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Jogos Eternos – Liverpool 4×0 Barcelona 2019

Foto: Phil Noble / Reuters.
Foto: Phil Noble / Reuters.

 

Data: 07 de maio de 2019

O que estava em jogo: uma vaga na final da Liga dos Campeões da UEFA de 2018-2019.

Local: Estádio Anfield, Liverpool, Inglaterra.

Juiz: Cüneyt Çakir (TUR)

Público: 55.212 pessoas

Os Times:

Liverpool Football Club: Alisson; Alexander-Arnold, Matip, Virgil van Dijk e Robertson (Wijnaldum, intervalo); Henderson, Fabinho e Milner; Shaqiri (Sturridge, aos 45’ do 2º T), Origi (Joe Gomez, aos 40’ do 2º T) e Mané. Técnico: Jürgen Klopp.

Futbol Club Barcelona: Ter Stegen; Sergi Roberto, Piqué, Lenglet e Jordi Alba; Sergio Busquets, Rakitic (Malcom, aos 35’ do 2º T), Vidal (Arthur, aos 30’ do 2º T) e Philippe Coutinho (Semedo, aos 15’ do 2º T); Messi e Suárez. Técnico: Ernesto Valverde.

Placar: Liverpool 4×0 Barcelona (Gols: Origi-LIV, aos 7’ do 1º T; Wijnaldum-LIV, aos 9’ e aos 11’, e Origi-LIV, aos 34’ do 2º T).

 

 

“Eles conseguiram. E do jeito mais bonito possível”

Por Guilherme Diniz

 

“Se conseguirmos, maravilhoso. Se não conseguirmos, que falhemos do jeito mais bonito”. O técnico do Liverpool, Jürgen Klopp, foi sincero e claro na entrevista pré-jogo de seu time. A tarefa que os Reds teriam pela frente era extremamente ingrata, difícil, áspera. Vencer o Barcelona por quatro gols de diferença para conseguir uma vaga na final da Liga dos Campeões da UEFA sem depender de prorrogação. Para piorar, o time inglês não teria dois de seus mais prolíficos jogadores de ataque: Salah e Firmino. Justamente ausências do setor que mais o Liverpool iria precisar naquela noite do dia 07 de maio de 2019. E, com o tamanho do adversário do outro lado e após o show que Lionel Messi deu no primeiro duelo, no Camp Nou, poucos acreditavam em uma reviravolta. Mas será que não sabiam que o futebol é imprevisível, inexplicável? Havia até um desdém no ar. Só que tais descrentes pareciam não conhecer o ar que paira em Anfield. Não é um ar qualquer. É o ar perfeito para a prática do futebol. O ar do imponderável. Ajuda na propagação da emoção. Ali, o mesmo Liverpool já havia conseguido resultados surpreendentes e históricos. Sempre com um futebol emocional. Com raça. Talento. Coragem. E com a torcida.

Ah, a torcida… Ela que nunca desiste. Que abafa cânticos rivais. Que entorpece jogadores. Que cria uma atmosfera única. Ah, a torcida, que nunca deixou aquele time caminhar sozinho. E que, mais uma vez, ajudou aquele esquadrão vermelho a conseguir uma nova façanha para os livros e enciclopédias. Naquele 07 de maio, o Liverpool fez o que muitos duvidaram. Marcou quatro gols. Contra todos os prognósticos do futebol. Com a mão do técnico que, quando chegou ao clube, disse exatamente que iria propor ao Liverpool o “futebol emocional”. Curiosamente três anos depois após uma outra virada histórica daquele time sobre o Borussia, em 2016.

Curiosamente com o mesmo árbitro, o turco Cüneyt Çakir, da terra do mais famoso milagre daquele time, o de Istambul, em 2005, semente plantada em outra arrebatadora decisão continental do Liverpool, lá em 2001. Era mais uma prova de que o impossível não existe na cartilha do Liverpool Football Club. E jamais existirá. Foi a provação de que o clube tão enorme no século passado segue gigantesco e intacto neste século XXI. Como ainda duvidavam de uma camisa tão pesada? Quanta heresia. E que bem essa camisa faz ao esporte. Bem como a filosofia e o jeito destemido de Jürgen Klopp e seus atletas. É hora de relembrar uma das maiores viradas da história do futebol.

