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Espanha x Portugal: grandes jogos na história

Espanha Portugal grandes jogos

Por Guilherme Diniz

Com mais de 100 anos de história, o Clássico Ibérico entre Espanha e Portugal é um dos duelos mais curiosos envolvendo seleções. Motivo? A enorme diferença entre um e outro quando analisamos o histórico dos jogos e a quantidade de vitórias de um e de outro – bem diferente das ferrenhas disputas por terras ao oeste do Atlântico e em vários setores da economia nos séculos XIV, XV e XVI. Disputado desde 1921, o clássico já teve 40 jogos, entre partidas oficiais e amistosos, com 17 vitórias da Espanha, 17 empates e apenas 6 vitórias de Portugal. E isso que as equipes já se enfrentaram em todas as principais competições do futebol! Mesmo assim, nunca houve uma final como haverá em 2025, na decisão da Liga das Nações entre os vizinhos. Será que em plena final continental Portugal vai conseguir acabar com a sina de raramente vencer a Espanha? Ou teremos mais um triunfo rojo? Confira a seguir os mais emblemáticos duelos entre espanhóis e portugueses!

Espanha 9×0 Portugal  – Eliminatórias para a Copa do Mundo da FIFA de 1934

espanha 1934 portugal

Antes deste primeiro jogo oficial, Espanha e Portugal já haviam se enfrentado em oito oportunidades, todas amistosas, com sete vitórias da Espanha e um empate. De fato, os espanhóis eram mais fortes na época e comprovaram isso naquelas Eliminatórias para a segunda Copa da história. Jogando em casa, no Estádio Chamartín tomado por 50 mil pessoas, a Espanha não tomou conhecimento do rival e aplicou a maior goleada da história do clássico: 9 a 0, com cinco gols do atacante Isidro Lángara, um recorde jamais igualado ou superado. Na partida de volta, em Lisboa, a Espanha venceu por 2 a 1 – com mais dois gols de Lángara – e se classificou para o Mundial naquele “grupo” que só tinha ela e o vizinho. Na Copa, a Fúria alcançou as quartas de final, caindo para a campeã Itália após dois jogos dramáticos e estrelados pelo lendário goleiro Ricardo Zamora

Portugal 4×1 Espanha – Amistoso – 26 de janeiro de 1947

Demorou, mas Portugal conseguiu sua primeira vitória sobre a Espanha jogando em Lisboa, em amistoso disputado em janeiro de 1947 e usando como time-base o fortíssimo Sporting dos Cinco Violinos. Com dois gols de José Travassos e dois de António Araújo, a Seleção das Quinas bateu a Fúria de virada e fez a festa da torcida portuguesa, e isso mesmo a Espanha jogando com Gaínza, Telmo Zarra, Gonzalvo III, Panizo e Iriondo, base do grande time que fez uma boa Copa do Mundo três anos depois.

Espanha 5×1 Portugal – Eliminatórias para a Copa do Mundo da FIFA de 1950

espanha 5x1 portugal 1950

A vitória de três anos antes ainda ecoava pelas bandas portuguesas. Por isso, havia esperança de classificação para a Copa naquele começo de 1950. Só que a Espanha estava ainda mais forte, com a mesma base de 1947 e ainda Basora, Molowny e Riera. Jogando em casa na ida, a roja venceu por 5 a 1, com dois gols de Zarra, um de Basora, um de Panizo e um de Molowny, e Fernando Cabrita anotando o gol de honra português. Na volta, em Lisboa, Zarra abriu o placar para a Espanha, mas a dupla do Sporting, Travassos e Correia, virou. Faltavam mais três gols para igualar o duelo, só que Gaínza empatou e a vaga ficou de novo com a Espanha. 

Tempo depois, a FIFA convidou Portugal para preencher a vaga da Turquia, classificada, mas que desistiu de participar do Mundial por “insuperáveis dificuldades”, mas a federação portuguesa não aceitou, pois só iria se tivesse conseguido a vaga no campo. O gesto foi nobre, mas provocou muitos protestos na embaixada de Portugal no Rio de Janeiro quando a notícia chegou ao Brasil, sede da Copa de 1950

Portugal 2×1 Espanha – Amistoso – 15 de novembro de 1964

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Eusébio, craque português nos anos 1960.
 

