa 10 foi a lenda Paolo Maldini, obrigado a usar todas as suas “ferramentas” para coibir as investidas do craque pela direita – algumas até desleais, pouco comuns no estilo de jogo do italiano. Anos depois, Maldini disse que o brasileiro foi um dos dois maiores craques que ele enfrentou na carreira. “O melhor jogador que eu joguei contra foi o Maradona. Ele foi o que mais me impôs dificuldades no campo. Mas o Ronaldo, em seus dois primeiros anos na Inter, foi um fenômeno!”, disse a lenda rossonera à Sky Sports da Itália, em 2008.

Choque de titãs: Ronaldo e Maldini!
 

A sequência de seis vitórias seguidas recolocou a Inter na briga pelo título e deixou os milanistas a um ponto da Juventus, adversária na rodada 31 do Italiano, em Turim, diante de mais de 64 mil pessoas no Delle Alpi. O clássico era uma decisão antecipada e cercado de expectativas pelo duelo entre os estrelados elencos dos bianconeri (com Peruzzi, Di Livio, Deschamps, Zidane, Davids, Del Piero e Inzaghi) e dos nerazzurri. Mas o dia acabou sendo dos donos da casa. Na primeira etapa, Del Piero fez 1 a 0 para a Juve, e, aos 24’ do segundo tempo, Ronaldo foi derrubado dentro da área por Iuliano de maneira escandalosa e o árbitro Piero Ceccarini mandou o jogo seguir (!). A decisão gerou revolta imensa dos jogadores da Inter e foi bastante controversa. Para piorar, na sequência, o árbitro marcou pênalti de Taribo West em Del Piero. O técnico Luigi Simoni ficou furioso, invadiu o gramado e foi expulso pelo árbitro (!!) – Zé Elias também levou o cartão vermelho.

Após a confusão, Pagliuca acabou defendendo a cobrança, mas a Inter não conseguiu superar a retranca do rival e o jogo terminou mesmo 1 a 0, placar que deixou a Juve com quatro pontos de vantagem. No dia seguinte, o jornal La Gazzetta dello Sport estampou a manchete “Inter grita: vergonha”, confirmando um dos jogos mais polêmicos da história do futebol italiano. A partida virou discussão até mesmo no parlamento italiano dias depois, quando políticos trocaram uns sopapos durante uma discussão sobre o jogo (!!!).

O pênalti de Iuliano em Ronaldo: polêmica na reta final do Italiano.
 

Claro que as derrotas anteriores da Inter estavam custando um alto preço naquela reta final de campeonato, mas um empate fora de casa caso o pênalti em Ronaldo fosse convertido deixaria a Inter ainda viva faltando apenas três rodadas para o fim. Já sem inspiração, os nerazzurri empataram com o Piacenza sem gols em casa, perderam para o Bari por 2 a 1 fora e venceram o Empoli em casa na última rodada (4 a 1), terminando com o vice. A Juventus empatou dois e venceu um dos três jogos finais e confirmou mais um Scudetto para sua coleção.

A Inter venceu 21 jogos (mesmo número da Juve), empatou seis, perdeu sete e somou 69 pontos (a Juve somou 74). Foram 62 gols marcados e 27 sofridos (melhor defesa). Com 25 gols em 32 jogos, Ronaldo foi o artilheiro da Inter e vice-artilheiro do campeonato (dois gols a menos do que o alemão Oliver Bierhoff, da Udinese), confirmando um desempenho excepcional que merecia um caneco. Uma curiosidade é que a Inter teve naquela temporada a melhor média de público no campeonato: 67.825 pessoas. Mas ainda restava um alento: a Copa da UEFA.

Conquista fenomenal!

Em meio aos compromissos finais do Campeonato Italiano, a Internazionale encarou o Spartak Moscou-RUS pelas semifinais da Copa da UEFA. No primeiro duelo, em Milão, os nerazzurri saíram na frente com Zamorano, levaram o empate e o brasileiro Zé Elias marcou o gol da vitória aos 44’ do segundo tempo, dando aos italianos a vantagem do empate para a partida de volta, no dia 14 de abril, em uma gélida Moscou, cujos termômetros marcavam -18o graus celsius (!). Havia tanta neve no gramado que a partida teve que ser adiada em duas horas para que os funcionários do estádio pudessem retirar todo o excesso de gelo sob o campo. Mesmo assim, dominar a bola e fazê-la correr naquela partida seria tarefa ingrata e dificílima. Além disso, as mais de 36 mil pessoas nas arquibancadas criavam um ambiente totalmente favorável ao Spartak, que confiava naquele clima para reverter a vantagem dos italianos.