 

Pré-jogo

Messi comemora: craque marcou dois gols no primeiro jogo da semifinal.

 

Barcelona e Liverpool se reencontraram em um mata-mata de UCL após 12 anos. No último duelo entre ambos, nas oitavas de final da competição de 2006-2007, os Reds venceram no Camp Nou (2 a 1) e perderam por 1 a 0 a partida de volta, resultado insuficiente para tirar a vaga dos ingleses, que seguiram até a final daquele ano, mas perderam para o Milan de Kaká, Maldini, Pirlo, Seedorf, Inzaghi e companhia. Muita coisa aconteceu desde aquele encontro. O Barcelona virou o time mais badalado do planeta sob o comando de Guardiola, Messi cresceu e apareceu para o mundo do futebol, os blaugranas passaram a empilhar troféus e o Liverpool viveu mais baixos do que altos, conquistando apenas uma Copa da Liga Inglesa em 2011-2012 e batendo na trave nas disputas da Premier League e de competições continentais. O mais recente revés havia acontecido na própria Liga dos Campeões, que escapou das mãos dos ingleses na final de 2018, contra o Real Madrid, muito por causa de um golpe baixo de um rival e de erros crassos de seu goleiro.

O golpe de Ramos em Salah, na final de 2018: ainda sem digerir aquele jogo, Liverpool queria a vaga na decisão de 2019. Foto: Genya Savilov / AFP.

 

Com a mesma equipe e o mesmo estilo de jogo, o Liverpool foi para as cabeças na temporada 2018-2019 e manteve o lado competitivo visto desde que Jürgen Klopp assumiu o comando dos Reds, lá em 2015. Com seu jeito energético e carisma, o alemão conquistou a torcida e fez o Liverpool disputar grandes jogos, virar um dos times mais ofensivos do planeta e extrair o máximo de seus jogadores, em especial o egípcio Salah, o senegalês Mané, o brasileiro Firmino e o holandês Virgil van Dijk. Na briga pela taça da Premier League com o City, os Reds souberam administrar o calendário e alcançaram as semifinais da Liga dos Campeões da UEFA após se classificar em 2º lugar na fase de grupos e superar Bayern München-ALE (0 a 0 e 3 a 1) e Porto-POR (2 a 0 e 4 a 1) sem dificuldades nas oitavas e quartas de final, respectivamente. Só que aí veio a semifinal e tudo pareceu ruir. Pela frente, o Barcelona-ESP, com Messi voando como sempre, campeão espanhol e que havia despachado pelo caminho o Lyon-FRA e o Manchester United-ING.

No primeiro duelo, no Camp Nou, muitos acreditavam em uma partida equilibrada pelo fato de as equipes jogarem completas e terem um estilo de jogo ofensivo. Mas quem se deu melhor foi o Barcelona: 3 a 0, com dois gols de Messi, um deles uma pintura de falta. E ainda teve um gol feito perdido por Dembélé no finalzinho. O Liverpool, embora tenha criado muitas chances, não conseguiu fazer o seu. Foi um desastre.

Salah no chão contra o Newcastle: baixa para o segundo jogo. Foto: Getty Images.

 

Como desgraça pouca é bobagem, a semana seguiu e, durante um duelo decisivo pelo Inglês contra o Newcastle, o Liverpool perdeu sua principal arma ofensiva, Salah, por causa de uma concussão após choque com o goleiro rival. Além dele, Firmino, com problema muscular, também não iria jogar. Ou seja: o Liverpool tinha que fazer quatro gols em um dos mais temidos times do mundo, sem seus principais jogadores de ataque e ainda não levar gols de Messi. De fato, poucos acreditavam na reviravolta. E muito menos pensavam que o Barça iria tropeçar tão recentemente após a experiência da temporada anterior, quando venceu a Roma-ITA por 4 a 1 na ida e levou de 3 a 0 na volta, placar que eliminou os blaugranas da Liga dos Campeões.

