Nascimento: 28 de setembro de 1918, em Buenos Aires, Argentina. Faleceu em 19 de setembro de 1983, em Buenos Aires, Argentina.
Posições: Atacante e Ponta-de-lança
Clubes: River Plate-ARG (1939-1959), Rampla Juniors-URU (1960-1961), Rangers de Talca-CHI (1961) e Platense-ARG (1961).
Principais títulos por clubes: 9 Campeonatos Argentinos (1941, 1942, 1945, 1947, 1952, 1953, 1955, 1956 e 1957 pelo River Plate.
Principais títulos por seleção: 2 Copas América (1946 e 1955) pela Argentina.
Principais títulos individuais e artilharias:
Artilheiro do Campeonato Argentino: 1943 (23 gols) e 1945 (25 gols)
Maior artilheiro do clássico Boca e River: 16 gols em 35 jogos oficiais
Maior artilheiro da história do Campeonato Argentino: 293 gols em 515 jogos (recorde dividido com Arsenio Erico, que leva vantagem na média de gols por jogo – foram 293 gols em 332 jogos).
Maior artilheiro da história do River Plate: 293 gols em 515 jogos (e 315 gols em 533 jogos no total).
Eleito o 25º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar: 1999
Eleitoo 26º Melhor Jogador Sul-Americano do Século XX pela IFFHS
Eleito o 7º Melhor Jogador Argentino do Século XX pela IFFHS
Eleito um dos 100 Melhores Jogadores do Século XX pela World Soccer: 1999
“El Monumental de Núñez”
Por Guilherme Diniz
Ninguém marcou mais gols e arrancou mais gritos de alegria dos torcedores do River Plate do que ele. Ninguém entortou mais adversários do que ele. Ninguém teve tanto faro artilheiro com o manto millonario do que ele. E ninguém fez mais gols nos “Superclásicos” do que ele. O River Plate já teve dezenas de craques, mas nenhum conseguiu se comparar a Ángel Amadeo Labruna, ou simplesmente Labruna, o maior artilheiro da história do clube de Buenos Aires e um dos maiores atacantes de todos os tempos. Rápido, emérito driblador, com um faro de gol impressionante e dono de enorme impulsão, “El Feo” encantou multidões e colecionou títulos com o melhor River Plate de todos, o dos anos 40, que ficou conhecido com o “modesto” apelido de “La Máquina”.
Frio e prático, Labruna marcava gols com tanta facilidade que tornava o futebol um esporte muito fácil de jogar. No mano a mano com os goleiros, sempre levava vantagem ao escolher o canto certo ou a tirada de corpo exata para deixar o arqueiro no chão e correr para o abraço. Não bastasse o talento, as taças e a idolatria eterna da torcida millonaria, Labruna ainda brilhou como técnico do clube que ele tanto amou e seguiu colecionando títulos até quando sua saúde o derrubou. Entretanto, sua história segue de pé e imponente como o estádio Monumental que tanto ele fez tremer e vibrar. É hora de relembrar.
Sob o berço Millonario
Labruna cresceu respirando futebol e sob os sons do estádio Alvear y Tagle, acanhada casa do River Plate que ficava no bairro de Recoleta entre as avenidas Alvear e Tagle. Inaugurado em 1923, o estádio seria utilizado até 1938, quando o River se mudaria para o gigante Monumental de Núñez. Desde pequeno Labruna frequentava o clube e jogava futebol com as roupas velhas que sua mãe, Dona Amalia, lhe dava para que não sujasse as vestimentas de sair. Habilidoso e amante do esporte, o jovem ajudava o pai nos afazeres da relojoaria da família e tinha o futebol como principal passatempo.
No River, Labruna também se arriscava no basquete, mas eram os gramados que mais chamavam sua atenção, principalmente o ídolo Bernabé Ferreyra, mito do River nos anos 30 e um dos principais artilheiros de seu tempo. Gastando a bola nas divisões inferiores do River, Labruna ganhou sua chance no time principal do clube exatamente quando Ferreyra se retirou dos gramados, em 1939. Parecia que o destino já tinha reservado a troca de posições entre uma estrela e outra ainda mais brilhante.
O craque e o surgimento da Máquina
No dia-a-dia, o jovem Labruna chamava a atenção pela facilidade na hora de finalizar e pelos dribles incisivos e encantadores que aplicava nos rivais. Sempre de bom humor, o jogador se continha nos sorrisos por causa de um dente incisivo superior que se postava na diagonal, algo que lhe deixava constrangido e que lhe rendeu o apelido de “El Feo” (o feio). O problema no tal dente só seria resolvido décadas depois, quando o craque se aposentou. Avesso ao apelido, Labruna só queria conquistar títulos e escrever seu nome na história do River. Naquele final de anos 30, mal sabia Labruna que o River iria começar a formar o maior de seus esquadrões. Além do jovem atacante, a equipe já contava com jogadores como Yácono, Pedernera e Peucelle, que estava prestes a se aposentar e seria o principal idealizador do esquema de jogo do timaço millonario que encantaria a Argentina nos anos 40.