A Inter de 1997-1998: Fresi jogava como líbero e Zanetti atuava no meio de campo e também pela esquerda, como lateral que apoiava e defendia com a mesma qualidade. No meio, Simeone, Zé Elias e Aron Winter davam a proteção necessária para a defesa e ajudavam a linha de frente, que aliava técnica e velocidade com Djorkaeff, Zamorano e Ronaldo.
 

Quando o jogo começou, Tikhonov abriu o placar logo aos 12’ para os russos e tornou a missão da Inter ainda mais difícil. Mas Ronaldo estava em campo, na melhor fase da carreira. E com ele nessas condições, não havia adversário (nem frio!) no mundo que pudesse pará-lo. O craque empatou aos 45’, aproveitando um rebote do goleiro dentro da área. E, na segunda etapa, aos 30’, o brasileiro deu uma mostra do motivo pelo qual era o maior do planeta. A bola quicava para todo lado, arisca, parecia querer fugir dali, daquele gélido gramado. Não queria ser dominada. Mas Ronaldo a controlou após receber um lançamento lateral, passou por um marcador e tocou para Zamorano. O chileno devolveu para o camisa 10, que passou como um foguete por dois defensores, driblou o goleiro e marcou um golaço, uma pintura, um tento para ser visto e revisto incontáveis vezes.

Ele ainda quase fez o terceiro minutos depois por cobertura, mas a bola foi caprichosamente para fora. O placar ficou mesmo 2 a 1 e a Inter se garantiu na decisão pelo segundo ano seguido. O relato reproduzido no site Trivela do jornalista Francesco Repiche, que cobriu o jogo na época, traduz bem aquele gol de Ronaldo:

“Naquele campo encharcado, na neve de Moscou, campo terrível, ele emergiu da terra. Foi como se ele tivesse nascido naquela terra e fosse parte do futebol. Ele era parte daquele campo, como se sempre tivesse sido. Ele fundamentalmente era o futebol, que é a razão de não parecer difícil para ele”.

Com o moral elevado, a Inter foi para a final do dia 06 de maio de 1998 – a primeira em jogo único do torneio na época – contra um rival doméstico: a fortíssima Lazio de Nedved, Nesta e Roberto Mancini. A partida foi disputada no Parque dos Príncipes, em Paris (FRA), e havia certo equilíbrio antes do jogo. Mas, quando a bola rolou, a superioridade nerazzurri prevaleceu. Logo aos 5’, Zamorano venceu Marchegiani e fez 1 a 0. O gol desmoronou a Lazio, que sofreu um bocado com as investidas de Zamorano e Ronaldo, que carimbaram as traves romanas em busca de mais gols, que acabaram não saindo no decorrer daquela primeira etapa. Mas, no segundo tempo, Javier Zanetti, aos 15’, encheu o pé no ângulo e marcou um belo gol: 2 a 0.

Zamorano corre para o abraço: Inter perto do título! Foto: AFP.
 

A Lazio teve que se mandar para o ataque e isso começou a abrir espaços na zaga celeste. Melhor para a Inter, que chegou ao terceiro gol dez minutos depois com ele, claro: Ronaldo. O brasileiro recebeu absolutamente livre, saiu em disparada sem marcação alguma, driblou o goleiro Marchegiani ao seu estilo clássico e tocou para o gol vazio: 3 a 0. Passeio milanista!

Enfim, a Inter conquistava o título da Copa da UEFA, apagava a decepção da temporada anterior e celebrava o sonhado caneco na era Fenômeno. Uma curiosidade é que todos os gols daquela final foram anotados por sul-americanos: Zamorano (chileno), Zanetti (argentino) e Ronaldo (brasileiro), fazendo jus à tradição internacional do clube. Em 11 jogos, foram oito vitórias, um empate e duas derrotas, com 20 gols marcados (seis deles de Ronaldo, o vice-artilheiro do torneio) e apenas oito sofridos. Foi a terceira taça da Inter na Copa da UEFA na história e consolidou o clube como o maior vencedor da competição na época ao lado da Juventus – isso até o Sevilla se apaixonar pelo torneio e virar o maior bicho-papão de todos.