Antes da partida, Klopp foi sincero e sabia que o jogo não estava favorável ao seu time, que tinha virado zebra nas casas de apostas. Com a desvantagem enorme no placar e as ausências de Salah e Firmino, o poder de fogo era bem mais baixo. Mas ele queria tentar. Disse que jogaria para vencer, a todo custo. E proferiu a frase que abriu este texto. Além dela, disse também que “há esperança e é futebol”. Muitos disseram que eram palavras de quem temia a derrota. Mas será que não era uma artimanha para deixar o Barça mais soberbo? Certo de que não teria dificuldades? Do lado culé, Valverde pedia apenas para seu time ter foco e concentração. Mas será que eles iriam conseguir em Anfield, onde tudo pode acontecer?

Anfield pronto para a epopeia…

 

Fotos: LFC.

 

No dia do jogo, o ambiente era de arrepiar. Bandeirões espalhados pelas arquibancadas situavam os descrentes do tamanho do Liverpool. Referências às cinco conquistas europeias. Dizeres “nós conquistamos toda a Europa e nunca vamos parar”. E, quando começou You’ll Never Walk Alone, aí que a magia se emancipou de vez. A torcida cantava em uníssono, com flâmulas estendidas, olhos marejados. Nos túneis, os jogadores perfilados esperavam o fim do mantra para entrar em campo. No topo da porta, o famoso brasão “This is Anfield” orientava o caminho. Quando os atletas pisaram o gramado e se alinharam para a execução do hino da Champions, acabaram ouvindo o do Liverpool. A torcida cantou de um jeito que simplesmente abafou a melodia! Até os torcedores do Barcelona presentes caíram na cantoria. Era algo arrepiante. Ali, a torcida começava a virar o jogo para o Liverpool. Ninguém pareceu notar. Mas começou…

 

Primeiro tempo – Sufocamento

Fabinho chama a galera: Liverpool começou o jogo alucinado.

 

Sob vaias. Foi assim que começou a partida. Loucura? Não, é porque o Barça foi quem deu o pontapé inicial. Elas só pararam segundos depois, quando o Liverpool tomou a bola para si. Mané recebeu na esquerda logo no primeiro minuto, chutou cruzado e os Reds ganharam escanteio. Ótimo começo. No abafa. Era pressão em campo e pressão das arquibancadas. O Liverpool fazia uma linha de cinco homens no campo de defesa do Barça. Era pressão na saída de bola, o pressing, tão utilizado por lendários técnicos, como Arrigo Sacchi, para não deixar o time catalão respirar. Os culés se viam dando chutão, algo inimaginável na cartilha criada por Cruyff décadas atrás. Aos 5’, novo escanteio para os Reds. Quatro jogadores do Liverpool não deixavam o goleiro Ter Stegen se mexer. Juntando mais quatro do Barça, eram oito na pequena área! Era pressing até em escanteio! A bola saiu, mas voltou para o Liverpool. Após enfiada para frente, Alba tocou de cabeça de presente para Mané, que deixou com Henderson, ele chutou, o goleiro espalmou e Origi fez: 1 a 0. Os jogadores rapidamente levaram a bola para o meio de campo. Não havia tempo para comemorar. Eles precisavam de mais três gols.

Origi marca o primeiro do Liverpool. Foto: Carl Recine / Reuters.

 

Aos 8’, primeiro escanteio blaugrana, mas a bola ficou com o Liverpool, que seguiu no abafa. O ritmo era alucinante. O Barcelona simplesmente não sabia o que estava acontecendo. Para onde um blaugrana olhava, via dois, três vermelhos. E ouvia um intenso barulho das arquibancadas. Se o Barça tentava tocar a bola, como tentou aos 11’, os vermelhos iam correndo atrás dela. Sedentos. Com vontade. Como em busca da última refeição da vida. Só aos 13’ que o Barça, enfim, engatilhou uma boa jogada após Vidal descolar um ótimo lançamento para Coutinho, que deixou com Alba e este tocou para Messi. No chute, o argentino viu o goleiro Alisson mandar para escanteio.