Com foco total no ataque e no controle da bola, aquele River precisou de apenas uma temporada para treinar e colocar os ensinamentos de Peucelle em prática já em 1941, ano de mais um título argentino do River e o primeiro de Labruna pelo clube. Durante a campanha, o craque mostrou seu lado decisivo ao balançar as redes nos principais jogos do time, incluindo um na goleada de 5 a 1 sobre o rival Boca, a maior já aplicada pelo River na história do clássico. Aquele foi o segundo Boca-River disputado por Labruna e o segundo gol do craque no duelo, já que em 1940 ele também fez um no empate em 1 a 1 entre os rivais. Na última rodada, Labruna fez um nos 3 a 1 sobre o Estudiantes que garantiu a taça aos Millonarios, que alinharam Moreno, Pedernera e Labruna no ataque campeão.
Em 1942, Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau viraram os titulares da ofensiva do River, com breves aparições de Gallo e Deambrossi, formação que fez nascer em definitivo La Máquina e embalou o início de uma rica história de conquistas, goleadas e títulos. Naquele ano, a equipe voltou a ser campeã com direito a volta olímpica em pleno estádio do Boca (foi o primeiro ano que isso ocorreu), após empate em 2 a 2 na antepenúltima rodada. Falando em Boca, os Xeneizes foram mais uma vez vítimas de Labruna, que marcou dois gols na goleada de 4 a 0 do River no primeiro turno. Em 1943, o craque voltou a marcar dois gols no clássico vencido por 3 a 1 e foi um dos artilheiros do Campeonato Argentino com 23 gols, ao lado de Luis Arrieta e Raúl Frutos. O campeão daquele ano foi o Boca, assim como em 1944, mas Labruna manteve-se em grande nível, bem como seu River, que disputou vários torneios na época e desfilou por diversos gramados da América.
Mais taças e seleção
Por culpa da II Guerra Mundial, a Copa do Mundo não foi realizada nos anos 40, e quem mais saiu perdendo com isso foi a Seleção Argentina. Com a base do River e outros craques de diferentes equipes, os Hermanos certamente brigariam pelas taças da década com os italianos, outra força na época com a base de outro grande esquadrão, o Grande Torino. Mas, se a Argentina não podia erguer a Jules Rimet, o time de Labruna colecionou títulos no Campeonato Sul-Americano, como era chamado o torneio que hoje atende pelo nome de Copa América. Os alvicelestes venceram a taça continental em 1941, 1945, 1946 e 1947, sempre com goleadas e shows sobre os rivais locais.
Em 1946, Labruna fez parte do time campeão comandado por Guillermo Stábile e que reunia estrelas como Vicente De la Mata, Norberto Méndez, Pedernera, Loustau, Sobrero e Vacca. Foram cinco vitórias em cinco jogos e Labruna marcou cinco gols, dois na vitória por 7 a 1 sobre a Bolívia, dois nos 3 a 1 sobre o Chile e um nos 3 a 1 em cima do Uruguai. Embora fosse uma unanimidade entre os torcedores, Labruna não era presença assídua na seleção por causa do treinador Stábile, que por algum motivo não convocava o craque do River em todos os jogos e competições.
Em 1945, Labruna venceu mais um campeonato com o River e foi o artilheiro do torneio com 25 gols marcados. Naquele ano, o atacante foi sublime na conquista da Copa Aldao, quando o River bateu o forte Peñarol-URU de Máspoli, Obdulio Varela, Schiaffino e Vidal (todos seriam campeões mundiais pelo Uruguai, em 1950) por 3 a 2, com três gols de Labruna. Em 1947, veio o bicampeonato, com Labruna fazendo uma inesquecível parceria com ninguém mais ninguém menos que Alfredo Di Stéfano, que assumiu a titularidade plena após a saída de Pedernera. O torcedor do River riu à toa com duas lendas vestindo o manto millonario e marcando grande parte dos 90 gols anotados pelo clube em 30 jogos disputados (Di Stéfano foi o artilheiro com 27 gols). Vale lembrar que El Feo ficou de fora de vários jogos do River naquela temporada por causa de uma forte hepatite.
Ele garante o espetáculo
Nos anos 50, o River perdeu as peças de sua Máquina de outrora (com exceção de Loustau), mas Labruna permaneceu em Buenos Aires para seguir colecionando títulos e alegrando a torcida. Em 1952, a equipe voltou a vencer o torneio nacional com um ponto de vantagem sobre o Racing, vice-campeão. No ano seguinte, o craque celebrou o bicampeonato e foi mais uma vez decisivo com 16 gols em 28 jogos disputados. Após um “descanso” em 1954 (mas com Labruna marcando dois gols nos 3 a 0 do River sobre o Boca, no dia em 31 de outubro), o River retomou a taça em 1955 com mais uma vitória decisiva sobre o Boca, em La Bombonera, por 2 a 1, com mais um gol de Labruna para a ira dos Xeneizes.
