Por Guilherme Diniz
Muito antes da consolidação da Copa Sul-Americana como segundo torneio mais importante da América do Sul, o continente teve, entre 1992 e 1999, a Copa Conmebol, que reunia os melhores classificados nos torneios nacionais de cada país da entidade sul-americana. Mesmo com curta duração, a competição marcou época e se sobressaiu diante de outros torneios como a Supercopa da Libertadores e a Copa Ouro. Confira a seguir.
Uma nova chance de ser campeão da América
No começo dos anos 1990, a Conmebol começou a criar diferentes torneios a fim de capitalizar mais sua marca e tentar chegar aos moldes do que a UEFA já fazia na época, afinal, a entidade máxima do futebol europeu tinha anualmente a Liga dos Campeões da UEFA, a Recopa da UEFA e a Copa da UEFA, além da Supercopa. A Conmebol criou, entre 1988 e 1997, a Supercopa da Libertadores – disputada apenas por clubes vencedores da Libertadores -; a Copa Master, em 1992 e 1995, que reunia os campeões da Supercopa -; e, nos anos de 1993, 1995 e 1996, a Copa Ouro, que reunia clubes vencedores de diferentes torneios da Conmebol. Era tudo bem bagunçado e, na verdade, os clubes se importavam mesmo com a Libertadores, por seu prestígio e a vaga no Mundial Interclubes.
Para tentar criar algo mais constante e democrático, a Conmebol criou em 1992 a Copa Conmebol, que seria disputada pelos clubes melhores colocados nas ligas nacionais após os campeões, que iam direto para a Libertadores. Outro critério que seria utilizado era a classificação de clubes que vencessem algum grande torneio interestadual. A primeira edição reuniu 16 clubes, sendo 4 do Brasil, 3 da Argentina, 2 do Uruguai, e um de cada país membro da entidade. Os brasileiros presentes naquela edição foram Bragantino, Atlético-MG e Fluminense, oriundos do Brasileirão de 1991, e Grêmio, vice-campeão da Copa do Brasil de 1991. A fórmula de disputa era no sistema de mata-mata, com as equipes do mesmo país se enfrentando nas oitavas de final e os outros confrontos definidos por sorteio.
O Grêmio eliminou o Bragantino nos pênaltis após dois empates, enquanto o Atlético-MG despachou o Flu com derrota no Rio e goleada em Minas (5 a 1). O Galo, aliás, seguiu firme rumo à final após eliminar o Júnior-COL, nas quartas de final, e o El Nacional-EQU, na semifinal. Na grande decisão, os alvinegros enfrentaram o Olimpia-PAR, campeão da América em 1990, vice em 1991 e que tinha nomes como Raúl Amarilla, Sanabria, Gabriel González e Silvio Suárez. No primeiro jogo, no Mineirão, o Atlético venceu por 2 a 0, gols de Claudiomiro Negrini. Na volta, em Assunção, o Galo se segurou, perdeu por apenas 1 a 0 e celebrou a conquista continental inédita. Curiosamente, o mesmo Olimpia seria o adversário dos atleticanos na final da Copa Libertadores de 2013, também vencida pelo Galo. Aílton, atacante atleticano, foi o artilheiro da competição com 6 gols marcados.
Na edição seguinte, o Brasil teve cinco representantes: o Atlético-MG, como campeão de 1992, o Botafogo, vice-campeão brasileiro de 1992, Vasco e Bragantino, 3º e 4º colocados do Brasileirão de 1992, e Fluminense, vice-campeão da Copa do Brasil de 1992. Querendo o bi, o Atlético despachou mais uma vez o Flu nas oitavas de final, venceu o Deportivo Wanka-PER, nas quartas, e encontrou o Botafogo na semifinal, que vinha de triunfos sobre o Bragantino e o Caracas-VEN. No primeiro jogo, em Minas, o Galo venceu por 3 a 1 (gols de Valdir, Tavares e Reinaldo), enquanto Sinval descontou para o Fogão. Na volta, em Niterói, o Botafogo se impôs e venceu por 3 a 0, garantindo a vaga na decisão contra o Peñarol-URU, que havia eliminado Huracán-ARG, Colo-Colo-CHI e San Lorenzo-ARG.