Em 1964, a Espanha conquistou seu primeiro grande título no futebol: a Eurocopa. E, por isso, nada mais natural ser favorita naquele amistoso diante de Portugal, no Estádio das Antas. Só que a Seleção das Quinas tinha um timaço, que seria a base da seleção que alcançou o terceiro lugar na Copa de 1966, com Costa Pereira, Germano, Mário Coluna, José Augusto, José Torres e o Pantera Negra Eusébio. A Espanha, jogando com sua base campeã continental – Iribar, Olivella, Fuste, Pereda, Villa, Zoco, Amancio Amaro, Lapetra e Marcelino -, abriu o placar com Fuste, aos 25’ do primeiro tempo, mas Eusébio empatou aos 39’ e, no segundo tempo, virou o jogo, garantindo a vitória de Portugal, a segunda nos últimos três amistosos disputados na época.

Portugal 1×1 Espanha – Fase de Grupos da Eurocopa de 1984

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Vivendo uma rara fase de equilíbrio no clássico, Portugal enfrentou a Espanha na fase de grupos da Euro de 1984 e duelou de igual para igual com a vizinha. Portugal se apoiava no goleiro Manuel Bento, no ótimo lateral-direito João Pinto, no lateral-esquerdo Álvaro, no meio-campista António Sousa, no ídolo do Benfica Fernando Chalana e no centroavante Rui Jordão. Do lado espanhol, os destaques eram o goleiro Arconada, o trio defensivo formado por Urquiaga, Goikoetxea e Camacho, o meio-campista Ricardo Gallego e o ataque com Santillana e Carrasco. Quando a bola rolou, António Sousa fez 1 a 0 para a Seleção das Quinas no começo da segunda etapa, até Santillana empatar. O 1 a 1 acabou ajudando as duas equipes, que venceram seus últimos jogos e avançaram para as semifinais, quando a Espanha superou a Dinamarca e foi para a final, enquanto Portugal perdeu para a França de Platini, que seria campeã. 

Portugal 1×0 Espanha – Fase de Grupos da Eurocopa de 2004

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Puyol e Cristiano Ronaldo. Foto: Andreas Rentz / Bongarts via Getty Images
 

Depois do duelo na Euro de 1984, o clássico ibérico teve cinco empates seguidos e uma vitória da Espanha (todos em amistosos) até um novo encontro válido por uma competição oficial, de novo uma Eurocopa, dessa vez em Portugal. A seleção portuguesa tinha um timaço e era treinada por Luiz Felipe Scolari, mas havia perdido a estreia para a Grécia e vencido a Rússia, por isso, o jogo da última rodada do grupo era decisivo. Portugal precisava da vitória, enquanto a Espanha tinha quatro pontos e só lhe bastava um empate. Felipão apostou em Cristiano Ronaldo como titular pela primeira vez naquela Euro e muitos esperavam Portugal bem ofensivo.

No entanto, o jogo foi disputado e com os dois times precavidos, esperando a famosa “uma bola”. E ela apareceu no segundo tempo com o toque de Felipão, que tirou Pauleta, colocou Nuno Gomes e este marcou o gol da vitória por 1 a 0 após passe sensacional de Figo, que tocou para o atacante chutar da entrada da área e classificar a seleção para a fase final. Portugal foi finalista, mas perdeu (de novo) para a Grécia em pleno Estádio da Luz.

Espanha 1×0 Portugal – Oitavas de final da Copa do Mundo da FIFA de 2010

villa espanha portugal 2010

Pela primeira vez os rivais se enfrentaram em uma partida de Copa do Mundo e logo de cara em uma fase eliminatória! A badalada Espanha, campeã europeia em 2008, era favorita, mas os portugueses contavam com o goleiro Eduardo, os zagueiros Pepe e Ricardo Carvalho, o ponta Simão Sabrosa, o meia Tiago e o capitão Cristiano Ronaldo. Os espanhóis dominaram o jogo como sempre, mas tinham dificuldades para furar a meta do goleiro lusitano. Até que, no segundo tempo, Xavi deu um passe magistral para o artilheiro David Villa marcar o único gol do jogo, decretando a vitória por 1 a 0. A roja seguiu até a final e foi campeã do mundo pela primeira vez. Leia mais clicando aqui!