Ronaldo ergue a Copa da UEFA: enfim, uma taça pela Inter! Foto: Getty Images.
 

Terminada a temporada, o balanço da Inter foi bastante positivo, embora o vice no Campeonato Italiano tenha sido difícil de digerir. Com 34 gols em 47 jogos, Ronaldo foi o grande artilheiro da equipe e se firmou como a grande estrela do futebol mundial na época. E justamente em ano de Copa do Mundo, fato que colocou a seleção brasileira no topo entre os favoritos ao título. No Mundial, o melhor do mundo brilhou, ajudou o Brasil a alcançar a final – principalmente no jogaço contra a Holanda na semifinal -, mas acabou sofrendo uma convulsão antes da decisão contra a França, algo que abalou profundamente o time canarinho, que perdeu por 3 a 0. Leia muito mais sobre esse caso e sobre o Brasil daquela Copa clicando aqui.

Reforços, o “novo” 9 e crise

Roberto Baggio (à esq.) é apresentado na Inter ao lado da lenda Giacinto Facchetti.
 

A derrota na Copa do Mundo de 1998 não abalou em nada a fama de Ronaldo e sua moral na Inter. Muito pelo contrário. A estrela do craque e sua proximidade com a Nike rendeu à Internazionale um vertiginoso contrato de patrocínio que beirou a casa dos 110 milhões de dólares para vestir a nerazzurri pelos próximos 10 anos na época. Com isso, o brasileiro voltou a vestir a camisa 9 – a Nike queria o craque com o número principalmente por ter a marca R9 associada a ele – e Zamorano acabou com a camisa 18. Quer dizer, com a camisa 1+8, uma jogada de marketing que deu bastante resultado e ajudou a popularizar ainda mais o clube milanista com seus “dois camisas 9”.

“Minha camisa 1+8 da Inter é algo insólito na história do futebol. Todos os torcedores italianos me lembram dessa camiseta. Ronaldo para mim foi o melhor 9 da história e dar a ele minha camisa 9 era o que tinha que fazer. Assim, me reinventei com a 1+8. Tanto na vida como no futebol, temos que nos reinventar”.Zamorano, em entrevista reproduzida no site Trivela, parceiro do Imortais.

Além da mudança no material esportivo, a Inter trouxe novos atletas para o elenco, entre eles o veterano Roberto Baggio, os jovens Andrea Pirlo e Nicola Ventola, o zagueiro Simic e o goleiro francês Sébastien Frey. Deixariam a equipe no decorrer da temporada o nigeriano Kanu e o zagueiro Fresi, além do meia Recoba, emprestado ao Venezia. Com a manutenção de boa parte do elenco e o treinador Luigi Simoni, a Inter era mais uma vez favorita aos títulos nacionais e entrava forte na Liga dos Campeões da UEFA.

Bam-Bam e a camisa “9”.
 

As quatro primeiras rodadas do Campeonato Italiano foram satisfatórias, com três vitórias e um empate, além de triunfos nas duas primeiras etapas na Copa da Itália. Na Liga dos Campeões, após superar o frágil Skonto-LET por 4 a 0 e 3 a 1, a Internazionale estreou na fase de grupos com derrota por 2 a 0 para o Real Madrid-ESP, fora de casa, resultado que gerou críticas públicas do presidente Moratti ao técnico Simoni, num princípio de abalo na relação entre os dois naquele mês de setembro. Em outubro, porém, três derrotas seguidas no Italiano acenderam o alerta quanto ao futuro do time na competição, afinal, duas delas foram contra adversários diretos na briga pelo título: 5 a 3 para a Lazio em pleno Giuseppe Meazza, e 1 a 0 para a Juventus, fora de casa. O outro revés foi um 3 a 2 para o Bari (de novo em casa), provando que a equipe era ótima no ataque, mas pecava demais na defesa.

Ventola, Paulo Sousa e Pirlo, em foto da temporada 1998-1999.
 