No primeiro jogo, em Montevidéu, o time brasileiro saiu na frente com Perivaldo, mas Otero empatou. O resultado deixou tudo aberto para a volta, no Maracanã tomado por mais de 65 mil pessoas. O jogo foi dramático: o Peñarol abriu o placar com Perdomo, no primeiro tempo, e Eliel empatou no começo da etapa complementar. Sinval virou para o Botafogo, mas Otero empatou aos 45’, jogando uma ducha de água fria nos brasileiros. A partida foi direto para os pênaltis e o Botafogo venceu por 3 a 1, garantindo o segundo título ao futebol brasileiro. Foi o primeiro grande título internacional que um clube do Rio venceu dentro do Maracanã. O atacante Sinval foi o artilheiro do torneio com 8 gols.
Excepcionalmente naquele ano, o Botafogo garantiu uma vaga na Recopa Sul-Americana de 1994 pelo fato de o São Paulo, campeão da Libertadores e da Supercopa de 1993, “precisar de um adversário” para a disputa do troféu, já que a Recopa na época era disputada pelos campeões da Libertadores e da Supercopa. Por direito, o tricolor deveria ser o campeão automático, mas a Conmebol decidiu realizar a competição classificando o Botafogo, na única vez em que um campeão da Copa Conmebol disputou o torneio. A final foi disputada no Japão, em abril de 1994, e o São Paulo venceu por 3 a 1.
Falando em São Paulo, o tricolor disputou a Copa Conmebol de 1994 graças ao 4º lugar conquistado no Brasileirão de 1993. Comandado por Telê Santana, o esquadrão paulista tinha tantos compromissos que às vezes tinha que levar times alternativos para dar conta da agenda lotada. E, em 1994, a solução foi escalar um time de garotos para a disputa da Copa Conmebol. Muricy Ramalho foi o técnico dessa equipe que não só fez bonito como conquistou o título de maneira categórica.
Após eliminar o Grêmio nas oitavas e o Sporting Cristal-PER nas quartas, a equipe encarou o Corinthians e, após um alucinante 6 a 6 no placar agregado, derrotou o Timão nos pênaltis por 5 a 4. Na final, o tricolor encarou o Peñarol-URU e, no Morumbi, enfiou 6 a 1 nos uruguaios. Na volta, a derrota por 3 a 0 foi insuficiente para tirar o título do time brasileiro. Aquele São Paulo tinha no elenco jogadores como Rogério Ceni, Juninho Paulista, Denílson, Catê, Jamelli e Caio Ribeiro. Foi o primeiro título de Muricy como treinador e a consagração de um time que ficou conhecido como “Expressinho Tricolor”, em alusão ao lendário “Expresso da Vitória” do Vasco da Gama dos anos 1940, que viveu situação parecida na época por excursionar por outros países e também escalar um time alternativo em jogos locais. E, como tal time também era bom, ganhou o apelido de Expressinho. Com isso, o do São Paulo virou “Expressinho Tricolor”.
“O Telê me pediu que eu arrumasse um time de meninos que ele não fosse utilizar no Brasileiro. Por isso, como tínhamos cruzamentos difíceis pela frente, as pessoas achavam que não íamos durar muito. Nosso time tinha pouca experiência, ainda mais para uma competição internacional. Estreamos contra o Grêmio titular, que só tinha feras. […] Não tínhamos nenhuma chance. Ninguém acreditava que a gente passaria da primeira fase. Aí foi dando liga, foi se encorpando. Em mata-mata, é assim. Deu no que deu. A gente foi campeão, uma surpresa muito boa. Era um título que o clube não tinha e não era esperado”. – Muricy Ramalho, em entrevista à ESPN Brasil, 26 de setembro de 2013.