Aos 15’, o time catalão chegou de novo, Messi recebeu e, quando ia chutar, Matip conseguiu um desarme impecável, milimétrico, no momento exato. O Barça voltava a ser Barça. Por instantes. Tentou de novo, aos 17’, em outra boa jogada que começou com Vidal, que lançou Messi, que tocou para Coutinho. O brasileiro chutou, mas Alisson defendeu de novo. No rebote, após triangulação entre Coutinho, Alba e Vidal, a bola ficou prensada na tentativa do chileno e saiu para escanteio.

O Liverpool tratou de voltar pro jogo e voltou a atacar entre os 19’ e 22’, no gás, com chutes e lançamentos até que Robertson mandou um petardo em uma bola rebatida após jogada de Mané e Ter Stegen defendeu do jeito que deu, no susto. O Liverpool tinha, aos 25’, mais posse de bola que o Barça (55% a 45%), algo raro! O jogo era frenético, com poucas faltas, uma correria maluca, a bola parecia pegar fogo. No Barça, o mais lúcido era Vidal, que cortava, marcava, lançava e se desdobrava naquele meio de campo dominado pelos vermelhos. Era o craque perfeito para ajudar os catalães naquela loucura.

Os times em campo: pressing do Liverpool sufocou o Barcelona. E, no segundo tempo, o gol logo no início derrubou de vez o time azul e grená.

 

Aos 31’, o capitão Henderson dividiu com Lenglet e sentiu o joelho. Klopp ficou preocupado e chamou Wijnaldum para o aquecimento. Novo problema? Justo o capitão, que ia tão bem na partida? A apreensão era grande em Anfield. Mas ele se levantou, mancou um pouco, e voltou, arrancando aplausos e enervando a torcida mais uma vez.

Aos 34’, após roubada de bola de Milner no meio de campo, o Liverpool engatilhou um contra-ataque, mas a bola não chegou em Mané, que caiu, mas o árbitro não marcou. Aliás, era difícil o turco marcar alguma coisa. Ele queria correria! Falta só se fosse muito dura mesmo. O jogo seguiu tenso, mas sem grandes chances de gol. O Barça tentou cozinhar a partida e aplicar o toque de bola, mas não conseguia de jeito nenhum. A bola era perdida rapidamente. O Liverpool marcava muito. Os atacantes voltavam para ajudar na marcação. Perto dos 40’, Mané foi correr atrás de Messi para tentar a roubada de bola! E conseguiu. Aos 42’, chute de Robertson, corte de Vidal e escanteio. Após a cobrança, o Barça tentou a resposta em contra-ataque, mas a zaga vermelha conseguiu afastar. Aos 47’, Messi chutou de fora da área após receber de Sergi Roberto, mas a bola foi para fora.

Mané se movimentou bastante e deu trabalho para Vidal (ao fundo) e companhia. Foto: LFC.

 

Alisson evita um gol certo de Alba.

 

Aos 48’, talvez a melhor chance do Barça. Messi, mais arquiteto de jogadas naquela noite, encontrou Alba e deu um passe cheio de estilo para o lateral, mas o goleiro Alisson saiu corajosamente e salvou o Liverpool. Grande partida fazia o camisa 13. Ao apito do árbitro, o placar de 1 a 0 era pouco perto de tudo o que o time da casa havia feito. Com uma intensidade impressionante e um ritmo que cansava até quem assistia, era de se imaginar se o time de Klopp iria conseguir manter aquele ritmo até o fim. Será que era possível?

 

Segundo tempo – ‘Impossível’ – palavra não encontrada…

Wijnaldum: jogador mudou a partida com dois gols relâmpagos.

 

Klopp colocou Wijnaldum logo no começo da segunda etapa para dar ainda mais força ofensiva ao time. Ele sacou Robertson e colocou o polivalente Milner na lateral esquerda. O jogo recomeçou sob os cânticos da torcida, incessante, pulsante. E, assim como na primeira etapa, o Liverpool ganhou escanteio logo no primeiro minuto. Era a cartilha do pressing. A prova do território. Aqui mando eu! Aos 4’, Mané recebeu, teve a chance de marcar, mas Sergi Roberto conseguiu afastar para escanteio. Na cobrança, Van Dijk tocou de calcanhar e Ter Stegen, em cima da linha, defendeu! O Barça respondeu com Messi, que tocou para Suárez, o uruguaio chutou rasteiro e Alisson fez outra defesaça.