Entre outubro e o fim de novembro, a Inter seguiu inconstante no Italiano com um empate em 2 a 2 diante do rival Milan (2 a 2), vitória sobre a Sampdoria (3 a 0) e derrota para a Fiorentina (3 a 1). Embora tenha superado seus rivais na continuação da fase de grupos da Liga dos Campeões, incluindo uma vitória por 3 a 1 sobre o Real Madrid, em casa, com dois gols de Roberto Baggio, o técnico Luigi Simoni acabou demitido no final de novembro, curiosamente após uma vitória por 2 a 1 sobre a Salernitana que deixou os nerazzurri a cinco pontos da liderança. A saída do treinador caiu como uma bomba no elenco e escancarou uma crise no clube.

“O que me diz respeito não são boatos, são fatos. É verdade, fui exonerado, não sou mais o técnico do Inter. Sandro Mazzola me disse ao telefone. Eu não esperava nada disso. Eles me fizeram parecer um palhaço”.Luigi Simoni, em entrevista ao La Repubblica (ITA), 1º de dezembro de 1998.

A partir dali, a Inter não se encontrou mais na temporada. O romeno Mircea Lucescu assumiu o time e não conseguiu ir muito além na Liga dos Campeões – queda nas quartas de final diante do futuro campeão Manchester United-ING – e o time foi eliminado nas semifinais da Copa da Itália para o grande Parma. Começaram a pesar também os problemas musculares de Ronaldo, ausente da equipe em vários jogos e dando os primeiros sinais de que seu joelho em breve teria sérios problemas… Para piorar, erros táticos nas escalações impediam um rendimento melhor de Andrea Pirlo, que jogava muito à frente e não conseguia exibir seu futebol primoroso que em breve iria consagrá-lo como um dos maiores meias do mundo na virada do milênio.

Ronaldo e Baggio: craques jogaram juntos por muito pouco tempo… 🙁
 

Djorkaeff, Baggio, Simeone e Zanetti eram os que mais brilhavam no time, mas era pouco diante dos rivais poderosos no Italiano. Para se ter uma ideia, entre a 21ª e a 30ª rodada, a Inter venceu apenas um jogo, perdeu seis e empatou três. Um desempenho péssimo, fruto dos problemas táticos, dos três treinadores (!) no período – Lucescu, Castellini e Hodgson – e das ausências de Ronaldo. O presidente Moratti chegou até a renunciar ao cargo em maio de 1999, mas retornou ao posto dois meses depois.

Uma das escalações da Inter na Liga dos Campeões de 1998-1999. Em pé: Ronaldo, Taribo West, Zanetti, Pagliuca e Bergomi. Agachados: Simeone, Cauet, Roberto Baggio, Zamorano, Silvestre e Colonnese. Foto: Getty Images.
 

O alento só veio na 31ª rodada, quando os nerazzurri venceram a já forte Roma da época no Estádio Olímpico por 5 a 4, em um dos jogos mais alucinantes daquele torneio, com dois gols de Ronaldo, dois de Zamorano e um de Simeone. O brasileiro deixaria sua marca nos três jogos seguintes da Inter no torneio e terminou o Campeonato Italiano com 14 gols em 19 jogos, outro grande número mesmo com tantas ausências ao longo da temporada. O brasileiro anotou 15 gols em 28 jogos disputados e foi o artilheiro da equipe no ano. A Inter terminou a Série A na 8ª colocação e o terceiro melhor ataque (59 gols em 34 jogos), mas a terceira pior defesa (54 gols sofridos).

O drama e o fim

Os fiascos na temporada 1998-1999 fizeram o presidente Moratti contratar o ex-técnico da Juventus, Marcello Lippi, para o comando da Inter, além do atacante Christian Vieri (em transação recorde na época), o goleiro Angelo Peruzzi e o zagueiro Laurent Blanc. Mesmo com tais reforços, a Inter voltou a decepcionar e não levantou nenhum troféu. Para piorar, em 21 de novembro de 1999, Ronaldo rompeu o tendão do joelho direito e teve que operar, retornando só em 12 de abril de 2000. Neste dia, o brasileiro ficou sete minutos em campo diante da Lazio até sofrer a mais grave lesão de sua carreira, quando seu joelho se rompeu e o fez permanecer 15 meses longe dos gramados.