Dobradinha argentina e últimos anos
Em 1995, enfim, a Copa Conmebol foi conquistada por um clube argentino. E foi uma conquista épica, provavelmente a maior da história da competição. O Rosario Central despachou pelo caminho Defensor-URU, Cobreloa-CHI e Atlético Colegiales-PAR até alcançar a final. Nela, o time argentino encarou o Atlético-MG, disputando sua segunda final e em busca do bi. Na ida, no Mineirão tomado por 55 mil pessoas, o Galo, que tinha na época o goleiro Taffarel, o meio-campista Doriva e os atacantes Ézio e Renaldo, goleou por 4 a 0, resultado tido como impossível de ser revertido. Só que o Rosario levou 45 mil pessoas ao Gigante de Arroyito e transformou o estádio em um caldeirão de fanáticos que empurraram o time rumo a algo impressionante.
Aos 23’, Rúben Da Silva fez 1 a 0. Aos 39’, Carbonari ampliou e, no mesmo momento, o árbitro expulsou um jogador de cada lado após a tentativa do Galo em retardar o recomeço do jogo. E, um minuto depois, aproveitando a bagunça da zaga atleticana, Cardetti fez 3 a 0. A torcida canalla ficou enlouquecida e o time foi para o intervalo em brasa pura. Faltava apenas um gol para igualar o placar e levar o jogo para os pênaltis. Atordoado, o Atlético não via esperanças e temia pelo pior. Embora tenha equilibrado um pouco a partida na etapa final, o time brasileiro não marcou e levou o quarto gol de Carbonari, aos 88’.
A torcida explodiu e o jogo foi para os pênaltis. A esperança atleticana era em Taffarel, exímio pegador de pênaltis e um dos heróis do Brasil na conquista do tetra um ano antes. O goleiro defendeu uma cobrança, de Colusso, e marcou seu gol, mas Doriva e Leandro Tavares desperdiçaram seus chutes e o placar de 4 a 3 deu o título ao Rosario Central. Uma multidão invadiu o gramado, que virou um mar de gente enlouquecida pela conquista. Foi, sem dúvida, um dos maiores títulos continentais de um clube argentino na história.
No ano seguinte, foi a vez do Lanús fazer a dobradinha para a Argentina e levantar mais um troféu para o futebol albiceleste. A equipe granata eliminou pelo caminho Bolívar-BOL, Guaraní-PAR, o campeão Rosario Central (com vitórias categóricas por 3 a 0 e 3 a 1) e encarou na final o Independiente Santa Fe-COL. No primeiro jogo, em casa, o Lanús venceu por 2 a 0, gols de Mena e Ibagaza, e foi para a Colômbia podendo perder por um gol. Os argentinos perderam só por 1 a 0 e levantaram o troféu.
Em 1997, foi a vez do Atlético-MG, mais bem sucedido clube na história do torneio, a vencer o bicampeonato. O Galo entrou na competição graças ao 3º lugar no Brasileirão de 1996 e eliminou logo de cara a Portuguesa, vice-campeã nacional, com uma vitória por 4 a 1 no primeiro jogo e empate sem gols no segundo. Nas quartas de final, a equipe brasileira eliminou o América de Cali-COL e, na semifinal, passou fácil pelo Universitario-PER com um 6 a 0 no agregado. Na decisão, o rival foi o Lanús, que buscava o bicampeonato consecutivo. Mas, no primeiro jogo, na Argentina, o Atlético não tomou conhecimento do rival e venceu por 4 a 1, gols de Valdir Bigode, Bruno Heleno, Hernâni e Serrizuela (contra). Após o apito final, uma briga campal tomou conta do gramado e o técnico Emerson Leão teve que ser levado ao hospital e operar o rosto por conta das lesões sofridas durante a pancadaria. Na volta, em BH, o Atlético empatou em 1 a 1 e se tornou o primeiro (e único) bicampeão da história da Copa Conmebol.
Mesmo com o inconveniente da briga campal na Argentina, Emerson Leão voltou a brilhar em uma Copa Conmebol e faturou o troféu no ano seguinte, de novo contra um clube argentino, mas dessa vez dirigindo o Santos. Nesse ano de 1998, a CBF preencheu suas vagas com clubes campeões de torneios interestaduais, por isso, participaram os campeões da Copa Norte (Sampaio Corrêa), da Copa do Nordeste (América de Natal) e do Torneio Rio-SP (Santos), além, claro, do Atlético-MG, campeão da edição anterior.