Portugal 4×0 Espanha – Amistoso – 17 de novembro de 2010

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Meses após a Copa, Portugal “carimbou” a faixa de campeã da vizinha com uma goleada histórica no clássico – e que poderia ter sido maior se Nani não tivesse atrapalhado de maneira desastrosa um golaço de Cristiano Ronaldo, que cortou a marcação e, dentro da área, ia fazendo um gol por cobertura em Casillas quando Nani apareceu para tocar de cabeça, porém, como estava em impedimento, o gol foi anulado! Tal gol seria o primeiro do jogo, mas não fez falta. No último minuto do primeiro tempo, Carlos Martins abriu o placar para a Seleção das Quinas. Aos 49’, Hélder Postiga ampliou e fez mais um, aos 68’. Já no final do jogo, Hugo Almeida fechou a conta e a festa portuguesa em Lisboa.

Espanha 0x0 Portugal (Espanha 4×2 Portugal nos pênaltis) – Semifinal da Eurocopa de 2012

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Iker Casillas e Cesc Fàbregas celebram a classificação. Foto: Juan Medina / Reuters
 

A vingança espanhola veio rápido, nas semifinais da Euro de 2012. Jogando muito e querendo o bicampeonato consecutivo, a Espanha havia superado a França nas quartas de final quando encarou Portugal, que trouxe muita dificuldade à equipe de Vicente Del Bosque. Mesmo com a natural posse de bola, a roja não conseguiu transformar a dominância em gols e viu Portugal fazer uma partida de igual para igual, principalmente no primeiro tempo. O jogo seguiu sem gols até o final da prorrogação e a partida foi para os pênaltis. 

Logo na primeira cobrança espanhola, Xabi Alonso bateu no canto e Rui Patrício defendeu. No lance seguinte, João Moutinho cobrou e Casillas salvou a Espanha. A partir daí, até a penúltima série, todos acertaram. No penúltimo chute português, o zagueiro Bruno Alves acertou o travessão. E ficou para Fàbregas a missão de decidir o confronto. O então meia do Barcelona bateu no canto, a bola ainda tocou a trave, mas entrou. O placar de 4 a 2 colocou a Espanha na final, a equipe goleou a Itália por 4 a 0 e sacramentou o bicampeonato consecutivo.

Portugal 3×3 Espanha – Fase de Grupos da Copa do Mundo da FIFA de 2018

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Foto: Kyodo via AP Images / Kyodo
 

Quando os grupos da Copa de 2018 foram sorteados em dezembro de 2017, todos os aficionados por futebol anotaram em suas agendas e lembretes nos smartphones um jogo imperdível, “O” jogo da primeira fase daquele Mundial: Portugal e Espanha, em Sochi, na partida inaugural do Grupo B. Seria o duelo com os últimos três troféus da Eurocopa em campo – os dois da Espanha em 2008 e 2012 e a taça histórica de Portugal de 2016. O jogo entre uma seleção candidatissima ao título contra outra baseada quase que exclusivamente no melhor jogador do mundo, o atleta completo, o destruidor de recordes e um dos maiores fazedores de golos de todos os tempos: Cristiano Ronaldo. Seria mais um duelo entre os ibéricos em uma Copa, a exemplo de 2010, quando a Fúria venceu Portugal nas oitavas de final por 1 a 0 e seguiu firme rumo ao título mundial. Pouco mais de seis meses se passaram desde o sorteio. Muita coisa aconteceu. A Espanha, então favorita, foi pega de surpresa com uma demissão de técnico dias antes da estreia no Mundial. Cristiano Ronaldo atravessava uma incômoda seca em seus últimos três jogos da Liga dos Campeões pelo Real Madrid, e, mesmo campeão, dava como incerta sua permanência no clube merengue. 