O grito de dor do Fenômeno ecoou em todo mundo e seu sofrimento mexeu até com quem era avesso ao futebol. Muitos temeram pelo fim de sua carreira, mas o craque voltaria em grande estilo para levantar a Copa do Mundo de 2002 com a seleção brasileira, em uma das maiores voltas por cima de um jogador na história do futebol.

Volta por cima de Ronaldo veio em grande estilo!
 

Essa via crucis do brasileiro acabou minando um período mais vertiginoso na Inter, que não conseguiu acabar com o jejum de títulos entre 1999 e 2002. Ronaldo deixou Milão após a Copa para jogar no Real Madrid e a Inter só iria encerrar a seca na temporada 2004-2005, com o título da Copa da Itália. Os grandes troféus, porém, só voltariam na virada da década com o esquadrão comandado por José Mourinho.

Embora sua história na Inter tenha sido abreviada por duas graves lesões, Ronaldo guarda enorme carinho pelo clube e é idolatrado até hoje em Milão, a ponto de ser um dos quatro primeiros jogadores eleitos para o Hall da Fama nerazzurri, em 2018. O brasileiro diz que “não trocaria meu primeiro ano na Inter por nada”, e muitos tratam aquela lendária temporada 1997-1998 do craque como a melhor de sua carreira. De fato, o que o atacante jogou naquela época foi inesquecível. Rendeu apenas um título, mas o suficiente para escrever douradas páginas na história da Inter e do futebol. E não só ele, pois Pagliuca, Bergomi, Zanetti, Simeone, Djorkaeff, Zé Elias e Zamorano contribuíram bastante para fazer daquela Inter um esquadrão imortal.

Os personagens:

Pagliuca: cria das categorias de base da Sampdoria – e também com passagem pelo Bologna -, Pagliuca se tornou em pouco tempo uma das maiores revelações do futebol italiano na virada da década de 1980 e início dos anos 1990. Ágil, sortudo, seguro e capaz de fazer defesas espetaculares (além de pegador de pênaltis), Pagliuca foi convocado para a Copa de 1990 e em 1994 foi o goleiro titular da Azzurra que chegou ao vice-campeonato mundial na Copa dos EUA. O arqueiro deixou a Sampdoria em 1994 para continuar sua grande carreira na Internazionale, assumindo a titularidade com muita regularidade e grandes defesas mesmo quando a zaga não ia bem – principalmente na temporada 1998-1999. Pagliuca disputou a Copa de 1998 e deixou a Inter em 1999 para atuar no Bologna, até encerrar a carreira no Ascoli em 2007. O camisa 1 disputou 234 jogos pela Inter na carreira.

Frey: chegou em 1998 para ser reserva de Pagliuca e disputou sete jogos no Campeonato Italiano de 1998-1999, levando dez gols. Acabou emprestado ao Verona já na temporada seguinte, retornou em 2000 e deixou a Inter em 2001 para jogar no Parma.

Fresi: com passagem pelas seleções de base da Itália e comparado até com Franco Baresi, o zagueiro chegou à Inter em 1995 e conseguiu se firmar como titular no sistema defensivo atuando na maioria das vezes como líbero. Muito seguro e com boa técnica para iniciar jogadas de ataque, foi um dos destaques da equipe entre 1995 e 1997, embora tenha se revezado com outros companheiros ao longo da temporada 1997-1998. Disputou 123 jogos pela Inter e marcou um gol.

Bergomi: foram exatos 20 anos de Internazionale, vários títulos, 757 partidas disputadas, 28 gols marcados e a idolatria eterna da torcida. O capitão Giuseppe Bergomi fez história em Milão como um dos mais completos zagueiros de sua geração, além de poder atuar como lateral-direito. Raçudo, eficiente e competitivo, brilhou no setor defensivo da equipe pela qual conquistou seis títulos. Durante anos foi o jogador com mais partidas pela Inter, até ser superado pelo argentino Javier Zanetti. Perto de se aposentar naquele final de anos 1990, ainda teve gás para jogar em várias posições no sistema defensivo da equipe na temporada do título europeu de 1997-1998. Pendurou as chuteiras em 1999, aos 36 anos.