Aos 8’, Arnold tocou de cabeça, mas errado. Ele tratou de consertar ao desarmar Jordi Alba e cruzar. A bola ainda desviou em Rakitic e Wijnaldum, como um foguete, fez 2 a 0. Explosão em Anfield. Outro gol no comecinho! Do lado culé, era visível o semblante de medo. O filme de Roma passava pela cabeça. Não, não era aquele de Woody Allen. Era a derrota de 3 a 0 para a Loba em 2018. E, apenas dois minutos depois, ainda sob a euforia do segundo gol, o Liverpool foi pra cima, Fabinho tocou para Origi, ele levantou para a área, Shaqiri recebeu, dominou, recomeçou na esquerda com Milner, que olhou para a área, preferiu devolver para Shaqiri, este cruzou e Wijnaldum saltou mais do que todo mundo, até mais que o grandalhão Piqué (que ficou estático), e fez o inacreditável: 3 a 0. Dois gols do homem que havia acabado de entrar. Pronto. Estava empatado: 3 a 3. Placar tão saboroso para o torcedor do Liverpool…

Goooooooooaaaaaalllll!!

 

O Barcelona estava na lona (que trocadilho com o nome…rsrs). Não tinha espaço. Até Van Dijk aparecia na entrada da área. A equipe catalã sentiu demais o segundo gol. O terceiro, então, nem se fale. Era o mesmo filme de 2018. Como pode um time daquele porte repetir o erro? A desatenção? A falta de apetite pela bola? Tudo era efeito de Anfield. Daquela atmosfera. Do tal do ar, perfeito para a prática do futebol, mas do Liverpool. Nos pulmões dos catalães, era tóxico. Causava letargia. Palidez. Pânico. Aos 15’, Coutinho saiu – bastante vaiado – para a entrada de Semedo. No banco, o técnico Ernesto Valverde estava atônito. Não combinava com tudo aquilo, aquela energia. Lacônico, não transmitia a mínima inspiração aos seus jogadores. Dava até a impressão que ele estava ali de figurante. Valverde era técnico de futebol mesmo? Detalhe: ele estava no comando do time naqueles 3 a 0 da Roma…

Aos 20’, a câmera da transmissão do jogo focalizou uma figura ilustre nas arquibancadas. Sabe quem? Steven Gerrard, o capitão do milagre de Istambul. Com certeza emanava dele energias diferentes e fundamentais para aquele placar. Um minuto depois, porém, falta para o Barcelona. Na bola, Messi. O mesmo autor do golaço da semana anterior. Só que, no chute, a bola explodiu na barreira. Ali, ela ficava maior. Anfield impulsiona mais os jogadores em vermelho do que os rivais… Na sequência, Messi recebeu bela bola de Rakitic, dominou, chutou e Alisson fez outra defesa. Intransponível o brasileiro, que também estava na partida de 2018, pela Roma, e também não levou gols… Percebe como algumas coisas predestinam o futuro? No futebol, os detalhes contam muito…

O Barcelona não marcava direito. Dava espaços. E, quando tinha a bola dominada, não encontrava os espaços que precisava. O lado esquerdo era a maior festa para o Liverpool, com Milner livre constantemente. Valverde, o caricato, tirou Vidal (o melhor do Barça em campo…) e colocou Arthur, ao invés de tirar Rakitic – mal no jogo.

Mentaliza, pessoal, só falta um! Foto: LFC.

 

Aos 32’, o Liverpool foi tocando a bola de pé em pé até chegar ao campo do rival pela enésima vez. E, pela direita, Arnold chutou em cima de Sergi Roberto para ganhar o escanteio. Ali, aconteceu o lance do jogo. Enquanto todos esperavam o lateral pegar a bola, ajeitar, olhar, ajeitar de novo, levantar o braço, gesticular e fazer toda aquela maracutaia tradicional antes de um escanteio, ele fez diferente. Andou um pouquinho como quem ia falar algo com Shaqiri, voltou e chutou rapidinho para a área. A zaga catalã, paradona, não percebeu a artimanha. Só Origi. E ele mandou a bola pro fundo do gol como num lance de treino, uma pelada de fim de semana: 4 a 0. Uma jogada para a história. Traquinagem pura! Malandragem!