Será que a ânsia pelo mais aguardado duelo da primeira fase iria cair por terra? De jeito nenhum. No dia do jogo, nunca a realidade superou tanto as expectativas. Cristiano Ronaldo estava com apetite. Endiabrado. No segundo minuto do jogo, já se mandou para a área, pedalou e foi derrubado. Pênalti. E golo. A Espanha buscou o empate. Mas, tempo depois, Cristiano fez mais um, de fora da área. No segundo tempo, a Espanha ressuscitou a arte que encantou o mundo entre 2008 e 2012 e virou para 3 a 2. Mas Cristiano “estava lá”, como ele frisava. E, faltando pouco para o fim do jogo, falta para Portugal na entrada da área. Adivinhe… Cristiano bateu com perfeição, de maneira quase mecânica. E converteu: 3 a 3. Foi Cristiano Ronaldo 3×3 Espanha. Foi a maior partida de um dos maiores jogadores de todos os tempos na maior competição de futebol de todas. Foi, também, um jogo de diversos artistas. Como não lembrar de Iniesta e seus passes? Isco e Silva, infernais e flutuando pelo ataque? O mantra do tiki-taka e os 727 passes? O bloqueio quase intransponível português na primeira etapa? E, claro, a presença de Ronaldo, vedete de Sochi, por uma noite a capital ibérica e centro das atenções de pouco mais de 10 milhões de portugueses e quase 47 milhões de espanhóis. As duas seleções avançaram às oitavas de final, mas ambas foram eliminadas. Leia mais clicando aqui!

Espanha 1×1 Portugal / Portugal 0x1 Espanha – Grupo 2 da Liga das Nações da UEFA de 2022-2023

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Morata celebra o gol da classificação. Foto: Chema Rey / Marca
 

Na terceira edição da Liga das Nações da UEFA, os ibéricos se encontraram no Grupo 2 da competição continental. Vice-campeã em 2021, a roja queria retornar à final e enfrentou no turno do grupo a vizinha em Sevilha. A partida foi equilibrada e Morata abriu o placar para os espanhóis no primeiro tempo. Na segunda etapa, Portugal batalhou e conseguiu o empate em gol de Ricardo Horta, aos 82’. No returno, a partida entre ambos foi decisiva, pois quem vencesse estaria classificado para a fase final, embora a Seleção das Quinas pudesse avançar com um empate. 

Jogando em casa, Portugal apostava no quarteto Cristiano Ronaldo, Diogo Jota, Bruno Fernandes e Bernardo Silva, enquanto a Espanha tinha em Rodri, Soler, Koke, Ferran Torres e Morata os expoentes para a vitória. O jogo foi tenso e ficou 0 a 0 até os 88’, quando Morata apareceu livre na pequena área para escorar um passe de Nico Williams e decretar a vitória por 1 a 0 e a classificação espanhola ao Final Four. A equipe acabou campeã pela primeira vez ao derrotar a Croácia nos pênaltis.

Espanha x Portugal – Final da Liga das Nações da UEFA de 2024-2025

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Pela primeira vez os rivais ibéricos irão decidir um título. Na Allianz Arena, em Munique, a Espanha quer confirmar o favoritismo e o retrospecto positivo e se tornar a primeira bicampeã da Liga das Nações, além de ter a possibilidade de emendar uma trinca impressionante de torneios da UEFA, pois a seleção venceu a Liga das Nações de 2022-2023 e a Eurocopa de 2024. Do outro lado, Portugal também quer o bi (foi campeão da edição inaugural, em 2018-2019) e dar ao craque e quarentão Cristiano Ronaldo mais um título para sua galeria. 

No Final Four, o capitão luso fez o gol da vitória por 2 a 1 em cima da Alemanha e provou que o faro artilheiro segue intacto. Já a Espanha fez um jogo pirotécnico contra a França e venceu por 5 a 4, embora tenha aberto 5 a 1 em determinado momento da partida. O duelo promete fortes emoções, muitos gols e já é o mais importante da história desse clássico centenário.

Retrospecto

17 vitórias da Espanha

6 vitórias de Portugal

17 empates

77 gols da Espanha

45 gols de Portugal

Maiores goleadas:

  • Espanha 9×0 Portugal, 11 de março de 1934
  • Espanha 5×0 Portugal, 17 de março de 1929
  • Espanha 5×1 Portugal, 16 de março de 1941
  • Espanha 5×1 Portugal, 02 de abril de 1950
  • Portugal 4×0 Espanha, 17 de novembro de 2010

Maiores artilheiros do clássico:

isidro langara
Lángara, maior goleador do Clássico Ibérico
 
  • Isidro Lángara (ESP) – 9 gols
  • Fernando Peyroteo (POR) – 7 gols
  • Telmo Zarra (ESP) – 6 gols

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