Colonnese: atuando como lateral ou zagueiro, o italiano chegou em novembro de 1997 e assumiu a titularidade ao longo daquela temporada com grandes atuações, muita eficiência na marcação e sendo um dos pilares do ótimo desempenho defensivo do time tanto no Campeonato Italiano quanto na Copa da UEFA. Colonnese jogou até 2000 na Inter e acumulou 80 jogos com a camisa nerazzurri.

Taribo West: com seus dreadlocks coloridos e muito talento na marcação, desarmes e saídas de bola, West foi um dos maiores zagueiros da Nigéria nos anos 1990 e um dos muitos africanos a brilhar no concorrido futebol europeu. O defensor jogou de 1997 até 1999 na Internazionale e foi o herói da classificação da equipe contra o Schalke 04, durante a caminhada do título de 1997-1998, com seu gol nos minutos finais da partida. West conquistou o ouro nas Olimpíadas de 1996 pela Nigéria.

Simic: foi um dos grandes defensores croatas dos anos 1990, capaz de jogar em todas as posições da retaguarda de suas equipes. Integrou todas as seleções de base da Croácia até chegar a equipe principal, pela qual disputou exatas 100 partidas, se tornando o recordista em participações com a camisa xadrez e um dos titulares da seleção que alcançou um histórico 3º lugar na Copa do Mundo de 1998. Revelado pelo Dinamo Zagreb, Simic iniciou sua jornada no futebol italiano pela Inter, em 1999, e atuou na equipe até 2002. Foi para o Milan em 2002 e por lá permaneceu até 2008, conquistando vários títulos.

Javier Zanetti: verdadeiro patrimônio da Inter, Zanetti celebrou naquela temporada 1997-1998 o primeiro dos 16 títulos que venceu com a camisa que mais vestiu em sua carreira (858 jogos!). Ele chegou à Inter em 1995, com 22 anos, e só deixaria Milão para se aposentar. Naquela Inter 1997-1999, Zanetti esbanjava vitalidade e força, ganhou rapidamente a simpatia da torcida e mostrou sua polivalência em poder atuar em ambas as laterais e até como volante se fosse necessário. Ele jogou nas temporadas 1996-1997 e 1997-1998 mais avançado, no meio de campo, pela direita e também pela esquerda, com Bergomi assumindo a lateral-direita. Dali em diante, o craque escreveu uma linda história pela nerazzurri e hoje é vice-presidente do clube. Leia mais sobre o argentino clicando aqui!

Fabio Galante: o zagueiro atuou em vários jogos daquela Inter, principalmente no Campeonato Italiano e ainda na campanha vencedora na Copa da UEFA de 1997-1998. Sua principal virtude era o jogo aéreo, além do bom senso de colocação. Deixou a Inter em 1999 para atuar no Torino.

Aron Winter: o consagrado meio-campista revelado pelo Ajax lá nos anos 1980 chegou à Inter em 1996 com a experiência de quatro temporadas pela Lazio. Muito aplicado taticamente, sempre foi um dos jogadores mais destacados em todos os times pelos quais passou, incluindo a seleção da Holanda (ele disputou as Copas de 1990, 1994 e 1998). Permaneceu em Milão até 1999, quando retornou ao Ajax até encerrar a carreira em 2003. Foram 119 jogos e três gols pela Internazionale.

Cauet: com passagens pelos principais clubes da França, o meio-campista chegou para dar mais eficiência defensiva à zaga nerazzurri com dinamismo e eficiência na marcação. Forte e também técnico, foi um dos destaques da Inter na conquista da Copa da UEFA de 1997-1998, além de fazer boas partidas no Campeonato Italiano. Disputou 149 jogos e marcou nove gols pela Inter entre 1997 e 2001.

Zé Elias: um dos mais talentosos volantes brasileiros dos anos 1990, Zé Elias foi revelado pelo Corinthians e virou um xodó da torcida alvinegra principalmente por seu futebol na temporada 1995, quando ajudou o clube a vencer a Copa do Brasil e o Campeonato Paulista. Chegou à seleção brasileira, foi medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996 e acabou contratado pela Internazionale em 1997, onde ficou até 1999. Além de ser um grande marcador, tinha bons passes e chegava ao ataque com frequência. Com as mudanças no comando técnico da equipe em 1999, acabou indo para o Bologna naquele mesmo ano.