No mesmo ano, o craque conquistou a última taça da carreira pela Seleção Argentina: o Campeonato Sul-Americano, quando a Argentina venceu quatro e empatou um dos cinco jogos que disputou. Labruna marcou três gols, mas não em jogos alternados, mas sim em uma única e especial ocasião: a goleada histórica de 6 a 1 sobre o Uruguai, a maior da Argentina na história do clássico em torneios continentais.
Três anos depois, Labruna foi chamado uma semana antes do início da Copa do Mundo da Suécia para integrar o elenco da Seleção Argentina que disputaria o torneio da FIFA depois de 24 anos. Já com 40 anos de idade, Labruna não tinha mais a velocidade de antes e lamentava profundamente ter chegado tão tarde à maior competição do futebol mundial. O craque não jogou na derrota argentina por 3 a 1 para a Alemanha, na estreia, mas entrou em campo na vitória por 3 a 1 sobre a Irlanda do Norte e na derrota por 6 a 1 para a Tchecoslováquia, o maior revés portenho na história dos Mundiais. Labruna deixou a competição muito abalado, sem gols marcados e com um fim melancólico em sua trajetória pela seleção, que teve 37 jogos e 17 gols. O jogador não voltaria a jogar pela Argentina depois da derrota em Helsingborg (SUE).
Aposentadoria e brilho como técnico
Em 1959, com 41 anos, Labruna ganhou passe livre do River Plate para jogar por outras equipes da América do Sul, como Rampla-URU e Rangers-CHI, até encerrar definitivamente a carreira pelo Platense, em 1961, aos 43 anos. Apaixonado pelo futebol, Labruna não conseguiu ficar por muito tempo longe dos gramados e começou a se preparar para a carreira de treinador e pôr em prática o talento que ele dizia ter e dominar como nenhum outro, como uma famosa frase de sua autoria:
“Confesso que não entendo absolutamente nada sobre muitas coisas, mas, sobre futebol, digo que não há ninguém que saiba mais do que eu”. – Ángel Labruna.
Adepto do futebol ofensivo e bonito, Labruna preferia vencer por 5 a 4 ou 3 a 2 com gols e shows a vencer por apenas 1 a 0. O ex-craque assumiu o River pela primeira vez no final dos anos 60, mas não obteve sucesso e comandou outras equipes argentinas, foi campeão do Nacional de 1971 pelo Rosario Central e teve uma nova chance no clube de seu coração em 1975. E, sob as mãos do anjo, o River voltou a comemorar um título (ou melhor, dois, pois o clube venceu o Metropolitano e o Nacional) depois de 18 anos sem taças. A última conquista havia sido exatamente nos tempos em que Labruna jogava. Predestinado, o ídolo comandou o River em novas conquistas nos anos de 1977, 1979 e 1980.
Em 1983, Labruna já não estava mais no River quando teve que operar da vesícula e se ausentar por um período. Em casa, há poucas quadras do Monumental de Núñez, o ex-craque recebia a visita de Fillol no dia 19 de setembro de 1983 quando, ao se levantar para ir ao banheiro, sofreu uma parada cardíaca e morreu nos braços do grande goleiro argentino. Faltavam apenas nove dias para Ángel completar 65 anos. Mas ele se foi. Um pedaço do River era arrancado para sempre. Como forma de gratidão, o clube fez questão de conquistar títulos e mais títulos nos anos seguintes, incluindo uma Copa Libertadores e um Mundial Interclubes, ambos em 1986, torneios que Labruna tanto quis vencer como técnico de seu clube do coração.
Craque monumental
Labruna se foi, mas seu legado e seus números permanecem vivos como nunca no River Plate. O craque jamais foi igualado ou superado em gols, festas sobre o rival Boca e idolatria. Talvez Enzo Francescoli, mito uruguaio, tenha chegado perto (ainda mais com a conquista da Libertadores de 1996), mas Labruna foi único por demonstrar para tudo e todos seu amor pelo clube e ter desde pequeno a alma millonaria cravada consigo. Artilheiro dos grandes gols, dos dribles secos e maior pavor do Boca Juniors em todos os tempos, Labruna foi uma lenda argentina e simplesmente inquestionável. Um “Angel” nascido para o River. E imortal.
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Frases marcantes do craque (extraídas do El Gráfico, 16 de agosto de 2012):
“O River é um monstro que abriga estrelas”.
“A sorte não existe. Sorte é ganhar três vezes na loteria. No futebol, não me venham com essa de sorte”.
“Sempre fui estúpido com o dinheiro. Estive toda a vida no River quando pude fazer meu pé de meia com propostas da Colômbia e da Itália, nos anos 50. Me colocaram milhões de pesos na porta e não me decidi. Só consegui recuperar o dinheiro perdido quando me tornei técnico”.
“Se eu fosse técnico do Boca, iria com tudo ao rebaixamento e faria questão de perder todos os jogos!”
“Eu sei que vou morrer no River”
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Um excelente trabalho,mostrando craques desconhecidos ao grande público .
Acho o trabalho de vocês fantástico! É muito bom para os amantes do futebol conhecer a história dos ídolos dos grandes clubes. Muito obrigado!
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