O Peixe passou pelo Once Caldas-COL nas oitavas, venceu a LDU-EQU nas quartas e superou o surpreendente Sampaio Corrêa na semifinal após empate sem gols na Vila Belmiro e goleada de 5 a 1 no Estádio João Castelo, em São Luís, que recebeu naquele dia o público de 95.720 pessoas, recorde na história do estádio e um dos maiores públicos do futebol brasileiro nos anos 1990. Após o show na semifinal, o Santos enfrentou o Rosario Central-ARG. Na Vila, o Peixe venceu por 1 a 0 (gol de Claudiomiro) e foi para a Argentina precisando do empate. Precavido, o time alvinegro levou vários seguranças para evitar novas brigas. O jogo foi tenso, teve duas expulsões e vários cartões amarelos, mas o empate sem gols deu o título ao Santos e o bicampeonato ao técnico Emerson Leão.
Em 1999, a Conmebol decidiu realizar a última edição da Copa por causa do pouco prestígio que ela tinha na época, além de focar na expansão da Copa Libertadores e manter no calendário apenas a Copa Mercosul, criada em 1998 com patrocínio da Traffic e que reunia clubes populares de diversos países da América do Sul. A Mercosul seria realizada até 2001 para dar lugar a Copa Sul-Americana, em vigor até os dias de hoje. Na última edição da Copa Conmebol, o Brasil enviou mais uma vez clubes vindos de torneios interestaduais: CSA (semifinalista da Copa do Nordeste), Vila Nova (vice-campeão da Copa Centro-Oeste), São Raimundo (campeão da Copa Norte) e Paraná Clube (vice-campeão da Copa Sul). A edição teve abstenção dos clubes uruguaios, de três clubes argentinos e do Santos (campeão de 1998).
Com vários buracos e outros clubes para preencher as lacunas deixadas, a competição teve mesmo um ar de “fim de festa” e pouco interesse da mídia. E quem aproveitou tudo isso foi o Talleres, de Córdoba (ARG), que foi convidado para suprir uma das vagas argentinas e tratou a competição como uma Libertadores. O time eliminou o Independiente Petrolero-BOL, nas oitavas, passou pelo Paraná Clube, nas quartas, e despachou o Deportes Concepción-CHI na semifinal. Na decisão, a equipe argentina encarou o CSA, primeiro clube nordestino a disputar uma final continental na história do futebol brasileiro – os alagoanos passaram pelo Vila Nova, Estudiantes de Mérida-VEN e São Raimundo.
No primeiro jogo, em casa, o CSA enlouqueceu a torcida no estádio Rei Pelé e venceu por 4 a 2, com três gols de Missinho. Na volta, em Córdoba, mesmo podendo perder por um gol, o time brasileiro não resistiu, acabou derrotado por 3 a 0 (o gol do título do Talleres saiu aos 45’ do segundo tempo!) e o último troféu da Copa Conmebol ficou na Argentina. O Atlético-MG, com dois títulos e um vice, foi o clube mais bem sucedido na competição, seguido do Rosario Central e do Lanús, ambos com um título e um vice. O Peñarol foi o único a somar dois vice-campeonatos. Nos oito torneios, o Brasil venceu 5, enquanto a Argentina faturou 3.
Confira a seguir os campeões:
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Parabens pelo post guilherme.eu acompanhei todas as edicoes da conmebol nos anos 90 e posso dizer com autoridade:mesmo alguns clubes usando jogadores sub 20 o nivel dos jogos era muito mais parelho e bem jogado do que a atual copa sulamericana e pego o exemplo do sp que ganhou em 94 .o expressinho com ceni,cate,denilson e caio ribeiro se fosde hoje ganharia facil dessas babas que jogam a sula.tele e muricy foram genios naquela conquista e mais:meu corinthians com ronaldo,branco,marques,marcelinho e viola nao foi pareo pro sp.aquela garotada tinha futuro mesmo kkk.