Paulo Sousa: por conta das muitas opções disponíveis no meio de campo, o português não foi titular absoluto, mas entrou em algumas partidas nas temporadas 1998-1999 e 1999-2000. No entanto, o atleta não conseguiu repetir o bom futebol de seus tempos de Benfica, Juventus e Borussia Dortmund.

Silvestre: defensor polivalente, o francês podia atuar no miolo da zaga e também na lateral-esquerda. Estava em começo de carreira e jogou 31 jogos na temporada 1998-1999, sendo 18 pela Série A do Calcio, sete na Copa da Itália e seis jogos na Liga dos Campeões da UEFA. Deixou a Inter já na temporada seguinte para fazer carreira no Manchester United-ING.

Diego Simeone: o argentino virou um dos grandes ídolos da torcida da Inter no curto período em que jogou no clube por seu futebol combativo, técnico e vigoroso que ajudaram a equipe de Milão a brigar por títulos e vencer a Copa da UEFA de 1997-1998. Além de marcar, desarmar e não tirar o pé nas divididas, Simeone construía jogadas, tinha qualidade nos passes e ainda marcava gols – o rival Milan que o diga! Foram 85 jogos e 14 gols pela nerazzurri entre 1997 e 1999. Deixou a Inter para jogar na Lazio, onde venceu vários títulos, entre eles o Campeonato Italiano e outra Copa da UEFA.

Djorkaeff: o “serpente” foi um dos mais talentosos meias / atacantes dos anos 1990 e provou isso com títulos e grandes atuações pelos clubes onde atuou, entre eles Monaco, Paris Saint-Germain e a Inter, claro, onde foi um dos mais efetivos atletas do setor ofensivo, criando jogadas, fazendo tabelas, marcando gols e oferecendo oportunidades perfeitas para Ronaldo e Zamorano destruírem as zagas rivais. Djorkaeff jogou de 1996 até 1999 na Inter, disputou 127 jogos e marcou 39 gols. Brilhou, também, na seleção da França campeã do mundo em 1998 e da Euro em 2000.

Álvaro Recoba: embora tenha “salvado” a estreia de Ronaldo lá em 1997, o meia uruguaio não teve muitas chances naquele esquadrão e disputou apenas 19 partidas na temporada 1997-1998. Acabou emprestado ao Venezia e só retornou de maneira mais efetiva à Inter em 1999-2000, quando virou titular em boa parte dos jogos até 2007. Recoba disputou 261 jogos e marcou 72 gols pela Inter nos 10 anos em que esteve vestindo o manto nerazzurri.

Roberto Baggio: o Codino Divino já era uma estrela do futebol quando chegou à Inter em 1998 e encheu a torcida de expectativas por causa da parceria ao lado de Ronaldo e Zamorano. No entanto, o brasileiro não jogou tantos jogos naquela temporada 1998-1999 e Baggio não teve o atacante ao seu lado como gostaria. Mesmo assim, o craque marcou gols decisivos – como os dois na vitória por 3 a 1 sobre o Real pela UCL – e balançou as redes 10 vezes em 35 jogos, além de atrair a marcação para si e ajudar a abrir brechas nas defesas adversárias. Na temporada 1999-2000, não foi bem, além de não se entender com o técnico Marcello Lippi, e deixou a Inter para retornar ao seu querido Brescia, onde encerrou a carreira em 2004. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Andrea Pirlo: ainda jovem, o craque não foi aproveitado como deveria na Inter e acabou escalado muito avançado no meio de campo naquela época, o que acabou abreviando sua estadia no lado azul e preto de Milão. Sem render, ele deixou o clube já em 1999 para jogar no Reggina, voltou, saiu de novo para jogar no Brescia e acabou indo para o Milan em 2001. Bem, o resto é história e Pirlo se tornou um dos mais virtuosos meio-campistas do planeta. E isso ainda deixa o torcedor da Inter bastante desapontado até hoje… Pirlo disputou 40 partidas pela Inter e não marcou nenhum gol. Leia mais sobre ele clicando aqui! 

Zamorano: o Bam-Bam foi um dos maiores atacantes dos anos 1990 e é considerado um dos maiores de toda a história do futebol chileno. Goleador nato, perito no jogo aéreo e sempre bem colocado, marcou época no Real Madrid antes de se transferir para a Inter em 1996. Por lá, fez uma parceria notável com Ronaldo e foi decisivo nos grandes momentos daquele esquadrão. Zamorano disputou 148 jogos e marcou 41 gols pela Inter entre 1996 e 2001.