Origi, completamente sozinho, marca o quarto gol do Liverpool. Foto: Reuters.

 

Shaqiri cumprimenta Arnold, o “malandro” do quarto gol.

 

A torcida enlouqueceu de vez. Cantou ainda mais alto. Tremulou suas bandeiras, cachecóis, flâmulas. Do outro lado, a torcida do Barça não entendia nada. Via o mesmo filme de terror com contornos ainda mais macabros, daqueles para dar pesadelos por dias, semanas, quiçá meses. Nos quatro minutos finais de jogo, o Barcelona tentou fazer o que não fez naquele segundo tempo. Ficou com a bola no ataque, enquanto o Liverpool, pela primeira vez, descansava um pouco sem a bola, dando alguns (poucos) espaços ao rival. Era como quem diz “tá, brinca um pouco aí, mas só um pouco, pois aqui você não entra”. E foi assim mesmo.

Por mais que tentasse, o time catalão não iria fazer um gol em Alisson. Não iria superar Van Dijk e Matip. Nem se colocasse cinco atacantes. O Liverpool estava de corpo fechado. Aos 46’, Mané ainda quase fez o quinto, mas estava impedido. Dois minutos depois, Fabinho fez um desarme providencial em Piqué, de centroavante naquele momento. Um minuto depois, o mesmo Fabinho disparou no meio de campo e foi derrubado com falta, ganhando mais alguns segundos preciosos. Que partida do brasileiro!

Foto: Carl Recine / Reuters.

 

Até que, aos 50’, o árbitro apitou o final do jogo. Do espetáculo. Wijnaldum levantou as mãos para os céus, emocionado. Milner também chorava. A torcida era puro êxtase. Klopp foi abraçar cada jogador. Salah, ausente naquele dia, foi comemorar com os companheiros vestindo uma camisa com os dizeres “never give up” (“nunca desista”). Pois eles não desistiram jamais. Mesmo com desfalques, fim de temporada, jogadores no limite e 0 a 3 no placar, eles não desistiram.

Salah, Klopp e Van Dijk. Foto: Peter Byrne / Getty Images.

 

Claro que o som do estádio começou a tocar You’ ll Never Walk Alone. E a torcida começou seu show. Todos cantaram, com os jogadores, abraçados, de frente para aquela gente que empurrou, gritou, vibrou e pulsou. Com ídolos de outrora nas arquibancadas como Gerrard e Dalglish. Com crianças, jovens, adultos, idosos. Com apaixonados pelo Liverpool. E, acima de tudo, pelo futebol, engrandecido ainda mais naquele dia com uma das maiores viradas de todos os tempos da Liga dos Campeões da UEFA, que teve, na temporada 2018-2019, suas mais lindas histórias, seus mais lindos jogos, suas mais incríveis viradas e classificações. E uma nova façanha emocional para o clube mais emocional do planeta. Viva o futebol.

Jogadores perfilados sob os cânticos da torcida. Épico! Foto: Alex Livesey / Getty Images.

 

Foto: Phil Noble / Reuters.

 

Pós-jogo: o que aconteceu depois?

Liverpool: a façanha do time inglês ganhou o mundo. Jornais de todos os países enalteceram a brilhante, surpreendente e histórica partida do time de Jürgen Klopp, que não poupou palavras para descrever o que seus jogadores fizeram. “Os garotos são f***, mentalmente gigantes. É inacreditável. Vocês podem me multar se quiserem, tudo bem. Eu não sou inglês então não consigo encontrar palavra melhor para descrever isso tudo!!”. De fato, aquela noite foi a maior noite europeia em Anfield da história do Liverpool. A mais arrebatadora. A mais emocionante. E mais uma para a imensa coleção de façanhas do clube que nunca está sozinho em seu templo do futebol.

Foto: Reuters.

 

Barcelona: aconteceu em Sevilha, na improvável derrota para o Steaua Bucareste na final da Liga dos Campeões de 1986. Aconteceu em Atenas, nos 4 a 0 para o Milan, na final da Liga de 1994. Aconteceu em Roma, nos 3 a 0 das quartas de 2018. E aconteceu em Liverpool… O Barça possui grandes histórias europeias, mas a conta de decepções ganhou um adendo com o revés de 2019. Aliás, o maior de todos, segundo boa parte da imprensa espanhola. Perder do jeito que perdeu foi algo inimaginável. Suárez, sem papas na língua, disse que o time parecia um “bando de juvenis após o quarto gol”. O mesmo erro pela segunda vez seguida. Foi doloroso demais. Catastrófico. E que vai demorar muito tempo para cicatrizar.

 

PS: achou que foi o maior de todos? Venho do futuro para dizer que aconteceu de novo. E ainda pior. Descubra clicando aqui!

 

Jornais espanhóis não pouparam críticas à derrota culé.

 

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Extra:

Veja os momentos finais daquele jogo histórico.

 

 

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Comentários encerrados

10 Comentários

  1. Será que em 2019 o Liverpool, enfim, será campeão mundial? Depois do que fez nessa partida (e na temporada como um todo. Trinta vitórias e apenas uma derrota na Premier League não é para qualquer um), mais do que merece isso.

  2. Depois desse jogo ficou evidente que o Liverpool tem um “sobrenatural” envolta do time e do estádio. Fiquei muito feliz por eles terem sido campeões, essa taça merecia ir para Anfield.

  3. Primeiramente quero dizer que texto espetacular. Meus parabéns!
    E segundamente This is Anfield! O que dizer desse time, Jürgen Klopp simplesmente trouxe o Liverpool aos bons tempos de glórias e jogaços. E o que dizer de Anfield, um Estádio que joga com time, esse esquadrão do Liverpool é simplesmente imortal

  4. Pensei nesse site logo depois que o jogo terminou. Quem diria que no dia seguinte teríamos outro jogo digno de entrar aqui. Essa champions teve jogos históricos em todos as fases do mata-mata, nem todos entram como jogos eternos mas fazem sem dúvida dessa a melhor UCL de todos os tempos.

    Schalke 04 2 x 3 Manchester City (duas viradas dentro do mesmo jogo)
    Real Madrid 1 x 4 Ajax (além da goleada em pleno Bernabeu, reverteram o 3 a 1 do agregado)
    Juventus 3 x 0 Atlético de Madrid (revertendo o 2 a 0 do jogo de ida e com hat trick do CR7)
    PSG 1 X 3 Manchester United (mais uma remontada e na casa do adversário)
    Manchester City 4 x 3 Tottenham (5 gols em 20 minutos, duas viradas e gol que seria o da classificação no último segundo anulado pelo VAR)
    Ajax 2 x 3 Tottenham (dispensa explicações)

  5. Mais uma brilhante matéria, Imortais! Vocês estão de parabéns! Eu assisti a esse jogo espetacular e, assim que ele terminou, fiquei na torcida para que essa brilhante vitória do Liverpool sobre o quase imbatível time do Barcelona fosse imortalizada aqui no site, mas não esperava que fosse tão rápido!

    Dicas

    Esquadrão Imortal: Chelsea 2008-2013 (tricampeão da Copa da Inglaterra 2008/2009, 2009/2010 e 2011/2012, campeão da Supercopa da Inglaterra 2009, campeão da Premier League 2009/2010, campeão da Liga dos Campeões da Uefa 2011/2012 e campeão da Liga Europa 2012/2013).

    Jogos Imortais: Argentina 3 x 2 Alemanha 1986 (excelente final da Copa do Mundo daquele ano), Bahia 5 x 6 Vitória 2007 (o Ba-Vi mais espetacular que eu e muitos outros torcedores de ambos os times já vimos), Santos 3 x 4 Palmeiras 2010 (um jogo frenético entre os dois rivais paulistas) e Bélgica 3 x 2 Japão (outro excelente jogo da Copa do Mundo de 2018, com uma virada incrível).

  6. olá,Imortais.gostaria muito q vcs imortalizassem aqui no site Vitória 5 x 4 Vasco,no Barradão,pelas Quartas de Final do Campeonato Brasileiro de 1999.abraos e espero q vcs me respondam

Jogos Eternos – EUA 5×2 Japão 2015

Esquadrão Imortal – Juventus 2001-2006