Kanu: o nigeriano chegou em 1996 à Inter, após brilhar com a camisa do Ajax campeão europeu em 1995 e também pela seleção da Nigéria campeã olímpica um ano depois. Mas o grandalhão descobriu em sua chegada à nerazzurri que sofria de uma doença cardíaca que poderia causar a sua aposentadoria precoce. Felizmente, uma cirurgia nos EUA paga pelo presidente da Inter, Massimo Moratti, solucionou o problema e Kanu seguiu jogando futebol. No entanto, o craque acabou ausente de toda a temporada 1996-1997 e não teve grandes oportunidades no time na temporada seguinte, ainda mais com a chegada de Ronaldo, e ficou mais no banco de reservas do que no gramado. Foram apenas 15 jogos e um gol pela Inter entre 1996 e 1999.

Moriero: habilidoso, o italiano podia atuar no meio de campo e também pelas pontas, sempre com foco ofensivo. Chegou à Inter em 1997 e ficou até 2000, disputou 83 jogos e marcou 10 gols. Ganhou apenas um título na carreira: a Copa da UEFA de 1997-1998. Pela seleção da Itália, disputou oito jogos – quatro deles na Copa do Mundo de 1998 – e marcou dois gols.

Ronaldo: ver aquele atacante imparável no auge da forma foi simplesmente inesquecível para qualquer amante do futebol. O apogeu do craque coincidiu justamente com uma época vertiginosa do futebol brasileiro e com sua ida à Inter. Suas arrancadas, gols e a conquista da Copa da UEFA o transformaram em um ídolo instantâneo em Milão. Claro que ele merecia mais títulos vestindo o nerazzurri, mas as famigeradas lesões impediram um rendimento maior. Se faltou sorte, sobrou vontade e perseverança para dar a volta por cima e ser campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002. Ronaldo disputou 99 jogos e marcou 59 gols pela Inter. Incontestável. Único. Imortal. Leia mais sobre ele clicando aqui!

Ventola: o atacante passou por todas as seleções de base da Itália e era considerado uma das revelações do futebol italiano naqueles anos 1990 jogando pelo Bari. Quando chegou à Inter, em 1998, marcou 11 gols em 37 partidas, mas foi emprestado já na temporada seguinte ao Bologna. Ele retornou em 2001, mas não permaneceu por muito tempo e foi emprestado para outros três clubes até deixar a Inter em 2005.

Luigi Simoni, Mircea Lucescu, Luciano Castellini e Roy Hodgson (Técnicos): o início do trabalho de Gigi Simoni foi inquestionável, com grandes jogos no Italiano e o título da Copa da UEFA de 1997-1998, além de um grande aproveitamento de 64,7% – 51 jogos, 33 vitórias, sete empates, 11 derrotas, 90 gols marcados e 43 gols sofridos. Os problemas começaram na temporada seguinte, quando os resultados ruins geraram rusgas entre Simoni e o presidente Moratti, além do erro tático em escalar Pirlo muito à frente do meio de campo. A saída do treinador foi conturbada, os seus sucessores não conseguiram fazer o time jogar e Ronaldo começou a sofrer com seu joelho – isso sem falar nos sérios problemas da zaga, que virou o ponto fraco da Inter. Resumindo, a temporada 1998-1999 foi uma verdadeira bagunça, sem títulos e com quatro técnicos diferentes… Foram 54 jogos, 22 vitórias, 11 empates, 21 derrotas, 88 gols marcados e 76 gols sofridos. Uma pena, pois aquele elenco de fato poderia ter vencido muito mais.

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2 Comentários

  1. Pois é, Imortais! Como você disse, uma pena essa Inter fenomenal ter terminado como uma Inter bagunçada. Tinha muito potencial para levantar mais canecos. Mas foi outro belo texto!
    Imortais, tenho uma pergunta: o Ronaldo foi fenomenal e imortal. Mas e o Zamorano? O cara foi um dos maiores jogadores que o Chile já teve. Ele vai estar na seção dos craques imortais no futuro?

Esquadrão Imortal – Ajax 1993-1996

Jogos Eternos – Brasil 2×2 Argentina 2004